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História Bloodsport - Chamadas


Escrita por: Sunnyes

Capítulo 8 - Chamadas


Entro em casa e logo o barulho da televisão toma conta dos meus ouvidos. Minha boca se abre para gritar com o meu irmão, mas logo a fecho. Quem sabe o som possa ser mais alto que os meus pensamentos, não quero pensar agora. 

— E aí, maninha? — Andrew diz. Ele está deitado no sofá com as pernas no encosto.

— Mamãe não chegou? — Pergunto, olhando rapidamente pela janela. A caminhonete de Kentin já não está mais lá. Ótimo

— Não — Ele muda o canal e adolescentes correndo e gritando fugindo de um cara com uma máscara surgem na tela. — Eu acho que ela está a fim do Hank.

Hank é o chefe da minha mãe, ou seja, ele é um advogado e é rico — não que isso seja importante. É fato que ela sempre comenta sobre ele, mas eu não tinha reparado nisso.

— Bom, isso é bom — Murmuro, me sentando no sofá de um modo que os pés do meu irmão não fiquem próximo demais da minha cabeça. — Quer dizer que ela já está seguindo em frente.

— É, depois de onze anos — Andrew debocha.

Não respondo e passo a prestar atenção no filme. Percebo que é uma péssima ideia quando o homem mascarado acerta a perna de uma garota com um machado e ela grita de dor. Os efeitos especiais são péssimos, mas fico tensa da mesma maneira. 

— Dá para mudar de canal, por favor? — Peço. Tudo o que eu não preciso agora é ver sangue e assassinos, já imaginei bastante sobre isso hoje.

— Você está doente? — Meu irmão pergunta, mas não se mexe para pegar o controle. — Você nunca pede por favor.

Reviro os olhos e me estico sobre ele, pegando o controle. Digito números aleatórios e vou parar num canal de culinária.

— Qual é, Ruby — Andrew geme, pendendo a cabeça para trás.

Não me deixo abalar. Tento fazer o possível para me focar na receita de cupcakes. Eu só quero esquecer tudo o que Kentin me disse, eu não quero fazer parte disso. Não sabia onde estava me metendo quando insisti em saber o que eram aqueles pontos vermelhos, seria ótimo voltar no tempo e me convencer de que estava tudo bem. Ou então simplesmente ter ficado em casa. Quando eu sequer imaginaria que acabaria descobrindo a existência de lobisomens, coiotes, fadas, bruxas e não sei mais o quê?

— Ruby? — Andrew me chama.

— O quê foi? — Indago, impaciente.

— Você não me ouviu? Eu perguntei se você está bem — Ele senta normalmente no sofá.

— Sim, eu estou — Minto, evitando encará-lo. 

— Não está não — Ele discorda. — Quem te trouxe aqui? Foi o Kentin, não foi?

— Foi — Me viro para ele, sem entender onde ele quer chegar.

— Vocês estão juntos? — Andrew pergunta.

— Pela terceira vez hoje, não — Bufo.

— Vocês já estiveram? — Andrew ergue uma sobrancelha. — Pode ter sido alguma coisa de uma noite só, eu não sei.

Não, Andrew — Exclamo, enojada pelo meu irmão se interessar na minha vida sexual. — Não.

— Desculpa — Ele ergue as mãos. — Eu achei que ele tivesse dito alguma coisa para te magoar.

— Foi quase isso. — Murmuro.

— E esse “quase” foi... — Andrew começa, esperando que eu explique, mas eu apenas o encaro. — Algo que você não quer contar. Tudo bem, então. 

— Obrigada — Digo, sarcasticamente.

— Falando sobre o Kentin— Reviro os olhos ouvindo isso. Eu não quero falar sobre Kentin agora. Meu irmão pega o controle da minha mão. —, ele mudou bastante, não foi?  Tipo, bem rápido. Antes do verão ele não estava assim.

— É, eu sei. — Suspiro. 

— Você não acha estranho? — Ele franze o cenho. — Porque...

— Quer saber, Andrew? Eu vou para o meu quarto. — Me levanto. — Só abaixe o volume, tudo bem? 

Não espero para ver a reação dele, só vou para o meu quarto e fecho a porta. Respiro fundo, feliz por finalmente ter um pouco de paz. Meu quarto ainda está bagunçado.

— Não vai se arrumar sozinho — Murmuro, abaixando e pegando uma blusa do chão.

Pego as roupas espalhadas por aí, os pratos na escrivaninha, papéis amassados embaixo de minha cama. A chuva está começando a ficar mais forte lá fora quando eu dobro a última calça e guardo no guarda-roupa. Olho em volta, tudo está no seu devido lugar. Abro um pequeno sorriso, orgulhosa. Faz muito tempo que não vejo o meu quarto assim. Meu sorriso desaparece quando percebo que acabei, que estava concentrada na minha pequena faxina que não pensei e mais nada, mas agora acabou. Não tenho mais nada para fazer. Não há dever de casa, nada para me ocupar. E agora? 

Sento no meio de minha cama, com as pernas cruzadas. Agora que não estou focada em outra coisa, tudo o que Kentin me disse começa a voltar. Alfas, betas, ômegas. Coiotes, lobisomens, vampiros, bruxas. Balas de prata, acônito. Um alfa maluco matando pessoas. Me sinto um pouco enjoada, minhas mãos estão suando. Talvez se eu ligar para alguém eu me distraia um pouco.

Pego meu celular e vou até a lista de contatos. Alexy é o primeiro a aparecer. Aperto no botão verde para iniciar a chama e espero. Tu-tu-tu-tu-tu. 

— Ocupado, sério? — Bufo.

Tudo bem. Ligo para Armin em seguida. Seu telefone toca, uma vez, três. Ele deve estar jogando. Passo alguns contatos até chegar em Kentin. Meu dedo para sobre o botão para ligar. Não. Eu quero distanciar a minha mente disso. Mas ele me ouviria, não ouviria? Nós podemos conversar sobre os velhos tempos. Há quanto tempo não fazemos isso? Nós temos tantas histórias juntos, nos conhecemos desde os seis anos anos de idade, quando meu pai foi embora. Nos divertíamos tanto. Mas ele não era um lobisomem. Suspiro e continuo passando, até chegar em Nathaniel. Penso em ligar, mas não. Não somos tão próximos assim. E enfim, Sam. Óbvio, por que não liguei para ela primeiro? Sorrio e ligo apenas para ouvir a mulher da gravação dizer que o telefone está desligado. Tenho vontade de atirar o celular do outro lado do quarto, mas me contento em jogá-lo na cama.

— Eu podia estar morrendo ou ter sido sequestrada — Resmungo, pensando seriamente nisso.

Encolho minhas pernas, abraçando meus joelhos. Por que eu estou com vontade de chorar? Não é grande coisa. Droga, eu só queria conversar com alguém, me ocupar. Quase que magicamente, meu celular toca. Eu o pego e atendo, sem nem olhar quem é. Provavelmente Alexy ou Armin.

— Alô? — Pergunto, a voz trêmula.

— Oi. — Kentin diz e sinto sua vergonha pelo telefone.

Meu coração acelera. Para ser sincera, não me sinto nem um pouco surpresa. Talvez, no fundo, eu já esperasse que Kentin fosse ligar. Mesmo assim, é um pouco estranho. Faz mais ou menos duas horas que nos vimos e que discutimos. 

Pressiono o celular contra a minha orelha, ainda encolhida na cama.

— Oi. — Eu respondo, baixinho.

Silêncio por alguns instantes.

— Você está brava comigo? — Kentin pergunta.

Essa era uma pergunta frequente quando éramos crianças. Quando Kentin não fazia algo da maneira que eu queria, eu cruzava os braços e meus lábios formavam um bico. Eu dava respostas curtas e logo ele percebia, assim ele me pedia desculpas, mesmo se eu estivesse errada.

— Não — Eu digo, e sou sincera. — Por que eu estaria brava com você? Por ser um lobisomem?

Uma risada sem-graça vinda da parte dele.

— É sério, eu não quis ser rude com  você. — Ele parece estar se sentindo meio culpado. — É que as emoções são diferentes para mim agora. Eu sinto tudo... com mais força, eu acho. Então é meio complicado para controlar.

— Isso é tudo tão estranho — Eu digo tentando rir, mas a risada falha. 

— Rubs, tá tudo bem? — Ele questiona.

Automaticamente, minha boca se abre para dizer “sim”. Mas eu me impeço. Estou com um nó na garganta, um frio na barriga, não estou bem.

— Não — Eu confesso. — Não, não está. Lobisomens existem. Você é um lobisomem. Tem outro lobisomem por aí matando outros lobisomens.

— Ruby — Kentin diz. Eu espero ele continuar, mas ele não o faz.

— Viu? Você não pode nem me falar que está tudo bem — Eu rio e a risada se torna um soluço, e mesmo eu tentando evitar, uma lágrima escorre. 

— Você está chorando? — Ele pergunta, claramente preocupado. — Não chore, Rubs.

— Eu estou com medo. — Eu digo, pausadamente e com dificuldade graças ao choro preso na garganta.

E finalmente eu percebo que realmente estou mesmo. Faz tanto tempo que não sinto medo. A última vez deve ter sido graças a um filme de terror quando eu tinha doze anos, mas não posso nem comparar. 

— Não fique — Kentin pede.

— Como eu vou conseguir ir para a aula amanhã? — Minha voz fica ridícula quando eu estou chorando. — Não, como eu vou conseguir andar na rua?

 — Como você sempre conseguiu — Ele responde. Sua voz é calma, como um pai que fala para a sua filha que não tem nada embaixo de sua cama. — Nada mudou, Rubs.

— Não, tudo mudou — Balanço a cabeça, mesmo que ele não possa me ver. — Você é um lobisomem.

— Não, eu sou o Kentin — Ele afirma.

Meu coração perde uma batida. Abro a boca para responder, mas não sei exatamente como responder a isso. Apenas umedeço os lábios. 

— Você se lembra daquela vez — Kentin ri um pouquinho. Fico curiosa para ouvir a história que ele vai contar, e limpo meu rosto molhado. — Que nós entramos na floresta e passamos por uma macieira? Você disse que estava com vontade de comer uma maçã, e eu disse que conseguia pegar uma pra você. Você riu, dizendo que eu não conseguia. Eu subi e assim que eu inconstei na maçã, eu caí da árvore.

Eu tentei rir, mas o que saiu foi um barulho estranho, graças ao meu nariz entupido por causa do choro.

— Você quebrou o seu braço — Digo, para provar que eu lembro.

— É, eu quebrei. — Posso sentir pela sua voz que ele está sorrindo. — Mas eu não chorei.

— Eu sei. Como você conseguiu? Deve ter doído pra caramba.

— E doeu, mas eu não queria chorar na sua frente — Ele confessa. — Quem chorou foi você.

— Claro que eu chorei! — Falo, indignada. — Eu chorei o caminho todo enquanto corria pra chamar ajuda. O seu braço virou de um jeito muito estranho e você só subiu na árvore porque eu duvidei de você. 

— Eu teria subido de qualquer jeito pra pegar a maçã pra você, não precisa se sentir culpada — Kentin esclarece. — Mas foi traumatizante. Nunca mais comi maçãs.

Eu dou uma risada alta dessa vez.

— Não é verdade. Minha mãe fez uma torta de maçã e levou pra você no hospital. — Refresco sua memória.

— Tem razão, estava ótima — Ele elogia.

Fico em silêncio por um tempo, ruminando a lembrança e sorrindo. Na hora foi muito assustador, mas agora chega a ser engraçado. Eu cheguei em casa e mal conseguia falar em meio aos soluços, mamãe penou para entender.

— Viu? — Ouço Kentin dizer baixinho. — Ainda sou eu.

Não respondo, apenas encaro minha mão livre em eu colo.

— Rubs? Quer que eu vá até aí?

— Não, meu irmão já está achando que nós dormimos juntos, imagina se você viesse para cá — Murmuro.

— O quê? — Kentin pergunta, um pouco alto demais.

— Eu sei — Reviro os olhos. — Ele não é o primeiro, aliás.

Talvez eu não deveria ter dito isso, mas o fato de Kentin ter mencionado o dia em que ele quebrou o braço me fez sentir próxima dele novamente. Afinal, ele acabou de me lembrar que ele ainda é ele

— Como assim?

— É que fazia um bom tempo que a gente não conversava e nós nos reaproximamos depois que voltou do acampamento, eu não sei — Gesticulo, mesmo que ele não possa me ver. — Parece que as pessoas esqueceram que nós somos amigos. 

— E sério que eles acham que a gente dormiu junto? — Ele indaga. — Quer dizer, dá pra entender. Nós ficamos nos encarando e falando em sussurros...

— Você quem fez isso — Comento.

— Ah, eu? Eu olhava para você e você estava me olhando — Ele levanta a voz, brincando.

— É claro, eu estava tentando entender como você mudou tanto assim — Ergo as sobrancelhas. 

E então eu me lembro de o porquê ele mudou tanto assim.

— É... Como foi, exatamente? — Pergunto, hesitante. 

— Ah. Eu não sei direito, acho que meu metabolismo é mais rápido, então deve ser mais fácil entrar em forma — Kentin diz e o imagino dando de ombros. — É tipo quando eu me machuco e instantes depois o machucado não está mais lá.

— Entendi. — Pressiono os lábios. É tanta coisa para absorver. — Eu acho que vou desligar.

— Está tudo bem? — Ele pergunta, com sua usual preocupação, que era presente até quando nós éramos crianças.

— Agora está — Murmuro. — Não cem por cento, mas melhor.

— Bom. — Ele diz.

Ficamos em silêncio por cerca de dez segundos.

— Antes de eu ir — Digo. — Por que me contou, Kentin? 

Eu preciso saber.

— Hã?  — Ele parece confuso. 

— Você sabe. — Pressiono os lábios. — Sobre todas as coisas de lobisomem.

Ele fica quieto.

— Bom, você viu o alfa na casa do Troy Green. — Ele diz, por fim.

— Você podia ter me convencido que era outra coisa, se realmente quisesse. — Comento.

— Porque eu queria poder conversar com alguém, certo? — Kentin responde e depois dá um suspiro. — Eu tinha que contar para alguém, e você é minha melhor amiga. Não pensei em nenhuma outra pessoa.

Percebo o clima ficar um pouco tenso.

— Bom, eu acho que é para isso que servem os melhores amigos — Sussurro, sorrindo. — Você pode me contar o que quiser. 

— Obrigado. — Sinto que ele está sorrindo também.

— Obrigada também — Resmungo. — Eu precisava conversar.

— Você pode conversar comigo sempre que quiser. — Ele diz.

— Tudo bem, eu vou desligar — Aviso.

— Boa noite, Rubs.

— Boa noite. — Me despeço e distancio o celular do rosto para apertar o botão vermelho, encerrando a chamada.

Logo mamãe chega e eu vou ajudá-la a preparar o jantar. Em algum momento por aí, Andrew se tranca em seu quarto. Minha mãe e eu comemos no sofá, assistindo ao noticiário. Ela conta que estava ajudando Hank com alguns documentos, por isso demorou mais que o normal. Conto a ela sobre meu dia. Lavo a louça. Depois volto ao meu quarto e visto meus pijamas, pronta para dormir. 

Estou me virando na cama há alguns minutos, pensando no que eu aprendi hoje. No fim, Kentin está certo. As coisas sempre foram desse jeito, eu só não sabia. Eu ainda vou ter de sair na rua, ir ao colégio, nada mudou. Eu ainda tenho meus amigos, meu melhor amigo. Eu não estou mais com medo. Bom, pelo menos, não tanto medo assim.


Notas Finais


Acho que agora dá pra conhecer mais a relação entre a Rubs e o Ken né
Enfim, espero que gostem s2


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