História Borderline - Capítulo Único

Respire, respire, respire. Engulo todos os meus comprimidos e entorpeço minha alma. Porque só será aceitável se meu eu estiver contido, dopado e sob controle. Quem é você se não uma doença? Fragmento de personalidade transtornada.

Despejo todas as palavras sobre a mesa, amargas. Posso ver a pele nua de minhas coxas pelo vidro, o que eu sou? Até onde esses pensamentos são meus? Grito implorando por resposta a mim mesma por não saber até onde dentro de mim sou eu.
Perco-me em uma imensidão de pensamentos sem sentido, procuro por mim mesma mais uma vez, até onde? Até onde esses pensamentos são meus? Sou alguém e não sou ninguém. Sou Borderline.

Engula tudo isso e passe por cima, enterre. Todo o desamor pelo mundo e o sentimento de vazio, eles podem existir apenas na minha cabeça? Porque ninguém mais acredita que eles possam ser reais para mim. Engula o choro, não chore, chore, chore, ou será fraca, fraca, fraca.

Por que essas vozes rodam por minha cabeça? Eu sou normal ou não? Isso é um castigo? Por favor não se afaste não quero ficar sozinha, vá embora e me deixe sozinha! Eu preciso de alguém, talvez seja melhor eu não ter ninguém, pessoas machucam. Vá e fique.

Dance comigo esse ciclo sem fim, vamos rodar eternamente e ser melhores amigos nessa montanha russa emocional, eu sou normal posso viver como qualquer outra pessoa, pelo amor me de Deus me deixe morrer não aguento mais viver, sou doente, sou inútil. Eu amo você, eu te odeio saia daqui seu porco nojento. Amizade verdadeira, vadia nojenta.

Minha cabeça vai explodir não aguento mais, sento-me no chão e grito “Pode vir com tudo!” e mais uma vez essa maldita crise vem, tão viscosa que posso senti-la com os dedos. Shiiiiu, eles querem te dizer algo. Por que coisas tão pequenas causam reações tão grandes? Continuo a engolir elefantes.

Pare! Nem mesmo toda a maquiagem vai esconder, em seu rosto está estampado o quanto você está se afundando em todo esse oceano emocional de sua mente, nem toda a base do mundo esconderá suas cicatrizes, quantos anos de automutilação foram mesmo? Seis? Acha que te entendem? Agressiva, mal educada, rebelde sem causa, mimada, louca, depressiva, fresca, você sempre estará presa na eterna condição de vítima é tudo para chamar atenção.

Quem eu sou? Não me sinto alguém inteira. Até onde sou eu, até onde é ela? Podemos viver as duas no mesmo corpo? Tem alguém dentro de mim eu posso sentir.

Recolho as palavras amargas que joguei sobre a mesa, olho mais uma vez para a pele nua de minhas coxas através do vidro. Até onde sou eu? Ela.