Talvez esteja na altura
Encontrou Naruto quando regressava a casa. Ele acabava de regressar a casa e Sasuke quase sentia o cheiro a sangue e sujidade a metros de distância. Contudo, mesmo cansado, Naruto não deixou de reparar na direcção de onde o amigo vinha.
— Sasuke, teme! — chamou, dirigindo-se a ele — Que andas a fazer?
Sasuke encolheu os ombros em resposta, apontando para os sacos que carregava.
— Finalmente arrumei as minhas coisas. — disse.
— Ahh, ahh! — Naruto pareceu satisfeito, sorrindo como o tolo que era — Já encontraste a tua fotografia?
Sim, Naruto sabia. E não fora fácil fazê-lo prometer que não diria nada a Sakura. Tanto quanto ela sabia, a fotografia provavelmente fora destruída depois de roubada.
— Não. — suspirou, cansado, ainda que por motivos completamente diferentes de Naruto — Não sabes de nada?
— Hmm – o loiro esfregou o queixo, pensativo — Ah! Sabes, quando decidiram limpar a tua casa e tirar de lá as tuas coisas, deixaram-nos ir lá antes. Pergunta à Sakura ou ao Kakashi se sabem de alguma coisa.
— Hm. — não era a resposta que Sasuke queria, nem muito menos a solução que procurava, mas sempre era melhor que nada. Agradeceu, distante, e seguiu o seu caminho.
— Eh, Sasuke! — chamou Naruto. Sasuke voltou-se a contragosto. — O que levas aí?
— Roupas velhas.
— Que vais fazer com elas?
— Ainda não sei.
— Hm, hm! — Naruto voltou a ficar pensativo; depois ergueu um punho no ar — Podes levá-las à Tsunade-sama!
— Para quê? — francamente, do que é aquele idiota estava a falar?
— Para o orfanato, imbecil!
Claro. Como é que isso nem passara pela cabeça de Sasuke? Era uma óptima ideia. Deu um sorriso a Naruto, em forma de agradecimento, e dessa vez realmente foi embora.
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Na manhã seguinte, Sasuke passou pela casa de Naruto para que o acompanhasse ao gabinete da godaime. Esta ficou claramente surpresa com o donativo, mas não levantou objecções.
— Só as camisolas têm o símbolo do clã, mas acho que isso facilmente se remove. Se não, podem deitá-las fora. — disse, pouco à vontade, mantendo a sua costumeira frieza.
Tsunade explicou que não havia problema, agradeceu sinceramente e mandou-os embora. Mas, enquanto Naruto abandonava o gabinete, Sasuke deixou-se ficar para trás.
A pergunta estava-lhe entalada na garganta, mas não sabia como colocá-la sem que parecesse um idiota. Também não queria que parecesse tão importante quanto era, ainda que, para colocá-la à Hokage, tivesse de ser importante e ela perceberia disso.
— Sasuke — chamou Tsunade, cruzando as mãos por baixo do queixo — Precisas de mais alguma coisa?
O jovem hesitou mais um pouco, e entretanto Naruto tinha regressado ao interior do gabinete. Colocou-se ao lado dele, confuso.
— Hokage – começou Sasuke, escolhendo minuciosamente as palavras – Quando arrumaram as minhas coisas, e as levaram… houve alguma coisa que não ficou junto do resto?
Tsunade pareceu ficar confusa. Mas Naruto compreendeu imediatamente o tema da conversa.
— Ahhhh – exclamou – Estás a falar da fotografia?
— Hm. – Sasuke anuiu, e voltou-se novamente para Tsunade, explicando: — A minha cópia da fotografia da Equipe 7 desapareceu.
A Hokage ergueu as sobrancelhas, interessada. Aquele Uchiha estava a revelar-se interessante. Sabia o paradeiro da fotografia de que ele falava, mas não iria revelá-lo. Ele teria de descobrir por si.
— Talvez Kakashi saiba algo. — sugeriu. Também não era a resposta que Sasuke queria ou precisava, mas suspirou, rendido, e agradeceu. Preparou-se para sair, mas Tsunade chamou-o. — Já devolveste a Sakura a fotografia dela?
Sasuke estacou. Não, claro que não tinha devolvido ainda. Disse um rígido ‘não’, sem se voltar, e ouviu o pesado suspiro de Tsunade atrás de si.
— Talvez esteja na altura, então. — disse ela. E esperou que ele apanhasse o palpite.
Sasuke acenou com a cabeça, e saiu sem se despedir. Naruto foi atrás dele, fazendo mil perguntas para que Sasuke não tinha resposta ou não queria dá-la.
Caramba, pensou o Uchiha, mas onde é que anda a maldita foto?
E decidiu falar com Kakashi assim que tivesse oportunidade.
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Os dias passaram. Certa noite, saiu com Naruto ao Ichiraku Ramen e combinaram começar a treinar juntos, pelo menos para manter Sasuke ativo e se divertirem um pouco os dois. Mas Sasuke deixou-se dormir até tarde no dia seguinte e chegou atrasado. Naruto esbracejou e resmungou, mas no final apenas treinaram até mais tarde e depois almoçaram juntos.
Sasuke não poderia imaginar que dali em diante a sua vida seria assim: treinar e almoçar com Naruto, ocasionalmente jantar também, conversar com Kakashi e pensar sobre a vida. Aliás, ele tornar-se-ia um autêntico perito neste último aspeto. Inclusive chegaria a pensar que poderia perfeitamente dar aulas de Filosofia na Academia, tão bom se tornara a ‘filosofar’, no final apenas acabando por se rir da própria arrogância.
Ainda era um genin, e punha-se a pensar em dar aulas? Patético.
Mais tarde não saberia dizer com certeza, mas acreditaria que fora exactamente essa questão que o fizera decidir sobre o que faria a seguir.
Por enquanto, contudo, Sasuke continuava demasiado perdido na vida para saber fosse o que fosse, decidir fosse o que fosse ou perceber fosse o que fosse. E ainda não encontrara Kakashi nenhuma vez desde o seu encontro durante a aula de Sakura.
Encontrou-o por fim quase duas semanas depois. Estivera em missão até ali, além de ter tido algum trabalho urgente na Academia que o aprisionara. Mas, quando Sasuke finalmente o encontrou, Kakashi encontrava-se de folga e aceitou prontamente sair com o ex-aluno para uma conversa.
Os dois caminhavam apenas, ambos de mãos nos bolsos, enquanto Sasuke expunha as suas dúvidas. Apesar de, no início, ter tido imensa dificuldade em abrir-se, a personalidade dócil e honesta de Kakashi conseguira penetrar no seu escudo o suficiente para conseguir arrancar-lhe algumas coisas aqui e ali. Este era um desses momentos.
Kakashi ouviu com atenção, sem interromper, como era seu costume. Sasuke achava isso extremamente satisfatório – Naruto interrompia-o a cada duas palavras sempre que tentava ter uma conversa séria com ele. O que também era bom, quando procurava abster-se do assunto, mas, para encontrar respostas, Kakashi era a pessoa certa para o ouvir.
— Hm – o ninja cópia parou de andar, coçando o queixou por cima da máscara. O seu olhar ergueu-se para o céu, alaranjado pelo final do dia — Quer-me parecer, Sasuke, que tens assuntos inacabados com a equipa. Talvez devas um ou dois pedidos de desculpa, e talvez sintas saudades. Daí o teu apego a essa fotografia.
Esperou que Sasuke negasse isso, da mesma forma que anteriormente muitas vezes negara qualquer tipo de afeto pela sua equipa. Mas o jovem apenas franziu as sobrancelhas, olhando depois para o céu também, como se procurasse nas nuvens aquilo que dava a Kakashi o seu conhecimento.
— Quanto à fotografia — continuou Kakashi, ciente de que este era um momento único que devia aproveitar para dizer o que precisava de ser dito — Não sei onde está. Mas tu sabes quem sabe. — voltou-se para Sasuke, o seu olho exposto transmitindo quietude.
Mais uma vez, Sasuke não respondeu. Mas sussurrou algo parecido com um palavrão, antes de retomar o passo, acompanhado por Kakashi.
— Não posso ir ter com ela. — acabou por dizer, longos minutos de silêncio depois. — Se ela não quer ver-me, por alguma razão será.
— Tal como eu disse há pouco — reiterou Kakashi, pacientemente — Talvez ela esteja à espera de algo.
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Nessa noite, Sasuke dormiu mal. Aliás, não dormiu.
As palavras do ex-sensei não lhe saiam da cabeça, acompanhadas da memória de vários episódios dos últimos e uma culpa violenta que lhe retirou o apetite de madrugada. Os trinta minutos que conseguiu dormir fizeram-no acordar extremamente mal disposto e impaciente. Decidiu descarregar esses sentimentos negativos no campo de treino, onde quase destruiu um dos bonecos e quase arruinou novamente o seu ombro.
Regressou de lá sentindo-se muito melhor, e até chamou Naruto para almoçarem juntos.
Contou-lhe muito por alto a conversa que tivera com Kakashi, e sentiu-se um tanto frustrado quando Naruto concordou com o jounin. Sasuke tinha de ir falar com ela, tinha de pedir desculpa e tinha de devolver a fotografia.
— Se nada disso resultar — disse Naruto, sorrindo — Então Sakura-chan jamais te perdoará.
— Isso não serve de consolo, dobe.
Mas, pensou imediatamente, porque é que ele precisava do perdão dela, de qualquer forma? Porque ela sabia onde estava a fotografia e talvez lhe dissesse? Ou porque estava farto de ser ignorado por ela? De que modo estavam as coisas interligadas? Talvez— ocorreu-lhe subitamente – Sakura seja quem tem a fotografia.
Raios.
Quanto mais pensava, pior se tornava a questão.
Como é que o desaparecimento de uma fotografia se transformara numa missão quase suicida para obter o perdão de Sakura? E porque é que isso parecia cada vez mais importante para ele? Era só uma fotografia, certo? Bastava chegar lá, perguntar pela dele, devolver a dela, e pronto.
Então porque é que parecia tão muito mais complicado que isso?
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