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História Boss - Olhos tempestuosos


Escrita por: AllyMannEvans

Notas do Autor


Ooie! Tudo bom? Voltei rápido, huh? Vim aqui, com o destino de Hermione em mãos para falar que: EU AMEI ESCREVER ESSE CAP. Talvez tenha sido até mesmo o que eu mais gostei de escrever.

* Quero agradecer pelos comentários do capítulo passado, todos que elogiaram o meu trabalho e me inspiraram a continuar. Amo vocês s2

* Quero falar também que, capítulo que vem terá uma surpresa muuuuito legal para vocês. Coloquem nos comentários o que vocês acham que pode ser! Quero ver se vocês estão atentos.

* Bem, sim: o Rony foi um imbecil, tô pensando até agora como que eu vou fazer o reencontro dele com a Herms, porque vai ser punk.

* Vou deixá-los ler. Cometem, favoritem (CHEGAMOS À MAIS DE 100, UHUUUUU), divulguem pros amiguinho. Bora para a fic! Beijo!

Capítulo 11 - Olhos tempestuosos


    No meu sexto ano, entrei em um duelo bem sério com Harry Potter. Ele, que sempre fora melhor do que eu nesse quesito, ganhou em poucos minutos com um feitiço até então desconhecido para mim: Sectumsempra. Lembro-me direitinho de pensar “que diabos…?” antes da maldição me atingir, porque pensava que nossa briga era apenas com feitiços comuns, como Estupefaça ou Levicorpus. Até que aquilo me atingiu.

    Até hoje não sou capaz de descrever o que sentimos quando somos atingidos por isso. É um misto de dor e fraqueza com muita vontade de morrer somente para que a dor pare. Seria mais simples falar que é como se uma espada invisível me cortasse infinitamente, mas vai muito além disso.

    Eu caí no chão, ardendo em dor, sem nem mesmo conseguir falar sem gorgolejar sangue. Minha roupa tinha rasgos enormes e eu tentava em vão estancar o sangue do estômago com as mãos que também sangravam. Meu rosto estava vermelho e Harry Potter me encarava com o rosto mais amedrontado do mundo.

    Eu queria morrer. E sabia que iria, se Snape não tivesse aparecido.

    Ele manteve a calma o tempo inteiro, passando sua varinha por todos os meus machucados, e repetiu três vezes o encantamento que não esqueço até hoje: Vulnera Sanentur. Mais tarde, ele me explicou que a primeira vez pronunciada era para diminuir o fluxo sanguíneo, a segunda para limpar resíduos e curar feridas, e a terceira para fechá-las por completo. Após isso, ele me entregou um frasco com essência de ditamno para que pudesse fechar as feridas e ficar sem cicatrizes horrendas como a do Potter.

    Sei que não faz sentido, mas sempre andei com um frasco de essência desde então, até me mudar para Londres novamente. O último frasco que eu tinha, ficou no meu apartamento francês, e foi para lá que aparatei com Hermione Granger, minha chefe.

    Pessoas normais aparatariam com uma moça bonita para sua casa para ter uma boa noite de sexo, mas esse não é bem o meu caso. Quando chegamos no chão da minha sala, muito suja e desarrumada por sinal, Granger está no mesmo estado que eu no meu sexto ano, só que pior.

    Eu deveria ter pensado nisso, mas fui tomado pela raiva: Hermione aparatou comigo inconsciente, com rasgos no corpo inteiro, provavelmente engolindo sangue, sem saber para onde ia. Além do Sectumsempra, consegui arranjar para ela um estrunchamento muito bonito (para médicos como eu) no braço dela, porém com um adicional de dor potencialmente maior do que antes.

    Ela não está mais desacordada: pelo contrário. Berra de dor pelos cortes e pelo braço estrunchado, se engasgando com o próprio sangue e piorando ainda mais sua situação. Meu coração acelera, mas essa era hora de colocar meus anos de medi-bruxaria em ação.

    - Hermione, eu sei como é. - eu digo apressado, me levantando e indo até o meu armário de poções (que comecei a colecionar depois de saber como são eficazes para curar corpos) - Mas preciso que aguente firme, eu só preciso… - grito, entrando no armário - De ditamno. Ditamno, ditamno… Não, isso é asfódelo, bezoar… Ditamno! - acho o pequeno frasco verde e corro de volta para a garota, que já está perdendo a consciência novamente - Hermione, preciso que se mantenha acordada, pelo menos até que eu termine. - digo - Faça isso por mim, okay?

    Ela continua berrando, um pouco mais baixo que antes, perdendo as forças, mas sei que está lutando para se manter acordada. Saco minha varinha, com as mãos trêmulas, olhando seu vestido (que ficara em parte na festa por causa da aparatação, junto com partes da carne dela) e os diversos rasgos, calculando por onde devo passar a varinha. Certo, vamos lá.

    - Vulnera Sanentur… - digo calmamente, enquanto noto que o sangue vai voltando aos poucos para o machucado e parando de fluir, um pouco mais devagar do que quando fora comigo, muito provavelmente porque comigo havia água aos montes no chão, que ajudava a estancar de certa forma os machucados e retirar um pouco a gravidade - Vulnera Sanentur… - repito, e vejo um corte da mão dela se curando aos poucos, e assumo que isso está acontecendo no corpo inteiro enquanto passo a varinha por toda extensão - Vulnera Sanentur…

    Os cortes de fecham, menos o estrunchamento. Hermione ainda chora pela dor, mas parara de gritar. Ela tem sangue seco em suas mãos e cabelos, mas no geral somente há o braço para curar ainda. Pego a essência de ditamno, pingando três gotas em seu machucado do braço, e a vejo grunhir em dor, mas sem reclamar em momento algum. Passo o ditamno pelos resto dos rasgos no vestido, onde eu sei que há cortes, e espero que esteja funcionando.

    Nunca fico tão nervoso ao socorrer alguém, mas Granger conseguiu. Olho para ela, que aparentemente não sente mais dor, mas ela não me olha de volta. Está de olhos fechados, respirando calmamente agora, à beira do sono. Sorrio de leve, mais calmo também.

    - Pode dormir agora… - eu falo, e ela assente, não abrindo os olhos.

    - Para onde você me trouxe com sua brilhante ideia de aparatar? - ela murmura ainda sem me olhar, parecendo ter um grande esforço até mesmo para proferir as palavras.

    - Para minha casa na França. Luna está tendo um encontro com… Blaise…

    Ela dormiu antes mesmo que eu pudesse responder. Sorrio para ela, encarando os machucados e sentindo minha preocupação se esvair aos poucos. Ela aguentou muito. Olho para seu braço esquerdo, e uma cicatriz agora não tão notória, mas ainda assim legível, está lá. Tenho raiva, porque sei que essa cicatriz não sai com ditamno, mas sei que poderia tê-la impedido: foi o resultado da tortura que minha tia fez nela na minha frente, e eu não reagi.

    De repente noto que Hermione já passou por tudo quanto é tipo de coisa, mas nunca fraquejou por isso, nunca desistiu. Pedra filosofal no primeiro ano, basilisco no segundo, lobisomem no terceiro, sereianos no quarto, ministério no quinto, ataque à Hogwarts no sexto, guerra no sétimo: onde ela foi torturada, capturada, perseguida. Hoje, quase morreu com um Sectumsempra e um estrunchamento, mas nunca baixou a cabeça e resolveu parar de lutar pela vida.

    A garota mais forte que conheço. Tê-la por perto parece muito para alguém como eu.

    Sei que ela vai me matar quando acordar e perceber as coisas, mas minha profissão me ensina a levar tudo estritamente pelo lado profissional: Hermione está suja de sangue, com rasgos pelo vestido cavado, no inverno cheio de neve da França, numa casa até então sem aquecedor, com a saúde por um fio. Não posso me arriscar com uma hipotermia.

    Penso no que posso fazer para manter a integridade dela enquanto procuro roupas quentes para ela usar. Até que percebo que, na verdade, eu havia me mudado para Londres novamente e que não tenho roupa alguma nos meus armários. Respiro fundo, pegando o celular (que por sorte, eu havia deixado no bolso da calça durante a festa) e discando o número de Luna.

    - Draco, algum problema? É a bebida? - ela pergunta nervosa, mas com uma voz sonolenta, por isso não posso deixar de dar um sorriso.

    - Blaise ainda está aí? - pergunto, olhando a hora e percebendo que são duas da manhã.

    - Não, eu disse que só íamos jantar. Tenho que trabalhar amanhã. A ligação tá falhada, você está mesmo na França?

    - Olha, aconteceu umas coisas na festa, o Weasley arranjou confusão e Hermione acabou ferida. Aparatei com ela para cá, só que não tenho roupas nem para mim e nem para ela. Não existe a possibilidade de você vir para cá e trazer algumas roupas? E eu preciso de alguém que dê banho, acho que ela não vai gostar se for…

- Onde você mora?

- Sabe o restaurante Ma chérie, perto do…

- Chego aí em dez minutos, me encontre lá.

 

***

 

O restaurante é na frente do meu apartamento, e Luna na verdade chegou em sete minutos. Expliquei para ela a situação inteira enquanto subíamos no elevador, e ela ficou muito mais do que horrorizada. Agora, ela está no andar de cima (sim, meu apartamento tem dois andares e vista para a Torre Eiffel, parte das regalias de ser um Malfoy), dando um banho em Hermione e a vestindo.

Enquanto isso, eu usei meus dotes mágicos para limpar o apartamento inteiro em dois minutos, e agora estou tomando café na sala, olhando para a lareira e pensando quando Luna desceria. Pelos meus cálculos, Hermione vai dormir até amanhecer no meu quarto, que é mais confortável que o de hóspedes, e eu não pretendo dormir.

O braço estrunchado, apesar de ter sido aplicado ditamno, pode acabar inflamando e causar febre. Se não cuidar disso, ela pode acabar convulsionando. Ela não está totalmente fora de perigo.

Ouço passos e logo vejo Luna descendo a escada, visivelmente abatida. Se serve de café e senta-se ao meu lado, olhando o fogo comigo. Ela havia tirado o sobretudo para tomar banho, já que eu ligara o aquecedor, portando ela está usando uma blusa branca de manga curta e uma calça jeans.

- Eu ainda não consigo acreditar que Rony foi capaz disso. - ela fala indignada, com os olhos lacrimejando - Ele chegou a esse ponto…

- Era a mim que ele ia acertar. Hermione se jogou na frente. - respondo transtornado, e Luna move a cabeça concordando.

- Ela foi corajosa, como sempre. Irracional, mas corajosa.

- Típico de Gryffindors. - murmuro, lembrando-me da conversa que tive com os senhores no elevador - Deveria ter sido eu.

- Não me leve a mal, Draco, mas foi melhor que tenha sido ela. Você é um dos únicos que sabem o contra-feitiço do Sectumsempra, e é o único que saberia lidar com ferimentos. É o único medi-bruxo. Em qualquer campo de batalha, manter o médico vivo é sempre prioridade.

- Eu sei, Luna. - falo, com um suspiro e largando minha xícara na mesa de centro - Mas você não viu o sofrimento dela. Foi horrível ver, ela dava gritos frustrantes.

- Draco…

- Eu não posso mais deixar isso acontecer. - falo - Não posso deixar que ela volte para o Weasley, ela não está mais segura com ele. Preciso contar.

- Você sabe que eu apoio totalmente que conte para ela sobre isso, mas não agora, Draco! - Luna se exalta levemente, se ajeitando na poltrona e olhando para as escadas para ter certeza de que Hermione não está acordada - Ela está ferida, por pouco não teve que recolocar o braço, graças aos seus procedimentos médicos e calma. Você sabe muito bem o que choques emocionais podem causar à pessoas em estado de saúde perfeito, imagine às feridas, tudo que Hermione não precisa agora é de uma notícia dessas.

- Ela é forte o suficiente, pode…

- Draco, você não viu o corpo dela nu, mas eu vi. - Luna sussurra, e vejo o olhar abatido em seu rosto novamente - Eu não deveria expor a intimidade dela assim, mas acho que é só isso que vai te fazer refletir. Alguns cortes desapareceram completamente, mas os ferimentos da barriga e das costas estavam tão profundos que ainda estão se curando por dentro. O estrunchamento do braço dela deslocou o úmero do ligamento com a escápula, você precisará colocar bandagens e dar uma poção de reparação óssea e uma poção tônica porque ela vai passar esses dias com cansaço físico e emocional e, eu te garanto, sem poder voltar para a Inglaterra por pelo menos duas semanas.  Por baixo do vestido a aparatação causou um rasgo do lado direito da clavícula até abaixo do seio esquerdo, e esse corte vai deixar cicatrizes que nem ditamno consegue evitar. Esses ferimentos que estão se curando aos poucos podem causar febre interna, o estresse emocional pode causar dor de cabeça e dores horríveis nas costas. Ela já está bastante estressada ultimamente, você não quer dar essa notícia e ver Hermione desenvolvendo uma úlcera, quer?

Não respondo. O simples pensamento de esconder tal informação de Hermione por mais tempo me deixa enjoado, mas o que Luna fala me atinge em cheio. Achei que o ditamno tinha dado conta dos ferimentos, porém aparentemente não é tão eficaz em grande proporção. A ideia de ter um corte em grande parte da região peitoral dela me deixa triste, porque sei que os seios são uma parte ligada intimamente ao corpo da mulher: ter uma cicatriz enorme para sempre entre eles não é exatamente o que elas sonham em ter. Minha melhor amiga aparentemente acha que eu não estou convencido por não responder, então continua:

- Você sabe que podem haver mais complicações que essas. - ela fala séria, me olhando severa - Doença psicossomática, ela pode…

- Luna, eu entendi que a Hermione pode virar o corcunda de Notre Dame em pessoa, obrigada. - falo irritado - Febre interna, enxaquecas, dores terríveis na coluna e músculos… Eu sei, okay? Estudei a mesma coisa que você, se já esqueceu. - ela arqueia a sobrancelha com certa incredulidade de me ouvir falando isso, então percebo que soei mais rude do que queria - Desculpe. Estou nervoso.

- Eu sei. Eu também estaria no seu lugar. - fala calmamente - Draco, já são três da manhã, preciso acordar amanhã às seis para ir pro hospital. Temos uma cirurgia nos fluxos mágicos extremamente delicada marcada para às sete. Você vai ficar bem?

- Pode ir tranquila, eu assumo por aqui. Obrigada por ter vindo, Luna. - falo - Não é qualquer um que viria da Inglaterra para a França de madrugada só pra dar banho em alguém.

- Hah, até parece que eu ia te deixar sozinho dando banho na Hermione, Draco. Nossa profissão nos manda ter profissionalismo, mas a mulher é gostosa pra caramba.

- Isso não me faria… - começo.

- Óbvio que ser gostosa não te faria olhar com outros olhos. - ela fala como se fosse mesmo óbvio - O que te faria olhar com outros olhos é que você tá apaixonado pela Hermione e se pudesse agarrar ela assim que acordasse, você faria.

- Luna! - repreendo e ela ri.

- Boa noite, Draco. Qualquer coisa liga. - e aparata antes mesmo de eu poder negar estar apaixonado pela minha chefe.

***

Decido tomar um banho depois de terminar meu café. A camisa branca que eu uso por baixo do terno está totalmente manchada de sangue, assim como algumas mechas de cabelo, meu rosto e pescoço. A água do chuveiro é quente e não demora muito para embaçar os vidros do box e do espelho, me fazendo notar o quanto eu estava com frio antes de entrar.

Meu banho não dura mais do que cinco minutos, pois não quero deixar Hermione sozinha no quarto durante muito tempo. Coloco um suéter e uma calça moletom que Luna trouxera, secando meus cabelos com a toalha quando saio para o corredor. Paro de imediato ao notá-la acordada na porta do quarto, assustada e com o rosto confuso.

- Por favor, me diz que não transamos. - ela fala séria, por isso sou obrigado a rir.

- Olha, bem que você queria, mas eu consegui te convencer que não era uma boa ideia quando se vai casar. - respondo com um sorriso, e ela parece ficar aliviada de imediato.

- Ainda bem, porque minhas roupas… - então ela parece ter notado um problema ainda maior do que transar - Pera aí, quem me deu banho? - pergunta indignada, partindo de alguma forma já para o ataque.

- Ei, ei, ei… Luna, foi Luna! Hermione, para! - repreendo, tentando evitar seus tapas de braço direito, enquanto ela mantém o braço esquerdo, que fora estrunchado, junto ao corpo - Você não lembra?

Ela me olha e sei que na verdade ela lembra, mas não quer acreditar. Seus olhos ficam úmidos e ela se escora na parede, colocando suas mãos no peito e olhando para baixo, sem dizer nada. De repente, move sua mão da clavícula até a parte inferior do seio esquerdo, e sei que na verdade está sentindo as cicatrizes através da blusa de tecido fino que Luna colocara nela, justamente para mais conforto.

    - Pensei que havia sido um sonho… - ela murmura, com um sorriso entristecido e uma lágrima ameaçando a cair.

    - Você deveria descansar. - tento cortar seu assunto, pois não tenho força para vê-la chorar mais, porém os olhos secaram do nada, olhando-me.

    - Não me sinto cansada. Tenho dor.

    - Preciso dar uma olhada no seu braço. O osso acabou rompendo-se do ligamento com a escápula, preciso te dar uma poção para reparar ossos e colocar bandagens. Entre de novo no quarto e se deite na cama, não é bom ficar tanto tempo de pé nessas condições. Só vou pegar as coisas, já volto. - falo, percebendo que não posso deixá-la com dor se vai ficar acordada mesmo.

    Desço as escadas, indo até o armário embutido que tenho no corredor, abrindo-o e procurando pela poção tônica, reparadora de ossos, uma pomada aceleradora cicatrizante e pela bandagem na minha caixa de socorros. Ainda tenho um rolo, o que é bom, já que vamos precisar. Até amanhã, o osso de Hermione já deve estar restaurado como o meu estava quando quebrei.

    Ao entrar no quarto com as coisas, Hermione está olhando para o enorme closet que tenho no canto do quarto, e sei que ela está pensando onde é essa casa e se realmente é minha. Ela desvia os olhos para mim, como se quisesse disfarçar, mas eu havia a visto no ato. Sua cara é preocupada por algum motivo, mas ignoro.

    - Estamos na França. Eu trabalhava aqui, esse era meu apartamento antes de eu me mudar. Ele ainda é meu, na verdade. - digo, me sentando na beirada da cama - Fique mais ereta, por favor. Continuando, usei o resto da herança Malfoy para tentar sucesso no meu emprego aqui, mas não somos muito bem conhecidos tanto aqui quanto na Inglaterra. Conheci Luna, deixei o lugar abandonado desde então. Mas é muito confortável. - termino de aplicar a pomada, pegando o braço de Hermione e começando a enrolar a bandagem pelo braço e pelo pescoço.

    Sua mão direita está se movendo inquietamente com a palma para baixo, e ela evita contato visual. Parece estar tendo algum tipo de problema que não quer me contar.

    - Hermione, está tudo bem? - pergunto, e tudo que ela faz é assentir e sorrir.

    Penso que pode ser decepção pelo fato de Ronald ter feito isso, mas então ela parece tentar evitar… Uma tosse? Coloca a mão direita na boca, e dá uma tossida de leve, como se tentasse evitar, enquanto eu termino com as bandagens.

    - O que houve? - pergunto de novo, dessa vez me preocupando - Você pode me contar..

    - Não tem nada. - mas sua voz sai mais como um sussurro, como se fosse um grande esforço, e mais uma vez ela tosse, só que agora com mais força e com a palma da mão aberta pela boca inteira.

    Percebo ligeiramente que ela olha para a palma da mão antes de escondê-la ao lado do corpo, e o olhar de preocupação volta a seus olhos, mas ela não fala nada.

    - Deixe-me ver a sua mão. - ela nega, com os olhos úmidos e o rosto ficando vermelho na tentativa de parar mais tosse - Agora, Hermione. - falo severo, puxando sua mão para mim e constatando o que eu desconfiava - Sangue…

    - Draco… - ela começa, mas começa a tossir novamente e dessa vez estou segurando sua mão, por isso ela acaba derramando sangue no cobertor.

    - Hemorragia interna, os ferimentos estão obstruindo as vias respiratórias. - digo me levantando - Não vai demorar muito para que não consiga respirar, preciso da minha varinha, cadê a minha varinha? - pergunto saindo correndo do quarto e descendo as escadas, procurando desesperadamente pela varinha entre as poltronas.

    O som da tosse de Hermione é desesperador, mas pelo menos sei que enquanto está tossindo, está respirando. Entro no armário de poções, procurando com desespero pela varinha nas prateleiras, mas não há nada. Começo a me desesperar quando penso em procurar na cozinha, onde fiz meu café, e é em cima do balcão ao lado da minha fruteira sem frutas, que acho.

    No andar de baixo, sons de cima não são mais ouvidos. Começo a ficar frustrado, saindo correndo com a varinha, subindo as escadas de três em três degraus e correndo até a porta do meu quarto, que tem uma Hermione convulsionando sem ar. Corro para ela, apontando a varinha para sua garganta.

    - Anapneo. - falo, esperando que não seja tarde demais.

    O corpo de Hermione relaxa, porém ela recomeça a tossir como se tivesse respirado água. Deixo com que libere todo sangue da hemorragia, e quando ela finalmente parece se acalmar, pego seu queixo com delicadeza e empurro a cabeça para cima.

    - Algum vaso perto do nariz deve ter estourado com o estrunchamento, é comum que os efeitos venham somente mais tarde. O sangue coagula rápido, mas para evitar que venha para fora e atrapalhe sua respiração, é melhor que fique assim por um tempo. Anapneo ajuda a liberar as vias, mas não para o sangramento. - falo, me levantando e indo pegar uma toalha no banheiro do quarto, molhando-a e voltando para limpar a boca de Hermione - Deveria ter me contado - digo, enquanto vejo a toalha adquirindo um tom avermelhado - Esconder só piora sua situação.

    - Não queria te preocupar. - ela fala com uma voz meio estranha por estar com a cabeça para o alto - Eu estava tossindo sangue, geralmente não tem muito que pessoas normais possam fazer sobre isso em casa.

    - Eu não sou normal. - retruco calmo, limpando sua mão e olhando seus dedos finos - A partir de agora, quero que me prometa que vai me dizer se estiver sentindo qualquer dor incomum, qualquer náusea, tontura, tudo bem?

    - Sim, doutor. - ela responde enquanto revira os olhos e sorri. Porém, após alguns segundos um clarão invade sua mente e ela me olha com seus orbes arregalados e boca entreaberta - Espere. Você realmente é.

    Olho para ela confuso.

    - Sou muitas coisas, quer ser mais específica?

    - Um doutor! - ela fala animada.

    - Ah. - me toco - Isso. Pois é. O termo politicamente correto é medi-bruxo.- completo, meio constrangido e me levantando para colocar a toalha no banheiro, no cesto de roupas sujas.

    - Por que nunca me contou? - ela pergunta com os olhos brilhando. Sorrio.

    - Não é como se eu gostasse de sair por aí gritando sobre o meu fracasso em uma profissão para as pessoas. - sento-me novamente ao seu lado, olhando em seus olhos âmbar - Você deveria estar dormindo. - tento mudar o assunto.

    - Não tenho sono. Fracasso? - ela pergunta, se mexendo inquietamente.

    - Coloque sua cabeça para cima, Hermione… - digo, mas não consigo evitar de me sentir animado com sua pequena infantilidade.

    - Não está mais sangrando. Como pode ser um fracasso? Você foi exemplar me mantendo viva. Você me salvou, Draco. - diz com honestidade, e não posso deixar de me sentir levemente triste com sua inocência.

    - Bem… Se você não me conhecesse, soubesse apenas que eu já fui um comensal: iria confiar mesmo de saber se eu posso salvar sua vida depois de já estar desacordada? - pergunto, e o brilho em seus olhos finalmente desaparece - Vamos, você tem que dormir. Está tarde, você está ferida, uma noite de sono é essencial para que seus ferimentos se curem mais rápido.

    Seus orbes âmbar nunca pareceram tão frustrados. Estão tempestuosos, como se estivessem tentando lutar contra uma verdade dolorosa. Ela tivera um longo dia. Não discute comigo quando sugiro que durma. Somente se vira, murmura alguma coisa como um “boa noite” e em poucos minutos está dormindo. Desligo a luz.

    Eu fico mais um tempo a observando até notar que já é natal, e eu nem mesmo desejara um bom natal para minha melhor amiga e para minha chefe. Num último momento, meus pensamentos voam para minha mãe, e me pergunto como ela estaria. Um aperto no coração me traz para uma realidade horrível: o primeiro natal que eu não falava com ela nem mesmo por carta.

    A ciência e até mesmo a bruxaria encontram dificuldades para explicar uma coisa em comum: os sentimentos. Sabemos que tudo que sentimos são um turbilhão de hormônios em contato com nossas células, mas por que sentimos como se a dor estivesse concentrada somente no ponto esquerdo acima do peito? Por que liberamos esses hormônios? Por que liberamos endorfina quando felizes? Por que liberamos oxitocina ao amarmos? O que faz o cérebro liberar serotonina ao se deparar com a tristeza?

    Por que sentimos? O que caracteriza um sentimento?

    O rosto de Hermione está sereno quando ela se vira na cama e a luz de Paris advinda da janela ilumina levemente seu rosto. Sinto que estou chorando. Granger é parecida em diversos aspectos com minha mãe, e é como se ela estivesse aqui agora.

    Ambas são inocentes ao ponto de achar perdão em todos.

    Me pergunto se os olhos de minha mãe ficariam como os de Hermione ao se deparar com a realidade de querer ser diferente. Me pergunto se os olhos também ficariam tão sombrios, escondidos pela serenidade do sono.

    Na tempestade dos olhos delas, eu durmo.

 


Notas Finais


E aí? O que acharam? Comenteeeem! Amo vocês, até capítulo que vem com a surpresa! Beijo!


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