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História Blue Bird - Confidencial


Escrita por: rainfiorest

Capítulo 24 - Confidencial


Confidencial

Sakura acordou sozinha. Sasuke já devia ter partido há horas, pois o seu lado da cama estava frio. Não havia qualquer rasto dele, nada que provasse que ele tinha estado ali; nada que provasse que aquela noite fora real. Sakura abraçou-se a si própria, profundamente confusa, mas com uma alegria como há muito não sentia.

Não viu Sasuke pelos dois dias seguintes — ele parecia ter desaparecido do mapa —, até que, ao terceiro dia — ou noite —, ela acordou com pancadas na janela. Levantou-se, e a primeira coisa que viu foi um vulto ameaçador do outro lado do vidro. Levou algum tempo a reconhecer Sasuke na escuridão que a Lua não conseguia clarear.

Levantou-se, o frio entranhando-se no seu corpo assim que se libertou dos cobertores, e caminhou até à janela. Abriu-a, deixando-o entrar sem nenhuma palavra, e tornou a fechá-la sem cerimónia. Abraçava-se a si própria, esfregando os braços com a pele arrepiada. Estava uma noite realmente fria.

— Sasuke-kun, que fazes aqui? — perguntou, embora parte de si já soubesse a resposta.

Houve mais noites assim. Não todas, mas com alguma regularidade. Umas vezes ele vinha antes de ela adormecer, outras a meio da noite. Sakura começou a deixar a janela destrancada, e sentia-o sempre chegar e deitar-se ao seu lado. Depois esperava que ele adormecesse, ouvindo a sua respiração — ali, tão próxima —, mas adormecendo sempre primeiro que ele. Ele ia sempre embora antes de ela acordar.

Foram quase três semanas com essa rotina, e em vez nenhuma conversaram sobre isso. De dia, lidavam um com o outro normalmente, e Sakura chegou a treinar com ele mais algumas vezes — que foram bastante normais, ao contrário da primeira —, até que se sentiu preparada para voltar a treinar com a equipa.

Sakura não podia negar que tudo aquilo era confuso, um tanto estranho, e ela não conseguia compreendê-lo. Mas não tinha coragem de perguntar, porque por vezes ela própria duvidava que fosse verdade. Tinha também um medo terrível que acabasse.

Quando acordou, naquela madrugada, não se lembrou que era o seu aniversário. Não se lembrou que estava doente — apesar de muito perto de curada. Não se lembrou das saudades que tinha de fazer missões, trabalhar no hospital ou dar sermões a Naruto.

Mas lembrou-se que Sasuke tinha passado a noite, e que tinham dado as mãos.

Vestiu-se, tomou o pequeno-almoço sozinha — como sempre —, e decidiu que aquele seria o dia em que a sua vida mudaria. Tsunade não iria recusar coloca-la de volta ao ativo no dia do seu aniversário, pois não?

Passou pela barraca do Ichiraku, sabendo que Naruto estaria lá, para lhe dar uma palavrinha. Mas Naruto não estava lá. Perguntou por ele, mas os empregados também já não o viam desde o dia anterior. Talvez ele estivesse em missão? Não era nada normal que Naruto ainda não tivesse isso ao Ichiraku àquela hora. Foi então direta ao escritório da Hokage.

— Tsunade-sensei — disse, assim que a sannin lhe deu entrada — Eu quero voltar a trabalhar.

Tsunade levantou os olhos da papelada e olhou para a kunoichi com as sobrancelhas arqueadas. Sakura esforçou-se para manter uma expressão neutra. A Hokage largou então a caneta, cruzando as mãos por baixo do queixo, e olhou intensamente para Sakura.

— Já me sinto melhor, e o meu médico acha que já estou apta para…

— Eu sei. — interrompeu, sacudindo o ar com a mão, como quem rejeita uma ideia.

— Oh. — congelou. Iria ela, mesmo assim, recusar o seu pedido?

— A minha pergunta, Sakura, não é se podes ou consegues. — começou a Hokage, séria e estranhamente sóbria; Sakura aguardou, fazendo um esforço para não fazer qualquer pergunta enquanto era analisada intensamente. — A minha questão, Sakura — concluiu Tsunade — é porque é que só vieste agora.

Pestanejou freneticamente, estupefacta, e não conseguiu falar. O seu olhar desviou-se de Tsunade para Shizune, e de Shizune para Tsunade. Esta última remexeu na sua pilha de papéis e estendeu um deles a Sakura.

— Já tenho o teu relatório desde a semana passada, a dar-te alta.

Sakura leu o documento, onde havia uma descrição bastante detalhada dos seus problemas, métodos de terapia, medicação e progressos. Parecia que o seu terapeuta tinha uma noção bastante mais positiva do que ela dos seus progressos. Não conseguiu evitar sorrir, estendendo o documento de volta a Tsunade.

— Kakashi tem-me mantido a par quanto aos teus treinos. — disse Tsunade calmamente, puxando de um segundo documento e começando a rabiscar dele — Acha que estás pronta para voltar ao terreno, mas acha que, por enquanto, não deves voltar para a ANBU. — estendeu o documento, devidamente assinado, a Sakura, e voltou a olhar para ela — Mas estás de volta às missões com a tua equipa, e podes voltar para o hospital.

Mais uma vez Sakura analisou o documento, lendo a permissão expressa da Hokage de Konohagakure conforme Haruno Sakura estava dispensada da sua baixa e poderia voltar às suas funções. Um asterisco conduzia-a a uma nota de rodapé, que a impedia de regressar à ANBU enquanto não fosse dada segunda ordem, mas isso não a desmoralizou.

— Obrigada, Tsunade-sama! Obrigada! — exclamou, sorrindo euforicamente, o coração batendo descompassadamente e um nervoso miudinho, mas agradável, no estômago. Estava de volta!

Tsunade preparava-se para a dispensar, quando Sakura subitamente se lembrou de algo.

— Tsunade-sama, por acaso Naruto está em missão?

A Hokage pareceu surpreendia com a pergunta.

— Ah, sim. — respondeu, erguendo uma sobrancelha curiosa — Estão os três.

Não precisava de dizer quem eram os ‘três’. Tsunade dispensou-a com um sorriso, voltando à sua papelada, e Sakura saiu do escritório com um misto de alegria e desilusão. Felicíssima por estar de volta ao ativo, mas desapontada por passar o seu aniversário sozinha.

 

 

Como sabia que os colegas não estavam na vila, não os procurou. O documento de Tsunade só lhe dava permissão para começar a trabalhar no dia seguinte, por isso ainda tinha aquele dia livre. Mas, sem a sua equipe por perto, sentia-se sozinha.

Foi só quando chegou ao campo de treinos, determinada a fazer algo de útil naquele dia, que percebeu que havia algo de tremendamente errado com o facto de estarem os três em missão.

Sasuke ainda era um genin. Porque é que ele sairia em missão com dois jounin?

Bem, é verdade que ele tinha o poder de um jounin — se não mesmo de um sannin —, mas a burocracia em redor das missões ignorava completamente isso.

Algo de estranho se passava, e a curiosidade de Sakura não era de ferro.

 

 

Saiu do campo de treino exausta, escorrendo suor e com os punhos em ferida, mas sentindo-se realizada. Dera uma boa sova aos bonecos e certamente teria muitas kunais para afiar quando chegasse a casa, mas valia a pena. Há muito tempo — nem nos treinos — que não se sentia tão cansada, tão arrombada, de uma forma tão boa. Ainda bem que Tsunade lhe permitira voltar às missões; mesmo que não pudesse voltar à ANBU por enquanto, missões normais já iriam fazê-la sentir-se melhor.

Talvez, se ela não tivesse deixado de treinar, tivesse recuperado mais depressa.

Suja e aliviada, regressou a casa para almoçar. Encontrou Naruto no caminho.

— Naruto? — chamou, surpreendida. O shinobi congelou, como se tivesse sido apanhado a fazer algo de errado, e Sakura percebeu imediatamente que estava a esconder algo. — Não estavas numa missão?

— Hai, hai, Sakura-chan, mas já voltámos! — respondeu atrapalhadamente, olhando em todas as direcções em busca de uma rota de fuga. Sasuke surgiu nesse momento, e Naruto lançou-lhe um (não muito) discreto olhar de pânico. — Acabámos de voltar da nossa missão, né Sasuke?

Sasuke pareceu temporariamente confuso, antes de se recompor e voltar à sua máscara habitual de indiferença, e deu um grunhido de concordância. Mas Sakura mal conseguia olhá-lo nos olhos, a sensação das suas mãos entrelaçadas nessa noite ainda presente.

— Ah, mas foram muito rápidos! — observou Sakura, não se dando por vencida, e procurou o olhar evasivo de Naruto; sorria gentilmente, como se não estivesse a fazer um interrogatório — Que tipo de missão foi?

Naruto ficou ainda mais atrapalhado, mas Sasuke veio ao seu resgate, rápida e calmamente.

— Entregar um documento a um ancião. — disse.

Sakura, mais uma vez, não se deixou enganar. Era uma missão bastante plausível, mas…

— Precisavam dos três para isso? Devia ser um documento mesmo importante! — observou, mal disfarçando o seu tom ameaçador.

— Sim. Era mesmo.

Queria fazer mais questões, mas Sasuke simplesmente passou por ela e foi-se embora. Naruto correu atrás dele quando percebeu que esta era a sua oportunidade de fugir. Sakura observou-os a afastar-se, um chamamento entalado na garganta, e decidiu que mais tarde iria descobrir o que é aqueles dois andavam a tramar.

A verdade é que ela já deixara há muito tempo de dar grande importância aos seus aniversários. Costumava fazer uma pequena festa em casa, com a família, e passava o dia com Naruto e Kakashi a treinar ou a importunar o sensei. Normalmente eles davam-lhe os parabéns e ela ficava satisfeita. E no final do dia, tudo continuava igual, a Sakura não sentia falta de nada especial.

Mas eles nunca — nunca — tinham ignorado o seu aniversário antes.

Podiam não festejar, não dar prendas, não fazer surpresa nenhuma — mas eram sempre os primeiros a ir ter com ela para a felicitar. Naquele dia, contudo, não só pareciam estar a fugir dela, como também se tinham esquecido. Sasuke, ela conseguia tolerar que fizesse isso; mas Naruto e Kakashi? Para ser franca, isso incomodava-a mais do que gostava de admitir.

Uma parte de si pensou que talvez estivessem a preparar algo para ela, mas rapidamente descartou essa ideia. Isso não era nada típico deles.

Ainda assim, quando chegou a casa, preparada para tomar um banho relaxante, quase esperou que, ao abrir a porta, os amigos saltariam de trás do sofá para a felicitar. Mas a casa estava vazia, tal como a tinha deixado nessa manhã, e Sakura não perdeu tempo a enfiar-se debaixo do chuveiro.

Almoçou e decidiu aproveitar o resto da tarde para estudar um pouco. A sua dose de medicamentos tinha sido reduzida para metade, e agora conseguia estudar sem adormecer. Não que tivesse parado de sentir-se cansada, mas não ensonada.

Depois de algumas horas a estudar, com breves intervalos para esticar as pernas ou comer algo, Sakura decidiu que chegava para o dia. Sentia-se orgulhosa por ter conseguido estudar tanto num só dia, a informação borbulhando na sua cabeça e à espera de ser usada.

Olhou para as horas. Estava quase na hora de jantar. Esticou os braços no ar, como que aquecendo para começar a cozinhar, e começou a dispor os ingredientes em cima da bancada da cozinha. Estava a verter água na panela quando bateram à porta. Preguiçosamente, arrastou-se para ir ver quem era.

— Sakura-chan! — exclamou Naruto, eufórico.

— Naruto… que se passa? — perguntou, surpreendida por vê-lo ali àquela hora. Ter-se-ia finalmente lembrado do dia que era?

— Sakura-chan, vem jantar comigo hoje. — pediu, fazendo olhos de cachorrinho — O teme está armado em teme outra vez e não quer sair de casa. Sakura-chan, por favor, não quero jantar sozinho.

Sakura deitou um olhar à sua cozinha. E daí se ele se tinha esquecido? Ao menos nenhum dos dois jantava sozinho esta noite.

— Anda, podes jantar comigo. — convidou, dando passagem ao loiro — Ia começar a fazer o meu jantar.

Isso certamente apanhou Naruto de surpresa; não contava que ela o convidasse a jantar. E isso definitivamente não estava nos seus planos.

— Nã, Sakura-chan! Vamos ao Ichiraku! Eu pago! — sorriu, talvez de forma exagerada, mas era assim que Naruto sorria.

Sakura suspirou. Não tinha vontade nenhuma de sair de casa, mas também não tinha assim tanta vontade de cozinhar. Voltou à cozinha, onde voltou a arrumar as suas coisas e pegou nas chaves de casa. Saiu dali a momentos com Naruto.

— Então, Naruto, como foi a missão? — decidiu tentar, enquanto caminhavam. Naruto não parecia ter pressa, o que era bastante estranho, considerando que se dirigiam ao Ichiraku. Sakura às vezes desconfiava que ele gostava mais daquele ramen do que da própria vida.

— Ah, tu sabes, confidencial. — respondeu ele rapidamente. Provavelmente já sabia que ela ia perguntar e preparara a resposta com antecedência. Esperto!

— Hmm. — murmurou. Naruto fez de conta que não reparou. Em contrapartida, lançou-se num grande monólogo sobre o quão delicioso era o ramen do Ichiraku, o quão inútil e idiota era Sasuke e o quão pervertido era Kakashi. Sakura não consegui evitar rir-se da originalidade e quantidade de apelidos que Naruto conseguia arranjar sempre para classificar as pessoas.

— Não acredito que aquele idiota não quis vir! — resmungava, referindo-se a Sasuke — Quem é que ele pensa que é para….

Calou-se subitamente. Sakura virou-se, esperando vê-lo de cara no chão ou esmagada num poste, mas encontrou o vazio. Olhou em redor, percebendo que ele desaparecera. Tirou rapidamente uma kunai da bolsa, segurando-a na defensiva. Ouviu algo cair atrás de si e virou-se rapidamente.

Naruto caíra do céu e estava deitado no chão, desacordado.

Correu para ele, ajoelhando-se e verificando a sua pulsação, enquanto procurava as pessoas que tinham feito aquilo. Como era possível algo assim acontecer em plena Konoha? A Naruto!? Mas, fosse quem fosse, estava demasiado bem camuflado — não só invisível, mas com o chakra muito bem dissimulado.

Droga!

Começou a levantar-se lentamente, a kunai ainda na mão, quando uma mão lhe tapou a boca e uma kunai lhe foi encostada à garganta. Ficou imediatamente imóvel, aterrorizada. O agressor não falou, apenas puxou-a para trás, afastando-a de Naruto. Uma segunda figura surgiu ao seu lado, mas longe do seu campo de visão, e uma venda foi-lhe amarrada sobre os olhos. De seguida, tiraram-lhe a kunai e os pulsos foram presos atrás das costas.

Que inútil que és, Sakura! És uma kunoichi que nem se consegue defender!

Sentiu o aperto afrouxar, enquanto um dos agressores a obrigava a mover-se. Aproveitou a oportunidade — certamente não teria outra —, e, calculando a distância entre ela e o agressor, rodou e desferiu um pontapé que poderia ter sido grave — se ele não lhe tivesse agarrado no tornozelo e, com um movimento, atirou-a ao chão.

Raios!

Levantou-se atabalhoadamente, as mãos amarradas dificultando-lhe o equilíbrio, mas sabia que era inútil. Restou-lhe apenas espernear enquanto era agarrada. Depois, levantada — e sentiu que estava ao ombro de um deles. Continuou a contorcer-se, determinada a lutar até ao fim. Quem pensavam aquelas pessoas que eram?

Foi quando sentiu o cheiro dele.

Um cheiro doce, limpo, familiar. O cheiro da pessoa com quem tinha passado várias noites nas últimas semanas.

O cheiro de Sasuke.


Notas Finais


boa noite


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