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História Blue Moon (Em Hiatus) - Lay me down - PART 3


Escrita por: kyyyaxoxo

Notas do Autor


Olar
Desculpem a demora, mas só deu pra vir agora.
Lembrando que essa é a última parte do passado dos Yoo.
Ah, peguem os fones de ouvido e leiam o cap escutando Broken Heart do Monsta.
Apenas isso.
Boa leitura!

Capítulo 24 - Lay me down - PART 3


Fanfic / Fanfiction Blue Moon (Em Hiatus) - Lay me down - PART 3

Um programa de variedade passava na tevê. Era um fim de tarde no qual o frio, lá fora, castigava, obrigando todos a ligarem os aquecedores. Ainda assim, era necessário um longo banho quente, além do uso de roupas mais pesadas até mesmo se estivesse dentro de casa. Para Eunhyuk, isso não era um problema. Estava confortável em casa, vestido com roupas quentinhas, sem trabalhos da universidade ou provas para se preocupar. Então, aproveitava a programação televisiva, sentado com as costas rentes ao sofá da sala, abraçando o corpo de Donghae, que praticamente estava deitado entre suas pernas, para trocar calor e fazer cafuné. Faltava Siwon ali, mas esse saiu há alguns minutos para comprar o jantar.

Ter um dia agradável como esse parecia algo impossível para si nos anos em que morava em sua antiga casa. Até mesmo nos meses em que passou na clínica, onde nada demais acontecia consigo, não podia chamá-los de outra coisa senão pacatos, porém, sufocantes, não sendo à toa que ansiou sua saída daquele lugar a cada segundo que passava.

O dia da sua alta, há mais ou menos um mês, veio com um grande alívio. Lembrava-se de estar arrumando seus poucos pertences numa mala, os pensamentos vagando no pedido de namoro dos alfas após sua estranha declaração. Tudo ia bem entre eles, e ter sua liberdade de volta tornaria as coisas ainda melhores.

Seus devaneios foram interrompidos com a entrada de pessoas no quarto. Kangin estava acompanhado dos dois policiais sorrindo o mais largo que os lábios permitiam e segurou-se para não rir com o entusiasmo dos mesmos ao falarem que moraria com eles a partir de agora. Assustou-se a primeiro momento, mas, claro, aceitou a proposta. Enquanto Kangin lhe informava sobre a situação da empresa, e apenas abanava a cabeça em resposta, a porta tornou a se abrir, revelando o médico e o interno que eram seus responsáveis.

O chinês, que considerava um amigo, sorriu para si, e devolveu o sorriso. Despedidas e mais despedidas eram feitas, e não sabia se estava vendo errado, mas parecia que Siwon e Donghae estavam enciumados pelo modo que era tratado por Zhoumi, o interno. Viu Siwon sair do quarto após dizer que esperaria no carro, alegando sobre o quarto estar muito lotado. Não entendeu o porquê daquilo, então simplesmente deu de ombros, saindo do quarto com Donghae e os demais minutos depois. Enquanto Zhoumi se comprometia em visitá-lo na casa de seus alfas, do seu lado, Donghae apenas ouvia tudo e tinha a atenção em algo atrás de si. Perguntou a ele e ganhou um sorriso, não sendo respondido, então voltou a falar com seu mais novo amigo. O que não sabia era que o Lee, curioso, observava um garoto, que aparentava ter quinze ou dezesseis anos e estar chateado com algo, olhando com raiva para o interno e com mais ódio para ex paciente desse.

Donghae, sorrindo, prontificou-se para pegar sua pequena mala e levá-la até o carro. Seus argumentos não foram suficientes para convencê-lo de que podia fazer isso, então suspirou e deixou que ele levasse. Siwon estava de cara amarrada quando entraram, não sabia por qual motivo. Observou, quieto, Donghae ficar perturbando-o sobre ter ciúmes. Os olhares que o Choi lançava para o Lee, que falava sobre ter pena dos filhotes deles por conta disso, pareciam suspeitos, mas, confessava, era engraçado ver o moreno responder irritado.

Naquele mesmo dia, antes de ir para sua nova casa, foi levado ao fórum. Kangin havia providenciado os papéis para a troca de seu nome e só precisou finalizar o processo. Son Hyukjae não existia mais, era agora Yoo Eunhyuk pura e simplesmente. De certa forma, viu como se sua verdadeira vida tivesse iniciado ao terminar de assinar os formulários. Como já estava cumprindo com sua “lista do que fazer”, pediu para que fosse até universidade para providenciar o quanto antes sua volta aos estudos.

Poder chamar também a casa dos alfas de sua era algo reconfortante, fazia um sorriso involuntário brotar em seu rosto. Insistiu para ficar no quarto de hóspedes, e os mais velhos aceitaram, mesmo a contragosto. Era óbvio que não queriam que ficasse sozinho, entretanto entenderam que queria e precisava de privacidade. Por mais que estivesse habituado a tê-los por perto, era muito cedo para tentar algo, ainda sentia-se um tanto envergonhado. Tudo foi uma questão de tempo: conforme os meses se arrastavam, se soltava e se aproximava mais da dupla de peritos. Apesar de eles estarem grande parte do tempo fora de casa no trabalho, ficavam juntos sempre que possível, e os alfas até podiam não saber, mas já havia notado que, quando chegavam no meio da madrugada, sempre iam até seu quarto para dar-lhe um beijo e desejar boa noite.

Houve, sim, pequenos transtornos entre eles. Motivo? Cio. Assim que os indícios de seu cio começaram a se manifestar, implorou para que eles não se aproximassem. Ficou estampado nos rostos deles o quanto ficaram sentidos quando exigiu isso, provavelmente sentindo-se rejeitados e com os egos feridos. Do contrário do esperado, ambos os alfas foram compreensivos consigo e cuidaram para ninguém se aproximasse de si quando o período chegou. Após o cio, desculpou-se e explicou o porquê de ter pedido ajuda aos alfas: vergonha. Nunca teve um parceiro durante aqueles dias, informação essa que os deixou estupidamente felizes, e ficou sem saber onde se enfiar quando eles deixaram isso claro. Também disse que ainda não era a hora, desejava que sua primeira vez fosse fora da loucura que é o período do cio, e os namorados respeitaram sua posição. O cio dos alfas veio pouco tempo depois, e ambos se mantiveram longe de si, já que esperariam o seu tempo.

E agora que tinha como aproveitar a semana livre dos mais velhos, agradeceu por não estar ocupado com afazeres da universidade, podendo assim dar toda sua atenção aos dois na folga deles.

Despertou de seus devaneios com Donghae se mexendo entre seus braços. Surpreendeu-se quando sentiu as mãos dele em sua coxa, mas não disse nada pelo outro ter feito aquilo a fim de pegar impulso para ficar sentado no meio de suas pernas. O único problema era ele não parar de se mexer. Cada movimento gerava o atrito da bunda dele contra sua pélvis. Precisava parar de pensar naquilo e prestar atenção na tevê, Donghae parecia não perceber o que acontecia por ser meio avoado e só estava procurando uma posição melhor.

Ledo engano.

— Acredita mesmo que isto seja bom? — Donghae virou o rosto para encará-lo, e esperava que sua cara não estivesse vermelha como achava que estava. — Siwon queria comprar esse negócio. — referia-se ao comercial passando na tevê.

Eunhyuk se perguntava se era coisa da sua cabeça ou seu corpo necessitado que estava fazendo-o ver algo onde não havia. A cara desentendida que Donghae ostentava e a mão deslizando em sua coxa sem malicia mostravam que o outro não estava fazendo nada demais.

— Você está bem? — Eunhyuk sentiu a mão desocupada de Donghae tocar sua bochecha. — Está todo vermelho, amor.

— Eu estou bem. — o outro deu de ombros com sua resposta e se virou. Ganhou um aperto na coxa e suspirou, mordendo os lábios, a mão de Donghae estava próxima a uma área sensível.

Donghae voltou a se apoiar com as duas mãos, uma em cada coxa sua, para se colocar mais ereto e escorar as costas em seu peito. Eunhyuk se arrepiou ao sentir seu membro esfregar mais diretamente na bunda de Donghae, que se divertia em silêncio com a situação. Pressionou o inferior entre os dentes com mais força, uma pontada veio em seu baixo ventre e o membro dava sinais de vida. Rezou para ele não estar sentindo sua ereção.

— Tem certeza que está bem? — quase como se lesse seus pensamentos, o Lee virou o rosto novamente. O olhar dele recaiu em seus lábios, provavelmente embranquecidos por tamanha força sendo aplicada neles, e Donghae sorriu, demonstrando que era esse o objetivo inicial.

Antes que pudesse pensar em qualquer coisa, Donghae deslizou o dedo sobre sua boca, libertando o lábio maltratado e inclinou o rosto, cobrindo seus lábios com os deles. Seus olhos se fecharam de imediato, parecia estar sob um efeito anestésico quando iniciou os movimentos. Aquela boca o envolvia de uma tal maneira que era possível sentir toda devoção, cuidado, carinho e amor dele para consigo.

O beijo, porém, tomou proporções excitantes demais aos seus olhos. Donghae quebrou o beijo para se virar e sentar em seu colo. Eunhyuk o encarou, confuso, mas logo o outro tratou de dar a atenção a seus lábios novamente. Arfou entre o beijo ao senti-lo começar a rebolar em seu colo. O movimento do quadril de Donghae era continuo e ritmado, o tecido das roupas contribuíam para aquela fricção e também sua agonia. Mesmo em tão pouco tempo, sentiu a lubrificação começar a ser expelida.

Sem descolar os lábios ou cessar o rebolado, Donghae pegou suas mãos e as enfiou por baixo da própria camisa. Decidiu se deixar levar quando palmas tocaram de leve na pele quentinha, deslizando a ponta dos dedos pelo abdômen definido do Lee, sentindo as linhas que delimitavam cada músculo.

Donghae sentiu ser empurrado sem aviso para o lado. Surpreso com a ação, caiu com as costas no chão e apoiou-se pelos cotovelos. Seus olhos capturaram o momento em que Eunhyuk encaixou as pernas de cada lado do corpo, sentando precisamente sua pélvis. Fechou os olhos e sorriu, rezando internamente para Siwon chegar logo. Eunhyuk ainda estava incerto do que fazer, sabia disso, mas não demorou muito para senti-lo se apoiar no seu peitoral e começar timidamente a fazer o que havia feito nele anteriormente. Ele movimentou, de maneira singela, o quadril para deslizá-lo em sua ereção e arrancou um maior sorriso de si com aquilo. O mais novo parecia desejar algo mais íntimo pela primeira vez. Suas mãos estavam sobre as coxas dele, apenas alisando aquela região com receio de assustá-lo. As moveu devagar até conseguir deixá-las no quadril dele, dando um aperto naquele lugar. Segurou firme ali antes de fazê-los rolar, voltando para cima de Eunhyuk, que começava a sentir o líquido entre suas nádegas escorrer.                 

Outro beijo se iniciou, mas não foi demorado. Donghae finalizou com pequenos selos nos lábios dele e levou a carícia a ponta do queixo, seguindo para o pescoço. Observou as pequenas cicatrizes de arranhões feitos pelo próprio ômega em alguma crise, deixou um beijo cálido sobre cada pequena cicatriz e não demorou a chegar na clavícula, repetindo esse ritual até chegar próximo ao primeiro botão da camisa de Siwon que o mais novo usava, pois ele ainda não queria comprar roupas novas, alegando ter o suficiente. Estando encaixado entre as pernas dele, aproveitou o espaço para promover mais atrito entre suas ereções enquanto continuava a dar atenção ao colo dele. Levou as mãos até a primeira casa da camisa e o encarou, como se pedisse permissão para continuar.

Somente tendo um aceno positivo como resposta, Donghae se sentiu livre para prosseguir. A cada beijo deixado, um botão abandonava sua casa. Estava ansioso para contemplar aquele corpo ao qual só Siwon e ele teriam o prazer de observar e tocar livremente. Quando a camisa ficou completamente aberta, ergueu o tronco e observou, tentando guardar aquela cena para sempre: Eunhyuk corado, encarando-o com os olhos semicerrados, completamente entregue.

Não deixou de sentir certa tristeza por ver tantas cicatrizes ali. Zhoumi havia lhe dito que chegou a ver o ômega se ferir daquela forma. Era algo inconsciente, explicou, sempre ao estar muito nervoso, o mais novo simplesmente começava a se arranhar e nem percebia quando tirava uma camada de pele ou começava a sangrar. Felizmente, aquele hábito havia sido substituído por um balançar as pernas incessantemente.

A imperfeição daquele corpo deixou Donghae ainda mais apaixonado e encantado. Passou as mãos na parte que estava amostra e notava o acanhamento de Eunhyuk pelo olhar que lançava a ele. O som de um gemido sufocado chegou aos seus ouvidos ao deslizar o indicador no mamilo que possuía um tom nude. Permanecia atento, sempre observando as reações de Eunhyuk, com medo de que ele não quisesse mais ser tocado, mas esse se encontrava com as pálpebras fortemente cerradas, as mãos cobrindo a boca para impedir a saída dos ruídos constrangedores. Percebendo que aquele era um ponto muito sensível, apertou o mamilo entre o indicador e o dedão e escutou seu nome escapar gemido e arrastado por entre os dedos de Eunhyuk. Caralho, volta logo, Siwon, pensou, debruçando-se sobre ele para levar a língua de encontro a um dos botões eriçados dele e não cessando os leves beliscões no outro.

Sentiu Eunhyuk enlaçar seu quadril com as pernas, desejando aumentar o contato entre eles naquela região. Retirou a boca do mamilo e a direcionou ao pescoço a fim de marcá-los com chupões. Iniciou movimentos simulatórios com quadril, investindo contra a bunda do ômega e sentindo o cheiro doce da lubrificação. Tentou manter o controle, Siwon precisava estar ali.

Eles novamente rolaram, invertendo as posições. Eunhyuk sentia-se tão perdido em todas as sensações que o momento dispunha a ponto de sentar sobre o membro de Donghae e, com os olhos fechados, apoiar-se no peitoral desse. Rebolou devagar, mas deturpado e escutou um arfar, imaginando se ele também sentia o membro pulsar por ainda estar preso. Abaixo de si, Donghae sentou-se num movimento ágil, a boca dele se ocupando chupá-lo e mordê-lo nos mamilos e as mãos apertando-o nas nádegas.

— S-Siwonie...

Donghae não sentiu-se ofendido quando Eunhyuk gemeu pelo outro alfa. Pelo contrário, sorriu contra a pele cálida e levemente suada. Apesar de estar perdido naquela esfregação toda, ele pedia por Siwon, comprovando que tudo daria certo entre eles três.

— Ele já deve estar voltando. — Donghae disse mais para si do que para o mais novo e iniciou um beijo cheio de desejo. Sugou o inferior dele, também fazendo o mesmo com a língua, e Eunhyuk imaginou se será possível que gozasse ali, daquele jeito.

 

A porta se abriu, e Siwon entrou, equilibrando, meio desajeitado, as sacolas em um dos braços. Tirou os sapatos e seguiu direto para cozinha, deixando as compras sobre a mesa. Desenrolou o cachecol do pescoço e estava quase para tirar a jaqueta de frio quando uma fragrância invadiu suas narinas. Na verdade, duas. Estreitou os olhos, confuso, e inspirou novamente, deixando-se guiar pelo cheiro.

Do chão, Donghae avistou uma sombra e sentiu a presença de Siwon se aproximando dali. Deitou novamente, deixando Eunhyuk fazer o que bem entendesse consigo. Viu-o fazer uma careta confusa, mas o mais novo logo voltou a proporcionar a fricção gostosa, querendo chegar ao ápice com apenas isso.

Barulhos de ofegos e gemidos arrastado ficavam cada vez mais claros conforme Siwon aproximava-se da sala. Reconheceu aquele tom arrastado em seguida e foi para o centro dos ruídos. Sentiu a ereção se formar entre suas pernas ao deslumbrar o que se passava: diante de si, Eunhyuk rebolava incessantemente sobre o membro de Donghae, ambos ainda vestidos. O aroma misturado estava mais intenso ali e o inebriava. Observava-o de costas para si e, de onde estava, era possível enxergar a calça do ômega úmida pela lubrificação.

Cerrou os punhos, segurando-se no lugar. Vontade de também participar daquilo não lhe faltava, porém, estava receoso sobre se aproximar, tendo em vista que Eunhyuk sempre foi mais próximo de Donghae do que si.

Talvez eu devesse deixá-los sozinhos.

— H-Hae... — Siwon mordeu o inferior ao ouvi-lo gemendo. Viu Donghae se erguer novamente para beijá-lo. — Siwonie...

Os cantos de sua boca ergueram-se, trazendo as covinhas ao seu rosto, sorrindo enquanto os dentes ainda prendiam o lábio. Tudo em si arrepiou-se quando seu nome saiu choroso da garganta de Eunhyuk. Seu lobo uivou, rejubilando-se em seu interior por aquilo. O ômega o desejava ali tanto quanto desejava Donghae. Tendo isso em mente, caminhou a passos sorrateiros, sem que o mais novo dali o visse. Ajoelhou-se no sofá e abraçou os dois ali, sentindo Eunhyuk assustar-se e vendo-o enrubescer.

— Há quanto tempo está aí? — a voz dele estava deliciosamente mais rouca e descompassada ao fazer a pergunta.

— Tempo o suficiente. — virou o rosto dele em direção ao seu e iniciou um beijo. Manteve os olhos abertos para observar todas as expressões de êxtase de Eunhyuk, podendo ver Donghae voltar a lamber e beliscar os mamilos desse que gemeu contra seus lábios. — Vamos para o quarto. — praticamente mandou ao mesmo tempo que relava o nariz no pescoço alheio, absorto naquela fragrância doce.

Donghae sorriu com o que disse e Eunhyuk, ao contrário dele, escondeu o rosto no vão de seu pescoço. Pegou o Yoo no colo, entrelaçando as pernas dele em seu quadril e seguiu para as escadas. Antes mesmo de pisar no primeiro degrau, prensou o corpo dele contra a parede com certa violência, causando o choque de seus membros e o deleite do outro, que gemeu alto e quebradiço.

Donghae já se encontrava no quarto, sem camisa, quando Siwon adentrou o cômodo aos beijos com Eunhyuk ainda atracado nele. Observava com prazer as línguas de seus parceiros se enrolando, um fio de saliva escorrendo pelo canto da boca do mais novo. Siwon puxou a camisa do corpo de Eunhyuk e jogou em qualquer lugar antes de depositar o corpo magro na cama, com extremo cuidado, e vir até si, chocando suas bocas num beijo quente.

Donghae, em meio ao osculo afoito, tratava de se livrar da quantidade desnecessária das roupas de Siwon para o momento, sentindo as mãos grandes apalpando-o. Ambos cessaram seus afazeres e olharam para a cama, onde Eunhyuk masturbava-se, o olhar dele fixo neles. Uma das mãos massageava o membro por sob as vestes enquanto a outra circundava o local úmido entre as nádegas, dedilhando a mancha da calça. Os olhos, mesmo entreabertos, deixavam visível aos alfas o mesclar de cor entre um azul turquesa, mais comum durante os cios dos ômegas, e seu tom âmbar característico. A cena agiu como uma chama, onde o tesão deles era substância extremamente inflável.

Eles se soltaram de imediato e seguiram na direção da cama. Siwon retirou a mão de Eunhyuk que estava dentro da calça e lambeu os dedos, sentindo o gosto dele. Os olhos vermelhos fixos nos azuis, a mesma intensidade transmitida através do olhar deixava Eunhyuk encantado. Donghae repetiu os mesmos movimentos de Siwon, mas com a mão desocupada do Yoo.

Se perguntassem qual era sua cor favorita, Eunhyuk responderia vermelho sem pensar duas vezes. Não um vermelho qualquer, e sim o tom respectivo dos olhos de seus alfas. As bocas de Siwon e Donghae abandonaram seus dedos, mas uma linha fina de saliva ainda os conectava, e os mais velhos trocaram olhares, começando um beijo ali, próximo de seu rosto. Eunhyuk assistiu, entorpecido, as línguas dos peritos se tocando fora da boca e entrou naquilo também, numa espécie de beijo triplo, que mais parece uma batalha de línguas, onde a saliva descia pelos cantos das bocas de todos.

Após cessar o beijo, Siwon encarou Eunhyuk e, descansando a testa na dele, disse:

— Nós vamos fazer certo, vamos cuidar de você. — deixou uma breve carícia na bochecha do mais novo. — Porque você é nosso, assim como nós também pertencemos a você.

Eunhyuk foi colocado deitado por Siwon e Donghae. Sorriu ao ouvir a declaração e tentou erguer-se para beijá-los, mas foi impedido por ambos.

— Deixa com a gente por enquanto. — Donghae falou sugestivo, e o rubor, que, até então, era causado pelo calor, acentuou-se no rosto do Yoo.

Cada um dos alfas seguiu para um mamilo, mordiscando-o e sugando. Os orbes de Eunhyuk passaram a visualizar o teto de forma embaçada devido a lágrimas de prazer que se formaram. Não sabia mais o que está acontecendo ao redor, seu cérebro concentrava-se totalmente nos dentes raspando, nas línguas lambendo, nas bocas sugando ali e em nada mais. Duas mãos se encaminharam para seu baixo frente, e fechou as pernas em reflexo, num ato de pura vergonha.

— Se quiser, nós paramos. — Siwon sugeriu, apesar de realmente não querer.

— Não. — respondeu timidamente e deixou uma selar no rosto dele.

Siwon sorriu e deixou Donghae cuidando dos mamilos de Eunhyuk, que colocou as mãos tapando seu rosto. Segurou o cós da calça que o namorado usava e a puxou para baixo, trazendo a cueca junto, revelando assim o falo rijo.

— Siwon... Wonnie... — Donghae desviou sua atenção por um instante ao ouvir o tom pidão de Eunhyuk, deparando-se com Siwon, que havia posicionado as pernas desse em seus ombros, deixando uma trilha de beijos na parte interna das coxas.

Eunhyuk se arrepiou com os beijos molhados e estalados naquela região perigosa. Siwon percebeu-o ficar de músculos tensos quando se viu cara a cara com o membro ereto. Inspirou fortemente, sentindo o cheiro da lubrificação e sorriu. Não podia perder o controle, precisava ter calma com Eunhyuk, repetia para si mesmo mentalmente. Donghae havia abandonado os mamilos, agora bombeava o próprio membro enquanto beijava fervorosamente Eunhyuk, e o chamou. Ele veio até si, e mergulharem em outro beijo quente antes de darem atenção ao pênis necessitado do mais novo.

Cada um dos alfas lhe beijava ali e lambia um ponto, Donghae pela extensão às vezes e Siwon lambendo a glande ou vice versa. Eunhyuk gemia descontroladamente e se contorcia na cama, chamando o nome dos alfas. O cheiro do sexo mesclado as fragrâncias de todos ali e causava, em si, um torpor tão intenso que fazia parecer que seu corpo entraria em pane a qualquer segundo. Levou a mão direita a sua entrada, precisava se aliviar ali também. Ela não chegou ao destino devido a Donghae ter segurado seu pulso.

— Eu faço isso para você. — o Lee falou rouco. — Siwonie, fique com ele de lado. — pediu ao que alfa sorriu, fazendo como foi dito.

Antes que Eunhyuk pudesse falar algo, teve seu membro abocanhado por Siwon. Só conseguiu fechar os olhos e direcionar um palavrão a ele. Sentiu-o sorrir e prosseguir com os movimentos contínuos de vaivém, relaxando a garganta para abrigar mais de si.

Donghae passou a mão nas nádegas de Eunhyuk, arrepiando-o. Depositou beijos estalados ali, aproveitou para dar uma mordida o forte suficiente para que deixasse a marca de seus dentes. O gemido que veio arranhando na garganta do Yoo começou dolorido e se alterou para deleitoso após alguns segundos. Separou os glúteos e, fascinado, observou a lubrificação do ômega escorrendo antes de enfiar sua língua ali.

Eunhyuk impulsionou o quadril para frente e acabou por engasgar Siwon, mas logo ambos se acostumaram. Donghae chupava e tentava uma penetração com a língua, lhe deixando extasiado, e Siwon podia sentir o corpo de Eunhyuk ficar cada vez mais trêmulo, sinal do ápice próximo. Ele se desfez na boca de Siwon, que deixou também seu rosto sujar propositalmente para que logo Donghae estivesse ali, limpando-o com sua língua. Siwon aproveitou a proximidade para desafivelar o cinto e desabotoar a calça de Donghae.

— Siwonie. — Donghae falou alto suficiente para Eunhyuk ouvir. — Nosso ômega é tão gostoso. — Siwon não conseguiu segurar o riso, mas é algo momentâneo e cessa após os dois estarem nus.

Eunhyuk estava se recuperando do recente orgasmo, mas ao observar os dois policiais, sentiu seu membro voltar a pulsar. As figuras fortes se apalpavam, seus músculos eram delineados e ressaltados por cada gota de suor que descia por eles, os membros eretos se tocavam enquanto se beijavam. Eunhyuk poderia fazer um quadro daquela cena apenas para sua observação pessoal. Siwon largou Donghae para ajudar lhe a sentar apoiado na cabeceira da cama e voltou até o Lee, beijando-o novamente daquele jeito agressivo que só eles tinham, com mordidas e puxões de cabelo. Jamais imaginaria ser capaz de ficar duro novamente só observando um beijo.

De repente, Siwon levantou, e, curioso, olhou ele ir até uma gaveta para pegar um tubo desconhecido para si. Viu ele abrir e colocar uma quantidade daquele gel em sua mão, além de espalhar por toda a extensão do membro. Siwon voltou a cama após pegar mais um pouco daquele produto, que agora sabia que era lubrificante, e lambuzar os dedos. A sua frente, Donghae já havia se posto de quatro e estava ofegante, à espera de Siwon.

O maior deixou o tubo de lado e introduziu o primeiro dedo, fazendo Donghae gemer desconfortável. Curvou-se e depositou beijos pelas costas do menor. Dentro de pouco tempo, sentiu estar acostumado com o invasor, então, sem avisar, retirou o indicador e introduziu três dedos de uma vez. Donghae arqueou as costas e gemeu de dor.

— Porra! — reclamou, trincando o maxilar. — Siwonie. — uma lágrima desceu por sua face rubra, e Siwon não ousou mexer os dedos, apenas beijou-o no topo da cabeça e sussurrou um pedido desculpas.

— Siwonie. — Eunhyuk chamou, e ambos os alfas olharam. — Tome cuidado com o Hae. — pediu e engatinhou em direção a eles. Distribuiu beijos por todo o rosto de Donghae, que sorria devido ao seu gesto.

Logo, Siwon iniciou as investidas com os dedos, arrancando gemidos baixos de Donghae. Eunhyuk tentou se afastar, mas Donghae o impediu, segurando sua mão. Siwon retirou os dígitos e posicionou-se atrás do namorado, metendo de uma vez.

— Porra! – praguejou e apertou a mão de Eunhyuk. Siwon não se mexia, esperando que se acostumasse. Enquanto fazia o mesmo, separou as pernas do ômega e o puxou para mais perto. Siwon começou uma masturbação lenta em si, que fazia o mesmo em Eunhyuk, os menores gemendo baixinho. — Siwonie. — arfou, dando o aviso que maior podia se mexer.

Siwon começou a investir violentamente contra si ao passo que abocanhava o membro de Eunhyuk, vendo-o se deitar não conseguir se manter sobre os cotovelos por sentir o corpo ficar mole novamente. Os gemidos dos alfas preenchiam o quarto, assim como o som do choque das investidas de Siwon e da boca de Donghae no membro alheio. Eunhyuk tentou se segurar ao máximo, mas logo chegou ao ápice, gozando na boca do Lee desta vez.

Donghae estava no limite, passou a masturbar-se rapidamente enquanto sentia o nó de Siwon se formando dentro de si. Gozou forte, sujando os lençóis e observando o ômega, deitado, recuperando o fôlego. Siwon chegou ao próprio clímax após mais algumas estocadas e caiu sobre o corpo de Donghae, respirando desregulado. Ficou ali até o nó se desfazer e se retirou do interior do namorado, puxando ele e Eunhyuk para deitarem consigo.

O ômega, entre eles, agora com a respiração mais calma, olhava para o teto, assimilando o que acabou de acontecer. Siwon e Donghae deram as mãos e trocaram olhares receosos, temendo que mais novo quisesse deixá-los após ver o que eles fazem. Até pela criação dele, seria normal ele achar aquilo abominável.

— Eu amo vocês. — soltou, e os alfas encararam-no para ter certeza do que ouviram. — Não me olhem assim. — colocou o travesseiro sobre o rosto.

Os mais velhos sorriram cúmplices, e Siwon se esticou pegar algo dentro da gaveta, algo que estavam ansiosos para dar a ele.

— Yoo Eunhyuk. — Donghae puxou o travesseiro do rosto desse.

— Quer casar com a gente? — Siwon foi o responsável pelo pedido.

O pulso de Eunhyuk vibrou ao ouvir a frase. Mais do que surpreso, verdadeiramente incrédulo, somente acreditou ao ver Siwon abrir a caixinha de veludo azul marinho, onde haviam três alianças prateadas com uma pequena pedra encima. Sentou-se num impulso e encarou os alfas, que sorriam à espera da sua resposta. Lágrimas desceram grossas por seu rosto e um soluço escapou alto. No segundo seguinte, os braços dos dois estavam o envolvendo, e foi coberto com os lençóis.

— Tudo bem, Hyuk. — Siwon suspirou, sentido com aquela reação.

— Nós entendemos, Eun. Não precisa aceitar. — Donghae afastou as mechas loiras do rosto dele.

— Não! — Eunhyuk praticamente gritou. — Sim! — corrigiu-se. — Eu aceito. — concluiu, tentando engolir o choro e sorrindo para os mais velhos, que não cabiam em si de tanta felicidade.

Siwon pegou uma das alianças e colocou no dedo de Eunhyuk, fazendo o mesmo com Donghae para enfim colocar a sua. Após os peritos pedirem para que dormisse com eles a partir de agora, e os três pegaram no sono, admirando suas respectivas alianças.

 

(...)

 

Se alguém dissesse que se tornaria amigo de um adolescente de quinze anos, Zhoumi, com certeza, riria. Não que achasse impossível algo assim acontecer ou tivesse algum tipo de preconceito quanto a essa questão, nada disso, era só que, devido aos seus estudos e estágio, tentar fazer novas amizades ficava em segundo plano, não sendo à toa que seu círculo de amizade dava para ser contado nos dedos: três (não considerando os colegas de trabalho, pois possuía apenas aquele vínculo com eles e nada mais). Sendo assim, algo improvável como aquilo poderia ser uma ótima piada.

Em outros tempos, Zhoumi certamente riria e com vontade. Talvez até continuasse a rir caso não fosse sua realidade atual.

Ele sabia que se tornar próximo, mesmo que de forma inconsciente, de Henry era como andar vendado em um campo minado. Não tinha ideia do que se passava na sua cabeça ao deixar seu cachecol com o menor e ainda falar para o mesmo devolvê-lo depois. Era para ter cortado o contato naquele momento, não era para haver uma próxima vez! Um garoto de quinze anos estava interessado na sua pessoa, e estava dando brechas para que ele o visse de novo! Não bastasse isso, ainda era filho do seu orientador! Sequer precisava citar mais motivos, aqueles eram os principais e suficientes para ressaltar o quão audacioso, desrespeitoso e arriscado uma aproximação seria para ambos (talvez mais para si do que para o mais novo).

Contudo, nem mesmo aquele pensamento estando claro para si impediu que se reencontrassem.

No dia da devolução do cachecol, Henry não ficou a espreitá-lo como sempre fazia, na verdade, ele veio diretamente até si. Simples, sem frescura, timidez ou medo, apenas veio caminhando em sua direção, sorrindo largo, talvez por estar revendo-o. Aquela maneira descontraída rendeu alguns minutos de conversa até que precisasse voltar a trabalhar após seu intervalo.

Claro, não passavam despercebido pelos funcionários da clínica suas conversas no refeitório com o filho do diretor. Tão comum era ouvir burburinhos, alguns dizendo que o sucessor do doutor Lau tirava dúvidas consigo a respeito do trabalho de um modo geral, outros falando sobre estar sendo interesseiro e estar usando aquela aproximação para conseguir um cargo alto ali, vez ou outra, também ouvia sobre estar seduzindo o rapaz. Enfim, eram rumores sussurrados dos mais variados tipos.

Antes mesmo que falasse para evitarem se encontrar ali (porque a presença do outro já havia tornado comum na sua vida e, de certa forma, preferia que continuasse assim), Henry parou de visitar seu pai no trabalho. O mais novo nunca lhe havia tido o porquê, devia ter seus motivos para isso, e não era da sua conta no final.

Eles não perderam contato, nem de longe. Henry tinha seu número (ainda não sabia como, mas tinha), e, ocasionalmente, trocavam mensagens, até mesmo ligavam apesar dos riscos. Eles não se importavam com a gravidade que aquela relação tinha, somente desejavam continuar com aquilo, independente do que fosse ocorrer depois.

No entanto, o que veio acontecer a seguir mudou completamente aquela situação.

Certo dia, Henry pediu um favor um tanto quanto curioso e suspeito a Zhoumi. O mais velho ficou com um pé atrás ao ouvi-lo pedir para ensiná-lo a beber. O argumento dele era meio óbvio (ômegas, muitas vezes, tendem a ficar “porres” facilmente tanto pelo seu limite álcool não ser dos melhores e/ou por não saberem como realmente beber) e o motivo, bem, ele não podia julgá-lo por estar fazendo isso para que trapaceasse numa aposta (se é que era verdade). Zhoumi sabia que as coisas poderiam sair do controle, mas, mesmo assim, o convidou para ir até seu apartamento, já que seriam incomodados com olhares e murmúrios inconvenientes caso o fizessem em público.

Tudo estava começando bem, estava ensinando-o a tomar bebidas fortes do jeito certo, aproveitando para beber junto com ele, e, graças as suas instruções, o outro permanecia sóbrio enquanto outros ômegas estariam caindo de porres ou passando mal. Estava tudo perfeitamente normal, até Henry puxar seu rosto e o beijar.  O choque foi tanto e se tornou maior quando sentiu a bebida contida na boca dele ser passada a sua através do beijo, uma gota do líquido escorrendo do canto de seus lábios. Seu cio estava próximo e aquela provocação havia sido o limite para si.

Naquela noite, por vontade própria, Zhoumi tomou Henry pela primeira vez. A partir daí, uma coisa levou a outra. Suas simples conversas evoluíram para beijos, carícias íntimas, sexo. As visitas de Henry ao apartamento de Zhoumi tornaram-se mais frequentes, ademais na época de cios quando ajudavam um ao outro.

Conforme o tempo passou, Henry se tornou mais alto, mais bonito, mais provocador para com Zhoumi, que entrava no jogo do mais novo. Como a família do Lau não desconfiava das constantes saídas dele, Zhoumi não sabia, mas Henry havia lhe garantido que um amigo dele dava cobertura, dizendo que ficava pela casa desse, o que às vezes era verdade e outras não. Assim, ambos poderiam se relacionar furtivamente.

Mas até mesmo problemas chegam ao paraíso.

Zhoumi, bufando de raiva, viu Henry sair do seu apartamento, batendo a porta. Ele esfregou o rosto. Nem mesmo aquele gesto estava acalmando sua irritação. Dessa forma, caminhou para a geladeira, tirando uma das várias bebidas que guardava ali, abrindo e bebendo direto do gargalo. Caminhou até a sala e se deixou sentar esparramado no sofá, levando a garrafa aos lábios novamente ao passo que olhava o caminho feito por Henry e lembrava-se da discussão de minutos atrás.

Casamento.

Por três anos, Henry havia escondido que se casaria ao completar seus dezoito. Não apenas isso, também tinha revelado que cursaria a faculdade de medicina para suceder seu pai na diretoria da clínica. Tudo isso oculto durante três anos... três anos que se envolveu com um rapaz já prometido a alguém e sequer sabia por que estava se sentindo afetado por tal informação.

A primeira garrafa ficou vazia tão rápido que o fez franzir o cenho. Uma garrafa atrás da outra, e aquela sensação estranha ainda se apossava de si. As horas se passavam, mais garrafas tomavam conta da sala e logo a sol começou a baixar, dando lugar a linda lua azul.

Zhoumi não estava contando as horas, mas, para estar se sentindo bêbado, devia estar bebendo por um longo tempo. Aquela sensação foi substituída pelo torpor da embriaguez. Ele não tinha muita noção do que estava fazendo, mas fazia. Enquanto bebia sua sabe-se lá qual garrafa, notou seu celular, perdido pelo sofá ao qual estava sentado. Ele se esticou para pegar o aparelho e encarou-o por um tempo antes de desbloqueá-lo e clicar na lista telefônica. Procurou um número específico e ligou, colocando na viva voz.

O ruído da ligação sendo estabelecida soou dos altos falantes.

— Henry... — chamou arrastado, um sorriso bobo brincando em sua boca.

— O que você quer? — a voz soou seca na outra linha.

— Por que está agindo desse jeito? — resmungou. — Você é sempre tão doce quando fala comigo, não seja assim.

— Se me ligou pra ficar me perturbando, eu vou-

— Por que se afastou tanto? Por que não me contou tudo antes? Por que me escondeu isso por anos e resolveu contar agora? — despejou as perguntas numa fala embolada.

— Você não entende... Nunca entenderia. — suspirou alto. — Sua voz tá estranha, Zhoumi. Seu comportamento também. Você bebeu?

— Não fuja do assunto. — reclamou enquanto bebia mais um pouco da garrafa. — Eu gosto tanto de você, Henry. — ouviu-o engasgar com o ar. — Você tá aqui, no meu coração. — silêncio. — Não fique quieto, não me deixe falando sozinho, por favor.

— Você definitivamente tá bêbado, não sabe o que tá falando.

— Henry, estou com saudades suas. — declarou, risonho. Tomou um longo gole da bebida e deixou a garrafa deitada no sofá, o líquido molhando todo o piso perto do estofado. — Isso não é bom... Se sentir sozinho por todos esses anos.

— “Todos esses anos”? — repetiu, debochado. — Ah, claro. Como se você tivesse moral pra dizer algo assim.

— Mas eu gosto tanto de ti. Você não acredita em mim? — emburrou a voz ao ouvir o tom do outro.

— Eu vou desligar. Preciso descansar pro casamento. — disse, sem ânimo algum.

— NÃO! — um bolo se formou em sua garganta, as lágrimas aparentemente sem motivos começaram a escorrer de seus olhos. — Por favor, não desligue. — um soluço escapou. — Por favor, Henry.

— Está... chorando, Zhoumi? — o Lau sequer sabia o motivo para estar surpreso. O maior estava bêbado, podia esperar qualquer coisa vinda dele naquele estado.

— Não me deixe por esse cara que nem sei quem é e já não gosto. — choramingou e pegou a mesma garrafa de novo. Percebendo que estava vazia, jogou-a de qualquer jeito no móvel acolchoado.

— Você não é assim.

— Me desculpe. — fungou. — Você deve estar ocupado.

— Zhoumi...

— Tudo bem. — fechou a cara, bufando.

— Você tá bem?

— Sim... Eu vou indo bem. — falou, ácido, e levantou-se para sair dali, chutando garrafa que estava no meio do caminho.

— O que foi isso? — perguntou, preocupado ao ouvir o ruído de vidro estilhaçando.

— Aish. — resmungou ao sentir um caco afiado cortar sua palma quando tentou pegá-lo. — Não foi nada. Pode ir descansar. Boa noite, Henry.

— Espera! Eu-

O som da ligação sendo encerrada fez Henry encarar o celular, atônito. O que raios havia sido aquilo? Jamais tinha presenciado Zhoumi daquele jeito. O mais velho tinha o costume de tomar bebidas fortes e, por ser alfa, seu limite alcoólico era elevado. Para ele estar porre, deveria estar bebendo por um longo tempo. Será que estava bebendo desde que saiu de lá?

Ele levantou-se da cama a qual estava deitado e pegou a mochila, puxando uma muda de roupa de dentro dela. Retirou a camiseta larga e o short que vestia, guardando as peças de qualquer jeito dentro da bolsa e trocou por uma camisa de manga longa azul escura e calça branca que vestia quando chegou ali. Pegou o celular e saiu do quarto, deixando suas outras coisas para trás.

Quando passou às pressas pelo corredor, enxergou Ryeowook andando de um lado para outro na cozinha, fazendo o jantar. Encontrou com Heechul na sala, este estava sentado no chão, com um livro grosso no colo e vários papéis espalhados sobre a mesinha de centro de vidro.

— Heenim, me empresta seu carro? — pediu enquanto ajeitava os fios recém pintados de preto em frente ao espelho que ali havia. Partiu a franja na lateral e a arrumou de jeito que não ficasse tanto sobre seus olhos.

— Vai sair, Henry? — Ryeowook apareceu no cômodo com uma colher suja de molho.

— A pergunta certa é: onde está indo? — Heechul levantou o olhar do que estava estudando para encarar sua visita. — Achei que não quisesse voltar para sua casa.

— E não quero. — tufou as bochechas. — Zhoumi me ligou e-

— Vai mesmo atrás dele depois de tudo? — o Kim mais velho juntou as sobrancelhas.

— Hyung, não seja tão duro. — o Kim mais novo interviu.

— Não, Wook. Eu cansei de vê-lo sofrendo por um cara que não sabe lhe dar valor. — desviou o olhar do irmão e voltou a encarar Henry que estava, agora, cabisbaixo. — Você discutiu com ele mais cedo, acha que é uma boa ideia voltar lá?

— Eu não sei, eu realmente não sei, Heenim. — suspirou, olhando cansado para os irmãos Kim. — Mas ele estava tão... estranho quando ligou. — estranho não era bem a palavra, mas iria evitar dizer que o maior estava bêbado para não deixar Heechul mais bravo. O ômega era naturalmente estourado, afinal. — Eu tenho medo que ele faça alguma besteira.

— Pelo amor dos deuses, Henry, ele é um adulto de vinte e oito anos. — Heechul descansou um braço no sofá. — Ele não precisa de um adolescente de dezoito anos para dar comida na boca dele e ajudá-lo a se vestir.

— Hyung... — Ryeowook falou com tom repreensivo. — O que o hyung está querendo dizer, Henry-

— Entendi muito bem o que ele quis dizer, Wook. — sorriu sem ânimo para o mais novo. Estava acostumado com Heechul jogando as coisas na sua cara, sabia lidar com o jeito dele. — Eu sei que estou sendo idiota por querer ir atrás dele, mas não posso simplesmente deixar que ele faça alguma coisa estúpida.

— Por que você só não deixa isso de lado? — o mais novo dos três ômegas perguntou, ainda que um pouco triste. — Ele sempre dava um jeito de fugir de algo sério, não é?

Henry mordeu o lábio inferior. Aquilo não era verdade. É claro que tentou abordá-lo sobre o assunto, mas nunca conseguia ou por estarem num momento mais íntimo ou por puro medo. Era um perfeito covarde que preferia guardar aquilo só para si e esperar que os sinais que mandava fossem claros.

O medo de perder a única coisa que tinha com Zhoumi o assombrava.

— Eu queria que fosse tão fácil assim, Wook. — esfregou o rosto para limpar as lágrimas que ameaçavam escorrer. Estava cansado, aquele assunto era estressante para si, sequer havia se recuperado da discussão, ainda tinha o maldito casamento amanhã, tudo estava corroborando para deixá-lo sensível a ponto de chorar. Céus, ele só queria poder sumir no momento.

— E não é? — Ryeowook perguntou, inocente. Ah, como Henry desejava ser tão ingênuo quanto o amigo a ponto de fazer essa situação parecer fácil de lidar. — Quero dizer, se ele não quiser nada, talvez Kyuhyun queira.

— Não é tão simples, dongsaeng. — foi Heechul quem falou. — Ele está apaixonado por esse alfa há três anos, foi capaz de pisar no próprio orgulho para ficar perto dele, ele viveu de falsas esperanças... até agora. — murmurou a última parte. Conhecia muito bem Henry, ele poderia não ter admitido para si mesmo ainda, mas era óbvio: o Lau estava mais do que farto. — Tem certeza que quer fazer isso, Henry?

— Eu... Sim. — encarou os pés descalços, cerrando as mãos em punho ao lado do corpo.

— As chaves estão no lugar de sempre. — viu Henry assentir e seguir para a porta. — Henry. — chamou, indo até ele. Encontrou-o calçando os sapatos que estavam dispostos na entrada. — Não fique preso a algo sem futuro. Lembre-se disso, ok?

— Ok, Heenim. — pegou as chaves de dentro da vasilha sobre a modesta mesinha. — Eu volto logo. — e assim deixou o apartamento.

Henry seguiu para o elevador e clicou no botão. As portas metálicas abriram-se dentro de alguns segundos, e entrou no cubículo, vendo-as voltarem a se fechar. Apertou o botão do estacionamento e, enquanto esperava, bateu o pé no chão, agoniado e aborrecido com a musica irritante que tocava. Assim que as portas tornaram a se abrir no subsolo, correu até o carro de Heechul e o adentrou, saindo do prédio em seguida.

A brisa gélida entrava no veículo pelas janelas abaixadas, o céu noturno estava encoberto por nuvens carregadas de chuva, e a única coisa que ele queria no momento era chegar antes que as gotas começassem a precipitar. Vinte minutos do apartamento de Heechul até o de Zhoumi, logo estava estacionando no subsolo do prédio.

Entrou no elevador e clicou no botão do décimo terceiro andar. As portas abriram e fecharam várias vezes entre os andares, fazendo Henry amaldiçoar Zhoumi por morar tão longe do térreo, embora o tempo entre um andar e outro não fosse realmente demorado. O número treze ficou em destaque no painel acima das portas metálicas que se abriram segundos depois. Ele correu pelo corredor repleto de portas, chegando ao fim dele. Ficou na ponta dos pés e pegou da fresta do batente a chave extra que Zhoumi deixava para si, abrindo a porta em seguida.

— Zhoumi? Sou eu. — adentrou o local, o cheiro de álcool invadiu suas narinas. Retirou os sapatos, os guardou no armário da entrada, jogou a chave do carro de Heechul na mesinha do corredor e seguiu para a sala. O cheiro ficou mais forte quanto se aproximou dali, garrafas de bebidas estavam espalhadas pelo chão e em cima dos móveis, havia bebida e cacos de vidros por todo o piso. — Zhoumi? — com cuidado para não pisar nos cacos, atravessou reto a sala, indo até a varanda. Nada dele. — Zhoumi! — deu meia volta, correu até o quarto e, segundos depois, rumou até a cozinha. Sem sinal do alfa. — Eu sou ridículo... — disse para si mesmo enquanto se apoiava na bancada de mármore.

— Henry... — o ômega ergueu a cabeça quando foi chamado, encontrando o dono da voz parado próximo à mesa quadrada de quatro lugares.

— Você tá aqui! — aproximou-se dele. O odor do álcool estava impregnado nas roupas dele e também no hálito. — O que é toda aquela bagunça na sala? Aconteceu alguma coisa? Você-

— Você está mesmo aqui. — a fala estava embolada, mas ainda era um pouco compreensível. Um sorriso largo surgiu nos lábios do alfa.

— Só vim me certificar que estava mesmo bem. — tufou as bochechas e desviou o olhar, resmungando. Ainda continuava chateado com a discussão de horas mais cedo.

— Se preocupa comigo. — Henry ousava dizer que ele estava até feliz por revê-lo, mas podia ser apenas o álcool deixando-o abobalhado.

— Mas é claro que me preocupo! Não aja como se não soubesse. — virou o rosto para encará-lo e deparou-se com ele perigosamente perto de si. — Z-Zhoumi?

— Seus lábios são tão bonitos. — tocou o rosto dele com ambas as mãos machucadas.

— Pelos deuses, as suas mãos! O que foi-

Sua boca sentiu o calor da dele naquele choque um pouco abrupto. Os lábios ficaram quietos por um breve instante até que se movimentassem sobre os seus, começando um osculo calmo que logo ganhou intensidade. Estava cometendo um deslize, aceitar aquele beijo era ficar desarmado, totalmente à mercê daquela carícia viciante.

As línguas batalhavam por espaço numa dança ritmada e frenética. Segurou-o pela camisa, querendo trazê-lo mais para perto. Sentiu quando foi guiado a passos cegos e ofegou entre o beijo ao ser prensado na parede. As mãos, que antes estavam em seu rosto, desceram e seguraram suas coxas, puxando-as num movimento rápido e obrigando-o a enlaçar a cintura do alfa com as pernas para manter-se estável.

Estando, agora, mais alto do que ele, embrenhou os dedos no cabelo cheio e macio como sempre fazia. Sentiu as mãos dele apertando sua bunda, como também quando elas se aventuraram por sob a sua camisa. As bocas se desgrudaram, e Zhoumi trilhou um caminho de mordidas da linha seu maxilar até pescoço.

— Seu cheiro é tão bom. — falou contra pele exposta, os pelos da região se eriçando.

— Z-Zhoumi, p-para. Eu não quero. — pediu, entrecortado. — P-para. — apertou os olhos, sentindo a língua dele se arrastar por sua garganta. — Para, PARA! EU DISSE QUE NÃO QUERO! — gritou, puxando-o pelos cabelos. Zhoumi resmungou de dor e o largou. — Eu não vou transar com você assim, bêbado e com as mãos cheias de ferimentos. — juntou as sobrancelhas, bravo. — Deixa eu limpar e fazer um curativo nessa merda que você fez.

Henry segurou Zhoumi pelo pulso e o puxou até a pia, obrigando-o a lavar devidamente os machucados. O fez sentar na banqueta da bancada e o deixou sozinho por um instante para pegar o kit de primeiros socorros. Ia tantas vezes ao apartamento do alfa que já sabia onde cada coisa ficava. Voltou a cozinha e sentou na banqueta ao lado da dele. O maior ficou quieto enquanto observava o menor trabalhar, seu olhar perdido na expressão concentrada dele.

— Fica aqui essa noite. — Zhoumi quebrou o silêncio.

— Ryeowook e Heechul devem estar preocupados comigo. — falou sem comoção e também sem tirar os olhos do que fazia.

— Fica, por favor. Eles não vão se importar. — insistiu, embolado.

— Eu apareci furioso lá depois de ter discutido contigo e, de repente, decido voltar para o centro da confusão, ainda por cima resolvo passar a noite. É, com certeza eles não vão se preocupar. — debochou, terminando de passar a pomada antibiótica.

— Fique aqui.

— Zhoumi... — seu tom era censurador.

— Por favor. — e o dele, beirava a um choramingo.

— Não posso. Preciso me preparar para o casamento. — jogou a realidade na cara dele.

Zhoumi emudeceu ao ouvir suas palavras. Virou-se para remexer as coisas dentro da maleta, ignorando o olhar dele sobre si.

— Esse cara te trata bem? — ele voltou a falar, agora aparentando estar mal humorado.

— Kyuhyun não me trata igual a você. — pegou a gaze e puxou as mãos dele para continuar com o curativo, murmurando a frase vaga.

— Não case... não case com ele. — as mãos de Henry pararam de se mover por um segundo ao ouvir isso.

— Você tá bêbado, Zhoumi. Não sabe o que tá falando. — voltou a cobrir os machucados com a gaze e a prendeu com esparadrapo. Zhoumi inclinou o corpo em sua direção, mas virou o rosto antes que fosse beijado. — Não, eu já falei que não quero nada enquanto você estiver assim.

— Não vai embora... Fica aqui, fica comigo... Eu preciso de você.

— O que você quer, afinal?! — grunhiu. — Quer saber? Esquece. É só o álcool te fazendo falar isso. — suspirou, exasperado. — Eu não acredito que saí do apartamento do Heechul e do Ryeowook pra virar babá de um bêbado. — murmurou para si mesmo enquanto levantava Zhoumi da cadeira.

Henry guiou ele até o banheiro, forçando-o a tomar banho para tirar aquele cheiro de álcool do corpo e também fazendo-o escovar os dentes. Levou-o até o quarto e evitou olhar tanto a estrutura forte e definida enquanto o ajudava a se vestir com peças limpas. Terminado isso, o deitou com todo cuidado do mundo na cama. Era irritante ver como, até bravo com ele, não era capaz de tratá-lo mal.

— Henry... — chamou ao vê-lo ir em direção a porta.

— O que é, Zhoumi? — perguntou, exausto, desejando ir embora dali o mais rápido possível.

— Não me deixe assim, por favor. — pediu, sôfrego.

— Eu... Zhoumi... — não sabia o que dizer. Mesmo bêbado, ele parecia tão abatido e indefeso... — Tudo bem. — desistiu por fim. Tirou o celular do bolso e mandou uma mensagem para Heechul, avisando que não iria voltar. — Eu vou só pegar uma camisa sua emprestada pra dormir. Você sujou as minhas roupas com sangue. — dito isso, despiu-se da camisa e calça na frente dele sem pudor algum e abriu o pequeno closet, tirando de lá a camisa social que costumava usar e a vestiu para então deitar no lado vazio da cama.

— O seu cheiro é bom. — aproximou-se e aninhou a cabeça no peito dele, deslizando a ponta do nariz no pescoço exposto. — Seu cheiro me acalma, Henry.

— Só feche os olhos e durma. — agradeceu aos deuses por ele não estar vendo suas bochechas coradas e torceu para que não notasse seu coração acelerado.

— Henry... — chamou, como se tivesse medo de não ser ele ali.

— Eu estou aqui, Zhoumi. Não se preocupe, eu não vou embora. — garantiu, ameno, fazendo cafuné nele.

A respiração sobre seu peito foi se acalmando até se transformar no típico ressonar de sono pesado. Zhoumi ainda se remexeu um pouco, aparentemente procurando melhor posição, prendeu uma perna sua entre as dele e descansou o braço encima do seu quadril, deixando-o imobilizado. Por um tempo, apertava os olhos e murmurava algo incompreensível, às vezes o chamava em meio ao seu sonho, mas não acordava. Era inevitável seu coração aquecer com isso, suas bochechas corarem de leve e o sorrisinho estúpido repuxar seus lábios.

Eu sou um tolo apaixonado.

Suspirou e encarou o teto, ainda deslizando os dígitos pelos fios espessos. As palavras de Heechul não paravam de rondar seus pensamentos por um segundo. Mesmo sendo um pouco grosso ao ter dito aquilo, Heechul estava certo o tempo inteiro, sempre esteve. Ele o conhecia bem para saber quando algo o afligia e era ele quem sempre o incentivava a correr atrás de suas ambições.

E o que Henry queria? Ele sinceramente não fazia ideia, pelo menos quando se travava de Zhoumi.

Os últimos três anos passaram num flash diante de seus olhos. É claro que nem tudo foram flores entre eles, principalmente por conta do seu jeito orgulhoso. Era característico da sua personalidade ser arisco, admitia, mas não era como se fosse assim o tempo inteiro, somente quando algo não lhe agradava. E, por mais que o rosto de Zhoumi ficasse vermelho de raiva certas vezes, via o brilho no olhar dele quando o contestava, o sorriso que ele tentava conter quando o retrucava. Zhoumi nunca havia dito isso para si, mas era palpável que adorava quando o confrontava, pois era o tipo de provocação que mais o excitava. Ele podia não ser mandão, mas ainda era um alfa, estava na sua natureza agir instintivamente dominante quando contrariado.

E só os deuses sabiam o quão incitante era ter o lado dominador de Zhoumi desperto durante o sexo.

Tirando a parte carnal, eles eram muito, mas muito próximos. Já tinha perdido a conta de quantas vezes despejou seus problemas para cima dele. Não sabia se o chinês o ouvia reclamar porque trabalhava com aquilo ou por se importar consigo, era difícil de dizer ao certo em razão de ele não falar abertamente sobre seus sentimentos. Talvez seja por isso que aquela discussão de antes tomou proporções sérias.

No fundo, esperava que ele fosse finalmente relevar que o correspondia, que diria que daria um jeito para acabar com o casamento arranjado, que prometeria que iriam ficar enfim juntos, mas não, ele tinha que ter agido feito um babaca ofendido por ter escondido isso tudo por anos, como se fosse a verdadeira vítima da situação. A realidade era dura.

Zhoumi era para si o que o fortalece e fragiliza, como um remédio e uma toxina, o abrigo e desamparo, a dúvida e certeza, o problema e a solução: ele era tudo.

Menos seu.

E essa era a parte mais dolorosa e frustrante, saber que seus esforços foram por uma causa fútil que só fez em si machucados profundos.

Encarou o responsável de toda aquela angústia. O rosto sereno e despreocupado estava com uma das bochechas amassadas contra seu peito, o modo que era segurado por ele variava entre proteção e posse, até mesmo como se temesse que fosse fugir. Lindo e inalcançável. Sabia que precisava dar um basta naquilo antes que saísse mais ferido do que já estava e, com esse pensamento, adormeceu.

Horas mais tarde, o sol despontou no horizonte. Os feixes luminosos invadiam o quarto através da janela que tinha suas cortinas abertas, dissipando a escuridão conforme o astro majestoso ascendia. Zhoumi apertou os olhos e resmungou pela claridade sobre seu rosto, rolando na cama. Tateou o colchão, inconscientemente procurando algo, ou melhor, alguém. Encontrando apenas os lençóis desarrumados, sentou-se na cama. O mal-estar característico da ressaca ficou evidente naquele momento, sentia a cabeça latejar como o inferno, a boca estava seca, estava sensível a claridade, alguns músculos estavam doloridos: seu corpo estava mais do que fatigado. Não lembrava da última vez que ficou tão mal assim.

Barulhos de passos chegaram aos ouvidos dele, e levantou o olhar na mesma direção. A porta de seu quarto se abriu, revelando um Henry vestido apenas de boxer que sequer se limitou a encará-lo quando adentrou o cômodo. O rosto do menor estava impassível quando se aproximou da cama, onde suas roupas estavam jogadas ali perto.

— Henry? — sua voz saiu arranhada por conta da garganta seca. Pigarreou para ver se seu tom melhorava e tentou manter os olhos abertos, apesar de ser difícil para si no momento. — Ainda está cedo. Volte para a cama, durma mais um pouco comigo.

— Eu tenho que ir. Preciso ver se meu smoking precisa de algum ajuste antes de me casar. — o menor se abaixou e pegou a calça, vestindo-a em seguida.

— Não vá. Não faça isso. — agarrou seu pulso.

— Chega, Zhoumi. Chega, eu não aguento mais isso. — Henry puxou o braço, finalmente o encarando. Seu rosto era raivoso. — Todos esses anos, não tivemos nada concentro, tudo foi puramente físico. Se eu soubesse que as coisas acabariam assim, teria dado um fim nisso antes. Mas não, embora fosse previsível demais, eu resolvi me fazer de cego. Sabe por que? — sorriu, debochado. — Eu achei que tinha chance, nem que fosse uma mísera chance, de te conquistar aos poucos... E o que ganho? A sua amizade, — enfatizou a palavra. — algumas fodas ocasionais e ajuda no cio. Tudo isso a preço de quê? — o fuzilou com o olhar. — Você não sabe o quanto é dolorido ter e não te ter ao mesmo tempo, estar perto e, ainda assim, tão distante, porque é exatamente dessa forma que me sinto em relação a você.

— Você... — umedeceu os lábios, sem saber o que dizer. — Você... é muito novo... Você é filho do meu chefe... Você-

— De novo isso? Pelo amor dos deuses, Zhoumi, já se passaram três anos, e você continua agindo como se eu tivesse quinze! Eu odeio quando me trata como criança, quando me trata como uma boneca de porcelana, quase como se eu te pertencesse. Adivinha? Nisso tudo, você não é meu, nem eu sou seu, e nem nunca seremos um do outro por causa da merda desses seus empecilhos! Porra, Zhoumi, me veja como um homem e não como uma criança! Eu quero algo concentro entre a gente, não só isso que nós temos, seja lá o que for! Eu não quero ficar no escuro, eu não quero ter mais que me esconder! Eu quero ter algo real, porque eu estou farto de toda essa merda que se acumulou em três anos! — despejou tudo num berro.

Se antes Zhoumi estava surpreso, agora estava verdadeiramente pasmo. Por mais que fosse Henry falando, não parecia ele. Aquele era um lado dele que nunca havia lhe revelado, um lado ferido que fez o chinês sentir-se mal. Em pensar que aquela relação estava sendo vantajosa para ambos, céus, como esteve enganado o tempo todo! A imagem do Lau, construída por sua mente, de um garotinho inocente se quebrou. Henry não chorou em momento algum, não que esperasse aquilo, sua voz não vacilou e nem mesmo seu olhar; estava ali, firme, orgulhoso, como sempre foi. O garotinho que havia conhecido cresceu e, agora, estava de rosto vermelho, ombros subindo e descendo com a respiração descompassada, os olhos azuis devido a sua tamanha raiva, as feições torcida numa expressão irritada.

— Henry...

— Se realmente quer que eu fique, — voltou a falar, tornando a recuperar a compostura. — precisa me dar um bom motivo pra isso. — esperou, esperou, esperou, com seu último fio de esperança, mas esperou. E nada. O maior ainda se encontrava com a mesma cara espantada e sem reação. — Então, é assim... — riu irônico da própria condição atual. — Talvez Heechul tenha razão. Talvez eu não devesse ficar preso a algo sem futuro. — vestiu a camisa de uma vez, não aguentando olhá-lo. — Eu nunca tive chances com você no final. — falou, amargo.

— Esse não é você. — Henry trincou o maxilar ao ouvir aquilo.

— Não mude de assunto. — girou o pescoço em direção a voz. Estava a ponto de voar no pescoço dele.

— Não, esse não é você, Henry. Você cursar medicina, assumir a direção do hospital no lugar do seu pai, aceitar um casamento arranjado... Não percebe? Eu lembro até hoje da nossa primeira conversa, Henry. Você não queria nada do que seu pai queria para ti. Pelos deuses, você é um ômega orgulhoso, que se impõe quando algo não te agrada, que não aceita que os outros escolham por ti! — levantou-se, pouco se importando se qualquer movimento estava piorando sua enxaqueca. — Você era mais novo naquela época, mas eu sentia a firmeza das suas palavras, a decisão. Você sabia exatamente o que queria. E é o que ainda quer. Eu te conheço muito bem, Henry, e sei que sua opinião não mudou. Mas você resolveu desistir, como se nada do que quer valesse a pena, como se houvesse simplesmente cansado. — o segurou pelos ombros, mas seu toque foi repudiado e suas mãos, jogadas para longe. — Não, o Henry que conheço não iria simplesmente abaixar a cabeça como alguém sem voz e concordar com tudo isso. O Henry que conheço e amo não cometeria esse erro.

— O que disse? — os olhos de Henry dobraram de tamanho. Pela primeira vez, a voz dele vacilou. — Amar...? Você... Zhoumi, você me ama?

Zhoumi se deu conta do que falou no segundo seguinte. Amar... aquela palavra havia saído de sua voz boca de maneira tão espontânea que acabou se assustando. Era isso? Amava Henry? Ele não sabia dizer. Talvez toda aquela situação o fez soltar aquela palavra como meio de virar o jogo. Henry não podia simplesmente tentar jogá-lo na parede como estava tentando.

Mas por que, mesmo assim, sentia-se tão fraco vendo aqueles olhos brilharem marejados à espera de uma confirmação?

— Você nem consegue dizer sim ou não. — um sorriso, dessa vez triste. — Eu não sei por que ainda insisto nisso, pelos deuses... — desviou o olhar por um momento, piscando para afastar as lágrimas que ameaçavam descer. Todo o estresse acumulado estava querendo sair em forma de choro, e chorar na frente dele era algo inadmissível. — E eu odeio dizer que te amo quando é tão difícil pra mim. E odeio dizer que eu te quero quando você deixa bem claro que não me quer. — foi franco de uma vez por todas. — Eu nunca iria te perguntar, porque, lá no fundo, tenho certeza que eu sei o que você diria. Você diria, “Me desculpe. Acredite em mim, eu te amo, mas não desse jeito”. — uma lágrima ousou escorrer. — Ou nem mesmo chegaria aos pés disso. Tudo o que recebi é essa cara — outra lágrima. — de espanto. — abaixou a cabeça e enxugou o rosto com as costas das mãos. — Espero que tenha aproveitado isso, porque, pra mim, já basta.

— Henry! — o chamou quando o viu sair pela porta do quarto.

Sua cabeça latejava, não sabia se era pela situação, pela ressaca ou pelo dois, mas isso não importava. Engoliu o resto do orgulho e tomou coragem, indo até ele. Encontrou o menor terminando de calçar os sapatos e pegar as chaves do carro, pronto para sair. Não sabia o que estava fazendo, estava numa espécie de torpor que o induziu a virá-lo para si e segurar seu rosto entre as mãos. Sem pensar duas vezes, juntou seus lábios e fechou os olhos.

Algo lhe dizia que aquele beijo não iria acabar bem, talvez pelo modo desesperador que Henry correspondeu ou pelo gosto salgado das lágrimas dele. O forte Henry estava desmoronando na sua frente, e não sabia o que fazer, então aprofundou o osculo ao máximo que pode. No momento em que adentrou a boca dele com a língua, estava praticamente sobre ele, querendo trazê-lo para perto, mas o menor não se moveu um centímetro, apenas se limitou a segurar brevemente a barra de sua camisa para, segundos depois, deixar as mãos caírem inertes ao lado do corpo. Eram os mesmos lábios, a mesma língua, o mesmo ômega que o tirava do sério, mas não era Henry. Ou talvez fosse, um Henry que se manteve escondido por muito tempo, sofrendo diante de seus olhos de maneira não visível.

Aquele beijo só trouxe uma sensação de pesar a si, um gosto amargo que não deveria pertencer a alguém tão doce como o mais novo. Quando as bocas se separaram e as respirações se mesclaram, Zhoumi tornou a abrir os olhos, vendo algo que não desejava ver: aqueles orbes, comumente tão brilhosos, estavam opacos, perdidos. Henry abaixou a cabeça e tirou suas mãos do rosto dele. Por um instante, o viu abrir e fechar a boca várias vezes, sem dizer nada. Ele apenas lhe deu as costas e saiu, fechando a porta atrás de si.

— Não me deixe... Henry... — escorou os braços na porta e descansou a testa ali, remoendo-se por tudo aquilo.

Por que diabos estou me sentindo assim, afinal?

 

(...)

 

Mais um dia, mais um expediente. Eunhyuk, aos vinte e seis anos, era habituado a rotina de trabalho, que muitas vezes era cansativa, e a levaria bem como sempre levava caso não estivesse se sentindo mal naquele instante. Sim, podia recorrer a sua chefe, Park Kyungri, mas achava muito inconveniente abordá-la para pedir folga apenas por um mal-estar. Suspirou, voltando a se concentrar na pasta do caso que analisava com Siwon. Donghae não estava por ali, estava fazendo uma ronda com outro grupo de policiais no momento.

Ele aturou aquilo do melhor jeito que pode, tomando cuidado para que o maior não notasse seu desconforto. Como precisavam de um auxílio a mais para entender aquela pista, tinham que falar com outro perito para ajudá-los com aquilo. Sentiu-se fraco quando levantou, tanto que ficou estático por um instante, vendo Siwon caminhar em direção a porta da sala deles.

— Siw... — conseguiu dar alguns passos até ele, mas sua voz se perdeu e seu corpo foi de encontro ao chão.

 Siwon, que havia acabado de sair da sala, virou o rosto quando foi chamado. Seus olhos arregalaram quando presenciou Eunhyuk desmaiar a alguns passos de distância, ocasionando um baque surdo no piso. Voltou correndo no mesmo segundo, pegou o menor desacordado no colo e o colocou cuidadosamente deitado no sofá.

— Hyuk. Ei, Eunhyuk! Por favor, acorde. O que houve? — deu leves tapinhas no rosto do parceiro, a fim de fazê-lo despertar. — Hyuk, fale comigo! — para ele, lidar com situações de alto risco nas quais ajudava sobreviventes de algo muito sério, como tentativa de homicídio, era algo que estava familiarizado, mas o nervosismo não o deixava pensar em como acudi-lo.

— Voltei. — Donghae anunciou ao entrar na sala, deparando-se com a cena. — O que houve? — perguntou, assustado, ajoelhando-se ao lado de Siwon e fazendo carinho no rosto do ômega num gesto automático.

— Eu não sei... — Siwon passou a mão no cabelo, olhando fixo para Eunhyuk. — Ele simplesmente me chamou e caiu desacordado. — sua fala veio tão rápida que acabou se atropelando nas palavras.

— Ok, calma. Checou o pulso? — Siwon balançou a cabeça para si, negando. — Se acalme, Siwon... — a voz foi baixando, e Donghae franziu o cenho. — Você está sentindo?

— O que? — respondeu praticamente em pânico, olhando em volta à procura de algo que nem sabia o que era.

— Tinha mais alguém aqui? — imitou o gesto, mas o fazendo de forma calma e paciente.

— Não, apenas o Eunhyuk e eu. — Donghae franziu o cenho ao ouvir a resposta.

— S-Siwon. — a atenção dos alfas se voltou para Eunhyuk, que recobrava a consciência, olhando confuso ao redor. — O que aconteceu? — só teve tempo de perguntar aquilo, pois logo Siwon o agarrou. — Siwonie, está me sufocando. — resmungou, puxando-o levemente pela camisa.

— Ah, desculpe. — ergueu um pouco o tronco e segurou o rosto dele entre suas mãos, selando seus lábios rapidamente, antes de sair de cima dele.

Eunhyuk piscou, ainda mais confuso do que antes e virou o rosto, finalmente percebendo Donghae ali.

— Donghae, quando você chegou? E por que estou deitado? — levantou-se num movimento rápido. Uma tontura forte o atingiu, que o fez cambalear e ser segurado por ambos os alfas.

— Você comeu direito? — Donghae o questionou, preocupado. O mais novo lhe confirmou. — Eu não entendo. — murmurou, pensando consigo mesmo.

— Tudo bem, eu já estou melhor. — puxou os braços do agarro para ficar de pé por conta própria.

— Não está, não. — Siwon se aproximou mais, com medo de que fosse se desequilibrar de novo.

— Sim, estou. — retrucou, colocando as mãos na cabeça. O maior rosnou baixo diante de suas palavras. — Não rosne para mim, Siwon. — bufou, falando ríspido. — Mas se isso os deixa felizes, vou pedir folga para a chefe e marcar uma consulta. Satisfeitos? — torceu o nariz e saiu de perto deles.

— Mas você desmaiou, Hyukie. — Donghae deu um passo em direção a ele, conseguindo pará-lo na porta apenas com suas palavras. — Você desmaiou agora a pouco.

— Eu sei, Donghae. — falou, sem se dar o trabalho de encará-lo. — Eu sei me cuidar. — e saiu sala a fora.

— Ele não está bem. — Siwon sussurrou para o outro, embora só estivessem os dois ali. — Ele não tem esse temperamento, deve ser por causa do cio dele.

— Sim, mas não podemos fazer nada. — suspirou. — Vamos para casa, o plantão da noite não é nosso hoje. — ofereceu um sorriso a ele, logo deram as mãos para sair dali e ir atrás de Eunhyuk.

Muitas coisas mudaram para o trio desde o pedido de casamento, em especial para Eunhyuk, que se tornou alguém menos tímido e mais sorridente para com seus parceiros. Ele não compreendia como haviam conseguido legalizar tal proeza, mas Kangin, como o bom advogado que era, explicou ao amigo sobre a brecha que havia encontrado ao analisar minuciosamente as leis para tornar aquilo possível. Assim, após ter se formado na universidade, casou tanto no papel como numa pequena cerimônia com alguns amigos e colegas de trabalho dos seus parceiros.

Sobre eles terem optado aderir seu sobrenome? Bem, é claro que ficou surpreso e disse que não era necessário alterarem seus sobrenomes, mas eles insistiram, então acabou ficando por isso mesmo. Siwon e Donghae sabiam mesmo como surpreendê-lo.

Após o desmaio, Eunhyuk sentiu uma série de coisas durante os dias que se seguiram. Já havia ido ao médico, estando à espera do resultado dos exames, que deveria buscar dentro de dois dias. Enquanto isso, os alfas estavam insuportáveis ao seu ver, lhe perguntando a todo momento se estava se sentindo bem.

No dia em que recebeu os exames, optou por abri-los em casa por ter que preparar o almoço, já que ainda estava de folga. Seus maridos haviam pegado o plantão da noite para poderem passar o dia consigo e chegariam pouco antes do almoço. Assim que chegou em casa, deixou as chaves do carro sobre a mesa de centro da sala e se sentou no sofá, abrindo os envelopes brancos com seu nome.

Eunhyuk travou ao ler as informações ali contidas. O choque foi tamanho que ele não soube o que fazer. Ficou apenas ali, estático, olhando aquele papel com os olhos arregalados. Quando pareceu sair daquele estado de torpor, levantou-se e seguiu para a cozinha para preparar a comida, seus movimentos puramente robóticos.

 

Ao adentrarem a residência, Donghae e Siwon retiraram os sapatos, mas pararam antes mesmo de prosseguirem para o corredor. O ruído de algo sendo espancado chamou atenção de ambos, que se entreolharam e saíram em disparada, preocupados se alguém estava ali com seu ômega. Pararam assim que chegaram na porta da cozinha, viram apenas Eunhyuk batendo com um cutelo na carne sobre uma tábua de cortar comida. Aquele pedaço de carne com certeza não tinha culpa de nada, seja lá o que estivesse levando o mais novo a fazer aquilo.

— Eunhyuk, — o ômega estremeceu ao ouvir a voz de Siwon. — o que está fazendo?

Eunhyuk sentiu um frio na barriga com a pergunta. Ele não estava preparado para dizer aquilo aos alfas. Estragaria tudo, tudo que haviam construído até ali, suas carreiras, tudo.

— Hyukie, pare com isso. — Donghae tocou o ombro do mais novo, que largou o cutelo e os encarou. Seus olhos estavam cheios d’água.

— Me desculpem. — e a primeira lágrima deslizou pela feição chorosa e amedrontada. — Desculpem... desculpem... eu não queria estragar tudo. — pediu em tom embargado, e os mais velhos se entreolharam sem entender nada. — Por favor, me desculpem. — o pedido veio em forma de soluços.

— O que houve? — Siwon foi quem perguntou e se aproximou de Eunhyuk, que estava apoiado na pia, tendo os fios afagados por Donghae.

O alfa menor travou ao ouvir o motivo daquilo tudo numa resposta seca.

 — Estou grávido.

Eunhyuk cobriu o rosto com as mãos sujas com pequenos pedaços da carne. Ele não percebeu que os alfas estavam chocados, trocando olhares e tentando digerir a notícia, então toda essa falta de reação deixava-o uma pilha de nervos. O medo era tanto que, sem perceber, passou a arranhar o pescoço com força.

— Me desculpem... — ele escorregou até parar de joelhos no chão. — Não me deixem sozinho, por favor. É culpa minha, foi descuido meu. — o choro incessante quase impedia a compreensão de suas palavras. — Não me abandonem, por favor. — pediu, desesperado, e Siwon notou o que estava a fazer ao notar uma pequena quantidade de sangue no pescoço do ômega encolhido ali.

— Donghae. — chamou, e o outro pareceu ter saído de um transe. — Pegue o remédio dele. — falou ao passo que se agachava para abraçar Eunhyuk e via Donghae sair correndo para buscar o que foi antes solicitado. Esperava não ter que vê-lo tomando aqueles remédios fortes novamente, mas eles próprios haviam causado aquele ataque do mais novo.

Donghae não tardou a retornar a cozinha. Deu o remédio a Eunhyuk enquanto, junto de Siwon, numa tentativa de confortá-lo, repetia sem parar que jamais iriam abandoná-lo.

— Nós te amamos. — Siwon, ainda abraçando o corpo do menor, falou. — Nós realmente não planejávamos ter filhotes agora... — Eunhyuk escutava tudo calado, tentando acalmar seu coração e pensando como criaria sozinho seu filhote. Porém, ao observar os rostos sorridentes dos alfas, seu medo se dissipou junto daquele pensamento idiota. — Não tem que se desculpar por nada. Além do mais, não é como se você tivesse feito esse filho sozinho.

Donghae riu e levou a mão até o abdômen do menor, que sorri com o gesto. Logo, a mão dos três estava alisando o local sem sinal de protuberância ainda.

— Mesmo não sendo planejado, — Donghae deixou um beijo na testa de Eunhyuk e sorriu para Siwon. — nosso filhote será muito amado por nós três.

 

(...)

 

— Tem certeza que não tem problema eu ir também? — Henry perguntou ao parar do lado da porta do passageiro, fazendo o outro rir. — Não ri, isso é sério. Eles te só convidaram, eu não quero ser um incômodo.

— Pare com isso, Henry. Eu já disse que não tem problema se você for comigo. — desligou o alarme do carro e o destravou. — Eles não são assim.

— Mas vai ser muito inconveniente. — ocupou o assento ao passo que o maior fazia o mesmo. — Seus amigos não me conhecem, e, de repente, eu apareço lá contigo para visitar o bebê deles e ir jantar.

— Não tem problema de você vir comigo. — repetiu, fechou a porta e colocou o cinto, indicando para o menor fazer o mesmo. — O que foi? Está nervoso?

— Eu nunca conheci um amigo seu antes. — a risada de Zhoumi preencheu o veículo. — Não ri!

— Relaxa, eles vão gostar de você. — colocou a chave na ignição e checou os retrovisores. — E eles queriam te conhecer de qualquer forma. — murmurou.

— O que disse?

— Nada, só pensando no caminho mais rápido para chegar lá. — deu partida no carro, deixando o prédio.

A atenção de Zhoumi centrava-se na paisagem em movimento à sua frente. Seu olhar somente desviou-se do tráfego para Henry quando o veículo parava em um sinal vermelho. Observou o modo apreensivo do menor torcendo as mãos sobre o colo, mordendo os lábios inconscientemente e suspirando pesado vez ou outra antes de olhar os arredores através da janela. Sorriu. Apesar de não ser comum vê-lo assim, tinha que admitir: ele ficava adoravelmente engraçado.

A situação entre eles estava voltando a normalizar. De início, era algo estranho, mas ambos estariam mais abatidos se houvessem cortado contato de vez. Eram egoístas sim, tolos, dependentes; melhor era, para eles, aquele inevitável clima de estranheza pairando a estarem separados.

Quando Zhoumi chegou no trabalho na segunda, estava exausto de um fim de semana mal aproveitado. Henry não havia atendido nenhumas de suas ligações e mensagens, o que acarretou em horas perdidas em tentativas frustradas. Pensava que o menor realmente havia desistido de tudo, mas ao ver o semblante deprimido do Dr. Lau, uma centelha de esperança surgiu.

Embora estivesse temeroso que seu orientador fosse desconfiar de si, o questionou por que de estar assim. Bastou perguntar para ficar a par de tudo. Dr. Lau, com muito pesar, lhe contou sobre ter discutido com Henry, que cancelou o casamento no último segundo sem seu consentimento, lhe frustrou, como Clinton, dizendo que não iria sucedê-lo, além de ter pegado suas coisas e saído de casa, decido a morar com os irmãos Kim para que não interferisse mais em sua vida.

Zhoumi lutou contra um sorriso e não pensou em mais nada, dirigiu quase que desesperado para o apartamento dos Kim assim que seu plantão encerrou. Foi recebido por um Heechul furiosíssimo, possesso. Ele escutou tudo calado, deixando o outro dizer o que quisesse de si. O escândalo foi tanto que o sindico apareceu ali para saber o motivo da gritaria. Ryeowook pediu mil desculpas, tanto para si quanto para o sindico, pelo comportamento explosivo do irmão e enxotou Zhoumi de uma forma mais educada.

A porta estava quase fechando quando a figura curiosa e confusa de Henry apareceu no pequeno corredor da entrada. Zhoumi espalmou a mão grande na porta e a empurrou, correndo até ele e o esmagando entre seus braços. Ali, na frente dos irmãos Kim, mandou seu orgulhoso para os ares e implorou o perdão dele. Mesmo Henry não tendo dito nada ainda, segurou o rosto dele com as mãos, roubou um selar e encostou suas testas, prometendo-o jamais feri-lo novamente.

Henry não esboçou expressão alguma, mas seu coração latejava rudemente em seu peito pelas palavras de Zhoumi. Uma parte de si dizia para não ceder, alegando que as promessas dele eram falsas, enquanto a outra desejava o que outro estava propondo: um relacionamento concreto, sem mais precisarem se esconder. E ele sabia dos empecilhos do chinês, mas se deixou perder naquele olhar suplicante e cedeu, beijando-o, torcendo para não estar comentando uma burrice.

Henry viu que o maior falava sério quando o mesmo mostrou as caras para sua família. Foi duro ouvir as palavras de seus familiares julgando o namoro deles, era cruel a maneira como insinuavam que Zhoumi estava se aproveitando da sua inocência para levá-lo para a cama e criticavam ambos pelo relacionamento inconveniente e sem compromissos que mantiveram antes. Cada palavra doía em si e tornava sua insegurança cada vez maior, mas Zhoumi segurou sua mão e desmentiu cada acusação feita. Ele queria aquilo, realmente queria, e ver isso lhe deu forças para elevar a cabeça e mostrar tanta firmeza quanto Zhoumi mostrava.

E pensar que já passava de um ano que estavam juntos...

Olhares tortos e narizes torcidos dirigidos a eles era inevitável, fora a perda do emprego de Zhoumi na clínica devido a tudo isso. Apesar dos apesares, eles não se afastaram. O relacionamento deles foi muito mais forte do que qualquer coisa que tentasse os atingir.

— Eu só vou tocar a campainha quando parar de mexer o cabelo. — Zhoumi declarou após ver o mais novo repetir o ato pela milésima vez. — Por favor, você vai conhecer meus amigos, e não ir para uma entrevista de emprego. Não tem por que ficar assim.

— A sensação é parecida. — ele permaneceu arrumando suas madeixas, que voltaram para o castanho natural. — Tá, toca a droga da campainha, eu já entendi. Que saco. — resmungou, parando a ação nervosa e vendo Zhoumi tocar a campainha.

— Finalmente chegou. — assim que a porta foi aberta, um rapaz de cabelos castanhos que aparentava ter a mesma idade de Zhoumi surgiu. — E vejo que veio acompanhado. — ele encarou o ômega. — Olá, Henry, sou Donghae. É bom finalmente te conhecer. — estendeu a mão em direção a ele.

— Ah... O prazer é meu. — um tanto sem graça, o cumprimentou com um aperto, estranhando ele saber seu nome. — Desculpe aparecer aqui sem avisar.

— Não disse que ele era tímido desse jeito, Zhoumi. — Donghae desviou sua atenção para o amigo.

— Ele não costuma ser assim, só está nervoso. — descansou uma mão no ombro de Henry.

— Que meigo. — o sorriso que ele lhe lançou parecia suspeito demais para Henry. — Sinta-se à vontade, Henry. Não precisa ficar nervoso. — deu passagem para os dois e seguiu corredor a dentro.

— Zhoumi. — o chamou enquanto tirava os sapatos.

— Sim?

— Por que ele falou como se já tivesse me visto antes? — encarou o caminho que Donghae fez. — Você fala de mim pra eles?

— Sim, e não. — Henry o encarou, confuso. — Ele já te viu mesmo, e eu não sou de falar sobre meus relacionamentos, apesar de eu ter revelado seu nome sem querer uma vez.

— Mas ele... — umedeceu os lábios, mais confuso do que antes. — Ele não é um dos policiais que visitava aquele ômega que você cuidou com o meu pai? — perguntou. Lembrava do rosto daquele alfa de algum lugar, tinha certeza disso.

— Sim, ele mesmo, perito Lee Donghae. Na verdade, Yoo, já que ele casou.

— Casado? — nada fazia sentido para si. — Só que no pescoço dele... — tocou o próprio pescoço com as duas mãos.

— Há duas marcas, uma de alfa e outra de ômega? — completou por ele, levantando uma sobrancelha. — São dos esposos dele, aquele alfa que o acompanhava e o paciente que eu cuidei há três anos com seu pai. Algum problema?

— Não, eu só... não esperava que eles fossem seus amigos. — coçou a nuca, esperando não ter soado preconceituoso ao fazer aquela pergunta. — E como ele sabe quem sou eu?

— Ele te viu, o outro alfa também. Eles são policiais treinados, é fácil para ambos terem percebido um ômega que ficava me espreitando no meu estágio. — Henry arregalou os olhos.

— Então, eles sabem da gente? Tipo, desde o início?

— É, pode-se dizer que sim. — deu de ombros, sorrindo fraco. O Lau corou. — Você fica uma graça vermelho. — ganhou um soco no braço. Henry odiava ficar constrangido na frente de qualquer um e mais ainda quando era na sua.

Os dois atravessaram o corredor. A nova casa dos Yoo era maior que a antiga por motivos de agora haver uma criança que precisa de espaço para explorar. Ao chegarem na sala de estar, depararam-se com uma cabeleira castanha acinzentada em um dos sofás, que se virou notando a chegada das visitas.

— Zhoumi! — levantou-se o sofá e o abraçou forte. — Finalmente veio! Kihyun já tem quase um ano, e você ainda não tinha vindo vê-lo.

— Não exagere, Eunhyuk, ele só tem seis meses. — devolveu o abraço, quase o esmagando com o aperto.

— Mesmo assim. — o segurou pelos ombros, separando seus corpos. Sua atenção se voltou para a pessoa ao lado do chinês. — Ah, você desse ser o Henry.

— Desculpe ter vindo sem avisar. — Henry brincou com os dedos.

— Eu disse que ele estava sem graça, Hyukie! — a voz de Donghae veio da cozinha.

— Você disse alguma coisa para ele estar assim, Hae? — gritou de volta. — Não ligue para ele. Hae não sabe quando deve parar de implicar.

— Não, tá tudo bem. — abanou as mãos, sorrindo fraco.

— E onde está Kihyun? — Zhoumi perguntou, olhando ao redor e estranhando que Siwon também não estava por ali.

— Siwonie está terminando de dar banho nele e vesti-lo. — indicou as escadas do segundo andar. — Ele é um pai de primeira viagem bem coruja, não deixa nosso filhote sossegado.

— E ele ainda reclamava do Donghae tagarelando sobre filhotes, francamente.

— Eu ouvi isso. — todos olharam para as escadas, onde Siwon, com o filho nos braços, descia degrau por degrau sem pressa alguma. Ele caminhou e parou do lado do esposo. — Bom te ver também, Zhoumi.

— Olá, Siwon. — sorriu e acariciou de leve a bochecha do bebê, que tinha uma mão na boca e agarrava a camisa do pai com a outra. — E esse é o Kihyun. Ele é tão pequeno. Qual a classe dele?

— Alfa. — olhou abobado para o filho. — O que pensa que está fazendo? — estreitou os olhos e afastou Kihyun de Zhoumi quando este tentou pegá-lo.

— Pare de ser ciumento e deixe Zhoumi carregá-lo, Siwonie. — Eunhyuk deu um tapa fraco no braço de Siwon.

— Mas, Hyuk-

— Yoo Siwon, entregue o Kihyun a ele. — mandou, encarando-o com repreensão estampada em seus olhos âmbar. Siwon fez uma careta emburrada, mas, no final, o obedeceu. — Ah, para, nem foi tão difícil assim. — o abraçou de lado e beijou a bochecha dele.

— Foi sim. — resmungou ainda emburrado, descansando o braço nos ombros do esposo. Encarou o outro ômega ali. — Como está, Henry?

— Bem. — falou simplista, pegando a mãozinha de Kihyun. — Seu filhote é muito fofinho.

— Já gostei dele, Zhoumi. — Siwon comentou, atraindo a atenção de Henry. — Eu dou minha benção, podem casar.

— Vá a merda, Siwon. Não deixe Henry encabulado. — os Yoo riram enquanto Henry escondia o rosto vermelho em seu braço.

Os quatros rumaram até a cozinha para fazer companhia a Donghae. Enquanto os Yoo terminavam de fazer o jantar, Zhoumi e Henry se ocupavam em entreter o pequeno Kihyun e conversar com os pais da criança. A comida foi posta à mesa, e todos sentaram em seus devidos lugares. Kihyun agora estava na cadeirinha ao lado de Donghae que parou de comer para alimentá-lo, ouvindo as visitas elogiarem a comida e Siwon sugerir a Eunhyuk para comprarem fantasias de bichinho para que Kihyun vestisse. O clima agradável era conservado naquele jantar.

— Como está sendo essa vida de pais? — Zhoumi se apoiou na pia, observando Eunhyuk e Donghae lavando a louça.

— Sinto falta das noites inteiras de sono. — Donghae comentou, guardando os pratos no armário. — Mesmo sendo um bebê quieto, Kihyun nos acorda no meio da madrugada todos os dias.

— Ele não parava de chorar ontem. — Eunhyuk comentou. — Won entrou em pânico por nós três, então tivemos que ir ao médico às quatro e meia da manhã para ver se ele não enfartava de nervoso. — entregou o último prato a Donghae e fechou a torneira.

— Mas é um pai coruja mesmo. — Zhoumi riu. — Kihyun está bem desperto hoje pelo menos. — observou Donghae caminhar para a sala, onde Siwon e Henry brincavam com Kihyun no tapete acolchoado entre os sofás.

Henry sorria, não qualquer sorriso, mas sim um daqueles que eram capazes de transformar seus olhos em dois risquinhos. Ele interagia bem com Kihyun sentado em seu colo, este o respondendo com pequenos barulhos, como se estivesse entendendo cada coisa que o ômega falava. Seu coração se aqueceu vendo aquilo.

— Eunhyuk, como sabe que se está apaixonado? — perguntou, sem retirar os olhos da cena. — Donghae e Siwon já namoravam por anos, mas quando te conheceram, eles se apaixonaram de novo sem deixar o que já tinham.

— Que pergunta difícil. — Zhoumi espiou pelo canto dos olhos Eunhyuk, que terminava de enxugar a pia. — A gente só... sabe. — devolveu o pano para o lugar e cruzou os braços, escorando o quadril na bancada. — Posso dizer que foi amor à primeira vista com eles. Meu lobo reagiu a eles de um modo que não dá para explicar. — um sorriso despontou em seu rosto, que ruborizou levemente. — Eu sentia falta deles, principalmente quando fiquei internado e desejava, mais do que tudo, viver com eles, mesmo com o fato dos dois serem comprometidos. É complicado explicar isso. A pessoa só sente que está.

— Se o lobo reagir, é sinal que está apaixonado?

— Não necessariamente. — pendeu a cabeça para trás, pensativo. — Hae me contou que, quando se apaixonou pelo Won, o lobo dele não reagiu nem nada, tanto que eles começaram como amigos.

— Então, como?

— Só aconteceu. — deu de ombros, ainda com o olhar preso no teto. — O coração do Hae foi conquistado pelo Siwon que se sentiu dessa mesma forma. O amor é algo impreciso, não se sabe quando vai acontecer. — concluiu, voltando a encará-lo. — Por que está me perguntando isso? — seguiu o olhar de Zhoumi, percebendo a maneira enfeitiçada que fitava Henry brincando com Kihyun. — É sério?

— Eu não tenho tanta certeza. — suspirou, esfregando o rosto. — Ele não casou há pouco mais de um ano, mas eu não esqueço o que disse sobre eu não ser sincero e não correspondê-lo. Isso está me matando.

— Hae tinha razão mesmo. — Zhoumi girou o pescoço em sua direção. — Eu não sei o que aconteceu nesses quatro anos, mas dá para ver que ele mexeu contigo tanto quanto você mexeu com ele. Se não tivesse, não se preocuparia em deixar o pescoço dele todo marcado de chupões e não teria entrado na universidade, nocauteado dois seguranças e alguns alfas para tirá-lo de lá.

— Como sabe disso? — Zhoumi deixou o queixo cair. O amigo não estava de licença?

— Won me contou. — deu de ombros. — Tem sorte de não meterem processo em ti.

— Isso não teria acontecido se ele tivesse me escutado. Eu disse que o cio dele estava muito perto e que era arriscado ele ir para a universidade, mas Henry não me ouviu e foi. — resmungou, lembrando-se do ocorrido recente da universidade.

— Ele tem temperamento forte, não vai aceitar as coisas facilmente.

— Tem certeza que não conhece ele? — arqueou as sobrancelhas.

— Deveria conversar com Henry e deixar as coisas a limpo. É o melhor conselho que posso te dar. — apertou o ombro do mais alto, seguindo para a sala após isso.

Zhoumi se manteve na cozinha por mais algum tempo, processando tudo o que Eunhyuk disse. Conversar com Henry? Deixar as coisas a limpo? Para que? Eles não eram o tipo de casal que expressava seus sentimentos um para outro. Isso tinha motivo: a discussão de um ano atrás. Henry havia deixado claro que não queria que tentasse expressar nada sem sinceridade, logo ele também nunca mais havia dito a si que lhe amava. Embora demonstrassem afeto para com o outro, era nítido que Henry ficava na expectativa em certos momentos, esperando que dissesse a maldita frase de três palavras com franqueza.

Entretanto, não a dizia. Não que não tivesse oportunidades, pois já havia dito isso novamente uma ou duas vezes. O problema era que Henry não havia reagido como o esperado.

“Só fale isso quando tiver certeza. Eu quero ouvir a sinceridade nas suas palavras”.

Zhoumi sentiu vontade de mandá-lo ir a merda ao ouvir isso, admitia, mas não o fez por ter notado aquela expressão deprimida adornando as feições bonitas dele. Ele era inseguro quanto a si, e aquilo era fruto da relação “não saudável” que sustentaram durante três anos. Ele estava ferido, acuado pela própria insegurança, receoso quanto a suas palavras, triste.

E era culpa sua ele estar assim.

Zhoumi suspirou, deixou a cozinha e se juntou aos demais, fingindo não estar com a cabeça abarrotada de pensamentos. Foi assim durante os últimos momentos na casa dos Yoo e a volta para o seu apartamento. Ele simplesmente não conseguia parar de pensar em tudo aquilo e o que mais desejava era encontrar o botão de desligar sua mente.

— Zhoumi? — o chinês voltou a si, notando um Henry sentado no seu colo, ostentando uma expressão preocupada. Estava tão no automático que sequer lembrava-se de terem entrado no apartamento e como haviam parado seminus em sua cama. — Tá tudo bem? Você tá distraído.

— Desculpe, eu... — suspirou, alisando as coxas dele em forma de carinho. — Podemos só dormir hoje?

— Ok, mas o que foi? — saiu do colo dele e sentou-se no colchão. — Você não é assim.

— Não é nada, eu só não estou no clima. — arrastou-se no leito, sentando com as pernas para fora dele, apoiando os antebraços nas coxas.

— Mimi... — Zhoumi sorriu, sarcástico, sem que Henry visse. Todos, incluindo ele, o chamavam pelo nome completo, mas o mais novo sempre o chamava assim quando queria fazer manha, e, ironicamente, esse era o apelido carinhoso que sua mãe havia lhe dado quando criança. Sentiu ele aproximar-se e ser abraçado por trás, ganhando um beijo na nuca. — O que tá te perturbando, Mimi?

— Por que você não acredita em mim?

— Como é? — estreitou os olhos, sem entender.

— Nós estamos tendo um relacionamento concreto como você queria, somos namorados, mas não sei dizer se somos um casal. — virou o rosto, capturando por cima dos ombros a imagem do rosto confuso atrás de si. — Você fala que não quer me ouvir dizer que te amo por não estar falando sério, então o que quer? Você não acredita nas minhas palavras, acha que estou brincando contigo-

— Eu nunca disse que está brincando comigo. — Henry quebrou o abraço, sentindo-se ofendido.

— Mas faz parecer. — virou para ele, olhando-o um tanto cansado. — Eu não te entendo, Henry, realmente não te entendo. Eu não sei o quer que eu faça. — umedeceu os lábios antes de dizer: — Eu te amo, Henry, e estou sendo sincero. — juntou as sobrancelhas numa expressão deprimida. — Ver você brincando com Kihyun, pelos deuses... Eu imaginei como seria quando fosse com um filho nosso, me imaginei colocando um anel no seu dedo e também marcando seu pescoço para mostrar que é meu parceiro. — abaixou a cabeça, não querendo mais mostrar o quão abatido estava. Desejava mesmo algo impossível como isso? A que ponto havia chegado? — Eu sei, você vai dizer que só estou acostumado com sua presença e que não gosto de dividir por ser possessivo, sei que vai dizer isso, mas estou sendo sincero. — segurou a mão dele e apertou. — Pelo amor dos deuses, Henry, só me diz o que você quer.

O silêncio reinou no quarto. A falta de reação de Henry comprovava o choque do mesmo. Era claro que estava surpreso, talvez mais do que na última vez há um ano atrás, já que não era de seu feitio ser aberto para falar claramente o que sentia. Estava pensando em deixar o quarto, mas um soluço o parou.

— Henry, o que foi? — o puxou para seu peito sem pensar duas vezes, envolvendo-o com os braços.

— Você imaginou uma vida comigo. — Henry afundou o rosto no vão do seu pescoço. Ele era tão orgulhoso que nem suas lágrimas deixava ver, apesar de poder senti-las escorrendo em sua pele. — Você imaginou mesmo uma vida comigo. — a voz podia estar embargada, mas era possível notar a felicidade de cada palavra. — Eu te amo, Zhoumi.

— Mas o que...?

— Eu finalmente senti sua sinceridade. — um sorriso brincou em seus lábios. — Eu nunca imaginei que quisesse ter mais do que aquele envolvimento casual que tínhamos antes.

— E de que adianta? — Henry finalmente retirou a cabeça de seu pescoço. — Casamento, uma marca, filhotes: você não quer nada disso. Eu perdi a conta de quantas vezes já me impediu de te marcar, de quantas vezes torceu o nariz quando alguém te perguntava sobre casamento e de quantas vezes respondeu que dispensava ter filhotes. — desviou o olhar para a janela, visualizando a lua azul parcialmente encoberta por nuvens. — Você não quer nada disso nem se for comigo.

— Mimi... — era tão raro para Henry vê-lo assim, com a guarda baixa, que ficava sem saber como agir.

— Não me chame assim, por favor. — suspirou, cansado.

— Mimi, olha pra mim. — segurou o rosto dele entre as mãos, forçando-o a fazer contato visual. — Eu sei tudo o que disse, mas sou muito novo pra querer tudo isso. Vejo e convivo na universidade com pessoas que apressaram as coisas e se arrependeram. Eu quero viver a minha vida primeiro antes de pensar em cuidar de outra.

— “Cuidar de outra”? — os olhos de Zhoumi dobraram de tamanho. — Você...

— Talvez eu tenha reconsiderado algumas coisas depois de ter conhecido seus amigos. — fez uma carícia nas bochechas dele com os polegares. — Então, pode ser que os seus planos não sejam mais tão inválidos. — sorriu. — Ai, falei bonito. Era pra você ter gravado. — Zhoumi riu com essa quebra abrupta de clima.

— Eu te amo. — emaranhou os dedos nos fios curtos da nuca dele.

— Eu também te amo. — enlaçou os ombros dele com ambos os braços, iniciando um beijo lento e carinhoso.

Parece que realmente vai valer a pena ter te esperado, Zhoumi.

 

(...)

 

O bebê dormindo foi colocado no berço. Eunhyuk suspirou num misto de alívio e cansaço. Estava tentando ninar seu filhote há mais de meia hora sem sucesso algum, o mais novo de seus dois filhos estava irritado de sono, mas foi uma luta para fazê-lo dormir. Ele deslizou os dedos com cuidado pelos ralos cabelos de Changkyun, observando-o ressonar com as mãozinhas fechadas próximas do rosto tombado para o lado com a boquinha aberta. Céus, essa bolinha fofa era capaz de acordá-lo tantas vezes durante a madrugada e ainda fazia seu mau humor sumir apenas lhe mostrando um sorriso banguela.

Após observá-lo um pouco, saiu do quarto deo seu primogênito (o quarto do bebê ainda não estava pronto, então os dois ficavam juntos por agora) e rumou para o seu. Sentado no chão, Kihyun brincava sozinho com algumas pelúcias, fazendo barulhinhos com a boca quando chocava um brinquedo no outro. O mais velho, que já estava quase para fazer três anos, era tão manso e não chegava a lhe dar tanto trabalho. A criança estendeu os bracinhos quando passou por ele e sentou na cama. Pegou ele e colocou-o em pé em suas pernas.

— Omma, tá com soninho? — Kihyun segurou o rosto do pai, apertando um pouco as bochechas dele com ambas as mãos.

— Não, Ki. — abanou levemente a cabeça, um sorriso involuntário adornando seus lábios. Às vezes, ainda se surpreendia com o fato de ele ter começado a falar tão cedo, mas era bom ter alguém para conversar quando havia apenas a si de adulto em casa. — Quer brincar?

— Mas você tá com os olhos assim. — ignorando a pergunta, o filhote deixou as pálpebras semicerrada, fazendo uma expressão sonolenta e colocou os indicadores sob os olhos para imitar as olheiras. — Tipo quando o Hae appa e o Won appa tão em casa de noite.

— É, talvez eu esteja um pouco cansado. — Eunhyuk puxou o travesseiro para trás de si e deitou com as pernas para fora da cama, ajeitando o menor sobre sua barriga. — O Kyunnie não deixou o Eun omma dormir direito esses dias.

— Quando os appas vão aparecer? — Kihyun se aproximou e deitou com a cabeça perto do pescoço do pai. Era sua posição favorita, já que dava para sentir bem o perfume natural do ômega.

— Não sei, querido. — acariciou o cabelo do filho enquanto tirava o celular do bolso para checar as horas. Passava das oito da noite, estava relativamente cedo, o jantar não estava pronto, e suas pálpebras imploravam por descanso. — Eles não me ligaram, devem estar bastante ocupados. Talvez cheguem pela madrugada. — falou mais para si mesmo do que para ele.

Ele encarou seu filhote, percebendo que começava a cochilar em seu peito enquanto fazia cafuné nele, bastando alguns minutos para de fato estar dormindo. Tudo estava calmo agora, o sono começava a pesar mais e mais em suas pálpebras. Um pequeno cochilo, pensou ele, não iria fazer mal. A carícia na cabeça do filho foi diminuindo aos poucos até cessar, e Eunhyuk também passou a ressonar levemente como o menor.

Ele despertou com o som do choro do seu bebê. Ainda estava meio zonzo de sono quando acordou, ficou olhando ao redor para situar-se melhor e por último encarou o relógio digital sobre a cômoda. Havia descansado por uma hora, porém parecia estar mais exausto do que nunca. Kihyun estava dormindo em seu peito e, quando tentou colocá-lo no colchão para que pudesse ir ver o mais novo, o menor envolveu seu pescoço com os bracinhos. Acabou por ceder a manha do filho, indo para o outro quarto com ele dormindo em seu colo.

Eunhyuk parou ao adentrar o cômodo. Encostou a lateral do corpo no batente da porta, sorrindo ao observar seu alfa debruçado sobre o berço do bebê. Siwon fazia questão de falar com o pequeno Changkyun, que se acalmou consideravelmente ao ouvir a voz do outro pai. O mais alto o pegou e começou a ninar calmamente a criança, que ficava miúda em seus braços, o semblante dele sempre sereno, mesmo debaixo das grandes olheiras, que indicavam que o trabalho havia sido puxado.

— Shh, filhote. Está tudo bem agora. — Siwon sussurrou para o bebê. Carregou o menor em apenas um braço para que, com a mão livre, pudesse dar leves batidinhas no peito dele. As pernas da criança balançaram, Changkyun soltou uma risada, agarrou a mão do pai e fez um barulho com a boca, como se quisesse falar com o outro. — É, Kyunnie, o Won appa está em casa.

Distraído com a cena, Eunhyuk se sobressaltou, desencostando-se do batente, ao sentir mãos em seus ombros. Acalmou-se quando braços fortes o envolveram, sentindo a fragrância característica de Donghae impregnar suas narinas. O enlaço era frouxo, mas o fazia sentir-se extremamente protegido. Sentiu beijos serem distribuídos em seu ombro, ficando mais e mais relaxado com o carinho que recebia. Os selares caminharam em direção ao seu pescoço, e Eunhyuk estremeceu por inteiro quando os lábios deslizaram numa pequena estimulação sobre a marca feita por Donghae. A boca dele continuava a subir, e, sem mais aguentar, virou o rosto, colando seus lábios aos dele num beijo casto e carinhoso.

— Senti saudade de vocês dois. — disse, um tanto manhoso, entre um beijo e outro. Céus, como seus maridos fizeram falta.

— Nós também. — Donghae falou por ele e Siwon, trocando olhares com o mesmo. Descansou o queixo no ombro do outro e apertou um pouco o abraço, aproveitando para sentir a pele quentinha do tronco magro, definido e desnudo do marido. — O pessoal do trabalho diz que ficamos rabugentos sem ter você por perto.

Eunhyuk riu. Sentia falta de trabalhar, os colegas da polícia (não todos) eram ótimas pessoas e o receberam muito bem ainda quando era um oficial novato, ajudando-o sempre que precisava. Sentia falta de trabalhar com os maridos e sentir a adrenalina que casos mais complicados dispunham; sentia falta de passar noites acordado no escritório, bebendo xicaras e mais xicaras de café, enquanto concentrava-se em analisar padrões de um assassinato em série ou mesmo avaliando as pistas toxicológicas de um homicídio; sentia falta de segurar uma arma e interceptar um meliante que fazia alguém de refém, de entrar em casas, berrando “Polícia de Nova Seul!”, com seus alfas a sua cola para poderem prender o mais variados tipos de criminosos. Ele, claro, ainda passava noites em claro, só que, dessa vez, também cuidando de seus filhotes.

Ah, seus filhos eram suas verdadeiras joias, e fazia questão de sempre murmurar isso a eles quando os colocava para dormir.

— Também sinto falta dos sunbaes tirando sarro de você e do Won. — falou, o tom divertido adornando suas palavras.

— Appa? — Eunhyuk e Donghae encararam Kihyun, que coçava um dos olhos, a cabeça ainda apoiada no peito do ômega.

— Oi, filhote. — Donghae sorriu para o menor. — Hae appa está em casa agora. — afagou as madeixas castanhas do filho.

— E o Won appa também. — Siwon se aproximou com Changkyun dormindo em um dos seus braços. O alfa mais alto segurou o queixo do ômega entre o polegar e o indicador, aproximou o rosto do dele e depositou um longo beijo em seus lábios. — E nós vamos ficar o resto da semana aqui.

Os olhos de Eunhyuk cintilaram ao ouvir a notícia.

— Isso... é sério? — ele não podia estar mais feliz. Aquele caso estava deixando seus alfas muito ausentes, tanto que só chegavam lá pelas três da manhã, dormiam e voltavam a trabalhar antes mesmo que acordasse.

— A chefe disse que cansou de olhar para as nossas caras nessa semana. — Siwon voltou a colocar Changkyun no berço. — Mandou ficarmos em casa com nosso ômega e nossos filhotes.

— Me lembra de agradecer a chefe Park depois. — Eunhyuk entregou Kihyun a Donghae, esse último estava brincando silenciosamente com o filho. Caminhou até Siwon e o abraçou por trás. — É bom finalmente ter vocês em casa. — deslizou o nariz pela costa do marido e inspirou fundo o perfume natural dele, não podendo ocultar o sorriso. — Aposto que ainda não jantaram. Me digam o que querem comer.

— Eun omma. — o ômega virou quando foi chamado por seu primogênito. — Você não vai cozinhar — viu Donghae sussurrar algo no ouvido de Kihyun. — porque os appas vão cozinhar pra você e pra mim. — repetiu as palavras que o outro dizia.

Eunhyuk sorriu, concordando com as “palavras do filho”. Donghae saiu na frente com Kihyun e Siwon parou ao lado de Eunhyuk, entrelaçando os dedos nos deles antes de seguir atrás dos outros. Ao chegarem no primeiro andar, Kihyun saiu puxando o mais novo dos pais para a sala enquanto os outros dois faziam o jantar. Ficaram assistindo a um programa qualquer que passava na tevê e, assim que foram chamados, dirigiram-se para a sala de jantar, deparando-se tanto com o cheiro bom de comida quanto os pratos típicos enchendo a mesa. Todos ocuparam em seus respectivos assentos para desfrutar do jantar.

— Appas. — Eunhyuk limpou o queixo sujo de Kihyun e apoiou o braço no encosto da cadeirinha da criança. — Por que o Kyunnie é cheiroso?

— Hm? — Donghae encarou o menor, que esperava uma resposta. — O Kyunnie é um bebê, bebês são bem cheirosos mesmo.

— Não. — Kihyun apertou os olhos, insatisfeito com a resposta. — O Kyunnie tem um cheiro, mas eu tenho também.

— Um cheiro doce como o do Eun omma? — Siwon o questionou. Ganhou um aceno positivo do filho. — É porque o Kyunnie é ômega igual ao Eun omma, então tem esse cheirinho doce.

— Por que o meu cheiro não é igual o cheiro do Kyunnie? — Kihyun fez uma careta emburrada.

— Você é alfa como o Won appa e o Hae appa, filhote. — Eunhyuk levou uma colherada de comida a boca do filho. — Por isso, seu cheiro é mais intenso e, conforme você vai crescendo, vai ficando mais amadeirado.

— Ama... a-amad... — gaguejou e, por não conseguir falar aquela palavra estranha, fez bico.

— Amadeirado. — Eunhyuk pronunciou silabicamente para o menor.

— “Amaderadu”. — Kihyun não entendeu por que Donghae começou a dar tapinhas no braço de Siwon, que lutava em vão contra um sorriso. — O que é isso, omma?

— É esse cheiro mais forte dos appas. — Siwon explicou. O filho esticou os braços, abrindo e fechando as mãozinhas, e inclinou-se para perto dele. Ele agarrou sua camisa e a puxou mais ainda para que se aproximasse e pudesse seu pescoço. — Entendeu, filhote?

— Sim, appa. — Kihyun voltou a segurar os jeotgaraks de plástico com alças para dedos. Ele ainda segurava o talher de forma desajeitada, fora que também pegava comida com a mão desocupada, resultando em comida por seu rosto, mãos, roupas, babador e cadeira. — Por que eu tenho três pais?

O clima na mesa de jantar mudou drasticamente. Os adultos trocaram olhares entre si, preocupados com o motivo daquela pergunta. Kihyun era a única criança da creche que era cria de um casal poligâmico, então ficavam preocupados que ele fosse sofrer algum tipo de preconceito por causa deles. O pequeno alfa não merecia (aliás, ninguém merece) passar por algo assim somente porque a sociedade pregava que a poligamia era algo inadequado.

— Por que... está perguntando isso, Ki? — Donghae falou, um tanto receoso com o que iria ouvir.

— A tia da creche perguntou pra mim e pros outros o que nossos pais fazem. — Kihyun brincava com a comida sem perceber a gravidade da situação. — Eu disse que meus pais alfas e meu pai ômega são policiais, e um garoto falou que eu não podia ter três pais, e eu disse que podia sim, e ele disse que o Eun omma só pode gostar de um dos appas, e eu escondi o ursinho dele pra ele nunca mais achar. — Siwon explodiu numa risada alta.

— Esse é o meu garoto! — afagou a cabeça da criança, que corou e sorriu com o carinho que recebeu. — Você fez bem, filhote.

— Siwonie! — Donghae e Eunhyuk o repreenderam.

— O que? — falou como se não fosse nada demais. — O garoto mereceu. — seus braços arderam com os tapas que recebeu de ambos os maridos.

— Não dê ouvidos ao seu pai, Ki. Ele não sabe o que fala. — Donghae disse. — E devolva o brinquedo do garoto.

— Mas, appa... — fez beicinho.

— O Hae appa está certo, querido. Não pode sair escondendo os brinquedos dos seus colegas só por ter ficado bravo. — Eunhyuk pegou mais lencinhos para limpar o filho.

— Mas isso é verdade? — Kihyun ostentava uma carinha chorosa. — Você só pode gostar de um, omma? — era óbvio que o pequeno foi afetado com isso, tanto que lágrimas começaram a rolar por seu rosto.

Siwon o pegou no colo e o embalou assim que viu isso. Kihyun pareceu liberar todo o choro retido até então, soluçando alto contra seu pescoço e agarrando fortemente sua camisa. Com uma calma invejável, ninou sua cria, sussurrando palavras doces e acariciando os fiozinhos castanhos dele, até que parasse de chorar.

— Está tudo bem, filhote. Já passou, já passou. — esfregou as costas do seu pequeno e emanou sua presença para acalmá-lo. — Olhe para o papai. — tirou o rosto dele de seu pescoço com cuidado, mas Kihyun insistia em escondê-lo, um verdadeiro cabeça dura orgulhoso. — Por que chorou, Ki?

— Eu não quero que o Eun omma fique só com um appa, eu quero que o Eun omma fique com vocês dois! — falou entre soluços, passando as mãozinhas nos olhos.

— Shh, está tudo bem, querido. — Eunhyuk puxou a cadeira para perto de Siwon. — Eu amo seus pais, Ki, e não vou escolher entre um e outro. Você tem três pais porque nós três nos amamos muito, assim como amamos nossas pequenas joias, que são você e seu irmãozinho. — acariciou a bochecha úmida da criança, enxugando as lágrimas com o polegar.

— Jura, omma? — Kihyun, ainda de olhos marejados, fitou os olhos cor de mel de seu pai que esbanjavam uma doçura inestimável.

— Juro. — ofereceu um sorriso gengival a ele.

— O seu colega disse isso, Ki, porque foi ensinado assim para ele. — Donghae começou e puxou a cadeira para ficar perto deles. —Não há nada de errado em se amar mais de uma pessoa, — trocou olhares com seus esposos e sorriu. — assim como não é errado amar alguém que possui a mesma natureza que a sua ou sexo. Você pode gostar de meninas, de meninos ou dos dois, do mesmo modo que pode gostar de betas, ômegas ou alfas, e não haverá problema nisso. — beijou a lateral da cabeça do filho. — Isso vai variar de pessoa para pessoa, mas não significará que ela é melhor do que outra. Ninguém é melhor ou pior, certo ou errado só por ser quem é, por gostar de quem ou do que se gosta, por pensar diferente... Entendeu, filhote? — o menor assentiu.

— Vocês vão ficar juntos pra sempre, Hae appa? — os adultos sorriram diante da pergunta da criança.

— Para todo o sempre. — Siwon confirmou a ele e virou para beijar seus cônjuges, mas Kihyun choramingou e o impediu de beijar Eunhyuk, jogando-se nos braços do ômega em seguida. — Eu não posso beijar o Eun omma? — Kihyun negou, balançando a cabeça. — Nem um beijinho? — seu filho negou de novo.

— E eu? — Kihyun negou para Donghae também.

— Só o Ki pode beijar o Eun omma, não é mesmo? — Eunhyuk deu um selinho no filho, que apertou os bracinhos ao redor do seu pescoço e escondeu o rosto ali, sendo ciumento consigo como sempre e arrancando uma risada soprada sua.

Kihyun foi posto na cadeirinha após Eunhyuk garantir que nem Siwon nem Donghae iriam beijá-lo, mas isso não fez os alfas pararem de perturbar seu pequeno com essa questão. No final, ambos conseguiram fazer sua cria ceder, contanto que também o beijassem assim como o ômega tinha o costume de fazer, algo que foi muito bem aceito. Terminado esse impasse, voltaram a comer.

Após o jantar, Siwon e Donghae retiraram a mesa e lavaram a louça enquanto Kihyun, sendo carregado por Eunhyuk, os enchia de perguntas dos mais variados tipos. Eles responderam cada uma das indagações curiosas, às vezes tendo que explicar algumas coisas simples, mas que confundiam a cabeça do menor. Com a louça limpa e devolvida ao seu devido lugar, rumaram para o segundo andar. Kihyun fez o favor de se atracar a uma das pernas de Siwon, que não se importou com aquilo e entrou na brincadeira do filho, subindo a escada sem dificuldade alguma, com seus esposos atrás de si um pouco temerosos devido ao risco que Kihyun fosse cair.

Eles seguiram para o banheiro do quarto do menor, tomando o máximo de cuidado para serem silenciosos para que Changkyun não acordasse. Kihyun brincava feliz na banheira, conversando o tempo inteiro e lhes arrancando sorrisos. Quando foi para escovar os dentes, Kihyun não deixou que o ajudassem, pois já era grande o suficiente para fazer aquilo sozinho. Os pais riram e apenas observaram-no usar a escova de forma um pouco desleixada, mas não interferiram.

— Appas, omma. — Kihyun, sonolento, os chamou assim que foi posto na cama. Donghae estava o vestindo com uma fantasia de pintinho, a favorita do filhote, enquanto Eunhyuk estava recostado no peito de Siwon, que o circundava com ambos os braços e descansava a bochecha entre os fios castanhos.

— O que foi, pequeno? — Donghae puxou o capuz da roupinha e sorriu, segurando o rosto do filho entre as mãos. Céus, Kihyun fica tão fofinho vestido assim!, pensou.

— Eu posso dormir com o Kyunnie? — apontou para o berço, onde o seu irmãozinho repousava.

— Você quer dormir com seu irmão? — ganhou um aceno positivo dele. — Mas o berço é para o bebê.

— Mas eu sou bebê. — Kihyun fechou a cara, emburrado. — Eu sou um bebê, omma?

— Sim, nosso bebê. — Eunhyuk sorriu para ele.

— Então, por que eu não posso dormir no berço com o Kyunnie? — a careta emburrada ficou maior, sendo complementada com um beicinho.

— Não é que você não possa, Ki. — Siwon tomou a frente para explicar. — O berço não tem espaço para vocês dois, e você tem a sua cama.

— A minha cama é grande, então o Kyunnie pode dormir nela, né? — os mais velhos se entreolharam. A cama dele era baixa, possuía proteções laterais, mas Kihyun poderia rolar para cima de Changkyun.

— Você vai tomar cuidado com ele? — Eunhyuk levantou uma sobrancelha.

— Sim, omma. Juro de dedinho. — Kihyun esticou o braço, estendendo o mindinho em direção ao ômega, que fez o mesmo, enrolando o dedo da melhor forma que pode no dedinho dele.

— Você jurou de dedinho, hein. — falou, divertido, enquanto saía do abraço de Siwon e ia até o berço, pegando Changkyun com cuidado. O bebê remexeu-se um pouco, mas continuou dormindo. Caminhou até a cama outra vez ao passo que seus esposos já se punham de pé e seu filhote deitava. — Fique desse lado, ok? Cuidado com ele. — cuidadosamente, colocou Changkyun no colchão, de modo que ficasse entre Kihyun e a parede.

Kihyun se aproximou do irmão e deitou de lado, encarando-o de maneira hipnotizada e repousando a mão, de modo protetor, sobre a barriga dele. Eunhyuk sorriu ao ver isso. Estava feliz por ele nunca ter tido ciúmes em relação ao mais novo e ter ficado entusiasmado com a ideia de ganhar um irmãozinho.

Lembrava-se, com muito apreço, o dia em que descobriu que estava grávido pela segunda vez. Estavam apenas Kihyun e ele em casa no momento, e um mal-estar o perturbava a algum tempo. Iria ignorar e tratar daquilo amanhã, já que queria passar um tempo com seu filhote ao qual havia buscado momentos antes na creche.

Estava na sala, sentado no chão com tapete acolchoado, assistindo a um desenho infantil que passava na tevê junto de Kihyun enquanto esperava Siwon e Donghae voltaram do trabalho com o jantar. Durante o intervalo do programa, Kihyun deixou seus brinquedos de lado e engatinhou para o meio de suas pernas. Achou que iria sentar-se ali, mas ele ficou a encarar seu abdômen, apertando os olhinhos numa expressão confusa. Tão confuso quanto, observou a atitude curiosa do menor e viu-o aproximar o nariz para farejar. As palavras que ele disse no segundo seguinte ficaram guardadas em sua memória.

— Omma, tem um cheiro aqui. — apontou para a barriga do pai. — Quem é que tá aqui?

O susto foi tão grande que não conseguiu respondê-lo. Sua segunda reação foi correr até o banheiro, procurando por algum teste de gravidez. Assim que o achou e usou, esperou, nervoso, o resultado que demorou apenas alguns segundos para ser revelado. Positivo. Ainda segurando o teste entre os dedos e em choque, escorou-se a parede e deixou-se escorrer até ficar sentado no piso gélido. Levou a mão desocupada aos cabelos, encarando o teste para ver se havia lido errado. Mas não leu.

Lágrimas começaram a rolar por seu rosto ao se dar conta disso. Donghae e Siwon adentraram, afobados, o banheiro do quarto do casal segundos ou minutos depois, Eunhyuk não sabia ao certo. Estavam preocupados consigo após um Kihyun confuso tê-los dito que havia saído correndo do nada. Enquanto era abraçado pelos dois lados pelos alfas, a figura pequena de Kihyun apareceu na porta e entrou com o rostinho num misto de culpa, confusão e preocupação, aproximando-se de si.

— Não chora, omma. — tocou o rosto do pai com as mãozinhas, o lábio inferior tremendo com o possível choro. — Meu irmão vai ser bonzinho, eu prometo.

Donghae e Siwon arregalaram os olhos e só então notaram o objeto que Eunhyuk segurava na mão trêmula. Kihyun era um garoto esperto, sabiam disso, além de ser alfa, ou seja, possuía um olfato mais apurado do que o do ômega, então já havia tirado as próprias conclusões. Desnorteados e ainda digerindo a informação, encararam o filho, que estava a falar com um Eunhyuk soluçando baixo, dizendo palavras inocentes ao mais velho a respeito do irmão. A surpresa maior deles foi perceberem Eunhyuk sorrindo, movimentando a cabeça positivamente a cada coisa dita pelo menor.

Aquela noite se resumiu a muitos sorrisos e um Kihyun cheirando a barriga do pai, felicíssimo por saber que seria irmão mais velho de alguém.

— Se o Kyunnie acordar, você tenta fazê-lo dormir de novo. Acha que consegue? — Eunhyuk ajoelhou-se ao lado da cama e afagou a traseira da cabeça de Kihyun.

— Eu... consigo... — a voz soou baixa, e, por mais que piscasse, não conseguia afastar o sono que pesava nas pálpebras, dormindo em questão de segundos.

— Durmam bem, minhas joias. — murmurou para os filhos, deixando um beijo na cabeça de cada um. Viu seus alfas se aproximarem para fazer o mesmo, e Donghae saiu correndo do quarto, voltando segundos depois com um sorriso no rosto e câmera na mão. — O que está fazendo, Hae?

— Vou tirar uma foto. — falou, sorridente, aproximando-se novamente da cama e posicionando a câmera em frente ao rosto.

— Pare com isso, vai acordá-los. — Siwon reclamou.

— Ah, por favor, só umazinha. Eles estão tão bonitinhos assim! — Donghae abaixou a câmera e inflou as bochechas para o alfa. Siwon suspirou, cedendo, e sorriu vitorioso, voltando a procurar o ângulo correto para a foto. Um click soou, e olhou para a foto que havia acabado de tirar. — Venham ver. — os chamou, ainda sem tirar os olhos do momento capturado. Sentiu os dois se aproximarem de si e não precisou encará-los para saber que também sorriam.

Os três deixaram o quarto das crianças e seguiram para o seu próprio. Enquanto esperava seus maridos saírem do banho, Eunhyuk se ocupou em procurar o álbum de fotos para colocar a foto recém tirada junto das demais que enchiam aquele álbum. Precisaria comprar um novo caso Donghae não parasse de tirar tantas fotos.

— O que está fazendo, amor? — Eunhyuk sobressaltou-se quando braços o envolveram num abraço por trás. O corpo forte atrás de si estava com uma temperatura mais baixa que a sua e cheirava a sabonete.

— Não me assuste assim. — falou, fazendo falsa birra. — Você viu que eu estava distraído.

— Desculpe. — Siwon beijou a marca que fez no pescoço dele, sentindo-o estremecer. — Suas costas devem estar o matando. — sussurrou no ouvido dele ao passo que o ajeitava entre suas pernas, começando uma massagem.

— Siwonie... — gemeu, manhoso, fechando os olhos e pendendo a cabeça de leve para trás. Os dedos dele apertavam os lugares certos, de maneira correta, que era praticamente impossível não arfar ao sentir seus músculos relaxando.

— Estão se divertindo sem mim? — Eunhyuk ofegou quando outro par de mãos fortes apertou ambas as suas coxas. — Siwonie está cuidando bem de ti, Hyukie?

— H-Hae... — apertou os olhos, sentindo os lábios dele provarem sua pele desde o umbigo até o pescoço. Gemeu um pouco alto quando ambos começaram mordiscá-lo na marca, cada um no lado respectivo que marcaram, e com as mãos de Siwon lhe apertando com mais força. — As c-crianças... — gaguejou, sentindo o rosto esquentar.

— Só estamos fazendo carinho, Hyukie. — a voz de Donghae, estando mais rouca que o de costume, não escondia sua real vontade. — Vai mesmo recusar carinhoso dos seus alfas, Hyukie? — subiu o rosto e roçou o nariz no do mais novo.

— Não. — a resposta veio baixa, ainda assim os alfas conseguiram ouvi-la.

Donghae roubou beijos estalados de Eunhyuk e, depois, de Siwon. Os três precisaram só trocar olhares rapidamente para que suas bocas encontrassem num beijo. Embora quisessem ter um momento mais íntimos, eles percebiam o quanto o mais novo estava cansado e não negavam que também estavam, por isso resolveram cessar as caricias antes que as coisas ali se tornassem quentes demais.

Donghae deixou um selinho nos lábios de cada um de seus cônjuges e levantou-se para pegar um pote de creme, entregando a Siwon. Esse pediu para que Eunhyuk deitasse de bruços para que continuasse com a massagem. Com o creme facilitando e deixando o trabalho mais proveitoso, Eunhyuk suspirava a cada apertão preciso, deliciando-se com aquilo. Assim que isso foi terminando, os três deitaram-se juntos.

— Talvez devêssemos ir a casa dos meus pais amanhã. — Siwon sugeriu, sentindo os dedos de Donghae deslizarem num carinho inocente em seu abdômen enquanto a mão de Eunhyuk permanecia quieta em seu peito, sobre o coração. — Eles estavam reclamando que não levo os netos deles para visitá-los.

— É uma boa ideia. O que acha, Hyukie? — Donghae encarou Eunhyuk, percebendo que esse já estava no meio de um sono pesado. — Falamos sobre isso amanhã. — disse ao outro alfa, sorrindo.

Donghae esticou-se sobre Siwon e deixou um beijo na têmpora de Eunhyuk, voltando a deitar e aconchegar-se no peito do maior que, por sua vez, apenas virou o rosto para selar as testas dos menores, fechando os olhos e trazendo-os mais para seu peito enquanto pegava no sono.

 

(...)

 

— Se acalme. — Siwon pediu, mesmo sabendo que era impossível o marido ficar calmo com a situação.

— Não me peça calma! — Eunhyuk gritou em resposta, e o outro suspirou, jogando-se no sofá que havia naquela sala. — O que eu vou fazer?! — andava de um lado para o outro, roendo as unhas nervosamente.

— Ele vai ser encontrado. — Donghae tentou acalmar o ômega, que parecia estar entrando em um colapso nervoso. — Ele não vai chegar perto de você. Já fazem mais de dez anos, ele nem sabe onde você vive, e você está muito diferente agora.

— Vocês não entendem. Ele sabe, ele sempre sabe! Eu sou a merda do filho dele, o cheiro dele está em mim! Mesmo eu sendo marcado, ele vai me achar! — Eunhyuk sentou e começou a chorar baixinho.

A causa de todo aquele desespero era a notícia de que Son Hoyoung havia fugido da cadeia há cerca de um mês e seu paradeiro era desconhecido desde então. Assim que essa informação passou a circular, Eunhyuk entrou em desespero e se viu de olhos vendados, pois seu pai poderia aparecer a qualquer momento e em qualquer lugar. A primeira coisa que veio a sua mente foi a promessa que o alfa havia feito no dia em que foi preso.

“Eu vou te achar onde você estiver, seu vagabundo. E eu vou te matar e todos que estiverem no meu caminho!”

Aquelas palavras ficaram rondando a mente de Eunhyuk, que, no dia seguinte, pôs os dois filhotes em uma academia de artes marciais e defesa pessoal, com medo do homem tentar ir atrás dos menores. Ao pensar nisso, empalideceu. Havia esquecido que Kihyun e Changkyun sairiam mais cedo da escola hoje.

— O que foi? — Donghae perguntou, vendo o horror que se fazia presente na feição do ômega.

— Nossos filhotes. — disse, e os maridos o olharam. — Onde eles estão? — se levantou de súbito.

— Na escola. — Siwon juntou as sobrancelhas, confuso. — Por que?

— Precisamos ir. — não esperou resposta e saiu da sala, mas sentia os dois na sua cola.

— Para onde, Hyukie? — Donghae praticamente gritou para o mais novo.

— A escola deles. — respondeu, simplista, até mesmo irônico. — Eles vão sair cedo hoje, como eu pude esquecer? — o moreno praticamente corria nos corredores do departamento de polícia. Sentiu seu braço ser segurado com força e olhou para Siwon, que o apertava.

— Eun, por favor. — Siwon pediu baixo.

— Olhe. — movimentando a cabeça, Donghae indicou algo.

Eunhyuk olhou ao redor. Todos estavam olhando para o trio, alguns múrmuros eram ouvidos e Donghae não gostou do que era dito.

“Ele deve estar surtando de novo”.

“Não sei como deixaram esse ômega trabalhar aqui”.

“Ele é muito estranho, mas apenas completa aqueles alfas esquisitos. Afinal, que tipo de alfa fica com outro?”.

Siwon ouviu também, mas focou apenas em Eunhyuk, agora, envergonhado.

— Vamos buscá-los, apenas se acalme. — disse Siwon e puxou Donghae e Eunhyuk pela mão.

Durante o caminho, Eunhyuk balançava as pernas freneticamente e tinha as mãos no pescoço, Siwon encarava a pista e, vez ou outra, olhava para Donghae, ambos apreensivos e temerosos. Donghae vigiava as mãos do ômega, com medo que ele se auto lesionasse.

— Vai ficar tudo bem. — o maior dos três garantiu.

Siwon sentiu Donghae irradiar sua presença para tentar passar calma ao ômega e fez o mesmo. O resto do caminho permaneceu silencioso.

 

— Hyung. — Changkyun puxou a manga da camisa de Kihyun, chamando sua atenção. — O Seok hyung vai pra casa com a gente hoje? — sussurrou para apenas o irmão ouvir. O mais novo estava com rosto vermelho, era tímido e tinha uma grande afeição por Hoseok, um ômega que se tornou amigo de Kihyun há quase um ano.

— Eu v- — Hoseok havia tentado se aproximar sem o pequeno ver, mas ganhou dele uma cotovelada seguida de um soco no estômago. Só então Changkyun percebeu que era o Shin atrás de si. — Aish... — reclamou, abraçando a própria barriga. — Eu esqueço que você sabe fazer essas coisas.

— Desculpe, Seok hyung! — Changkyun enrubesceu e foi ajudar o Shin, enquanto Kihyun ria da situação. — Não ri de mim. — formou um bico nos lábios.

— Pelo menos, foi só um soco no estômago. — Hoseok riu com a mão sobre o local atingido, brincando com a situação para desemburrar o mais novo dos irmãos Yoo.

— Vamos logo, acho que esqueceram da gente hoje, Kyunnie. — Kihyun estendeu a mão ao irmão. O rapaz de onze anos a segurou sua mão, ainda envergonhado pelo que fez ao outro ômega.

— Larga ele, Ki. Vem aqui, Kyunnie. — Changkyun soltou a mão do alfa e seguiu até si. O apertou num abraçou. — Tão cheiroso. — comentou e ouviu Kihyun bufar. Não sabia de quem ele estava com ciúmes, de si ou do irmão. — Você também é cheiroso, Ki, mas o Changkyun é mais. Tem cheiro de filhote. — sussurrou a última parte no ouvido do ômega, que se encolheu e segurou sua mão, arrancando um sorriso seu.

— Vamos logo. — Kihyun chamou os dois ômegas. — Não entendo por que Eun omma não nos deixa sair sozinhos.

— Acho que são eles ali. — Hoseok apontou a viatura que vinha dobrando a esquina.

— Então, estes são os meus netos! — um homem de idade apareceu do nada perto das crianças. Os três se assustaram, mas nada disseram. — Como são bonitos. — comentou, sorrindo como um maníaco.

— Quem é você? — Hoseok perguntou e deu alguns passos para longe com Changkyun atrás de si. — Kihyun. — chamou pelo amigo que foi para perto de si.

— Eu quem deveria perguntar. Quem é você e o que faz com meus netos? E por que sinto cheiro de alfa vindo de você? — Hoseok estancou no lugar, e Kihyun o encarou, confuso. Changkyun apertou a mão do maior.

— Sai de perto deles! — um grito reverberou no quarteirão, vindo de mais ao longe. As pessoas pararam para olhar, avistando uma viatura de portas abertas e policiais a postos, fortemente armados. — Crianças, saiam daí! — Siwon voltou a gritar, e, a essa altura, já havia correria pelo local.

— Meu filho. — Hoyoung falou, sarcástico. Eunhyuk engoliu seco diante figura grisalha observando-o com olhos insanos. — Eu disse que te encontraria, só não esperava ver meus netos e muito menos que você, sendo o inútil que sempre foi, fosse conseguir um alfa. Mas vejo que conseguiu dois. — o Son riu e olhou na direção das crianças. — Ah, que falta de educação. Venham falar direito com o vovô. — ele deu um passo.

Um tiro soou.

Eunhyuk havia atirado para cima.

— Não se aproxime dos meus filhos! — gritou.

— São meus netos! – Hoyoung grunhiu. Percebendo que Hoseok estava com Changkyun no colo e tentava voltar para o prédio da escola, correu até ele.

— Não! — Kihyun pulou sobre Hoyoung. Ambos rolaram no chão, mas se levantou rapidamente e saiu correndo.

Tiros ecoaram pela rua, tiros estes que Siwon e Donghae foram os autores. Hoyoung correu para trás de um carro, mas ninguém esperava que estivesse armado. Assim, quando sacou a arma e apontou para Hoseok e Changkyun, berrando sobre ter trazido esse presente a eles, só houve tempo de Eunhyuk gritar em desespero e Kihyun empurrar o amigo e o irmão para cima da calçada.

— Calma, Kyunnie. — Kihyun ofegou e apoiou o próprio peso em seus antebraços. — Os appas e o omma vão salvar a gente. — garantiu. Tentou se levantar, mas seu corpo foi de encontro ao chão. Hoseok permanecia estático até ver a coxa do amigo sangrando, ele havia sido atingido.

Tão rápido quanto Kihyun caiu, Hoyoung se aproximou. O pequeno alfa gemia de dor no meio da pista e viu o homem, mesmo mancando por ter sido atingido pelos alfas, correr com a arma apontada para si.

— Omma! — Kihyun gritou e ouviu três tiros no segundo seguinte, desmaiando pelo pavor e dor.

— Não! — Hoseok gritou e cobriu os olhos de um Changkyun assustado, o tempo todo chorando.

— Merda! — Donghae praguejou ao se deparar com aquilo. — Agora, Siwon! — e ambos os alfas atiraram, conseguindo atingir seu alvo.

— Eunhyuk! — Siwon gritou, mas correu em direção ao filho, tocando com cuidado no tecido manchado. — Donghae, chame a ambulância! — olhou o esposo rapidamente, que tentava falar com Eunhyuk, e voltou sua atenção para Kihyun. — Droga! Me desculpe, filhote. Seu omma me disse para ter cuidado com vocês dois. — Siwon chorava, tocando o rosto do menor desacordado, mas levantou o olhar ao notar Hoseok com Changkyun ali.

— Ki-Kihyun... — Eunhyuk tentava falar e tombou o rosto em direção onde os outros estavam.

— Calma. — com uma mão, Donghae tentava estancar o ferimento do moreno. Retirou a mão e olhou em verdadeiro assombro o sangue espalhado pela palma. — Ele está... Alô? É uma emergência, por favor. Mandem duas ambulâncias, rápido. Sim, na localização deste aparelho. — quando voltou encarar o esposo, viu Eunhyuk se arrastando com a mão sobre o abdômen. Mesmo tendo sido acertado pelos três tiros, ele tirava forças, não se sabe de onde, para ir até seu filhote.

— Kihyun... — sussurrou enquanto se aproximava. Siwon lhe segurava, tentando colocá-lo parado, mas queria ficar perto dos filhos. Não muito distantes, Changkyun chorava e Hoseok também, mas esse último se encontrava num choro silencioso e tremia de leve, talvez pelo choque ou por não saber o que fazer, havia soltado Changkyun, estando com a cabeça de Kihyun em seu colo. Apesar de suas mãos tremerem, ele tentava afagar os fios do amigo desacordado.

— Hoseok... — Eunhyuk chamou. O ômega o olhou ainda com o olhar vazio pelo que estava acontecendo. Sangue escorreu lentamente das fossas nasais do Yoo. — Vo- — engasgou com um gemido. A dor estava insuportável, mas precisava fazer aquilo. — Cuide dos meus filhotes. — disse de uma vez e levou a mão ensanguentada até o rosto de Kihyun. — Eu te amo. — tossiu, expelindo um pouco de sangue, provavelmente umas das balas acertou o pulmão ou estômago. — Me desculpe por isso, por não conseguir cuidar de vocês direito. — ele dizia tudo no ouvido de Kihyun, não se importando que Hoseok estivesse ouvindo tudo e sabendo que talvez seu filhote nem estivesse escutando.

Eunhyuk tentou deixar um último beijo sobre a testa do filhote, mas sentiu todo o corpo reclamar ao tentar se mexer.

— Omma... — Changkyun se aproximou com certo receio, os olhos pequenos cheios d’água, as mãos no mesmo estado que as de Hoseok. Diferentemente, as de Changkyun tremiam por medo, desejava tocar em o pai, mas temia de machucá-lo ao fazê-lo.

— Vem... — Eunhyuk o incentivou. Tinha noção do próprio estado e não estava mais ligando para nada senão dar carinho a seu filhote. Changkyun se derramou em prantos em seu peitoral, não se ligando que se sujava com o líquido ocre se significasse ficar perto dele. — Eu te amo. — disse ao filho soluçante. Olhou para o lado e viu seus alfas. Eles não iriam aceitar tão facilmente, mas eles também tinham noção do seu estado. O olhar de Donghae se encontrou com o seu, e foi como se uma corrente elétrica passasse pelo corpo através da marca. Uma lágrima solitária deslizou, e o alfa virou de costas para que ninguém notasse. — Nunca deixe que te menosprezem por você ser um ômega. E nunca deixe que seu irmão fique bêbado. — sorriu com a última frase e observou o rosto do seu caçula.

— Eu prometo. — fungou, passando as mãos pelo rosto.

— De dedinho? — Eunhyuk tentava ao máximo se manter acordado e distraindo o filho até a chegada das ambulâncias.

— De dedinho. — Changkyun respondeu juntando seu dedo mindinho ao do seu pai.

— Finalmente. — a voz de Donghae parecia abafada ao longe. Eunhyuk sentia a visão ficar turva e os ruídos se tornarem ecos, mas tinha certeza que a ambulância havia chegado.

Socorristas se aproximaram dos feridos, colocando-os em macas. Siwon e Donghae entraram junto com Eunhyuk em uma das ambulâncias enquanto Changkyun e Hoseok acompanharam Kihyun na outra. As sirenes de emergência soavam vigorosas pelas ruas, indicando passagem preferencial na via. Os veículos estacionaram e uma outra equipe se aproximou rápido para tomar conta da situação.

— O que houve? — um dos médicos perguntou.

— Vítimas de um tiroteio. Dois feridos e um óbito. — um dos socorristas passa as informações.

— Ômega de trinta e oito anos, atingido por três tiros. Todas as balas parecem estar alojadas. — a equipe retirou a maca do veículo e seguiu pelo corredor.

Eunhyuk abriu os olhos. O chão abaixo de si se movimentava, alguns vultos estavam a sua volta. Dentre eles, reconheceu os rostos de seus alfas, um de cada lado da maca.

— Obrig- — tentou dizer, mas se afogou com um refluxo de sangue.

— Shh. — Siwon acariciou os cabelos negros do marido. — Não se esforce. — as lágrimas saíram sem permissão.

— Vai ficar tudo bem. — Donghae deixa um carinho o rosto do ômega.

— Obrigado... — conseguiu dizer. — por tudo. — agradeceu. Os alfas sequer notavam se os demais os olhavam chorando. — Cuidem dos nossos filhotes... — tudo saía arrastado, sussurrado. — São nosso maior tesouro...

— Vocês não podem passar daqui. — a enfermeira disse aos alfas, que tinham o olhar fixo no marido. — Precisamos ser rápidos se queremos salvá-lo. — voltou a dizer. O sorriso gengival de Eunhyuk estava manchado de sangue e os olhos cor de mel, opacos. Ele pronunciou um “Eu amo vocês” sem som e deixou um beijo sobre a aliança de cada um dos maridos. — Por favor, precisamos ir. — a enfermeira insistiu, e os dois policiais enfim se afastaram, deixando que seguissem para a ala cirúrgica.

Donghae observou a luz acima da porta da sala de cirurgia acender, indicando que o procedimento havia começado, se escorou na parede e se deixou escorregar até ficar sentado no chão. Levou as mãos à cabeça, e as lágrimas começaram a fluir. Siwon ajoelhou-se a sua frente e o aconchegou num abraço.

— Vamos ver Kihyun. — sussurrou no ouvido do marido e o ajudou levantar, seguindo o caminho de volta à emergência.

— Como ele está? — Donghae perguntou a Hoseok, sentado no chão de frente a uma porta fechada. Changkyun parecia estar dormido no meio das pernas do amigo.

— Eu não sei... — o ômega, na época, de cabelo castanho sussurrou, olhando fixamente para a porta branca.

Siwon se agachou e colocou a mão grande sobre o ombro do Shin, que deslocou o olhar mórbido para o mais velho.

— Obrigado... — disse, e Hoseok se segurou para não voltar a chorar. Tendo em vista a fragilidade do casal de alfas, Siwon o olhava sério, mas, ao mesmo tempo, com uma mistura de medo, tristeza e preocupação.

— E-eu- — foi interrompido por uma mulher de jaleco, que retirava a máscara cirúrgica do rosto para falar com aqueles ali presentes.

— Ele está bem. O tiro foi de raspão e havia algumas roxuras pelo corpo dele devido à queda. — a mulher suspirou e seguiu. — Mas pelo que fui informada... bem... fisicamente, ele está bem, vai se recuperar 100%, mas o psicológico dele é que deve ser tratado agora. — todos, com exceção de Changkyun, que continuava a dormir, encaravam a mulher aparentemente nervosa. — As enfermeiras vão cuidar dele e logo ele vai estar no quarto, mas só poderão conversar quando acordar. Nós o sedamos para conseguir suturar.

— Mas o tiro não foi de raspão? — Donghae se aproximou.

— Sim, mas era um tipo de bala de curto alcance. Não que eu conheça muito sobre isso, mas, se não tivesse sido de raspão, a bala estaria alojada na coxa dele, o que seria um tanto mais trabalhoso para remover. — explicou.

— Entendemos. — Siwon disse, e a mulher se retirou após fazer uma breve reverência.

Siwon e Donghae franziram o cenho simultaneamente. Uma sensação estranha, a qual não sabiam como descrever em palavras, se apossou de ambos. Era algo intenso, insuportável, verdadeiramente incômodo, como se estivessem agonizando e não tivessem forças reverter a situação, mas desapareceu tão rápido quanto surgiu. Aturdidos com aquilo, num gesto automático, ambos levaram uma mão ao pescoço e esfregaram o local onde ficava a marca feita por Eunhyuk.

— Senhores, me acompanhem, por favor. — uma enfermeira se aproximou dos alfas e os levou para uma sala ali no mesmo corredor.

— O que houve? — Donghae questionou, confuso. Haviam saído da porta da sala de cirurgia há pouco tempo.

— Vocês são maridos do ômega baleado, certo?

— Sim. — responderam em uníssono.

— Bem.... — a enfermeira puxou o ar e soltou calmamente. — Assim que ele entrou na sala de cirurgia, ele ficou inconsciente, e começamos o procedimento. O estrago era grande demais, uma das balas perfurou o intestino, o que causou uma infecção generalizada dos órgãos, além da perda de sangue desde o local até aqui. Ele já estava anêmico e... — Siwon levou a mão até a boca da mulher.

— Tudo bem, nós já entendemos... — sussurrou mais para si do que para a mulher.

— Eu sinto muito. — depois de uma reverência em respeito ao casal, a enfermeira se retirou da sala.

Os Yoo, agora sozinhos, sentiram como se o mundo inteiro fosse desabar.

— Por que? — Siwon ouviu um soluço de Donghae e não teve coragem de olhar para o marido. — N-nós sempre fizemos tudo certo... — e outro soluço. — N-nós sempre cuidamos dele... E-eu... — Siwon sentiu a mão do mais baixo em suas costas, agarrando sua camisa. — Olhe pra mim, Siwon! — gritou.

O ex Choi se virou para o marido, revelando a face banhada em lágrimas. Donghae se agarrou a si após vislumbrar sua expressão. Enquanto era silencioso, Donghae chorava alto com o rosto enfiado em seu peito. A porta atrás deles voltou a se abrir, e Donghae se virou, sentindo o coração se partir no mesmo instante.

— Appas, cadê o Eun omma? Aquela mulher que tava cuidando dele com o médico, não é? — Siwon fungou e chamou o filho para perto de si. Hoseok ficou na porta, olhando tudo, já entendendo o que aconteceu.

— Kyunnie, você entende o que aconteceu hoje? — Changkyun confirmou, balançando a cabeça. — Então... — Siwon tentava a todo custo não chorar na frente do menor, embora seu rosto desse indício do óbvio. — Eun omma não pode mais ficar com a gente.

— Por que? — a curiosidade de uma criança inocente nunca os deixou tão frustrados e destruídos como naquele momento. Donghae se aproximou de Siwon, que havia se agachado na altura de Changkyun.

— Porque o Eun Omma... — tentou dizer.

— Vamos dizer a verdade, Hae. — o alfa mais baixo concordou e olhou nos olhos de seu filhote.

— Filhote... — o choro retornava. — o Eun omma... ele se foi. — Changkyun começou a entender aquilo e ficou em silêncio, olhando de Siwon para Donghae e vice versa.

— Eun omma... — sua voz falhou. — Ele... — e a visão começou turvar. — morreu...? — não se sabe se aquilo foi uma afirmação ou pergunta, mas, depois disso, a sala foi tomada por soluços e fungadas.

Hoseok ficou quieto e deixou a família naquele momento tão tenso, apenas limpou o rosto com a manga da camisa do uniforme e se prontificou em vigiar a porta para que ninguém perturbasse a família Yoo.

 

A primeira coisa que viu ao acordar foi a cor branca. Branco do teto, branco do quarto, branco da cama. Que lugar era aquele? Piscou os olhos devagar, seu corpo ainda se encontrava meio letárgico, deixando-o mais lento. O “bipe” característico de medidor de bpm soava mais ao fundo, e isso bastou para que entendesse que estava em um hospital.

Kihyun sentou-se no leito hospitalar, resmungando um pouco por sentir algumas dores, principalmente na perna. Próximos de seus pés, encontrou as duas figuras debruçadas, provavelmente dormindo, de seus pais e Hoseok, sentado com um Changkyun chorando em seu colo numa poltrona que ali havia. Seu despertar chamou a atenção do menor que correu em direção maca e subiu nela, abraçando forte o irmão mais velho.

— Hyung! — a voz chorosa de Changkyun só deixou Kihyun ainda mais confuso e também despertou os alfas mais velhos.

— Filhote... — Donghae se aproximou, acariciando os cabelos de Kihyun. — Como se sente? — perguntou, preocupado.

Kihyun juntou as sobrancelhas e se perguntou quando todos haviam trocado de roupa. De repente, um angustia tomou conta de si. Olhou para Hoseok, que sorriu amarelo.

— Cadê o Eun omma? — o silêncio tomou conta do quarto. Kihyun olhou para o irmão, que abaixou a cabeça. — Chamem o omma pra mim. — pediu aos pais, que o encaravam com o coração na mão. — Appas... — chamou, e os mais velhos tentaram se aproximar. — Omma! — gritou. Siwon e Donghae pararam onde estavam. — Changkyun! Chama o omma! — o mais velho suplicava ao caçula, que se mantinha quieto ali. — Om-

— Não dá, hyung! Me desculpa! — o choro tomou conta do ômega. — O Eun omma morreu! Para de chamar ele! — o menor gritava em resposta a plenos pulmões, até perceber o que tinha feito e olhar o semblante chocado do irmão. A máquina indicou o aumento da frequência cardíaca de Kihyun. — Hyung... — sussurrou.

— É mentira! — Kihyun berrou e acertou o rosto irmão com uma tapa, chocando a todos ali presentes. Siwon correu e retirou o menor do leito antes que algo pior acontecesse. — Appa! Por favor... é mentira... me diz... Omma! — tentou se levantar, indo de encontro ao chão devido o ferimento na perna, que a essa altura já havia aberto.

O primogênito dos Yoo chorava como um bebê de colo. Donghae e Siwon tentavam se aproximar para levantar o corpo do filho, mas Kihyun dava chutes com a perna boa e não deixava ninguém tocá-lo. Os incessantes gritos de Kihyun, exigindo a presença de Eunhyuk, chamaram a atenção do hospital.

— O que houve? — um médico deveras alto perguntou enquanto entrava no quarto e via a criança rastejando no chão e a família em choque, o paciente tentando sair do quarto.

— Ele não deixa ninguém chegar perto. — Siwon explicou com a voz quebradiça, e Donghae tentou se aproximar de novo.

— Não! — Kihyun esperneou. — Me solta! Eu quero meu omma! — ele gritava e chorava, a saliva escorria pela boca, e não se importava em acertar seus pais e seu irmão. Hoseok não teve coragem de se aproximar e se encontrava abraçado a Changkyun.

— Venham. — o médico alto chamou alguém do lado de fora. De repente, outros dois homens igualmente grandes entraram no quarto e pegaram Kihyun com certa brutalidade.

— Cuidado com ele. — Siwon disse.

— Desculpe, mas é o único modo de acalmá-lo. — um dos homens disse enquanto aplicava algo no menor.

— O que é isso? — perguntou Donghae, assustado, ao ver a agulha sendo injetada.

— Tranquilizante. Sugiro que solicitem um psicólogo para ele. — o outro homem disse, deitando Kihyun na cama novamente e saindo dali.

— Omma... — Kihyun dizia enquanto olhava para o teto, finas lágrimas descendo por seu rosto do filhote. O “bipe”, antes rápido, começou a normalizar e ficar abafado. A escuridão o tomou aos poucos. — Eun... omma...

 

(...)

 

Naquele dia, fazia uma bela manhã de sol. Tudo estava ensolarado, o céu aberto, praticamente livre de qualquer nuvem que impedisse a passagem dos feixes luminosos. Embora o dia aparentasse estar radiante, a melancolia se sobrepunha a todo aspecto positivo.

Park Kyungri, vestida de preto das cabeças aos pés, assim como os demais ali, tomou a frente e começou a falar. Seu discurso claro e sério falava sobre o dever de um oficial da segurança pública, mas deixava nítido em suas palavras firmes o abalo de perder um dos seus. Enquanto prestava sua homenagem naquela oratória fúnebre, notava tristeza em cada um dos semblantes dos colegas de trabalho, amigos e parentes de Yoo Eunhyuk.

O discurso chegou ao fim, dando início a cerimônia de despedida para o oficial morto. Os colegas que compareceram ergueram suas armas para alto e iniciaram uma salva de tiros ao passo que caixão descia para dentro da cova. Changkyun encolheu-se assustado com o barulho alto e se agarrou mais ao peito de Siwon, que apertava o enlaço ao redor do filho para que ele se sentisse seguro. Donghae estava quieto, apertando a mão do marido enquanto sentia as lágrimas descendo de seus olhos ao ver a cova ser selada. Respirou fundo e sufocou-se com um soluço preso na garganta, mas não o deixou sair. Siwon, vendo isso, soltou a mão dele e abraçou de lado, sem precisa soltar o mais novo.

— Siwon, Donghae. — os alfas olharam assim que foram chamados. — Meus pêsames... E... — o outro parecia não saber o que dizer.

— Tudo bem, Henry. — Donghae passou mão pelo rosto, sorrindo fraco para o amigo. — Obrigado por terem vindo.

— Como está o Kihyun? — Zhoumi, atrás de Henry, perguntou, dando por falta do primogênito dos Yoo.

— Ele não quis vir, e não quisemos forçá-lo. — Siwon suspirou, abatido.

— Na verdade... — Donghae começou. Seu tom suave era de se estranhar se não fosse levado em consideração o contexto em que estavam. — Desde que saiu do hospital, ele não fala conosco. Ele fica horas olhando para o teto ou para a parede. — apertou o punho. Sentia-se impotente diante do estado do filho, de vê-lo assim e não saber como ajudá-lo.

— Ele não tem conseguido dormir direito, está tendo pesadelos toda vez que pega no sono. — Siwon falava enquanto afagava a cabeça de seu filhote. — Tenho ido dormi com ele esses dias, mas ele tem se recusado a falar com qualquer um... — suspirou de novo. Era triste ver Kihyun naquela condição.

— Ele se culpa. — Donghae disse, com o olhar tão vazio quanto deveria estar o coração de seu filhote. — Ele pensa que não ouvimos ele sussurrar para si mesmo, durante as madrugadas, que foi tudo culpa dele... — estreitou os olhos e direcionou sua atenção a Zhoumi. — Ele acha que se tivessem nos esperados na escola, nada teria acontecido. — confessou, embargado, e limpou uma lágrima teimosa.

Zhoumi e Henry se entreolharam. O Lau assentiu com um aceno de cabeça, deixou um beijo na bochecha de seu alfa numa despedida e se retirou dali.

— Como você está, Kyunnie? — Zhoumi se dirigiu ao mais novo, que permaneceu o tempo todo com o rosto no vão do pescoço de seu pai, no lado no qual ficava a marca de Eunhyuk. — Changkyun? — o chamou novamente, dessa vez conseguindo que o filhote caçula dos Yoo lhe encarasse.

— Estou bem. — abaixou o olhar. — Zhoumi hyung... — chamou, e o médico buscou o olhar dele, além de oferecer um sorriso. — Você pode cuidar do Kihyun hyung? Eun omma me pediu pra eu fazer isso, mas eu não consigo olhar pra ele, eu quero chorar. Mas, Eun omma me pediu- — um soluço interrompeu a fala, mas Changkyun rapidamente se recuperou. Aquela criança seria um ômega esplendoroso, pois, apesar de tudo que vinha passando desde pequeno, desde o tratamento de seu transtorno até a morte de um dos pais, ele continuava a querer cuidar de quem gostava. — Eun Omma me pediu pra ser forte e cuidar do hyung. — concluiu a frase ao passo que fungou.

— Claro que vou te ajudar. — Zhoumi fez um carinho no rosto do filhote de seus amigos, seu sobrinho de consideração. — Seu omma tem muito orgulho de você, Changkyun. — garantiu a ele.

— Pode cuidar dele, Zhoumi? — Donghae perguntou. — Você cuidou do Eun e cuida do Kyunnie.

— Claro que posso. — confirmou, sorrindo. — Vou marcar uma hora na sexta. Tentem levá-lo até o consultório. — pediu e se despediu dos mais velhos. Antes de seguir para o carro, onde Henry o esperava, chegou perto do ouvido de Changkyun e sussurrou: — Cuide de Kihyun até sexta. Vamos deixá-lo feliz, Kyunnie.

O caçula dos Yoo sorriu para o seu médico e tio, como costumava chamar.

Assim que a cerimônia encerrou e após todos os presentes darem suas condolências à família, os Yoo entraram no carro para retornarem à sua casa. Mesmo sentindo um tremendo vazio, a vida precisava continuar, e tanto Kihyun quanto Changkyun precisavam da força para superar aquilo, os alfas sabiam disso. Eunhyuk zelou pelos menores, suas joias, até o último segundo, e fariam o mesmo.

— Espera, Changkyun! – Donghae gritou ao filho, que correu para alcançar as escadas, provavelmente atrás do irmão. — Tire os sapatos e tome cuidado. Se Kihyun estiver dormindo, não o acorde. — o menor assentiu e seguiu seu caminho, dessa vez com mais calma.

— Kihyunie... – sussurrou ao abrir a porta do quarto do irmão. — Kihyun...? — chamou o irmão e adentrou o local sem preocupar-se com a porta. — Você tá acordado, hyung? — aproximou-se da cama de mansinho e viu os olhos de Kihyun abertos. Ele não estava dormindo, mas também não estava ligado na realidade.

O menor mordeu o inferior ao observar lágrimas escorrendo pela face bonita de seu irmão. Chegou ao lado da cama e levantou uma mão para tocar o rosto de Kihyun. O leve toque pareceu despertá-lo, mas Changkyun não ficou feliz com a reação do outro. Pelo contrário, arrependeu-se.

— Omma... Eun omma? — o mais velho tinha os olhos vermelhos e o rosto levemente inchado, estava inteiramente coberto, embora não fizesse frio algum.

— Sou eu, hyung. — tentou sorrir, mas a feição de Kihyun mudou drasticamente com essa quebra de ilusão.

— Não... — a voz tremulou, e sentiu a visão embaçar novamente. — Omma! — gritou, e Changkyun se assuntou e deu alguns passos para trás por reflexo.

— Omma não está aqui... — Changkyun disse e surpreendeu-se com o irmão se levantando da cama enquanto chamava desesperadamente por Eunhyuk. — PARA, KIHYUN! — gritou, e Kihyun o olhou da porta do quarto, onde estava. Changkyun chorava baixinho por não saber como ajudá-lo como havia prometido ao seu omma e também Zhoumi, há poucos minutos. — Omma não está aqui... — sussurrou e caiu de joelhos com a mão no rosto.

— Changkyun? — era como se o Kihyun não visse o irmão há muito tempo, como se houvesse acabado de sair de um transe.

O pequeno levantou e correu para abraçá-lo ao ouvir seu nome sair da confusa da boca dele. Ambos choravam, e Kihyun havia recomeçado a chamar Eunhyuk baixinho em seu ouvido. Não perceberam, mas quando deram por si, estavam de joelhos no chão.

— Me desculpe... — Kihyun soluçou. — Foi culpa minha... tudo culpa minha... — a voz estava quebradiça, chorava e apertava o irmão mais novo contra si. — Nós devíamos ter esperado...  Me desculpe... — ele implorava ao pequeno, que só sabia chorar. Os dois se assustaram com braços ao redor deles.

— Calma... — Siwon pegou Kihyun enquanto Donghae pegava Changkyun no colo. — Não é sua culpa, filhote... — tentou prender o choro. Em vão. — Não é culpa sua. — deixou sua armadura cair ao viu Donghae chorar também de forma tão copioso quanto os menores.

— Nós vamos cuidar de vocês.  — Donghae garantiu e se aproximou de Siwon, o abraçando com seus filhotes entre si. — Eunhyuk sempre estará conosco. Amamos vocês. — terminou sua fala.

Siwon, entretanto, sabia que aquela frase não era apenas para os filhotes.

De fato, aquela família estaria sempre unida.

No dia seguinte, Siwon e Donghae mandaram derreter a aliança de Eunhyuk, forjaram o mesmo em um pequeno pingente que se partia ao meio e deram a seus filhotes. Kihyun, mesmo naquele estado de torpor causado pelo trauma, entendeu tudo e guardou o presente, assim como Changkyun.

Nenhum deles usaria aquele presente, apenas guardaria como o último bem precioso de seu omma.

Aquilo que simbolizava o amor para Eunhyuk.

Simbolizava tudo para os Yoo.


Notas Finais


é isso.
tchau <3


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