Passou os dedos levemente por cada vestido em seu armário. Não conseguia escolher um para usar no jantar. Usava o azul ou o verde? Mordeu o lábio. Em todos seus encontros, ela escolhia qualquer vestido, porque não precisa impressionar quem a tinha convidado. E era diferente naquele dia. Lyra tinha uma vontade de impressionar de Regulus, de fazê-lo apenas olhar para ela durante a noite inteira. Não poderia culpar a si mesma, estava no seu sangue ser assim, assim como suas irmãs.
Suas mãos tremeram ao tirar do cabide o vestido escolhido. Colocou-o delicadamente em sua cama arrumada. Penteou seus cabelos loiros, que caíam em seus ombros, cabelos com leves ondas naturais. Ao chegar na parte da maquiagem, resolveu não esconder suas leves sardas que tornavam seu rosto ainda mais belo. Passou uma sombra rosada em suas pálpebras, e rímel para alongar seus cílios. Escolheu um batom rosa também. Não gostava de usar batons vermelhos; em sua opinião, eles chamavam muita atenção.
Além do bracelete da família, usava seu amigo inseparável: um relógio comprado por ela mesma. Ele pendia solitário em seu pulso direito, estando o bracelete no esquerdo. Decidiu não por mais acessório nenhum, não tinha como chamar mais atenção quando vestisse a roupa que escolhera.
Pegou o vestido que estava solitário em sua cama. Sorriu consigo mesma pela escolha, assim não precisaria da ajuda de ninguém com o zíper, pois o vestido era aberto atrás. Olhou-se no espelho. Se sentiu bonita, e é por isso que se arrumava tanto mesmo que fossem pequenas ocasiões. O vestido era azul, mas precisamente da tonalidade azul royal. Não combinava com seus olhos, que eram verdes, mas ela não podia negar que ficava maravilhoso nela. Ele tinha alças grossas e um decote. Atrás, quando acabava o rasgo proposital que tinha, um lanço da mesma cor do vestido era. Ele o deixava com uma aparência mais esbelta e alta.
Com uma careta, escolheu um salto. Não gostava de usar sapatos daquele tipo, e não estava com a mínima vontade de calçar, até que Regulus aparecesse para busca-la. E foi isso o que ela fez.
Deixou o par de sapatos em um canto do quarto, e se sentou na cama, observando a lua minguante brilhar no céu, junto a centenas de estrelas. Se perguntou se os trouxas tinham a mesma sorte que ela, de poder contemplar as estrelas e suas constelações junto a lua que brilhava intensamente. Tinha ouvido falar que as estrelas eram facilmente vistas em lugares aonde a poluição não estava presente. Essa informação era nova para ela, e ela não hesitou em perguntar o que era ‘’poluição’’. Mesmo tendo parecido uma total ignorante em frente a alunos com pais trouxas, ou que compareciam as aulas de Estudos dos Trouxas, ficou feliz por sua ignorância sobre aquele tópico ter sido sanada.
Uma onda de nostalgia a invadiu. Tinha saudades de sua antiga escola, a escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Não era uma escola banhada em luxo, como Durmstrang ou Beauxbatons era, e ela gostava daquela simplicidade aconchegante. Ao contrário da escola era a sua casa. Cada milímetro dela ostentava a riqueza da família Black. E ela também gostava daquele luxo. Riu no momento que ela percebeu que era uma antítese ambulante.
Não teve muitos laços de amizade em Hogwarts. E nem teve a oportunidade de fazer com um de seus primos, pois estavam quase se formando quando ela entrou. Sirius era do mesmo ano que Narcissa, mas não parecia ser muito amigável com a prima. Não podia desaprovar a atitude do primo, Narcissa tinha ficado mais diferente quando começara a se envolver com o Malfoy. Se perguntou se isso aconteceria o mesmo quando se casasse com Regulus.
Foi tirada de seus pensamentos ao ouvir batidas na porta. Pediu para a pessoa entrar, já que a porta estava destrancada. Olhou para a porta, e viu o noivo dar uma breve olhada no quarto, até que seus olhos claros pairarem nela. Ela se levantou da cama e foi em direção dele.
Ele parecia não ter palavras. Ela estava linda. Não tinha a mesma expressão séria que as irmãs da moça carregavam, e isso o deixava aliviado por ter que se casar com ela. Lyra não se importava com a timidez do garoto, e até o achava interessante.
––Você está linda ––a elogiou, com a voz sem falhar. Usava um terno cinza escuro, e uma gravata escarlate.
––Obrigada ––ela agradeceu, e sentiu as bochechas corarem levemente. Reparou em sua gravata, e não pode deixar de fazer um comentário: ––Minha cor favorita ––comentou, olhando para a gravata.
––Engraçado ––ele riu levemente, apontando para o vestido dela. ––Azul é a minha cor favorita.
––Azul não é a minha cor favorita- disse, olhando nos olhos do garoto ––, mas seus olhos são belos.
Ele pareceu não corar, ou ficar com vergonha pelo comentário. Deveria receber tantos elogios por seus olhos azuis brilhantes, que nem liga mais, pensou.
––Você é bela ––disse, e ela abaixou a cabeça para ele não ver que ela havia corado. ––Vamos? ––perguntou, quebrando o silêncio.
––Espere ––pediu, indo até o lugar que havia deixado seus sapatos. ––Não posso ir descalça ––completou, dando um sorriso e levantando o calçado no ar. Regulus não tinha percebido que a garota estava descalça, pois o vestido de Lyra ia até seus pés.
Sentou-se novamente na cama e calçou os sapatos. Recusou a oferta que ele fizera em ajuda-la. Apesar de não gostar da sensação de andar com aquilo, já tinha se acostumado em colocar e andar sobre eles desde mais nova. Ficou da mesma altura dele quando calçara os saltos. Ele lhe estendeu o braço, e ela aceitou com um aceno.
––Os dois já sabem...? ––deixou a pergunta no ar, não a completando.
––Sim, falei com Sirius ––ele confirmou ––Ele e Marlene irão em um encontro hoje.
––Vai ser bom para eles ––ela disse, andando pelos corredores da Mansão. ––Vão ter um tempo sozinhos.
Ele respondeu com um aceno de confirmação. Lyra se despediu da mãe com um aceno de mão, e Druella vendo a filha mais nova com o noivo, abriu um sorriso que parecia rasgar seu rosto de tão grande que o sorriso era. A filha sorriu de volta, fazendo uma careta ao dar as costas.
Parou Regulus em um canto da casa, antes de abrir a porta. Abriu um sorriso para ele.
––Não tem motivos para atrasar nosso jantar. Vamos aparatar agora.
––Certo ––ele respondeu, visualizando o restaurante em mente antes de aparatar levando a garota junto.
Se recompôs após pararem em frente a um restaurante iluminado. Ela ajeitou o vestido e tentou não se desequilibrar, aceitando nessa hora a ajuda de Regulus. A sensação de vertigem e tontura passou rápido, e agradeceu baixinho a Merlin por isso.
A frente do restaurante era iluminada pelo próprio letreiro com o nome do restaurante. Em letras chiques, estava iluminada o nome do restaurante.
Regulus, vendo a confusão que transbordava no rosto da loira com o nome do restaurante, se pronunciou:
––Se meu francês não tiver tão ruim como eu penso que ele esteja, ‘’Coupé de luxe’’ significa ‘’Corte de Luxo’’.
Ela riu, da própria ignorância.
––Boa escolha de restaurante. ––deu um sorriso sincero pois realmente achava que aquele restaurante seria melhor que o nome dele.
Deduziu que o restaurante era bruxo, pois a moça que ficava checando disponibilidade de mesas de acordo com os clientes que chegavam, meneou a cabeça quando viu Regulus, fazendo um gesto com a mão sugerindo para eles seguirem em frente, pois teria lugares vazios.
Dentro do restaurante, a iluminação era fraca. Algumas luzes despendiam do teto e iluminavam as mesas, de uma cor discreta. Não era o mesmo vermelho do letreiro, e sim um amarelo fraco. As mesas e cadeiras eram marrom escuro e de madeira simples. Mesas redondas e retangulares decoravam o grande salão que algumas pessoas já desfrutavam do seu jantar. Tinha um cheiro característico, o restaurante, um misto de aroma de comida fresca e da mistura de vários perfumes de marcas famosas que as pessoas borrifavam mais que o recomendável em si mesma.
O salão estava consideravelmente cheio, apenas com uns pares de mesas restando. Alguns eram desconhecidos ao Black, e alguns ele se lembra de tê-los vistos em algum lugar. Algumas pessoas olharam para os dois que entraram no cômodo, e Lyra só percebeu isso ao sentir o braço do Black envolver a sua cintura. Tomou um pouco de susto com o toque, pois estava distraída demais observando Londres através do painel transparente do restaurante.
Regulus a conduziu para uma mesa com duas cadeiras que estava vazia. Ele puxou uma cadeira para ela e ela sentou, depois agradecendo a ele o gesto. Se ajeitou em sua cadeira e explicou-se:
––Estavam olhando para você de um jeito de estranho. Estava distraída, portanto creio que você não viu. Bom, então eu pus a minha mão na sua cintura para pararem de lançar olhares daquele tipo.
Lyra mordeu o lábio inferior para não deixar escapar um sorriso.
––Obrigada. ––Ele balançou a cabeça, indicando que ela não precisava agradecer.
O garçom chegara para atende-los. Ele trajava um uniforme impecável, e bem chique para ser de garçom. O que indicava que o homem de meia idade exercia essa profissão era o seu crachá no lado esquerdo do peito com o seu nome. Ele trouxe dois Menu, que Regulus recusou levemente com a mão. Ele a olhou, pedindo permissão para escolher pelos dois.
––Me surpreenda ––ela sussurrou. Balançou a cabeça levemente e fez o pedido para o garçom enquanto ela estava entretida observando a London Bridge se estendendo iluminada e grande a sua frente.
––A paisagem é realmente muito encantadora ––ele concordou, vendo uma expressão sonhadora nos olhos verdes da loira.
Ela demorou uns segundos para voltar a Terra e perceber que ele havia dito algo.
––Ah, me desculpa ––disse, envergonhada pela grosseira de ter o ignorado. ––Estava divagando, como sempre...
––Um galeão por seus pensamentos ––desafiou, lançando um olhar curioso a ela.
––Não é nada ––afirmou, batucando os dedos levemente na mesa ainda tímida em frente a Regulus.
––Você só não quer me dizer ––rebateu sem parecer se sentir ofendido.
Ela sorriu envergonhada. Estava sendo mal-educada. Druella censuraria o comportamento dela ali. Não era do feitio de Lyra não saber o que dizer. Alguma coisa em Regulus a deixava com uma sensação diferente, e ela não sabia exatamente como agir em relação a isso.
––Estava pensando o quanto Londres deve ser linda, e também movimentada. Os trouxas daqui tem sorte. ––suspirou, apontando para a London Bridge que se estendia a poucos metros do restaurante.
––Podemos visitar outro dia alguns lugares dessa cidade ––sugeriu com um sorriso no rosto pois a loira havia cedido e contado o que tanto pensava.
––Eu adoraria! ––aceitou o convite e sorriu mais que queria. Colocou a mão na boa para esconder o sorriso que quase virou uma gargalhada. Ela estava rindo do próprio nervosismo. Vendo o gesto da loira, Regulus tirou levemente a mão dela, mostrando que não tinha necessidade para formalidades ali.
Riu quando a loira ficou com as bochechas coradas.
––Vim aqui umas vezes para jantar com meus pais e Sirius ––disse, quebrando o silêncio e tensão que se instalara ali ––Quando Sirius ganhou a vaga de batedor no time de Quadribol da sonserina, ou quando ele ganhou um prêmio de Quadribol.
Lyra não pode deixar de ver as sombras de um garoto esquecido, ofuscado pelo brilho do irmão, passar pelos olhos azuis de Regulus. Envolveu com a sua mão a mão dele que estava fechada em um punho cerrado. O toque dele pareceu fazer o garoto se acalmar.
––Eu também fui um pouco esquecida. ––comentou, ainda com a mão sobre a dele, e olhando para ele tristemente. ––Ninguém ligou para o meu boletim excelente quando sai de Hogwarts.
Ele riu pelo nariz.
––Quando souberam que eu ia ser monitor ––olhou para Lyra, com um sorriso forçado no rosto para disfarçar a raiva que ela sabia que ele sentira no momento. ––, ninguém me deu parabéns.
––Te entendo ––sorriu, já se sentindo menos desconfortável com a sua presença e até acostumando aos sorrisos roubados por ele.
––Nervosa para amanhã? ––ele indagou, bebericando a água no copo chique que o garçom trouxe.
––Talvez eu esteja ––disse misteriosa. ––É meio novo para mim...isso tudo.
––O mesmo ––ele concordou, colocando de lado o copo. ––Como você já viu, sou uma pessoa suportável.
––Isso não posso negar ––riu do que ela própria dissera. ––Sirius também não deve ser dos piores.
Estava muito distraída, e então não pode reparar no brilho de ódio que passara pelos olhos do garoto.
––É ––falou com amargura na voz. Reparou no erro e mordeu o lábio inferior, nervosa.
Alguns minutos depois, o garçom chegara. O prato escolhido por Regulus fora rosbife com molho tártaro, o prefiro dele e que Lyra realmente tinha gostado.
––Olha, me desculpe ––ela falou, depois de provar mais um pedaço do rosbife e tomar um gole do vinho.
––Não precisa ––disse dando de ombros. ––Está tudo bem.
––Claro ––confirmou, forçando um sorriso que ele inesperadamente devolveu.
––O que faz da vida, senhorita? ––perguntou a olhando com seus olhos azuis penetrantes e que pareciam brilhar com a iluminação do restaurante.
––Estou pensando em tentar a vaga para um cargo no Ministério ––confessou para ele, sendo que não tinha ainda contado a ideia para a família.
––Não estava exatamente perguntou sobre isso, mas é uma boa ideia- ––Lyra sorriu. ––Se não sabe, sou um Obliviador.
Não notou nenhum tom de orgulho com a profissão. Regulus até falara de um jeito indiferente.
––Que interessante ––respondeu, se esforçando para por emoção e tudo não ficar monótono novamente.
––De fato ––concordou. ––O que gosta de fazer?
Ela pareceu pensar antes de responder:
––Acho que seja ler ––vasculhou a memória para ver se gostava de algo mais do que isso. Sua atenção voltou a focar no garoto quando reparou ele dando uma risada de leve ––O que foi?
––É que eu não esperava isso de uma Black ––confessou sincero. Se Lyra fosse outra, teria ficado ofendida. Se eu fosse Bella ou Narcissa, já tinha jogado uma maldição que me faria dar uma viagem só de ia a Azkaban, pensou. Contudo, já que não era uma Black comum, deu uma risada de vitória.
––Não sou uma Black comum ––falou baixo como se fosse um segredo, logo depois pressionando o indicador sobre os lábios como se o que ela tivesse falado era um segredo confidencial, e não pudesse ser revelado.
––Sem sombra de dúvida ––piscou para ela, confirmando que o ‘’segredo’’ não seria revelado– Não posso negar depois de hoje, e de te conhecer melhor.
––Black, você tem um ótimo gosto para comidas ––disse, após saborear a sobremesa, que era brownie com calda de morango.
––Realmente eu tenho ––falou convencido. Ela abriu um sorriso fraco.
Uma hora depois ele já estava a levando de volta. Tinha tido melhores encontros que aquele, encontros que não foram forçados por causa de um casamento forçado ou os que ela poderia ser ela mesma. Mas, sorrindo ainda quando chegara em seu quarto, e deitara na cama, percebeu que não seria tão difícil se apaixonar por Regulus Arcturus Black.
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