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História Boss - Obliviate


Escrita por: AllyMannEvans

Notas do Autor


Não, não surtem com o título. Relaxem! Haha!

Ooi! Tudo bem? Eu tô levando a vida. Era para eu ter postado anteontem por causa de um, ahm, acordo com uma leitora de que eu postaria em três dias, então devo me desculpas. Aconteceram algumas fatalidades envolvendo morte de gente conhecida da família, e eu fiquei bastante abalada com isso, devo admitir. Mas eis que aqui estou, voltei! Capítulo que vem, bastaaaaaaante emoção pra gente, juro juradinho. Não sei se alguém consegue ter alguma ideia do que pode ser! Haha!

* Obrigada por todos os comentários, vocês sabem o quanto eu amo vocês e amo os comentários! <3

* Bem-vindos, leitores novos! Espero que continuem comentando!

* Fantasminhas... Continuo a dizer: eu não mordo! Hahaha! Espero vocês, sério mesmo.

* Até o fim do cap, beijos!

Capítulo 14 - Obliviate


Três dias se passaram desde minha conversa constrangedora com Draco, mas ele não disse mais absolutamente nada. Na verdade, se excluiu de certa forma no próprio mundo depois que eu peguei ele aos cochichos com Harry e Gina sobre algum assunto que aparentemente o deixou extremamente irritado. Desde então, ele troca as bandagens quieto, come quieto e se tranca no escritório para fazer sei lá o que pode ser.

Na noite de natal, aliás, minha atual cunhada e meu melhor amigo vieram me visitar: foi quando ocorreu o incidente dos cochichos. Eles me contaram sobre como a Sra. Weasley não parava de resmungar e cair aos prantos do nada, e sobre como Rony parecia detonado, porém revoltado. Não vou dizer que senti raiva, mas fiquei com nojo: ele não tinha direito algum de se revoltar depois do que fez. O motivo da revolta, segundo Harry, é pelo fato de eu estar aqui.

Agora é fim do dia 28, e eu já estou começando a acostumar a minha pessoa com a ideia de que talvez tenha de passar o ano novo com Draco e Narcisa, já que Luna vai passar com o pai e sair da França está fora de cogitação. Sinto algo ruim sobre isso.

Saio do banho já com um suéter e uma calça: mesmo com o aquecedor, a temperatura é baixa. Nunca me incomodei com o frio, sendo honesta. Mas a frieza de Draco sim. Esta me incomoda e continua sendo minha maior incógnita. Ele está escorado no batente da porta, suas feições cansadas. Quando me vê, sorri de leve. Isso me anima, devo admitir: ultimamente minhas tentativas de diálogo não estavam funcionando direito.

- Acho que não precisa mais dessa bandagem. O braço já está recuperado. - ele fala, andando até mim e sentando-se ao meu lado na cama, tirando com certa delicadeza as bandagens - Como estão os cortes na barriga e costas?

- Cicatrizando bem. - admito - Mas ainda causam desconforto. Você passou por isso quando foi atingido por Harry? - pergunto e ele me olha com seus enormes olhos cinzentos.

- Então ele contou, huh? Imaginei que ele não gostaria de compartilhar com os amigos sobre seus momentos de treva. - fala somente, sem responder minha pergunta de fato.

- Bem, óbvio que contou. Entrou em choque, estava desesperado. Ele não sabia os efeitos do feitiço quando usou. Mas Rony sabia. - sei que minha voz alterou o tom quase imediatamente ao citar seu nome, e vejo que Draco também tensionou os músculos e se fechou novamente.

- Talvez seja hora de rever o tipo de pessoa com quem anda. - sei que não falou por mal, mas eu me magoei. Sei que tem razão, mas é que… Depois de tudo que Draco fez, falar de Rony não me parece digno dele.

- Ele não é assim. - defendo, puxando meu braço de volta e sentindo meus olhos ficarem úmidos de novo - Eu faço sozinha isso.

- Ótimo. - sinto a raiva em sua voz - Ele é o noivo perfeito. Case-se com ele! Tenha filhos! Um menino e uma menina. Ruivos. Uma inteligente como você, um panaca como ele. - o cinismo em sua voz é tanto que sinto as lágrimas caindo aos montes pelo rosto e os meus machucados doendo mais do que antes - Seja feliz aturando as crises existenciais dele, entregue uma pilha de relatórios para que o Draco babaca os faça correndo na mesma hora enquanto a chefe dele transa dentro da própria sala com o cara que tentou matá-la na noite anterior!

- Draco, não foi isso que eu quis… - sussurro, mas ele não me deixa terminar.

- Chega dessa estupidez. - ele retruca, sentando-se de novo e pegando meu braço mesmo que eu não queira, tirando as bandagens dessa vez com mais agilidade do que antes - Faça como quiser. Defenda-o. Não sou digno de falar do herói de guerra.

Sai do quarto sem me deixar responder. Ouço a porta do banheiro batendo e em poucos minutos a água da torneira correndo. Me levanto, tomando cuidado com o braço ainda sensível, indo com certa cautela até a origem do som. Coloco meus ouvidos na madeira e fecho os olhos, tentando ouví-lo lá dentro. Consigo ouvir sua voz baixinha, sei que está ofegando de raiva. Não consigo decifrar se chora como eu. Fico lá, com a mão segurando meu braço ainda mal acostumado com a liberdade de movimentos, e meus olhos fechados ouvindo a água correr.

Algum tempo se passa até que ele decida tomar banho e me deixe sozinha com minhas lágrimas no corredor. Seco o rosto e me levanto antes que saia, descendo as escadas e indo para a cozinha. Olho para o bolo de chocolate que ele comprara na padaria de manhã cedo antes de eu acordar. Não posso evitar sorrir com essa mania que ele tem de levantar cedo, essa atração que ele sente por sair na neve e sentir o frio nos pulmões.

    Começo a passar café enquanto coloco alguns biscoitos pré-feitos de Luna para dar mais uma esquentada no forno e derreter o chocolate. Ouço a água parar de correr no andar de cima, por isso procuro por mais coisas que possamos comer: não quero esse clima entre a gente.

    Ouço barulho nas escadas, mas Draco não vem para a cozinha. Fica na sala, iluminada somente pela luz da lareira. Algo engraçado sobre ele, que aprendi nesses três dias: ele não gosta de acender lâmpadas durante a noite. As deixa ligadas em alguns pontos estratégicos para não ficar tão escuro, mas na verdade a luz é em sua maior parte proveniente da lareira.

    Olho para o café, já passado, e sirvo duas canecas para mim e para ele. São dez da noite, já deveríamos ter comido. Corto quatro fatias de bolo em um prato, para que possamos dividir, e levo tudo numa bandeja (apesar de saber que não deveria nem mesmo estar fazendo força no meu braço que ainda está em fase de recuperação).

    Encontro Draco no sofá, olhando seriamente para a lareira. Sei que ele sabe que estou aqui, mas não me olha. Ele segura um copo de conhaque, bebida trouxa por sinal, e olha para o fogo sem tocar no copo: mas parece estar lutando muito contra isso.

    Ando até ele com certa cautela, mas por fim decido que o conheço mais do que deveria: ele nunca tentaria algo contra mim como Rony fez. Esse não é mais o Draco da escola. Mesmo quando sento ao seu lado, ele continua a olhar para a lareira sem dizer palavra alguma. Feições duras, o copo de conhaque apertado em suas mãos. Ele parece decidir se bebe ou não bebe.

    De repente, algo parece tão claro quanto cristal para mim. Olho em seus olhos cansados, seu mandíbula contraída. Não sou médica, mas sei quando algo não está bem. E Draco, com certeza, não está bem. Sorrio de canto, tocando com leveza em seu ombro. Finalmente seu olhos encontram com os meus. Tento passar confiança nos meus quando pego o copo de sua mão.

    - Eu sabia que algo estava errado aquele dia. - falo - Mas não conseguia entender o que era. A história parecia verdadeira, mas não para Luna. Agora eu vejo. Não era ela que estava com problemas, não é?

    Ele não responde, mas não desvia o olhar. Parece pensar se deveria ou não falar comigo sobre isso. Pego em sua mão, para que veja que não estou abordando o assunto para julgar. Seus olhos estão úmidos. Ele respira fundo e olha para a lareira de novo, mas aperta minha mão mais forte do que nunca.

    - Acredito que todo mundo enfrentou algo depois da guerra. - ele começa - Acho que é normal achar dificuldade em seguir em frente. Perdi diversos amigos na Slytherin depois da explosão nas masmorras. Meu pai foi preso. Minha mãe está livre injustamente. Eu estou livre injustamente. Não pense que essas coisas não me perseguem e não me atormentam, Hermione. - sussurra - Aqui na França, achei que não houvesse mais saída. Pensei que deveria me matar, fazer algum bem para o mundo. O fato de deixar minha mãe me machucava muito, mas… Eu não via mais sentido em ficar. Sem amigos. Sem uma família exatamente, ahm, amorosa. - parece ter uma dificuldade enorme em falar - Sem um amor. - ele olha em meus olhos nessa parte, mas desvia logo - Veja bem… Falido, sem popularidade e sem sexo. Eu via vocês nos jornais. “Harry Potter, o mais novo auror do ministério”. “Ronald Weasley desiste de assumir a Gemialidades Weasley para seguir a mesma carreira que Potter”. “Bomba do ano: Harry Potter, herói de guerra, e Gina Weasley, artilheira do Harpias, vão se casar!”. Um dia eu vi essa manchete sua. Não quis nem ler sobre o que falava. Eu só olhei para a sua foto: saltos, batom vermelho, vestido preto em cetim. Eu chamaria você de chefe sem pestanejar se pedisse. E tudo o que pude pensar é: “uau, ela está tão bem”. - sinto que estou ao ponto de chorar - E eu comecei a pensar que estava pagando pelos meus pecados. Todos os que fizeram coisas boas na guerra estavam se dando bem, e eu estava ficando para trás. Foi então que acabei…

    - Começando a beber. - completo, pois vejo o quão difícil está sendo - Você deveria ter procurado ajuda. Se está arrependido, se mudou… Não deveria ter deixado que esses pensamentos tomassem conta de você.

    - Eles já estavam lá. - ele responde com um sorriso entristecido, e eu sinto meu coração se apertar ao vê-lo - Veja bem, eu sempre tive esses pensamentos, mas nunca dei bola. Eu só comecei a acreditar neles quando nada deu certo. Uma noite eu estava tão bêbado que caí dessa mesma escada. - ele aponta para os degraus de sua casa - Foi o segundo melhor dia da minha vida. Quebrei meu braço, me obriguei a ir a um hospital. Estava tão bêbado que mal conseguia me medicar.

    - Você conheceu Luna assim. - tudo começa a fazer sentido para mim - E no dia seguinte você fez uma entrevista.

    - Tudo melhorou desde então. Pessoas estão começando a me aceitar, meu nome está sendo limpo aos poucos. Isso me deixa contente. Mas às vezes ainda tenho vontade de beber. Recaídas que nunca tenho coragem de completar por respeito ao esforço de Luna. Ela foi meu anjo esse tempo todo.

    - Por isso você queria tanto que ela estivesse na festa. Porque ela lhe mantém sóbrio.

    Ele assente, e eu finalmente entendo. Eles nunca namoraram, Luna nunca o beijou. Ela somente o protegia do perigo. Por algum motivo, fico tão aliviada que quero sorrir. Ao mesmo tempo em que sinto um certo remorso por nunca ter notado essa condição do Draco perto de bebida: cheguei tantas vezes cheirando à essas coisas no trabalho por causa dos ucraniano e ele lá, lutando contra.

- Não quero isso para mim, sabe? Eu não quero ter que lutar para sempre na frente de bebidas. Quero poder seguir em frente, não sentir falta. Eu odeio o gosto, acho horrível. Mas me ajuda a esquecer coisas que me frustram.

Consigo ouvir vagamente a voz de Draco na minha cabeça. Uma coisa que ele disse na minha sala depois de ter me visto naquela cena horrível com Ronald: “whiskey de fogo pode até acalmar seu coração por um tempo, mas não vai aquietar sua mente”. Agora entendo.

- Por que não me fala sobre essas coisas? Talvez falar sobre isso, colocar para fora, melhore. - seu olhar fica sombrio.

- Há tanta coisa que eu queria poder te dizer, mas não posso. - ele admite, e eu sinto que ele fala a verdade - Por que não me fala sobre o que aconteceu com você depois da guerra? Vi a carreira de sucesso de Hermione Granger toda documentada no jornal, mas não vi seus pontos baixos.

Ele tocou em um ponto delicado demais até para falar com Harry. Pedi para que ele, Rony, Gina e o resto da família nunca mais mencionassem isso por querer esquecer, mas a cada dia isso me destrói mais. Draco não sabe sobre isso, e eu também não sei se tenho vontade de falar. Mas ao olhá-lo, não posso evitar pensar que ele falou sobre o problema dele. Pego meu café, um pouco mais frio do que antes, e coloco a bebida na boca antes de me ajeitar no sofá e largar sua mão: o assunto é tão meu, que não gosto de gente sentindo pena.

- Durante a guerra, tive que fazer algumas decisões complicadas, como você. Ir ou ficar? Dormir ou ficar acordado? Amor ou amizade? - sinto meus olhos já liberarem algumas lágrimas - Família ou ideais? Lembrar ou esquecer? - continuo, olhando para o fogo e tomando mais café - Sabia que Voldermort procuraria meus pais se eles soubessem de algo e eu também não queria que sofressem caso alguma coisa ocorresse comigo. Então… Eu apaguei a memória deles.

Ele parece surpreso. Olha para mim com certo pesar, mas não pena.

- Eu não imaginava que tinha feito algo assim. - admite - É de extrema coragem. Mas você pode reverter o feitiço, ainda bem.

Sorrio, desviando o olhar e pensando se devo ou não falar isso. Ah, conheço Draco razoavelmente bem para saber que ele não perde uma oportunidade de piada. De fato, penso que o sonho interno e super secreto que ele tem é de um dia conseguir me chamar de burra. E eu sei que eu vou dar a oportunidade de bandeja se eu falar o que vou falar.

Quando volto meus olhos para os seus, percebo que ele já notou que algo está errado. Franze as sobrancelhas em uma tentativa aparentemente muito bem sucedida de entender o que está acontecendo. Arregala os olhos, colocando uma mão em seu rosto, pasmo.

- Não me diga que você é tão burra como sempre pensei. - ele fala e eu reviro os olhos.

- “Sempre pensou”, ahan. Narcisa me disse ontem que você vivia dizendo que eu era muito inteligente. - revido com uma leve risada de superioridade.

- Você pode mandar bem na lógica e nos conteúdos, mas em matéria de vida você é nota 0 total, Hermione! - agora ele está indignado - Não reverteu o feitiço?! Por que você fez isso? São seus pais, a guerra acabou!

- Não é tão simples quanto parece… - tento me justificar, tomando um gole do meu café e pegando uma fatia de bolo - Durante a guerra, não havia um dia em que eu não pensava sobre voltar para casa, para minha família. Quando a guerra acabou, isso foi a primeira coisa que fiz. Procurei por eles em casa, mas eles haviam se mudado para a Austrália segundo uma vizinha. Harry me apoiou muito nessa época, visto que a família Weasley estava detonada por causa de Fred. Fomos à Austrália, procuramos informações, achamos um consultório dentário que era uma beleza de tão bonito.

- Se tudo estava tão bem, por que você não reverteu o feitiço? - ele ainda não entendendo, pergunta.

- Esse é o problema. Tudo estava tão bem. - sinto que vou chorar - Minha mãe era muito nova quando eu nasci, por isso eles se obrigaram a desistir de alguns sonhos para conseguir me criar. Ir para outros países era o maior deles. E eu causei tanto caos na vida deles quando me tornei bruxa, sabe? Dinheiro para materiais escolares, livros e mais livros, roupas… Hogwarts é quase uma escola particular. Sem falar que em Londres a escolaridade é obrigatória para os trouxas, então o órgão que cuida da saúde e bem-estar da criança e do adolescente bateu mil vezes na porta dos meus pais para uma explicação sobre eu não estar em uma escola. Quase perderam minha guarda, tivemos que fazer muita coisa para que eles se convencessem de que eu estava bem “estudando em casa”. E quando eu cheguei na Austrália com Harry, vi tudo dando tão certo na vida deles… Eu amarelei.

- Hermione… Deixe-me ver se eu entendi isso. Você não reverteu a porra do Obliviate porque você achou que eles estavam melhores sem você?! - ele parece levemente bravo, mas eu assinto - E como você pode ter tanta certeza dessa felicidade?

- Eu marquei uma hora no consultório dos meus pais, okay? - jogo o conhaque de Draco na lareira para poder me livrar do copo, ficando de pé para ver se Draco entendia com um pouco de dureza - Fotos pelo lugar inteiro, os dois felizes no Egito, no Brasil, na Grécia… Nenhuma comigo, eu não faço parte da vida deles, mas eles seguiram em frente! - começo a chorar - Então por que eu não posso seguir em frente também?!

- Porque é isso que o obliviate faz, Hermione! - ele grita, se levantando e segurando meus braços com delicadeza, apesar de me mexer, como se quisesse que eu caísse na real - Eles não lembram de você, por isso parecem felizes! Você é a parte que ainda lembra, óbvio que não consegue seguir em frente! - seu rosto está tão perto do meu que consigo sentir sua respiração roçando em meus lábios. Está ofegante.

Na penumbra da sala dele, seu rosto está vermelho e sombrio à medida que o fogo altera as nuances. Nunca pensei que poderia ver a pele pálida de Draco corada, mas se um dia chegasse a ver, sei que seria mais ou menos assim. Seus olhos, por incrível que pareça, estão em tons diferentes de cinza, misturado com alguma cor da escala do azul. Eles brilham. Suas mãos seguram meus braços, mas agora estão bem mais leves que antes, e ele já não me mexe. Sei que isso significa muito mais do que uma simples bronca, e sei que estamos ultrapassando um limite muito perigoso. Ele ofega, e eu demoro para perceber que minhas lágrimas cessaram e que eu também estou com a respiração acelerada. De leve e quase imperceptível, ele aproxima seu rosto do meu e olha no fundo dos meus olhos. Sei que é errado, sei que eu deveria ser fiel até conversar com Ronald, mas a simples ideia de beijá-lo agora ocupa minha mente e tira qualquer culpa.

Fecho os olhos, sinto seu nariz encostar no meu quando ele cola sua testa na minha, mas nossos lábios mal se tocam. Sinto o leve roçar de seu lábio inferior no canto de minha boca, mas ele parece cair na real e se afasta, sem me olhar.

- O que houve? - pergunto, mas ele não responde imediatamente. Percebo, quando se vira, que agora os orbes antes brilhantes estão opacos e sem vida.

- Siga o conselho de um amigo. Sou especializado na área da memória. Passei bastante parte do meu tempo estudando isso. Obliviate é um feitiço, Hermione. Todo feitiço tem falhas, acredite. A memória não é apagada totalmente, a não ser que você realmente queira. E você não quis. A chave para reverter o feitiço é deixar alguma memória, mesmo que mńima, da pessoa na sua mente. De vez em quando alguns flashes seus devem aparecer na cabeça do seus pais, para garantir que você não seja esquecida completamente. Assim, quando quiser reverter, essa única memória serve como uma alavanca para ativar as outras. É, na verdade, muito interessante. - ele parece um verdadeiro gênio falando que nem me preocupo muito em pará-lo para falar sobre o momento de antes, só quero ouvir mais sobre isso.

- Quer dizer que eles lembram de mim? - pergunto ansiosa, mas ele nega.

- Eles têm uma vaga lembrança, mais como uma sensação de que algo falta. Pode ser seu cheiro, ou a imagem de um cabelo crespo, sua voz falando alguma coisa. Não seu rosto, nunca o rosto. É mais como… Como algo onipresente. Se algo lembra você durante a vida deles, é como se eles estivessem sentindo você, sentindo sua falta.

- Isso é…

- Triste, Hermione. - ele fala enquanto me olha com seus orbes cansados - No mínimo, frustrante. Pode achar que eles estão felizes, mas eu aposto que a felicidade deles era você. Qualquer coisa deve lembrar você para eles, e isso é muito triste. Imagine-se vivendo com a constante sensação de que algo está faltando, de que algo não está mais perto quando deveria estar. Eles não são felizes. Só sobrevivem ao fato de não saber o que falta.

- Eu não pensei dessa forma. - tento argumentar - Pensei que estava fazendo um bem ao tirá-los dessa loucura em que vivo. O que acha que eles me diriam se eu contasse que meu atual noivo quase me matou?

- Na real? Eu acho que eles já teriam feito você cair na real e impedido esse noivado muito antes desse sectumsempra acontecer. Mas você preferiu viver mais de cinco anos deixando-os viver em uma mentira, para convencer a si mesmo que a mentira deles era melhor que a sua. É a Gryffindor mais corajosa que eu conheço, Hermione, mas esses atos são covardes. O simples fato de você ter vergonha de falar do seu noivo para os seus pais já prova que você se acostumou com essa farsa.

- E o que você quer que eu faça?! - berro chorando novamente - Você me diz para fazer o que eu sinto que tenho que fazer, “não siga essas regras mesquinhas da sociedade, Granger!”, mas quando eu finalmente tomo coragem para fazer o que estou sentindo que devo, você sempre se afasta! Você se fecha! Então não me venha falar sobre covardia, porque o grande covarde aqui é você!

- Não me coloque como tópico num assunto que não era eu! - ele retruca - O que aconteceu antes não tem nada a ver com isso, não tem…

- Pode até não ter. - finalmente consigo parar as lágrimas e endurecer minhas feições como deveria - Mas não ouse me chamar de covarde quando você é o cara que desistiu de uma profissão, você é o cara que ficou com medo de decepcionar a mamãe, você é o cara que se afasta toda vez que… - minha voz falha - Toda vez que eu me aproximo. Não me chame de covarde, quando você também é.

- Você acha que eu não quero? - ele olha em meus olhos e para minha surpresa, está com feições bravas - Você acha que minha vontade não é deixar que se aproxime?! Porque é! Mas caso você tenha se esquecido, você é a heroína de guerra! Você é bem sucedida! E você tem um noivo! Ainda temos assuntos a tratar, para depois decidir o que fazer… - ele se acalma, mas parece transtornado - Sou covarde, nunca neguei. Sempre me afasto quando não devo. Mas você não é.

- Draco, pare… Isso é tudo bobagem, você sabe que…

- Há coisas que eu quero te contar faz tempo e eu nunca consigo por medo. Medo dos efeitos que trarão em você. Eu sou covarde sim. Você não. Você salvou o mundo, você manteve aquele panaca do Weasley e do Potter vivos. Você nunca teve medo de se arriscar. Você é o exemplo de uma Gryffindor. Então não aja como uma covarde, que é o que não é. Quer um conselho? Se eles te fazem falta e você não consegue seguir em frente, então acho que deve superar esse seu medo de machucá-los e acabar se machucando, procurar por eles. Não desista do que você ama.

Ele dá um beijo em minha testa antes de subir as escadas. Me deixa sozinha na penumbra, olhando a neve cair através da fresta da cortina. Quando ele sai, o cômodo parece ficar frio e sem vida. Minhas lágrimas cessam. Olho ao redor da sala, como que procurando por alguma coisa que pudesse aliviar minha tristeza.

O piano bem polido e lustroso no canto da sala me chama atenção. Lembro de tentar ensinar Rony algumas notas, mas ele é mais desastrado do que Harry. Me pergunto se Draco também toca. Ando devagar até ele, passo a mão pela madeira limpa.

Quando me sento na banqueta e coloco a mão nas teclas, sinto uma emoção que há tempos não sentia: não toco desde a guerra. A música a tocar já sei: Cello Suite No. 1. Prelúdio. Quando movimento os dedos, a melodia me acalma. Consigo imaginar o violoncelo do meu pai tocando junto comigo na música, uma memória distante.

Sinto-me triste de novo. É difícil até mesmo recordar sua face. A melodia para aos poucos, desisto do piano. Ouço a voz de Draco em minha cabeça praticamente se declarando sem falar direito o que quer. Ele diz que quer me confessar tanta coisa, mas tem medo de como eu vou reagir. Não consigo pensar no que pode ser, mas coisa boa não tem como.

Ele reconhece minha força, então para que ache que eu reagiria mal, provavelmente é algo que afeta diretamente meu emocional. Não consigo evitar a imagem de Astória em minha cabeça ao pensar em algo que me deixaria para baixo. Os lábios de Draco ainda causam um leve formigamento no canto da minha boca, quando fecho os olhos ainda posso sentir sua respiração contra a minha. O que o afasta? Estou me iludindo?

Me sinto uma traidora sem terminar meu noivado antes, mas algo dentro de mim diz que ele já acabou no dia em que meu noivo tentou acertar o loiro do andar de cima pelas costas. Pensando na festa, lembro das risadas de Draco e Astória e de como eu estava infeliz com Rony. Por que tudo parece tão certo quando ao lado de Malfoy?

Eu acho que o amo.

 


Notas Finais


O que acharam? Espero que tenham gostado! Comenteeeem, favoriteeeem, divulgueeeem! Aqui são 06:10, bom dia para vocês! Beijos, até o próximo capítulo! <3


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