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História Blue Moon (Em Hiatus) - Chapter twenty


Escrita por: kyyyaxoxo

Notas do Autor


DESCULPA O ATRASO GENTE

Capítulo 21 - Chapter twenty


Fanfic / Fanfiction Blue Moon (Em Hiatus) - Chapter twenty

A casa dos Chae estava bastante movimentada nas últimas horas da tarde de sábado.

Hyungwon, sentado na cama de seu quarto, tinha seus curativos trocados pela enfermeira. Yoona passava sobre os machucados de seu rosto uma espécie de creme que ele não sabia o que era ou para que servia, mas que trazia uma sensação de frescor a sua pele e parecia estar desinchando alguns dos vários ferimentos na face. A beta também verificou o resto do corpo do ômega e cuidou dos demais hematomas. Enquanto ela fazia isso, o Chae espiava pela visão periférica Minhyuk e Kihyun andando de um lado para outro de seu quarto com caixas nas mãos. Eles tiravam o máximo de roupas do mais novo do guarda roupa e empacotavam junto a alguns dos pertences dele.

— Vai arder um pouquinho. — Yoona disse. Ela segurou o rosto de Hyungwon e aproximou algodão molhado com algo que cheirava a álcool, pressionando-o sobre o canto ferido da boca do menor, que fez uma careta de dor.

— Yoona! — Hyungwon choramingou como uma criança. — Você disse que ia arder só um pouco, noona.

— Ora, vejo que já está se sentindo melhor para estar falando assim. — a beta sorriu para o ômega. — Acho que essa é última vez que cuido de você, criança.

— É. — ofereceu um sorriso breve a ela. O ômega não era bom com as palavras, mas acreditava que aquele simples agradecimento era suficiente: — Obrigado por tudo, noona. Eu não teria aguentado tanto se você não tivesse cuidado de mim, sério. — pegou a compressa que ela lhe deu e a colocou sobre o olho roxo.

— Continue a fazer essas compressas frias por uns vinte minutos durante o decorrer do dia pelos próximos dois dias e depois passe a expor a lesão a calor e umidade usando uma toalha. Não durma para o lado do olho inchado e muito menos o force, ok? Tome analgésicos se estiver doendo muito e vá ao médico se o olho roxo persistir. — Yoona falou alto o suficiente para que os outros dois também ouvissem. — Não precisa agradecer. — afagou os fios castanhos de Hyungwon. — Era meu dever cuidar de ti também e não só da tua mãe. — colocou as mãos sobre o colo e suspirou, sorrindo em seguida.

O ômega analisou o rosto da beta. Havia machucados, um olho roxo e pequenos cortes no lábio inferior da mulher a sua frente. Segundo a Im, pouco depois de ter desmaiado, ela chegou na casa e, ao perceber o que estava acontecendo, jogou-se contra seu chefe, num ato de desespero para tentar lhe salvar enquanto estava desacordado sendo subjugado pela fúria do alfa. Graças a isso, a mais velha acabou apanhando em seu lugar e foi humilhada, ameaçada e expulsa da casa em seguida. O mais novo culpou-se por não querer denunciar o Chae mais velho mesmo após saber de tudo isso.

— Tem certeza que quer continuar calado? — sussurrou para apenas ele ouvir. — Sabe que posso fazer uma denúncia anônima numa delegacia no caminho de casa.

— Não, noona. — encarou os próprios pés. — Ele pode fazer alguma coisa com a omma e com você se fizer isso. Eu não posso causar mais problemas. Só preciso saber que vocês duas vão ficar seguras e, caso precise ficar calado pra isso, eu farei. — os braços da Im o envolveram num abraço aconchegante. O castanho se permitiu sorrir. — Eu vou pra um lugar melhor, não se preocupe. Cuida da minha omma por mim, noona.

— Eu cuidarei. — a beta o largou. — Posso esconder essa roxura com maquiagem. Isso é, se você não se incomodar. Imagino que não vai querer que fiquem olhando pro teu olho. O que acha? — o ômega assentiu com sua proposta.

Yoona levantou e saiu do quarto, voltando não muito tempo depois com uma bolsa em mãos. Hyungwon fechou os olhos, deixando que ela trabalhasse, sentindo as cerdas macias do pincel deslizando em sua pele. Quando os abriu novamente, a maioria de seus machucados estavam escondidos pela maquiagem. A mais velha avisou que iria chamar o táxi para vir buscá-los e retirou-se do cômodo. O Chae a acompanhou com o olhar e caminhou em direção de seus recém namorados para ajudá-los a empacotar suas coisas.

Os três trataram de se apressar quando Yoona os chamou, avisando que o táxi havia chegado. Minhyuk e Kihyun desceram primeiro, cada um equilibrando três caixas em seus braços. Hyungwon entrou no quarto da mãe e aproximou-se de sua progenitora. Despediu-se com poucas palavras, fazendo questão de dizê-la o quanto a amava, e depositou um longo selar na testa da ômega repousando sobre o leito. Juntou-se aos demais, vendo que os rapazes haviam acabado de colocar as caixas no bagageiro, o Lee já esperando dentro do veículo e o Yoo segurando a porta do mesmo. A Im o abraçou pela última vez e ficou a observá-lo caminhando em direção ao carro, entrando no mesmo com o alfa logo atrás. A beta acenou e voltou a entrar na casa após táxi sumir ao dobrar a esquina.

 

(...)

 

— Você foi bem, você foi bem. — Jooheon, atrás de Changkyun, apertou os ombros do mais novo a fim de acalmá-lo.

— “Bem”? — o outro bufou, aborrecido. — Olha essa merda de resultado de novo e me diz se fui bem mesmo! — apontou para o placar, onde a pontuação baixa estava em destaque com dígitos vermelhos. — Eu não consegui nem acertar as bolas na cesta direito! — cruzou os braços.

— Não fique assim, Puppy... — sem conter o sorriso que insistia em se formar, o segurou pela cintura e o puxou para perto, depositando um beijo demorado na nuca dele após isso. — Você pode tentar outra vez.

— E-eu não quero mais. — resmungou, aproveitando e estremecendo com o toque dos lábios dele em sua pele.

— Tem certeza? — murmurou, o hálito morno eriçando os pelos dele, e continuou a beijá-lo ali. — Sabe que ainda temos mais um tempinho até irmos embora.

— H-Honey... — chamou entre uma risada baixa e encolheu-se por cócegas em razão da carícia gostosa subindo e descendo pela extensão do seu pescoço. — Eu não quero mais jogar. — insistiu, ainda emburrado. Virou de frente para ele e contornou os ombros dele com ambos os braços. — Eu tô com fome. Vamos comer, por favor. — pediu, fazendo beicinho.

— Tudo o que você quiser. — o arranhou de leve na cintura e, em seguida, mordeu aquele biquinho adorável, não conseguindo resistir a tamanha tentação diante de si. O outro riu e devolveu o gesto. — Não esqueça de pegar os tickets.

Changkyun acenou positivamente com a cabeça e pegou os tickets que saíram da fresta localizada no canto superior esquerdo da máquina. Encarou a pequena quantidade de tickets em suas mãos e suspirou. É, não era dessa que conseguiria o prêmio que desejava. Olhou uma última vez para a vitrine de prêmios antes de guardar os poucos bilhetes no bolso e seguir com Jooheon.

Desde que haviam saído do passeio (muito bem aproveitado, diga-se de passagem) de vinte minutos na roda gigante, os dois andavam um do lado do outro de mãos dadas. Suas palmas unidas e os dedos entrelaçados era algo muito aconchegante, transmitia um calor agradável. Aquele gesto, por mais simples que fosse, trazia uma sensação de satisfação incomparável a eles.

O alfa guiou o ômega até uma barriquinha que vendia comidas típicas. Pediram uma porção grande de tteokbokki e, com a comida em mãos, sentaram numa das poucas mesas desocupadas do local.

— O que foi, Puppy? Não tá gostoso? — o Lee perguntou enquanto levava mais um pouco da comida a boca.

— Quê? — o Yoo piscou, voltando a realidade, e percebeu que o namorado lhe encarava curioso. — Desculpe, eu só me distraí um pouco.

— Perdeu o apetite? — pegou com os jeotgaraks de aço um dos bolinhos de peixe e o aproximou da boca do namorado. O mais novo sorriu e aceitou ser alimentado de bom grado.

— Não é isso. — pegou os próprios jeotgaraks e começou a comer por si só. Fez uma pausa e imitou o ato anterior do mais velho, dando-o de comer na boca. — Tá gostoso. É só que... — suspirou.

— Continua chateado por não ter conseguido muitos pontos? — um sorriso involuntário repuxou seus lábios quando o viu assentir tristonho. — Já disse que pode ir jogar de novo, eu compro mais fichas.

— Não, vou estar abusando demais de você. — girou o conteúdo no prato até enfim pegar o macarrão, alaranjado pelo caldo picante.

— Sabe que dinheiro não é problema pra mim. — deu de ombros, como se não fosse nada demais, o que era verdade. — Comprar algumas fichas a mais não vai afetar minha carteira.

— Não precisa jogar na minha cara que a tua mesada é ridiculamente maior que a minha. — Jooheon riu com o tom emburrado e as bochechas tufadas de Changkyun. Apesar de parecer ofendido, seus pais ganhavam muito bem no trabalho, podendo dar mesadas bastante generosas para ele e o irmão, mas não significava que era livre para sair gastando desenfreadamente.

— Escute, nós temos — tirou o celular do bolso para checar as horas. — uma hora e meia até o motorista vir buscar a gente aqui. Você pode continuar resmungando que não sabe fazer algo fácil, que é jogar uma bola dentro do aro, ou tentar de novo.

— Não é tão fácil assim. — bufou, sentindo-se alfinetado com ele julgando sua habilidade.

— É claro que é. — sorriu de canto, vendo que estava conseguindo a reação que esperava. — É pura mira e o movimento correto de pulso. Até eu jogo melhor que você. — soltou a última provocação para então comer único bolinho que ainda sobrava.

O Yoo cerrou os punhos, sentindo o rosto esquentar de raiva.

— Você não ganharia de mim. — disse entre dentes, praticamente grunhindo.

— Mas é claro que ganho, Puppy. — pronunciou o apelido de maneira provocativa. — Como também sei que consigo o triplo dos tickets que você vai conseguir. Quer apostar? — levantou uma das sobrancelhas.

— Quero. — soltou num bufo e estendeu a mão. — Você não vai conseguir.

— Não duvide de mim. — apertou a mão dele, selando o acordo. — Ei, calma. — disse ao vê-lo se levantar. — Vamos terminar de comer primeiro. — segurou o riso e continuou a comer.

O ômega sentou de novo, tufando as bochechas, e voltou a pegar os jeotgaraks. Comeu de cabeça baixa o tempo inteiro, ignorando toda e qualquer tentativa do alfa de falar consigo, o que fez seu namorando ficar lhe enchendo o saco, perguntando se estava bravo. Ele não estava bravo, mas não deixava de estar; as palavras de Jooheon haviam ferido seu orgulho e atiçado seu espirito competitivo.

Não enrolaram com a comida e logo estavam voltando para área de fliperamas outra vez. Enquanto caminhavam de mãos dadas, Jooheon achava engraçado ver Changkyun virar o rosto quando tentava beijá-lo, por mais que se sentisse ressentindo por ter isso negado. Era o que ganhava por tê-lo provocado daquela maneira, mas não deixava de ser uma graça ver seu namorado emburrado. Ele iria lhe perdoar mais tarde, afinal não tinha o irritado só por irritar.

— Comprei várias fichas porque sinto que você não vai se contentar só com uma melhor de três. — o alfa entregou metade das fichas ao ômega, que já o esperava em frente da fileira de árcades de basquete. — Ou pro caso de você desistir quando ver que eu estava certo e querer ir jogar em outra máquina.

— Haha. Muito engraçado você, hein. — revirou os olhos, já pegando uma das várias fichas e colocando as demais no bolso. — Até parece que vou desistir. — murmurou para si mesmo enquanto colocava a ficha na máquina.

A sirene do árcade soou o típico ruído de início de jogo de basquete e os quarenta segundos começaram a contar. O Yoo rapidamente pegou as bolas e começou a arremessá-las. Seus lábios eram mordidos devido sua concentração. Não sabia se era sorte ou a vontade de vencer, mas o que quer que fosse estava o ajudando a acertar dentro do aro muito mais do que última vez. Arremessou mais duas vezes, e sirene voltou a soar, indicando que o tempo havia acabado.

— Trinta e oito, nada mal. — Changkyun não pode deixar sorrir vitorioso ao ouvir o elogio de Jooheon, apesar do mais velho sequer ter jogado ainda. — Acertou mais do que da última vez. Mas eu não cantaria vitória tão cedo assim, Puppy. — disse enquanto colocava a ficha no árcade ao lado do qual o outro usou.

O ômega observou o alfa segurar a bola de basquete nas mãos como alguém que já tem certa experiência enquanto esperava a sirene tocar. Quando o contador dos quarenta segundos começou a descer, o mais velho fez um, dois, três arremessos consecutivos perfeitos até errar quando a bola acertou o aro. Isso não o intimidou, mais cestas vieram em seguida. O pequeno achava engraçado vê-lo falar “Clean shoot”, “Let’s go” e “Come on” repetitivamente enquanto fazia as cestas e explodia em risadas quando o outro começava a xingar por ficar empolgado demais. O contador zerou e a sirene soou, revelando a pontuação final dele.

— Cinquenta e cinco... — Changkyun falou para si mesmo, num misto de raiva e choque. Ele não estava acreditando que o outro havia feito dezessete pontos a mais.

— Bom, foi um bom aquecimento, não é? — Jooheon olhou para o Yoo, dando um sorriso com os característicos eye smile e covinhas. — Agora, vamos jogar sério.

Os dois pegaram juntos mais uma ficha e a colocaram ao mesmo tempo nas máquinas. Quando as sirenes apitaram, ambos estavam tão concentrados em acertar as bolas dentro do aro que quase nem piscavam entre um arremesso e outro. Eventualmente, Changkyun perdia o ritmo ao espiar a situação do placar de Jooheon, o que o fazia parar seus arremessos por alguns segundos ou arremessar fora. E conforme via o placar do mais velho subindo e subindo, mais o espirito competitivo dentro de si o fazia arremessar mais rápido.

O Yoo não sabia se o universo estava tirando uma com a sua cara ou se estava sentindo-se pressionado demais, mas pareceu um absurdo o Lee conseguir elevar mais a pontuação a cada rodada. O ex ruivo era bom, tinha que admitir, ele parecia meio enferrujado no início, mas bastou algum tempo para se acostumar e começar a fazer ótimos scores. Assim, rodada após rodada, as fichas foram diminuindo até acabarem.

— Você foi bem, você foi bem. — Jooheon disse em meio a uma risada, observando lampejos azuis ciano passarem pelos olhos do menor em razão da raiva dele.

— Cala a boca! — grunhiu. Aquele cento e quinze brilhando em dígitos vermelhos parecia rir da sua cara.

— Não fique assim, Puppy... — repetiu suas palavras de novo. — Olhe pelo lado bom, você fez oitenta e cinco dessa vez. — isso não ajudou a desemburrá-lo, pelo contrário, só o fez cruzar os braços e virar o rosto. — Eu vou ver que prêmios consigo trocar por isso aqui. — pegou os tickets espalhados no chão, desprendendo-os do outlet. — Ainda me sobraram algumas fichas. Se quiser usá-las enquanto eu vou trocar isso por algum prêmio... — estendeu as fichas a ele com a mão livre.

— Tá... não demora. — falou, tristonho, pegando as fichas e rumando para outra máquina.

Changkyun suspirou alto quando decidiu gastar o restante das fichas numa máquina de pegar mini pelúcias. Não adiantava ficar chateado com aquilo, mas era inevitável. Jooheon era estupidamente melhor do que si naquele jogo de basquete, o jogo que vencia imbativelmente de Kihyun e até mesmo de seus pais há muito tempo. A ideia de ser superado no jogo que mais se sentia confiante ao ir em fliperamas o fez ficar com um bico enorme em seus lábios.

Após algum tempo, ele sorriu sozinho pela sexta vez, conseguindo pegar outra pelúcia. O gancho era difícil de manipular, mas bastava um pouco de paciência para pegar o jeito. Sua concentração era tanta que nem percebeu Jooheon se aproximando atrás de si.

— Você é bom mesmo nisso. — Changkyun sobressaltou-se quando as mãos do alfa tocaram sua cintura e também com o beijo no pescoço.

— Não me assusta assim. Eu podia ter te jogado no chão ou torcido teu pulso pelo susto. — escorou a cabeça no ombro dele, sentindo os braços dele lhe circundarem.

— Não acha que pegou mini Pokémons demais? — questionou, apertando o enlaço. Tê-lo em seus braços era algo tão bom e tão certo que ficou pensando porque não fez isso mais vezes.

— Não são só pra mim, eu escolhi pros outros também. — revelou, apontando para as pelúcias aos seus pés. — Escolhi os Pokémons me lembram algo dos nossos amigos. Tipo, peguei o Cranidos porque chamam ele de Pokémon cabeça dura, igual ao Kihyun hyung. — o Lee riu com sua comparação. — O Wonnie hyung, apesar de não comer muito, é sonolento e dorme demais igual ao Snorlax; o Minnie hyung não para quieto, então pensei no Elekid já que não tinha o Electabuzz mesmo; o Seok hyung... era fofo como um Furret quando o conheci, então peguei esse pra ele.

— Espera, um Furret? — o encarou com um sorriso divertido nos lábios.

— Não acha o Seok hyung fofo como um Furret? — o alfa riu com sua pergunta, assentindo em seguida. — Eu não sei se o Shownu hyung gosta disso, então fiquei na dúvida de pegar ou não.

— Dusknoir. — o menor o olhou com uma enorme interrogação estampada em seu rosto. — Shownu gosta dos tipos fantasmas, e esse é o favorito dele. Ele não é muito de pelúcias, mas já que é você que vai dar... — deixou a frase pairando no ar.

— Não tem esse, mas tem a primeira forma dele, Duskull. — soltou-se do namorado por um instante e pegou a última ficha para então pegar a pelúcia antes dita. — Pronto.

— E o meu? — a alfa perguntou com as mãos no bolso. — Ainda tem um Dratini e um Ursaring sobrando.

— Ursaring. O Dratini peguei pra mim mesmo. — agachou-se para pegar o mini Ursaring e entregou ao namorado.

— Mas por que um Ursaring?

— Ursos gostam de mel, né? — o ômega falou com verdadeira ingenuidade.

O ex ruivo riu ao ouvir aquilo. Apesar da ideia ser errônea, porque ursos de modo algum gostam de mel, não contradisse as palavras inocentes do menor, afinal, entendeu perfeitamente o motivo para ele ter escolhido o Ursaring para si.

— Obrigado, Puppy. — pegou a pelúcia e o beijou na bochecha para agradecer.

— Não conseguiu nada? — foi a vez do Lee ficar confuso. — Com os tickets, você não conseguiu trocar por nada?

— Consegui, sim. Está no meu bolso. — dito isso, enfiou a mão no bolso traseiro e tirou de lá o prêmio que havia escolhido. — Eu não sabia que os prêmios como esse exigiam tantos tickets.

— Honey, esse é... — tocou no pingente* de lobo da gargantilha choker que o outro segurava no ar. — Como você...?

— Você ficou babando na frente vitrine de prêmios por cinco minutos só por causa disso, acha que não percebi? — o Yoo corou com suas palavras e sorriu sem graça. Ele não imaginava que sua fixação por aquele acessório tinha sido tão óbvia. — Segura meu Ursaring pra eu colocar em você.

— Mas o prêmio é teu.

— É, mas eu só o consegui com os meus tickets e os teus juntos. — entregou a pelúcia a ele e soltou o gancho da corrente do colar. — Além que o consegui pra você.

— Foi por isso que me provocou antes? — perguntou, confuso.

— Você precisava de um empurrãozinho pra aumentar teu placar e conseguir mais tickets pra ele. Com nós dois jogando juntos, foi mais fácil. — sorriu, passando as pontas do colar pelo pescoço dele, sem cortar o visual com o ômega em momento algum.

— Eu vou ficar mal acostumado desse jeito. — encabulado, abaixou a cabeça e murmurou, um meio sorriso se formando nos lábios.

— Contando que a pessoa que te paparica seja eu, não tem problema. — engatou o gancho no último anel da corrente, a tira de couro preto ficando justa ao pescoço e o pingente, pendurado elegantemente no material. Segurou o queixo do outro entre o polegar e o indicador, erguendo o rosto dele para trazer de volta a troca intensa de olhar. — É melhor se acostumar, vou querer mimar meu namorado de vez em quando. — esfregou o dedão pelo queixo e juntou seus lábios num selar carinhoso.

— Nós somos muito casal, Honey.

— Isso é um problema? — arqueou as sobrancelhas.

— De forma alguma. — encaixou as mãos na nuca dele e o puxou para dar beijos consecutivos na boca carnuda.

— O motorista vai chegar logo... — disse entre um beijo e outro, a voz rouca em meios aos estalos. Ouviu um “Hm” por parte do Yoo. — Vamos dar uma última volta no parque e depois vamos para o portão.

Changkyun concordou após roubar mais um beijo e entregar a pelúcia a Jooheon. Assim que o Yoo guardou dentro de sua mochila as lembranças que iria dar aos amigos, os dois foram dar seu último passeio pelo parque de diversões. Sempre de mãos dadas, eles olhavam as coisas ao redor e paravam poucas vezes apenas quando o mais novo insistia em tirar uma selca. Dessa forma, o tempo passou rápido e logo o chofer de Jooheon avisara que havia chegado.

O casal entrou no banco traseiro do carro, sorrindo de orelha a orelha. Aquele tempo a sós, mesmo com aquele pequeno imprevisto na roda gigante, havia sido incrível em diversas escalas. O ex ruivo soltou a mão do moreno apenas para colocar o braço sobre o ombro dele. O mais novo procurou pela mão descansando pendurada em seu peito e tornou a entrelaçar os dedos. O olhar dos dois se encontraram, e eles não precisaram dizer mais nada.

Não se importavam se o chofer estava ou não vendo; aliás, não é como se eles estivessem prestando atenção para isso no momento. A única coisa que precisavam agora era sentir, sentir o calor que a proximidade de seus corpos trazia, a maciez cálida dos seus lábios se movendo um contra o outro, o roçar e entrelaçar de línguas que disputavam por espaço, os corações acelerados, conectados numa melodia que apenas eles podiam ouvir, tudo; cada mínimo detalhe era apreciado por eles com verdadeira adoração e devoção, embora somente um dos dois soubesse o motivo daquelas sensações irrompendo tão pujantes dentro deles. Graças a isso, o trajeto inteiro para a mansão dos Lee foi, resumidamente falando, preenchido por beijos, ofegos, carícias, sorrisos e, acima de tudo, felicidade mútua.

— Eu tenho que ir, Honey. — Changkyun falou pela milésima vez a Jooheon enquanto o mesmo lhe levava pelo labirinto de corredores da mansão. Se não fosse por ele, com certeza estaria perdido naquele local imenso como da última vez.

— Fica mais um pouco. — e Jooheon tornou a insistir, parando na entrada do cômodo para abraçá-lo pela cintura, deixando-o colado a si. — Só mais um pouco.

— Tá ficando tarde, meus pais já devem ter passado em casa e vão estranhar que nem eu nem o hyung estamos lá pra jantar com eles. — encaixou as mãos na nuca dele, entrelaçando os dedos. Aquela posição, aquele jeito que o segurava, já havia se tornando a sua favorita.

— Por favor... — deslizou a ponta do nariz pelo pescoço alheio, querendo descobrir o quão sensível o menor era. — Só mais um pouco... — falou, manhoso, rente à pele dele, vendo-o arrepiar-se, e roçou os lábios ali.

— Honey... — seus dedos se emaranharam nos fios negros como resposta ao toque. Sem ao menos perceber, esticou mais o pescoço, dando-lhe mais espaço para lhe acariciar ali. Sufocou-se com um ofego preso na garganta quando sentiu os caninos pontiagudos, agora mais evidentes, raspando de leve em sua tez, causando um arrepio que perpassou toda sua estrutura. — Eu preciso ir. — falou com voz falha.

— Eu quero marcar esse pescoço. — o Lee sentiu quando seus olhos ficaram escarlates, assim como quando seu lobo ficou alvoroçado com essa vontade se apossando do seu ser. Aquele pescoço imaculado pedia por uma marca, sua marca; sentia seu sangue fervilhar de excitação pela ansiedade de fincar suas presas ali, sugar um pouco do sangue dele e estabelecer aquela ligação mais forte entre eles. E o melhor: o pequeno estava lhe concedendo sua permissão naquele exato momento. — Esse pescoço bonito — beijou a região. — e apetitoso... — puxou o ar sonoramente, inspirando fundo a fragrância naturalmente adocicada do ômega. Um sorriso orgulhoso ergueu seus lábios, seu ego inflando ao notar que o aroma doce havia ficado um pouco mais forte.

Changkyun mordeu o lábio para suprir o som sôfrego que ansiava escapar de sua garganta. Estava completamente amolecido nos braços de Jooheon, sentindo-o mordiscar sua tez de forma dolorosamente lenta. Suas bochechas ardiam diante da atitude inesperada, o coração martelava contra suas costelas, a respiração instabilizou-se, tudo por conta do impacto causado pela declaração dele. Apesar de estar gostando, estranhou ele estar fazendo aquilo consigo. O mais velho era normalmente carinhoso, mas, hoje, estava lhe abraçando, beijando e cheirando bastante. Não sabia se era porque o outro não sentia-se mais hesitante com os toques agora que são namorados, se o cio dele se aproximando era o culpado disso ou os dois. O que quer que estivesse o guiando o alfa, estava fazendo seu corpo começar a responder aos estímulos.

Puxou rudemente os fios espessos da cabeleira negra do Lee, trazendo o rosto dele para perto do seu. Suas bocas se encontraram num choque, numa pressa por eles nunca antes sentida. Aquele beijo era diferente de qualquer outro que havia experimentado até o momento, ele não era lento e carinhoso como os outros normalmente eram, mas continha a mesma necessidade que os demais também tinham, isso junto ao súbito furor que lhes era inerente naquele instante. Os dois se puxava cada vez mais para perto, como se quisessem fundir seus corpos, embora já estivessem colados praticamente um no outro.

Um pigarro alto os fez cessar o osculo afoito. De olhos fechados, ainda anestesiados por aquele beijo intenso, ficaram sentindo suas respirações alteradas se mesclando e batendo em seus rostos. Assim que aquele estado de torpor que pairava sobre eles esvaiu-se, ambos voltaram seus olhares para viera o som, encontrando o senhor Lee com as sobrancelhas arqueadas, dando-lhe um ar surpreso e maroto, e a senhora Lee, com um braço entrelaçado ao do marido, com um leve rubor colorindo suas maçãs do rosto e um sorriso enigmático estampado nos lábios vermelhos sendo mal coberto por uma das mãos.

O Yoo sentiu a temperatura de seu rosto se elevar bruscamente e, sem saber onde se enfiar, escondeu o rosto no pescoço do namorado, quase enfartando de tanta vergonha, fazendo os Lee rirem de sua atitude nervosa.

— Então, o pequeno Yoo é motivo para ter dispensado todos aqueles pretendentes, filhote? — o alfa mais velho questionou, divertindo-se com a condição embaraçada do ômega.

— Não diga isso, Junho. Sabe como ômegas podem ser bastante ciumentos quando o nome de seu alfa está envolvido. — a ômega Lee ralhou com o marido, batendo de leve no braço dele.

— Ele não precisa se preocupar com isso, Hyejin. É evidente que nosso filhote só está interessado nele, não é à toa ficou procurando por Changkyun ontem durante a festa inteira.

Changkyun ergueu o rosto e encarou Jooheon, que simplesmente sorriu amarelo como resposta. Sua felicidade por ter descoberto que o mais velho esteve à sua procura na festa foi tanta que nem ligou para o fato dos pais do outro estarem ali e roubou um rápido beijo dele.

— Você vai ficar por aqui, querido? — Hyejin perguntou a Changkyun, que sorria apaixonado enquanto olhava para o namorado. — Está ficando tarde.

— Ah. — o menor finalmente se lembrou de repente o que estava tentando falar ao mais velho. — Não, senhora Lee. Já estou indo para casa.

— Você pode ficar aqui mais um pouco. — Jooheon voltou a insistir.

— Eu tenho que ir. — acariciou o rosto dele com ambas as mãos.

— Filhote, não seja tão carente assim. — Junho disse. — Vocês mal começaram a namorar, eu suponho. Fora que ainda há um tempo antes das aulas voltarem.

— Ok. — o alfa mais novo suspirou, derrotado. — Posso te levar até em casa?

— Não, mas pode me levar até o metrô. — o Yoo achou por demais adorável expressão chateada do outro. — Combinei com meu irmão pra ele ir me buscar quando chegasse na estação.

— Você não pode dizer que-

— Honey... — falou, firme. — Sabe que ele vai dar um ataque caso eu apareça em casa com você. Já foi um milagre ele ter me deixado vir sozinho, então não vamos força a barra, ok?

Jooheon bufou, mas finalmente se rendeu, fazendo o mais novo rir da sua cara emburrada. Despedindo-se dos pais do namorado, Changkyun seguiu agarrado no braço de Jooheon o trajeto inteiro até metrô, tentando desemburrá-lo, nada que uma voz manhosa e alguns beijinhos na bochecha não resolvessem.

— Por que você tá assim, Honey? — perguntou enquanto seguiam para o local de embarque. — A gente pode se ver de novo durante a semana.

— Não exatamente. — coçou a nuca e, quando viu que o menor iria perguntar motivo, adiantou-se: — Meu cio.

— Ah... — isso explicava o porquê de ele estar o agarrando tanto. — E quando...? — sua voz morreu pelo constrangimento de estar perguntando algo tão íntimo.

— Segunda, talvez amanhã mesmo. Vou ficar no apartamento do meu primo por três dias, e ele vai me dopar durante esse tempo, então vou ficar sem ter como falar com você por uns dias. — suspirou.

— Não se preocupe. Quando você voltar, me avisa, ok? Pra gente poder sair de novo.

— Tudo bem. — sorriu de leve. — É melhor você ir antes que perca o metrô.

— Ok. Tchau, Honey. — aproximou-se para beijá-lo na bochecha, mas o alfa virou o rosto, fazendo suas bocas se tocarem.

— Tchau, Puppy. — aquele eye smile e covinhas fizeram um sorriso surgir nos lábios do Yoo.

 

(...)

 

O coração do Chae palpitava como um louco dentro de seu peito. As mãos suavam pelo nervosismo, assim como seus lábios sendo constantemente mordidos. Mal acreditava que, após tantas vezes se imaginando fugir, estava finalmente o fazendo. A princípio, não cogitava que essa hipótese fosse de fato acontecer, contudo, quando Kihyun falou tão convicto que não toleraria que seu namorado vivesse sob o mesmo teto de um agressor, ainda mais com Minhyuk se mostrando disposto a ajudar, foi impossível não ceder. Eles queriam o seu bem e fariam de tudo para mantê-lo seguro.

Ah, fazia tanto tempo que foi a casa dos Yoo que fez parecer que era sua primeira vez. O veículo estacionou ao lado da calçada que continha um pequeno jardim e algumas árvores dispostas em pontos estratégicos. Desceram e distribuíram as caixas igualmente antes de entrarem. Uma vez lá dentro, retiraram seus sapatos com um pouco de dificuldade e caminharam pelo corredor da entrada.

— Podem deixar aqui. — Kihyun disse assim que chegaram na sala de estar. Colocou as caixas que carregava em frente ao sofá, sua ação sendo imitada pelos ômegas. O de cabelo rosa se aproximou do platinado e sussurrou discretamente: — Conversa com o Hyunginie pra ver se ele relaxa, por favor. Eu sei que tudo foi muito repentino, mas quero que ele fique à vontade aqui em casa.

— Tudo bem, vou falar com ele. — Minhyuk deixou uma leve carícia na bochecha do alfa e sorriu para confortá-lo. — Hyunginie, vem aqui comigo. — chamou o castanho e segurou a mão do mesmo, puxando-o em direção ao corredor.

O Yoo soltou um suspiro longo e caminhou em direção a cozinha. Enquanto se servia de um copo d’água, ficou a devanear sobre tudo o que estava acontecendo. Céus, as coisas estavam correndo muito rápido, sequer teve um tempo para pensar em como contaria aquilo para seus pais de forma que os mesmos concordassem com sua decisão. Terminou de sorver o líquido, colocou o copo vazio na pia e passou a mão pelo rosto, já começando a formular alguns argumentos em sua mente.

— Kihyun.

Toda a sua preparação foi para os ares.

O alfa se virou assim que foi chamado, encontrando seus pais atrás de si. Ambos vestiam roupas semelhantes (camisa social e calça de linho, mas de cores diferentes), os coldres subaxilares a mostra portavam duas pistolas em cada, os distintivos reluziam em seus cintos. Donghae o encarava de forma neutra enquanto Siwon tinha uma das sobrancelhas arqueadas.

— Filhote, o que são todas aquelas caixas lá na sala? — Siwon perguntou. — Parece até que alguém está se mudando para cá.

O mais novo dos três alfas mordeu o lábio inferior, procurando as palavras certas para responder seu pai. Isso não passou despercebido para Donghae, o mais sério dos dois, e Kihyun sabia disso.

— W-Won appa, — Kihyun gaguejou nervoso. — é que...

— Filhote... — foi a vez de Donghae se pronunciar. — O que está nos escondendo?

— O Hyungwon vai morar com a gente de agora em diante. — foi direto ao ponto.

— Wow! Vamos com calma. — Siwon cruzou os braços em frente ao peito, assumindo a postura séria. — Como assim você decide uma coisa dessas sem o nosso consentimento?

— Você engravidou o garoto, foi isso? — Donghae insinuou, sem se importar com o tom grosseiro. — Depois de tanto conversar-

— Quê? Não! — o menor interrompeu as falsas acusações. — Eu nem me envolvi com ele desse jeito!

— Então, qual a razão de tudo isso? — Siwon estava para perder a paciência. — Ele está fugindo de casa, Kihyun? — o filho permaneceu calado, apertando os punhos fortemente. — Kihyun, pelos Deuses, você está o ajudando a fugir!

— Isso vai gerar o maior escândalo! — Donghae falou exasperado e passou a mão no cabelo, nervoso. — Qual o nome do pai dele? Preciso falar com ele agora.

— Não! — a voz de comando de Kihyun soou no recinto, e os olhos dele acederam em vermelho.

Os pais trocaram olhares. Era a primeira vez em que viam seu filho nesse modo agressivo, e a raiva dele era mais do que evidente. Eles dois precisavam relaxar, sabiam disso, se não acabariam fazendo seu primogênito perder o controle. Siwon soltou um suspiro alto e passou a mão pelo cabelo, encarando o marido e depois o filho.

— Hae, pare de impor tua presença. Você também, Kihyun. — falou, brando, sem necessidade de elevar o tom. — Vamos resolver isso sem usar violência.

— Tudo bem. — o outro voltou a assumir a postura calma. — Filhote, acalme-se, por favor. Eu sei que tem teus motivos para fazer o que está fazendo, só nos deixe saber quais são. Um garoto fugindo de casa e se escondendo aqui? Pelos Deuses... — Donghae massageou as têmporas.

Kihyun fechou os olhos e respirou fundo, esperando seu lobo interior se acalmar. As coisas já estavam começando a dar errado, precisava revertê-las antes que se tornasse um verdadeiro desastre. Ele não pensava em si mesmo (aceitaria qualquer tipo de castigo que seus pais lhe impusessem de qualquer forma), somente tinha Hyungwon em sua mente; tudo o que o ômega menos precisava agora era um ambiente hostil.

— Desculpe, appas. Eun omma disse pra nunca rosnar pra vocês. — o filho passou a mão pelo cabelo e, constrangido, abaixou a cabeça. — Eu entendo o ponto de vocês, mas não vou fazer isso. Eu não posso deixá-lo viver naquela casa.

Siwon e Donghae arregalaram os olhos simultaneamente. Estavam não só surpresos com a resposta de seu primogênito como também entenderam o real significado de suas palavras. Isso gerou uma serie de lembranças em ambos os pais, fazendo-os ceder ao apelo do menor.

— Olhe pra mim. — a voz de Donghae veio compassada. Kihyun fez o que o mais velho pediu e encontrou o olhar marejado do mesmo. — Você realmente sabe o que está fazendo?

— Sim, appa, eu sei. Estou fazendo como vocês fizeram.

A resposta firme fez pequenas lágrimas rolarem na face de Donghae. Siwon não se livrou disso, algumas poucas lágrimas deslizaram também silenciosamente por seu rosto, comovido com a nostalgia que as atitudes do filho trouxeram.

— Primeiro, o Kihyun, e não vai demorar muito para ser o Kyunnie também. — o alfa mais alto se aproximou do mais baixo e enlaçou seu pescoço, abraçando-o por trás. — Hae, nossos filhotes estão crescendo. — sussurrou no ouvido no marido e beijou a marca que fez há anos atrás no pescoço do mesmo. — Hyuk está orgulhoso de você, Kihyun. Pode ter certeza disso.

 

— Vai ficar tudo bem agora, Hyunginie. — Minhyuk acariciava o rosto do Chae. — Não tem por que ficar assim.

— Eu sei, mas... — Hyungwon mordeu os lábios, num ato claro de nervosismo. — Eu não posso ficar na tua casa?

— Eu também queria que fosse pra lá, mas acho que esse seria o primeiro lugar que ele iria procurar. — viu o castanho estremecer diante do que disse. — É uma possibilidade. Isso pode não acontecer, mas prefiro não correr o risco. Kihyunie disse que os pais dele vão concordar depois que conversar com eles, além que acho uma boa chance pra vocês dois se aproximarem.

— Eu tô com medo. — segredou num sussurro. — E se os pais dele não gostarem de mim?

— É claro que vão gostar. Você é adorável. — o platinado o beijou rapidamente, sorrindo após isso. — Precisa se acostumar com o Kihyunie estando por perto, sabe disso. Ele é nosso namorado, e não pode ficar se esquivando dele pra sempre. Ele pode acabar achando que não gosta dele.

— Mas eu...! — o Chae elevou um pouco o tom de voz, levemente exaltado com a insinuação. Tratou de se recompor ao notar o olhar intrigado do mais velho com sua reação. — Eu gosto dele. — murmurou.

— Sei que sim. — falou sincero, feliz por ouvi-lo dizer aquilo com tanta convicção. — Mas ele pode acabar interpretando mal se continuar na defensiva. Tente se aproximar mais dele e se acostumar com contato físico. — levou uma mão a boca, abafando o riso por vê-lo corar intensamente. — Kihyunie não vai forçar nada, ele vai esperar o tempo que for necessário.

— Min, você não se incomoda? — perguntou de repente, temeroso. — Digo, nós três. Não acha-

— Não, não me incomodo. — o cortou, usando palavras firmes. — Eu tenho certeza do que sinto por vocês dois.

Hyungwon analisou o mais velho, procurando em sua expressão sinais que evidenciassem o contrário. O olhar do ômega a sua frente continuou firme diante do seu olhar avaliador, não estava nenhum pouco intimidado com isso, tão sério como nunca tinha visto antes.

Não achou nada.

O Lee falava a verdade.

— Min, — enfiou a mão no bolso, tirando o celular de lá. — lembra disso? — desbloqueou o smartphone e mostrou a ele.

— Claro que lembro. — sorriu quando viu o papel de parede. Sentiu-se tocado pelo mais novo ter colocado uma foto dos dois juntos como plano de fundo do aparelho. — Eu bati essa foto. Foi o teu o primeiro aniversário que comemoramos juntos, pouco tempo depois de fazer um ano que a gente virou amigos.

— Nessa época, meu pai começou a me agredir com mais frequência, e eu já não tinha minha mãe pra me defender, a depressão havia deixado ela na forma que está hoje. Eu odiava meu aniversário desde que me lembro porque, à medida que os anos passavam, meu pai se tornava mais e mais fanático, como se estivesse sofrendo uma lavagem cerebral contínua; dizia que eu era fruto do pecado e também o culpado por nossa família estar se destruindo. — confessou, ainda encarando a foto no celular. — Mas naquele dia foi diferente. — levantou o olhar e fitou Minhyuk, que o ouvia atento. — Eu passei a gostar do meu aniversário graças a você, hyung. Os meus problemas, eles... simplesmente sumiram naquela hora; pareciam não existir mais quando você apareceu na cozinha da tua casa, trazendo um bolo e cantando parabéns. — uma risada fraca abandonou seus lábios, e guardou o celular.

— Hyungie, por que está me dizendo isso de repente? — questionou um tanto curioso, embora tivesse uma leve suspeita.

— Não pergunte nada, só... me deixe terminar, ok? — pediu e segurou ambas as mãos dele.

— Tá bom. — retribuiu o aperto em suas palmas e sorriu, sinalizando para que continuasse.

— Eu me senti tão emocionado que acabei chorando. Lembro do teu desespero quando viu as minhas lágrimas, você quase derrubou no chão o bolo que segurava. — Minhyuk riu, visivelmente encabulado. — Eu chorei porque senti algo que não sentia há muito tempo: amor. Você estava sempre lá comigo; mesmo que eu não falasse nada do que tava acontecendo, você me ajudava; você cuidou de mim sem nunca me questionar nada, sem nunca me julgar; você foi o único que estendeu a mão pra mim quando eu não tinha mais esperanças... — respirou fundo. Não podia parar agora, precisava ir até o final. — Foi então que eu comecei a te contar aos poucos dos meus problemas. E, quando achei que ia rir de mim, você me abraçou e me consolou. — o sorriso não abandonava seus lábios, assim como o leve rubor em suas bochechas. — Disse que tinha um presente muito especial pra me dar naquele dia, lembra, Min? Daí você correu e pegou o celular, pedindo pra eu ficar preparado. E eu fiquei. Só não esperava por aquele beijo na bochecha e nem pela foto que você tirou no momento. — escondeu os olhos sob a franja por um instante, mas logo voltou a encará-lo. — Foi a primeira vez que senti aquilo. O meu coração batia tão rápido que parecia que tava passando mal, meu estomago dava mais voltas do que aquela vez que me levou pra andar de montanha russa, e era tão bom. Mas eu não sabia o que significava, tinha medo do que poderia ser, então decidi ignorar, dizendo que não era nada demais e que isso nunca voltaria a acontecer. E adivinha? Aconteceu de novo. E de novo, e de novo; cada vez mais e mais forte, que chegou a um ponto que não podia controlar. Eu realmente nunca pude controlar isso. — riu soprado, analisando o óbvio. — Eu achei que o que quer que fosse que eu tava sentindo era errado por causa do que o meu pai vivia dizendo. — entrelaçou os dedos nos deles, tomando uma longa respiração para dizer: — Mas agora entendo e sei o que é e não acho isso errado. E mesmo com tudo o que tá acontecendo, com o Kihyun e tudo mais, eu tenho certeza do que sinto. Min, eu te amo.

Minhyuk arregalou os olhos minimamente. Não conseguia falar nada, muito menos esboçar alguma expressão. Seu corpo inteiro havia travado enquanto seu cérebro tentava processar as palavras de Hyungwon, as palavras que tanto ansiou ouvir.

O Hyunginie, ele... ele realmente... disse isso?

— Min? — o castanho chamou, sentindo-se tenso com a falta de reação do outro.

— Repete. — o platinado pediu, parecendo voltar a si de repente.

— O que? — estreitou os olhos, confuso.

— Fala outra vez, por favor. — implorou baixinho.

— Eu te amo.

— De novo.

— Eu te amo. — disse em meio a risada. O sorriso do Lee estava aumentando cada vez mais. — Eu te amo, hyung.

— Hyungie, você realmente disse isso! — o mais velho agarrou a cintura do outro e o puxou para perto. Enlaçou o corpo do maior com os braços, deixando os troncos colados um no outro. — Eu também te amo, Chae Hyungwon. — proferiu enquanto unia suas testas.

Hyungwon apoiou as mãos nos ombros de Minhyuk e acabou a distância irritante que separava suas bocas. Os lábios se moviam lentamente, ambos não tinham motivos para pressa, a única coisa que importava no momento era se concentrarem um no outro. Os dois conseguiam sentir seus corações latejando rudemente em seus peitos, como se disputassem quem batia mais rápido. O castanho rodeou o pescoço do platinado com ambos braços ao passo que recebeu uma mordida nos lábios. Ele entreabriu os lábios e procurou a língua do Lee com urgência. Estava tão afoito quanto seu semelhante, extremamente necessitado, sedento por mais do que aquele osculo podia lhes proporcionar.

Naquele instante, o oxigênio era apenas um mero detalhe.

 

(...)

 

Changkyun jogou com toda a sua raiva a mochila no chão da entrada da casa. Se tinha quebrado ou não alguma coisa dentro dela, ele não sabia e muito menos ligava para esse detalhe insignificante. Ele se agachou, e a bolsa quase teve seu zíper estourado pela maneira brusca em que fora aberta. Os objetos dentro dela eram jogados de um lado para outro sem um pingo de cuidado enquanto o ômega procurava a chave de casa. Estava frustrado... não, estava puto da vida mesmo. Kihyun fizera o favor de sumir, o que obrigou o mais novo a voltar sozinho para casa. Não era ele quem vive insistindo para Changkyun não voltar só de qualquer lugar que fosse? O mais velho não havia dito que iria lhe buscar no horário combinado? Então, por que caralhos tinha sido abandonado pelo próprio irmão?

O menor juntou a porcaria da mochila do chão ao finalmente achar a merda da chave e destrancou a maldita fechadura. A porta se abriu e fechou num pequeno estrondo pela indelicadeza e mau humor do ômega que entrou em casa, pisando duro, soltando ar pelas ventas e espumando de ódio. Ah, Kihyun vai pagar por tê-lo deixado sozinho, se vai. Ele se agachou para desamarrar os cadarços e resmungou vários “Aish” até conseguir tirar os sapatos.

— Yoo Kihyun! Eu sei que você tá em casa! Os teus sapatos tão ali na entrada! — o tom alto beirava, mas não chegava a ser um grito. Ele caminhou pelo corredor da entrada e continuou a chamá-lo: — Vem aqui agora! Eu não acredito que tive que voltar sozinho pra casa! Queria ver se tivesse acontecido alguma coisa comigo, ia ser culpa tua, seu bosta! — e lá estava o famoso drama de Changkyun entrando em ação. — Anda, aparece logo, merda! Eu não tô brincand-

A mochila de Changkyun caiu no chão de novo, dessa vez não por “emputecimento” e, sim, pela cena digna de um drama acontecendo bem na sua frente.

 

O grito do Yoo mais novo chamou atenção dos três alfas na cozinha. Eles trocaram olhares entre si por um momento e correram em direção ao corredor, de onde viera o barulho. Ao chegarem lá, os três pararam de forma teatral no meio do corredor, Kihyun sorrindo de orelha a orelha e os pais dele com os queixos caídos e uma enorme interrogação em seus rostos por se depararem com dois ômegas se separando ofegantes de um beijo intenso ali.

— Eu não acredito no que está diante dos meus olhos! — Changkyun se apoiava na parede para evitar ir de encontro ao chão. — O meu otpzinho! Ai, socorro! Eu não tô nada bem! Que tiro na minha cara!

Hyungwon, mordendo os lábios inchados e avermelhados do beijo, apertou o enlaço ao redor dos ombros de Minhyuk e escondeu o rosto corado no pescoço do mesmo após ouvir as palavras do seu... bem, cunhado por assim dizer. O Lee riu da timidez do namorado ômega e depositou um beijo nas mechas castanhas, arranhando a cintura do mais alto em forma de carinho.

— Desculpa, senhores Yoo. Hyungie não sabe lidar com esse tipo de comentário. — Minhyuk estava radiante, o sorriso no rosto extremamente brilhante, e o leve rubor em suas bochechas deixavam-no com uma aura ainda mais adorável.

— Mas o que...? — Siwon e Donghae disseram simultaneamente, ainda sem entender nada.

— Won appa, Hae appa, — os alfas encararam o filho, que exibia um sorriso de idiota apaixonado e também corava quase imperceptivelmente como o platinado. — eles são meus namorados, Minhyuk e Hyungwon.

— O QUE VOCÊ DISSE, HYUNG?! ISSO É VERDADE?! — Kihyun meneou a cabeça positivamente, aproximando-se dos namorados e segurando o riso com o escândalo que o menor estava fazendo. Era bem provável que seus vizinhos também estivessem o escutando. — FINALMENTE! PARARAM DE CU DOCE! — o ômega Yoo tapou a boca ao perceber o que disse. — Desculpa. Acabou saindo. — desculpou-se ao receber os olhares repreensivos dos pais e sorriu amarelo.

— Quem te educou para você estar falando desse jeito, Kyunnie? — Siwon questionou, arqueando uma sobrancelha.

— O senhor, appa. — os irmãos Yoo responderam em uníssono.

— Isso é verdade, Won. Não tem como te defender. — Donghae riu da cara abismada do seu alfa. Suspirou e encarou os namorados de seu primogênito. — Sou Donghae. É um prazer conhecê-los, rapazes. — curvou-se com a postura digna de oficial. Quando ergueu o tronco, seus olhos cravaram em Hyungwon, analisando-o por inteiro.

— E eu, Siwon. — tratou de se apresentar para atrair atenção para si. Era o mais do que óbvio que o ômega de cabelo castanho sentiu-se um tanto intimidado com o olhar do outro alfa o avaliando. — E, Hyungwon, você é muito bem vindo para morar aqui.

— Wonnie hyung vai morar aqui? Por que? — Changkyun se aproximou de Minhyuk e sussurrou para o mesmo.

— O teu hyung te explica depois. — sussurrou de volta.

— Então, — Siwon pigarreou. — estamos indo fazer o jantar, e vocês chegaram na hora certa. Vão se juntar a nós?

— Adoraria ficar, senhor, mas não posso. — Minhyuk recusou de forma educada. — Meus pais são muito ocupados, quase não param em casa, e eles conseguiram uma folga hoje. Eles devem estar pra chegar, e eu ainda não fiz o jantar, então preciso ir. Obrigado pelo convite, senhores Yoo. — fez uma breve reverência. Em seguida, virou-se para os namorados. — Eu vou indo. — sem muito o que dizer, deu de ombros. — Tchau, Kihyunie. — segurou o rosto do alfa e o beijou brevemente, não ligando por estar fazendo isso na frente da família dele. — Tchau, Hyunginie. — e fez o mesmo com o ômega. — Me liga mais tarde, sim? — murmurou essa parte, ganhando um aceno positivo como resposta. Rumou até porta, não se esquecendo de se despedir de Changkyun ao passar por ele, calçou seus sapatos e foi embora.

— Vocês dois. — o Yoo mais novo apontou de forma acusativa para o irmão e depois para o namorado do mesmo. — Acho bom me contarem como foi que isso aconteceu. Anda, vamos. — segurou ambos pelo pulso e os arrastou consigo em direção a cozinha.

— Eles são muito parecidos. — Donghae falou após ter ficado sozinho no corredor com o marido.

— Não de aparência, mas de jeito. — Siwon complementou, e o outro concordou com seu ponto. — Ele lembra muito o Hyuk quando o conhecemos.

— Chega a ser irônico. — o alfa mais baixo riu, o ar melancólico ainda pairando sobre si. — Agora, vamos aproveitar a janta com nossos filhotes e um dos nossos genros antes de irmos trabalhar. — arrancou um riso do mais alto, e ambos foram de encontro aos mais novos.

A cozinha já exalava o cheiro bom de comida assim que os alfas mais velhos adentraram o cômodo. Os mais novos andavam de lado para outro, preocupados em preparar o jantar, enquanto os senhores Yoo, já sentados à mesa, os observavam. Hyungwon era quem estava tomando conta de quase tudo, apesar dos inúmeros pedidos de Kihyun para que ele não se incomodasse e apenas esperasse. No final, os irmãos Yoo acabaram por acatar os pedidos do Chae, que se sentiu na obrigação de fazer a comida pois precisava ajudar em algo agora que moraria com eles.

O jantar foi posto à mesa. Os pratos típicos encheram os olhares de todos, fazendo-os salivar de antecipação. Os menores se juntaram aos adultos, Changkyun sentado ao lado dos pais e Hyungwon e Kihyun, de frente para eles, restando as pontas e um lugar vago ao lado do casal. Os cinco comiam calma e silenciosamente, desfrutando da comida feita pelo Chae, falando somente quando precisavam passar um prato para outro. O ômega mais velho, vez ou outra, ficava a observar os pais do namorado, notando que Donghae o encarava a maior parte do tempo com o olhar perdido e até mesmo abatido, preso em pensamentos que sequer podia imaginar quais eram. O olhar dele não desgrudava de si, e Hyungwon desviava a atenção para seu prato, perguntando-se o porquê daquilo.

— Wonnie hyung, onde você vai dormir? — Changkyun resolveu quebrar o silêncio.

— Não sei, Kyun.

— Pode dormir comigo se quiser.

— Ele vai ficar no meu quarto, Kyunnie. — Kihyun olhou para o irmão e depois para o namorado, sorrindo para acalmar o último. — Depois, ajude a gente a levar a coisas do Hyunginie pra lá, por favor.

— Ok, hyung. — concordou meio emburrado.

— Hyunginie. — aproximou a boca do ouvido dele. Um sorriso se formou em seus lábios ao notar que o mais alto se arrepiou com a proximidade. — Meus pais são peritos criminais, então não se assuste se eles puxarem uma conversa e começarem a te interrogar, ok?

— Então, Hyungwon, — e, como se fosse planejado, Siwon o chamou e Kihyun se afastou do Chae. — quanto anos tem?

— Dezesseis. — respondeu curto.

— Ora, um ano mais novo que Kihyun. — o pai disse para si mesmo.

— É a mesma idade do Honey hyung. — o ômega mais novo comentou, se intrometendo na conversa. — Mas por que você estuda na mesma sala que Kihyun hyung? Não entendi.

— Eu pulei uma série, Kyun. — explicou a ele.

— Certamente, é um rapaz muito inteligente para estar adiantado. — Siwon voltou a falar. — Qual teu interesse pelo meu filho? — o Chae engasgou com a comida ao ouvir isso. O alfa mais baixo acertou uma tapa atrás da cabeça do marido. — Ai! Por que fez isso, Hae?

— É para conhecer o garoto e não assustá-lo. Não faça esse tipo de pergunta. — Donghae limpou a boca com o guardanapo, agindo como se seu ato anterior não houvesse acontecido. — Sinto muito, rapaz. Won às vezes não consegue fingir ser normal. — ouviu um “Ei!” ao seu lado, mas ignorou. — Vamos indo, Won. Outra hora, você continua a interrogá-lo. — levantou-se e retirou a louça da mesa, colocando-a na pia.

— Ok. Vou ligar o carro. — o outro fez o mesmo, pegou um dos blazers que estavam na bancada e o vestiu, cobrindo o coldre subaxilar. — Até logo, filhotes. — beijou o topo da cabeça de seus filhos. — Até logo, Hyungwon. — bagunçou o cabelo do ômega e saiu com a chave do carro em mãos.

— A comida estava deliciosa. Cozinha muito bem, Hyungwon. — Donghae o elogiou enquanto vestia seu blazer. Também beijou o topo da cabeça dos filhos e parou ao lado de Hyungwon. Sorriu internamente ao vê-lo buscar a mão de Kihyun por ter se sentido um pouco amedrontado com sua aproximação. — Se precisar de alguma coisa, é só falar. — ofereceu um sorriso a ele, a fim de mostrá-lo que era inofensivo. — Bem vindo a família. — apertou seu ombro e saiu do cômodo.

Hyungwon, ainda meio desnorteado, virou-se para Kihyun, e este apertou sua mão, sorrindo em seguida. Os três terminaram de comer e deixaram os pratos e as panelas sujas na pia. Foram em direção a sala, onde pegaram as caixas e subiram uma a uma para o quarto do alfa.

— Essa é a última. — o alfa colocou a caixa no chão. — Vou lavar a louça e já volto pra ajudar a desempacotar as coisas. — avisou ao Chae.

— Não, hyung. Pode deixar a louça suja comigo. — Changkyun se ofereceu, ganhando um olhar confuso do irmão. — Só ajude o Wonnie a se acomodar. — piscou, fazendo o Yoo corar minimamente com seu tom insinuativo.

— Onde posso deixar minhas roupas? — Hyungwon perguntou quase num sussurro, brincando com a barra da camisa. Sem o pequeno ômega ali, um leve nervosismo o abateu por estar sozinho com Kihyun.

— Meu guarda roupa é grande, tem espaço de sobra. — caminhou até o móvel e abriu uma de suas portas, relvando um lado inteiramente vazio, a não ser por uma pequena caixa guardada lá dentro.

— O que tem aqui? — ao ter se aproximado dele, perguntou curioso, pegando a caixa. O objeto feito de metal era comum, todo decorado por colagens, dando um ar mais bonito a ele.

— Vá em frente. Pode abrir. — o incentivou, curioso para ver a reação dele.

O castanho tirou a tampa e a colocou onde a caixa estava anteriormente, relevando uma pequena pilha de fotografias que estavam guardadas dentro dela. Retirou-as de lá, olhando uma a uma. Algumas eram registros bonitos de paisagens, na maioria delas apareciam Hoseok e Changkyun juntos ou separados, assim como os pais dos irmãos Yoo, em poucas Kihyun se fazia presente e, quando estava, o Shin e o Yoo mais novo apareciam junto dele.

— O que achou? — o alfa questionou.

— São lindas, Kihyun. Quem foi que tirou? — falou, ainda sem tirar os olhos das fotos.

— Eu. — riu soprado. — É meio que um hobby. Só não são tão bonitas quanto as do Hae appa.

— Tá brincando? Elas são incríveis! — se virou para encará-lo, deparando-se com o enorme sorriso nos lábios do Yoo. — Q-quer dizer, você é um bom fotógrafo. — escondeu os olhos sob a franja e remexeu as fotos em suas mãos, no intuito de disfarçar as bochechas coradas. Enquanto fazia isso, uma fotografia chamou sua atenção. Parecia ainda recente, a paisagem era de inverno e todos os membros da família Yoo estavam nela. Curiosamente, havia uma outra pessoa também, cujo o rosto o Chae não reconheceu.

— Obrigado. — Hyungwon desviou sua atenção da foto quando Kihyun falou. — Vamos guardar tuas coisas.

Os dois trataram de começar a arrumação. Estavam tão absortos na tarefa que sequer falavam algo, concentrados demais em fazer aquilo para ver se terminavam de ajeitar todas coisas do ômega. Estando nesse ritmo e como não haviam trazido todos os pertences do Chae, desempacotaram e guardaram tudo nas gavetas e cruzetas em menos de uma hora.

Terminada a arrumação, ambos pegaram suas respectivas toalhas e foram tomar banho. Hyungwon voltou ao quarto, vestindo uma calça moletom e uma camisa folgada, e o encontrou vazio. O barulho de chuveiro aberto escapava da porta próxima a escrivaninha branca de canto larga, onde era o banheiro. O Chae sentou na cama, esperando Kihyun. A porta se abriu, revelando o Yoo vestido com roupas semelhantes às do ômega, esfregando a toalha no cabelo molhado e usando o secador após isso.

— Eu não tenho um colchão guardado. — Kihyun desligou a luz do banheiro e saiu de lá, indo em direção a cama enquanto falava. — Mas pode ficar na minha cama, não tem problema. — esboçou um meio sorriso ao vê-lo se acomodar timidamente no colchão. Apagou as luzes do quarto e a luminária disposta na cômoda ao lado da cama, deixando o quarto alumiado somente pela luz azulada do luar que entrava pela janela. — Se precisar de alguma coisa, é só me chamar. — afagou as madeixas castanhas do mais alto e rumou até a porta.

Kihyunie.

Kihyun largou a maçaneta e olhou por cima do ombro.

— O que foi? — caminhou até a cama outra vez. Ele se agachou ao lado dela, pôs a mão sobre a de Hyungwon e tombou a cabeça levemente para a direita, oferecendo um singelo sorriso para confortá-lo. O castanho mordia o lábio como se estivesse passando por um dilema. — Algum problema?

— Aonde vai?

— Pra sala ou pro quarto do Kyunnie, não sei.

— O quarto é teu. Eu não posso te tirar daqui.

— Ele é nosso, Hyunginie. — usou o polegar para acariciar a mão do ômega. — Não se preocupa com isso. Eu ainda não sou totalmente confiável pra você, então talvez seja um pouco desconfortável se a gente ficasse na mesma cama.

— E-eu... eu não... — começou a entrar em desespero ao vê-lo se levantar.

— Tudo bem, entendo tua insegurança. Não faz mal.

— Não. — Hyungwon agarrou a mão de Kihyun antes que ele se afastasse. — Tá escuro. Não me deixa sozinho, Kihyunie, por favor. — pediu assustado.

Os braços do alfa o rodearam num abraço protetor. O medo foi se esvaindo aos poucos, logo as más lembranças do quarto escuro sumiram, restando assim apenas a sensação gostosa e quente do aconchego do corpo dele junto ao seu. As mãos se moveram automaticamente e foram até as costas do mais velho, agarrando a camisa do outro, puxando-o mais para perto. Deitou a cabeça no ombro dele, escondendo o rosto na curvatura do pescoço alheio, imaginando se era capaz que o Yoo sentisse as batidas descompassadas de seu coração.

Os corpos foram separados minimamente, e o ômega teve seu rosto levantado, ficando cara a cara com o namorado. Apesar da baixa luminosidade, ambos conseguiram capturar o olhar um do outro, trazendo uma profunda troca de olhares que nada no momento era capaz de quebrar. O de cabelo rosa aproximou o rosto e o castanho cerrou as pálpebras fortemente, abaixando um pouco a cabeça numa atitude evasiva. O mais velho ficou encarando de perto o mais novo de ombros encolhidos, como se ele temesse qualquer ação sua, e direcionou seus lábios para cima, deixando um longo selar na franja dele.

— Desculpe te fazer esperar. — disse depois de algum tempo, voltando a abrir os olhos.

— Não se desculpe. — fez uma breve carícia no rosto dele. — Eu não vou fazer nada que você não queira, só vou deitar do teu lado.

— Espera. — segurou o rosto do Yoo entre suas mãos. Ficou a encará-lo por alguns segundos e respirou fundo, tomando coragem e enfim dando-lhe deu um beijo singelo. — Boa noite, Kihyunie. — sussurrou rente a boca do outro, sentindo-se um tanto constrangido com sua ação anterior.

— Boa noite, Hyunginie. — sorriu e retribuiu o beijo antes de deitar.

Hyungwon ficou estático olhando para Kihyun ao seu lado, que simplesmente fechou os olhos e passou a ressonar calmamente após algum tempo. Uma singela pintinha que nunca havia reparado até o momento, próxima ao olho esquerdo, estava evidente no semblante sereno, a franja rosada caindo sobre os olhos dele que dormia com a boca semiaberta. Ele parecia tão em paz... e pensar que agora ele era seu namorado só fazia sorrir como o apaixonado que era.

Levantou-se com cuidado para não acordá-lo e pegou o celular para então voltar a deitar. A barra de notificações mostrava algumas mensagens não lidas mandadas por Minhyuk há pouco tempo atrás. Foi no contato do platinado e ligou, ouvindo a voz empolgada dele depois do primeiro toque.

Por um segundo, o castanho jurou que havia voltado no tempo, quando fazia suas ligações clandestinas no meio da madrugada para o platinado, mesmo com o risco de ser descoberto pelo pai. Os dois continuavam como sempre, conversando sobre coisas aleatórias como antigamente, porém era notável no tom de ambos o quanto estavam relaxados como nunca estiveram antes. Isso se dava pelo fato de que não precisavam mais temer a possibilidade de serem descobertos pois sabiam que o perigo não se fazia presente.

— E então? Como foi? O que eles acharam de ti? O que achou deles? — Minhyuk, como de costume, não dava espaço para suas perguntas afobadas.

— Ah, não sei, hyung... — Hyungwon tomava cuidado com o volume de sua voz para não correr o risco de acordar Kihyun. Estava deitado de lado na cama, de costas para o alfa. — Foi meio... estranho? — ouviu uma risada na outra linha. — Donghae ficou me olhando o tempo inteiro, não sei porque, e Siwon começou a me fazer perguntas. Eles pareciam meio assustadores, mas são super de boa. Acho que gostaram de mim.

— Viu? Eu disse que não precisava se preocupar. — conseguia imaginar o mais velho trocando de posição em sua cama, não parando quieto um segundo. — É coisa de pais, vai por mim. Eles só queriam passar uma imagem séria, ainda mais por serem dois alfas. Mas confesso que fiquei um pouco com medo quando vi aquelas armas.

— Kihyunie me disse que são peritos criminais.

— “Kihyunie”, é? — Hyungwon corou com o tom do outro. — Fico feliz de te ouvir chamando nosso namorado assim. — riu baixo. — Chego a me sentir ainda mais aliviado por estar agora na casa de policiais. Está mais seguro ainda.

— É, eu me sinto seguro... — disse mais para si mesmo do que para o outro.

— Eun... hyuk... — o Chae ouviu atrás de si.

— Hyunginie, o que foi isso? — Minhyuk perguntou preocupado na outra linha. — É o Kihyunie?

— Eunhyuk, não... — a voz do alfa soava como uma suplica. O ômega mais novo conseguia sentir o desespero palpável em suas palavras.

— Espera um pouco, hyung. — o castanho girou o pescoço e se deparou com Kihyun falando dormindo.

— Não, não, Eunhyuk... — o de cabelo rosa começou a se remexer na cama, o cenho franzido numa expressão angustiante, a cabeça balançando de um lado para outro cada vez mais rápido. — Não, não! Eunhyuk, Eunhyuk! — o tom estava quase beirando a um grito. — Eunhyuk!

— Kihyunie, Kihyunie, Kihyunie! — Hyungwon largou o celular e segurou o alfa pelos braços. — É só um pesadelo, Kihyunie! Acorda!

Os olhos do alfa se abriram de imediato, conseguindo despertar com a voz do ômega.

Hyungwon o encarava com os orbes arregalados num misto de susto e medo, a preocupação visível em todos os traços delicados. O peito de Kihyun subia e descia com a respiração desregulada, o coração palpitava como um louco, a face completamente banhada pelas lágrimas, que saíram enquanto sonhava, continuando a escorrerem grossas por seu rosto. Ele puxou o mais novo para um abraço, apertando o enlaço no instante seguinte.

Hyungwon estava surpreso. Kihyun parecia tão indefeso naquela condição, chegando a estar tremendo durante o abraço, e o ômega não sabia exatamente como deveria agir. A cada soluço que o Yoo soltava, mais o coração do Chae se partia. Seu lobo interior estava absurdamente agitado com o estado atual do namorado; queria protegê-lo de alguma forma ou, no mínimo, acalmá-lo. Jogou todas as suas inseguranças e medos para o ar e deixou que seus instintos o guiassem: libertou os braços do aperto ao redor corpo sem precisar acabar com o abraço e segurou a cabeça do alfa com um cuidado que beirava a devoção, assim direcionando-a para a curvatura de seu pescoço. Ele afagou os fios rosados do mais velho enquanto deixava que ele sentisse sua fragrância de ômega para se acalmar.

O Yoo deslizou o nariz no pescoço do Chae. Inspirou fundo fechando os olhos, o perfume natural e deliciosamente adocicado de seu ômega impregnou suas narinas de forma intensa. O ritmo cardíaco já voltava a se estabilizar, tal como sua respiração, mas as mãos trêmulas agarravam a camisa de Hyungwon com força, num pedido mudo para que não se afastasse.

— Foi só um pesadelo, Kihyunie. — Hyungwon afastou um pouco o torso, apoiando o peso do corpo sobre um dos braços. Com a mão livre, limpou as lágrimas do alfa. — Tá tudo bem agora?

— Uhum. — ele meneou a cabeça para confirmar. Virou o rosto e beijou a palma da mão do ômega, que acabou corando. Ele colocou a mão sobre a dele e fez um carinho com o polegar. — Desculpa por ter te acordado e pelo susto também.

— Você não me acordou. — o Chae estava surpreso por estar conseguindo manter firme o contato visual entre eles e não ter gaguejado ainda, apesar de querer se esconder do alfa de tanta vergonha que estava sentindo devido a forma que eles estavam na cama (o ômega encaixado entre as pernas de Kihyun, estando de bruços sobre o mesmo). — Você... — mordeu o lábio inferior. Isso não é hora pra ser ciumento, Chae Hyungwon, repreendeu-se mentalmente. — Você chamou alguém enquanto dormia, isso antes de começar a se debater. Era como se não conseguisse alcançá-lo.

— Ah, sério? — Hyungwon achou uma graça ver Kihyun corar de leve e desviar o olhar por sentir-se envergonhado. — Faz tempo que não tenho esse pesadelo. Acho que tudo o que aconteceu hoje me fez sonhar com isso.

— Faz tempo? Então, não é primeira vez? — o ômega pensou alto, fazendo o alfa voltar a encará-lo. — É por causa do que teu pai te disse quando conversaram? Ele ficou estranho e muito aéreo durante o jantar depois de saber que vim morar com vocês. — ele escondeu os olhos sob a franja.

— Não, não, não. — ele acariciou o rosto do namorado e deixou um selar em sua bochecha. O que menos queria agora era que Hyungwon se sentisse um intruso. — Não é tua culpa, Hyunginie. É que... é uma longa — Kihyun respirou fundo. — e delicada estória. Eu não quero te estressar com essas coisas, tá tarde, e você precisa descansar.

— Mas eu quero ouvir.

O alfa arregalou os olhos minimamente. O olhar do mais novo exibia um brilho diferente, algo intenso e ao mesmo tempo singelo, uma óbvia curiosidade gerada pela preocupação, mas que atraía o alfa e que o fazia se sentir bem, seguro, amado. Eles eram parceiros agora, não eram? Nada mais justo do que conhecerem mais um sobre o outro.

— Tudo bem. Vou tentar resumir, mas não vou te esconder nada. — Kihyun umedeceu os lábios antes de começar: — Meus pais passaram por muita coisa antes de pensarem em ter filhotes. Primeiramente, Donghae e Siwon se conheceram no início da carreira profissional deles. Eu te contei que eles são peritos criminais, não é? Então, uma vez eles contaram pro Kyunnie e pra mim como o preconceito na época deles era pior do que atualmente. Eles eram um casal de alfas, e a sociedade não aceitava essa ideia de jeito nenhum, condenava isso com uso da violência, tanto que foram obrigados a ocultar isso de todos. No trabalho, eram poucos que não ligavam para o fato de Siwon e Donghae estarem em um relacionamento, com planos de marcarem um ao outro, mas ainda assim eram vítimas de constantes frases ofensivas. Eles aguentavam como podiam, mas sabe como simples palavras podem fazer um grande estrago, não é? — Hyungwon concordou com a pergunta retorica. — Mas, então, eles ficaram encarregados de um caso. Uma testemunha anônima chegou na delegacia num dia qualquer, falando sobre uma suspeita de violência doméstica contra um ômega. O ômega violentado não falava nada por medo do agressor descobrir e ir atrás dele quando soubesse. Ele não interagia com ninguém, mas estabeleceu um vínculo com Donghae e Siwon que estavam tomando conta dele. Depois de algumas semanas de investigação, conseguiram todas as provas que incriminaram o principal suspeito: o pai do ômega.

Hyungwon limpou a lágrima solitária que escorreu do olho esquerdo de Kihyun. Não falava nada, apenas ouvia tudo atentamente deixando que o alfa desabafasse.

— O ômega não tinha parentes vivos e o psicológico estava muito abalado. Donghae e Siwon não queriam deixá-lo em qualquer lugar, ele poderia tentar suicídio de novo como tentou durante as investigações. Enfim, ele foi mandado para uma clínica psiquiátrica pra se tratar, e Siwon e Donghae visitavam ele todos os dias. Eles não conseguiam se afastar dele, sabe? Os lobos interiores deles queriam protegê-lo a todo custo, e um lobo nunca brincaria com algo tão sério. No dia da alta dele, eles estavam lá e foi a primeira vez que o viram sorrir de verdade. Siwon e Donghae foram sua única luz em meio de tantas trevas; ele se sentia bem com os alfas, mas não entendia o porquê de eles estarem sempre lá pra ele, afinal já estavam num relacionamento de anos, já tinham planos para se marcar e essas coisas. Mas, pra surpresa de Eunhyuk, ambos estavam apaixonados por ele e estavam dispostos a fazer de tudo para protegê-lo. Ele ficou tão feliz, pois correspondia aquele sentimento. Assim a dupla virou um trio, e, não muito tempo depois, eu nasci. — riu sem graça, e Hyungwon acompanhou sua risada. — Pulei a parte de quando o Eun omma entrou pra polícia também com o Hae appa e o Won appa. Ele teve que pedir licença durante a gravidez... duas vezes, mas voltou a trabalhar, agora, com expedientes reduzidos. Eunhyuk é um verdadeiro exemplo de superação e de força, ele é o cara mais forte que já conheci. O Kyunnie quer ser igual ao omma, quer mostrar que só porque se é um ômega não significa que é fraco. Eu digo o mesmo pra você, Hyunginie. — Kihyun sorriu. Hyungwon estava corando bastante hoje. — Só que... — o sorriso do alfa sumiu e foi substituído por uma expressão melancólica. — O Eun omma... ele... — deu uma pausa para respirar fundo. A vontade de chorar era imensa, mas não queria que Hyungwon o visse chorando de novo. — Aquele monstro (porque nunca vou chamá-lo de avô), de algum jeito, escapou da prisão e ficou foragido por algumas semanas. Ele pirou dentro da cadeia, se tornou um perigo tanto pro companheiro de cela quanto pra sociedade. Eunhyuk começou a surtar quando soube, era como se ele estivesse voltado a aquela época sombria. Colocou tanto eu quanto o Kyunnie em aulas intensas de defesa pessoal e investigava o paradeiro do pai. Enquanto fazia isso, ele escoltava Kyunnie e eu de longe quando nós saímos pra qualquer lugar. Graças aos Deuses que ele fazia isso! Por que se não... Bem, aquele velho louco abordou o Seok hyung, o Kyunnie e eu quando voltávamos da escola um dia, mas até hoje não faço ideia de como ele sabia que nós estudávamos lá. Ele... tinha um revolver... eu achei que ia morrer naquele dia. — outra pausa, dessa vez mais longa. — Um lobo distingue outro lobo que pertence a sua matilha pelo cheiro, foi dessa forma que nos reconheceu... assim que ele nos viu na rua, começou a gritar (e me lembro das palavras de puro escárnio e insanidade): “Então, esses são os meus netos. O vovô trouxe um presente pra vocês” e apontou a arma pra gente. Eu não sabia o que fazer, meu irmão e eu estávamos em perigo e o Seok, paralisado do meu lado. O Kyunnie correu pra procurar o carro do Eunhyuk assim que viu a pistola e me joguei encima do Seok quando o louco disparou. A marca do tiro continua doendo com a lembrança desse dia. — ele tirou a perna de baixo do lençol e levantou o pano da calça moletom que vestia, mostrando a Hyungwon a cicatriz da bala em sua coxa direita. — Eu tava pra desmaiar com tanta dor e... não lembro mais nada a partir daí. O médico disse que meu subconsciente ocultou essa memória traumática. Enfim, quando acordei no hospital, vi meu irmão chorando no colo do Seok hyung e Donghae e Siwon de bruços no leito, dormindo de tão cansados. O Kyunnie subiu desesperado na cama quando me viu acordado e me abraçou forte dizendo que tinha medo que eu tivesse morrido. Isso acordou meus pais e logo enfermeiros surgiram do nada pra me examinar. Mas... eu não via o Eunhyuk em lugar nenhum. Eu me irritei com tanto médico encima de mim e comecei a perguntar sobre o Eunhyuk. Eu só queria vê-lo, saber se ele tava bem. Eu comecei a gritar por ele e quase fui sedado por estar muito agitado. Pediam pra eu me acalmar, que eu não deveria me estressar e essas coisas. Todos ali desviaram o olhar e ficaram calados diante da minha insistência. O Kyunnie voltou a chorar pedindo pra eu parar com isso, mas eu não liguei, continuei gritando pelo Eunhyuk. O Kyunnie se irritou e gritou comigo, dizendo pra eu parar de chamá-lo pois ele não ia aparecer já que estava morto. — a voz do alfa fraquejou, mas ele engoliu o choro. — Morto numa troca de tiros com o pai dele... Eun omma morreu protegendo a mim que estava inconsciente nos braços do Seok e ainda levou o pai junto com ele. A última coisa que me lembro foi o barulho das máquinas que mediam a minha frequência cardíaca aumentar e tudo escureceu.

Hyungwon estava boquiaberto com a estória contada. Tentou falar algo, mas Kihyun o interrompeu:

— Não precisa se desculpar. Eu te contei porque quis. — fungou. Falar do fantasma de quatro anos atrás, relevar sobre seu TEPT, mesmo que indiretamente, e mostrar aquele lado extremamente frágil era deveras desconfortante para si, mas sabia que, uma hora ou outra, isso viria à tona. — Os appas... Eu não entrei em detalhes sobre o motivo de você ter vindo pra cá, mas eles sacaram com o pouco que eu disse. Eles... se viram em nós três agora, sabe? Como se o ciclo estivesse se iniciando de novo, mas comigo no lugar deles dessa vez. — ele colocou a mão na nuca de Hyungwon e o puxou, descansando a testa dele contra a sua. Fechou os olhos por um instante, e, quando os abriu novamente, a coloração vermelha tingiu suas írises. O ômega estava hipnotizado vendo a imensidão carmesim olhos do seu alfa. — Eu farei a mesma coisa por você e pelo Min se necessário, Hyunginie. O lobo interior não mente ou se engana, ele sabe o quer, e o meu lobo quer protegê-los. Certo, Min? — Hyungwon se lembrou, de repente, de que estava falando com Minhyuk no celular antes de Kihyun ser acordado. — Aigo... Quem deveria estar chorando era eu e não você, Min. — o aparelho podia estar um pouco distante, mas, como um bom alfa, conseguia escutar de longe o som de choro vindo da outra linha. Ele ajeitou Hyungwon encima de si, deitando-o em seu peito e afagando suas madeixas após isso, e pegou o celular esquecido, colocando na opção viva voz. — Escutou toda a estória?

— S-sim. — o tom embargado saiu dos altos falantes.

— Pelo menos, não vou precisar ter que contar isso de novo. — suspirou alto.

Após a atmosfera de tristeza se esvair dali, o alfa se desatou a falar sobre Eunhyuk. Seus ômegas não precisavam se esforçar para notar o quanto o Yoo amava seu omma enquanto ouviam o outro lhes relatar alguns episódios de sua infância, era mais do que óbvio que o ômega falecido era praticamente venerado por seu filhote. Eunhyuk, apesar de não estar mais com seus maridos e filhotes, era alguém extremamente presente e amado pela família que construiu.

— O nome dele antes era Hyukjae, — Kihyun contava de olhos fechados, segurando o ômega em seus braços. — mas ele quis mudar quando saiu da clínica. Me disse uma vez que fez isso pra poder renascer, simbolizar sua nova chance de viver. Os appas sugeriram Eunhyuk, por “Eun” significar “prata”. Falavam que ele era joia mais preciosa deles, mas Eun omma insistia em dizer que as joias de verdade eram os filhotes que teve com seus alfas.

— Awn, que meigo, Kihyunie. — Minhyuk falou, embasbacado. — Ele deveria ser um amor de pessoa.

— Era sim. — o alfa sorriu minimamente, não vendo que Hyungwon também sorriu. — Eu queria... que vocês... tivessem conhecido ele. — a voz foi baixando até sumir.

— Ele dormiu, Min. — sussurrou para o outro e colocou o celular contra a orelha após tirar da viva voz.

— Eu não imaginava que o Kihyunie tinha passado por tudo isso... — disse o platinado.

— Nem eu. — respondeu em tom pensativo. — Eu estou me sentindo um incomodo aqui, Min. Depois de saber disso, o Kihyun e sua família não deviam ter que se preocupar com mais problemas. — concluiu.

— Você não é incomodo pra ninguém. Se ele te chamou pra ficar aí e os pais dele concordaram, é óbvio que não é um problema. — o ômega não gostou do que o namorado disse, afinal, o alfa já havia deixado claro que protegeria ambos. — Pare de pensar essas besteiras.

— Mas... — tentou falar, mas foi interrompido.

— “Mas” nada. Ou você está desacreditando no que nosso alfa disse? — questionou.

— Não é isso, Min. É só que... É estranho. — disse.

— Tudo bem, é tudo muito novo. Mas você vai se acostumar, por nós três e, principalmente, por você mesmo. — falou, manso. — Acho melhor desligar. Foram emoções demais por hoje. — o Chae podia não estar o vendo, mas tinha certeza que o platinado estava sorrindo. — Boa noite.

— Boa noite, Min. — desejou baixinho.

— Hyunginie? — o Lee o impediu de desligar.

— Sim?

— Eu te amo.

Hyungwon escondeu o rosto no peito do alfa, num ato inconsciente de timidez.

— Eu também te amo.


Notas Finais


*pingente da gargantilha que o Jooheon deu pro Changkyun: http://www.wish.com/c/57ec62188277f04839d229f3
o Changkyun é nós na vida quando o otp acontece
o próximo vai ser especial
não temos mais dia certo pra postar (motivo: estamos estudando)
beijo na banda esquerda da bunda
não desiste de blue moon
tchau


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