1. Spirit Fanfics >
  2. Blue Lagoon >
  3. EXTRA: April POV

História Blue Lagoon - EXTRA: April POV


Escrita por: Nera

Notas do Autor


Pessoal, o capítulo de hoje é algo especial. Para quem me acompanha sabe que eu posto um capítulo por dia, porém, por motivos pessoais, não tive tempo de terminar o capítulo 12 e, para não deixar vocês sem nada (e principalmente, para cumprir minha meta diária \o/) resolvi escrever um extra pra vocês, porque é mais curto e rápido de escrever.
Sinceramente curti muito a ideia do extra, então, se eles voltarem a aparecer, já sabem que é porque não tive tempo de terminar o capítulo oficial xD Bem é isso ^^
Boa Leitura! :D

Capítulo 12 - EXTRA: April POV


April

 

— Quando você vai aprender a calar essa maldita boca?

Meu pé afundava no acelerador gradativamente e o meu nervosismo não me fez perceber o quão rápido o ponteiro do velocímetro subia. A única coisa que eu conseguia visualizar naquele momento, era o quanto eu queria ferrar com Calena.

— Do que você está com raiva? Achei que tinha terminado com ela! – ela revidou, tão nervosa quanto eu.

— Mas isso não te dá o direito de falar assim da Victorie, sua imbecil!

— Qual é o seu problema, April? – a cada nova indagação, sua voz aumentava um tom e se tornava cada vez mais agoniante de se escutar — Vai ficar defendendo aquela vadiazinha agora é? Querida, você está comigo, não pense que vou aturar você pagando de boa moça pro lado daquela idiota porque eu sei que você não é assim. Até porque, se você realmente a “amasse” tanto – ela desenhou aspas no ar — Nem teria a traído comigo pra começo de conversa! – não sabia de onde ela estava tirando toda aquela coragem para falar comigo daquele jeito, considerando que minutos atrás ela ainda estava nivelando seu tom, afinal, ela sabia o quanto eu era explosiva.

Mordi o lábio inferior com força, sentindo uma veia pulsar na testa. Que Calena era estúpida, eu sabia, mas não me importava com a estupidez da pessoa se ela fosse boa de cama, e naqueles dias, eu estava pouco me fodendo pro caráter delas desde que me dessem algum prazer. Egoísta da minha parte? Com certeza. Mas eu não me lembro de me importar com os outros além de Victorie, por isso, mesmo para alguém como eu, àquela noite, Calena estava passando de todos os limites!

— Sua vaca, não fale disso como se fosse motivo de orgulho – então, desta vez, foi minha voz que subiu de nível e saiu rasgando a garganta — Se tem uma coisa que eu me arrependo nessa vida é de ter perdido meus laços com ela por sua causa!

Sem perceber, meu pé afundou bruscamente no acelerador, e todos os carros e luzes da cidade não eram mais nada além de borrões frenéticos que se arrastavam pelos vidros do Mercedes. Minha mão agarrada com força à cabeça na macha tremia um pouco.

— April, tá muito rápido – pela primeira vez na discussão, a voz de Calena tremulou, assim como diminuiu de volume.

Porém, quanto mais ela falava, independente do que fosse, mais eu sentia o sangue palpitar nas têmporas e borbulhar sob a pele. Sua voz até poderia ser agradável em alguns momentos, mas naquele, só estava me fazendo sentir mais e mais ira. Se eu não tivesse algum objetivo na vida àquele instante, não hesitaria em atirar o carro do lado dela no primeiro poste que aparecesse no caminho. Às vezes era muito mais fácil quando pessoas como Calena simplesmente deixavam de existir.

— O sinal, April!

Eu ouvi, mas não escutei, estava tão furiosa remoendo todas as merdas que aquela vadia havia falado sobre Victorie durante todo o caminho, que não fui exatamente capaz de ver a fileira de carros parados a alguns metros a minha frente. Mas foi no segundo grito de Calena, que eu despertei daquele estado.

— O sinal está vermelho!!

Olhei para cima a tempo de ver o semáforo no vermelho metros à frente de todos os carros parados antes de mim. Na mesa hora, joguei a marcha para o ponto morto e afundei o pé no freio. O carro cantou pneu na avenida, até parar bruscamente atrás de um Ford antigo. Pelo retrovisor do seu motorista, pude ver um homem olhar para mim de olhos arregalados e aparentemente pálido. Talvez deva ter visualizado, por questão de segundos, meu carro afundar na traseiro do seu e o seu na traseiro do da frente, e assim formar um belo engavetamento em plena avenida.

Calena soltou o ar que havia prendido e deslizou para baixo no banco, atônita. Seus olhos estavam vidrados à sua frente, e por um segundo, pude jurar ver a formação de lágrimas ali.  Aquilo não estava nos planos, mas pelo menos ela calou a boca pela maior parte do caminho.

Parei o carro um quarteirão antes do meu prédio e desci dele afundando os pés na calçada. Dei a volta no veículo e arranquei Calena de dentro pelo braço.

— Ai, April, está me machucando! – ela protestou fazendo uma careta, mas não dei a mínima.

A arrastei até a parte sombreada da calçada e a empurrei contra a parede do edifício que lá havia, fazendo-a soltar um som agudo com o impacto. Minha mão ainda apertava seu braço com força e meu rosto estava a centímetros do seu, mas desta vez, não por um envolvimento romântico.

— Escuta, aqui, sua vadia, hoje você passou de todos os limites. Todos! É bom que saiba que se for pra ficar comigo eu não quero ouvir mais uma palavra sua em relação à Victorie, está entendendo?! E não pense que você significa alguma coisa pra mim. Quando aceitei me envolver com você deixei claro que só tinha interesse no sexo e em nada mais! Então é bom começar a tirar seu cavalinho da chuva se acha que pode subir um degrau da escada comigo. Ouviu bem?! – a sacudi pelo braço, como que para enfatizar a pergunta.

Calena ainda estava com a mesma expressão em seu rosto, mas desta vez, uma faísca de ódio brilhou ali.

— Você é desprezível, April – ela soltou, em um tom tão baixo que poderia ser considerado um sussurro, mas com uma densidade agressiva.

Um sorriso torto deslizou em meu rosto, mas não menos enfurecido.

— Não acha que descobriu isso um pouco tarde demais?

Ao fim da nossa discussão, soltei-a e a mandei ir embora. Mas a cara de pau de Calena era tão grande que ela ainda se deu o trabalho de protestar.

— Você me traz até aqui pra me mandar ir embora? Qual é o seu problema? – ela desferiu, o lápis dos olhos já manchados pelas poucas lágrimas que haviam escorrido no meio da discussão.

— Você é o meu problema.

— Eu moro do outro lado da cidade e não tem nenhuma estação de metro aqui perto!

— Se vira – e antes que pudesse ficar para ouvir mais alguma coisa, entrei no Mercedes e parti para casa.

Entrei no apartamento ainda afogada em nervos, a cabeça pesava e martelava àquela altura. Tinha certeza que naquela noite eu precisaria de algum remédio para dor de cabeça, ou isso, ou simplesmente não conseguiria dormir, minhas crises de enxaqueca não costumavam pegar leve.

O apartamento estava um breu, mas não me dei o trabalho de acender as luzes, apenas tranquei a porta com chave e fui direto para o meu quarto. Afundei na cama e finalmente pude sentir algum tipo de paz àquela noite. O silêncio do quarto mais o frescor do ar-condicionado que eu havia ligado assim que cheguei, me proporcionou alguns minutos de calmaria. Alguns, mas ainda não eram o suficiente para acalmar uma mente tão perturbada como a minha, porque em momentos de tensões como aquele, eu só conseguia – além de remoer o problema – pensar em mil maneiras de como matar uma pessoa. No caso, a pessoa causadora do problema.

No caso, Calena.

Mas, em meio àquela perturbação, lembrei-me da cerveja que Vicky havia me dado mais cedo. Assim como os remédios da gaveta da marcha do carro, mais os que Calena havia comprado para mim, eu havia a colocado sobre o criado mudo, onde já estava uma bagunça de coisas. Fitei a garrafa escura sobre o móvel e em seguida me arrastei pelo colchão até me sentar e apoiar as costas contra a cabeceira da cama. Estiquei o braço para acender o abajur e pegá-la e, após isso, passei alguns minutos fitando o objeto que já me era tão familiar. Ainda estava geladinho, um sorriso brando escorreu em meu rosto.

Lembro de quando visitava Vicky em seu apartamento e sempre era recebida por uma garrafa daquela. “Isso vai te fazer mal”, eu dizia, mas ela simplesmente não escutava e se acabava no líquido junto com uma tigela grande de Cheetos de queijo. Aquilo era bobo e idiota, eu pensava, mas na época, eu não sabia o quanto eu sentiria falta daqueles momentos hoje em dia. Eu odiava beijá-la com gosto de Cheetos na boca, mas não sabia o quanto aquele era o melhor sabor do mundo se comparado à falta que sinto do seu beijo.  Desde que nós duas terminamos, graças a uma estúpida falha minha, eu venho percebendo que o vazio que sinto por dentro pareceu só aumentar nesses cinco meses. Quando menos espero, estou sendo absurdamente mais grossa do que costumava ser com alguém – às vezes por motivos desnecessários –, e não é que eu me importe com como eu faço as pessoas se sentirem, eu nunca me importei, mas eu passei a me incomodar com o quanto a falta de Victorie vem acarretando uma série de fatores intensos em mim. Também não é como se eu fosse uma puta carente que precisa de alguém para estar ao meu lado, mas depois que eu a perdi, percebi o quanto sentia falta do carinho, do afago, do afeto. Naquela época, eu não sabia absorver cada detalhe daquele de uma forma tão profunda, essa maldita doença que deturba minha personalidade, me impede de sentir coisas fortes demais, porém, foi com a Vicky que eu aprendi a senti-las melhor, principalmente, depois que a deixei ir.

Psicopatas como eu não servem para muitas coisas além de prejudicar as pessoas – seja em nível interno ou externo – nem se apegam à elas, mas eu me apeguei a alguem, porém, desde quando Victorie foi embora, percebi o quanto eu poderia ter sido diferente se ela ainda estivesse aqui. Tinha certeza, ela teria me mudado.

Eu queria que tivesse mudado.

Fui à cozinha buscar um abridor de garrafas e, após abri-la, voltei para o quarto. Quando o líquido escorreu pela minha garganta, uma nova onda de nostalgia explodiu em meu cérebro, principalmente, as lembranças do beijo molhado com gosto de cerveja que só aquela morena sabia dar. Sorri. A tempestade finalmente estava indo embora.

Mesmo após a cerveja e o remédio para dor de cabeça, o sono não me veio quando esperava, e adentrei a madrugada na companhia de um romance policial que já havia lido pelo menos umas cinco vezes – afinal, era o meu favorito. Em certo momento verifiquei no visor do meu celular o horário e era quase 01h30. Naquela hora, lembrei-me de Victorie novamente, mas desta vez, não para remexer nas nossas lembranças, eu apenas senti uma grande vontade de ligar para ela, pelo menos para me desculpar de como Calena havia a tratado, afinal, mesmo que ela houvesse ido embora aparentemente indiferente ao que havia acontecido, eu ainda imaginava o quanto era horrível ouvir aquele tipo de coisa de alguém como a Calena.

Se eu não a houvesse namorado Vicky, talvez achasse aquele horário muito indevido para uma ligação, mas mesmo que ela estivesse dormindo, a lei era a seguinte: antes acordá-la na madrugada que em um fim de semana pela manhã. Mas na verdade, descobri que essa lei se aplicava a qualquer dia da semana, não somente nos sábados e domingos.

Então, decidida do que queria, não hesitei muito até ligá-la. Eu considerei as chances de ela não me atender como havia feito na última vez, mas mesmo assim insisti e não pude negar uma surpresa acolhedora quando ela atendeu após a quinta chamada.

— April? – sua voz soou embargada de sono. Mas mais uma vez: antes na madrugada que de manhã. Porém não pude evitar um sorriso ao ouvi-la.

— Oi. Me desculpa pelo modo como a Calena te tratou, ela é uma idiota – fui direto ao ponto, e logo depois, me perguntei se deveria mesmo ter feito isso. Talvez um “desculpa por te ligar a essa hora” fosse mais prudente antes de tudo, mas já estava feito.

— Você me ligou só pra dizer isso? – por um segundo senti um ligeiro calafrio na barriga com o seu tom, mas talvez houvesse sido só impressão o seu incômodo com a ligação.

— Eu achei que devia, pelo menos por ela – mas antes que ela pudesse dizer algo, continuei: — Obrigada de novo pela cerveja, eu nem deveria beber, mas me ajudou muito depois da briga que tive com a Calena.

— Vocês brigaram?

— O caminho todo. Ela não parava de me enxer o saco falando muito merda de você. Quando cheguei em casa mandei ela ir embora na mesma hora, não iria passar uma noite com uma vadia daquelas.

Então houve alguns segundos de silêncio, e naquele tempo, algo me dizia que ela estava um pouco chocada com o que eu havia dito, mas não esperei para que ela dissesse algo, eu queria ouvir sua voz, de verdade, mas também tinha ciência que não poderia abusar daquilo, então, após fazer o que tinha que fazer, achava que já estava na hora de desligar.

— Enfim – suspirei pesadamente, já me preparando para a despedida, enquanto passava as unhas pelas vértices das folhos do livro em meu colo — Eu só queria me desculpar, não vou mais tomar seu tempo, ainda mais uma hora dessas, você com certeza estava dormindo quando te liguei.

E mais uma vez um pequeno silêncio, mas nesta, ela não demorou em responder.

— Tá tudo bem, April.

— Tudo bem então, eu vou indo lá – porém, quando tirei o celular do ouvido para desligá-lo, senti um forte impulso de dizer-lhe uma coisa, então, retornei à linha — Vicky?

— Hm? – ela indagou, mas pela diferença de volume na sua voz, ela provavelmente fez o mesmo que eu.

— Ah, eu... – mas então a coragem me faltou. Não era vergonha, era medo. Medo de falar aquilo e acabar provocando alguma reação indesejável e desnecessária. Por fim, preferi não falar nada. Talvez em outra hora, outro dia — Não, não é nada. Boa noite – e então desliguei.

Porém, a sensação de culpa por não ter dito o que queria me atormentou por pelo menos uma hora após a ligação. Nem o livro me foi mais atrativo depois de desligar, e tudo o que poderia dizer, é que aquela sensação incômoda era a mesma que vinha me perturbando desde que terminei com Vicky. Se eu pudesse voltar no passado, jamais teria a traído – mesmo que eu realmente não houvesse sentido nada ao fazê-lo por estar muito chateada com problemas pessoais – sei que o que fiz foi errado, mas a maldita patologia não me deixa medir consequências quando estou fora de mim, e eu estava.

Mas ali, naquela noite, no frio da madrugada, era diferente. Eu estava sã do que estava acontecendo, sã do quanto eu realmente queria que ela soubesse o que eu sentia. O que eu realmente sentia, e, embora a menos de uma semana eu houvesse dito que não iríamos mais nos ver até que o destino provasse o contrário, aquilo não era o que eu queria, eu só estava chateada novamente, mas naquela vez, não queria descontar nela e achei que seria melhor se nos separássemos. Mas a verdade é que desde nosso término, tudo o que eu vinha fazendo era colecionar arrependimentos, e por isso, resolvi que naquela noite seria diferente.

Peguei o celular mais uma vez, e nesta, apenas enviei-lhe uma única mensagem. Uma. Mas que naquele momento, era tudo o que eu realmente queria e precisava dizer.

“Sinto sua falta”.


Notas Finais


Gostou? Ou não? Deixa um comentário com a sua opinião e me ajude a melhorar essa obra no que eu puder :3
É sério meus nobres amiguinhos, sua opinião é muito importante e fator essencial para a continuidade da história ♥
Para quem leu até aqui, desde já agradeço ♥
Até amanha!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...