História Born to Die - Eu estou apaixonado por você

Venha e dê uma volta no lado selvagem
Deixe-me te beijar intensamente na chuva
Você gosta das suas garotas insanas - Born to Die

Point of View — Scott 

Ouço um choro baixinho. O tal som fino me desperta, fazendo com que abra os olhos e me sente na cama. Minha visão me assusta, mas não tanto. Allison estava sentada ao pé da cama, com o lençol prateado envolvendo seu corpo branquelo. Seus cabelos estão ondulados e soltos, eu adorava quando ficava assim. Ela estava com os joelhos próximo ao rosto, apoiando o queixo em um deles. Seu rosto está avermelhado, mas puro. Sem nenhum indício de maquiagem. Mas vê-la chorar me partiu o coração. Me aproximo da garota, parando em sua frente. Vejo parte do seu seio,  consigo me lembrar da noite anterior e o quanto eu achava ela linda, e o tempo que eu fiquei observando-a dormir.

— Ei... — Sussurro calmamente. Ela levanta o rosto, me encarando de volta. — O que aconteceu? Eu fiz algo de errado?

— Não, Scott. Você não fez nada, eu é quem faço.

— Como assim? Me explica.

— Está na cara que eu fico fazendo aquelas brincadeirinhas com você e com o Isaac. Não posso machucá-lo assim. — Se explica. — Eu... Também não posso me ferir.

— Eu nunca...

— Eu gosto de você, Scott. Toda vez que transávamos, eu dava a entender que era algo casual, que eu fazia com qualquer um. Mas embora eu já tenha feito isso antes com outros dois caras, nenhum foi especial como você foi. Você me apoia em tudo, e é um cara legal. Mas eu não posso me iludir e me doar para alguém que eu não tenho certeza que vai cuidar de mim. 

Suas palavras foram lentas e eu não conseguia processá-las direito. Ela dizia muito rápido, e as frases sempre acompanhavam um soluço. Allison volta a olhar para os próprios pés, com vergonha do que tinha dito. A garota brincalhona, elegante e forte, estava destruída como papel. Talvez com algo que tenha acontecido antes, ou a cisma dela com a Lydia. Mas rapidamente reajo, botando um sorriso no rosto e levantando o seu queixo para me olhar.

— Droga, você é tão linda. — Digo calmamente. — Eu estou apaixonado por você. Desde que nós nos conhecemos. Demorou para ficarmos próximos, mas eu te amei a cada instante. Eu e Lydia não somos próximos, realmente. Mas eu estou fazendo isso por você. Estou embarcando em algo que eu não sei até onde vai, pois não deixaria você nunca. E sim, me magoava suas brincadeiras com o Isaac, até porque ele é britânico, e você também, e britânicos são sexys. — Allison abre um sorriso. — Mas eu confio em você para ser só minha, e ele é meu amigo, mora comigo. Não tem porque eu ficar assombrado com isso. Por isso só peço que confie em mim quando digo que te amo, Allison Argent.

— Mesmo? — Sua voz se torna tão meiga, que eu tenho vontade de mordê-la.

— Mesmo.

— Então o que teremos aqui?

— Bem, agora a gente pode entrar naquele chuveiro, e você pode me chamar de namorado, e eu posso chamá-la de namorada. — Sussurro contra sua boca, vendo-a estremecer e abrir um lindo sorriso de covinhas. — O que você acha? — Encho-a de selinhos.

— Acho ótimo, mas ainda estamos a procura da minha prima.

— Ok então, madame. Eu aceito só uma rapidinha.

— Isso eu posso te dar.

Ela ri e isso iluminou meu mundo por inteiro.

[...]

— Stiles? Onde você está?

— Academia. Estou treinando, e Charles disse que se você demorar mais de dez minutos para estar aqui, ele vai te forçar a fazer cem flexões. 

— Eu estou virando a esquina.

— Droga, queria ver você suando que nem um porco de novo. 

Gargalho e desligo a chamada. Entro dentro da academia, mostrando o cartão para a recepcionista mau-humorada-apaixonada-pelo-Stiles. Vou até a área de lutas, encontrando Stiles e um homem dez vezes maior que ele. E como previsto, Stiles deu uma surra no cara. Charles parou a briga, tirando o homem de dentro do ringue. O magrelo começa a pular com efeito da adrenalina.

Não que seja natural.

Stiles tem Transtorno de Estresse Pós-Traumático. A doença faz com que ele lembre do trauma em muitas coisas do seu cotidiano. E na hora em que ele extravasa a raiva, ele lembra da dor sentida no dia em que sua irmã morreu. E mesmo todos, literalmente todos, dizendo que não foi por sua culpa, ele não acredita.

 Com isso, ele visita o psiquiatra duas vezes no mês. E no último mês, o seu médico recomendou um novo remédio para que ele possa se controlar. Se ele não toma, fica desanimado, vazio, muito indiferente, irracional, e suando frio, além de que as memórias voltam muito e ele entra em estado de pânico. 

Me lembro bem do que aconteceu naquele dia. 

Flashback ON — Narrador
Ohio, NY.

— Mãe? Eu estou indo para a casa do Stiles.

— Filho... — A mulher ajoelha em frente ao garoto de dez anos, dizendo com a voz doce. — Stiles sofreu um acidente.

— O que? — Ele grita, assustado. — Aonde?

— Naquele lago dos cisneis, na rua Horach...

O moreno saiu correndo pela porta. Era muito esperto e conhecia o lugar onde morava como ninguém. Pegou a bicicleta e pedalou pelo atalho que conhecia. Melissa saiu da casa desesperada. Não tinha carro e não podia sair correndo atrás do garoto. Então pediu um táxi, mas quando ele chegou, Scott já estava longe. 

O menino chegou no local. O lago, que aos olhos dele era um grande oceano, estava com uma agitação fora do normal. O lugar era fundo, mas cheio de pedras, apenas com descuido você poderia se machucar ali. A família de ambas as crianças sempre foram nadar lá, ficando na margem. Scott passou por policiais, ambulancia carros de bombeiros, localizando o melhor amigo de dez anos sendo retirado da água, e toda a família dele. Eles eram do tipo bem povão, onde um estava, eles estavam também. Tia Cláudia e Tio Adam choravam, e ele só pôde correr até a maca onde Stiles estava. Ele estava pálido, encharcado e com os olhos fechados.

— Sti! — Scott gritou. Ele correu até ele, sentando-se por cima da maca, abraçando o corpo molhado. Um dos bombeiros tentou tirá-lo, mas Cláudia o impediu. — Acorda, Stiles! Quem irá ver X-Men de manhã comigo? Você precisa acordar. Não pode ter morrido, não como o papai.

Scott estava desesperado. Chorava, gritava em agonia. Segurou com uma mão a mão do melhor amigo, com o intuito de esquentá-lo. A imagem fez Claudia chorar no pescoço do marido, e sofrer baixo. Com a outra mão, Scott batia no peito do seu amigo,  e quando viu, Stiles começou a vomitar água, bastante água. Scott o abraçou, tirando o casaco que prendia seu corpo e colocando por cima dele. O frio de Ohio era intenso, mas ele não ligava.

— Onde... Onde está Chloe?

Stiles sussurrava. A sua mãe ficou incrédula quando o viu acordar, abraçando-o. Foi quando Adam interferiu.

— Você é inutil, Stiles! Não sei como pode ter meu sobrenome. Você trouxe sua irmãzinha para cá, seu insolente.

O homem bateu com a mão na cabeça do menininho, fazendo as bochechas gordinhas e branquelas se encherem de lágrimas. Cláudia virou para o ruivo, gritando com ele.

— Eu não sei onde minha filha está, mas eu a encontrarei. Mas o que eu não quero encontrar é suas coisas na minha casa. Suma daqui.

Esse foi o pior dia da vida do Stiles. 

Flashback OFF

Corro até o ringue, segurando os pulsos de Stiles. Ele estava suado e descompensado.

— Tomou seu remédio hoje?

— Scott...

— TOMOU? — Berro com ele, atraindo atenções. 

Stiles deixa o ringue. Eu o sigo e vamos até o vestiário.

— Preciso tomar dois ao dia, e eu tomei só um. Por isso ao mesmo tempo que estou com essa adrenalina toda, estou descontrolado.

— Fodas. 

— Como?

— Fodas, Stiles. Posso não ter sofrido como você naquele dia, mas eu estive lá e doeu ver você sofrendo. Adorava Chloe também e perdê-la me deixou arrasado. Mas eu superei e entendo que você não possa, mas não me faça sofrer de novo perdendo você. 

Stiles fica calado. Respiro fundo por ter desabafado. 

— Desculpe.

Ele sussurra. Me sento ao seu lado, abraçando-o pelo ombro.

— Somos amigos a mais de quinze anos, cara. Nossos pais foram melhores amigos. Você viu meu pai morrer, eu vi seu pai sair de casa. Nós sofremos juntos e eu estou aqui por você.

— Eu sei, eu... Apenas fico relembrando, e não quero ser um fardo para ninguém. Você sabe como sou, e nunca pediria isso para ninguém, mas não me deixe. Posso viver sem qualquer outra pessoa, mas você é meu irmão e eu não aguentaria. — Suas palavras fazem uma lágrima escorrer pelos meus olhos. Ele também chora, o que é raro. Passamos por tanta coisa, que saber que um está sofrendo, machuca o outro.

— Sempre seremos parceiros. Você é meu irmão e eu não o deixaria.

Stiles sorri, balançando a cabeça e pegando uma garrafinha. Ele toma outra pílula do remédio.

— Ei, tenho novidades.

— Diz aí.

— Eu e Allison estamos namorando.

— Ah, qual é! Quem vai ser meu parceiro na hora de dar em cima das garotas?

— Só você faz isso. Nunca vi ninguém mais malicioso. — Rebato. — Mas acho que Lydia não gostaria se você ficasse com outra.

— Eu e Lydia não temos nada. 

— Eu sei que ela te magoou, mas acho que ela não falaria aquilo por nada. Cara, ela faz você ser outra pessoa, e eu me orgulho. Então não a deixe escapar.

Levanto a cabeça e vejo Allison parada, ela sorri para mim. Está com um vestido branco com listas vermelhas e botas marrons. 

— Está pronto?

A garota diz, me fazendo levantar e acenar para o garoto. Pego na mão da morena, falando uma última vez a Stiles.

— Pense nisso.