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História (Ir)racional - Capítulo Único


Escrita por: AmericaScarlet

Notas do Autor


Eu e minha mania de só postar de noite...
Desde o início o propósito dessa fanfic foi seu nascimento, então desejo um feliz aniversário (extremamente atrasado, mas o que vale é a intenção). Sinceramente espero que você seja uma pessoa muito feliz e realizada, pois você merece, meu anjo s2
Quero avisar que esta estória foi reescrita, pois para uma pessoa tão maravilhosa como você, Nat, eu queria fazer algo realmente bom, não tão sem detalhes como a outra versão.

Sem mais delongas, desejo uma boa leitura!

Capítulo 1 - Capítulo Único



Para Jeongguk, o mundo é uma grande incógnita.

Afinal, quem garante que os seres humanos estão realmente vivos e não em um sonho ou universo paralelo onde são todos manipulados e podem desaparecer a qualquer momento? O jovem também acreditava que um dia, tamanha a estupidez humana, criando sistemas onde padrões e regras estúpidas devem ser seguidas, possivelmente seriam objeto de estudo das próximas gerações — ou de espécies mais evoluídas, ele rezava.

Sem falar em sua amante: a filosofia. Achava incrível como todas suas divagações se multiplicavam quando lia e relia seus tão amados livros. Também adorava bagunçar a cabeça das pessoas tirando assuntos do além, fazendo-as pensar o quanto são desprovidas de inteligência. Porém, a maioria, como toda sua família e colegas, apenas ignorava o jovem e chamava-o de louco.

Admitia — agora que morava sozinho em um apartamento minúsculo e imundo — que realmente odiava todo este ciclo que era obrigado a seguir. Antes já tinha suas suspeitas, como quando sua mãe falou que gostar de outro garoto era errado, mas ter que acordar cedo para estudar, limpar a casa, fazer sua própria comida e ainda aguentar o emprego na cafeteria do outro lado da cidade, comprovou que só queria voltar para o útero de sua mãe e rezar para que os áliens lhe buscassem logo.

De acordo com as pessoas à sua volta — aquelas que nunca conversavam consigo —, era um garoto totalmente dentro dos padrões por ser bonito, inteligente e trabalhador. Muitas meninas lhe elogiavam pelo corredor por suas notas — algumas mais corajosas, por sua beleza —, mas somente olhava para elas com um sorriso amarelo e olhar de pena, pois, apesar de classificar todas as pessoas como estúpidas, ainda depositava suas esperanças em uma de estatura alta e cabelos ruivos.

Jeon poderia se considerar um garoto normal, apesar de sua bagunça interna. Nunca passou por sua cabeça ter que se redimir ou dividir a vida com alguém, apenas seguia o fluxo de sua rotina de merda, falando as coisas que vinha à cabeça e reclamando sempre que possível.

Mas o futuro não é previsível, então, sem perceber a data, horário, se estava chovendo ou não, lá estava ele observando o garoto à distância, sentado na mesa de sempre, deixando os dentes à mostra e os cabelos ruivos desgrenhados. Já tinha o visto ali diversas vezes, percebia, principalmente, quando o outro soltava uma risada escandalosa, porém, nunca tinha reparado o quanto os olhos do outro diminuíam com um sorriso ou na voz grossa ao fazer o pedido — o qual Jeon já tinha decorado, mas se fazia de desentendido.

Então, quando finalmente percebeu seu olhar sendo retribuído, o quanto o outro mordia os lábios e examinava vagarosamente seu corpo, que percebeu que realmente estava na merda, pois era muito mais fácil controlar seu interior quando o outro apenas dava atenção aos amigos.

— Jeongguk, seu moleque! Preste atenção quando eu estiver falando!

Com o grito de sua chefe, o Jeon piscou algumas vezes, confuso, até se orientar. Uma famosa frase de Descartes é “penso, logo existo”, mas, talvez, pensar tanto não fosse tão bom quanto imaginava, então o garoto apenas balançou a cabeça, tentando se recompor.

— Me desculpe, não ouvi o que disse.

— Eu percebi isso! Já faz mais de cinco minutos que estou te chamando e você fica aí olhando para o nada — bufou, raivosa. — Se não quiser mais seu adiantamento, é só sair por aquela porta!

O castanho engoliu em seco e arregalou os olhos. Apesar da expressão fofa de sempre, Jeon sabia que a mulher era justa e cabeça quente.

— Não, eu ainda quero sim. É que aquela encanação lá de casa já está me dando nos nervos.

— Bom mesmo, cacete, sabe que já sou velha e chata, ainda tem a audácia de me encher o saco.

Jeongguk apenas sorriu pelo drama da mulher de apenas trinta anos, sem realmente se importar, afinal, só queria seu adiantamento para que desse um jeito na encanação de sua casa. Nunca pensou que ao deixar a casas de seus pais teria que lidar com coisas que, para si, eram tão fúteis.

Saiu da sala com o dinheiro no bolso e um sorriso no rosto. Maneou a cabeça para a recepcionista do café e simplesmente passou pela porta da frente, sem se importar com a regra que os servidores deveriam sair pela porta dos fundos.

O clima da cidade estava ameno, do jeito que o Jeon gostava. As pessoas estavam com roupas finas e sorriam pelo sol finalmente ter aparecido depois de um longo inverno, enquanto o garoto trajava roupas pesadas, sem se importar com o calor que estas traziam, além da expressão dura que sempre adornava.

Precisou correr para pegar o ônibus no horário — até porque eram três horas do seu trabalho para a faculdade —, somente se esquecendo que não tinha mais passagens em sua carteira de estudante. Pensou em implorar para o motorista para que ele tivesse compaixão, mas, no final, ficou mais meia hora no veículo para ir ao terminal e colocar mais dez centavos, tudo pelo orgulho que não saía de si.

Vida de adulto não era nada fácil, ainda mais quando se era mimado pelos pais desde o nascimento, e, quando farto deles, decide morar sozinho, sem nenhum planejamento.

 

[...]

 

Chegando à faculdade, não houve nada fora do normal, a não ser que estava uma hora atrasado para a reunião do grêmio estudantil. Foi o tempo de descer do ônibus e correr para dentro da instituição, que viu o diretor andando pelos corredores tranquilamente ao lado de seu orientador, Kim Seokjin.

Nas teorias de Jeongguk, se uma coisa pode dar ruim, ela com toda certeza vai dar pior ainda.

— Céus, eu estou vendo meu orientando ou é somente uma miragem? —  disse o Kim, sarcástico. Na maioria das vezes era um pessoa séria e tranquila, mas quando se tratava de responsabilidade, o outro se transformava em uma máquina de julgamentos. — Achei que o combinado era às treze horas, mas pelo que vejo, todos estavam muito adiantados quando começamos a reunião.

O castanho, por mais que quisesse rebater, se colocou em seu lugar e abaixou a cabeça, sussurrando palavras de baixo calão, até porque não bastava ter que sofrer trabalhando feito escravo na cafeteria, também precisava do dinheiro recebido no projeto de iniciação científica.

— Perdão, me atrasei por causa do trabalho.

— Diga isso para seu futuro e veja se ele aceitará seu perdão! — disse seu orientador, sem realmente se importar com o que estava falando. — Não sei como ainda aceitam alunos bolsistas nesta instituição, só trazem problemas para nós.

— Olhe suas palavras, Seokjin! — proclamou o diretor, adornando uma expressão séria e desgostosa. — Esta instituição não foi criada com intuito de verificar a condição financeira de cada aluno, e sim seus potenciais. Então exijo mais respeito!

Jeongguk, que antes queria socar seu orientador, agora segurava o riso para não piorar sua reputação.

— Mil perdões, senhor.

“Diga isso para o seu futuro!” — disse irônico, já estressado de tantos problemas. Suspirou, cansado, desta vez controlando seus ânimos e voltando para o garoto à sua frente. — Somente cole o resultado das provas do bloco três no mural, depois peça um resumo da reunião para um de seus colegas.

Assim, com um sorriso no rosto, Jeongguk rumou para a diretoria em busca do tal resultado. Apesar de Seokjin não ter se desculpado diretamente para si, gostava de quando a hierarquia era bem utilizada. Agora só precisava arranjar o tal colega para não ficar para trás das atualizações — colega este que não fazia ideia de quem era, já que não conversava com ninguém.

 

[...]

 

Ainda não estava no horário de início das aulas, então, ao sair da diretoria, Jeongguk percebeu que o corredor já se encontrava cheio de murmúrios por causa dos alunos. Desviou de algumas pessoas e foi em direção ao terceiro bloco, sem realmente se importar que sua próxima aula se iniciaria em poucos minutos.

Foi necessário mais tempo que o normal para que encontrasse o mural, pois não deixou o orgulho de lado para perguntar aos outros estudantes, o que resultou em bons minutos perdido pelo prédio. Quando finalmente encontrou, precisou empurrar algumas pessoas para ganhar mais espaço, logo colando a grande cartolina com os resultados. Com isso, pôde sentir vários olhares sobre si e um grupinho se formando à sua volta, todos curiosos com as notas.

—  Que merda.

Ouvir a voz ao pé de seu ouvido acabou causando um certo arrepio, entretanto, por realmente não gostar de seres humanos — ainda mais em grandes quantidades como aquela — simplesmente se virou para poder sair, mas se assustou ao perceber que o ruivo da cafeteria estava logo atrás de si. Aquela fora a primeira vez que escutava sua voz dizendo outra coisa a não ser o cappuccino de sempre.

—  Como que você consegue? —  Taehyung exclamou, sem mudar seu foco do mural.

Apesar da pequena chama de esperança ter se acendido dentro do outro, resolveu apagá-la rapidamente, pois já bastava sofrer pelo outro em seu local de trabalho, seria tortura na faculdade também.

Por mais que tenha sido difícil, o Jeon conseguiu manter a expressão séria, movendo as pernas para sair dali cabisbaixo. Porém, a voz se fez mais uma vez presente:

—  É assim que você trata os amigos, Jeongguk?

Sentindo o peito pular, um sorriso se formou no rosto do castanho ao ter os olhos do outro finalmente sobre si. As mãos trêmulas e os olhos mirando o chão; só rezava para que as bochechas não estivessem vermelhas.

—  C-como assim amigos? —  gaguejou, se amaldiçoando por isso.

— Lógico que somos! — ele grita com sua voz escandalosa, quase estourando os tímpanos do castanho. Taehyung, achando uma graça o outro, sempre mandão e superior, agora com o rosto repleto do tom avermelhado. — E isso significa que você vai me dar um expresso de graça!

Depois de tanto tempo sem mostrar um sorriso verdadeiro, Jeongguk nunca desmanchou um tão rápido. Sua vida já era um lixo, agora seu coração idiota batia por mais merda em sua vida. Que maravilha.

— É isso que você quer? — perguntou, tentando segurar o pingo de esperança que restava.

—  É lógico, oras. O que seria melhor do que ganhar comida de graça? Isso se chama apoio emocional!

Lá estava o sorriso quadrado que Jeongguk tanto admirava, mas que agora queria mais distância ainda. De pessoas aproveitadoras já bastava seus pais.

— Eu tenho mais o que fazer, vai pedir para outro trouxa.

E saiu dali pisando duro. O clima estava tão gostoso, até o ruivo abrir a boca. Talvez os seres humanos servissem somente para serem observados, porque conseguiam fazer mais merda do que o recomendável.

 

[...]

 

Aquele já era o décimo quinto dia que havia chegado em Seul, mas suas malas ainda bagunçava todo apartamento. Talvez morar sozinho não fosse tão bom quanto parecia nos doramas, ainda mais em questão de alimentação: todos os dias o jovem sobrevivia por causa da existência de rámen, senão, já teria morrido de fome por não saber cozinhar.

Naquele horário o encanador já havia saído de sua casa, o cano estava novinho em folha e funcionando perfeitamente, mas seu bolso já criava teias de aranha pela falta de dinheiro. Porém, por mais que fosse difícil e desgastante, Jeongguk não se arrependia por ter saído de casa, aliás, já tinha passado da hora de tomar tal atitude. Seus pais sempre o prenderam em seu mundo de ignorância e perfeição, e ele já estava cansado disso.

Abriu o armário à procura de mais um pacote de rámen, mas ele não estava com força física ou muito menos psicológica para comer. Tinha consciência que não devia estar com tanta raiva, Taehyung era só mais um ser humano dentre tantos outros, com sua beleza estonteante e burrice inegável, mas agora o castanho sabia a dor que é ser rejeitado — mesmo com a pessoa não sabendo de seus sentimentos. Por mais que já estivesse em seu limite, a dor insistia em ficar e poderia dizer que eram companheiros, até porque acostumar com a dor é necessário, já que o Jeon não era capaz de mudar seus sentimentos para ser uma pessoa "normal". O que restava era ter que lidar com os fatos e ignorar seus sentimentos, que só serviam para enfraquecê-lo.

Dentre suas divagações, ouviu o telefone tocar e agradeceu internamente por não ter chorado, pelo menos não seria tão constrangedor. Fitou o visor e percebeu que se tratava de um número desconhecido, não se importando muito quando atendeu.

— Quem fala?

Tudo bem, Jeon? Aqui é o Jimin, do grêmio estudantil. Tem alguma coisa para hoje?

De primeira estranhou o fato de alguém da faculdade ter seu contato, mas se tranquilizou quando lembrou que seu número estava estampado no mural da sala de reuniões, para caso ocorresse algum imprevisto, ele fosse comunicado. Só não entendia o porquê do outro ligar às sete horas de uma sexta à noite.

— Depende do propósito de sua pergunta.

Para de ser chato — disse rindo. — Meus amigos vão assistir um filme aqui em casa, quer vir?

Jimin estava interessado em se aproximar de Jeongguk por causa de suas observações. Viu que o outro andava muito sozinho, sempre sério e inalcançável. Confessava que tinha muita curiosidade sobre a vida do castanho, mas não queria se mostrar invasivo para o colega. Então pediu conselhos para o namorado, Yoongi, que aconselhou a chamá-lo para sua casa, já que o Jeon se mostrava tão desconfortável perto de outras pessoas. Achou a ideia incrível no início, mas agora que se lembrara do quanto o garoto era introvertido, quase desistiu por medo dele não aceitar.

Jeongguk realmente estava preparado para mentir, até porque não gostava nem um pouco de filmes — muito menos por saber que teriam outras pessoas por lá —, mas algo lhe dizia que deveria dar uma chance para esta oportunidade, e assim o fiz, pois queria se livrar desses pensamentos sobre Taehyung, além de poder perguntar para o outro sobre a última reunião.

— Vou sim, é só me dizer o horário.

 

[...]

 

Já se passavam das oito horas quando o outro ficou pronto para ir para casa de Jimin assistir ao tal filme. Como esperava, não estava nem um pouco animado para ir, ainda mais depois de ver no noticiário que iria chover nos próximos minutos, entretanto, Jimin já estava lhe mandando a trigésima mensagem desde que desligou a ligação, então decidiu ir de uma vez por todas. Até porque uma chuvinha não iria lhe matar mesmo.

 

[...]

 

— Demorou, hein, cara! — falou Jimin, animado como sempre, dando espaço para que o Jeon entrasse em sua casa. — Já estava pensando que tinha derretido nessa chuva.

Todos os presentes riram, enquanto o convidado apenas deu um sorriso fraco em resposta.

Apesar da preguiça, cumprimentou os outros dois amigos de Jimin, reconhecendo-os do grêmio estudantil: Hoseok e Yoongi. Chegou a pensar que não seria tão desgastante, pois conhecia relativamente os três, mas sentiu seu peito gelar ao ter a visão do céu e do inferno ao mesmo tempo. Havia uma certa pessoa sentada no canto da sala lhe observando, e essa pessoa se chamava Kim Taehyung. Desde quando os dois eram amigos? Jeongguk apenas tinha duas semanas morando em Seul, mas foi o suficiente para saber que Jimin e Taehyung não eram próximos.

Decidiu se sentar no sofá bem longe do outro, logo puxando Jimin para meu lado.

— Por que ele está aqui? — apontou para o ser diferente da sala.

— Taehyung? Ah, ele é amigo do Hoseok.

— Pensei que vocês não se gostassem.

Jimin lhe olhou de soslaio, dando de ombros em seguida.

— Não tenho nada contra.

Era o que faltava mesmo, sair de uma desgraça e cair em outra. Jimin, sem perceber a expressão desgostosa do garoto, se levantou e foi para cozinha com Yoongi para buscar as guloseimas que comeriam durante o filme. Ah, comida! Bastava lembrar que ficou o dia todo sem comer nada, que já sentia seu estômago embrulhar.

— Você não está com uma cara muito boa.

Seu plano era ficar o filme todo ignorando essa pessoa, para logo depois dar uma desculpa qualquer e sair às pressas da casa, mas pelo jeito o destino gosta de vê-lo se fodendo.

— O que você está fazendo aqui? — indagou sério para o ruivo.

— Nada demais — disse, ocupando o lugar que antes era do Jimin. — Só estou aqui para ver um filme com meus amigos.

E lá estava o sorriso adornando seus lábios novamente.

Jeongguk, apesar de ainda estar com raiva sem motivo, colou os olhos nos lábios vermelhos do outro — estudando suas expressões —, mas logo o sorriso, aquele que sempre aparecia quando se tratava de Taehyung, apareceu. O garoto sempre foi muito observador, mas não pensou que fosse tão idiota quando se tratava do ruivo. Ficava todo expediente mirando o rapaz, sabia de cor todas suas expressões e manias, entretanto, por estar tão ansioso pelo outro ter puxado assunto consigo, não percebeu as bochechas levemente róseas.

Esta era uma mania de Taehyung, sempre que estava com vergonha, começava a falar à beça, saía palavras sem sentido de sua boca ou até mesmo falava besteiras. E, olhando atentamente o menino à sua frente com as mesmas expressões, percebeu que novamente estava sucumbindo aos sentimentos, deixando a razão de lado e se levar pela emoção do momento.

Pelos olhares que recebia de volta na cafeteria, tinha certeza que o outro não era hétero, mas seu orgulho não saía do seu lado, então queria descobrir o porquê de toda essa aproximação repentina.

— Não foi isso que perguntei — falou, sorrindo por ter o controle do jogo. — O que você está fazendo conversando comigo?

Já esperava por mais uma mentira, pois todos sempre faziam isso quando se sentiam pressionados. Porém, se surpreendeu ao ver o ruivo abaixar a cabeça.

— Eu queria pedir desculpas pelo que aconteceu mais cedo na faculdade.

— C-como assim?

— Pelo que eu disse, oras! Sei que fui muito grosso ao dizer que eu só estava conversando com você por causa de um cafezinho.

— Mas não foi só para isso que estava conversando comigo?

— Lógico que não! — disse eufórico, recebendo uma expressão desconfiada de volta. — Ok, eu confesso que aceitaria de bom grado comida de graça, mas isso não vem ao caso. — o castanho deixou um suspiro sair por causa da frustração. — É que se eu não tirar notas boas na recuperação, posso repetir de semestre! E comida me incentiva a estudar, por isso sempre vou à cafeteria depois da faculdade.

— Você ficou de recuperação? — indagou, confuso. Se lembrava claramente das vezes em que o outro trazia os livros da faculdade para a cafeteria, até mesmo da vez em que Taehyung derramou café sobre o trabalho que demorou semanas para fazer (só não sabia que o acidente fora causado por sua culpa, que estava muito lindo naquele dia, tirando toda a atenção do ruivo de seus afazeres).

— Acho que não preciso responder.

— Tudo bem. Da próxima vez que você aparecer lá na cafeteria, eu te pago um expresso. Só não abusa da minha boa vontade — respondeu, recebendo um sorriso sincero de volta, mas antes que pudesse ouvir a resposta, Hoseok mandou todos se sentarem para assistir o filme.

Os meninos desligaram as luzes e pararam de falar, deixando somente o som da chuva preencher o local, então Jeongguk decidiu ficar quieto, dando o assunto por encerrado. Logo Yoongi deu play e o filme iniciou com uma introdução macabra; pelo jeito, Jimin adorava o gênero de terror. Realmente não ligava com o conteúdo do filme, mesmo se quisesse, pois enquanto enchia a boca de pipoca e refrigerante, sentia a pessoa ao seu lado lhe encarar sem parar, com o maior sorriso que o Jeon já tinha visto.

O filme não havia chegado nem mesmo na metade quando Jeongguk ficou de saco cheio — sem falar das bochechas vermelhas; agradecia que estava bem escuro na sala —  por Taehyung estar lhe encarando. Tentou chegar para o lado, mas o outro veio e colou em si novamente, ficando mais perto do que antes. Já estava difícil até para respirar — por causa do perfume maravilhoso que impregnou em suas narinas — ou para fazer qualquer outra coisa que não fosse encará-lo de volta. Tinha certeza que estava vermelho, pois mais uma vez estava se deixando levar pelo lado emocional, porém, mesmo sendo encarado com tanta indignação, Taehyung ainda tinha o sorriso genuíno no rosto.

Aquilo levou Jeon de volta ao primeiro dia de trabalho, quando mal sabia o que fazer em meio a tantos clientes. Taehyung estava sorridente com os amigos e isto fez o garoto se sentir diferente. Mal sabia que aquele seria o prólogo de sua desgraça.

“Por favor, me mate suavemente
Cubra os meus olhos com suas mãos”

O ruivo continuava com a mesma expressão, deixando o Jeon hipnotizado, enquanto sua mão subia e ia de encontro com a do castanho. Sentir sua mão gélida causou calafrios, mas o mais novo não se importava, estava tão vidrado em seu olhar que nem mesmo sentiu o entrelaçar de seus dedos. Aquilo era algo que o castanho nunca imaginou em fazer, não somente pelo fato de seus pais julgarem, mas porque fugia de todos os preceitos impostos pela humanidade; entretanto, não havia mais razão na mente de Jeongguk, então este seguiu o ritmo do outro e roçou os lábios com delicadeza, sentindo a respiração do ruivo bater contra a sua.

“Beije-me nos lábios
Um segredo entre nós dois”

Esqueceu de tudo à sua volta quando o outro finalmente colou os lábios aos seus, enquanto fechava lentamente os olhos, se deleitando com o sentimento novo. As línguas se abraçavam e os corações queimavam; parecia que existia somente os dois naquele mundo medíocre. Esqueceu da briga que teve com os pais, do preconceito que se fazia presente em todo lugar que ia, até mesmo da religião que proibia o que estava fazendo; pedia que Deus fechasse os olhos por pelo menos alguns segundos.

“Eu não posso servir a ninguém que não seja você
Eu conscientemente devorei o Santo Graal preenchido com o seu veneno”

Taehyung apertou sua mão contra a do castanho e colocou a outra em meu rosto, logo a descendo para seu pescoço e tórax. O coração batia a mil, parecia que iria explodir a qualquer momento, enquanto os pulmões ardiam pela falta de ar, mas a necessidade era tanta que não se importariam em morrer se isso significasse mais alguns segundos colado no outro. E, pela primeira vez na vida, Jeongguk pediu para o mundo não se dissipar ou que os áliens deixassem ele ficar um pouco mais na Terra.

— JESUS!

Os dois se separaram rapidamente ao lembrar que não estavam sozinhos, ainda sentindo a adrenalina percorrer pelas veias. Taehyung tinha o olhar confuso, ao passo que Jeongguk fazia cosplay de pimentão, suando frio de tanto medo, mas, para a sorte de ambos, Hoseok não havia gritado por causa do beijo, e sim porque um demônio apareceu no televisor.

Jeon, depois de acalmar o coração e controlar a mente turbulenta, sem olhar nenhuma vez para o Kim, decidiu tomar uma atitude.

— Jimin — sussurrou para o colega. —, estou indo para casa.

— Mas já? — disse o outro, surpreso. — Não está nem na metade do filme!

— Não estou me sentindo bem, acho melhor sair daqui antes que eu suje seus móveis.

Jimin olhou com nojo para o Jeon e sorriu de nervoso.

— Quando chegar em casa me manda uma mensagem.

Assim, o Jeon apenas pegou mais uns doces para se acalmar e saiu em disparada para a porta, esquecendo até que deveria pedir informações à Jimin. Ansiava respirar um ar puro, então, ignorando totalmente o braço de Taehyung que o puxava de volta ao sofá, deixou a casa sem olhar para trás.
 

[...]
 

Chegou em casa correndo por causa da chuva forte. Estava ensopado, tremendo e com frio, mas o pior era lembrar que seria ele mesmo quem limparia a casa depois. Retirou os sapatos e foi tomar um banho quente, sem escutar a campainha tocando.

Onde estava com a cabeça, afinal? Sempre julgou tanto as pessoas a sua volta, por causa da estupidez ao escolher o prazer em vez da razão e agora estava no lugar delas. Sua mente estava um caos, se assemelhava aos trovões do lado de fora. Lembrava que quando estava enfurnado em seus afazeres, sempre seguia piamente seus preceitos de que sempre a razão está sobre tudo e todos, mas bastou um moleque ruivo aparecer em sua vida que tudo virara de cabeça para baixo. No momento, Jeongguk tentaria fugir de Taehyung como o diabo foge da cruz.

Saiu do banho quente, para enfrentar o ar gélido do quarto, mas antes que pudesse vestir alguma roupa, ouviu a campainha tocar pela enésima vez. Somente contornou o roupão sobre o corpo e foi em direção à porta; estava com a cabeça tão cheia que não ligaria se fosse sua vizinha idosa a chamar.

— Pois não? — disse calmo, mas seu coração se acelerou com a cena à sua frente. As emoções, como sempre, voltavam à tona quando se tratava daquela pessoa.

Jeongguk nunca havia se encontrado com alguém tantas vezes no mesmo dia, mas não se importaria de vê-lo assim mais vezes. Taehyung estava encharcado, assim como a si minutos atrás, mas no outro, isso era um mero detalhe que o fazia ficar extremamente lindo, com o cabelo ruivo contrastando a escuridão da noite.

— Não vai me convidar para entrar? — Jeon já não tinha mais controle de seus atos, então simplesmente deu passagem para o outro, acabando por molhar ainda mais o piso. Talvez não fosse tão ruim sujar um pouco a casa. — Sua casa é bem bonita.

— O que você está fazendo aqui? — disse apressado, tentando manter o cérebro em foco.

— Quer mesmo que eu responda? — contradisse, dando um sorriso de lado. — Onde é o banheiro?

Não foi capaz de dizer nada, somente apontou para o corredor, onde Taehyung se aventurou a ir. O cérebro do castanho estava em pane, podia imaginar os funcionários desesperados à procura de uma solução, enquanto outros apenas gritavam para abortar a missão. Acabou ficando uns cinco minutos parado naquela posição, tentando assimilar tudo que estava acontecendo, mas durante todo o tempo não escutou o barulho do chuveiro. Pensava que Taehyung estava se dando um tempo, talvez para pensar sobre o assunto também, mas quando viu a luz do quarto se apagar, que percebeu que ele, na verdade, estava dando um tempo para ​si​, o metido a filósofo que odeia o mundo.

Durante as duas semanas, não fora somente o Jeon que observou o outro; todos os olhares eram retribuídos, mesmo que discretamente. Taehyung sabia, depois de tê-lo procurado pela faculdade, de todas suas neuras sobre o ser humano, o que somente serviu para que aumentasse mais ainda sua curiosidade sobre o outro, tão peculiar. Apesar de, aos poucos, o sentimento ter mudado, o ruivo não se permitia conversar com o castanho pela timidez e vergonha do que o outro podia pensar sobre si, então demonstrava tudo com olhares, tanto na faculdade quanto no trabalho, tendo, finalmente, sua oportunidade quando viu o outro no bloco de seu curso. Simplesmente falou a primeira merda que veio à mente, só não esperava que o outro ficasse tão bravo, porém ficou feliz por tudo estar se resolvendo com a ajuda de Hoseok, seu grande amigo e confidente, que apoiou a vinda de Jeongguk para a pequena reunião de amigos, logo ligando desesperado para que Taehyung saísse da famosa bad e fosse encontrá-lo na casa de um desconhecido. Tudo que estava acontecendo, era graças ao amigo.

Demorou um tempo até que Jeongguk digerisse o que havia acontecido, mas o ruivo era paciente, aguardava os passos cautelosos em sua direção, enquanto observava a chuva cair pela minha janela.

“Eu não posso negar, de qualquer jeito
Eu não posso fugir de qualquer modo
Você é muito doce, muito doce”

— Eu posso te emprestar algumas roupas minhas — ouviu o outro dizer, como se estivesse com medo, porém ansioso pelo que poderia vir.

Se virou calmamente para o castanho, tocando em seu rosto e dando mais um de seus sorrisos, para tentar tranquilizar o outro. Jeongguk se arrepiou pelo toque, mas este durou apenas alguns segundos, já que Taehyung deu as costas e se dirigiu ao banheiro, deixando uma brecha aberta.

Jeongguk simplesmente não estava acreditando no que via. O ruivo retirava a roupa lentamente, a camisa deslizando pelo tronco malhado e a calça pesada descia pelas pernas torneadas, enquanto as gotículas de chuva faziam sua pele brilhar. Isso fez com que o coração do Jeon pulsasse rápido, mas também aquela outra coisa debaixo de sua calça. Por causa da vergonha palpável e constrangimento por ser tão frágil, Jeongguk quis desviar o olhar, mas recebeu um assobio de volta, como se outro o proibisse de tirar os olhos de si.

"Mas suas asas são do diabo
Sua doçura está na frente da amargura"

O castanho nunca imaginou que quando visse alguém nu, fosse em uma situação daquelas, para ser sincero, nem mesmo esperava que fosse ver alguém desprovido de roupas alguma vez na vida. Como era possível alguém ser tão perfeito? Parecia que cada parte do ruivo fora feita minuciosamente, enquanto o Jeon jurava que havia nascido somente para apreciar sua beleza.

O rosto se encontrava mais quente que o normal, enquanto as mãos cobriam o meio das pernas. Mal conseguia respirar pela ansiedade, mas tudo piorou quando Taehyung abriu a porta completamente e foi em sua direção. Jeon não tinha a mínima ideia do que fazer, então apenas deixou que o outro se aproximasse e o tomasse em um beijo selvagem.

“Baby, mesmo que eu esteja bêbado, está tudo bem
Agora que bebo você profundamente em minha garganta
O uísque chamado você”

Sentia as mãos lhe envolvendo por completo, então subiu as semelhantes para o topo de sua cabeça, puxando os fios para descontar o prazer e felicidade. Aquele beijo, sem sombra de dúvidas, estava sendo melhor do que o primeiro, talvez porque dessa vez estavam realmente sozinhos.

“Beije-me, mesmo que machuque
Venha aqui, amarre-me
Até que isso não possa mais ferir”

O clima estava cada vez mais quente, mesmo que do lado de fora estivesse abaixo de 10°C. A chuva despencava sobre o telhado e os trovões gritavam, mas o castanho apenas passou suas pernas em torno do quadril de Taehyung, deixando que ele lhe conduzisse para o banheiro sem relutar.

“Mesmo que machuque, amarre-me
Desse jeito não poderei fugir”

A droga dos pulmões suplicavam por ar, mas era tempo de separar, que um já colava no outro, como se o oxigênio fosse, na verdade, a essência dos dois. Sentado na pia do banheiro, sentindo toda a pele morena sobre a sua, além da fricção dos quadris, Jeongguk desamarrou o nó do roupão, deixando-o cair sobre o os ombros. Houve um choque de temperatura ao tocar seu abdômen nada malhado ao do ruivo, mas continuaram a aproveitar a situação, sem realmente se importar com o depois.

“Amarre-me com força e me balance
Assim não poderei recobrar os meus sentidos”

Se beijavam como se o mundo pudesse acabar a qualquer momento, mas aquele era somente o começo. Mesmo que em seu gosto houvesse veneno, Jeongguk queria provar mais de Taehyung.

“Estou viciado na pessoa chamada você”

O castanho tinha consciência que não iria parar por ali, queria ir além, mesmo sabendo que o ruivo levaria tudo de si: seus preceitos e racionalidade; mas se fosse por Taehyung, poderia ser hipócrita alguma vez na vida.

O ruivo carregou o mais novo até o box e ligou o chuveiro, deixando a água quente cair sobre ambos. Os beijos cessaram, restando alguns segundos para admiração, enquanto Jeongguk aclamava a perfeição que era o ruivo e Taehyung não acreditava que estava, finalmente, em frente ao castanho, aquele que por semanas desejou, tendo-o todo entregue à si. Colocou o Jeon com delicadeza no chão, somente para retirar a única peça de roupa que lhe restava.

“Até meu sangue, suor e lágrimas
Meu corpo, coração e espírito
Você sabe que já são seus
Isso é um pedido para me punir”

Com Taehyung, Jeongguk sentia algo que nunca sentiu antes, como que se, com ele ao seu lado, tivesse a certeza que estava vivo. Jimin poderia esperar sua mensagem até o próximo dia, seu orientador poderia encher seu saco na próxima reunião, a cafeteria continuaria muito bem sem que ele chegasse no horário correto, seus familiares poderiam sobreviver com sua ausência e os canos de sua casa poderiam aguentar por, pelo menos, mais seis meses. Assim seria capaz de dar tudo de si para o ruivo, sem complicações ou ter que se importar com os outros. Seria somente os dois, juntos.

Os dedos entrelaçados, os gemidos depravados e os corações disparados. Ali não existia mais regras a serem cumpridas, padrões a serem seguidos; era somente os dois em sua essência, sem medos ou limitações. Ali, Jeongguk finalmente concluiu que, apesar de desprovido de racionalidade, não tinha problema, pois há sempre alguma loucura no amor, mas que também há sempre um pouco de razão na loucura.


Notas Finais


Ahhhhh que emoção, to chorosa (a frase da capa — e do final — é de um filósofo chamado Friedrich Nietzsche)
Meus parabéns neném, @Doce_perigo espero realmente que tenha gostado desta nova versão (agora me ame até o resto de sua vida, porque sofri pra cacete nesse shipp do caralho, além de ter sido minha primeira fanfic yaoi)
Espero também que você, leitor, tenha aproveitado a estória e gostado dela, isso me deixa extremamente feliz!

Agradecimentos especiais à @Ainoseiza pela capa que me deixou simplesmente boquiaberta e @hobigguk pela betagem s22

Beijos no coração!


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