História Borderline - Da linha

  Após a visita de Duda, Vanessa então se preparou para lavar a louça, ela parou de frente para a pia, pegou um dos pratos e passou levemente a esponja encharcada de água e sabão, repetiu o processo com o segundo prato e logo com os copos. Ela lavava rapidamente, mas enquanto isso pensava bastante.
Vanessa continuou lavando, terminou os pratos, os copos, as colheres e os garfos, por fim chegou numa faca, ao lavar a única faca suja, ela brevemente parou, olhou bastante para a parte cortante daquela faca, o olhar de Vanessa tornava-se em angústia, uma leve dor aguda surgia em seu coração e em seus braços.
A água caia freneticamente pelo buraco da pia, e assim como não se sabia o lugar exato pra onde toda aquela água iria, também não se sabia com exatidão o que se passava na mente de Vanessa naquele momento, apenas que ela se lembrou de algo que já fez.


Vanessa - Não, eu não sou mais assim — Falou pra si mesma.


Vanessa então terminou de lavar a faca, fechou a torneira e secou suas mãos, mãos bonitas com marcas de trabalho duro, uma prova de que foi uma pessoa que trabalhou muito. Após secar suas mãos ela respirou fundo e então saiu da cozinha, foi em direção a seu quarto e logo começou a se arrumar.




Enquanto isso, em um apartamento perto do de Vanessa, estava Duda já arrumada, vestia roupas extravagantes, o oposto de Vanessa que era mais simples. Tendo se vestido, Duda logo saiu de seu apartamento, ia em direção ao estacionamento do prédio esperar sua amiga.
Vanessa por outro lado estava ainda terminando de se vestir, em poucos minutos colocou uma roupa simples, mas muito bonita, se maquiou e arrumou seu cabelo. Terminando ela logo saiu em direção ao estacionamento e assim se encontrou com Duda.


Duda - Demorou, mas ta linda— Reclamava ela.
Vanessa - Obrigada, você também, mas acho que você devia ir com calma, vai acabar roubando corações desse jeito.
Duda - Deixa disso.


Vanessa e Duda foram em direção a um carro estacionado perto, Vanessa era a motorista.


Duda - Estudos indicam que a cada 10 Vanessas que são motoristas, 11 batem o carro — Brincou Duda.
Vanessa - Vai a merda, coloca o cinto.
Duda - Um cinto e um medo, que deus me guarde.


Vanessa então começava a dirigir, ia em direção ao aeroporto, enquanto isso Duda conversava com Vanessa de forma descontraída.
Chegando no aeroporto, Vanessa estacionou seu carro e desceu junto com Duda, ambas foram em direção a área de desembarque, pareciam esperar por alguém.


Duda - Finalmente eles estão voltando.
Vanessa - Sim, finalmente — Respondeu ansiosa.
Duda - Acha que valeu a pena ter ficado? — Perguntou Duda um pouco reciosa.


Vanessa brevemente ficou calada, apenas se ouvia as dezenas, ou centenas de vozes que ecoavam por todo o aeroporto junto de vários sons de maquinas e dos aviões decolando e pousando por toda a pista.
Vanessa lembrava de diversos momentos, mas um que não saia de sua mente era sobre esta mesma manhã, momentos em que ela poderia ter feito coisas que não a levariam mais até aquele lugar. Lembrou-se de quando lavou a louça, e em vez de fazer o que sempre fazia com a faca, ela simplesmente se controlou e a lavou. Vanessa pensava no quanto se esforçou por tanto tempo e no que já superou e evitou.


Vanessa - A pouco tempo atrás eu já não mais vivia, eu trabalhava, eu comia, eu dormia e chorava — tomou uma pausa para respirar. - E.. Eu já não mais vivia, apenas existia, já não sorria mais, não sonhava mais, não queria mais.
Vanessa - Mas depois que conheci ele e tudo aquilo aconteceu, eu fui mudando, pouco a pouco — Continuou. - As vezes ainda sinto um vazio, ainda sinto que nada foi real e que todos vão me deixar, mas também, eu agora sinto que deixei de apenas existir, e que agora eu estou engatinhando pra voltar a viver, não que eu esteja me segurando nele e em tudo que aconteceu, mas sim que graças a aquilo tudo, eu pude desejar viver e tentar por mim mesma.
Duda - Vanessa... eu vou chorar — Disse Duda.
Vanessa - Se não fosse por todos vocês, eu continuaria apenas existindo, e no ponto que eu estava, eu já teria desistido de existir, então eu quero te agradecer por tudo, obrigado por essa ótima manhã e por todo o esforço que fez por mim, graças a tudo isso eu pude ver que não vale a pena desistir sem antes ver o final das coisas.



Junto as palavras de Vanessa, o portão de desembarque se abria, um feixe de luz brevemente passava por Vanessa, logo os passageiros começavam a aparecer, mas dois em especial se destacavam na visão de Vanessa. Uma criança acompanhando um homem, os mesmos que estavam no foto que havia na casa de Vanessa.



- Mamãe!!! — Gritou a criança ao ver Vanessa.
Vanessa - Meu filho!!


Vanessa olhou para Duda que logo balançou sua cabeça, seus olhos estavam repletos de lágrimas. Vanessa não precisou ouvir uma resposta sobre o que ela havia dito, apenas os olhos de Duda já diziam tudo, então ela tornou a olhar para a criança e assim correu em direção a ela, e assim se abraçaram, foi um abraço tão apertado que cada um podia sentir as batidas do coração um do outro, estes que batiam forte e rapidamente em sinal do nervosismo e felicidade de cada um.
O homem que veio com a criança logo se aproximou, e Vanessa que agora segurava a criança no colo, logo beijou o tal, e enfim com um enorme e lindo sorriso, disse algo para o mesmo.


Vanessa - Bem vindo de volta, amor, senti saudades dos dois.