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História Blueberry - The beginning of the uncontrolled


Escrita por: Tae-Chim

Notas do Autor


Falei que postava mais um esse mês, e cumpri!
Esse capítulo é "um pouco diferente" dos outros, mas ele é muito importante pro andamento da história. Bom, na verdade todos são né, eu não ia escrever nada a a toa ' _ '

Boa leitura ^_^

Capítulo 12 - The beginning of the uncontrolled


Fanfic / Fanfiction Blueberry - The beginning of the uncontrolled

Hoseok POV

Ainda na manhã do mesmo dia

Terminei de falar com Jimin e saí do quarto. Estava disposto a finalmente agir de alguma forma para saber qual a relação de Yoongi em toda essa história de Jimin e Taehyung. Não é como se eu fosse um fofoqueiro que quer se intrometer nos assuntos alheios, mas eu já conheço o Yoongi há bastante tempo para saber que tudo isso é muito estranho para ser apenas uma coincidência.

Mas antes de me precipitar, eu preciso de materiais, provas e fatos concretos que comprovem todas as minhas suspeitas. A vida no Exército da Fronteira não é fácil, muito menos quando se é um ômega que está tentando subir na carreira militar. Venho há anos conquistando laços e alianças, dentre elas a mais forte é a minha amizade com Seokjin. Deste modo, sendo ainda apenas um segundo tenente, eu não possuo poder para arrancar as informações que eu quero e na velocidade que desejo.

Todavia, como um rapaz esforçado e competente que sou, depois de anos de trabalho duro, consegui a proeza de chegar a um cargo bom o suficiente que me permite ter uma salinha particular no prédio administrativo, e até ter subordinados. A minha sorte mesmo é ter vindo para o exército um ano antes de Yoongi, pois assim como ambos seguimos o treinamento à risca, subimos a nossa patente muito rápido, então, hoje sou uma classe acima dele. O que significa que hoje farei de Min Yoongi um bom menino.

 

Já fora do dormitório, eu caminhava pelo prédio administrativo da base. Era lá que todas as figuras importantes do lugar se reuniam para discutir as pautas das reuniões, administrar o funcionamento da base, e obviamente, conduzirem as táticas de guerra. Essa época do ano era tranquila, quando não havia nenhum tipo de provocação do país vizinho. Nós só tínhamos que preparar os calouros para que futuramente se tornassem soldados responsáveis e competentes. Além de vigiar a fronteira, eu também era responsável por verificar o andamento de algumas requisições feitas pelo alto escalão.

- Bom dia, segundo tenente Jung!

- Bom dia, sargento Park. – Sorri para a alfa ruiva a minha frente, a cumprimentando – Qual o nível da papelada de hoje?

- Ah, que bom que você chegou bem cedo. – Chaeyoung riu, e então entendi que eu teria bastante trabalho para fazer.

- Tudo bem. Se eu precisar de ajuda, vou te chamar hein.

- Nada disso, procure a sargento Jennie. Hoje eu ficarei o dia todo nas ruas de guarda.

- Ora, vai mesmo se recusar a me ajudar? – Cruzei os braços com uma falsa indignação – grampear papel comigo é muito mais legal do que correr atrás de ladrão de bicicleta.

- Tenho certeza de que vai encontrar alguém mais capacitado que eu. Fighting! – Fez um sinal de torcida com as mãos sorrindo de maneira fofa, e foi embora a passos apressados. Tudo isso só para não me ajudar com a papelada, minha nossa.

Continuei seguindo para o meu destino quando mais a frente avistei uma figura já conhecida.

- Bom dia, sargento major Seokjin! – Falei em alto e bom som, o suficiente para dar um susto em Jin, que se encontrava sentado em um banco do corredor, de costas, comendo um pacote de biscoitos.

- Meu deus, que susto. – Com os olhos esbugalhados se virou para mim – quase me entalei com o biscoito, Hoseok! – Ri de seu modo desesperado, afinal, não era permitido que ficássemos comendo pelos corredores, e pelo horário, Jin nem deveria estar ali comendo, e sim trabalhando. – Digo, segundo tenente Jung... – se corrigiu olhando para os lados para ter certeza de que não havia ninguém por perto para reprimi-lo pela informalidade. – Acordou cedo hein? – Comeu mais um biscoito e fechou o pacote – quer adiantar o trabalho é?

- Mais ou menos. – Soei misterioso, atiçando a curiosidade de Jin – mas de fato tenho muito trabalho. Se me der licença... – prossegui indo em direção a primeira porta a direita próxima a nós, mas antes de entrar, Jin chamou a minha atenção.

- O que pensa que está fazendo, Hoseok?

- Vou entrar nesta sala. – Respondi óbvio, mas não era aquilo que Jin queria saber.

- Isso eu sei, mas, você não sabe quem está aí? – Se aproximou cauteloso e abaixando o tom de voz, falando quase num sussurro. – O que você quer entrando na sala de Min Yoongi?

- Preciso de um assistente. – O mais velho arregalou os olhos em espanto – E ele está ali dentro. – Apontei para a bendita porta que Jin não queria que eu entrasse.

- Hoseok... – balançou a cabeça em reprovação – Você não tem medo de entrar aí e nunca mais voltar? Você sabe que esse menino é um demônio.

- Nah... Que nada! – Dei um tapinha em seu ombro para passar confiança, junto com uma expressão descontraída – Eu sou o sol que ilumina até os cantos mais isolados do planeta. Não há demônios na terra de Jung Hoseok, um anjinho da paz como eu. – Fiz dois sinais de ‘V’ com os dedos, colocando em frente aos meus olhos, numa pose radiante que arrancou um riso de Jin.

- Anjinhos da paz não ficam rebolando a bunda no chão nas festas do trabalho.

- Que isso! Me respeita! – Não consegui acreditar num absurdo daqueles. – Eu rebolo em todas as festas, não só nas de trabalho. – Começamos a rir de minha bobeira, mas era verdade que não havia uma festa em que eu não remexesse um pouquinho sequer. A vida aqui no exército era muito dura e sufocante, mas a minha alma era livre e desinibida, e não ia me prender por nada. Por mais que Jin insistisse dizendo que alguns tipos de atitude fariam com que os outros não me levassem a sério, eu estava disposto a tentar mudar um pouco as coisas por aqui.

Deixei a bobeira de lado e fui logo fazer o que pretendia. Passei a noite toda pensando nisso, e não podia entrar na sala com cara de bobo alegre. Então fechei o meu semblante, refiz a minha postura de modo firme e corajoso, respirei fundo, levantei a cabeça e adentrei a sala, sem nem sequer bater na porta, só para mostrar quem mandava ali, pois eu não precisava ser anunciado, eu era o superior.

Logo de cara me deparei com um Kim Namjoon sentado em uma cadeira bem relaxado, com uma xícara na mão, e mais à frente Min Yoongi, sentado com os pés sobre a mesa de seu pequeno escritório particular. Os dois me encaravam confusos, afinal, jamais esperariam a minha presença ali. Eu também não fazia questão, mas era por um bem maior. Os heróis tinham de se sacrificar às vezes.

- Bom dia. – falei educado como se aquela situação não fosse estranha e desconfortável. – Quero falar a sós com o subtenente. – Olhei para Namjoon esperando que ele desinfetasse dali. O mesmo semicerrou os olhos me encarando contrariado. Alfas odiavam ômegas audaciosos. E eu era bastante.

- Eu tô tomando café. – Respondeu indiferente. Me aproximei e peguei a xícara de sua mão, jogando fora o seu conteúdo que pelo cheiro, parecia ser café. Ele se levantou da cadeira imediatamente irritado. – Ei!

- Você não tem mais café pra tomar. Vaza daqui. – Apontei com a cabeça para a porta, sem me importar com o fato de que ele era bem mais alto que eu, e possuía um olhar raivoso e intimidador. Confesso que queria rir daquele ato inconsequente que havia acabado de fazer, mas continuei sério. Eu estava mesmo louco de derramar o café de Namjoon no carpete da sala de Yoongi.

- O que você quer, hein, Hoseok? Que merda, não são nem 7 horas da manhã ainda. – Finalmente pude ouvir a voz enjoada do nojentinho sentado do outro lado da mesa, ainda com as mãos sobre a barriga.

Namjoon bufou, tomando a xícara vazia de minhas mãos e saiu da sala, batendo a porta. Agora sim íamos descobrir se eu sairia vivo dali ou não. Eu esperava que sim, pois eu tinha ainda muitas festas para ir.

Me sentei na cadeira, de forma natural, como quem não estava diante de um demônio. Cruzei as pernas, bem confortável, e entrelacei os dedos sobre a barriga, do mesmo modo que o outro estava. Yoongi me encarava já com as narinas estufadas, enquanto eu mantinha o meu semblante tranquilo. Pelo menos a sala dele era arrumadinha, mesmo que um pouco escura. Talvez ele a usasse para fazer alguns cultos? Não sei, mas queria sair logo dali.  

- O que você quer, Hoseok? – Pronunciou-se cortando o silêncio. Seu tom era ríspido, praticamente vomitou o meu nome. Mas não me deixei abalar. Não seria o primeiro nem o ultimo naquela base que me trataria com repulsa.

- Para você é segundo tenente Jung. – Ele deu uma risada debochada revirando os olhos.

- Nem morto.

- Prefere Hobi então? – Me fiz de desentendido e via aos poucos o seu rosto contorcer em raiva.

- Não fode.

- Mas você tá bravo? Se continuar assim vai ter um AVC logo cedo. Não vai passar dos trinta.

Yoongi realmente ficava furioso com as minhas provocações, até mesmo quando eu nem estava provocando. Era esse o efeito que eu causava sobre si? Uma mísera palavra minha o fazia perder todo aquele ar de psicopata calculista e frio, e se tornava um garotinho puto.

- Fala logo o que você quer. – Ele tentava se acalmar, falando num tom mais calmo e estável. Deixei um sorriso brotar no canto da minha boca. Aquilo era tão bom. De certa forma eu me divertia.

- Bem, como sabe, ou talvez não, porque não sei o que você faz aqui... – olhei em volta daquela sala que parecia um covil de bruxa - Como segundo tenente, tenho muito trabalho, então resolvi pedir à major Lee que me cedesse um assistente.

- E daí?

- E daí que é você, ora. Você será o meu assistente a partir de hoje. Pedi que ela me recomendasse alguém competente, e ela disse que disponível só teria você. Taehyung é muito cabeça de vento.

Yoongi ficou me encarando por alguns instantes, o olhar sem brilho algum, apenas duas bolas negras que pareciam escanear a minha alma e a mandava para o inferno, sem direito a reencarnação.

- Você tá zoando, né?

- Não estou.

Ele rangeu os dentes quando viu que de fato eu não estava brincando. Por certo eu precisava mesmo de um assistente, já que Chaeyoung agora passava mais tempo nas ruas, como a maioria dos sargentos. E de que modo melhor eu poderia descobrir mais sobre as tramoias de Yoongi senão passando o dia todo ao seu lado? E eu ainda iria vigia-lo a cada passo que desse. Era genial. Numa situação normal eu escolheria qualquer outra pessoa, mas não havia outra saída. Iria sacrificar o meu bem-estar para ficar na cola dele.  

Me levantei da cadeira, colocando as mãos nos bolsos da calça, dando o assunto por encerrado. Yoongi ainda tentou questionar, mas ele sabia melhor do que ninguém que não se ia contra a vontade de um superior, e a minha palavra estava acima dos seus protestos.

- Vamos para a minha sala. Essa aqui me dá calafrios. – Falei caminhando para a porta. Ele continuava sentado me encarando contestado. – Você está surdo? Quanto mais tempo demorar para vir, mais vai demorar para sair. – Ouvi um grunhido irritado, seguido de sua movimentação para sair da cadeira e vir até mim. Fomos então para a minha sala.

[...] 

- Voltei. – Yoongi adentrava a sala com duas sacolas nas mãos. Provavelmente era o nosso almoço. Ele jogou a sacola de qualquer jeito em minhas mãos, mas não me importei, estava com fome e o cheiro era bom.

- Obrigado. Está se saindo bem como assistente. – Sorri tirando as coisas da sacola. Ah, como eu amava aquele cheirinho de arroz.

Calado, ele se sentou na cadeira que passou a manhã toda, e colocou a sua sacola para o canto.

- Não vai comer? – Questionei com a boca cheia de arroz, que estava tão quentinho!

- Não acredito que me fez ficar a manhã toda grampeando papéis. – Me olhava indignado com os braços cruzados. Apesar do desgosto em seu olhar, o biquinho que a sua boca formava o davam uma aparência fofa, e eu não conseguia nem levar a sua reclamação em conta. – Isso não é trabalho para um subtenente.

- Assistentes fazem isso. – Terminei de comer o meu arroz e abri a outra tigela com macarrão – Se ficar resmungando muito, a pilha só vai aumentar aí.

Ele bufou apertando o grampeador nas mãos, quase o quebrando em fúria. Fiquei encarando meu macarrão para fingir que não me importava, por mais que aquele fosse o único grampeador que eu tivesse, e não quisesse que ele fosse esfarelado. E assim ele voltou a fazer o seu serviço, grampeando todos os inúmeros processos que tinham ali.

Que informações eu consegui adquirir nessa manhã que fiquei trancado em minha sala com o Yoongi? Não muita coisa. Na verdade, nada do que eu já não soubesse.

Yoongi era um rapaz calado, e que às vezes falava mais com o olhar do que qualquer coisa. Suas expressões diziam muito do que estava pensando, e na maioria das vezes ele estava bem puto comigo. Eu só nunca entendi porque ele ficava tão estressado quando estava falando comigo. Parecia que a minha presença ativava algo em seu cérebro que o fazia ficar automaticamente inflamado. E ele não era assim com todos, apesar dos pesares. Ele não tratava Jin, que também era um ômega e meu amigo, desse mesmo jeito grosseiro. Até mesmo Jimin ele tratava melhor. Eu não me incomodava, achava engraçado, pois a minha vida toda tive de lidar com alfas folgados. Mas por que... por que comigo? Não queria ser seu amigo nem nada, mas desde sempre Yoongi nunca quis ter uma relação amistosa, sem motivo nenhum aparente. Nunca havia lhe feito nada, mas desde sempre me tratava como um inimigo.

Enquanto ele ficava ali quieto grampeado os papéis, eu assinava e verificava alguns relatórios, e volta e meia lhe dava uma olhada. Mas aquele silencio todo estava me matando, precisava conversar alguma coisa.

- Está tudo bem aí? – Perguntei sem tirar os olhos das minhas folhas.

- Claro, por que não estaria? São só papéis.

- Sempre tão meigo. – Debochei dando um risinho. – Por que você está assim? Está no cio?

- Claro que não, idiota, tá sentindo algum cheiro forte em mim?

- Só o cheiro da sua cueca melada só por ficar perto de mim.

- O que?! – Ele largou o grampeador em cima da mesa me encarando possesso.

- O que? Você não gosta de ômegas? – Me fiz que estava pensando em algo intrigante – Já sei. Você é daqueles que gostam de iguais né? – Ele continuava sem falar nada, até um pouco confuso – Sabe... alfa com alfa, ômega com ômega... Eu não tenho preconceitos, sabe?

- Só cale a porra da boca, Hoseok. – Ora, eu jurava que ele iria voar na minha garganta. Mas, como sabemos, ele não podia atacar o superior dele. – O que eu fodo não é da sua conta.

- Pra ficar constrangido desse jeito, você só pode ser virgem. Quantos anos você tem mesmo? 21? Ah, é novo...

- Como você consegue falar tanta bosta desse jeito? Parece uma metralhadora de merda, por que não deixa eu fazer essa porra de trabalho em paz?

- Que boca suja.

- Vai se foder! – Berrou voltando a grampear os papéis. A força que ele usava na hora de apertar o grampeador, eu sabia que as folhas não se soltariam nunca. Pelo menos isso.

Fiquei rindo internamente mas confesso que às vezes Yoongi era assustador. Mas não tinha porque ele ficar tão irritadinho daquele jeito, assuntos como cio e afins não eram nenhum tabu, muito menos para um alfa. Bom, com toda certeza Yoongi não tinha o apelido de Suga à toa, e não era pela sua pele branquinha, muito menos pelo seu jeitinho doce, e sim o contrário, esse jeito azedo e insuportável dele. E pensar que esse seria apenas o primeiro dia com ele aqui. Mas fui eu quem escolhi isso, então teria que ser forte e dobrá-lo aos poucos.

 

A tarde virou noite, e finalmente já tinha dado a minha hora. Após a minha tentativa falha de diálogo, ficamos num silêncio total. Liberei o Yoongi, que saiu feito um furacão e provavelmente rogando praga até a décima geração da minha família. Nada de novo, né?

Fui caminhando pelo corredor já deserto e pensando comigo mesmo no dia que tive. O que eu aprendi hoje? Que Yoongi era bom em grampear papéis, se irritava fácil com a minha existência, e era virgem. Desse último eu não tinha dúvidas, não mesmo.

Chegando no prédio do dormitório, cumprimentei o vigia da portaria, como fazia todas as noites. E quando estava adentrando para ir para o meu quarto, fui brutalmente empurrado para o lado, caindo no chão.

- Ai... – gemi de dor passando a mão na bunda enquanto me levantava após o baque. Olhei para os lados tentando buscar a causa daquilo, mas a resposta já estava bem longe, logo atrás de mim, correndo desesperadamente. – Jungkook?

 

Jungkook POV

 

Ao ver aquela cena logo a minha frente, não tive outra reação, senão correr. Não pensei, nem falei nada, meu corpo simplesmente resolveu que a melhor coisa era que eu estivesse o mais longe dali. Saí correndo pelos corredores do dormitório, enquanto ouvia a voz do meu irmão ecoando logo atrás de mim chamando pelo meu nome. Não olhei para trás, nem olhava para frente, saí esbarrando em todos que apareciam em meu caminho, até derrubei alguém quando passava pela portaria do prédio.

Corri até dizer já chega, não queria ter que encarar Jimin de jeito nenhum, não queria que ele me explicasse nada, nem perguntasse, pois eu não teria nada para dizer. Muito menos agora depois que saí correndo feito um louco.

Quando já ofegava cansado de tanto correr, olhei ao redor, e notei que estava numa área que eu não tinha o hábito de ir. Estava perto da cerca de segurança da fronteira, próximo a piscina. Quase ninguém ia ali a noite, pelo menos não era permitido, e como não ouvia mais nada, presumi que Jimin havia parado de me perseguir.

Deixei escapar um suspiro um pouco dolorido enquanto encarava a grama levemente molhada sob os meus pés. Parecia que estava manchada.

- Sangue?

Subitamente senti uma mão apertar o meu ombro esquerdo. A minha alma por um momento saiu do meu corpo e voltou, e antes que eu desse um grito, uma outra mão abafou o som da minha boca. Pisquei os olhos algumas vezes tentando decifrar aquela face no escuro. Mas meu coração se acalmou quando percebi que era Namjoon.

- O que faz aqui fora? – Questionou largando o meu ombro e tirando a mão de minha boca. – Fugindo de alguém? – Brincou, e se não estivéssemos no escuro, ele veria como fiquei pálido com a pergunta.

- Não eu... eu...

- Não é muito seguro ficar aqui fora a essa hora. Ainda mais perto da cerca. Veio caçar um selvagem?

- N-não. – Assenti varias vezes em negação.

Namjoon parecia despreocupado, enquanto eu parecia que estava num filme de perseguição policial que agora havia virado de terror.

- Você parece meio transtornado. Quer sair para conversar? Tem um bar aqui perto.

- Mas calouros não podem sair em dias de semana...

- Se você estiver acompanhado por mim, pode.

Ah, droga. Eu não queria ir, mas agora não teria desculpa. Tradicionalmente era falta de educação te chamarem para beber e não aceitar, então, não tive outra opção senão ir e esperar que Namjoon não tentasse me enfiar 2 litros de somek.

- Tá bom então.

 

Seguimos então para o bar, que realmente não ficava muito longe dali. Era umas duas ruas depois da base. Tinha uma boa aparência, e era frequentado tanto por soldados quanto pessoas comuns do bairro próximo. Durante o caminho, Namjoon não perguntou nada. Não quis saber o porquê exatamente de eu estar ali, e nem eu quis saber porque ele também estava.

- E aí, Namjoon, trouxe amigo novo é? – Perguntou o atendente do bar que já parecia ser íntimo do Kim.

- É, achei que ele precisava relaxar um pouco. – O alfa sorriu dando um tapinha amistoso em minhas costas. Dei um sorriso tímido enquanto o atendente sorria de volta.

- E vão tomar o que?

- Pra mim pode ser soju mesmo.

- E para você, garoto?

- Ah... – pensei por alguns instantes – Coca-Cola.

- Qual foi, Jungkook? – Namjoon riu com certa indignação – Não vai beber?

- Não tenho idade.

Ele revirou os olhos, mas resolveu não insistir, e mandou que o atendente trouxesse a bebida dele e a minha coca.

Ficamos um bom tempo lá conversando, coisas banais e até mesmo do serviço. Para a minha surpresa, Namjoon era um cara muito inteligente e engraçado. Quando ele está com Yoongi, sua aparência é intimidadora e assustadora, com aquela voz grave e presença de alfa bem forte, mas aqui... Ele parecia só uma pessoa legal. Dessa vez o clima da conversa era mais leve, diferente da anterior que tivemos, e aquilo me fazia relaxar um pouco, coisa que ultimamente eu quase não fazia. Até mesmo esqueci um pouco o que havia visto horas antes.

- E como você está indo nos treinos físicos?

- Bem. A major Lee sempre fala que eu levo muito jeito para lutas e afins. Mas acho que é porque eu sempre fui atleta, então isso não é nada. Mas confesso que tenho mais dificuldade nas aulas teóricas.

- Aulas teóricas são chatas, mas são necessárias. – Falou enquanto bebericava um pouco de seu soju – e você já pensou na proposta que eu te fiz? Você tem tudo para crescer aqui, Jungkook.

O encarei silencioso, depois voltei a fitar o meu copo de Coca-Cola. Desde a nossa última conversa, eu vinha pensando naquilo. Cada um estava dando o seu jeito de sobreviver aqui. Jimin aprendeu a nadar do jeito dele, e agora treinava luta e outras coisas também, e eu... Se continuasse assim, acabaria ficando pra trás e dependente de todos pra sempre. Taehyung, Namjoon e Yoongi eram fortes, e até mesmo Jin e Hoseok tinham as suas forças e influências. Eu me sentia como uma criança no meio de um mundo de adultos e selvagerias, mas eu precisava soltar a mão de Jimin, porque ele próprio já estava seguindo o caminho dele, e eu precisava crescer.

- Eu quero ser forte. – Proferi baixinho. Namjoon ergueu as sobrancelhas pedindo para que eu repetisse. – Eu quero ser forte. – Falei novamente, mas agora em alto e bom som. Namjoon sorriu satisfeito erguendo o copo em minha direção.

- Ai sim! – Terminou de beber todo o conteúdo que ainda restava em seu copo, num gole só.

- Eu pensei bem, e acho que isso será bom.

- Oh, vai sim. Vamos começar a partir de amanhã já.

- Mas já?

- Ué, claro. Em breve vocês calouros terão o teste de sobrevivência na floresta, e você tem que estar preparado para passar com uma nota boa. – Ele me encarava sério – Vamos nos encontrar pelo menos três vezes por semana. Vou te instruir para ir bem nesse teste, não se preocupe.

- E esse teste é tão importante assim?

Namjoon deu um sorriso de canto, parecia que eu havia feito uma pergunta meio idiota, como sempre.

- Se você não passar nele, você morre, é só isso.

Fiquei pasmo ao ouvir aquilo. Morrer? Eles nos mandariam para um teste que custaria as nossas vidas? Aquilo só poderia ser brincadeira. Mas pela expressão na face de Namjoon, ele falava a verdade.

Se aquilo era um teste para calouros, como deveria ser a vida de um soldado de guerra? Como deveria ser uma missão dentro da floresta e missões de invasões? Desde que chegamos aqui, nunca algo do tipo me passou pela cabeça. Eu realmente corria risco de morrer, e ninguém faria nada.

[...] 

Já passava da meia noite quando voltei para o dormitório. Estava tudo muito silencioso, todos já deveriam estar dormindo há muito tempo. Esperava que eu conseguisse ao menos cochilar um pouco. Entrei no meu quarto na ponta dos pés, tomando cuidado para não fazer nenhum barulho e acordar Taehyung. Tirei os meus tênis e os coloquei no chão vagarosamente. Foi então que a luz de um abajur acendeu repentinamente me assustando.

- Jungkook? – Indagou Tae coçando os olhos com os cabelos bagunçados deitado em sua cama.

- Sou eu, pode voltar a dormir.

Sem responder nada, ele se levantou meio sonolento e caminhou bocejando até mim.

- Aonde estava? – Cruzou os braços, como um pai preocupado.

- Fui andar por aí. – Dei de ombros indiferente. Ele franziu o cenho um pouco irritado.

- Jimin ficou preocupado. Saiu correndo atrás de você feito um louco, mas você evaporou.

- Eu fui dar uma volta e agora estou aqui. – Me afastei tirando a minha blusa, largando-a no chão enquanto procurava o meu pijama.

- Vem cá, Kookie. – Me chamou sentando-se em minha cama, dando batidinhas no colchão querendo que me sentasse ao seu lado. – Vamos conversar.

Revirei os olhos, conversar àquela hora? Era a última coisa que eu queria, não foi à toa que fugi.

- Tae...

- Anda logo, Jungkook. – Insistiu. Ainda contrariado acabei por me sentar ao seu lado, meio emburrado. – Você ficou chateado com o que viu? – Foi direto ao ponto.

- Você se refere a eu ter te visto beijando o meu irmão no corredor? – Ele assentiu sem se mostrar abalado com o meu modo de falar – Eu não.

- Tem certeza? E por que saiu correndo daquele jeito então?

Essa era uma boa pergunta. Por que, hein, Jungkook?

- Porque... – tentava formular alguma resposta convincente, mas as palavras me faltavam. A minha mente ainda estava confusa – acho que eu estava no lugar errado, e na hora errada...

Tae abaixou o olhar ficando um pouco cabisbaixo, apoiando os cotovelos sobre os joelhos de modo como quem refletisse. O clima estava tenso, mas ele insistia naquela conversa. Eu só queria alguma janela próxima aberta para eu pular.

- Jungkook, eu gosto muito do seu irmão.

- Eu sei...

- E eu fiz coisas ruins no passado, eu magoei ele e me odeio por isso. E quero me redimir, reconquistar a confiança dele, e que possamos ter uma relação boa de novo. – Fiquei calado ouvindo as suas palavras. Pareciam sinceras. – Quando eu fui para Daegu, achava que nunca mais o veria novamente e já estava conformado com isso. Foram cinco anos ocupando a minha mente com outras coisas, mas... A vida é sempre cheia de surpresas, e vocês vieram parar bem aqui.

- É, a gente nunca esperava ser convocado pra cá.

- Então, Kookie... – ele se voltou para mim e segurou na minha mão – você cuidou do Jimin por todos esses anos em que eu estive longe. E agora eu te tenho como um grande amigo. Não quero passar por cima da sua opinião.

- Como assim? – Por que ele precisava complicar tanto as coisas?

- Quero saber se está tudo bem para você.

- O que você quer que eu responda? – Ri sem humor deixando os ombros caírem em derrota – não vou me opor nem me intrometer na relação de vocês. Façam o que vocês quiserem. – A minha frase saiu meio ríspida então tentei me corrigir – sabe, eu amo o meu irmão, e você é meu amigo. Quero vê-los felizes.

- Ah, Jungkook! – Tae me agarrou num abraço apertado quase esmagado os meus ossos. Sua felicidade parecia me perfurar – eu sabia que podia contar com você. – Me deu um beijo na bochecha me fazendo rir de seu modo exagerado.

- Tá bom, me larga.

- Não! Você é tão fofinho agindo como adulto compreensivo! – Continuava me apertando fazendo uma voz fofa. – Obrigado. – E após molhar a minha outra bochecha com um beijo, finalmente me largou e voltou saltitante para a cama. – Boa noite, Kookie.

- Boa noite, TaeTae.

Fui me deitar na esperança de dormir um pouco, já que tínhamos terminado o assunto. Mas nada. Não preguei os olhos de jeito nenhum. Tentei contar de 1 até 100, contar carneirinhos, pensar em histórias, qualquer coisa. Mas aquele maldito beijo ficava na minha mente. Jimin e Taehyung se beijando... Bem na minha frente. Mas por que isso me incomodava tanto? Não era a primeira vez que via nada do tipo, era só uma droga de beijo entre duas pessoas que se gostavam, não era?

Mas eu não estava bem. Nada estava bem. Mas eu queria que estivesse.

Me levantei da cama e resolvi ir até a cantina no dormitório pegar água.

Por que eu falei que estava tudo bem para o Taehyung? Não estava. Mas também não queria ser um cuzão, e ser o filho da puta que ficaria atrapalhando a vida dos outros. Ele não tinha nem que me pedir nada, quem eu era na fila do kimchi para permitir algo na relação deles?

Bebia calmamente a minha garrafinha de água, pensando, pensando... mas aquele beijo não saia da minha mente. Apertei a garrafa com força descontando a fúria que percorria em meu corpo. Eu estava sufocado, e ninguém, nem eu, iria me entender naquele momento.

- Jungkook?

Aquela voz...

Aquela voz, com aquele bendito cheiro...

Me virei para trás, já sabendo o que me esperava. A luz na cantina era fraca, mas era o suficiente para ver o seu rosto abatido, os olhos inchados de chorar, o cabelo bagunçado, e o pijama amarrotado. Estremeci dos pés a cabeça. E meu coração se apertou imediatamente numa dor descomunal.

- Jungkook... – Jimin se aproximou a passos lentos enquanto eu permanecia quieto onde estava. – Você está bem? – Sua voz era fraquinha, assim como todo o seu aspecto. Tão sofrido. – Eu fiquei preocupado. – Sua voz embargou ao final da frase e imediatamente as lágrimas em seu rosto começaram a brotar.

- Hyung...

- Desculpa. – Ele as enxugava com as mãos, parecia uma criança envergonhada – Eu fiquei preocupado, corri atrás de você pelo dormitório todo. Mas você sumiu e nem deu notícias. Fiquei com medo que você tivesse feito alguma besteira por minha causa.

- Não, eu só saí para andar um pouco.

- Ah... – ele riu um pouco aliviado, mas eu sentia a dor no seu olhar. E eu só conseguia me sentir um grande imbecil. Corri e o puxei para um abraço, o apertando forte. Seu corpo tremia entrelaçado ao meu. Eu era um idiota completo por causar aquele sofrimento nele. – Me desculpa.

- Você não tem que se desculpar por nada. – Respondi acariciando os seus cabelos – você não fez nada de errado.

- Não. – Ele se afastou agarrando a minha camiseta com as mãos, inclinando o rosto para cima para me encarar – Aquilo não foi certo. Eu não tenho esse tipo de relação com o Taehyung. Eu só estava com a guarda baixa e me sentindo culpado.

- Você não tem que me explicar nada, hyung.

- Eu tenho sim! – Elevou um pouco a voz em meio ao desespero de me dar uma justificativa.

- Não tem! – Insisti no mesmo tom.

Ele se calou me largando, e se afastando. Apertou os punhos contrariado.

- Por que você sempre se faz de indiferente? Por que você não liga? Por que você não fala que eu sou um idiota?

- Porque você não é.

- Você não sente nada?

- O que você quer? Que eu faça um escândalo como um louco ciumento? Você é o meu irmão, e pode namorar com quem quiser. Você é um ômega, e não uma donzela que precisa da permissão do pai para casar.

Jimin mordeu os lábios irritado, e avançou em mim, de forma agressiva, me fazendo encará-lo novamente.

- Olha nos meus olhos e diz que você não sentiu nada quando a gente se beijou! – Pressionei os lábios, não conseguia fugir daquele olhar tão incisivo e penetrante. Era difícil. – Fala que você não quis me beijar, fala!

- Jimin, para...

Ele segurou o meu rosto, aproximando o seu. O cheiro de mirtilo penetrava nas minhas narinas, e meu corpo se esquentava. Tinha medo do que eu poderia fazer, e tinha medo de me arrepender depois.

- Por favor, fala... – sua voz se encerrou quando roçou os seus lábios nos meus com leveza. E meu corpo parecia que ia perder o controle. Era tão tentador. Eu o tinha ali em meus braços, ele estava se dispondo, e eu... eu queria. Eu o queria.

- Jimin...

O meu lobo interior falou mais alto, tomando controle do meu ser. Finalmente selei as nossas bocas e o agarrei, colando o seu corpo ainda mais contra o meu. Nosso beijo era afoito, e apressado. Minhas mãos apertaram com força a sua cintura, tão fina, que ficariam as marcas dos meus dedos. Me deleitava em seus beijos, os lábios gordinhos e macios, ele sabia o que queria, e como queria, puxava o meu cabelo me forçando a inclinar a cabeça para intensificar o beijo, e eu lhe apertava, tocava de várias maneiras. Jimin sempre foi a minha perdição. Sem a minha racionalidade no controle, o joguei contra a parede, e o agarrei novamente pressionando o meu corpo contra o seu. Levei a minha boca até a sua orelha, a mordendo com desejo, enquanto ele gemia. Como eu amava aquele som.

- Jungkook. – Ele gemia sentindo a minha boca chupar a pele do seu pescoço. Não conseguia parar. Eu não ia parar. O gosto de Jimin era coisa de outro planeta.

- Eu já disse que não vou ficar indo atrás de ninguém.

Uma voz estranha ecoou vindo do corredor, e imediatamente nos separamos do beijo. Nos entreolhamos assustados. Eu xingava mil palavrões em minha mente.

Puta que pariu, quanto azar!

 Imediatamente segurei na minha mão de Jimin e o puxei, o arrastando para debaixo de uma mesa da cantina para nos escondermos. Tampei a sua boca para que não emitisse nenhum ruído que denunciasse a nossa presença ali. Ouvimos os barulhos das passadas que se aproximavam e entravam na cantina.

- Pare de ficar irritado com isso, só siga as ordens. – Uma outra voz falou. Pareciam ser dois alfas. Só conseguia ver os seus coturnos pretos perto da máquina de bebidas. – Sempre foi assim.

- Sempre não. Suga inventa as maracutaias dele, e quer que a gente que faça tudo. O que tem de tão especial naquele ômega?

- Eu não faço ideia.

- Palhaçada. Eu não tenho saco pra isso.

- É melhor você tomar cuidado com o que fala, as paredes tem ouvidos.

- Que se foda. Se o Suga quiser, que mande o cachorro dele fazer essas coisas.

- Você prefere voltar pra casa sem uma perna ou um braço?

Por um instante o silêncio prevaleceu no local.

- Eu não sei como aquele fedelho do Kim aguenta servir aquele cara...

- Acho que ele é tão fodido quanto a gente.

- Deve ser pior. Aqueles dois são estranhos, Namjoon é o único normal ali.

- Não vou discordar. – Os dois riram e então o assunto terminou.

 

Ficamos ali escondidos até que não houvesse mais ninguém na cantina. 


Notas Finais


Podem ameaçar a enfiar a faca no meu bucho, mas tudo tem a sua hora. NHANAHSNAHAKSNAHSK.
Preciso dizer que gostei muito de escrever esse capítulo, principalmente a parte de Yoonseok que já tava demorando pra sair. hohoho.
E ai, fica o questionamento no ar: Tem alguém sendo cuzão nessa história? Hoseok vai conseguir alguma coisa com o Yoongi? Tae vai ficar com o caminho livre pro Jimin? Jungkook tá no estado normal dele? De quem aquelas duas pessoas estavam falando? |:

Eu tava pensando aqui, será que eu preciso explicar como funciona as patentes pra vocês? Nem sei se vocês tem curiosidades, mas pra vocês terem noção, Yoongi nem é isso tudo pra poder mandar desse jeito. Tem gente muito mais poderosa lá dentro, então, algo de errado não está certo ai.

Pra quem ainda não viu o último desenho que fiz de Jikook: https://twitter.com/chappy_suey/status/887061537453740033

É isso. Bjs, desculpem qualquer erro que tenha passado. E obrigada pelos favoritos e pelos comentários >_<


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