1. Spirit Fanfics >
  2. Blue Lagoon >
  3. Surpresas

História Blue Lagoon - Surpresas


Escrita por: Nera

Notas do Autor


Boa Leitura! :3

Capítulo 10 - Surpresas


Era por volta das oito horas quando decidimos deixar o parque. Embora o estabelecimento ainda estivesse animado, mesmo já na sua última hora de funcionamento, eu e Lena já havíamos aproveitado demais de suas atrações e estávamos devidamente cansadas e famintas. O parque oferecia lanchonetes e barracas de comida, além, claro, dos carrinhos de pipoca, algodão doce e gelatos — como picolé e sorvete. No entanto, nosso estômago exigia algo mais completo, principalmente o meu, depois de vomitar todo o cachorro quente e o refrigerante, não conseguia olhar para mais nenhuma comida dali, o picolé só me foi suficiente para tirar o gosto de vômito da boca, mas meu estômago ainda estava vazio.

Lena sugeriu que fôssemos jantar fora em algum restaurante e não precisava ser algo caro, qualquer coisa simples, mas agradável, já era o suficiente. Eu conhecia um restaurante italiano, há dois quilômetros dali, que se encaixava nas descrições de Lena, eu o sugeri e ela aceitou sem impor alternativas. Quando chegamos ao estacionamento do parque, o lugar estava quase que totalmente vazio – se comparado ao número de carros que estavam ali quando cheguei. O carro de Lena estava estacionado bem distante do meu e, já que não podíamos ir em um carro só, eu a esperei entrar no seu – que estava em uma área tão distante o quanto – e, ao fazê-lo, entrei no meu e então saímos.

Ela me seguiu durante todo o caminho já que não conhecia o restaurante e, por consequência, como chegar lá. Tivemos sorte do estacionamento do estabelecimento estar relativamente vago quando chegamos, mais sorte ainda de encontrarmos duas vagas vazias uma ao lado da outra, então estacionamos lá. La Massa era o restaurante italiano mais movimentado em um raio de seis quilômetros daquele bairro e Lena surpreendeu-se por não conhecê-lo após entrarmos. Escolhemos uma das últimas mesas livres da parte interna do estabelecimento e esperamos o garçom vir anotar o nosso pedido.

— Você precisa me arrastar mais para lugares como esse – ela disse, com os olhos curiosos varrendo todo o restaurante com admiração — Esse lugar é lindo.

Sorri.

— Eu vinha aqui com uma namoradinha de uns dois anos atrás e também com a Amanda. Ela é apaixonada por comida italiana e vive me arrastando pra lugares como esse.

Lena me olhou com um semblante que parecia mais que tudo estar prendendo uma risada, mas ainda mantendo o nível.

— Namoradinha? – ela ergueu uma sobrancelha.

— É. Uma garota da faculdade, ela era pequena, por isso chamo de namoradinha. Ela é bem menor que você.

Então Lena não conteu o riso.

— É assim que você define a “grandiosidade” – ela desenhou aspas no ar — das suas namoradas?

Sorri achando graça e dei de ombros.

— Não exatamente, por que você também é pequena, mas pra mim é um mulherão.

Quando o garçom chegou, pedimos ambas a mesma coisa – uma porção de Taglioni Al Limoni para cada uma, acompanhada de suco de limão natural para mim e de abacaxi para Lena. Enquanto nosso pedido chegava, jogamos mais um pouco de conversa fora e, quando chegou, não esperei duas vezes para enrolar a primeira remessa do macarrão no garfo e levá-lo a boca, àquela altura, meu estômago protestava mais que qualquer outra coisa.

— Você tem bom gosto pra comida, Vicky – Lena disse, já no fim da sua refeição. Ela deu o último gole do suco — Teria se saído muito bem no curso de gastronomia.

Eu por outro lado, que não comia rápido, ainda estava na metade do meu prato.

— Cozinhar é lindo, mas dá muito trabalho.

Após terminar sua refeição, Lena passou a mexer no celular enquanto esperava por mim e, em dado momento, enquanto deslizava o dedo para cima e para baixo da tela do aparelho, seus olhos abriram-se mais e um sorriso súbito correu em seus lábios, como se houvesse acabado de lembrar-se de algo com a ajuda de alguma imagem.

— Vicky, você está sabendo sobre o Diamond Gold Fashion?

— O desfile de setembro?  - indaguei em um afirmação, distraída o suficiente com o meu prato enquanto mastigava e brincava com o macarrão o preparando para a próxima garfada.

— Esse mesmo! Eu não sei se você gosta de moda, mas, eu estava pensando em ir e queria te chamar pra ir comigo. Você vem?

Eu a olhei repentinamente, com o copo de suco preparado para derramar o líquido na minha boca. Ela estava de brincadeira, né?

— Você também gosta de moda? – cardápio diet, ousadia culinária nos fins de semana, parques de diversões depois do trabalho e agora moda. Moda?!

Seu semblante iluminou-se e adquiriu uma dose extra de empolgação.

— Tá brincando? Eu faço coleção de revistas de moda, costumo sempre levar uma comigo quando vou para algum lugar em que sei que vou passar um bom tempo esperando algo ou alguém. Adoro ficar passando as páginas e admirando as tendências da estação, e claro – de repente, tanto seu semblante como o tom de voz assumiram um ar malicioso — as modelos, principalmente.

Arqueei as sobrancelhas rapidamente e então deixei que o suco descesse pela garganta, sem sinceramente saber o que falar. Aquilo realmente era novidade para mim, afinal, eu via Lena como tudo, menos como uma amante da moda.

— Mas não se preocupe, meu bem, eu só gosto de admirá-las, você é minha pedrinha preciosa – ela ressaltou, talvez ao confundir o meu silêncio com algum nível de ciúme. O que foi bom, pelo menos não precisava explicar o quanto seu gosto começava a me assustar – não pelo gosto em si, mas por ele querer me arrastar com ela para um desfile que eu realmente não queria ir.

— Ah, você... é surpreendente. Realmente, nunca imaginaria que gostasse da coisa – eu disse finalmente, para que não acabasse deixando o clima estranho se persistisse no silêncio.

— Eu disse, meu amor, ainda existem muitas coisas que você não sabe sobre mim, mas você vai descobrir aos poucos, não se preocupe – então ela me deu uma piscadela.

Ergui as sobrancelhas novamente e me preparei para um próximo gole.

— Claro. Eu fico muito ansiosa de conhecer o resto, de verdade – mas que diabos? Eu estava parecendo um robô, aquilo não era bom.

Mas para minha sorte Lena não percebeu, talvez porque sua dose de euforia estava absurdamente alta naquele momento, principalmente quando ela disse:

— Mas de todo modo, Vicky, eu tenho um verdadeiro motivo pra ir nesse desfile. Você viu quem vai ser o trunfo da noite? A April Laurent!

Eu estava na metade do gole quando o nome de April foi soado com a euforia de um fã, o súbito foi tão grande que o líquido escorreu pelo buraco errado e acabei me engasgando violentamente. Devolvi o copo à mesa em meio a uma tosse brusca, meus olhos começaram a lacrimejar, não podia acreditar no que ela havia acabado de dizer.

— O... quê? – eu indaguei com dificuldade, a voz falha pelo engasgo.

— Meu Deus, Vicky, você está bem?

Assenti que sim em meio à tosse, mas agora, já um pouco mais branda. Quando Lena julgou que eu estava falando a verdade, ela apenas continuou.

— Então, é isso o que você ouviu. A April, a magnífica da April Laurent vai fechar com chave de ouro a noite do desfile. É uma oportunidade imensa pra ela já que o Diamond Gold Fashion tem como objetivo encontrar novos talentos na categoria jovem adulto e levá-los para o exterior. Sendo a April a cara do evento, com certeza ela já tem um lugar garantido no internacional – então ela sorriu, como uma criança faz ao ganhar um brinquedo que tanto ansiava — Então, você consegue imaginar o quão incrível seria ver a April Laurent pessoalmente em um desfile? Incrível porque esse vai ser o primeiro desfile dela, já que antes ela era apenas uma modelo de estúdio. Eu mal posso esperar para vê-la ao vivo e em cores!

A tosse já havia amenizado quase que por completo, mas meu espanto só aumentava a cada segundo.

— Você é fã da April? – eu indaguei, com os olhos bem abertos de surpresa.

Ela riu.

— Se eu sou fã? – ela pegou a bolsa que havia alçado ao encosto da cadeira e a colocou no colo. Abriu o zíper, retirou uma revista de dentro e a segurou verticalmente sobre a mesa.

Se meus olhos estavam bem abertos, agora estavam arregalados com o que estavam vendo. Era um volume da Valkirie Premium em que April havia sido a capa. Provavelmente um dos últimos já que aquela eu ainda não conhecia, mas, ao olhar melhor, reconheci o short que a modelo estava usando na fotografia, era o mesmo que ela vestia no dia em que a encontrei no estúdio, na quarta passada. Então era assim que ela estava completamente um pouco antes de eu chegar? Puta merda, ela realmente estava linda.

— Esse foi o volume da Valkirie Premium deste mês, foi lançado ontem e ontem mesmo eu comprei. Agora, sejamos sinceras Vicky, olha pra essa mulher – ela deu uma sacudida na revista como que para dar ênfase ao que dizia — É uma deusa! April Laurent é o sonho inalcançável de qualquer garota lésbica que tá por dentro do mundo da moda. Olha pra essa criatura e me diga, como uma boa garota lésbica, se você não a pegaria?

Se eu a pegaria? Meu amor, eu já peguei.

De repente um vontade louca de rir me surgiu, mas não porque eu achava a situação engraçada, era mais uma mistura de nervosismo e incredulidade. Porém, eu a contive o máximo que pude.

— Ela é... linda – disse, concordando com tudo o que Lena dizia, mas no fundo, eu realmente estava falando a verdade.

— Linda é pouco – ela virou a capa da revista para ela e a admirou por uns segundos — Ela foi minha crush platônica por uns dois anos. Deixou de ser porque eu encontrei você, mas eu ainda tenho uma puta admiração por essa mulher.

Uma risada arranhou minha garganta, mas a contive antes que se tornasse uma gargalhada perplexa, afinal, nada ali fazia mais sentido. Lena não só era admiradora da moda como também era platonicamente “apaixonada” pela minha ex-namorada. Eu tinha planos de contar a ela sobre mim e April, mas depois dessa, qualquer plano foi completamente arruinado. Muito provavelmente eu só estava muito embasbacada para pensar em revelar alguma coisa. Eu já havia dito ela que minha antiga namorada se chamava April, mas não fui muito além disso, e agora, era melhor deixar daquela maneira, afinal, o mundo estava cheio de Aprils mesmo.

— Mas então, Vicky, você ainda não me respondeu – ela deixou a revista sobre a mesa e me olhou com os olhos brilhando — Você vai comigo no evento?

Por quê? Deus, por quê?

— Er... – eu sinceramente cogitei dizer não, mas caramba, era Lena que estava pedindo, o quão grossa eu poderia parecer se negasse e, pior, sem uma boa razão para não acompanhá-la? Afinal, era só acompanhá-la e eu já estava devidamente acostumada a acompanhar alguém a ambientes que não me agradavam, Amanda me deu um ótimo treinamento e Lena sabia disso, então, o quão estúpido seria se eu negasse aquilo? — Tá, claro, por que não? – senti minha falsa firmeza querer vacilar e torci para que ela não percebesse.

— Ai! Obrigada, de verdade! Você é sempre um amor! – é, sua empolgação era tanta que ela simplesmente não seria capaz de perceber algum tipo de insegurança da minha parte.

Mundo, quando eu acho que você não é mais capaz de me surpreender, você vai lá e prova o contrário. Te odeio.

No estacionamento, após o jantar, demoramos alguns minutos conversando antes de entrarmos em nossos carros e irmos embora. O lugar estava solitário, mas com uma iluminação agradável e a presença de um vento fresco.

— Foi um ótimo dia, galante da noite. Fique ciente que irei me apossar de você assim muitas mais vezes – Lena disse, já pronta para ir embora.

Sorri, com as mãos afundadas nos bolsos da calça jeans e as costas contra meu carro.

— Você sabe que eu sou toda sua, Blue Lagoon – então avancei um passo em direção a ela e inclinei-me para ficar na sua altura. Nossos rostos estavam a apenas alguns centímetros de distância. Sussurrei: — Eu te amo tá? Isso já é um passe livre pra me arrastar pra onde quiser – então eu dei um beijo de despedida — Se cuida no caminho e não esquece de me mandar uma mensagem avisando que chegou bem.

Ela sorriu e me devolveu o beijo de uma maneira extremamente fofa e com gosto de abacaxi.

— Não se preocupe. Digo o mesmo a você, galante da noite.

* * *

Era domingo de manhã e para o ódio que consumia minha alma eu havia acordado às oito. Às oito! Por livre e espontânea vontade do meu corpo, mas quando eu realmente precisava acordar cedo, claro que nunca era disposta. Porém, não podia negar que despertar àquele horário trazia vantagens, afinal, eu tinha mais tempo para aproveitar fazendo alguma coisa – como por exemplo, dando uma geral na casa, afinal, era domingo, dia da faxina – já que às duas horas Amanda estaria por lá.

Quando a campainha tocou, a casa já estava um brilho, principalmente porque tive sorte de nessa última semana o tempo ter estado agradável o suficiente e não contribuído com o acúmulo excessivo de poeira, o que me fez terminar o serviço rapidamente. Abri a porta e Amanda se encontrava acolhida à parede, de braços cruzados e o corpo relaxado. Mesmo antes de falar alguma coisa, senti certo alívio em vê-la daquele modo, pelo menos, era visivelmente diferente do nível de tensão que ela estava na última vez que havia ido lá.

Sorri receptiva.

— Entra, gata.         

Após Amanda se acomodar no apartamento, perguntei se ela queria comer alguma coisa e acabou que no fim nós duas optamos por sanduíches. “O sanduíche da Vicky é o melhor do mundo!”, ela dizia desde quando era mais nova, o que só me fez lembrar do que Lena havia dito sobre eu ter me dado bem em gastronomia, mas minha opinião sobre o curso ainda era a mesma, porém, fazer sanduíches não era nada trabalhoso.

Terminei de preparar o lanche e o servi com Coca-Cola – não era meu refrigerante favorito, mas era o de Amanda, então estava tudo bem.

— E aí, pronta pro desabafo? – indaguei divertida, ao afundar no sofá ao lado dela com o meu prato de sanduíche no colo e o copo de Coca na mão.

Ela suspirou, antes de dar a segunda mordida do seu sanduíche, e naquele momento, tive a péssima sensação de que sua energia um pouco menos tensa era apenas impressão.

— É, eu... eu acho que sim – então o mordeu.

Franzi o cenho enquanto mastigava o meu próprio e a olhava, sentindo que alguma coisa estava realmente estranha ali, mas não sabia dizer o quê, não era nada com o semblante incerto de Amanda, afinal, era o mesmo de quando ela havia me contado sobre a suposição de gravidez, mas daquela vez era como se eu estivesse apenas pressentindo que o que iria vir era algo realmente um pouco chocante.

— Então, o que te dói? – indaguei, mastigando devagar enquanto a olhava.

Amanda se preparou para dar a próxima mordida no sanduíche, mas desistiu no meio do caminho e devolveu a mão com o alimento ao prato. Ela estava com os olhos vidrados em algum ponto do tapete a sua frente, como se estivesse em um grande devaneio, mas sabia que me escutava atentamente. Então, ela suspirou e disse sem me olhar:

— É que... eu acho que sou igual a você.

Franzi o cenho mais uma vez, realmente confusa.

— Igual a mim? – então, mesmo sem saber sobre o que ela estava falando, resolvi fazer alguma piada para quebrar aquele clima que já estava me incomodando — O que foi? Desistiu do cinema pela medicina também? – sorri para enfatizar a onda.

— Não, não – dessa vez ela piscou e por uns segundos fitou o prato em seu colo, em seguida, após um suspiro, ela ergueu os olhos para mim — Eu acho que... também gosto de garotas.

Desta vez fui eu que parei o trajeto no sanduíche em direção a minha boca no meio do caminho. Sabia, sabia que realmente a notícia daquela vez seria um pouco mais sensível que a última. Porém, não era exatamente algo alarmante, mas não posso negar que realmente me surpreendi.

— Por acha isso? – assim como ela, devolvi o sanduíche ao prato — Está interessada em alguma menina?

— Bem, sim... quer dizer, não, é... – confusa, ela cerrou os olhos e balançou a cabeça, como se estivesse tentando organizar as ideias primeiro para depois conseguir falar — É que eu só não estou mais me sentindo a mesma em relação aos caras em geral, nem mesmo ao Jonathan, por isso acho que ele possa ter mudado por minha causa, já que não estou mais conseguindo ser tão recíproca com ele como antes.

Tudo bem, aquilo realmente era delicado.

— Mas não se sentir a mesma em relação aos homens não te faz bissexual, no caso. Você pode simplesmente só está se sentindo mais retraída por ter ido muito rápido com isso de namoro e sexo. E quando digo rápido, me refiro que pra você pode ter sido, mas não necessariamente o tempo que levou pra perder a virgindade é curto para outra pessoa, entende?

— Sim, Vicky, eu entendo, e até concordo, mas, não é bem isso, não é só questão de velocidade, é que... eu realmente sinto uma coisa diferente, entende? – o seu modo de indagar soou tão inocente e confuso que não pude evitar um sorriso acolhedor. Eu sei que era sua prima, mas por muitas vezes eu me sentia como sua irmã mais velha, e aquele momento era mais um dos quais eu sabia que deveria agir assim.

— Tudo bem, vamos lá – deixei o prato com o sanduíche e o copo de refrigerante sobre a mesinha de centro e me preparei para ter uma conversa madura sobre aquilo. Em seguida virei-me para ela, descansei os cotovelos sobre os joelhos e cruzei os dedos entre as pernas — Me diz, quando começou a perceber isso em você?

— Depois de transar com o Jonathan, eu te falei.

— Certo, mas foi imediatamente após a transa ou alguns dias depois, sei lá?

Amanda pensou um pouco, em seguida contorceu os lábios.

— Foi depois, mas, também foi depois que eu percebi que na hora da transa eu já não estava tão completa como achei que estaria ao chegar ao ápice. Eu sei, eu sei, sexo é superestimado – ela apressou-se em dizer antes que eu a recordasse daquilo — Mas não é no sentido de ter o sexo perfeito que estou me referindo, apenas, não achei o Jonathan assim tão interessante como eu geralmente o achava. Era como se, na hora, de algum modo, ele houvesse se tornando menos atraente, menos convidativo. Eu curti o momento? Claro que sim, mas, só depois eu percebi que estava faltando algo, como se eu pudesse sentir ainda mais, mas, o momento não me proporcionou aquilo porque tinha algo errado. Ai – ela balançou a cabeça novamente, como se estivesse reorganizando as ideias que já começavam a embaralhar-se novamente — Você consegue me entender?

No fundo, no fundo, eu entendia.

— O que está querendo dizer é que talvez seu corpo naquele momento na verdade estava desejando ter algo a mais só que com alguma menina? Acha que teria se sentido mais realizada se fosse assim?

Amanda fitou o próprio colo e deu para ver suas bochechas corarem um pouco. É, eu tinha acertado.

— Bem, eu... eu acho que sim. É, é isso.

Ela apertou o punho sobre as coxas e deu para perceber o quanto ela estava nervosa em admitir aquilo, mesmo que para mim, que sou exatamente como ela acha que é. Mas eu realmente conseguia entende-la, afinal, nunca é exatamente fácil reconhecer esse detalhe em você mesma.

— Amanda – eu coloquei minha mão sobre seu ombro, fazendo-a me olhar ainda um pouco embaraçada — Sabe, não tem nada de errado se você acha que também gosta de garotas, o que importa é que você reconheça isso em você mesma e saiba aceitar, se não pode ser pior, você pode acabar criando uma grande tempestade no peito e isso só sufoca. Mas uma vez que você reconhece e aceita, tudo fica mais fácil, você se sente mais liberta. Se acha que sua primeira vez com o Jonathan foi boa, mas poderia ter sido completa se fosse com alguma garota, a única coisa que eu posso te sugerir é estudar isso em você mesma e ver se é realmente isso que está acontecendo, se está mesmo passando a se interessar por mulheres e, se for mesmo assim, procure por garotas que também se interessam por garotas e tente algo. Não digo nem tentar apenas pra provar da transa, mas tente beijar alguma, se relacionar mais romanticamente, trocar carícias e assim vai, até um dia se sentir bem o suficiente para transar com alguma. Não existe outro caminho se não esse, gata.

Mas Amanda ainda não parecia segura, era como se ainda houvesse algo dentro dela que a impedisse de aceitar aquilo, algo que muito provavelmente a estava perturbando por dentro. Deu pra perceber pelo seu modo de me olhar, o vacilo ao piscar, a tensão nos dedos fechados em punho. Era como se alguma coisa estivesse roçando sua garganta para que ela colocasse para fora, mas sentia que ela estava com medo.

— Amanda, você...

— Sabe, Vicky, não sei se eu conseguiria – ela me interrompeu, seu olhar mais uma vez preso ao tapete.

Uni as sobrancelhas, sentida ao vê-la tão assustada daquele jeito. Eu me vi nela naquele momento, quando eu tinha por volta dos treze anos e descobri que estava apaixonada por uma colega de classe. Não foi fácil no inicio, nunca era fácil, eu estava assustada e com medo de contar para as pessoas, diferente de Amanda agora, na época eu não tinha ninguém igual a mim com quem contar e a pouca idade tornava tudo muito mais difícil. Então por isso, eu sentia que deveria fazer o máximo que podia para tentar acolhe-la e convencê-la de que estava tudo bem.

— Sei que no início pode ser difícil mudar seus hábitos de relacionamento pra tentar se redescobrir, mas é necessário, sabe? Eu posso te ajudar com isso se quiser, posso te apresentar algumas pessoas ou te levar em alguns lugares que...

— Eu sei, Vicky, mas esse não é o problema.

Bem mais delicado, bem mais delicado do que eu pensava.

— Se não é, então o que é?

Ela suspirou, em seguida umedeceu os lábios ainda com os olhos vidrados em ponto algum.

— Eu sei que eu deveria seguir suas dicas, mas, é como se... é como se... – dava para ver no modo como ela enchia o peito de ar, o quanto seja lá o que fosse que estivesse querendo sair da sua boca estava sendo difícil — É como se não fosse certo fazer algo assim quando...er, bem...

Uma interrogação pairou sobre a minha cabeça naquele momento.

— Er...? – eu indaguei, com uma sobrancelha erguida, na esperança de encorajá-la a continuar. Mas falhei.

Ela me olhou como um gatinho assustado.

— Apenas não é certo. Eu não posso fazer isso, conhecer várias meninas e tentar algo com elas quando...

Então, após essa frase, finalmente entendi o que ela estava tentando dizer.

— Amanda – eu disse, de um modo um pouco mais incisivo ­— Você está gostando de alguém?

Então seu semblante, antes assustado, agora era de alguém subitamente na defensiva. Ela ainda estava com medo, era claro, mas a necessidade de defender-se de algo pareceu ainda maior. Por fim, após me olhar por alguns segundos, ela apenas virou o rosto e suspirou profundamente. Suas pálpebras caíram em uma fresta e toda a tensão pareceu diluir-se aos poucos, relaxando cada músculo do corpo, como se após a defensiva desnecessária, ela apenas estivesse desistindo de continuar com aquilo.

— Estou.

Então eu sorri, feliz por ela e por ter admitido. Se o problema todo era porque ela já estava amando alguém e só tinha vergonha de admitir, ficaria muito mais fácil agora ajudá-la a aceitar isso.

— Mas garota, qual o problema em gostar de alguém? Se o seu nervosismo for só isso, te garanto que não é nada demais.

Então ela me olhou, mas desta vez, todo o nervosismo parecia ter ido embora de vez de seu semblante, e no lugar, havia apenas uma feição solene e ao mesmo tempo profundamente entristecida.

— O problema – ela disse, a voz começando a embargar — É que essa pessoa é você.

Continua...


Notas Finais


Gostou? Ou não? Deixa um comentário com a sua opinião e me ajude a melhorar essa obra no que eu puder :3
É sério meus nobres amiguinhos, sua opinião é muito importante e fator essencial para a continuidade da história ♥
Para quem leu até aqui, desde já agradeço ♥
Até amanha!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...