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História Blue Moon (Em Hiatus) - Chapter eighteen


Escrita por: kyyyaxoxo

Notas do Autor


ONDE É O INÍCIO DA FILA DO PESSOAL QUERENDO NOS MATAR?
HUSAHUSAHUSAHUSA
QUEM TÁ VIVO SEMPRE APARECE, DEPOIS DE 84 ANOS NÓS FINALMENTE BROTAMOS COM O CAP'
TAMO SUPER ATRASADAS? SIM. TÔ TEMENDO PELA MINHA VIDA? CLARAMENTE!
GENTE DESCULPA TANTA DEMORA, NÃO DESISTE DA GENTE NÃO, NÃO DESISTE DE BLUE MOON, ME AJUDA A MATAR O CARA QUE A AJEITA A MINHA NET QUE EU TAVA HÁ UM DIA E MEIO ISOLADA DO MUNDO

MAIS EXPLICAÇÕES NAS NOTAS FINAIS

Capítulo 19 - Chapter eighteen


Fanfic / Fanfiction Blue Moon (Em Hiatus) - Chapter eighteen

O fluxo de veículos estava bastante ameno para as primeiras horas da manhã de segunda. Eram pouco mais das oito e trinta e cinco da manhã, e o pontualismo dos Yoo os fizeram sair de casa para a consulta o quanto antes. O carro prateado trafegava calmamente pelas avenidas do centro de Nova Seul a comando de Siwon, que detinha toda sua atenção voltada para a rua. O ar de seriedade pairava sobre o alfa, suas mãos no volante mostravam o quão seguro e confortável era para ele dirigir. No banco do passageiro, Donghae matinha quase o tempo inteiro o olhar fixo no retrovisor, observando seus filhotes no banco detrás pelo reflexo. Os rapazes estavam quietos, Kihyun assim como Changkyun continuavam um pouco sonolentos, tanto que o pequeno ômega, cochilando, estava agarrado ao braço do irmão e repousava a cabeça no ombro do mesmo, que recostava a bochecha entre os fios do menor, mas permanecia de olhos abertos.

O carro dobrou a esquina, aproximando-se de um edifício de modesta altura se comparado aos que se espalhavam por esse perímetro. Assim que estacionaram em frente ao local, o alfa mais novo acordou com cuidado seu dongsaeng, avisando-o que haviam chegado. Changkyun se encolheu em resposta, não gostava da clínica de psicologia e psiquiátrica. Embora estivesse sob os cuidados de um excelente médico, um dos mais renomados desse ramo (que, por sinal, era um amigo de longa data de seus pais, algo muito reconfortante para o pequeno), as más lembranças relacionadas a aquele lugar o deixavam incomodado, sempre com um pé atrás.

Um calafrio perpassava seu corpo só de relembrar aquilo. Quatro anos atrás, quando a clínica ainda era consideravelmente nova, um dos diversos pacientes internados ali, um beta descontrolado, conseguiu escapar de seu quarto e chegar à área em que Changkyun se encontrava, acabando por avançar no menor com onze anos na época. Recordava-se nitidamente da confusão generalizada que sucedeu a esse ataque, dos pais partindo para cima do beta sem dó nem piedade (não ligando se ele era da mesma espécie ou se tinha alguma doença grave, totalmente guiados e dominados pelo instinto de proteção de sua cria), do irmão mais velho, na época com treze anos, também avançando junto com os dois alfas e o pegando no colo assim que conseguiram retirar o beta de cima de si, do quanto chorou com o rosto grudado no peito de Kihyun, implorando para nunca mais o trazerem ali.

Com Donghae e Siwon ensandecidos de raiva, foram necessários oito alfas para conseguir contê-los. Os Yoo não ficaram em desvantagens apesar disso, o treinamento policial os ajudou a nocautear dois de seus semelhantes enquanto os outros seis, mesmo os parando, saíram bastante machucados, com algumas roxuras pelo rosto e corpo, lábios partidos e etc. Após o tumulto se dissipar e ambos se acalmarem, os pais berraram em plenos pulmões com a direção do lugar, exigindo mais segurança e que a ala dos pacientes internados com casos graves e que não pudessem viver em sociedade fosse separada e isolada da área onde se localizavam os consultórios. Graças ao escândalo que os senhores Yoo fizeram, a diretoria acatou com as cobranças e, dentro de alguns meses, todo o espaço fora reorganizado. Dessa forma, Donghae e Siwon garantiram que não denunciariam ou destruiriam aquele lugar.

Uma coisa era certa: os alfas, betas e ômegas que trabalhavam e trabalham naquele local aprenderam que nunca se deve mexer com a cria de alfas, muito menos se eles forem da polícia.

— Appas, eu quero ir embora. — quando saiu do carro, Changkyun falou manhoso a fim de tentar convencê-los.

— É para o seu bem, querido. — Donghae disse ameno, apesar de resoluto, lançando um olhar sereno para reconfortar seu filhote.

O ômega franziu os lábios e voltou a se agarrar ao braço do irmão alfa, sabendo que falhou (mais uma vez) ao contorná-los. Os mais novos seguiram seus pais em silêncio prédio à dentro e pegaram o elevador. Dentro do cubículo de metal, os senhores Yoo observavam de esguelha Kihyun sussurrando no ouvido do caçula cabisbaixo no intuito de deixá-lo um pouco mais à vontade.

As portas metálicas se abriram no andar desejado, e a família Yoo caminhou em direção ao pequeno balcão, onde o secretario estava a trabalhar. Era um ômega bochechudo, de cabelo loiro adoravelmente ondulado, que contrastava com seus olhos negros, nariz um pouco batatudo e lábios levemente rosados, tudo moldando a expressão infantil de seus traços que lhe deixavam ainda mais novo do que realmente era.

— Bom dia. — Siwon cumprimentou de modo formal, típico dele. — Temos uma consulta marcada. — informou.

— Qual o nome do paciente? — o secretário perguntou sem retirar os olhos da tela do computador.

— Aish, você não lembra mais da gente, oppa. — Changkyun cruzou os braços em frente ao corpo e fez um bico.

O ômega mais velho parou de digitar no instante que ouviu o apelido. Só havia uma pessoa, ou melhor, um jovem que insistia em chamá-lo assim. Ele ergueu o olhar, confirmando suas suspeitas ao se deparar com os Yoo a sua frente. Levantou-se e foi até eles, cumprimentando os filhotes dos Yoo com abraços apertados.

— Claro que lembro. — Henry ofereceu seu melhor sorriso. Parecia um tanto envergonhado por não ter reconhecido seus amigos e seus sobrinhos logo de primeira.

— Finalmente, ele te marcou. — sorrindo, Siwon comentou ao abraçar o amigo. Localizada próxima da clavícula, a marca no pescoço alvo do Lau estava visível pelo colarinho e dois botões abertos da camisa. Parecia ainda recente e, a julgar pelo cheiro forte de alfa impregnado no menor, havia sido feita no período do cio do seu parceiro.

— Já não era tempo. — Donghae complementou em meio à risada e também abraçou o sino-canadense.

— Como vocês estão? — o Lau brincou com a aliança no anelar esquerdo, tentando disfarçar um pouco a timidez.

— Estamos bem. Agora... — Siwon puxou o ar com força. — Você não tem nada para nos contar? — viu o mais novo enrubescer-se e encolher os ombros quando o questionou um sorriso malicioso estampado nos lábios.

— Mas o que estaria deixando meu ômega tão envergonhado e acanhado?

As atenções se voltaram em direção à porta do consultório, donde veio a voz. Saindo de dentro da sala, um alfa da mesma altura de Siwon caminhou em direção a eles com um sorriso galanteador adornado em seus lábios. Os passos calmos demonstravam que não fora afetado pelo ato anterior de Siwon, a mão esquerda dentro do bolso da calça social preta deixava à mostra a camisa social também preta, que tinha dois de seus botões relaxadamente abertos, por sob o jaleco branco. Os olhos afiados e os traços felinos poderiam ser um pouco assustadores na primeira impressão, porém aquela aparência intimidadora era suavizada pela aura envolvente e pela personalidade cativante.

— Não tem vergonha de acanhar um ômega comprometido e grávido? — Zhoumi disse a Siwon numa falsa ameaça, o que fez todos rirem naquele momento, incluindo o retraído Changkyun. O de jaleco abraçou calorosamente todos ali e deixou um breve selar nos lábios do seu ômega antes de entrar em sua sala e chamar os Yoo para o acompanharem. — Como estão? — perguntou enquanto pegava o prontuário do caçula dos Yoo de cima da mesa, a aliança reluzindo no anelar da mão direita que detinha a prancheta.

— Bem apesar das adversidades. — Siwon respondeu, preferindo manter a seriedade.

— Ah, Siwonie, não seja tão formal. — o médico brincou, usando o apelido que Donghae usava quando queria fazer manha para cima do esposo. — Isso dá medo.

— E você não tente bancar o fofo para cima de mim. Isso só tem efeito no Henry. — rebateu em meio ao riso, sendo acompanhado pelo seu parceiro.

— E você, Kyunnie, como tem passado? Pelo que eu soube, não tem estado bem. — prosseguiu, desta vez falando com Changkyun, que se remexia no divã e torcia o pano da calça que usava em claro desconforto. O chinês tomou seu lugar na poltrona em frente ao assento em que o ômega estava. — E você, pequeno alfa? — com um sorriso ladino, dirigiu-se ao primogênito que se manteve quieto o tempo inteiro, apenas olhando preocupado para o caçula. — Como tem passado? Ainda não encontrou alguma moça ou rapaz que lhe interessasse? — Kihyun coçou a nuca e sorriu amarelo para si.

Changkyun riu, mas não disse nada. Pelo canto dos olhos, o médico observava a reação de seu paciente.

— Siwon, Donghae. — Zhoumi tirou uma caneta tinteiro do bolso do jaleco e a destampou. — Por favor, nos deixem a sós e levem Kihyun também. Depois conversamos. — ditou a ordem enquanto escrevia no prontuário.

O chinês notou o quanto Changkyun ficou tenso ao ouvir suas palavras. O menor oscilava o olhar dos pais ao irmão numa súplica muda. Os alfas mais velhos deixaram um beijo no topo da cabeça de seu filhote e seguiram para a porta, parando somente para chamar seu primogênito que permaneceu estático. Kihyun se agachou em frente à Changkyun e segurou as mãos deles para apertá-las brevemente a fim de passar confiança a ele. O Yoo mais velho depositou um selar na testa no mais novo e voltou para o lado dos pais. O de jaleco parou de fazer anotações assim que ouviu a porta ser fechada.

— Agora, somos só nós dois. — o médico ergueu o olhar do prontuário. — Quer me contar o que anda acontecendo? — falou, ameno, como se lidasse com uma criança.

— Não fale assim comigo, eu não sou um bebê. — o Yoo tufou as bochechas, contrariado.

— Oh, sim. Me desculpe, Changkyun. Mas, vamos, me diga o que tem ocorrido. — recostou-se no estofado e cruzou as pernas, observando as feições do ômega a sua frente.

— Os appas são exagerados, o Kihyun também. — proferiu evasivo, tentando evitar falar sobre.

Ele mentia. O psiquiatra manteve-se imparcial quanto a isso, afinal era algo corriqueiro e que conseguia rapidamente identificar.

— Ok, Changkyun, podemos realmente ficar aqui o dia todo até você me contar o que houve e ainda está havendo. Todos se preocupam, sabia? — disse. O ômega mordeu o lábio em nervosismo, não queria voltar a tomar remédios e nem ter de ser internado ali. — Fique calmo, sim? — tentou mais uma vez. — No seu tempo, pode começar. — disse com um sorriso calmo no rosto.

— Eu... — começou baixinho, ainda com medo. — É que... — hesitou de novo, as palavras pareciam fora de alcance.

— Se acalme. Deite se quiser, relaxe. — pediu. Nada escapava de seus olhos treinados, sempre anotando tudo a respeito do comportamento do Yoo que estava estranho, isso era fato.

— Eu posso ouvir eles, Zhoumi hyung. — a voz era firme, porém o medo exalava de seus poros. — Não quero que me chame de louco, por favor. — pediu com um bico manhoso formado nos lábios. — Eles só não me deixam sozinho. É como quando eu era criança, eles estão aqui a todo momento me ajudando. — deitou-se no divã e olhou para o teto, repousando as mãos sobre o estomago.

— Ajudar com o que? — o chinês perguntou.

— A não me sentir sozinho, hyung. — declarou calmamente e olhou para o médico.

Zhoumi descansou a prancheta sobre a coxa e girou o pescoço, seguindo o olhar do menor e focando no mesmo ponto que a atenção de Changkyun estava centrada. Não encontrou ninguém ali e nada de muito relevante, somente sua estante mediana com livros. Suspirou e voltou a encará-lo.

— E o que sente quando eles falam contigo? — questionou enquanto rabiscava algumas palavras no prontuário, as letras bem desenhas preenchendo a folha.

— Não sei explicar... — Changkyun tamborilava os dedos no estofado como se estivesse conferindo. Zhoumi rapidamente anotou, isso não era normal. — É meio... extremo? Às vezes, eu fico feliz, mas em outras eu fico muito triste. Eles me deixam triste, hyung. — fez um bico involuntário e se sentou novamente, encarando o médico e tio (como considerava) e esperando algum pronunciamento.

— Kyunnie, vou ter que te receitar remédios, mas não são fortes como os últimos, pode ficar tranquilo. Agora, vá lá fora e mande seus appas virem aqui e fique lá fora com Kihyun. — dito isso, o ômega se levantou e se encaminhou até a porta, mas antes de sair disse:

— Hyung, só não diga a eles que eu estou louco porque aí eles não aguentariam. Seria demais, entende? — Zhoumi concordou com um menear de cabeça e recebeu um sorriso do menor.

O chinês pôs-se de pé e caminhou de volta para sua mesa. A porta se abriu ao passo que sentava-se na cadeira giratória e colocava a prancheta junto da caneta sobre a mesa. Apoiou os cotovelos na superfície de vidro e entrelaçou dedos em frente ao rosto, indicando para que os dois ocupassem as cadeiras a sua frente.

— Certo... — suspirou e massageou as têmporas antes de falar. — Creio que já devem saber que o que Changkyun sempre teve. Ele parecia estar dando indícios de uma reincidência. — os alfas escutavam atentamente cada palavra dita. — Desde criança, ele tinha amigos imaginários e brincava “sozinho” sem problemas, tinha mudanças drásticas de humor e isso foi se tornando algo estranho até eu descobrir sua bipolaridade, mas vejo que nada mais é do que Ideação Paranóide. Tem os mesmos sintomas que a bipolaridade e constantemente é confundida com a mesma, e eu caí nesse ledo engano. — suspirou novamente, desapontado consigo mesmo. — Mas ainda há uma outra hipótese que só poderei afirmar com o passar do tempo enquanto observo Changkyun.

— Que hipótese seria essa? — Donghae perguntou apreensivo, buscando a mão de Siwon sem perceber.

— Síndrome de Borderline. É apenas uma hipótese, ainda não é possível diagnosticar com precisão. Ainda mais após esses anos em que ele aparentava estar bem. Mas, pelo que ele me disse, os considerados sintomas de Borderline estão claramente a mostra. Mas não sejamos precipitados, sim? — ofereceu um sorriso aos amigos que permaneciam tensos. — Preciso que ele tome os remédios que vou receitar. — os pais concordaram rapidamente e esperaram o pequeno pedaço de papel com os nomes dos remédios.

Após uma breve conversa e após marcarem a volta de Changkyun ao consultório, Zhoumi e Henry marcaram de jantar com os Yoo. Os filhotes despediram-se de seus tios e seguiram de volta para o carro junto de seus pais. O ômega Yoo parecia que desmoronaria a qualquer momento, sua cabeça começava a doer e ele não queria nada daquilo. O trajeto até o veículo e volta para casa foi tomada por um silêncio desconfortante, o ômega permanecia aéreo, os pais estavam preocupados e o pequeno alfa mais ainda por ninguém ter lhe dito o que estava acontecendo com seu irmãozinho. Assim que seus pais voltassem do trabalho, perguntaria sobre a conversa com seu tio, mas desde já sentia medo do que ouviria.

 

(...)

 

Na sexta, Hyungwon se encontrava um tanto ansioso.

Estaria mentindo se dissesse que não estava esperando por hoje. Na verdade, essa noite, para ele, era considerada o ponto chave da semana já que iria sair outra vez para uma festa com seus amigos (algo que parecia possível somente em sonhos). Chegava a sentir até um friozinho na barriga em decorrência disso e era ótimo senti-lo pois era como um lembrete de que estava acordado, que era real, e não só mais uma de suas ilusões utópicas.

Chegou à casa de Minhyuk ainda pela tarde a pedido do mesmo, nas costas levava uma mochila com suas roupas para a festa e mais algumas já que planejava ficar na casa do amigo caso a festa terminasse muito tarde (o que era muito provável). Assim que foi atendido, o platinado saiu o puxando para cima e para baixo, usando o tempo de sobra para conversarem, assistirem filmes e comer.

Eles começaram a se arrumar por volta das seis e meia da noite. Minhyuk era quem demorava mais e Hyungwon já esperava por isso, afinal o amigo se preocupava em todos os mínimos detalhes ao escolher uma roupa enquanto ele era mais básico: camisa social branca, um sapato preto e a famigerada calça de couro preto que seu pai odeia, além de deixar o cabelo como de costume e nem usar acessórios. Graças a isso, o esperava sentado na cama dele.

— Vem cá, Hyungie. — Hyungwon se aproximou de Minhyuk que estava em frente do grande espelho de parede. O platinado desabotoou o colarinho da camisa do mais alto e o ajeitou de forma que todo o pescoço longo dele ficasse a mostra. — Melhorou, parecia que você tava muito sufocado daquele jeito. — embaraçado, o castanho abaixou o olhar e notou que o outro segurava algo na mão direita. Ele encarou meio hipnotizado para a gargantilha choker preta simples e sem pingente, mas bonita, e isso não passou despercebido para o Lee. — Quer usar?

— Mas é tua, Min.

— Eu te empresto, não tem problema. Posso colocar?

Hyungwon concordou com um movimento de cabeça. Minhyuk caminhou para trás do Chae e suas mãos passaram por cima dos ombros dele para colocar o acessório no pescoço. Pelo espelho, o mais novo observava cada movimento do Lee que ajustava o ganchinho na corrente da gargantilha sem um pingo de pressa, como se quisesse fazer aquele momento durar o máximo possível.

— O que foi? — perguntou quando ele se virou de frente para si após ter afastado suas mãos dele.

— Min, eu tô — ele fez uma pequena pausa. — estranho?

Minhyuk suspirou alto antes de cruzar os braços e tombar a cabeça levemente para a direita.

— Você gosta dessas roupas? — questionou, indo direto ao ponto.

— Sim.

— Se sente bem quando veste esse tipo de roupa?

Hyungwon encarou sua imagem refletida no espelho e voltou-se novamente para o amigo.

— Sim. — confessou com um meio sorriso formado nos lábios.

— Então, pronto. — ao receber um olhar confuso do outro, o mais baixo continuou: — Ignora o que os outros pensam. E daí se eles não gostam? Quem tem que gostar é você, a única pessoa que tem que dar satisfações é você mesmo. O importante é você se sentir bem com o que veste e não ficar vestindo o “certo”. — Minhyuk revirou os olhos ao dar uma ênfase irônica na última palavra. Se tinha uma coisa que odiava mais do que pai de Hyungwon, eram os estereótipos criados pela sociedade. — Vou ajeitar teu cabelo pra destacar mais teu rosto. Quer por maquiagem também?

Minhyuk era bastante vaidoso, e não era nenhuma novidade para Hyungwon ver o quanto o amigo gostava de cuidar de própria aparência. Não raro via o platinado falando por horas sobre produtos para cabelo, pele, etc., além de ser um grande adepto do uso da maquiagem. Diferentemente de si, que certamente ficaria estranho com aquilo, o Lee ficava ainda mais bonito do já era quando maquiado.

— Eu não sei, Min. — mordeu os lábios. — Nunca usei esse tipo de coisa por causa do meu pai, então, sei lá, pode ficar... esquisito.

— Vamos fazer assim: eu te maquio, mas, se não gostar, você lava o rosto. — sugeriu após fazê-lo sentar-se na cama. — O que acha?

— Ok. — concordou após algum tempo.

Minhyuk tratou de pegar o precisava e depositou os objetos sobre a cama ao lado de Hyungwon. Pediu ao castanho para que fechasse os olhos e só os abrisse quando mandasse para evitar espiar pois seria uma surpresa. Ajeitou primeiro o cabelo, arrumando as madeixas acastanhadas num belo topete que o fez perder o fôlego momentaneamente. Após isso, preparou a pele dele para começar com a maquiagem. Escondeu as imperfeições causadas pela acne, arrumou as sobrancelhas naturalmente falhadas, deu um pouco mais de cor aos lábios carnudos, deixando-os ainda mais convidativos, e trabalhou com paciência as sombras nas pálpebras do mais novo.

— Terminei. — o platinado afastou o pincel e sorriu no momento que o mais novo abriu os olhos, satisfeito com o resultado. O aspecto “vampiresco”, em sua opinião, havia caído muito bem nele. — Que tal? — pegou um espelho e o segurou em frente ao rosto dele.

— Esse sou eu? — ele tomou o objeto das mãos do Lee.

— Por que esse espanto? — Minhyuk soltou uma risada soprada, observando Hyungwon encarar de queixo caído o próprio reflexo num estado de choque. — Eu já te falei isso milhões de vezes, Hyungie: você é lindo, com ou sem maquiagem. Só que você não percebe isso.

Mas dessa vez foi diferente.

Hyungwon realmente achou bonita a pessoa que viu refletida no espelho.

— Hyunginie. — o Chae foi retirado de seu estado de transe quando o amigo o chamou. Voltou sua atenção em direção a porta, onde o platinado estava a segurar a maçaneta. — Vamos. O táxi chegou.

— Ok. — deu uma última olhada no espelho e, com um meio sorriso formado no rosto, o deixou sobre a cama, indo de encontro com o mais velho.

 

(...)

 

A grande sala de jantar dos Lee estava impecável, especialmente naquela noite para comemorar o aniversário de Lee Jooheon. Seus pais haviam caprichado, a mesa estava completamente abarrotada de aperitivos e bebidas de todos os tipos, a decoração tanto ali como no salão principal, onde ocorreria o restante da festa após o jantar, estava magnífica. O aniversariante estava na porta do salão, recebendo seus convidados vulgo acionistas importantes da empresa de seus pais e outros empresários de nome que marcavam presença ali.

Entretanto, nada daquilo prendia a atenção do ex ruivo. Ele estava um tanto ansioso para aquela recepção chata terminar de uma vez para ficar com seus amigos. Até mesmo Hyungwon e Minhyuk já haviam chegado e nada dos irmãos os Yoo ainda. Já estava começando a cogitar que receberia uma ligação avisando que os irmãos não compareceriam ao jantar.

— Ei. — assustou-se com o sussurro de Hoseok atrás de si. — Desculpe, mas você tem mesmo que ficar aí recebendo todo mundo? — questionou o Shin um tanto chateado. Jooheon comentaria aquele comportamento incomum do irmão, mas um convidado interrompeu o diálogo entre eles. Hoseok fez um bico por ter sido ignorado e saiu dali, dirigindo-se para o jardim da casa.

Jooheon olhou pelo canto dos olhos o irmão sair dali. Nos últimos dias, o mais velho estava assim, praticamente carente de sua atenção, resmungando que sentia saudade dos irmãos Yoo e dos amigos ômegas, chegando a segui-lo para onde quer que fosse por alegar estar se sentindo um tanto sozinho sem o alfa por perto. Ele não reclamava, claro, pois eram momentos assim que o faziam se lembrar de quando moravam no orfanato.

Soltou um suspiro quando se viu novamente livre. Pensou em ir atrás de Wonho para ver como ele estava, mas infelizmente precisava continuar ali. Suspirou novamente, dessa vez contrariado. Voltou a direcionar seu olhar para o corredor de onde vinham os convidados, e seus lábios se ergueram num sorriso com direito a covinhas ao fazê-lo.

Lindo.

O alfa admirava o rosto bem delineado do ômega Yoo que andava em sua direção, sorrindo para si. O tempo parecia ter parado ali por um breve momento, mas aquele estado de torpor não teve como se perdurar tanto, pois notou que os pais do ômega vinham ao lado de seus filhotes. Jooheon engoliu em seco, ficando subitamente nervoso. Mas por que sentia aquilo? Era um alfa também, assim como aqueles outros dois alfas. São ambos alfas?, pensou e jurou ter sentido uma gota de suor escorrer por seu rosto. Eles estavam armados e pareciam fazer questão de deixar isso evidente para si.

O Lee engoliu em seco de novo, havia esquecido de dizer ao ômega para convidar seus pais para sua festa.

Certo, os pais deles são dois alfas e também são policiais. Não tem porque se preocupar com isso, Lee Jooheon.

A família Yoo parou a sua frente. Um dos pais era bem maior do que si e os próprios filhos e o outro, apesar de ser só um pouco mais alto que Kihyun e Changkyun e ter traços mais suaves, tinha uma presença tão intimidante quanto a do marido. Os músculos nos braços dos alfas policiais pareciam bem firmes e poderosos, mas não havia o que temer já que era um alfa tão forte quanto os pais dos Yoo, certo?

— Para de tremer, Honey. — zombou Kihyun com um sorriso no rosto, usando o apelido que Hoseok e Changkyun usavam apenas para provocá-lo. Percebeu o olhar trêmulo do Lee sobre seus pais e estava se controlando para não dar uma gargalhada ali mesmo. Quem diria que os “sogros” deixariam o alfa mais novo naquele estado cômico.

— N-não estou tremendo. — gaguejou, amaldiçoando-se por isso. Kihyun soltou uma risada em reação da sua resposta pouco firme, deixando-lhe envergonhado.

— Kihyun, por favor, olhe bem o ambiente onde você está e pare de fazer escândalo. — foi Siwon quem chamou a atenção do filho, que rapidamente conteve o riso.

— Desculpe, Won appa. — enxugou uma pequena lágrima que escorreu devido o riso.

— Boa noite. — Donghae se pronunciou e estendeu a mão a Jooheon, que parecia não saber o que fazer. O riso contido de Changkyun pareceu despertar o alfa, que rapidamente pegou a mão de Donghae.

— Boa noite, senhor Yoo. — disse rapidamente para se recompor.

— Ah, veja, Siwonie, ele está nervoso. — sorriu para o ex ruivo e depois para o marido, que retribuiu.

— Feliz aniversário, alfa Lee. Que os deuses te agraciem. — Siwon fez uma reverência ao Lee, que devolveu o gesto em sinal de gratidão.

— Ah, sim, feliz aniversário. É bom finalmente conhecer o alfa que meu Kyunnie tanto fala. — Donghae sorriu.

— Hae appa... — choramingou o Yoo mais novo. Os alfas riram, exceto Jooheon que ainda parecia tenso demais com a presença dos pais de Changkyun ali.

— Ah, senhores Yoo, peço mil desculpas por não ter convidado vocês. Eu esqueci completamente. — o Lee fazia várias reverências enquanto falava.

Os mais velhos riram novamente, já sabendo o motivo de todo aquele nervosismo do anfitrião.

— Ele é engraçado, Won. — Donghae comentou se aproximando do marido, e ambos deram as mãos. — Não fique nervoso. Tudo bem que não somos empresários nem nada...

— Ah, me desculpem, por favor. — Jooheon queria se enterrar de tanta vergonha.

— Pare de brincar com o menino, Donghae. Se acalme, garoto. — Siwon disse num tom calmo e despreocupado. — Se serve de consolo, nós temos que trabalhar hoje à noite, e Changkyun nos pediu para virmos mesmo sem o seu consentimento. Preferimos não cometer a gafe de virmos de penetra, mas o meu filhote insistiu para pelo menos desejarmos parabéns, então aqui estamos.

— Appas! — Changkyun parecia indignado agora.

— Já tá na hora de vocês irem, não? — Kihyun perguntou, já cansado daquilo. Algumas pessoas olhavam curiosos para eles, só faltava os pais do próprio Jooheon aparecerem ali para a situação se tornar mais ridiculamente cômica ainda.

— Está nos expulsando, filhote? — Siwon questionou, e Kihyun revirou os olhos. — Ok, ok. — disse e se direcionou ao ômega junto do esposo. — Se cuide, filhote, e cuide do teu irmão porque ele acha que é dono do mundo. — ambos os pais deram um beijo na testa do ômega, que ficou levemente corado e sorriu para os mais velhos. — Até amanhã, filho ingrato. — Siwon se despediu e deu meia volta, seguindo com Donghae para o carro.

Somente naquele instante, Jooheon pareceu respirar normalmente.

— Bem nervoso pra um alfa. — Kihyun zombou, divertindo-se pelos papéis terem invertidos, e adentrou o salão, deixando um pequeno embrulho nas mãos de Jooheon.

Jooheon guardou o presente junto dos demais e voltou para perto de Changkyun. Sorriu amarelo para ele, que lhe devolveu o sorriso, e o acompanhou mansão adentro.

Kihyun não conseguiu ter o mínimo de discrição. Afinal, como queriam que disfarçasse seu deslumbre ao se encontrar com Minhyuk e Hyungwon? Ambos estavam magníficos ao seu ver, ainda mais bonitos do que já eram graças aos rostos adornados pela maquiagem bem feita. E, céus, o Chae ficou todo acanhado quando o encheu de elogios. Teve de suprir o impulso de lhe tomar os lábios ali mesmo ao abraçá-lo num enlaço apertado após dias sem vê-lo. Também esmagou o Lee entre seus braços, deixando evidente a saudade da presença calorosa que lhe fazia falta. Os ômegas deram as mãos, acompanhando o alfa para onde quer que fosse e ostentado sorrisos tímidos por estarem juntos do Yoo.

Um suspiro escapou por entre os lábios de Shownu. Ele, mais do que qualquer um, estava se sentindo extremamente entediado durante a recepção, até mesmo mais que o próprio Jooheon. Sabia o quanto amigo, apesar de ter crescido nesse meio, detestava tanto quanto a si toda aquela atmosfera maçante de ficar recebendo os convidados e ter de ficar falando por minutos com cada um deles numa conversa exalava a mais pura falsidade por parte de alguns. Afinal, conquistar a afeição do pequeno herdeiro era o mesmo que ter um grande potencial para estabelecer conexões com a empresa da família Lee. O alfa Son não escapava daquilo, só que, diferente do Lee, ele não tinha toda a paciência do mundo para lidar com essa situação.

Tentou ser o mais educado possível com empresário que lhe apresentava a filha. Quantos já tinham feito a mesma coisa até o momento? Esse já era o quinto, talvez o sexto? Bom, não estava contanto. De longe, podia ver que Jooheon estava numa situação semelhante a sua e sentiu um pouco de pena de Changkyun, que não podia fazer nada a não ser ficar quieto, estando nitidamente desconfortável com aquilo. Heon tem olhos só pra você. Não precisa se preocupar, Kyunnie, pensou consigo mesmo enquanto observava a cena.

— Certamente, vocês dois irão se dar muito bem. — voltou a prestar atenção no empresário a sua frente.

— É uma honra, senhor, mas não estou interessado em me relacionar com ninguém no momento. — deu a mesma resposta pela sei lá qual vez e usou o mesmo sorriso cinicamente gentil ao falar com o mais velho. — Agora, se me derem licença... — fez uma breve reverência aos dois e se retirou antes mesmo de ouvir uma resposta.

Caminhou entre os convidados de forma ligeira, desviando daqueles que tentavam falar consigo e parando apenas um instante quando um dos garçons que andavam pelo local o ofereceu uma bebida, que, obviamente, aceitou de bom grado. Assim que se viu no jardim, sentiu como se pudesse respirar melhor pela primeira vez desde as últimas horas. Um pouco de sossego era tudo o que precisava agora, e, ao perceber que a área estava vazia, um alívio se apossou de si. Levou a bebida aos lábios, bebericando de pouco em pouco enquanto, sob a luz do luar, andava por entre as plantas organizadas por paisagistas. O som da movimentação na mansão estava abafado para si, embora na realidade não estivesse, e isso só corroborou para esvaziar sua mente e relaxar. Era apenas ele, a natureza e a lua azul brilhando.

Entretanto, talvez não estivesse só no final das contas.

Seus olhos se fixaram na figura de Hoseok sentada num banco que ali havia. Ainda estavam estranhos um com o outro desde a viagem, até as costumeiras provocações haviam cessado. Mesmo querendo acabar com aquela frescura de fingir que não existiam, o Shin nos últimos dias não saiu de perto de Jooheon, o que não lhe ajudou em nada. E, céus, como estava insuportável ter de aturar as cenas de um Hoseok estranhamente dengoso para com Jooheon, que não lhe negava nada e fazia todas as suas vontades. Não que estivesse com inveja do alfa, longe disso, ele apenas não era obrigado a ficar suportando aquilo em sua singela opinião.

Hyunwoo se aproximou e sentou-se ao lado dele. O outro estava tão concentrado nos próprios devaneios que nem percebeu sua presença ali consigo. A brisa calma balançava preguiçosamente a franja do ômega de forma que os fios louros tingidos de azul nas pontas dançavam um pouco acima de seus olhos. A atenção voltada para o céu dava-lhe um aspecto misterioso e instigava o alfa de tal forma que sentia-se hipnotizado.

— O que está fazendo aqui sozinho? Aconteceu alguma coisa? — o Son perguntou.

A cabeça do Shin se moveu devagar em sua direção. Quando os olhos se encontraram, pode ver tanto na opacidade dos orbes castanhos escuros como na expressão apática algo indecifrável e, ainda assim, carregado de certa uma carga do que parecia ser... volúpia? Bem, talvez o álcool estivesse fazendo enxergar coisas onde não existiam. Os lábios rosados entreabertos lhe pareciam extremamente convidativos, fazendo com que o mais velho controlasse seus impulsos devido a estranha e inesperada vontade de mordê-los.

— Não, não aconteceu nada. — o ômega respondeu, mantendo a indiferença em seus traços.

— Então, por que tá com essa cara?

— Por nada. — abanou a cabeça, como se dissesse para o outro não se preocupar. — Eu só tô... pensando demais. — suspirou. — E você?

— Nada demais. — deu de ombros. Ele desviou o olhar por um instante, observando o céu noturno. — Só quis escapar um pouco daquele sufoco.

O alfa apalpou o bolso da calça e tirou de lá o maço de cigarros junto ao isqueiro. Colocou o cigarro entre os lábios, uma mão próxima da ponta enquanto, com a outra, tratava de friccionar a rodinha de aço do isqueiro. Após várias tentativas falhas, conseguiu obter o atrito necessário para gerar a chama, e a pôs sob o papel enrolado, queimando-o. Deu uma longa tragada, liberando a fumaça com um tempo. Enquanto, de cabeça baixa, fazia isso, notou algo se destacando num dos rasgados do jeans que o outro vestia, onde, na perna esquerda, palavras numa letra bonita estavam grafadas na pele alva.

— Dá pra tirar os olhos da minha coxa? — foi a primeira vez que ouviu o tom brincalhão de Hoseok naquela noite.

— Não sabia que era tatuado, ômega. — levantou o olhar, esboçando um sorriso de canto no ato.

— Tenho três tatuagens. — deu de ombros, respondendo à pergunta que ele não fez. — Essa, uma no pé e outra... — o alfa ficou confuso com risada baixa do outro. — Um dia, quem sabe, você descobre onde tá.

— O que tá escrito? — referiu-se a tatuagem na coxa.

— Life is C between B and D. — murmurou a frase.

— “A vida é a escolha entre nascimento e morte”. — em coreano, proferiu a citação em voz alta. — Jean-Paul Sartre, hã? Filósofo e romancista francês. — Shownu sorriu. Wonho, agora, estava de fato o encarando. — Vai um? — estendeu a caixa de cigarros a ele, que pegou um de bom grado.

Aproximou a isqueiro, mas a chama não acendia não importava o quanto esfregasse a rodinha de aço. Ele jogou o objeto sem mais utilidade em qualquer canto e segurou o cigarro como o ômega (entre o indicador e o dedo do meio, entre a primeira e a segunda junta dos dedos, com a palma da mão contra o rosto), fazendo a ponta do seu queimar a do dele. Os olhares estavam vidrados, nenhum dos dois ousava quebrar o contato visual intenso, muito menos acabar com aquela aproximação. Eles tragaram juntos e soltaram a fumaça nos rostos um do outro, ambos sorrindo de canto após isso.

Os dois permaneceram ali, sem trocar palavra alguma, apenas fumando um ao lado do outro. O silêncio muitas vezes incômodo parecia não ser relevante no momento, ambos estavam apreciando a sinfonia tranquila da natureza da mesma maneira que desfrutavam da presença um do outro. Ficaram por ali até terminarem seus cigarros e voltaram assim que perceberam o jantar estava para ser servido.

A extensa mesa de jantar estava servida com um jantar digno de restaurantes finos, onde pratos da mais alta e refinada culinária eram o alvo de todas as atenções. Os convidados tomaram seus lugares à mesa, sendo os assentos da ponta eram ocupados pelos membros da família Lee. Todos deram, mais uma vez, felicitações ao aniversariante e aproveitaram a comida deliciosa. Conversas paralelas entre os mais velhos, na maioria coisas sobre negócios, enchiam o recinto, nada que prendesse a atenção a atenção dos jovens, que estavam ocupados demais comendo.

Assim que jantar teve seu fim, os convidados foram guiados para o salão principal, onde a verdadeira festa para o ex ruivo iria rolar. Os jovens se animaram ao verem o ambiente tão convidativo a eles, finalmente tendo a diversão que tanto ansiavam. Bastou a música começar a tocar para toda a atmosfera característica florescesse naquele meio.

Jooheon sentiu-se aliviado pela parte formal ter enfim encerrado. Por outro lado, não tinha paz um segundo sequer. Quando pensava em aproximar dos amigos e, especialmente, ir atrás de Changkyun, os conhecidos de seu pai entravam em seu caminho para trocar ideia. Era frustrante sim, mas não era como se pudesse simplesmente enxotá-los. Dessa forma, teve que ser educado com cada pessoa que falava consigo enquanto queria somente que certo ômega ocupasse seu tempo.

Wonho colocou a mão sobre a boca, tentando abafar o riso enquanto ouvia Kihyun lhe relatar a cena hilária de Jooheon conhecendo os “sogros”. A festa ao redor deles estava animada, algumas pessoas, ou melhor, os mais jovens dançavam no centro do salão, outros estavam perto da “pista de dança” conversando e bebendo e poucos ocupavam lugar nas mesas ali dispostas. E, embora o loiro adorasse dançar e quisesse beber, sentiu-se um pouco entediado após o jantar. Queria alguém para conversar e passar um pouco o tempo, mas as pessoas pareciam disputar quem conseguia ter a atenção de seu irmão, sendo Changkyun uma delas, e sua única companhia (se é que podia chamar Shownu disso no momento) estava ocupado demais bebendo e tentando fugir dos empresários que insistiam em puxar conversa com óbvias segundas intenções. Então, quando viu o melhor amigo conversando com Minhyuk e Hyungwon numa das mesas, não pensou duas vezes e juntou-se a eles.

— Espera, espera, espera. — o Shin enxugou as lágrimas que escorriam de seus olhos. — Honey estava mesmo tremendo? — disse entre risos.

— Estava sim. Ele até gaguejou quando o provoquei. — Kihyun não escondeu o riso em momento algum. — É sério, Seok, tinha que ver a cara dele quando percebeu que os appas são dois alfas. Impagável.

— Mas os tios fizeram alguma coisa pra provocar? — recostou-se no mais novo, repousando a cabeça no ombro dele.

— Nem precisaram. A altura do Won appa o intimidou bastante, e eles estavam indo pro trabalho, então né... — deixou a frase pairando no ar, arrancando uma risada do amigo.

Minhyuk e Hyungwon ouviam a conversa sem dizer nada, preferindo somente observar as reações do alfa. O Yoo descontraído daquela maneira deixava-os bem e era quase impossível ocultar seus sorrisos por vê-lo tão sorridente daquele jeito apesar de não serem o motivo para divertimento atual do rosado. O único problema, pelos menos para o Lee, era que Hoseok estava um pouco perto demais de Kihyun, que sequer parecia se importar com isso. Não que o mais velho fosse uma ameaça, longe disso, mas o platinado sentia a mão coçar para afastar aqueles dois. Ele encarou o Chae de esguelha, o menor também não parecia dar a mínima para todo o contato físico acontecendo entre Kihyun e Hoseok ou talvez soubesse ocultar o incômodo com a cena melhor do que si.

— Ki... — Minhyuk voltou a encará-los ao ouvir o Shin chamar (um tanto manhoso, diga-se de passagem) o Yoo mais velho e quase engasgou quando viu o ômega deslizar o nariz no pescoço alfa. — Pega mais comida pra mim? Por favor...

— O que quer que eu traga pra ti, hm? — Kihyun abaixou o rosto para olhar Hoseok, deixando suas faces perigosamente próximas.

— Um pouco de tudo. — ronronou baixinho quando sentiu sua nuca ser arranhada de leve pelo outro. — E traz mais bebida também.

— Tá, eu vou lá pegar. — desvencilhou-se do maior com cuidado e levantou. — Querem que eu traga pra vocês também? — perguntou aos outros dois ômegas.

— Pode ser. — após olhar para Minhyuk, que simplesmente deu de ombros, Hyungwon respondeu. — Eu vou contigo pra ajudar.

O ômega mais novo acompanhou os dois caminhando em direção à mesa de aperitivos até que sumissem no meio das pessoas e voltou sua atenção ao mais velho, percebendo que ele estava com os cotovelos na mesa e o rosto apoiado entre as mãos, encarando-o com um sorriso enigmático.

— Não precisa ficar assim, Min. — Wonho fez um bico, uma atitude um tanto inusitada aos olhos do platinado. Era como se o espírito de Changkyun houvesse se apossado do corpo dele.

— Do que está falando, hyung? — desviou o olhar por um breve momento, resolvendo se fazer de desentendido.

— De você ficar com ciúmes do Ki.

— Não estou com ciúmes. — resmungou, sorvendo o resto da bebida de seu copo.

— Claro que está. Você não sabe nem disfarçar. — riu, vendo o rosto dele adquirir o tom avermelhado num misto de raiva e vergonha. — Hyungie não se importou nenhum pouco... ou se importou? — ele juntou as sobrancelhas, pensativo. — Não tem como saber, ele manteve o rosto indiferente o tempo todo. — suspirou. — Mas pareceu não se importar. Deveria ser como ele.

— Eu não ligo. — insistiu e amaldiçoou-se mentalmente por ter soado tão aborrecido.

— Aham, sei. Tanto que nem estava me olhando com um olhar assassino. — sorriu ladino. Provocar o ciúme de um dos futuros namorados de Kihyun era divertido, as respostas irritadas de Minhyuk eram bem engraçadas. — Não fique assim, por favor. Eu não vejo o Ki faz quase uma semana, estou com saudades. Eu sou tão amigo dele quanto você é, então me deixe monopolizar a atenção dele um pouquinho, tá?

— Eu sou não amigo dele. — cruzou os braços, bufando.

— Ele ainda não pediu Hyungwon e você em namoro até agora. Embora tenha parado de ser trouxa e finalmente dito, pelo menos pra ti, o que sente a respeito de vocês dois... — o sorriso de Hoseok se alargou. — Então, sim, vocês continuam sendo só amigos.

— Ele... ele te contou? — Minhyuk não podia estar mais chocado.

— Sou o melhor amigo dele, Min. — falou o óbvio, uma pitada de soberba em seu tom. — Ki sempre me conta tudo. — tocou a ponta do nariz do Lee com o indicador ao proferir cada palavra. — Não seja tão possessivo, sim? Vocês serão namorados, serão um casal lindo, mas não quer dizer que ele deva parar de agir como normalmente age comigo. — disse, dessa vez mais sério. — Ki é muito carinhoso, sempre foi, e isso foi um dos motivos de sermos amigos há tanto tempo. — passou os olhos pelo salão e sorriu ao se deparar com um Hyungwon acanhado conversando com Kihyun enquanto voltavam para a mesa. — Não se vê tantos alfas assim como ele ou como o Honey por aí graças aos malditos estereótipos sobre como um alfa, ômega ou beta deve agir. — voltou a encarar Minhyuk, ajeitando os fios descoloridos da franja platinada do amigo em seguida. — Então, por favor, não faça ele parar de ser assim comigo por causa de um ciúme bobo.

Minhyuk sorriu sem jeito pelas palavras de Hoseok. Mesmo com esse comportamento um tanto inusitado fazendo-o parecer um segundo Changkyun, o mais velho continuava a mesma pessoa centrada de sempre, que se preocupa com os demais e é atenciosa. No fundo, sabia ele, o Shin somente estava com medo de decepcionar os amigos por conta de um mal entendido.

Não tem como Hoseok hyung ser o vilão no final das contas.

— Desculpe, hyung. — pediu e encarou as mãos sobre o colo, realmente constrangido. — Fui um pouco injusto contigo, não é?

— Não, tudo bem. Eu só quis tirar as coisas a limpo mesmo. É normal sentir ciúmes. Eu também sinto ciúmes por ele ter me trocado por vocês dois. — o Lee explodiu em risada ao ouvir suas palavras.

— Isso foi meio Changkyun demais, hyung.

— Foi mesmo, né? — riu baixo. — Como disse antes, tudo bem sentir ciúmes, só não se deixe levar e também não sufoque o Ki. Ele também precisa do espaço dele assim como você precisa do teu. — viu o menor assentir com seu ponto. — Mudando de assunto, o que achou do beijo do Ki?

O rosto do Lee se tornou escarlate.

— N-nós ainda não... — tentou esconder o rubor sob a franja ao passo que ouvia o loiro gargalhar com gosto.

— Estão esperando até conversarem com o Hyungie? Que meigo. — apertou as bochechas do amigo. — E devia suspeitar que você é daqueles que não lembram de nada que acontece no cio. — murmurou, pensativo.

— Por que quer saber disso?

— Por nada. — as sobrancelhas arqueadas davam um ar sugestivo a expressão de Wonho. — Só curiosidade... — lançou uma piscadela a ele, que o encarava perplexo.

— Aqui, Seok. — o platinado saiu de seu transe ao passo que um Wonho animado pegava o prato de cheio de comida e copo com bebida que Kihyun lhe estendeu.

— Min, aconteceu alguma coisa? — Hyungwon perguntou ao amigo, que detinha uma expressão atônita, enquanto sentava ao lado do mesmo.

— Tá tudo bem. — sorriu amarelo, tratando de se recompor. — Só preciso falar uma coisa com o Kihyun rapidinho e já volto, ok? — depositou um beijo na bochecha do Chae e levantou, indo em direção a Kihyun. — Vem cá. — e saiu puxando o alfa, sem lhe dar nenhuma explicação.

— O que foi, Min? — o Yoo perguntou enquanto deixava ser levado pelo ômega. O Lee não respondeu e continuou passar por entre as pessoas, levando-o para um lugar mais calmo. — Veio me dizer que essa é uma boa oportunidade para falarmos com o Hyunginie? — questionou. Silêncio de novo. — Não sei ainda se esse é o momento certo. Quero dizer, eu-

— Você e o Hoseok se beijaram? — largou o pulso dele e virou-se para encará-lo. O corredor estava quieto, tendo apenas eles dois por ali.

— Oi?

— Você e o Hoseok se beijaram?

— Seok já bebeu o suficiente pra ficar falante? — o olhar de Minhyuk lhe dizia que era melhor não se esquivar do assunto. — Sim. Mas por que isso de repente, Min? Tá com ciúmes? — disse em meio a uma risada.

— Não ri de mim! Isso é sério, Kihyun! — grunhiu, e aquilo só fez o outro rir mais.

— Você tá fazendo tempestade no copo d’água...

— O meu alfa sair beijando outras pessoas depois de dizer que ia fazer o pedido de namoro quando voltássemos de viajem não é fazer tempestade no copo d’água! — empurrou o mais baixo, que permaneceu imóvel. — O que mais tá me escondendo? Que você ajuda no cio do Hoseok? Por que se for, eu juro que-

Sua voz morreu, e ele arregalou os olhos.

Kihyun havia o calado com um beijo para que parasse de falar besteiras.

Minhyuk custou a acreditar nisso e, ao finalmente se dar conta de que era de fato real, fechou os olhos assim como o outro. Não havia malicia, euforia, línguas e nem nada do tipo, somente o encostar inocente de suas bocas. O rosado, segurando o rosto do platinado entre suas mãos, moveu os lábios contra os deles e logo foi correspondido, fazendo o som de estalos se reverberar no local.

— Se acalmou? — o alfa perguntou entre um beijo e outro. Sorriu com aceno positivo que veio resposta.

— Eu.... — de olhos fechados, mordeu os lábios. Ainda não tinha coragem de encará-lo depois dessa ceninha de ciúmes. — Eu só...

— Você fez parecer que isso tinha acontecido agora apesar de ter sido anos atrás. — viu o Lee encolher os ombros, envergonhado. — Olhe, eu nunca ajudei ele num cio, e a gente só se beijou uma vez. Seok fica muito carente quando sai do cio e, naquela vez, estava o bastante pra me pedir um beijo. Mas nem durou muito porque o Kyunnie viu e deu um ataque. Acredita que ele beijou meu irmão pra parar o chilique dele? — circundou a cintura de Minhyuk com os braços, colando seus troncos. — Não precisa se sentir inseguro com isso, meu amor. — sussurrou no ouvido dele, mal sabendo que o outro se derreteu com o apelido.

— Eu sei. — suas bochechas pareciam queimar de tanto embaraço. — Mas eu só queria ter sido o primeiro.

Kihyun sorriu com a declaração.

— Meu primeiro beijo pode ter sido com o Seok, mas a única pessoa que quero beijar é você. — acariciou o rosto do ômega. — Além do Hyunginie, claro.

— Desculpa, Kihyunie. — pediu com um biquinho nos lábios.

— Tudo bem. — beijou aquele beicinho adorável. — Vamos voltar. — o outro assentiu.

Os dois retornaram ao salão, agindo como se nada houvesse acontecido, porém com sorrisos suspeitos estampados em seus rostos. Hyungwon estava sozinho na mesa, olhando ao redor a procura de Kihyun e Minhyuk, e suspirou aliviado ao finalmente vê-los se aproximando da mesa. Cogitou em ir atrás deles devido à demora de ambos, pensando que algo tivesse acontecido a um dos dois, mas resolveu ficar por ali mesmo. Eles estavam aparentemente bem, e perceber isso fez toda sua preocupação se esvair.

— Por que tá sozinho, Hyunginie? Cadê o Seok? — o rosado franziu as sobrancelhas.

— Ele terminou de comer e cansou de esperar vocês voltarem. Disse que ia pegar mais bebida e acho que foi dançar já que não voltou até agora. — deu de ombros. — Pedi mais pra você, Min. — estendeu o copo ao platinado.

— Tá tentando me embebedar, Chae Hyungwon? — disse ao sentar do lado castanho, fazendo-o tufar as bochechas emburrado. — É brincadeira, Hyunginie. — jogou o braço sobre os ombros do menor e estalou um beijo no rosto dele. — Obrigado.

Agora, era somente os três ali e nada mais importava.

Changkyun bufou. Totalmente inalcançável: esse era o atual estado de Lee Jooheon. Apesar tantas tentativas inúteis de ter atenção de Jooheon só para si naquela noite, ele ainda não havia desistido. Ver todas aquelas pessoas perturbando o Lee, importunando o pobre alfa com tentativas de arranjos de casamento (que, felizmente, eram recusados), deixavam o Yoo mais novo irritado. Ele sabia e ao mesmo tempo não que o ex ruivo queria chegar até si, não era à toa que ele esteve lhe procurando com o olhar durante a festa inteira.

E daí que sua paciência já havia estourado? E daí que estava farto de tantos pretendes surgindo? Não iria simplesmente dar as costas e ir embora, isso estava fora de cogitação. Afinal, não havia ansiado a semana inteira por aquele dia desde a conversa com Hoseok por nada. Iria confessar seus sentimentos a ele essa noite, nada iria lhe impedir.

O ômega caminhou por entre o aglomerado de pessoas no local, esticando o pescoço na expectativa de encontrar o anfitrião. Suspirou, fazia um bom tempo que estava sem sinal algum do alfa. Avistou Hyunwoo bebendo solitário num canto afastado, talvez fugindo das mesmas pessoas que Jooheon infelizmente não conseguia despistar. Correu até ele, uma centelha de esperança de que o Son soubesse onde o Lee estava.

— Hyung! — chamou, atraindo a atenção dele para si.

— Ainda tentando ter um pouco da atenção do Heon, Kyunnie? — perguntou enquanto bebericava o líquido contido em seu copo. — Já conseguiu falar com ele direito pelo menos?

— Não. — resmungou e quase esmurrou a cara do alfa por estar rindo de si. — E ele sumiu de repente. Não faço a mínima ideia de onde possa estar.

— Sabe... — descansou um braço sobre os ombros do menor e colocou a mão em frente a boca como se contasse um segredo no ouvido do outro. — Heon não aguenta lugares lotados por muito tempo. Não está o encontrando aqui justamente por isso. Se eu fosse você, dava uma olhada no jardim ou no segundo andar na mansão. Ele não deve ter ido muito longe, só o suficiente pros empresários pararem de ficar encima dele como urubus.

— Sério? — o Yoo o encarou, esperançoso.

— Aham, confie em mim. — deu uma batidinha no ombro dele para encorajá-lo. — Vá atrás dele.

— Ok, eu vou. Obrigado, hyung! — o Son foi pego de surpresa por um abraço apertado do menor, que logo correu para longe dali.

— Aproveite enquanto teu irmão tá ocupado com os ômegas dele, Kyunnie. Aproveite... — falou sozinho, indo pegar mais bebida.

Minhyuk estava dando trabalho a Hyungwon e Kihyun. Finalmente havia começado a beber de verdade e, não muito tempo depois, já parecia meio alterado pela quantidade de álcool ingerida. Estava todo risonho e se agarrava aos dois que o seguiam para onde quer que fosse. O ômega e o alfa arrastavam o platinado para mesa, mas ele sempre corria de volta para pista de dança para dançar como louco, um copo de bebida em suas mãos nunca vazio.

O Chae suspirou quando ele e o Yoo finalmente conseguiram sentar o Lee na mesa. Os resmungos desconexos por parte do ômega mais velho eram inevitáveis, tinham que aturá-los já que, segundo o próprio Minhyuk, estavam estragando a diversão dele. Ignorando Kihyun falando ameno com o amigo, o castanho desviou o olhar por um segundo e congelou.

Mesmo com todas aquelas pessoas ali, Hyungwon pode vê-lo de longe na entrada da casa. A figura estática vestia um maldito terno impecavelmente alinhado ao seu corpo, encarando fixo para onde estava enquanto conversava com algumas das várias pessoas de influência no local. O olhar inquisidor de seu pai estava passando por um incessante mesclar de cores, alternando entre o preto natural e vermelho da natureza de alfa, e parecia lhe queimar a pele.

Acabou por estremecer quando viu o alfa sinalizar com movimento de cabeça para que fosse até ele imediatamente. De todos os lugares do mundo, sequer pensou em encontrá-lo logo ali. Aquele tempo que passou ileso não era relevante pois sabia, e isso com toda a certeza do mundo, de que os minutos para sentir a cólera do senhor Chae estavam em contagem regressiva.

— O que houve? — o castanho sobressaltou-se, sendo retirado do transe quando sentiu a mão de Kihyun tocar-lhe o braço. Seu tom exalava preocupação para com o ômega, que, no momento, havia empalidecido como se houvesse visto algo muito desagradável ou aterrorizante.

— Ah... nada. — ele se desvencilhou do toque, evasivo, enquanto se levantava para ir em direção ao seu algoz.

— Wonnie, aonde você vai? — Minhyuk resmungou, esticando o braço para tentar, só tentar, segurar o pulso do mais novo para mantê-lo ali. Já estava tão “alegrinho” que suas palavras vinham quase incompreensíveis devido ao álcool, ficando agarrado ou no castanho ou no rosado (o sorteado da vez) para sustentar seu corpo.

— Eu já volto, Min. — para não preocupá-lo, ofereceu seu melhor sorriso ao platinado. O outro apenas um fez bico com sua resposta vaga, num pedido mudo para que o beijasse. Por um segundo, esqueceu-se de sua situação crítica atual, da encrenca que estava metido, e riu da condição do amigo graças ao ato adorável. — Cuide dele enquanto eu não volto, sim? — pediu ao Yoo, inclinando-se para sussurrar no ouvido dele.

Os pelos de Kihyun se eriçaram assim que o hálito quente entrou em contato com sua tez, um leve arrepio perpassando seus nervos sensitivos. Céus, Hyungwon tinha noção do que causava em si ao fazer uma coisa dessas? Ele, porém, deixou de ficar pensando sobre isso em decorrência do leve tremor que notou na voz dele. O odor característico do medo estava quase imperceptível na fragrância do menor, e isso não passou despercebido pelo alfa. E, embora houvesse ficado estranhamente temeroso devido à incerteza e insegurança incomuns exalando dos poros do Chae, evitou fazer qualquer tipo de questionamento no momento e concordou com um aceno de cabeça. Enquanto Hyungwon se afastava e Minhyuk o puxava para o meio do local a fim de dançar, pedia aos deuses que aquele mau pressentimento que estava sentindo não passasse de algo criado por sua cabeça.

A cada passo dado por Hyungwon, mais aura negra que envolvia seu pai lhe afetava. A presença dele estava tão feroz como nunca havia sentido antes, fazendo uma enorme pressão sobre seu corpo que o deixava todo encolhido e ponto de também deixar cada um de seus músculos trêmulos. E então, quando finalmente estancou seus passos a somente alguns palmos de distância do mais velho, pode ver com clareza o que estava estampado olhar dele. Raiva, nojo e indignação se misturavam nos orbes frios. E não esperava nada menos do que isso vindo dele. Afinal, havia ido contra a vontade dele; sabia que o senhor Chae havia não deixado ele, um pequeno bastardo, enquanto viajava para que se divertisse em festas, mas, sim, para que cuidasse da casa enquanto estava fora, pois essa era função dos ômegas na visão daquele alfa; um pensamento totalmente mizogeno e antiquário que já não era aceito a séculos, mas que ainda faz se presente na mente de algumas pessoas como ele.

O castanho não se permitia respirar assim que viu o outro caminhando até si. Cerrou os punhos ao lado do corpo e mordeu o lábio inferior, temendo que ele fosse fazer algo ali mesmo com o risco de ser visto. O homem mais alto e forte do que si parou a uma distância intimidante, trincando o maxilar em razão do olhar assustado que lhe era dirigido.

— Vamos embora. — ditou entredentes, praticamente rosnando. A voz de comando e aura aterrorizadora fizeram o menor abaixar a cabeça a contragosto, reagindo de modo involuntário ao tom que tanto odiava, que o fazia ser a droga de um derrotado que sequer podia retrucar.

O senhor Chae rumou em direção a saída com o filho lhe seguindo. Chamou o empregado responsável por estacionar os automóveis e mandou fosse buscar o seu. Não muito tempo depois, o veículo parou em frente a mansão, e o alfa tomou o lugar no banco do motorista enquanto seu filho ocupava o assento do passageiro.

Desde que entraram, Hyungwon não se atreveu a dizer absolutamente nada. Estava calculando cada mínimo movimento, toda sua estrutura estava tensa, e em momento algum pode respirar direito devido à presença que o alfa impunha sobre si, deixando-o acuado e com mais medo à medida que se aproximavam da casa. O carro foi estacionado em frente à residência, e logo os Chae rumaram porta a dentro. O olhar do castanho se direcionou a porta localizada embaixo da escada, onde era o quarto escuro, e temeu que aquele fosse seu destino.

— A-appa... e-eu- — ele se virou apenas para sentir a palma grande de seu pai estalar contra sua face.

— Cale a merda da boca! — rosnou, imponente, olhando de cima o filho caído no chão. — Eu te deixo aqui para cuidar da casa, e você decide viajar com seus amiguinhos, como se a merda da tua vida fosse um mar de rosas e você não tivesse nenhuma preocupação. — o castanho engoliu em seco, imaginando a pobre enfermeira sendo ameaçada pelo mais velho para que contasse tudo o que aconteceu enquanto ele esteve fora. — Aquela vadia da Yoona vai ser demitida! — ele gritou em uma verdadeira explosão de ódio, e mais uma vez seus olhos mesclavam entre diversos tons de vermelho, indiciando que algo pior viria em breve.

— A culpa não é dela! — o ômega não soube de onde tirou forças para dar aquela resposta e muito menos de onde tinha tirado fôlego para fazer isso num grito.

Toda a ira do alfa finalmente subiu à cabeça graças a petulância do jovem. Ensandecido, começou a dar chutes consecutivos na região abdominal de seu primogênito.

— Eu. Sei. — disse entre os intervalos de chutes. Os gritos de piedade e gemidos de dor começaram a preencher o cômodo. — A culpa. É. Sua. Seu. Estorvo! — cuspiu a última palavra e parou os chutes, observando o choro alto do filho. — Para com essa merda de choro. — se abaixou e segurou os cabelos do menor com força desnecessária. – Me diz agora. — sacudiu a cabeça do castanho com raiva nítida. — Gastou meu dinheiro nessa merda? — questionou se referindo ao cabelo de Hyungwon, que segurava a mão do mais velho a fim de fazê-lo soltar seus fios e tentava em vão engolir o choro. — Idiota! — agitou e depois soltou a cabeça do filho com violência contra o chão.

O impacto forte contra o piso emitiu um ruído alto. O nó na garganta de Hyungwon aumentou perante sua condição lastimável. Queria gritar, pedir ajuda, qualquer deus lhe servia naquele instante; queria correr para o colo de sua mãe, queria o aconchego dos braços de Minhyuk, queria sentir a aura acolhedora e reconfortante de Kihyun, queria Hoseok para lhe dizer que tudo ficaria bem.

Mas ele sabia que nunca ficaria bem.

O alfa andava de um lado para o outro da sala, bufando de raiva. O mais puro ódio exalava do mais velho quando Hyungwon o encarou.

— Me desculpe. — soluçou alto. — App- — outro tapa o atingiu. Dessa vez, não houve tempo para ficar em choque ou surpreso, o mais velho se sentou sobre o tronco magro do filho e começou uma sequência de socos que deixava o rosto do castanho em tons de roxo e vermelho pela demasia força utilizada nos golpes. — Pa-para! — gritava e esperneava, tudo em vão. A força de um alfa é maior que a de um ômega, que ainda tinha toda uma fragilidade como ponto negativo em horas como essa, e, além de mais velho, o outro era maior e mais pesado que Hyungwon. — P-por favor. — dizia aos prantos enquanto tentava inutilmente se proteger.

O rosto inchado pelos golpes estava banhado de lágrimas, o gosto ocre inundava seu paladar. Hyungwon, mais do que nunca, desejou a morte naquele instante. Estava cansado de lutar, cansado de ser aquele estorvo, cansado de não conseguir ser feliz. Podia parecer muito egoísmo sim, mas ele simplesmente não conseguia aguentar mais. Lembrou-se da estória de vida de Hoseok, do quanto aquele ômega era forte. Invejava a força que o amigo tinha e talvez também sua beleza, desejava ser como ele para que pudesse carregar seu próprio fardo. Queria ser amado, um amor de verdade, queria ser quem ele queria ser, que nada mais era do que ele mesmo.

Com isso em mente, Hyungwon desistiu de tentar se defender. Não queria mais lutar, não queria mais viver infeliz, não queria mais ser motivo de piada por onde passava: Hyungwon simplesmente desistiu. E, quando um soco atingiu sua têmpora esquerda, tudo escureceu.

 

(...)

 

— O que tá fazendo aqui, Honey?

Jooheon olhou por cima dos ombros. Changkyun estava parado na entrada da varanda, encarando-o com extrema curiosidade, como se estivesse o procurando há algum tempo. O Lee virou de frente para ele e apoiou os cotovelos no parapeito para então pender a cabeça para trás. O céu noturno estava maravilhoso, uma pena que as luzes da cidade ofuscavam o real brilho das estrelas. Suspirou e voltou a encarar o ômega a sua frente.

— Precisava de um pouco de ar fresco. Me sentia sufocado lá dentro. — confessou.

— Não tá gostando da festa? — Changkyun se aproximou e também se encostou no parapeito como o alfa.

— Não é bem isso. — moveu o pulso em círculos, fazendo a bebida alcoólica rodar dentro do copo. Ao cansar de brincar, sorveu um pouco do líquido. — Eu te disse, não disse? Só algumas pessoas lá são meus amigos, mais da metade são conhecidos do meu pai.

— Você parece um velho agindo desse jeito. — um riso escapou dos lábios do alfa. — Deveria voltar pra lá e aproveitar. É teu aniversário, se anima.

— Só preciso de um pouco de sossego.

Jooheon ficou encarando Changkyun sem dizer nada por alguns minutos. Não precisava trocar muitas palavras com ele, sentia-se satisfeito apenas com a presença do menor ali consigo. Um momento a sós com ele era o tudo o que mais desejava no momento. O Yoo mais novo estava tão lindo sendo iluminado pelo brilho exótico da lua azul, sombras brincavam delineando os traços bonitos. E aqueles lábios, ah... Queria ter tanto o prazer de prová-los ao menos uma vez, mas sempre que tentava, algo sempre fazia o favor de os atrapalhar, então deixou a ideia tentadora de lado.

— Eu fico aqui com você então. — o ômega pegou o copo da mão do alfa e o entornou.

— Teu irmão vai me matar se descobrir que tô te deixando beber. — avisou apesar de não querer parecer um estraga prazeres. Na verdade, estava se deliciando com a visão do menor bebendo no seu copo. Isso soa muito clichê, mas ainda é um beijo indireto, pensou enquanto sugava o lábio inferior para dentro da boca.

— Ele não vai saber se você não contar. — devolveu o copo vazio. — Já que estamos aqui, vou te dar teu presente agora.

— Presente? — perguntou curioso. Até onde se lembrava, não tinha visto o menor trazendo nenhum tipo de pacote. — Não precisava me dar nada, Puppy.

— Eu não te perguntei se queria, disse que vou te dar.

Jooheon riu com gosto embora o tom Changkyun tivesse soado bastante grosseiro. Até quando arisco, o ômega tinha a incrível capacidade de o atrair.

— Não precisa me bater. — deixou o copo vazio em um canto qualquer após ter levantado os braços como modo de rendição.

— Fecha os olhos. — o alfa lhe lançou um olhar desconfiado e voltou a se encostar no parapeito antes de cumprir com sua ordem.

Changkyun respirou fundo antes de prosseguir. Precisava manter a calma, eles estavam sozinhos e qualquer pessoa demoraria para encontrá-los ali, nada poderia estragar o momento. O Yoo mais novo se aproximou do alfa e levou as mãos trêmulas ao rosto de Jooheon. Era isso, ele realmente iria fazer aquilo.

Quando tocou na pele do alfa, as mãos dele o seguraram pela cintura e o puxaram para perto. Seus corpos se encontraram num choque, o menor encaixou-se perfeitamente entre as pernas do mais velho, e as respirações deles se mesclaram. Jooheon abriu os olhos e o observou de forma vidrada, mas logo voltou a fechá-los, como se lhe dissesse para prosseguir.

— Honey... eu... — murmurou enquanto inclinava mais o rosto. — E-eu estou... ap-

Um estrondo no andar inferior assustou a ambos que afastaram seus rostos por reflexo. Os pares de olhos estavam arregalados devido ao sobressalto, nenhum dos dois proferia uma palavra, gerando um clima constrangedor. Jooheon foi o primeiro a reagir: descansou a testa no ombro do menor e suspirou alto, puto da vida por ser tão azarado a ponto de alguma coisa sempre os atrapalhar. Já Changkyun, de olhos fechados e rosto corado, estava tão frustrado quanto o alfa e amaldiçoava os infelizes que interromperam o momento. Os barulhos começaram a ficar mais constantes e altos, e logo Jooheon sentiu uma forte fragrância adocicada, o cheiro característico de Hoseok.

— O cio do Wonho hyung tava próximo, não é? — o Lee perguntou compassadamente e apertou a cintura do Yoo para ele não se afastar ainda. Queria prolongar aquilo o quanto conseguisse; na verdade, precisava urgentemente beijá-lo, mas o clima para isso já tinha se dissipado. Sentir o cheiro do ômega o estava acalmando naquele instante e precisava daquilo antes de perder a cabeça e matar quem atrapalhou seu momento com o Yoo mais novo.

— Ele devia tá tomando remédio pra ocultar o cheiro durante esses dias. — falou contra o ouvido do mais velho. O perfume que Jooheon usava misturado com a fragrância natural do mesmo estavam deixando-o inebriado, as mãos fortes o agarravam firmemente e tudo o que menos queria era se afastar, mas o universo estava conspirando contra eles. Talvez isso fosse um sinal, uma maneira de avisá-los que, não importava o quanto tentassem, eles nunca ficariam juntos. — H-Honey... — sussurrou. Droga, não chora, Changkyun, pensou consigo mesmo. — Finge que isso nunca aconteceu.

Jooheon ergueu o rosto no mesmo instante, abismado com o que acabou de ouvir. Como Changkyun podia estar lhe pedindo isso e lhe negando seu “presente”? Ele só queria se fingir de surdo por um momento, ignorar o que quer que estivesse acontecendo lá embaixo e finalmente sentir o toque macio da boca dele contra a sua, o toque que tanto ansiou (por meses). No entanto, ao notar que os olhos do ômega brilhavam marejados, seu coração apertou.

— Ok. — concordou a contragosto, a voz tão fraca quanto a de Changkyun.

As mãos do alfa largaram o ômega e caíram nas laterais do corpo de Jooheon. Eles ainda ficaram um tempo ali cabisbaixos perto um do outro até que Changkyun saísse da varanda sem olhar para trás. A sensação de não tê-lo em seus braços era horrível, doía em seu peito de tão insuportável, e seu lobo interior rosnava triste. O Lee juntou o copo do chão e jogou contra a parede num acesso de raiva. Chutou o parapeito com toda sua fúria, levou as mãos ao cabelo e o puxou, berrando por não conseguir mais suportar todas aquelas estranhas e intensas sensações que se apossavam de seu corpo.

No corredor, Changkyun não conseguia mover um músculo. Seu coração estava palpitando tão forte que jurava que iria enfartar, tudo porque observou a reação de Jooheon sem que ele percebesse. Uma lágrima escorreu e logo passou a mão no rosto, limpando-a.

— Esquece isso, Yoo Changkyun. Não vai dar certo. — repreendeu a si mesmo. — Droga, para de chorar! — falou entre soluços. — Honey! — chamou sufocado mesmo sabendo que ele não iria ouvir.

Changkyun mordeu os lábios no intuito de reprimir os soluços que pateticamente insistiam em escapar de sua garganta e passou as mãos pela face, tratando de secar as bochechas úmidas de lágrimas. Precisava sair dali o quanto antes, Jooheon poderia aparecer ali a qualquer momento e perguntar o porquê de seu choro, e tudo o que menos queria agora era causar preocupações desnecessárias a ele. Respirou fundo a fim de se acalmar, dando ainda algumas fungadas, e deu as costas à procura do banheiro mais próximo. Precisava lavar o rosto para assim tirar aquele aspecto ridículo de choro e agir como se estivesse tudo bem.

Jooheon se sentia a pior pessoa do mundo. Mesmo de costas para si, naquele breve instante que avistou Changkyun, algo irrompeu dentro si e soube, sem nem mesmo precisar ver o belo rosto do ômega, que ele estava chorando. Uma necessidade assombrosa de ampará-lo em seus braços surgiu, necessidade esta que também fazia com que se visse na obrigação de retirar todos os medos que estavam a afligir o menor. Soava tão cômico sentir aquilo, afinal sequer tinham algo concentro, e, ao mesmo tempo, tão certo... tão certo que chegava a lhe doer, como se estivesse no lugar do outro, como se estivesse na pele do Yoo, sentindo o que ele sentia. Pelos deuses, como ele poderia fazê-lo sentir-se tão impotente?

O Lee deu o primeiro passo vacilante em direção ao Yoo. Os sons de rosnados ao fundo e o cheiro de seu irmão exalando de forma absurda no ar fizeram-no estancar seus movimentos. A razão o mandava ir verificar o que diabos estava acontecendo no salão principal, onde ocorria a festa, enquanto seu lobo uivava dentro de si, falando para ir atrás do menor. Vendo o ômega sumir no corredor, deu meia volta e correu na direção contrária a de Changkyun.

Na escada, o alfa pode se deparar amplamente com a confusão do local. As mesas de bebidas e aperitivos estavam no chão, deixando o piso uma bagunça de comida, cacos de vidro e bebida. Apesar do cheiro de álcool e comida recendendo, uma fragrância incrivelmente adocicada e inebriante se sobrepunha a ele. Também avistou Hoseok, este estava próximo a toda a aquela sujeira, de joelhos no chão e abraçando a si mesmo numa vã tentativa de acalmar as dores que sentia no momento. Kihyun e Hyunwoo estavam o protegendo a uma distância segura, não deixando que nenhum dos outros alfas no recinto se aproximarem do loiro.

O Yoo mais velho praguejava mentalmente pela droga de situação que estava metido. Não precisava chegar perto do melhor amigo para saber o quanto ele estava apavorado, provavelmente tremendo de medo. Aquele cenário era perfeito para deixar o Shin extremamente acuado: vários alfas rosnando alto, impondo suas presenças para demarcar território e posse sob o ômega no cio, além de eles estarem o encarando como se fosse um maldito pedaço de carne a ser disputado por cães famintos. E o pior era que ele necessitava ser retirado dali rápido (o que, no momento, parecia impossível) antes que algum bastardo finalmente conseguisse passar por eles e tirasse proveito da condição de Wonho para abusá-lo.

Por mais que Kihyun odiasse admitir, a situação estaria pior caso Shownu não estivesse o ajudando. A presença de alfa do Son era forte, talvez uma das mais fortes que sentiu em toda a sua vida, e quase o fazia abaixar a cabeça submisso em razão daquela pressão potente e avassaladora que ela exercia. Outra vez, por mais que detestasse admitir, agradeceu aos deuses pelo mais velho ser de uma boa linhagem, caso contrário a maioria daqueles alfas não estariam temerosos em tentar fazer algo, embora quisessem, pois seriam subjugados sem piedade alguma. Porém, assim como Shownu, haviam por volta de outros cinco que detinham presenças tão fortes quanto a dele e que pareciam esperar apenas um pequeno deslize do Son para avançarem.

Hoseok torcia-se no chão em desespero. Eram tantas presenças, tantas fragrâncias, tantos rosnados, tantas informações para assimilar de uma vez que o deixavam confuso, não conseguindo distinguir quem era amigo ou inimigo. A única coisa que sua mente turvada podia forcar era aquele cenário assustador ao seu redor, os fantasmas que tanto o assombravam sendo multiplicados por uma quantidade maior de alfas ferozes, deixando-o mais impotente do que já estava. Enquanto ainda tinha consciência, orou para os deuses para fosse tirado logo dali.

Jooheon finalmente conseguiu passar pelo meio do aglomerado de pessoas que se formou ao redor da confusão e irrompeu em direção ao irmão, não ligando para o fato de não ser boa linhagem e estar levemente sufocado com a presença dos que eram. Não importava o quão fraco fosse diante daqueles outros alfas, não iria medir seus atos para proteger o Shin se necessário. E, com isso, os outros também tentaram avançar consigo. Praguejou mentalmente, torcendo Kihyun e Hyunwoo os atrasassem para poder tirar o loiro da confusão.

— Wonho hyung! ­— o alfa agachou-se ao lado dele. Apesar da febre estar começando a dominá-lo por completo, graças à situação atual, o medo estava impregnado na fragrância de Wonho, que encolheu-se assustado quando aproximou suas mãos dele. — Neném, sou eu, Jooheon. Não precisa ter medo. — abriu os braços o chamando. — Eu não vou te machucar. — emendou, vendo a expressão do mais velho num misto de temor e dor. Arfando alto, Hoseok se sentou com dificuldade e passou os braços ao redor de seu pescoço. Segurou-o firme pelas costas e encaixou o braço livre embaixo da dobra dos joelhos dele, erguendo-o. — Kihyun! Shownu! — gritou para os dois alfas, que estavam a impedir seus semelhantes de chegarem perto do loiro.

O Yoo e o Son olharam quando foram chamados e, percebendo que o Shin estava seguro nos braços do anfitrião, usaram todas as suas forças para deixar o caminho livre. O Lee correu ao ver o momento oportuno, esquivando-o habilmente dos que ainda insistiam em avançar para cima de seu irmão. Afastou-se dali o mais rápido possível, ignorando e deixando para trás toda aquela confusão, e, apressado, subiu as escadas, gritando para os empregados para ajudarem Kihyun e Hyunwoo a expulsarem todos aqueles alfas e retirarem os demais convidados da mansão imediatamente.

A adrenalina correndo por sua corrente sanguínea não o permitiu que notasse os detalhes ao redor. Sua prioridade era manter Hoseok a salvo, longe de qualquer um naquele momento. O loiro contorcia-se em verdadeira agonia no seu colo, deixando o mais novo uma pilha de nervos. Impaciente para escolher uma acomodação, desferiu um pontapé na porta do próprio quarto e adentrou sem pensar duas vezes. Colocou gentilmente o ômega deitado em sua cama e sentou no ponto oposto do colchão, soltando um suspiro alto, aliviado por não vê-lo mais em perigo.

Jooheon cobriu as narinas com uma das mãos, numa tentativa inútil de privar-se de respirar. O cheiro adocicado lhe açoitou no mesmo instante, seus olhos acederam vermelhos contra sua vontade em razão da fragrância natural de Wonho ficando mais evidente que o normal a cada segundo que passava. Isso não estava fazendo bem para si, seu corpo começava a responder aos estímulos olfativos, não demoraria muito para que perdesse o controle e se deixasse levar pelas necessidades primitivas de alfa.

— H-Honey... — os pelos do alfa se eriçaram ao escutar a fala arrastada. Era a primeira vez que ouvia seu irmão se dirigindo a si de forma tão lasciva. — Dói, Honey... dói... — o Lee não conseguiu mover um músculo ao vê-lo engatinhando em sua direção. As írises dele estavam tomadas pela coloração dos olhos de lobo, deixando seus orbes na tonalidade azul clara que parecia brilhar no escuro. — Faz parar de doer, por... favor. — implorou entre ofegadas.

O mais novo mordeu o lábio inferior em busca de autocontrole e acabou por abrir duas pequenas feridas na carne pela demasiada pressão que exerceu nela com seus caninos. A mão do Shin deslizou por sua coxa, acariciando-a na parte interna, e se aproximou do meio de suas pernas. O corpo enrijeceu em resposta aos toques que estimulavam a área sensível. Ele sentiu a respiração quente de Hoseok bater contra sua orelha e logo teve o lóbulo sugado para dentro da boca dele. Virou o rosto quando o músculo tocou-lhe atrás do ouvido e desceu pelo pescoço, a pele sendo agraciada por mordidas e fortes sucções.

Wonho soltou um gemido alto ao ter sua cintura segurada num agarro violento e ser jogado de costas no chão. Levantou a cabeça um pouco atordoado com a ação bruta e visualizou Jooheon se pondo sobre si. Estava totalmente encurralado, as mãos do ex ruivo em cada lado de seu rosto, uma das pernas dele entre as suas, o olhar de predador fixo em si. Arqueou a coluna, e um sorriso lascivo se formou em seus lábios, sentindo o joelho do alfa fazer uma pressão gostosa contra sua pélvis, incitando o membro já desperto por sobre as vestes. Levou as mãos afobadas a camisa do Lee, tratando de retirá-la. Precisava de mais, necessitava sentir a pele dele em contato com a sua, e toda aquela quantidade de roupa estava atrapalhando. Arremessou a peça irritante para um ponto qualquer do quarto e levou os dígitos as costas dele, puxando-o mais para perto e fincando as unhas ali.

O Lee grunhiu baixo, enfiando a cara na curvatura do pescoço do Shin. Inspirou fundo o perfume dele, sorrindo antes de provar a tez cálida. O ômega remexeu-se abaixo de si, gemendo manhoso por estar sendo finalmente tocado. O loiro arrastava as unhas por sua coluna conforme friccionava sua ereção na dele de forma deturpada, a ardência tomando conta de sua pele pela euforia de seu irmão. Sem delicadeza alguma, segurou a camisa que o Shin vestia e puxou num movimento rápido, fazendo os botões voarem longe e o tecido rasgar. A diferença mínima de temperatura entre os corpos fez ambos suspirarem quando seus troncos colaram um no outro. Os gemidos que o mais velho soltava enquanto sentia a pele ser praticamente devorada pelo menor se assemelhavam a miados dengosos que demonstravam o quanto estava se sentindo satisfeito.

Contudo, toda aquela esfregação não era o suficiente. Era apenas questão de tempo para que a paciência do ômega estourasse e ele exigisse, mesmo que de forma grosseira, o alívio que seu corpo tanto precisava.

— H-Ho- — a voz de Hoseok se perdeu num gemido baixo ao ter a boca do irmão em um de seus mamilos. Empurrou mais o quadril em direção ao dele e agarrou os fios do cabelo negro, puxando-os para extravasar o que sentia. — Ho-Honey... rápido... eu... — ele estava uma verdadeira bagunça, mal conseguindo completar uma frase, os cabelos desgrenhados, o peito subindo e descendo pesado com a respiração entrecortada, o suor delineando sua tez.

Jooheon ignorou o que o outro falava, concentrado no que fazia. Moveu os lábios para o outro mamilo, distribuindo as mesmas caricias. Contornou o músculo quente e molhado no local, intercalou as mordidas e sugadas em pequenos intervalos até que se tornasse tão sensível ao toque quanto o outro. Desceu uma das mãos pela lateral do corpo abaixo de si enquanto sua cabeça era puxada para cima novamente por Wonho, que tomou seus lábios num beijo afoito e voluptuoso.  Distraindo-o com a língua que disputava espaço numa dança erótica com a dele, desfivelou o cinto do mais velho e abriu o zíper após o desabotoar a calça dele, enfiando a mão sob a peça íntima.

Hoseok arfou entre o beijo e o findou, deixando que suas ofegadas soassem pelo quarto. Afastou as pernas, dando-o espaço para o menor encaixar-se no meio delas. A agonia piorou a uma escala absurda com a masturbação lenta que estava recebendo, não que não estivesse gostando, longe disso, mas a lubrificação sendo expelida de sua cavidade ressaltava que ponto que precisava de atenção era mais abaixo.

— H-Honey... por favor... — os olhos do ômega ardiam em lágrimas, o desespero era tanto que estava a ponto de chorar. Toda a sensibilidade de sua natureza estava evidente, mas o alfa parecia não notar. A mente embaçada o mandava gritar, expor sua irritação, usar quaisquer artifícios para conquistar seu objetivo. Foi então que uma única frase ficou clara em mente, frase esta que seus instintos mandavam usar para obter o que tanto desejava. — Me fode logo! — grunhiu impaciente com o tom embargado.

Hoseok cerrou os olhos com força ao passo que um gemido rouco veio arranhando toda sua garganta. Suas palavras finalmente pareceram surtir o efeito esperado pois logo sentiu-se ser invadido pelos dedos de Jooheon. Sua entrada escorregadia apertava-se em torno deles, tentando a todo custo expulsar o invasor de dentro de si a cada movimento preciso de vai e vem. As caricias molhadas começaram a descer por seu tronco, um sorriso repuxava seus lábios em razão das lambidas em seu abdômen definido que foram rumando mais e mais ao sul. Seu pênis pulsou em antecipação quando se deu conta do que aconteceria a seguir.

— Honey! — gemeu esganiçado quando um ponto desconhecido foi tocado pelos dedos dele.

Ao se dar conta do estava fazendo, Jooheon ergueu o torso rapidamente, sentando sobre os calcanhares e cessando todos os movimentos. Encarou de olhos arregalados o irmão choramingar por ter se afastado e logo também sentar-se para tornar a colar seus corpos. O Lee, porém, não respondia mais aos estímulos. Estava em perfeito estado de choque, a mente entrando em colapso, e, mesmo sentindo as mãos do outro passeando por seu corpo, de nada adiantava para tirá-lo daquele transe.

Mentalmente, socou-se na boca no estomago. A cabeça estava lhe pregando peças pois jurou por uma fração de segundos que não era Wonho, mas, sim, Changkyun gemendo e contorcendo-se abaixo de si. E, céus, sentiu-se um idiota por querer que fosse realmente o ômega Yoo ali.

— Não. — afastou Wonho, que estava a marcar seu pescoço com chupões. Segurou-o pelos braços, impedindo-o de se movimentar. — Isso não é certo. — o alfa falava para si mesmo pois o outro estava ocupado demais tentando investir em si. — Não, não é justo eu te ajudar, neném, enquanto tô pensando nele. Não é justo eu desejá-lo, imaginar que é o corpo dele que tô tocando ao invés do teu. Eu... eu não posso fazer isso com vocês dois. — olhou no fundo dos olhos dele.

— Honey... — implorou.

— É errado, eu não consigo. Me desculpa, hyung.

O loiro tentou segurar o irmão, mas este conseguiu se desvencilhar de seu toque, pegou sua camisa e saiu do quarto, deixando-o sozinho. Choramingou alto por não ter mais uma companhia, lágrimas de frustração e indignação escorrendo por sua face. O corpo estava mais necessitado do que nunca graças as carícias antes sentidas, a dor o forçando a tomar alguma atitude. Arrastou-se no colchão, tratando de retirar a calça. Empurrou a peça de pano pesado pelas pernas e a chutou para fora da cama. Uma pequena mancha ficou evidente na frente da cueca, mas sequer se comparava a do lubrificante.

O barulho da maçaneta se movendo o impediu de retirar a ereção da peça íntima e começar a se acariciar. Antes mesmo da porta abrir, uma presença forte focou-se em si, fazendo-o cair de costas na cama. Tonto e ofegante, apoiou-se pelos cotovelos. A fragrância amadeirada e forte de alfa invadiu o recinto, atiçando seu corpo sem sequer o dono haver adentrado o quarto ainda. Seu corpo respondeu alegre com o estímulo olfativo, e ondas de calor o percorreram dos pés à cabeça, o membro fisgando em expectativa. Sentindo o suor escorrer na linha da coluna, avistou um par de orbes carmesins surgirem e brilharem no escuro quando a porta abriu e alguém entrou.

— Você é meu, ômega. — o Shin estremeceu ouvindo o tom possessivo sair da boca de Hyunwoo.


Notas Finais


MIL DESCULPAS PELO ATRASO

Nem tem o que dizer sério.
Mas to aqui na cara de pau e na humildade, pedindo pra quem quiser e tiver interesse, pra ler "Tão Rápido"
Uma oneshot que eu postei na madruga, enquanto esperava meu unicórnio voltar.
enfim, obrigado e até o próximo.


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