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História Boss - Pandora


Escrita por: AllyMannEvans

Notas do Autor


Ooi, gente! Tudo bem?
Desculpa a demora para postar esse capítulo! Queria ter escrito e postado durante algum momento dessa semana, mas infelizmente não foi possível. Eu curti bastante escrever esse capítulo então espero que vocês também gostem bastante dele!

* Obrigada por todos os comentários do capítulo anterior, vocês são incríveis! Amo vocês <3

* Tem bastante gente que tava me pedindo pra essa personagem aparecer na fic, então eu finalmente coloquei a Astória no meio, haha!

* Comentem, favoritem, divulguem! Beijo, beijo! Até o próximo!

Capítulo 19 - Pandora


    Hermione talvez nunca acreditaria se eu lhe contasse, mas livros trouxas sempre me interessaram mais do que bruxos. Esse sempre fora um segredo só meu, já que sou de uma família que tecnicamente segue os costumes bruxos, mesmo que de uma forma muito extremista.

    Acho que isso se deve em grande parte à constante dúvida remanescente nas cabeças dos que não conseguem fazer mágica como nós. Não que os bruxos não tenham dúvidas. Longe disso. Mas creio que para nós tudo foi sempre muito “bem” contado, vulgo jogado na cara como se fosse a verdade.

    Sabemos quem foi o maior bruxo da história, não respeitamos nenhum tipo de divindade como os trouxas fazem porque a entidade que veneramos não é onipresente: foi um bruxo, como todos nós, que até mesmo foi da Slytherin.

    Merlin.

    Essa é a nossa história. Sem muitos detalhes, sem muitos questionamentos. Não sabemos quem criou nosso mundo, não sabemos muito sobre nada. Mas também, ninguém parece muito interessado em perguntar, então eu prefiro ler sobre as dúvidas que não são minhas, mas ocupam minha mente pelo menos.

    Certo conto sempre me chamou atenção, ainda mais no atual momento em que vivo. Há duas versões sobre ele. Começando pelo início, como deveria ser, é resumidamente assim:

    Antes de criada, a Terra era uma massa de aspecto uniforme e confuso, denominada Caos. A água, a terra e o ar estavam sempre juntos, dando essa característica perturbadora. Quando Deus e a Natureza resolveram separar tudo, as coisas começaram a ter a aparência atual. Água líquida, terra sólida, ar transparente. Um segundo deus se responsabilizou por dar lugar aos rios e aos lagos, erguer montanhas, criar florestas, etc. Esse deus criou os animais e os colocou em seus devidos nichos ecológicos.

    Prometeu, um titã remanescente, misturou terra celestial com água e criou então o animal mais nobre, à imagem e semelhança dos deuses: o homem. Porém, todas as qualidades já haviam sido dadas para os animais e não havia nada de especial que os homens pudessem ter para que fossem superiores. Com a ajuda de Minerva, que acendeu sua tocha no carro do sol, o fogo foi dado ao homem.

    Então a estória toma dois rumos diferente. Há os que digam que Júpiter, o deus maioral, não gostou que o fogo fosse entregue para os homens, e quis se vingar de Prometeu e de seu irmão Epimeteu dando-lhes um presente. Há os que digam que o presente dado por Júpiter foi de bom grado, para agradar o homem.

    Eis que a primeira mulher do mundo surge. Cada deus deu-lhe um benefício: beleza, persuasão, música. Era linda, mas tinha uma curiosidade indevida. Seu nome era Pandora.

    No conto, ela se casa com Epimeteu. Em uma das versão, diz-se que seu marido tinha em casa uma caixa em que guardava todos os malefícios que não deu aos animais. Curiosa, Pandora abriu a caixa e deixou esses males escaparem. Ela tentou fechar a caixa rapidamente, mas era tarde demais. Tudo já havia saído: a tristeza, a fome, a raiva, a mentira.

    Na outra versão, Júpiter deu como presente de casamento uma caixa com todos os bens do mundo. Curiosa novamente, Pandora abriu a caixa e deixou que todo bem escapasse e o mundo virasse em calamidade.

    Nas duas versões, algo em comum: somente uma coisa sobrara na caixa depois que Pandora fechou, e é exatamente essa a única coisa que permanece com a gente nos piores momentos, a não ser que tentemos abrir a caixa e deixemos que escape: a esperança.

    “A esperança é a última que morre”.

    Quando olho nos olhos de Hermione e percebo que ela não está entendendo minha cena com Gina e que está com mais raiva que antes, me pergunto novamente se eu deveria abrir minha caixa de Pandora e deixar a única coisa que restou entre nós dois escapar. É tudo que eu tenho perguntado para mim mesmo ultimamente.

    Aquela ligação que ela ouviu foi como deixar todos os males saírem. Agora, Hermione está fria e impenetrável, como se não se importasse mais com nada disso. Alguns dias atrás eu a ouvi chorando dentro da própria sala, mas não foi por mim.

    É como se ela só se importasse com o fato de ter sido traída, como se tivesse esquecido quem éramos e como nos importávamos com ela. Como se não fosse necessário. E eu continuo me segurando naquele último fiapo de sentimento, naquela esperança que ainda não escapou.

    É tortura, admito. Mas é basicamente o que ainda me mantém com um sorriso e piadas animadas a cada dia que passa, mesmo com toda a frigidez de Hermione. Estou ficando mais desanimado aos poucos, mas esse sentimento é o que me diz que quanto mais eu tentar, mais o coração dela vai amolecer.

    Quando ela bateu a porta dela e nos deixou falando sozinhos, cerca de cinco minutos atrás, eu estava pronto para tentar novamente no outro dia. Gina deixou algumas lágrimas escaparem, mas se animou com o que eu disse.

    - Pode parecer estranho, mas a reação dela foi boa. Ultimamente ela não tem feito nem isso. Tem somente falado friamente e sem se importar muito. Hoje ela teve uma reação, Gina. - sorri amigavelmente - Ela vai acabar voltando ao normal, eu sei que sim.

    Aquela chama ficou mais forte com sua reação. Com ela demonstrando sentimentos, com ela deixando claro o quanto se importa com isso. Ela ainda pode estar muito magoada, mas comigo e com Gina tentando, ela se desequilibrou, deixou parte daquela armadura quebrar. Hermione estava cedendo aos poucos.

    - Draco… - a ruiva começou a falar - Você é o único que ainda não desanimou. Ah, você vai me achar maluca dizendo isso, mas na verdade eu queria ter dito para você e Hermione juntos, só que não deu… - ela pareceu estar ficando nervosa, mexia nas mãos de forma inquieta e me olhava como se procurasse as palavras certas - Bem… Meus planos eram convidar Hermione e Rony junto com Luna e Jorge. Mas… Depois de tudo isso que aconteceu, é, bem… Ahm… Você vai me achar muito louca, mas você se tornou uma pessoa muito importante na vida de Hermione, e os que cuidam dela são nossos amigos também. Ela está sendo teimosa agora, mas eu sei que com sua persistência ela vai ceder. Eu… Bem, eu vou parar de me enrolar. Draco, você já é como um amigo para mim. Uma pessoa importante que ultimamente tem estado lá para ajudar em todos os problemas e, bem… Eu nem falei com Harry sobre o bebê e muito menos sobre isso, mas eu sei que ele não vai contestar, eu sou a mãe e…

    - Gina, você já está enrolando há um minuto e não falou nada até agora. - fiz uma piada e consegui sentir sua tensão amenizar quando ela riu.

    - Eu só queria saber se você aceitaria ser o par de Hermione como padrinho do meu filho com Harry.

    Sei bem que na hora eu pisquei diversas vezes sem processar direito o que Gina havia dito. Estava estático, nunca pensei que algo assim aconteceria comigo. Nunca pensei que alguma alma me daria a honra de ser o padrinho de uma criança, muito menos a Weasley que eu sempre desprezei. Ela riu da minha expressão, e eu sei que ri também de leve, mesmo que sem entender direito o seu pedido.

    Algumas lágrimas brotaram no canto de meus olhos, eu estava emocionado. Não sabia o que dizer, e Gina só ria. Então Hermione entrou, como um furacão tempestuoso e olhos raivosos.

    Agora, olhando para ela, sei que está mais intacta que antes. Hermione não está mais frágil. Ela parece, na verdade, ter certa raiva no olhar. Ao me ver emocionado, suas feições ficam levemente confusas, apesar de permanecerem duras.

    - Posso saber o que está te mantendo aqui por tanto tempo? - ela fala com uma calmaria absurda - Malfoy está trabalhando.

    Gina olha em meus olhos, mas não se deixa abalar por Hermione. Parece muito contente pela minha reação. Dá um sorrisinho de canto quando se vira para sair, ignorando com elegância as palavras de Hermione.

    - Estou indo. - ela profere com um quê de ironia na voz, como se estivesse achando graça na situação - Pense na minha proposta. É importante.

    - Vou pensar. - respondo, sentindo uma satisfação interior por saber que estou fazendo Hermione curiosa sobre o assunto - Mas você deveria contar para o Potter antes da minha resposta. Ele tem que saber.

    A ruiva assente me olhando nos olhos com gentileza, como se dissesse “tudo bem, vou contar hoje à noite”. Dá uma risadinha, olha para Hermione por cortesia, logo depois indo embora.

    Respiro fundo, olhando para a porta. Não sei se devo virar meu rosto para Hermione. Ela parece estar realmente fria dessa vez. E eu estou tão cansado de tudo isso.

    Pego mais um relatório na mesa, olhando atentamente o problema retratado no documento, decidindo ignorá-la. Para ser sincero, não quero brigas ou provocações. Minha cabeça já está muito ocupada pelo pedido inusitado de Gina.

    Padrinho…? Do filho de uma Weasley? Isso parece uma realidade tão distante do que minha vida normal geralmente seria. Se alguém falasse para mim que estaria acontecendo algo assim atualmente, o meu Draco de Hogwarts riria com escárnio, porque é algo simplesmente muito fora do normal para um Malfoy.

    Eu nem mesmo sei se já houve alguma geração de nossas famílias que se deu bem.

    - Desde quando são amigos? - minha chefe pergunta, e consigo perceber com certa satisfação que ela está soando mais curiosa do que estaria, se realmente não se importasse.

    - Desde que você teve a ideia de me fazer parecer melhor aos olhos das pessoas. Acabou que Gina e eu somos muito parecidos. Nos damos bem. - falo com honestidade encarando seus olhos, porém não faço questão de soar muito íntimo.

    A mulher ri. O vestido verde-água que usa a deixa de certa forma angelical quando em contraste com seus cabelos cacheados, mas seu rosto não tem nada de divino. Na verdade, suas feições se tornam traiçoeiras e dissimuladas subitamente, como se a partir do nada ela houvesse decidido que não era mais a Hermione que não se importava, e sim a Hermione que fazia da minha vida uma tortura.

    Seus olhos exalam curiosidade, como a primeira mulher do mundo teve ao abrir a caixa dos males. Hermione quer saber qual é meu segredo com Gina, mas não vai deixar assim tão na cara o quanto está louca pelo conhecimento. O sorriso de canto mostra que ela não sente remorso pelo que está fazendo comigo e com seus amigos, quase como se não soubesse que está nos machucando. Quase como se seus olhos estivesse vendo para dentro. Quase como se ela estivesse vendo somente a si. Quase como se realmente estivesse se perdendo.

    - Bem. Gina realmente precisará de um novo amigo agora que não tem mais a mim. Já considerou que ela está te colocando no meu lugar para tentar tapar um buraco enorme? - pergunta com certa graça na voz, com certo sarcasmo.

    Não me afeto com suas palavras, porque no fundo sei que Gina está se agarrando a mim. Não para substituir Hermione, como esta pensa, mas sim para tentar trazê-la de volta. É triste notar que vou decepcionar a mulher que quer que eu seja o padrinho de seu filho.

    - Já considerou que está sendo muito egocêntrica ultimamente, Hermione? - falo seu primeiro nome em provocação, pois já não me importo com esse emprego - Pensando sempre em si mesmo, na sua própria imagem, nos seus próprios sentimentos. É só você que importa.

    Ela sorri zombeteira.

    - Com certeza estou, Draco. - sei que ela fala de propósito também, mas o simples mencionar de meu nome pelos seus lábios me deixa aceso - Até porque eu que menti para os meus amigos somente em benefício próprio, não? - sua língua está afiada, e sei que na verdade ela fala de Gina.

    Como se soubesse que Gina não contara por não querer que fosse para longe.

    Ela se vira. Sei que o que quer fazer é entrar na sala e não falar comigo pela tarde inteira, mas não poderia perder a oportunidade de falar o que seria minha última tentativa. Como já disse: estou me esgotando.

    - Astória apareceu em meu apartamento ontem. - digo ansioso - Quer saber se estou livre para café algum dia desses. Eu não disse que não, mas não confirmei. Você sabe muito bem que eu tenho sentimentos só por você, eu nem preciso mais dizer. Acho que já ficou bem claro. Ninguém tentaria tanto. Foi Ronald que te traiu, não eu. Você não me deixa explicar, você não deixa ninguém explicar. Eu não quero desistir de você. Eu não quero desistir da gente. Mas eu não posso parar minha vida e esperar você quebrar a cara para se tocar. Isso pode demorar muito e na vida real eu seria estúpido se dissesse que existe o tal do “vou te esperar para todo sempre”. - ela continua de costas, sem me olhar ou reagir de qualquer forma - Eu estou apaixonado pela garota incrível que você era, mas você parece ter esquecido de quem foi. E eu realmente sinto que às vezes consigo chegar nela, enxergar mesmo que uma leve fagulha no fundo dos seus olhos. Só que você tem tanto autocontrole… Sempre chega mais impenetrável que no dia anterior. E eu estou ficando para trás. Estou perdendo minhas esperanças. Há uma garota muito legal disposta a tentar algo comigo do lado de fora dessa porta, e eu quero ter certeza de que realmente não temos chance alguma antes de aceitar seu pedido. Não quero brincar com seus sentimentos. Astória não merece isso. Mas você sabe que não sinto nada por ela além de afeto.

    Há um longo período de silêncio. Estou suando frio. Minhas mãos tremem, sinto que nada que eu fale será o suficiente. Há tanto que eu quero dizer, mas Hermione nem mesmo muda sua postura quando digo alguma coisa. Somente fica lá, parada, inatingível ao meu toque. Ela tem a respiração leve, mas reparo que suas mãos tremem mesmo que de leve.

    Subitamente, ela caminha para sua sala e fecha a porta, sem me responder. Algo acende em mim novamente. Ela não disse não. O fato de não ter respondido pode significar algo importante. Decido esperar.

    Não vou mais tentar nada. Não vou mais cumprimentar alegremente, não vou mais provocar. Vou fazer o papel que ela deseja que eu faça, pois sei bem que ela sabe que estou esperando uma confirmação ou recusa para seguir em frente. Respiro fundo, me sentando novamente e bagunçando meu cabelo com as mãos trêmulas, deixando algumas lágrimas caírem no papel do relatório, me repreendendo rapidamente.

Vou esperar sua resposta.

    ***

    Quase um mês se passa sem uma palavra de Hermione. Já estou sem artifícios para repelir Astória. Estou ficando envergonhado de ficar o tempo inteiro dando desculpas para seus convites, mas sem ter motivos concretos para não ir. É como se ela houvesse ignorado minhas palavras.

    Chega todos os dias com a mesma elegância de sempre, os vestidos sempre sem decote algum e os sapatos cada vez mais baixos, como se não sentisse mais a confiança para andar sobre saltos. Suas feições são mais leves que as de antes, há dias em que ela até mesmo murmura um “bom dia”, mas não passa disso. Tirando essas ocasiões, ela só mantém contato quando precisa falar sobre os processos e acordos.

    Ela está me evitando, já reparei.

    Luna e Blaise estão cada vez mais sérios no relacionamento, e acredito que não demorará muito para que namorem. Estou começando a me sentir desconfortável na casa da loira que me acolheu, obviamente não por ela, mas sim pela constante impressão de que estou atrapalhando o andamento de um relacionamento que já poderia ter engatado se eu não estivesse lá.

    Eles ainda não transaram. Sim, Luna fala comigo sobre isso. Blaise também divide o apartamento com um amigo, Theodore Nott, enquanto junta dinheiro para comprar a própria casa num prédio luxuoso de Londres. Sim, a família Zabini está tão falida quanto a Malfoy, porém Blaise não abre mão do luxo, enquanto eu só quero um lugar para morar.

    Por isso, comecei a procurar por um apartamento novo para me mudar. Ainda não comentei com Luna, mas acho que ela já sabe. Ela sempre sabe, de algum jeito. O salário do meu terceiro mês de emprego já me ajuda a ter uma vida um pouco menos dependente de Luna, por isso estou procurando.

    Recentemente, achei um local aparentemente confortável num bairro um pouco mais afastado do centro, mas não poderia ser melhor. Distância não é realmente um problema, já que posso aparatar. Assim que conseguir o lugar aqui em Londres, vou vender minha casa da França e dar um rumo para minha vida.

    Gina contou para Harry sobre o bebê há quinze dias, e tem me ligado desde então para contar sobre as maluquices de Potter quanto aos nomes e ao enxoval e para falar sobre o quanto o humor dele mudou sabendo sobre o bebê. No fundo, fico muito feliz por ele. Cresceu sem família alguma que o amasse, mas agora estava conseguindo constituir a sua.

    A Weasley me convidou para um jantar na casa dos dois na semana passada, para me convidar oficialmente para ser o padrinho, dessa vez com a autorização de Harry. Ninguém da família Weasley ainda sabe além de Bill e Molly, porque eles querem que Hermione volte a falar com eles antes de contar.

    Acho que não vão poder esperar por ela, infelizmente. Gina já vai completar quatro meses, a barriga já está aparente. Os Weasley logo saberão, e Hermione ficará de fora. Teimosa.

    Infelizmente ela teve de cancelar o contrato com o time de quadribol, mas não parece nem um pouco triste sobre isso.

Eu, obviamente, aceitei o pedido. Apesar de ainda achar estranho ser padrinho de um Potter, que foi o sobrenome do meu maior inimigo da escola, estou tentando superar. Gina já é uma grande amiga para mim e Potter até mesmo me convidou para tomar uma cerveja amanteigada em Hogsmeade um dia desses.

    Eu aceitei, pois queria me aproximar um pouco mais do pai do meu afilhado e entender bem como ele é, mas fiquei só no suco de abóbora. Harry achou engraçada minha escolha, mas decidiu não comentar nada sobre. Foi um fim de tarde agradável, admito.

    Hoje, a menos de dez dias para o início de março, estou terminando os últimos relatórios do dia e já me preparando psicologicamente para a pilha de amanhã. Hermione deixou um bilhete (ato estranho, já que geralmente ela nem mesmo me dá explicações), dizendo que iria passar o dia em reunião e que voltaria no fim da tarde com uma pilha de relatórios sobre os acordos e processos. Pelo que entendi, será algo como um resumo de todos os problemas não resolvidos muito bem pelos outros setores no ano anterior, que acabaram vindo para os que controlam as leis.

    Nós.

    Respiro fundo esfregando os dedos nos olhos e esticando as pernas com cansaço. Ouço uma batida de leve e graciosa na porta, e quando abro os olhos, vejo Astória. Meu coração se aperta. Não sei o que vou falar para ela hoje como desculpa, estou totalmente sem criatividade.

    - Parece cansado. - ela diz com um sorriso amigável se encostando ao meu balcão e me olhando nos olhos - Os expediente já acabou, garoto trabalhador. Não quer tomar um café com uma amiga? - pergunta e eu dou um sorriso amarelo.

    - Eu meio que estava esperando… - nessa hora, minha chefe entra de forma graciosa e com um sorriso levemente animado no rosto - Hermione.

    Ela está divina. Trocou o estilo que normalmente usa de vestido por um clássico da década de 50, preto e branco. A parte de cima é preta e lisa, em forma de regata, sem decote como sempre e colada ao corpo, destacando seus seios mesmo que sem o decote. A parte de baixo é rodada e volumosa, de comprimento até os joelhos, com estampa floral em preto e branco. Usa um sapato de salto baixinho e os cabelos presos em um coque clássico, com os cachos soltos um pouco a frente do rosto. De todos os dias que ela chegara, talvez esse tenha sido o mais encantador.

    Tento me controlar em respeito à Astória, que percebo que olha levemente constrangida para Hermione, como se soubesse o quão bela ela está. Já minha chefe olha para Astória com confusão no rosto que antes entrara animado.

    Ela demora um pouco, mas finalmente parece entender direito o que está acontecendo. Seu olhar fica frio e talvez um pouco triste. Ajeita sua postura com elegância, e percebo que observa Astória de cima a baixo, sem ser muito discreta.

    Paro para observá-la também. Ela usa um vestido preto liso até pouco acima dos joelhos, com um decote generoso que deixa o vale dos seios fartos aparecendo. Devo admitir: ela tem seios bonitos. Seus cabelos negros estão soltos até a metade das costas, em ondas, e ela usa um batom clarinho. Seus pés calçam saltos altíssimos, quase impossíveis para alguém como eu andar.

    Em termos de sensualidade e confiança, Astória ganha, admito. Mas Hermione exala uma graça que me deixa encantado. O vestido rodado me lembra a Hermione da escola, aquela menina certinha que se tornou posteriormente numa mulher incrível e atraente. Me lembra a Hermione por quem me apaixonei, de certa forma.

    - Estou atrapalhando algo? - Granger pergunta com uma calma desconhecida para o meu coração, mas seus olhos estão aguados demais para parecerem calmos.

    - Astória me convidou para um café. - faço questão de deixar claro, para que entenda que estou de fato esperando uma resposta nesse momento - Vai me liberar ou precisa de mim?

    Ela sabe o significado da pergunta. Não vou dizer com todas as palavras “vai me deixar ou vai ficar comigo?”. Seus orbes âmbar, cor tão rara, me encaram com certo desespero. Como se não estivesse acreditando que eu realmente fosse desistir. Dois meses. Quase dois meses sem seu perdão. Preciso seguir em frente.

    Ela parece entender que quero a resposta nesse exato momento, pois assente de leve, engolindo em seco e segurando as mãos em frente ao corpo. Esse momento todo, essa troca de olhares e esses pensamentos turbulentos não devem ter acontecido em um intervalo de tempo maior do que cinco segundos. Ficaria estranho para ela demorar tanto para responder.

    - Eu… - começa com a voz rouca, então ela arranha e garganta e se vira para a porta da própria sala - Podem ir. - faz um sinal com a mão, como se estivesse a falar “vá, vá, não importa” - Se divirtam!

    Dá um sorrisinho de leve antes de entrar na própria sala, fechando a porta e me deixando sozinho com Astória, que se notou algo não disse nada. Há um buraco em meu peito, pois finalmente começo a entender direito as coisas.

    Eu estava interpretando o conto de Pandora errado. Eu pensava que eu era a Pandora que havia aberto a caixa e deixado escapar os males quando escondi tudo de Hermione. Eu pensei que eu era o culpado, mas agora eu noto que… Não é bem assim.

    Eu não desisti, não é minha esperança que está acabando. Eu estou me movendo de acordo com o que ela faz, ela dita o que eu faço ou deixo de fazer. Esse sentimento de que não há mais esperança não vem de mim, porque eu sei bem que não vou sentir por Astória o que sinto por Hermione. Eu não quero deixá-la, porque quero tentar de novo.

    É Hermione a pessoa que não quer. É ela.

    Demoro um pouco para entender, mas aparentemente é isso. Só estou indo com Astória porque ela quis assim, só estou desistindo porque ela decidiu que eu deveria desistir. Ela abriu a caixa com todos os males quando decidiu não me perdoar e aos seus amigos também. Ela espalhou frigidez, raiva, ressentimento. Hermione foi quem deixou esses sentimentos virem à tona, mas deixou a esperança.

    Essa esperança é aquela chama que eu via em seus olhos toda vez que a alcançava com minhas provocações.

    Talvez seja uma metáfora engraçada, mas eu nunca fui um cara que ligou muito para o humor contido nessas frases que resumem minha vida. É tão simples, mas tão inevitável.

    Hermione é minha Pandora e é ela quem controla se a esperança vai embora ou não.

    E, aparentemente, ela decidiu deixá-la partir.

 


Notas Finais


Sim, final tristinho. Só que eu precisava dar um rumo pra vida de Draco, seria muita ilusão deixar que ele ficasse tentando cada vez mais sem ter resultados. É a vida: as pessoas precisam quebrar a cara pra aprender. Hermione vai precisar desse choque de realidade!

Espero que tenham gostado! Comenteeeem! Beijos!


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