História Bonecos de gelo - ;único:

Bonecos de gelo 

Coloque a mão no meu cabelo e sinta as batidas aceleradas dos meus pensamentos fixos em você. 

E você ficou ali, parado, com a arma de fogo em mãos, vendando-se e imaginando meu coração como uma pinhata, atirando sem parar. Foi de propósito? 

Tu surgiste em minha vida tão de repente que confesso ter-me assustado. Sorrindo brilhante, guiando meus passos, tapando buracos e cantando versos enigmáticos. Dessa forma, fora difícil não gostar de ti. 

Nunca fui uma pessoa de abraços, pois não tinha a quem abraçar, nunca tive, mesmo quando pequeno. No orfanato não tinha amor; talvez, apenas talvez seja por isso que jamais lhe disse um “eu te amo”, ou dei-te afagos exagerados e juras que se partiriam com o tempo. Me perdoe por não saber amar.  

Eu não sei se algum dia já lhe contei, mas eu abraçava bonecos. Sim, daqueles inanimados e superficiais demais, desejando uma pessoa ali, no lugar daquele “corpo” demasiadamente frio e plastificado. Eu queria calor, mas nunca obtive nenhum. Talvez fosse esta a razão de eu ter-me embolorado nesta calmaria e quentura que você exalava. 

Tinha eu um jardim de pedras, já soube? Pois se não, digo-lhe agora que fostes a primeira flor a aparecer por lá. Infelizmente, eu não sabia cuidar de uma flor. 

Mas eu sempre quis ser uma estrela, uma estrela de flores. Oh, imagine! Que lindo seria, não é? 

Contudo, houve um dia em que tudo mudou, e, de bonitos, meus pensamentos passaram para algo como “nossa falta de assunto seria nossa clara representação de afastamento?”, “estaríamos melhor estando cada um em sua própria galáxia?”, e as respostas não chegavam. E as dúvidas viravam água e noites de sono perdidas. 

Porém, um dia, tudo desabou. 

Você se lembra, não é? Foi quando eu finalmente te disse um “eu te amo”, e abracei teu corpo logo depois.  

E havia algo errado ali.  

Não era um cheiro desconhecido, não era um chupão nem nada do gênero; você estava frio como os meus bonecos. 

e até hoje me pergunto se fui eu quem te congelou.