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História Boss - Fúria


Escrita por: AllyMannEvans

Notas do Autor


Não, eu não consegui cumprir o meu acordo de três em três dias. Não tenho justificativas, nem mesmo desculpas. Eu sabia o quão complicado seria para escrever esse capítulo, e a simples ideia de começar ele me cansava. Como podem ver, ele é bem longo e traz bastaaaante coisa boa, só que uma ruim que muda tudo. Eis o capítulo que a maior parte de vocês estão me pedindo há tempos, mesmo que a parte seja bem pequena. Capítulo que vem tem mais, muito mais, suuuper mais.

* Obrigada por toooodos os comentários de vocês, meus amadinhos. Vocês sabem o quanto significam para mim e tudo mais, me motivam sempre a continuar. Pretendo postar o próximo mais rápido, porque entendo que vai ser tortura para vocês, ler o final do capítulo e não saber o resto. SUAHSUAH. Sim, eu amo isso. Meu segundo nome é Crucio.

* Talitataciana, se estiver lendo isso, é para você! Recebi a notificação do seu comentário, mas não consigo ver ele de forma alguma, não sei o motivo. Ele simplesmente não aparece para mim. Não sei se tu excluiu o algo assim, mas se não foi isso que aconteceu, quero que saiba que eu não respondi por não ter visto.

* Esse capítulo é muuuuito especial, então acho que mereço todos os comentários possíveis, até porque realizei vários pedidos de vocês em um único capítulo. Fantasminhas, eu não mordo! Já virou meu bordão, sauhsuahsua! Gente que já comentava antes, podem continuar! Favoritem, comentem, eu respondo todos, eu juro!

* Espero que gostem! Beijos para vocês. A gente se vê logo!

Ps: como podem notar, eu fiz esse capítulo um pouco diferente dos outros. A narração está dividida pela metade, porque pensei que precisava retratar esse capítulo específico com uma diferença, porque ele é muito importante para colocar na visão só do Draco. Capítulo que vem, o ponto de vista volta ao normal, e vai ser da Herms, obviamente.

Capítulo 15 - Fúria


Hermione

Draco não falou mais comigo após o incidente, e devo admitir que eu também não fiz muita questão. Minha vontade era unicamente de ir embora e chorar sozinha no meu apartamento, já que estava ficando chato chorar na cama de Malfoy.

Harry e Gina ligaram, assim como Luna. A loira, porém ligava sempre para o celular do melhor amigo. Apesar de entender que o que eles têm é somente amizade, estou começando a entender o que Cho sentia quando Harry a trocava por mim. É basicamente o que Draco faz para evitar falar comigo: pega o telefone e fala com Luna sempre que pode.

Quero ir embora, não estou brincando.

Além disso, a curiosidade de saber mais sobre a casa de Draco me incomoda. Até agora, só tive acesso aos cômodos que tenho livre acesso. No caso, estou falando de sala, cozinha, banheiro e quarto de Draco. As outras portas, as outras coisas, ainda são um mistério para mim.

Na manhã do dia 30, estou entediada de tanto silêncio. O loiro teimoso continua trancado dentro do escritório fazendo não tenho ideia do que pode ser, enquanto deixa o apartamento totalmente quieto e abandonado. E eu? Tomei conta do piano, admito.

Quando mais nova, percebi que por vezes preferia a solidão da minha companhia. Poucos sabem apreciar isso. Me acostumei a ficar sozinha, mas com Draco tudo é tão diferente. Ao me deixar sozinha, equivale ao me deixar frustrada. Fico tensa, falta algo.

É como se mesmo quando estamos quietos, porém juntos, até mesmo a respiração dele consegue preencher um vazio. E o fato de ficar o tempo inteiro trancado no andar de cima, só prova ainda mais essa falta.

O barulho do piano me ajuda a esquecer que estou cheia de silêncio.

Toco até metade da tarde, quando começo a sentir meus dedos ficando doloridos e machucados. Não havia percebido, mas estou com raiva disso. As únicas notas que saem da garganta de Draco são para perguntar se estou com alguma dor ou desconforto.

- Ei. - ouço a voz dele, como se soubesse que era exatamente nisso que estava pensando. Me pergunto se ele lê minha mente.

- Fale. - respondo com a mesma casualidade que ele colocou no simples “ei” proferido. Ouço um suspiro, mesmo estando de costas para ele, e toco algumas notas aleatórias para fingir que não estou me importando com o fato de que ele falou comigo.

- Luna ligou. - quase consigo me ouvir soltando algo parecido com “humpf”, mas consigo me conter e continuar as notas aleatórias - Ela me disse que viu na tal da previsão do tempo de vocês que aqui em Paris é para ter uma nevasca para hoje à noite. - mais notas aleatórias, agora seguidas de um leve cantarolar nada afinado - Pensei em sair e comprar algumas coisas para comermos e quer parar com essa porcaria e me olhar, por favor? - sinto que ele se irritou, por isso me viro sem falar nada, mas agora pelo menos sem tocar - Agradeço.

- De nada. - sei que estou sendo seca, mas a raiva continua crescendo agora que ele fala comigo.

- Preciso comprar mais algumas coisas além de comida, então não sei quanto tempo vou demorar. - agora ele não faz muita questão de parecer simpático - Quer alguma coisa?

- Como está pagando tudo isso? - pergunto, com puro sarcasmo - Você só recebeu um mês de salário, não um ano inteiro.

Ele solta uma risada seca.

- Isso é para tentar me atingir?

- Estou conseguindo? - retruco com outro questionamento, mas ele não diz nada enquanto coloca o casaco.

- Como você está? - fala finalmente - Não coloque muito esforço no braço, você está tocando piano desde ontem sem parar.

- Isso te irrita? - não admito para ele, mas o simples fato de conseguir despertar alguma emoção que não seja calmaria da parte dele me deixa em êxtase.

- Não, Hermione, isso não me irrita. - ele agora está sorrindo, como se achasse graça da situação - Esse é o seu objetivo agora? Me irritar até eu te dar atenção? - não respondo, porque agora estou envergonhada demais para sequer conseguir falar alguma coisa - Muito interessante. - ele se aproxima o suficiente para colocar uma mecha de cabelo atrás de minha orelha - Só mostra que a pessoa que coordena a execução das leis mágicas tem a idade mental de uma criança de cinco anos. Qual é a dessa sua síndrome de Peter Pan?

Ele aparata antes que eu tenha qualquer chance de revidar. No fundo, ele tem razão. Apesar de eu saber que essa síndrome ataca só homens, estou parecendo uma criança com essas provocações. O pior é que odeio quando ele está certo e infelizmente isso aparenta acontecer na maior parte das vezes.

Vou para a cozinha, pois decido ser um pouco menos teimosa e ouvir o que ele me disse: parar de usar tanto o meu braço que, admito, já estava ficando um pouco dolorido. Faço um sanduíche para mim e como em silêncio. Demoro um pouco para perceber, mas quando o faço, sinto até mesmo um leve formigamento nos dedos.

Silêncio. A casa está silenciosa. Estou sozinha, Draco saiu e provavelmente vai demorar. Sei o quanto é errado bisbilhotar nas coisas dos outros, mas é que a curiosidade está me matando desde o momento em que acordei na cama dele. Oras, estou na casa de um dos meus maiores inimigos na época de Hogwarts e nem mesmo vou procurar por coisas para usar contra ele? Até parece.

Levanto apressada, já indo em direção às escadas e pensando se Draco usa cuecas de corações vermelhos ou estrelas sorrindo. A simples ideia de vê-lo usando algo assim me faz rir enquanto subo para o segundo andar. Algo no fundo me reprime, mas devo admitir que a maior parte de mim praticamente me guia dizendo “faça, você vai se surpreender”.

Entro no quarto de paredes cinzentas de Draco, decidindo começar por onde eu já conheço. Dormi naquela mesma cama pela semana inteira, mas nunca nem havia me atrevido a abrir o armário ou gavetas. Paro ao lado do batente, olhando o enorme cômodo, pensando se devo ou não.

Devo, respondo a mim mesma. Ah, um pouco de rebeldia sempre é bom. Não sou eu que tenho síndrome de Peter Pan? Então eu vou agir como uma pessoa que tem.

Corro para as portas do armário, respirando fundo antes de puxar para os lados a porta de correr toda espelhada, me deparando com nada. Sim, isso mesmo. Nada vezes nada. Fico confusa por algum tempo até entender que ele está morando com Luna e que, na verdade, as suas roupas provavelmente não estão mais aqui por isso.

Mesmo assim abro algumas gavetas e outros compartimentos, achando roupas de cama, cobertores nas partes de cima. Fala sério. Draco é uma pessoa nada interessante. Ando até o bidê ao lado da cama, pensando que pelo menos ali eu acharia alguma coisa.

De fato, acho. Reviro os olhos antes mesmo de conseguir me reprimir, bem longe de me sentir constrangida, admito. Na gaveta, além de achar algumas pastilhas para a garganta que devem estar vencidas há muito, acho vários pacotinhos pretos com letras laranjas, muito bem lacrados. Contando de longe, assumo que Draco tenha cerca de uns vinte ou trinta pacotinhos de camisinha dentro da gaveta, e isso me faz querer rir. Dizer que ele não se garante é algo que não posso falar.

Mexo por pura curiosidade nas camisinhas, somente para ver as marcas e, admito, o tamanho. Um papel dobrado de coloração amarelada está no canto da gaveta. Não consigo me conter e o pego. Oras, um papel em uma gaveta de camisinhas, não sei nem o que esperar disso. O abro, com certa hesitação, encontrando uma caligrafia meio fina e pequena demais, mas compreensível.

Monsieur, a noite foi ótima.

Você esqueceu de me dizer o seu nome, mas podemos dar espaço para isso em um próximo encontro, o que acha?

Agora, preciso ir para o trabalho.

Você sabe onde me encontrar.

Au revoir

C.W

 

Não consigo evitar uma risada. Não posso sentir ciúmes de algo que aconteceu no passado de Malfoy, mas pelo menos posso rir. Algo me diz que Draco não foi encontrá-la mais tarde, por algum motivo. O simples jeito de escrever me faz pensar que o loiro só queria uma noite. Ele nem mesmo lhe disse seu nome.

Dou uma última risada antes de me levantar e ir direto para a porta em que Draco passa a maior parte do tempo. Por um momento, penso que talvez ela esteja trancada, mas não. Na realidade, está somente encostada como se ele soubesse que eu estou louca para entrar.

É um escritório, como eu pensara. Há uma estante com vários e vários livros sobre medi-bruxaria e medicina trouxa, pelo que vi por cima. Passo meus dedos pela lombada dos livros, me deparando com  uma mesa de costas para uma janela de vidro, como na sala, com cortinas cinza que no momento estão abertas.

Draco tem uma típica mesa de médico, feita de madeira e vidro, com luminárias, papéis e mais papéis, canetas, marcadores, etc. Há duas cadeiras na frente da mesa, para o caso de receber alguém, mas acredito que isso não seja muito comum.

Vou até sua mesa, me sentando na cadeira e sentando. Percebo que algumas roupas que Luna trouxera estão jogadas sem nenhuma organização nas cadeiras de visita, mas não dou muita importância. Também faço, não sou tão diferente.

Olho a papelada em cima de sua mesa, percebendo que na verdade, isso não tem absolutamente nada a ver com clínica ou medi-bruxaria: são coisas da minha área, execução das leis mágicas, que ele tem tomado conta.

Sinto meus olhos marejados. Há uma pilha de papéis já resolvidos, só faltando minha assinatura, do lado esquerdo da mesa, enquanto há outra um pouco menor do outro lado, das que ele ainda não resolvera. E ele nem mesmo comentou comigo que estava tomando conta das minhas coisas.

Dou uma olhada no primeiro processo, que era de extrema complexidade, envolvendo uma sangue-puro e um elfo doméstico. Na verdade, era esse processo que estava me mantendo empacada há semanas, por não ter ideia de como proceder.

Ele resolveu. No relatório que seria enviado para Kingsley, as etapas e as soluções estavam relatadas com detalhes, de uma forma que eu nunca teria pensado. Ele resolveu. Ele conseguiu me tirar de uma furada que me acompanharia até meu casamento, caso ainda houvesse um.

Não sei como vou fazer isso, mas vou precisar arranjar um jeito de minha Hermione orgulhosa engolir esse orgulho e dizer um obrigada. Não posso simplesmente me manter brava com ele quando a principal razão de não conversar comigo era me poupar de pilhas de trabalho quando voltasse.

Ouço algo vibrando em baixo de alguns papéis, e depois de procurar um tempo, finalmente acho a origem. O celular de Draco. Ele não o levou? Por que não? O pego em minha mão, olhando a tela escura, e na mesma hora ele vibra novamente. Tenho um leve susto, quando a tela se ilumina com nada menos do que dez mensagens e dezessete ligações.

Fico preocupada. O que faria a melhor amiga de Draco ficar tão desesperada? Decido olhar as mensagens, não por curiosidade sobre suas conversas, mas por boas intenções. Se Luna está desesperada, algo deve ter acontecido e eu poderia ligar para alguém que possa ajudá-la, tipo Harry.

Abro as mensagens, mas são todas curtas e nada desesperadas como eu havia pensado. Na verdade, são mais como mensagens para acalmar uma possível reação de Draco após falar com ela por ligação ou saber da notícia por outro alguém.

Luna: Draco, preciso falar com você. Me liga assim que ver as mensagens.

Luna: Onde você está? É importante! Preciso te falar antes que ouça por outra pessoa, me liga!

Luna: Draco, eu não sei se você já ficou sabendo, mas se sim: pensa bem! Não vale a pena se precipitar.

Luna: Estou ficando preocupada. Por favor, se está lendo isso, me liga!

Luna: Pansy disse que iria falar com você, mas não achei que seria tão rápido. Por favor, me liga e escuta o que eu tenho para dizer.

Luna: Você só vai machucar a si e ela.

Luna: Sei que consegue manter a calma. Draco, onde você está?

Luna: Falei com Pansy, ela disse que ainda não conseguiu falar com você. Por favor, me liga!

Luna: Pense bem.

E uma outra aba, digamos, há uma única mensagem de Pansy que nem mesmo preciso abrir por ter somente suas palavras que consegui ver direto. Franzo as sobrancelhas. “Eu falhei”, é o que diz. Marco as mensagens de Luna como não lidas, e fecho o celular de Draco com certa dor no coração, mas decidindo não comentar nada com ele. Aparentemente, isso tem a ver com Draco e Pansy, não comigo. Não vou falar nada para ele sobre isso.

Me levanto, extremamente grata e decidindo parar de bisbilhotar, quando vejo algo em baixo da pilha de roupas desorganizada em cima da cadeira. O caderno de capa vermelha e de couro que ele sempre está carregando por aí com lápis de cor.

Tento desviar o olhar, sair da sala e esquecer do caderno, e admito que consigo fazer isso. Por dez minutos. Até a curiosidade me matar e eu resolver voltar o escritório para pegar. Ele nunca descobriria, eu só daria uma olhadinha e deixaria no mesmo lugar de sempre.

O pego, levanto para a sala e me sentando na frente da lareira, com o caderno fechado na mão. Respiro fundo. Nesses quase dois meses com ele, o que mais me prendia a curiosidade era esse caderno. Seria um diário? Sobre seus sentimentos? Sobre seus medos? Merlin, estou nervosa.

Desengato a trava que fecha o diário/agenda/caderno. A primeira página já me encanta, admito. Um desenho extremamente delicado, porém detalhado, de uma célula nervosa, descrevendo suas partes. Nas outras páginas, cada parte separada em outros desenhos mais pequenos, com textos dissertando sobre as funções de cada parte.

Percebo que o caderno é sim um diário, porém um diário de pesquisas. Há pesquisas que eu, mesmo sendo leiga no assunto, já considero muito avançadas. Pesquisas sobre doenças que afetam bruxos que ainda não foram descobertas, pesquisar que retardam ou aceleram o envelhecimento, reprimem o que Draco chama de ‘linhas mágicas”, que seriam como a parte bruxa do nosso sangue.

Sem falar dos desenhos detalhados, nunca soube desse incrível talento de Draco. Em uma das últimas páginas escritas, há uma pesquisa completa que eu diria ter levado pelo menos duas noites acordado para fazer, sobre o sectumsempra que me atingiu.

Pelo que entendi, minha recuperação e ferimentos foram muito piores do que foram neles, e ele está considerando a possibilidade do feitiço atingir de forma diferente puro-sangues e trouxas. Nada preconceituoso, como na época de escola, e sim puramente profissional. Os termos médicos, as possibilidades, as comprovações, tudo mostra como Draco lida com seu trabalho de forma nada mais que respeitosa e profissional.

Eu fecharia meus olhos e confiaria minha vida ao medi-bruxo que Draco se tornara.

Admito, perdi a noção do tempo.

***

Draco

Quando aparato novamente na sala, com sacolas de comida e algumas coisas para meu armário de medicamentos, encontro uma Hermione assustada, de pé, visivelmente escondendo algo atrás de si. Suspiro, pensando no que a garota poderia ter aprontado.

Está agindo assim desde o nosso quase beijo, meio beijo, nem sei como nomear aquele roçar de lábios. Me provocando, maltratando o próprio braço para ver se eu dou alguma atenção. Na real? Toda vez que ela age como uma criança teimosa, eu quero mostrá-la o quanto isso me dá vontade de terminar a história na cama.

Mas dessa vez não. Está muito assustada, quase como se não quisesse que eu visse o que ela está fazendo. Seus olhos estão arregalados, a boca entreaberta e as duas mãos atrás do próprio corpo. Ela se mexe desconfortável, como se estivesse procurando uma fuga sem que eu a pegasse. Inútil, honestamente. Não é como se ela fosse capaz de subir a escada sem me fazer ver o que esconde.

Aparentemente, depois de pensar um pouco e encarar meu olhar indagador, ela também nota que não tem muito o que fazer. Eis então o que ela faz: cara de cachorro sem dono, com olhos lacrimejantes e voz quase como se implorasse por meu perdão.

- Olha, eu juro, juro juradinho, que tentei me controlar. Mas você deixou muito fácil, quase como se quisesse que eu fizesse isso. - começa, e eu não posso evitar sorrir.

- Deixe-me ver se eu entendi, Granger. Eu saio para comprar comida para a esfomeada que você é, você faz algo aparentemente errado e a culpa mesmo assim é minha, apesar do fato de que eu estava longe? - pergunto com um sorrisinho sarcástico, largando as sacolas em cima da mesa de entrada da sala, me virando e olhando para Hermione de novo.

- Mais ou menos isso. - ela parece nervosa - Digo, se você não tivesse deixado a porta do seu escritório meio aberta, eu não teria entrado e não teria visto… - ela realmente parece nervosa, e eu finalmente consigo entender ao que ela se refere.

- Você realmente não sabe conter sua curiosidade, não é? - pergunto, e ela nega de cabeça baixa enquanto estende meu diário de anotações para que eu o pegue - Não estou bravo, relaxa. - ela parece surpresa, mas deixa os ombros relaxados depois da minha afirmação - Não faz sentido eu ficar bravo com o que você é, a Hermione Granger que eu conheço sempre foi curiosa para saber das coisas. Nunca vi você vendo um livro na sua frente e não ler. - arqueio os ombros, dando um sinal com a cabeça como se dissesse para que ela coloque o caderno em cima do sofá, e vou para a cozinha com as sacolas.

- Se você não ficou bravo, por que nunca me deixou ver? - ela pergunta me seguindo, ajudando a tirar as verduras e frutas que eu comprara do plástico, mas ainda assim me olhando nos olhos. As coisas parecem normais novamente.

- Bem, é algo pessoal, admito. Preferia que você não tivesse visto. Mas se viu, não tem como “desver”. Não vale a pena ficar bravo por isso. - sorrio de leve, colocando a manteiga na geladeira e tirando o filtro de dentro da sacola - Achei que havia comprado o suficiente da última vez.

- Aparentemente você nunca precisou cuidar de si e mais de alguém, porque o que você comprou era só para um. - ela responde com leve ironia, mas percebo que está só me provocando por diversão.

- É, talvez. Mas com certeza eu não contava com uma gulosa feito você. - digo com a língua afiada, olhando para ela por alguns segundos para ver sua reação, mas rindo logo depois.

O dia passa rápido. Percebo que Hermione quer falar sobre minhas anotações, mas não tem coragem o suficiente, então sempre para antes de tentar. Decido não incentivar. Ela tem que aprender a confiar um pouco mais no meu temperamento, não é como se eu fosse mordê-la por querer saber sobre minhas anotações. Se for para morder, que seja em outras circunstâncias, de preferência sem um noivo junto.

A nevasca chega pelas 21 horas, e devo admitir que nem mesmo o aquecedor e a lareira parecem vencer o frio cortante do lado de fora. A tempestade de neve oculta qualquer visão para o lado de fora, e ficamos observando-a por algum tempo na janela, até decidirmos nos aquecer na frente da lareira tomando café.

- Você quer um cobertor? - pergunto, pois percebo que ela está tremendo e que no frio os músculos tendem a ficar tensos e aumentar a dor em partes do corpo machucadas recentemente.

Estamos em lados opostos do sofá, tocando somente a ponta dos pés, com meias. Estamos agasalhados até mesmo dentro de casa, mas parece que não está fazendo muito efeito. Ela sorri para mim, tomando um gole da bebida fumegante (que fizemos questão de esquentar no fogão antes de passar) e mexendo de leve os dedos, de forma que tocassem os meus de leve.

- Acho que… - do nada, as luzes se apagam e ouço o barulho do aquecedor da casa se desligando até ficar sem forças e parar.

Olho para Hermione, agora visível só pelas chamas do fogo. Ela olha para os lados, como se esperasse que a luz fosse voltar do nada, mas isso não acontece. Franzo as sobrancelhas, me levantando e indo até a janela, abrindo de leve as cortinas e olhando para fora, onde a nevasca deixava quase toda Paris invisível. Não vejo luz alguma para o lado de fora, o que me faz deduzir que há algum blecaute.

- Acho que a cidade inteira está sem luz. - me viro para olhar Hermione, que já está de pé, procurando a própria varinha - Não temos nenhum instrumento que devolva as luzes do apartamento, não sei se ainda quer ficar conversando.

- Para ser honesta, eu já ia sugerir antes para irmos dormir. - ela dá um sorriso desconfortável - Acho que isso só prova que está mais do que na hora. Estou bem cansada, com frio e com dor, devo admitir.

- Acho que tenho alguma poção para...

- Não precisa. - ela diz decidida - Não consigo achar minha varinha, deve estar lá em cima. Está com a sua? - pergunta - Não quero subir as escadas na escuridão, não tem lareira para fazer luz.

Por sorte, estou com minha varinha. Murmuro o feitiço Lumos antes de apagar o fogo com um movimento e subir as escadas com minha chefe, com certa cautela. Ela acaba por achar a varinha dela dentro do meu quarto, em cima da cama bem arrumada. Fazemos nossa higiene no escuro mesmo, falando sobre o que poderia ter acontecido com a central de Paris.

- Está frio hoje. Melhor pegar mais uma coberta para você. - digo quando ela deita e se tapa na minha cama, me direcionando ao meu armário e pegando um edredom na parte de cima.

Jogo o edredom em cima de Hermione enquanto ela segura a varinha para me ajudar a iluminar melhor o quarto. Consigo vê-la sorrindo de leve, mas não digo nada e também não faço expressão alguma. Não quero começar brincadeiras com ela agora, no escuro. Nunca se sabe o nosso limite quando não estamos vendo.

- Acho que você vai ficar bem, está bastante aquecida. - afirmo - Bem… Boa noite. - digo desconcertado, me virando e indo em direção à porta.

- Draco. - ela me chama novamente, e para ser honesto, era isso que eu temia.

- Sim? Não está confortável?

- Estou. Mas continuo com frio. - ela parece verdadeira comigo - Será que existe a possibilidade de você dormir aqui hoje? - sei que a sua pergunta é com nada mais que inocência, mas eu sou um homem e Hermione é a mulher por quem eu sinto uma atração simplesmente forte demais.

- Acho melhor não. - respondo, sem olhá-la nos olhos - Acho meio perigoso tanta proximidade. - admito.

- Por favor. - ela fala se sentando na cama, colocando os braços em cima do edredom - Só dormir, eu juro. Estou morrendo de frio aqui. Esse andar é congelante. Calor humano geralmente ajuda, não?

Paro para pensar. Fecho os olhos, respiro fundo, cerro os punhos. Ela tem um ponto forte para considerar a situação positiva, mas ainda assim, é complicado. Ela ainda tem um noivo, que por sinal a trai, por esse motivo a situação não é tão errada. Relaxo um pouco o corpo, olhando para ela, que retribui com expectativa.

Sei que é bobo, mas sinto como se essa fosse minha primeira vez deitando ao lado de uma mulher.

- Só dormir, okay?

- Juro.

A cama já está quentinha quando deito, mas Hermione está gelada quando encosta em mim. Apoio minha cabeça, pensando bem no que deveria fazer, mas acabo por não precisar fazer nada. Ela pega meu braço e enrola em seu corpo de forma protetora, sem me olhar momento algum, coloca sua mão em cima de meu peito e deita a cabeça em cima do meu braço. Vejo que está de olhos fechados, e para ser honesto, consigo me sentir caindo no sono de tão confortável que me sinto.

- São brilhantes. - ela sussurra, ainda com seus orbes cerrados.

- O que são brilhantes? - pergunto com a voz baixa, mas sem sussurrar.

- Suas anotações… - ela já está ficando mais vaga - São brilhantes… Assim como seus olhos… - ela completa, e eu sinto que estou perdendo o controle da minha sanidade.

- Hermione…? - mas ela não me responde mais, só respira calmamente contra meu corpo enquanto consigo sentí-la se aquecendo - Quando foi que eu comecei a me importar tanto com você, Granger? - murmuro, pois sei que estou perdendo.

Estamos em uma batalha de corações, e ela está ganhando o meu em disparada.

***

Acordo antes que ela no outro dia, por isso decido me levantar para fazer café. Estou terminando de passar o café quando o telefone do apartamento me toca, e eu me assusto. Geralmente as pessoas ligam para o meu celular. Só então percebo que não faço ideia de onde ele está desde ontem.

Ele toca cerca de cinco vezes até eu conseguir alcançar e atender. A voz do outro lado da linha soa aliviada ao meu ouvir, mas tensa ao mesmo tempo. É Luna.

- Draco! Onde que você estava esse tempo inteiro? Estou tentando te ligar desde ontem! - fala um pouco mais preocupada que o normal, por isso franzo as sobrancelhas.

- Desculpe, nem sei onde meu telefone tá. O que houve?

- Promete que não vai se precipitar? Quer saber, esqueça, sei que não pode me prometer isso ao ouvir algo assim. Harry me ligou ontem, disse que aparentemente Rony foi procurar Pansy de novo e ela acabou cedendo.

- Como assim? - pergunto, já sentindo meu sangue ferver - Depois do que ele fez com a Hermione? Depois do que ele disse para ela?!

- Me escuta! - ela parece brava - Aparentemente ele estava bêbado de novo. Foi até a casa dela, implorou por perdão, disse que terminaria o noivado com Hermione e assumiria ela para os Weasley. Detalhe, ele gritou tudo isso da rua. Algum bruxo viu, contatou o Profeta Diário…. Draco, eu dou no máximo até amanhã de manhã que essa história venha quentinha nas páginas do Profeta com detalhes inventados pela Rita Skeeter.

- Eu não estou acreditando nisso. E Pansy? O que ela fez? - falo baixo, com medo de acordar Hermione, porém com mais raiva do que eu jamais sentira antes.

- Pansy estava chorando aqui até ontem. Disse que sente muito, mas que ama Ronald. Ele quer apresentá-la para a família hoje no almoço de ano novo dos Weasley. Para ele, o noivado com Hermione já está acabado depois que ela “decidiu passar dias dormindo contigo”. Draco, isso vai dar muito errado. Você precisa manter Hermione longe das notícias e não trazê-la para Londres por um tempo até tudo se acalmar.

- Mas que porra de ideia é essa? - pergunto - Ele vai apresentar Pansy para os Weasley?! - grito, olhando para cima em seguida e focando em me controlar - Que merda, Luna! Não posso esconder de Hermione que o noivo dela vai apresentar outra mulher para a família dele! As pessoas que se importam com ela já estão escondendo demais!

- Draco… Por favor! Isso vai machucá-la mais do que ela já está. Dê um tempo para a poeira baixar, depois conte. Acredite, é o melhor.

- E deixar aquele merda fazer o que quiser? O que Pansy está pensando, meu Merlin? Ele estava bêbado, vai provavelmente menosprezá-la na frente da família inteira! Não posso esconder mais nada de Hermione, falo sério…

- Draco, olha. Rony está fora de si, ele não tem nem mesmo noção dos próprios atos, okay? Ele colocou na cabeça que você e Hermione estão tendo um caso faz bastante tempo, por isso a traição dele não é errada. Ele acha que a melhor maneira de fazer Herms sofrer é apresentando para a família dele uma namorada diferente antes mesmo de terminar. Ele está cego pelas próprias convicções.

- Convicções erradas, você quer dizer! Eu e Hermione nunca fizemos nada, ele sempre teve um enorme respeito por ele até mesmo quando esse hipócrita fazia coisas erradas. Não posso mais esconder isso dela. Como acha que ela vai se sentir quando souber que todos sabiam, menos…

- Por favor. Vou tentar mudar a cabeça de Pansy, mas eu preciso que você deixe Hermione fora disso.

- Luna…

- Confie em mim.

Com essas palavras, ela desliga. Como se soubesse que eu nunca contaria algo para Hermione sem sua permissão. Sinto meu sangue ferver. Estou com raiva de Luna, de Pansy e, principalmente, de Rony. Mas ainda mais que ele, estou com raiva de mim mesmo. Estou com raiva de esconder essas coisas quando ela já poderia estar livre dele faz tempo. Eu teria evitado aquele Sectumsempra se houvesse contado para ela antes. E talvez ela não fosse ficar decepcionada comigo como provavelmente ficará agora.

Ouço um barulho na parte de cima do quarto e acordo para a realidade. Hermione acordou e eu reconheço esse ruído como uma porta batendo. Subo as escadas tentando aparentar calmo, ainda ensaiando meu melhor sorriso para que esta não note como eu estou puto da vida com o cara que nem mesmo me atrevo de chamar seu noivo depois disso. Eu deveria contar para ela.

- Hermione? - chamo na porta do meu quarto, abrindo-a e me deparando com esta arrumando os cabelos na frente do espelho, com uma expressão dura - Então você acordou. Desculpa não estar aqui, estava fazendo café e…

- Luna ligou. - ela responde, e percebo que sua voz está mais seca e fria que o normal - A melhor amiga super preocupada do puro-sangue.

- É… Sim, de fato era um assunto importante. - me pergunto se ela conseguiu ouvir minha voz do andar de cima, mas mesmo assim, ela só conseguiria me ouvir se chegasse mais perto. Não é como se eu tivesse gritado muito enquanto falava - Você está bem? Como está o braço? - tento desconversar, mas ela se vira para mim terminando de atar o cabelo.

Percebo que seu rosto tem algumas marcas de lágrimas que ela não havia limpado, mas ela não chora. Pelo menos, não no momento.

- Ah, eu estou ótima! - há um sarcasmo notório em sua voz, portanto começo a ficar preocupado de fato.

- Hermione…

- Granger para você, Malfoy. - responde me olhando nos olhos e cerrando os punhos - É ridículo você chamar uma sangue-ruim pelo primeiro nome. Quer dizer, é o que eu sempre fui para você, não? Sangue-ruim. Indigna de pena ou de um relacionamento bom. Você faz pose de Bom Samaritano, mas no fundo é o que você pensa: “quem a sangue-ruim pensa que é para ter um noivo bom?”.

- Eu não estou entendendo… - sei que minha voz falha totalmente e que meus olhos estão ficando úmidos - Hermione, olha… - me aproximo e pego em seu braço, mas me admiro com a rapidez em que ela me repele.

- Não venha com essa para cima de mim! Não me toque. Sua pele é muito superior para a de alguém boba e estúpida como eu. - ela grita e sinto que já estou chorando - Não chore, covarde. Você que quis assim.

Só agora noto que talvez ela tenha ouvido a conversa inteira, de alguma maneira.

Em seus olhos, não vejo a mesma inocência e visão sobre o mundo de antes. Vejo pura raiva, sua tempestade se tornou um furacão de pura fúria. Suas mãos ainda estão cerradas, mas percebo que ela carrega a varinha em uma delas. Não há lágrimas, somente rancor.

Isso não tem como acabar bem.

 

 





 


Notas Finais


Okaaaay! Não me matem, sério. Era necessário parar por aí, porque esse é um momento muito pessoal da Hermione. Aliás, quero ver quem descobre como a Hermione ficou sabendo disso. Eu dei uma dica alguns capítulos atrás, será que alguém lembra?

Ps: não fiquem bravos com a Herms pelas coisas que ela disse e vai dizer ainda. Ela está desolada e vai ficar por um tempo.

Beijos!


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