História Blue Neighborhood - Come over now.

Com dezessete anos (mês passado)
Terminei de arrumar meu terno, era a primeira vez que colocava roupas do meu tamanho certo. Arrumei meu cabelo também, coisa rara. Mas, desde que recebi a notícia de que o pai de Jungkook havia falecido, eu senti a necessidade de ir até lá… Até o velório. Eu sei que o pai dele me odiava… Mas estou fazendo isso por causa do Kookie.
Taehyung falou que eu não deveria ir, porque estou sendo besta, depois de tudo que houve, depois de Jungkook ter me magoado de inúmeras formas. Mas, o que posso fazer? Eu não consigo evitar a vontade de vê-lo. Suspirei, tirando uma mecha de meu cabelo quase platinado de minha testa, tomando um último sopro de coragem. Porque já estava a pelo menos meia hora na frente do espelho, olhando vagamente para minha própria imagem.
Por fim, peguei o paletó que estava em minha cama, colocando-o enquanto andava, descendo as escadas, e indo até a porta da frente. Minha mãe buzinou, avisando que havia chegado para me levar até o local desejado.
- Entrei no carro, e ela me olhou pesarosamente, como se quisesse me consolar. Mas, eu acho que ela não sabe o porquê de eu precisar de consolo. Pois na verdade, o consolo é por eu ter perdido a pessoa que julgo amar. A pessoa que deixa meu coração acelerado.
- Está bonito, querido - falou ela, segurando minha mão.
- Obrigada, mãe… Me desculpe por fazê-la ter que sair de seu trabalho - falei, olhando-a, enquanto ela esboçou um sorriso.
- Imagine, isso não é um incômodo.
Ela começou a dirigir, fazendo meus pensamentos voarem para bem longe. Realmente, igual nos filmes, quando as pessoas olham para a janela do carro em movimento, pensando distante.

Minha mãe parou o carro, e disse que ia embora, e que me buscaria mais tarde. Eu assenti, vendo-a partir. Tentei ignorar as pequenas gotas que caiam do céu, naquele dia nublado e parcialmente gelado, e tomei coragem para andar. Avistei de longe um aglomerado de pessoas. E no meio delas, Jungkook. Ele estava com a cabeça baixa, fitando seus próprios pés, enquanto Laurie estava a seu lado. Não me atrevi a chegar muito perto, eu apenas me dirigi para o outro lado, ficando de frente para onde Jungkook estava, porém, mais afastado. Fiquei ouvindo o padre proferir palavras de conforto, e quando acabou, as pessoas começaram a jogar suas flores dentro do caixão. Menos Jungkook. Ele encarava a rosa branca em suas mãos, com os olhos marejados, e olhar extremamente triste. E então ele jogou a flor, depois que todos já haviam feito, e Laurie o abraçou… Mas ele não retribuiu. Quando começaram a enterrar o corpo, Jungkook se ajoelhou.
No momento seguinte, seus olhos focaram em mim. Eu gelei. Sustentei o olhar, e eu juro que podia sentir tudo o que ele estava sentindo naquele instante.
Queria poder abraçá-lo.
Me sentei em uma pedra grande, ao lado de uma escada que levava para a outra parte do cemitério. Dali, eu conseguia ver tudo, inclusive, o mar. Respirei fundo, sentindo o vento gelado em meu rosto, bagunçando meu cabelo que antes estava arrumado.
E então, senti ele me abraçando, fazendo com que eu o olhasse, retribuindo o abraço. Ele começou a chorar mais, e eu apenas fiquei em silêncio um instante. Até começar a me sentir culpado…
- Me desculpe - falei em seu ouvido, baixo.
- O que… - perguntou ele, me olhando.
- É tudo minha culpa… Se eu não tivesse o chamado para sair, ele não teria brigado com você e nada disso teria acontecido.
Ele não falou nada, apenas me abraçou novamente, colocando sua cabeça em meu peito. Estávamos sentados, e eu estava em um lugar mais alto que ele. Será que ele acha também que é minha culpa? Será que ele concorda que eu não deveria ter feito o que fiz pra ele?
Enquanto me perguntava isso, ouvimos alguém se aproximar. E quando olhei para baixo, no início das escadas, estava Laurie parada, nos encarando, com uma expressão de surpresa e confusão. Jungkook me soltou imediatamente, e, me olhando uma última vez, desceu, indo até ela, e os dois foram embora, discutindo. Eu apenas fiquei parado, olhando aquilo.

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Se aquilo me matou? Com certeza. Eu não sabia mais o que fazer depois daquilo. A minha felicidade se acabou completamente, tanto que minha mãe começou a estranhar, o que levou à nossa conversa de hoje mais cedo. Mas, o que posso fazer, certo? Ele tem Laurie.
Mas claro que o meu lado apaixonado clama por ele a todo momento.
Por seu abraço, seu toque… Seus beijos calorosos… Seus carinhos. Eu me sinto amado com ele, mas não entendo porque que ele faz isso, então. Eu sempre estive disposto a fazer qualquer coisa por causa dele, e seria capaz de esperar por ele… Sei que sua situação é bastante diferente da minha… E eu jamais pediria algo egoísta, apenas porque gosto dele… Jamais pediria que ele enfrentasse seu pai na época… Tudo que queria, era que ele me falasse algo… Que me desse esperança.
Ou que acabasse com todas as que tenho, e pronto.
Suspirei novamente, encarando ainda o papel com sua letra nenhum pouco bonita. Ri por causa disso.
Eu me lembro até quando nos conhecemos… Na primeira vez que brincamos juntos, com seus barquinhos de madeira, feitos por seu pai. Jungkook sempre foi uma pessoa que é mais tímida e fechada, enquanto eu era mais alegre, sorridente, bagunceiro e nunca me preocupei em me machucar, me sujar. Sou desleixado, posso dizer. Quantas broncas ele já me deu, por causa disso… Dizendo que eu deveria ser menos assim, e tomar mais cuidado, para não acabar me machucando de verdade… Que foi o que aconteceu no dia em que cai da árvore, por exemplo. Ou no dia que quase me afoguei na praia, se não fosse por ele, provavelmente eu teria me afogado. Ele brigou demais comigo nesse dia.

Continua...