Harry havia dormido no sofá, mesmo eu tendo insistido para que ele dormisse na cama comigo. As olheiras embaixo de seus olhos e sua aparência absurdamente cansada, aliada ao fato de que meu notebook estava em seu colo, aberto em uma página de pesquisa, indicavam que ele não havia pregado os olhos à noite.
– Bom dia. – Ele murmurou algo em resposta e se levantou, vindo até a cozinha comigo e se sentando nas cadeiras encostadas à bancada. – Como está? – Eu fiz a pergunta mais idiota possível, já que era óbvio que não estava nada bem, mas eu não tinha nada melhor para falar.
– Eu preciso vê-lo.
– Você acha que é uma boa ideia, Harry? – Eu perguntei enquanto colocava uma xícara de chá a sua frente.
– É claro que é uma boa ideia. – Ele falou como se eu tivesse feito a pior pergunta do mundo, quando, na verdade, eu só estava preocupado com uma possível piora da situação. – Ver Louis é sempre uma boa ideia, principalmente nesse momento. Ele precisa de mim. – Sua voz soou mais baixa e seus ombros baixaram.
– Eu sei, eu só estou preocupad...
Eu não tive tempo de terminar responder, pois a campainha tocou, fazendo o garoto a minha frente dar um pulo no pequeno banco e encarar a porta com os olhos cheios de expectativa. Eu caminhei lentamente e abri a porta, encontrando Louis e Liam ali.
Eu não consegui fazer nada depois disso, nem mesmo formular uma frase em minha mente. Tudo o que eu vi foi um vulto ao meu lado e um Harry chorando, se jogando nos braços de Louis, agarrando-se a ele como se precisasse disso para viver.
– Me desculpe. – Ele dizia abafado pelas lágrimas e pelo corpo do namorado. – Eu te amo. Por favor, eu te amo. – Seu desespero era tanto que meu estômago deu um loop em ansiedade, o que me fez trocar um olhar significativo com Liam.
– Pare de pedir desculpas. – Louis, com o rosto banhado pelas lágrimas, disse enquanto segurava o rosto de Harry com as duas mãos, para que assim ele pudesse olha-lo. – Você não deve pedir desculpas. Po-por nada. – Sua voz falhou por conta dos soluços e meu coração se quebrou. – Eu te amo tanto, Harry! – Pude ver que o cacheado abriu um sorriso mínimo e resolvi intervir.
– Entrem. – Eu dei espaço para que todos passassem. – Se a Sra. Thatcher nos encontra fazendo algazarra no corredor, ela nos mata.
Eu ri ao citar nossa síndica, uma senhora de idade extremamente rígida, que dava olhares tortos a Harry e Louis quando os encontrava, o que só fazia Harry abraçar e beijar ainda mais Louis, o que me arrancava gargalhadas, principalmente quando ela fazia o sinal da cruz.
– Na verdade. – Louis disse secando as lágrimas com a manga do moletom. – Eu quero levar Harry a um lugar, posso?
– O namorado é seu, Lou. – Eu ri, achando graça de seu pedido, como se precisasse da minha permissão.
– Eu vou a qualquer lugar com você. – Harry disse sorrindo e encarando o namorado. Abraçou sua cintura, como que incentivando-o a andar. – Você não precisa nem pedir. – Percebi que os ombros de Louis pesaram e nem podia imaginar o que se passava em sua mente.
Louis assentiu e os dois se foram. Harry parecia feliz, mas o mesmo não se podia dizer de seu namorado, que parecia ter levado uma surra na noite passada, andando devagar, com os ombros caídos e o semblante destruído.
Enquanto para Harry bastava estar novamente ao lado de quem amava, a mente de Louis parecia continuar a castiga-lo e seu corpo era o reflexo disso.
E então, após os dois entrarem no elevador, eu me vi sozinho, parado à porta, com Liam.
– Você quer entrar? – Eu quebrei o silêncio constrangedor que havia se instalado.
– Na verdade, eu vim até aqui porque pensei que gostaria de me ajudar em algo. – Eu ergui as sobrancelhas em sua direção, inquirindo-o, e ele continuou. – Quando Louis me ligou ontem, eu fui direto para seu apartamento e encontrei um verdadeiro cenário de guerra lá. Achei que seria bom que, quando ele e Harry voltassem, não tivesse mais bagunçado, para que eles não fiquem lembrando o que aconteceu.
– É, seria melhor se as coisas estivessem arrumadas. – Eu concordei com ele, que abriu um de seus sorrisos desconcertantes em minha direção. – Mas será que você pode esperar eu terminar de tomar café? Eu estou realmente com fome... – Abri um sorriso envergonhado e o seu se alargou ainda mais.
– Tudo para o meu loirinho faminto. – Ele segurou meu maxilar e deu um selinho rápido em meus lábios. Tão rápido que eu nem pude sequer retribuir, ou negar, que é o que eu dizia para mim mesmo que faria.
Ele se sentou no sofá e eu continuei a preparar meu café, tentando convencer a mim mesmo que não tinha gostado tanto assim do beijo e dizendo o tempo todo que eu teria negado se tivesse tido tempo de reação.
– Você está escrevendo uma música nova. – Ele quebrou o silêncio, me fazendo engasgar ao ver que ele estava com meu caderno de músicas em mãos.
– Eu ainda não terminei. – Eu falei enquanto caminhava até ele no intuito de tirar meu caderno de suas mãos.
– Me deixa ler o que você escreveu até agora. – Ele insistiu, caminhando para longe de mim. – Parece um pouco triste. É para a peça?
– Liam! Eu estou te pedindo para devolver! – Eu esbravejei.
– “Acordo para te dar um beijo, mas não há ninguém. O cheiro do seu perfume ainda está preso no ar. É difícil.” – Ele começou a recitar e eu senti minha garganta se fechar. – “Ontem, eu achei que tinha visto sua sombra por aí. É engraçado como as coisas nunca mudam nesta velha cidade.”
– Chega! – Eu tirei o caderno de suas mãos de forma rude e uma das páginas se rasgou. – Olha o que você fez, seu imbecil! – Eu disse absurdamente irritado, caminhando até meu quarto para guardar o caderno.
– Me desculpa. – Ele tentou se justificar. – Eu só queria ler, você que tirou o caderno de minhas mãos daquele jeito.
– Claro, agora a culpa é minha. – Eu fui irônico. – Qual é o seu problema com a palavra não? Porque você não sabe ouvi-la, não é mesmo? – Minha voz saiu um tom mais alto e a expressão assustada de Liam demonstrava o quanto isso era incomum.
– Eu sempre li as suas composições, você nunca me disse não.
– Talvez esse seja o problema. Eu preciso aprender a te dizer não! – Eu desabafei.
– Ei, venha aqui. – Ele me puxou pela cintura. – Me desculpe. – Ele acariciou meu rosto e eu senti a pele em que ele tocou queimar. – Eu compro um caderno novo pra você. – Ele tentou me beijar e eu vire o rosto, fazendo com que seus lábios encontrassem apenas meu maxilar.
– Eu não quero um caderno novo. – Eu me afastei dele, comemorando internamente essa vitória.
– Tudo bem. – Ele suspirou. – Nada de caderno novo.
– Vamos logo arrumar aquele apartamento.
Eu não o toquei mais, apenas fui até a porta, indicando que eu gostaria que ele saísse. Fizemos o caminho até o andar debaixo em silêncio, o clima havia pesado e eu estava tentando me decidir se me sentia culpado ou não por minhas atitudes anteriores. Mas qualquer pensamento meu foi totalmente esquecido quando eu entrei no apartamento de Harry e Louis.
Eu fiz um som que denunciava meu espanto e Liam olhou para mim compreensivo, porque provavelmente ele havia tido a mesma reação ao ver o estado em que se encontrava o local.
– Será que ele... – Eu nem tive coragem de continuar a falar, mas Liam pareceu entender o que eu dizia.
– Não, ele não bateu no Harry. – Ele suspirou. – Mas pelo que ele me disse, foi quase. Ele estava totalmente transtornado quando eu cheguei, foi assustador.
Liam começou a contar o que havia encontrado quando chegou aqui, enquanto nós começamos a trabalhar e limpar todo o local. Pelo que ele dizia, Louis se acalmou com o tempo e então passou a chorar como se não houvesse amanhã, dizendo que fazia mal ao Harry e que ele nunca mais poderia chegar perto do namorado.
Levamos algumas horas para arrumar tudo e já estava tudo em seu devido lugar, menos as fotos, já que os porta-retratos haviam sido quebrados.
– Nós deveríamos sair e comprar porta-retratos novos para colocar as fotos. – Eu comentei, enquanto analisava as fotos em minha mão. – Eles são bonitos juntos. – Me permiti abrir um sorriso. – Como se eles se completassem, combinassem perfeitamente. Como se fosse certo estarem juntos, sabe? – Eu disse sonhador e senti que Liam parou atrás de mim, olhando por cima de meu ombro para as fotos e me causando arrepios por conta de sua respiração em meu pescoço.
– Sabe o que mais combina? – Ele abraçou meu corpo e começou a distribuir beijos em meu pescoço. – Eu e você na sua cama agora. – Ele alternou as palavras com beijos. – O que acha?
– Não. – Eu me virei e coloquei a mão sobre seus lábios para que ele não falasse e não me beijasse, duas coisas que me fariam acabar cedendo. – Eu tenho compromisso. – Disse rápido e sem pensar, me livrando de seus braços logo depois.
– Comprar porta-retratos não é exatamente um compromisso, Niall. – Ele debochou.
– Não é esse meu compromisso. – Eu revirei os olhos, tentando soar convencido. – Vou comprar os porta-retratos antes de ir ao meu compromisso.
– E com quem é esse compromisso? Porque eu não vou te deixar sair sozinho e você não tem amigos.
– Nossa, Liam, você é sempre tão babaca assim? – Eu olhei para ele incrédulo. – Eu tenho muitos amigos.
– E por que eu não conheço nenhum deles? – Ele ainda parecia desconfiado.
– Por que você deveria? Nós não somos nada.
– Como assim nós não somos nada? – Ele subiu sua voz e me encarou.
– Nós não somos. Você tem uma namorada. – Eu o desafiei.
– Nós somos amigos. – Sua voz falhou um pouco, porque esse papo não convencia nem ele mesmo. – E eu me preocupo com você e com quem você anda. – Eu suspirei diante de suas palavras. – Eu vou com você, já está decidido. – Ele se levantou e caminhou firme até a porta.
Eu não contestei, mas confesso que fiquei paralisado um tempo, tentando entender o que estava acontecendo ali. Fora o fato de que precisava pensar em um lugar para ir, porque eu havia mentido. Não havia compromisso e eu estava bem ferrado.
Pensei em ir até a casa de Nick, mas quando estava na metade do caminho me lembrei de Josh e seus amigos. Hoje era sábado, o pub deveria ficar aberto o dia todo e eles disseram que eu poderia voltar, portanto, eu disse o endereço para Liam e ele dirigiu até lá.
Assim que paramos à frente do lugar, o garoto a meu lado fez uma careta, reprovando o bar, o que me fez revirar os olhos.
– Eles são meio punks. – Eu expliquei.
– O que só piora tudo, punks não são boas companhias, eles fazem coisas erradas. – Eu o encarei totalmente incrédulo. Quem ele pensava que era afinal?
Ignorei seu comentário e entrei. Havia apenas uma mesa ocupada no canto, Margot estava organizando algo atrás do balcão e os meninos passavam o som em cima do palco. Assim que me viu, a garota acenou alegre.
– Achei que tinha desistido de nós. – Ela confessou e eu ri.
– Só estava ocupado... – Me sentei em um dos bancos que ficavam por ali e Liam se sentou a meu lado, ainda analisando tudo ao seu redor, o que me fez ficar irritado.
– Trouxe alguém dessa vez. – Ela piscou para mim e eu senti minhas bochechas esquentarem. – O que vão querer?
Eu não tive tempo de responder, pois Josh parou a meu lado, colocando a mão em meu ombro e me cumprimentando feliz.
– Me diz que veio fazer um som comigo dessa vez.
– Não. – Liam interrompeu. – Nós só viemos tomar uma cerveja. – Ele respondeu por mim e eu o encarei bravo.
– Eu amaria fazer um som com você. – Eu ignorei o garoto a meu lado.
– Desculpa. – Ele colocou as duas mãos atrás da cabeça, visivelmente envergonhado. – Eu não quero causar problemas entre você e o seu namorado.
– Ele não é meu namorado, é só meu amigo. – Eu escutei Liam bufar e seu braço enlaçou minha cintura, me trazendo para perto.
Eu o encarei bravo e antes que ele pudesse argumentar seu celular tocou. O nome de Sophia brilhou na tela e foi o suficiente para que eu me livrasse do seu abraço e me colocasse de pé.
– Você tem que ir. – Eu provoquei desgostoso.
– Eu te levo para casa. – Ele voltou a me puxar pelo braço.
– Eu posso levar o Niall mais tarde. – Josh disse com as bochechas coradas, provavelmente com receio de se intrometer.
– Viu? Josh me leva depois, você não precisa se preocupar. – Puxei meu braço.
– Não aja como uma criança teimosa. – Liam me olhava sério e desafiador e eu podia sentir os olhares de Margot e Josh sobre nós.
– Não me trate como uma criança, Liam. Eu já tenho idade o suficiente para cuidar de mim mesmo e se quer saber, estou cansado de você. – Desabafei. – Estou cansado de meu mundo girar a seu redor e de tudo sempre me levar de volta a você. – Sequei uma lágrima solitária que rolou por meu rosto. – Vá encontrar sua namorada e me deixe em paz.
Virei as costas e caminhei até o palco, sendo recebido por Ben e percebendo Josh a meu lado. Fiquei de costas tempo suficiente para que Liam partisse, me concentrando na tarefa de não chorar.
– Você está bem? – Josh passou as mãos em meu ombro e eu assenti.
– Agora eu estou.
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