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História Boss - Alguém especial


Escrita por: AllyMannEvans

Notas do Autor


OOOOOOOOOOOIE!

Gente, que saudade que eu estava de vocês, da fic, de tudo isso. Eu sempre tinha aquele negócio de que precisava postar na cabeça, mas as últimas duas semanas foram as mais corridas e cansativas da minha vida. É trabalho, prova, aulas extra, etc. Pra completar, nessas últimas duas semanas meio que me toquei que estou a fim de um amigo do meu ex e que ele nunca ficaria comigo, então talvez (TALVEZ) eu tenha passado essas últimas semanas um pouca na fossa, me iludindo pra caramba com a situação inteira, imaginando a gente juntos quando eu sei que se ele é amigo do meu ex, eu não tenho chance com ele.

Ai, ai. A Autora aqui ilude vocês na história, mas é A ILUDIDONA na vida real. Que fracasso de menina. USHAUHSAU!

Maaaaaas, estou seguindo em frente! Haha! Quero agradecer aos que me desejaram uma boa semana de provas e trabalhos! A semana foi incrível, minhas notas foram boas, estou orgulhosa de mim e eu preciso agradecer vicês por me enviarem energias positivas. Amo vocês <3

FELIZ PÁSCOA, GENTEEEEE!

Ahm, esclarecimentos sobre o capítulo passado: Draco e Astória NÃO transaram. Eu não seria louca de fazer isso com a minha Herms, ela já tá sofrendo demais.

Nesse capítulo vocês terão a presença de alguém que vai fazer a história entrar novamente nos trilhos e eu acho que vocês vão gostar dessa pessoa.

Gostaram da Caroline? Se sim, me digam se vocês querem que ela apareça mais na história.

Beijo, até o próximo! Amo vocês!

Capítulo 22 - Alguém especial


A saída de Draco foi simplesmente devastadora para mim. Depois que ele saiu do meu escritório naquele dia, minha estada por lá não havia durado quinze minutos sequer. Os soluços compulsivos me obrigaram a desmarcar todos os compromissos que eu tinha para o dia e ir para casa, onde deixei as lágrimas fluírem embaixo da água da banheira para não ouvir mais o som choroso que saía de minha garganta.

      Percebi que estava no fundo do poço quando vê-lo era tão torturante quanto não vê-lo. Bastava fechar os olhos para conseguir visualizar seu sorriso e apesar de ser uma visão pacífica, me deixava mais detonada por não ter tal paz por perto.

      Draco não era meu começo, tão pouco meu fim: era o obstáculo no caminho que me deixava empacada no meio, sem conseguir seguir em frente.

      Um dia depois de ter partido, me obriguei a ir para o trabalho (mesmo sem ter dormido nada naquela noite). Enquanto olhava para os papéis de reuniões, leis e coisas monótonas que ficariam por conta dele, não consegui evitar pensar em tudo que havia acontecido.

     Naquele primeiro dia sem ele, a vidraça da minha sala mostrou uma Londres muito maior do que realmente era e me fez perceber que tal imensidão era porque tudo parecia enorme quando o espaço entre nós também era.

    Precisei de cinco dias para notar que não tinha mais quem eu amava por perto: Draco, Gina, Harry, Rony e meus pais. Eu estava sozinha e eu havia feito isso comigo mesma de propósito. Chorei todos esses dias enquanto a ficha caía.

    Em uma semana, todo ministério comentava da demissão de Draco e sobre como eu não estava sendo a mulher produtiva que sempre fui. Me afundei no trabalho para tentar esquecer, mas tudo sempre aparecia com algum erro e logo notei que não adiantava eu tentar terminar todo trabalho que recebia quando eu não o fazia direito.

    Fundo do poço, é bem lá que eu estou.

    Como alguém consegue mudar tanto em tão pouco tempo? Como se volta ao normal?

    A partir dessa primeira semana, outras quatro se seguiram e já fazia um mês que eu estava sozinha. Hoje faz um mês, na verdade, e tudo que eu fiz foi andar pelo ministério como um zumbi, fazer meu trabalho errado e chorar toda vez que alguém pergunta se estou bem. É o que penso quando olho para o teto do meu quarto e reflito sobre os trinta dias que se passaram.

    Me levanto e ando sem ânimo até o banheiro, ligando a torneira da banheira e enquanto isso escovando meus dentes. Encaro minha face cansada no espelho, tão pálida e de aparência envelhecida. Olheiras profundas me entregam, bem como meus olhos vermelhos.

Patético.

Quando chego ao ministério, com um vestido caqui até os joelhos e com mangas curtas, fechado no peitoral como sempre, me surpreendo com Gina saindo do elevador no mesmo momento que entro. Ela para assustada, assim como eu.

Instintivamente levo meu olhar até sua barriga de prováveis cinco meses e alguns dias. Está enorme para o tempo. Ela usa um vestido listrado e sapatilhas que destaca ainda mais sua gravidez, e isso mexe com meu emocional. Olho novamente em seus olhos, quando o elevador começa a fechar novamente e ela coloca o braço para pará-lo ao mesmo tempo que eu.

- Obrigada. - ela responde com um sorriso sem graça.

Assinto, olhando-a sair do elevador ao passo que eu entro. Me viro para ela a tempo de vê-la saindo apressada do local e luto contra a vontade de chamá-la novamente. Quero muito saber sobre o bebê, quero muito saber sobre o nome, quero conversar com ela de novo.

Eu consegui arruinar com tudo que tinha em três meses.

 

***

 

    Eis um fato incontestável: a papelada é enorme e eu não consigo vencer.

    Tal fato é tão incontestável para mim quanto para Kingsley. Não demorou muito para ele notar que as coisas estavam atrasando e é por esse motivo que fui chamada para ir até sua sala naquela mesma manhã, vinte minutos atrás, para ser honesta.

    Não obedeci.

    Continuo sentada em minha própria sala, porque o simples fato de encarar uma possível discussão com ele não está em meus planos. Beberico o meu café, encarando a porta da minha sala, sabendo que ele logo estaria aqui em pessoa.

    Passados vinte minutos de batucar calmamente na mesa e tomar todo o café, ele entra com passos irritados. Kim, em geral, é um homem calmo. A única exceção para tal regra é quando é extremamente contrariado por pura birra: que é o que estou fazendo.

    Ele me encara por pelo menos dois minutos sem dizer nada, apenas com ares irritadiços. Eu abro um sorriso debochado e, admito, com certo confronto. Não estou me divertindo nem um pouco com essa situação, mas ir contra Kingsley é algo tão engraçado pelo simples fato de mostrar o quão fodida está minha vida: eu estou literalmente confrontando o ministro da magia?

    - Kim. - cumprimento - Aceita um café?

    - Você sabe que posso lhe demitir agora se eu quiser. - ele ameaça de cara e eu dou risada.

    - Mas não vai, porque você sabe que não vai achar ninguém melhor que eu.

    - Se depender do seu rendimento das última semanas, consigo achar alguém melhor que você na primeira esquina que eu passar, Hermione. - sorrio desafiadora, com lágrimas transbordando nos olhos.

    - Então me demita, Kim. É a última coisa que eu preciso para ter minha reputação destruída por completo.

    - Pare, Hermione! Você está ficando paranoica! Todos aqui lhe respeitam, todos ainda lhe acham aquela mulher incrível. Você que está se deixando levar pelo que a Skeeter maldita diz.

    - Bem, talvez a Skeeter esteja certa. Em tudo.

    Ele me olha com certa pena. Encara todos os papéis bagunçados em minha mesa, olha o café derramado no canto da sala, as vidraças sujas atrás de mim. Olha minha roupa e meu rosto na última, olha o meu cabelo mais bagunçado que o primeiro ano de Hogwarts. Por um momento, pensei que ele diria as palavras que acabariam com minha vida pra valer: está demitida.

    Mas ele não o faz.

    - Eu te conheci quando ainda estava em Hogwarts, Hermione. Uma líder nata, menina organizada, corajosa e inteligente. E eu sei que você ainda é tudo isso. Eu que fui seu acompanhante quando na batalha contra os comensais quando levamos Harry até a casa dos Tonks. Eu sei que é capaz, Hermione, mas se eu continuar lhe mantendo aqui pelo simples fato de ser capaz, mesmo quando você não faz por merecer, os rumores de favoritismo vão reinar e isso vai comprometer nossa imagem, minha e sua. Eu confio em você. Tire o resto do dia de folga, faça alguma coisa, converse com alguém que possa ajudar no que você está passando. E por favor, volte melhor na segunda-feira. Você tem três dias.

    Olho para Kim incrédula. Ele realmente acabou de me dar mais uma chance depois de ter atrasado praticamente todos os setores do ministério com minha incompetência? Levanto um pouco trêmula, os olhos deixando lágrimas escaparem novamente e encaro seus orbes quando aperto seu ombro com certo carinho, pego minha bolsa e saio da minha sala.

    O departamento inteiro me encara, uma vez que viram Kim entrando. Ignoro. Entro no elevador e decido pegar um café na lancheria antes de fazer alguma coisa, conversar com as paredes. O elevador está vazio exceto por uma mulher do departamento de esportes e lazer. Cumprimento com uma voz baixa, mas ela não diz nada de volta. Dou de ombros quando ela sai do elevador: ela sempre foi meio antipática.

    Um sopro de esperança parece ter me atingido com as palavras de Kim, mas ela é arruinada quando vejo pela vidraça da lanchonete o dono do meu tormento sentado conversando com Astória. Ele não deveria estar trabalhando?

    Não consigo me mover. O relógio enorme no hall do ministério me mostra que, na verdade, está na hora do almoço. Por isso ele está aqui.

    A conversa com Astória parece estar incrível, pois ele não me vê o encarando. Estou tremendo e chorando, sem saber bem como sair daquele local. É como uma facada quando vejo os dois se beijarem aos risos, de mãos dadas.

    Em pouco tempo a tristeza passa para raiva: ele sabe muito bem que almoço aqui. Ele fez de propósito, ele sabia que eu veria. Aperto meus punhos com força, limpando as lágrimas com força demais. Ando instintivamente até a lancheria, com o objetivo de acabar com minha reputação de vez, mas alguém me segura.

    Vejo os olhos verdes de Harry preocupados. Ele me segura com força e me puxa para longe, murmurando um “não vale a pena”. A Hermione de antigamente teria se agarrado nele e chorado até morrer. Mas não a de agora, e eu atesto isso com mais raiva do que já tive em qualquer outro momento. Me sinto traída.

    Empurro Harry para longe, murmurando um pedido de desculpas e saindo apressada do local. Não é do abraço dele que preciso. Preciso de ar puro, preciso entender como voltar ao normal ainda mais agora que vi que Draco seguiu em frente pra valer.

    Eles estão namorando? Assim, tão rápido? Por que ele faria isso de propósito, porque ele iria até lá para me machucar? Ele já não sabe que estou machucada o suficiente?

    

    ***

 

    Não sei por quanto tempo eu andei, mas com certeza foi por pelo menos duas horas. Eu sabia muito bem qual era minha direção, mas quando cheguei ao meu destino, me senti estranha. Aquela praça, cheia de crianças brincando, parecia muito mais familiar do que eu pensei que sentiria.

    Paro na esquina, olhando o local e as crianças, encarando logo depois a casa branca e enorme do outro lado da rua, onde vivi minha vida inteira. A rua onde eu morei era perto num bairro luxuoso de Londres, mas as pessoas de lá eram incrivelmente humildes. Minha casa sempre foi uma das mais rústicas e bonitas do local, e vê-la me fez querer voltar no tempo e simplesmente não aceitar minha cara de Hogwarts.

    Deleto isso da cabeça imediatamente. Sem Hogwarts eu não teria conhecido as pessoas incríveis que conheço e… E que hoje eu deletei da minha vida.

    Ando com lágrimas nos olhos até um banco que fica bem de frente para os brinquedos do local, encarando uma menina de cabelos pretos e lisos até a cintura brincando com outro menino no escorregador. Respiro fundo: fiz muito isso quando mais nova.

    Fecho os olhos, sentindo a brisa do local. Até o vento tem o cheiro característico do perfume de minha mãe. Ouço passos ao meu lado e logo uma voz que conheço falar com melodia incrível:

    - É mãe de alguma?

    Dou um pulo de susto, limpando as lágrimas com pressa e encarando a mulher na minha frente com certa incredulidade e confusão. Ela usa seus cabelos soltos, uma blusa branca e uma calça, mas parece tão elegante quanto sempre fora. Minha garganta trava, minha voz gagueja. Pisco os olhos algumas vezes quando finalmente consigo falar.

    - O que faz aqui? Pensei que estivesse na Austrália. - ela me olha com confusão.

    - Nos conhecemos? - é o que minha mãe diz ao me olhar e eu sinto meu coração palpitar de dor.

    - Eu… Era paciente sua quando menor. Mas então se mudou e nunca mais nos vimos.

    - Ah! - ela responde com um sorriso - Desculpe, querida, realmente não lembro. Qual é o seu nome?

    - Hermione Gran..per.

    - Gramper? - ela encara meus olhos, sentando-se ao meu lado com certa confusão no olhar - É, o nome é familiar, mas realmente não lembro. Desculpe.

    - Não tem problema. - respondo com a voz mais falha que deveria ser - Eu mudei bastante. Sabe como é… Criança guarda as coisas. - faço uma piada sem graça, com os olhos lacrimejando.

    - Claro. - minha mãe responde com o sorriso dócil que dava para mim - E então? Alguma delas é sua? - se refere às crianças do parque.

    Sorrio de leve.

    - Ainda não. Talvez um dia. E você? Algum filho? - pergunto com expectativa.

    - Eu e Richard nunca conseguimos depois de anos de casamento. Às vezes eu sonho com uma menina para cuidar. Uma garota tão teimosa quanto eu, mas tão corajosa quanto o pai. Mas nós nunca conseguimos. - ela admite, olhando para uma menina de vestido amarelo que brincava no gira-gira com a menina de cabelos pretos que eu estava olhando.

    - Ah… - respondo com um sussurro, sentindo meus olhos lacrimejarem ainda mais. Ela me olha confusa.

    - Ei… Você está bem?

    Caio no choro com suas palavras. Coloco ambas minhas mãos no rosto, tentando esconder as lágrimas enquanto ouço sua voz tentando me acalmar e entender o motivo de eu estar chorando. Balanço a cabeça de um lado para o outro mostrando que eu estou muito mal, continuando a deixar as lágrimas caírem e deixando que ela me abrace.

    Passa um tempo até eu conseguir me acalmar, sentindo sua mão nas minhas costas, me fazendo melhorar aos poucos. Olho para ela com os orbes inchados, e ela me olha com certa confusão, como se reconhecesse minha cara de choro. Ela sorri sem graça, mexendo no cabelo.

    - Estranho… Eu realmente sinto como se lhe conhecesse, mas… Eu não lembro.

    - Está tudo bem… - sussurro, sentindo mais lágrimas caindo, mas dessa vez não de forma compulsiva.

    Minha mãe é a mulher mais linda que conheço. Cabelos crespos como os meus, mas muito bem arrumados e brilhosos. Seu cabelo, entretanto, é de um preto lustroso que deixa qualquer mulher com inveja. Tem feições pacíficas, como alguém que te convida para tomar um chá no meio de uma segunda-feira conturbada. Seus olhos são azuis, diferentes dos meus (já que puxei ao meu pai) e os lábios são finos, com dentes bem parecidos com os que eu tinha quando mais nova. Ela tem mãos delicadas e com dedos finos e o corpo que eu acho o mais belo de todos os tempos porque eu dormia agarrada nele. Minha mãe é linda e eu gostaria de ser a adulta que ela se tornou. Estaria ela orgulhosa de mim?

    - O que houve? - ela pergunta docilmente - Você pode falar comigo… Vejo que está precisando.

    Assinto nervosa, pegando em sua mão sem permissão e notando com surpresa que ela segura de volta. Por um breve instante, penso que talvez ela sinta alguma conexão comigo, mesmo sem lembrar quem sou. Lembro das palavras de Draco, que diziam que eles sempre têm uma vaga lembrança. Olho em seus orbes e sinto uma paz que há meses não sentia e, admito, consigo sorrir de forma verdadeira pela primeira vez depois de tanto tempo.

    - Obrigada. - falo, antes de começar a contar tudo.

    Começo do começo. Falo sobre minha carreira bem-sucedida, sobre o quão inteligente era na escola e como precisei me afastar dos meus pais devido à problemas que não deveriam fazer parte da vida deles. Falo sobre o melhor amigo que me acompanhou em toda minha trajetória, o garoto que odiava, depois virou amigo, depois namorado, noivo e por fim me traiu. Falo sobre a família do noivo que me traiu e sobre como minha sogra foi a mãe que eu havia afastado por egoísmo, falo sobre minha melhor amiga que está grávida, mas não tem mais contato comigo. Falo sobre como afastei todos depois da traição, falo da agressão de Ronald, mostro para ela minha cicatriz eterna sobre a pele. Falo sobre a falta de confiança, falo sobre a pessoa que amo e como a afastei de mim por puro medo. Falo sobre o beijo que presenciei hoje, falo sobre como eu queria que as coisas voltassem a ser. Falo sobre o fracasso que estou sendo no trabalho, falo sobre o fracasso que está sendo minha vida. Falo sobre a falta de disposição, falo sobre a vontade de acabar com tudo. Falo sobre a saudade que sinto de meus pais e falo sobre os vestidos que não tenho mais coragem de usar. Falo sobre o gosto do café que o garoto que amo fazia, falo sobre como a nova namorada dele é bela. Falo sobre como eu sinto falta do meu melhor amigo, falo sobre como eu queria que tudo voltasse ao normal. Falo sobre o grande trauma que estou levando no coração, falo sobre como minha alma foi corrompida por alguém que não queria meu bem e como eu corrompi a alma de pessoas que queriam. Falo sobre o bebê da minha melhor amiga e sobre como sonho com sua aparência, mesmo sabendo que provavelmente não serei parte de sua vida. Falo sobre o meu sonho de ser mãe e de me casar, falo sobre tudo que foi destruído em um curto período de seis meses. Falo sobre o passado e falo sobre as perspectivas que tinha para o meu futuro. Falo sobre a decepção que é saber que meu eu do passado não teria orgulho do meu eu do presente, falo sobre como tenho medo de voltar para os meus pais e eles me odiarem pelo que fiz. Falo sobre o que já doeu e sobre o que ainda dói. Falo sobre o que mudou e sobre o que não deveria ter mudado.

    E enquanto falo, ela me ouve. Ela me ouve como me ouvia aos meus onze anos no natal, enquanto contava sobre a gigantesca Hogwarts. Ela me ouve como me ouviu quando contei sobre o meu primeiro beijo com Krum e como foi horrível. Ela me ouve como ouviu quando contei sobre o início de namoro de Ronald e sobre como eu e Harry estávamos sofrendo por amores que aparentemente não eram correspondidos. Ela me ouve e me ajuda a passar pela escuridão, mesmo sem saber quem sou, mesmo sem saber que vê-la dói no fundo da minha alma.

    Ela está ouvindo todos os meus problemas, mas ela não ouviu tanta coisa que deveria ter ouvido. Ela não ouviu quando beijei Rony pela primeira vez, ela não ouviu quando ele pediu a minha mãe, ela não ouviu quando eu sonhei em ter filhos e não ouviu sobre minhas ideias sobre o casamento. Ela não me ouviu quando minha cabeça estava confusa sobre meus sentimentos para com Draco e Rony. Ela não me ouviu, ela não fez parte.

    Agora eu entendo o que Draco dizia o que era uma vivência triste. Eu a privei do papel de ser mãe.

    - O que seu noivo fez foi covardia. Você não deveria se envergonhar disso, ele deveria. Você é uma garota linda e eu tenho certeza que pode arranjar alguém melhor. Tenho certeza que você é tão bela quanto a namorada do menino que você diz amar. O que é para ser, vai ser, minha querida. Não importa quantos obstáculos surjam no caminho. Se é para ficarem juntos, vocês irão. Mas você não deve descontar essa raiva que sente dentro do coração nele só porque ele está seguindo com a própria vida. Isso não vai lhe fazer se sentir melhor, eu garanto. Você vai se afundar ainda mais nesse buraco se descontar sua raiva em pessoas que estão seguindo em frente. Você era uma pessoa confiante antes desse garoto, antes do seu noivo. Você era bem-sucedida, inteligente, determinada. O que você deve fazer agora não é tentar achar culpados, e sim tentar achar a si mesma no meio dessa confusão que está a sua cabeça.

    - Mas como eu faço isso? - pergunto com os olhos úmidos - Tem sido difícil me sentir confiante novamente depois de tudo.

    - Você não deve se cobrar tanto. As coisas voltam ao normal aos poucos, não do nada. Primeiro você precisa parar de se importar tanto com o que os outros pensam de você, você deve confiar na sua capacidade. Quando nem você acredita em si mesma, não há quem possa acreditar por você. Erga a cabeça, vá à luta. Desconecte da cabeça a ideia de que você só é boa se tiver aquele garoto por perto. Seja autossuficiente, como sempre foi. Recupere a sua confiança, para depois recuperar aqueles que confiam em você. E para isso, você precisa de um tempo para si. Para se conhecer novamente. A confiança não está só no corpo, está na alma. E você só precisa recuperar aquilo que tiraram de você. E eu sei que é possível.

    - Mas… E os meus pais? E os meus amigos?

    - Eles estão lá por você, eu garanto. Estão só esperando que você acorde e volte. Você tem que entender que eles têm vidas, que eles tambêm precisam continuar. Eles não vão viver por você. Mas eu garanto que no momento que você precisar, que você aceitá-los de volta, não hesitarão em o fazer. Se eles realmente são seus amigos.

    - E meus pais?

    Ela olha bem no fundo dos olhos e dessa vez lacrimeja também. Seu olhar fica vago por um instante, antes de sorrir de canto e massagear meu ombro, se levantando.

    - Estão te esperando. Desde que você partiu. Eles só precisam que volte.

    - Sra. Granger…

    - Eu preciso ir, Hermione. Tenho coisas para fazer, mudança. Voltamos da Austrália faz só três dias, temos algumas caixas para ajeitar. Pense bem no que estou dizendo. - mexe em meus cabelos com carinho antes de sair andando novamente, e eu olho suas costas sentindo meu coração pesar à medida que se afasta.

    - Eu vou voltar. - murmuro para mim mesma, arranhando minhas coxas de forma nervosa e olhando o portão da minha antiga casa sendo aberto por ela - Eu vou melhorar e vou voltar finalmente. Espere por mim mais um pouco, mãe.

Espere até eu voltar a ser a sua Hermione.

 

***

    

Tomando café e vendo as flores florescerem, percebo que tudo deu errado na minha história e de Draco desde o momento em que nascemos. Uma trajetória montada pelos erros. Ele cresceu odiando alguém como eu, e eu cresci odiando gente como ele. Hogwarts não nos deu uma oportunidade, Lucius Malfoy não nos deu uma oportunidade, nosso sangue não nos deu uma oportunidade.

    Slytherin e Gryffindor: dois lados da mesma moeda, tal como amor e ódio. Será possível que ainda daríamos certo depois de tanto tempo?

    Respiro fundo, bebericando o café novamente e olhando para mim mesma no espelho do canto da minha sala. Sorrio. Hoje, quando acordei, decidi que tentaria. Nada mais de chorar o tempo inteiro, é tempo de mudar. Eu preciso ser eu mesma se quiser quem eu amo de volta.

    Por isso, decidi que não precisava mais usar sapatos rasteiros. Sendo um dia frio no clima seco da primavera londrina, eu coloquei uma bota preta de salto, não alto como costumava usar, mas o suficiente para um recomeço. Coloquei um vestido branco, um pouco mais curto do que os que eu estava usando, de manga comprida e sem decote algum. Não é bem um exemplo de confiança extrema, mas é sim algo mais ousado do que o que estava usando.

Admito que minhas pernas tremeram o caminho inteiro até a minha mesa, mas eu não me deixei fraquejar. Ergui a cabeça, com os punhos cerrados e com a vontade de chorar e correr dos olhares de todos trancada bem na garganta, pois não permiti que tomasse conta. Eu preciso mudar. Eu preciso que as coisas voltem ao normal.

Agora, me olhando no espelho, percebo que o pesadelo havia amenizado de certa forma. As pernas, mesmo que ainda trêmulas, estão mais confiantes. Passo os dedos singelamente pela cicatriz, respirando fundo. Dou as costas ao espelho e ando apressada até minha mesa, sentando na cadeira de couro e pressionando o botão que chamava o departamento inteiro.

- Andrew, poderia vir até a minha sala, por favor? - digo com a voz confiante do que estou fazendo.

Fecho os olhos e respiro fundo, esperando até que o administrador do departamento bata na porta e entre, um pouco confuso. Sorrio para ele.

- Preciso de sua ajuda. Contate o Profeta Diário e coloque um anúncio de que as vagas para assistente estão abertas. A temporada de lamentação acabou.

 


Notas Finais


E aí? Gostaram? Comentem! Beijo, amo vocês!


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