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História Boss - Seguir em frente


Escrita por: AllyMannEvans

Notas do Autor


Então. Olá, acho. Sei que muitos devem estar preocupados, outros com raiva, outros nem devem ter se importado, mas acho que eu devo uma explicação aos que se preocuparam e estiveram mandando mensagens esperando por uma resposta ou atualização. Deixe-me explicar o que aconteceu e eu espero que vocês entendam, de verdade.

No capítulo passado, acredito que eu postei num domingo ou numa segunda-feira. Um dos dois, creio eu. Na quarta-feira daquela mesma semana seria o meu aniversário, dia 19 de abril, e eu já estava planejando escrever e postar na quarta, como que um presente pra mim, sei lá. Mas.. Como eu vou dizer isso sem parecer uma chorona aqui pra vocês? Na quarta de manhã houve uma audiência no tribunal sobre um problema da minha família que me envolve, e quando meu pai voltou dessa audiência ele me contou mais ou menos as coisas que foram ditas. Para quem não sabe, gente, eu tenho dezesseis anos, ainda sou de menor, não posso participar dessas coisas. Não entrando em detalhes, as coisas que aconteceram na audiência me deixaram muito abalada, tanto que eu passei o meu aniversário inteiro chorando (literalmente). No dia 19 eu fui dormir umas 20 horas, porque eu não aguentava mais ficar com os olhos abertos, mas com o rosto inchado. Por chorar muito acabei ficando com enxaqueca e digamos que esse emocional me acompanhou pelas próximas duas semanas, afetando meu rendimento escolar. Acho que já deu para notar que não era bem um momento bom para escrever, certo?

No fim dessas duas semanas, eu estava melhorando e resolvi começar a escrever o capítulo, mas qual não foi a minha surpresa ao me deparar com o meu notebook quebrado. Tive que mandar para o conserto e eu fiquei o resto do mês sem computador para escrever, o que eu admito que foi bom para me recuperar bem do incidente. Eu não entrei no Spirit, não olhei os comentários até hoje, haviam mais de vinte notificações, e eu agradeço muito a quem se preocupou, do fundo do coração. Estou bem melhor agora, mas eu não estava té tempo atrás e agradeço por entenderem que eu nunca deixaria ninguém na mão por motivos banais. Infelizmente era algo que realmente mexe bastante comigo e enfim, foi isso. Espero que entendam!

* Gostaria de agradecer aos comentários lindos do capítulos passado e pelo apoio! Acho que falei pra todo mundo que fiquei com bastante medo de colocar a mãe da Hermione no meio porque pensei que não gostariam, mas a receptividade foi enorme. Amo vocês <3

* Muita gente me pediu por mais Caroline, então mais Caroline eu darei suahsuahsuahsa

* Gente, não queriam matar a Astória. O papel dela vai ser muito importante daqui uns dois capítulos.

* Vou parar de me enrolar que acho que vocês estão ansiosos! Obrigada pelos conselhos amorosos do capítulo passado, amo vocês, comentem, favoritem, recomendem para os migos! Beijo, beijo, beijo!

Capítulo 23 - Seguir em frente


    Ao contrário da maioria dos relacionamentos que eu já tive, após o meu beijo com Astória as coisas não ficaram estranhas. Ela, como a mulher independente que era, não pareceu necessitar urgentemente da minha companhia e continuou com a própria vida, assim como eu fiz com a minha. Conversamos após aquele beijo, rimos de algumas coisas e, surpreendemente, nenhum sentiu-se à vontade o suficiente para transar, o que significou que ela foi embora cerca de três horas depois do jantar.

    No outro dia, acordei mais cedo para tomar café com Luna. Ela, que havia feito o turno noturno noite passada, está detonada quando entra no estabelecimento com suas olheiras e cara de quem passou por um plantão dos piores. Sorrio de leve para ela quando se senta ao meu lado no sofá da mesa do canto, escorando a própria cabeça em meus ombros e dando um leve suspiro sonolento.

    - Waffles? - pergunto carinhoso e ela assente.

    - Com bastante mel e uma xícara de chá de camomila.

    - Que tal um café? Eu acho que se você tomar chá, vai dormir aqui. E eu terei que lhe levar para casa. E vou me atrasar. - respondo com um leve tom de humor na voz.

    - Não vai perder nada se acabar se atrasando. - murmura, levantando enquanto eu faço o pedido para a garçonete com cara mais sonolenta que a de Luna.

    Quando termino de pedir, olho para ela confuso, enquanto a loira olha para a janela com feições abaladas. Encaro suas bochechas por cerca de um minuto até que note que estou esperando por sua atenção e, quando finalmente percebe que estava aérea pelos últimos segundos, vira seu rosto para mim e me recebe com um sorriso constrangido.

    - Noite difícil?

    - Nem me fale. Você vai ter mais problemas que eu. - profere as palavras, enquanto pega a xícara de café recém alcançada pela garçonete e cheirando, tentando acordar de alguma maneira - A mulher que foi estuprada e torturada acordou no meio da noite num surto horrível, chorava e gritava, foi tão frustrante e doloroso. E aquele bosta de psiquiatra noturno não tem o mínimo de paciência e sensibilidade com o quadro dela, foi tão indelicado… Horrível.

    - Nem me fale. Consigo imaginar o tipo de gente que deve ser. - respondo tomando o café extremamente sem gosto daquela cafeteria, fazendo uma careta e olhando para minha amiga novamente - Mas por que você acha que eu terei mais problemas?

    - Caroline. - ela responde, e eu sinto o meu coração apertar de certa forma com a menção do nome da garota extremamente parecida com Hermione - Contraiu uma bactéria de Matt, o paciente do canto que eu estava atendendo ontem, lembra? Foi de extrema irresponsabilidade do hospital colocar os dois juntos, já fazia dias que eu estava falando para a coordenadora que Matt deveria estar num local isolado, mas ela insistia que o quadro dele não era tão grave. Caroline já estava com a imunidade baixa por conta de uma gripe mal curada, acabou contraindo a bactéria. Começamos com os medicamentos imediatamente, mas ela teve uma reação alérgica muito séria ao medicamento.

    Sei que empalideci mais que o normal. Não posso dizer que fiquei muito abalado ou tremendo, até porque não sou muito próximo (e nem posso ser) da minha paciente, mas ouvir que a garota prodígio e idêntica ao que Hermione era na época de escola teve tanta infelicidade para uma única noite me deixou com toda certeza um pouco frustrado.

    - Qual é o quadro? - pergunto, bebericando o café e pensando nos cabelos volumosos provavelmente em meio aos bipes da...

    - UTI. - dito e feito - Anafilaxia. Ela tem rinite alérgica desde pequena, o que facilitou bastante o quadro. Houve colapso circulatório e se não tivéssemos tratado com urgência era bem provável que o quadro elevaria para óbito. Foi… Pesado. Agora temos que cuidar para não evoluir para uma anemia hemolítica. Os próprios anticorpos dela atacaram as hemácias, e como ela é hemofílica temos que ter um cuidado para que ela não se corte. Eu fiquei com pena dela, honestamente. Foi uma garota forte.

    Assinto de leve, evitando dizer qualquer coisa sobre isso. Luna já havia notado o quanto a garota lembrava Hermione, então também não falou nada por provavelmente saber que eu estava preocupado. Colocou novamente a cabeça em meu ombro como que buscando por um afago, a qual eu atendi prontamente.

    Comemos em silêncio. Ela mal toca em seus waffles, o que não é um bom sinal. Sei que algo perturba sua mente, mas até então eu não havia me tocado que era algo que estava realmente afetando seu emocional. Para uma garota como Luna, consigo até imaginar o que mudaria drasticamente seu jeito de ser.

    Ela dava muito de si, mas tardou a perceber que frequentemente as pessoas não retribuem tão assiduamente quanto ela. A antiga Luna era capaz de acreditar que até mesmo Voldemort tivesse algo de bom, mas creio que depois de tudo que viu na guerra e agora em hospitais, um lugar que não deveria ser tão corrompido quanto realmente é, talvez tenha caído em si. Perceber o que está acontecendo a nossa volta nunca é uma etapa agradável e eu sou perito no assunto.

    Fui criado por Lucius Malfoy e ele me fez acreditar que o único caminho de verdade era a pureza no sangue e a soberania sobre quem era menor. Ele conseguiu corromper mais de uma pessoa com esse pensamento. Conseguiu corromper a mulher que faria qualquer coisa por amá-lo. Minha mãe.

    Quando eu percebi as atrocidades necessárias pelos ideais que haviam sido ensinados a mim, comecei a cair na real. Notei o quão corrompido era aquele pensamento. E como eu disse, não foi fácil para mim e nem para minha mãe (quando esta notou que nem mesmo o amor pelo meu pai tinha direito de mudar o caráter de alguém). Eu caí no alcoolismo e minha mãe teve depressão.

    A mudança nem sempre é um processo agradável. Notar o que realmente acontece nunca é um processo agradável. E eu realmente desejava que alguém como Luna não tivesse que passar por isso porque ela realmente merecia viver para sempre em um mundo em que todos tivessem gratidão pelo que ela faz e suas atitudes fossem recíprocas.

    - Como andam as coisas com Blaise? - pergunto casualmente, passando mel em um de seus waffles e lhe alcançando, praticamente a obrigando a comer.

    Fico feliz ao vê-la sorrir.

    - Você nunca me contou que seu melhor amigo era tão doce. Ele se esforça tanto para que tudo dê certo que eu me sinto uma princesa perto dele.

    - Uma princesa que está apaixonada por um bobo da corte, porque é o que Blaise sempre foi perto de mim. - faço piada e o som de sua risada me acalma um pouco da angústia que é vê-la mal.

    - Isso tudo é ciúmes? Não vou te trocar por ele.

    Sorrio. No fundo, eu sabia que Luna nunca seria capaz de se afastar de mim por causa de um namorado, assim como eu nunca faria isso com ela agora que estou com Astória. O meu medo, na verdade, era exatamente o contrário: ela achar que eu estava me afastando dela por preferir uma amizade com Gina, por exemplo. Mas minha melhor amiga é tão amena sobre toda a situação, que até parece feliz quando menciono que estou me dando bem com aqueles que não eram meus amigos na escola.

    - Tem ouvido algo sobre o Weasley? - pergunto, como que numa ideia abrupta que surgiu na cabeça.

    - Gina me disse que as coisas em casa estão tensas entre todos porque ninguém o apoia. Ele está errado, obviamente. A Sra. Weasley está tentando fazer as coisas voltarem ao normal, afinal ela é mãe, não vai ignorar o próprio filho. Mas da parte do Sr. Weasley e dos irmãos dele está pesado. Harry também tem estado sem paciência com Rony, mas sempre que conversam evita mostrar o quão irritado está. Ele ainda acredita que as coisas vão voltar ao normal, mas apesar de eu acreditar que Hermione vai sim cair na real e perdoá-lo, ela nunca mais vai olhar na cara do Rony e vê-lo como o herói que ela via nele antes. Enquanto isso, o ministério tá caindo em cima. Ninguém aprova, acho que ele só não foi demitido porque o chefe dele é o Harry e ele é amigo do Kingsley. Depois daquele Sectumsempra no meio da festa a credibilidade dele caiu totalmente. Ele quase matou uma das pessoas mais influentes do mundo bruxo, isso pesa na ficha de qualquer um.

    A imagem do corpo de Hermione marcado por rasgos enormes aparece imediatamente em minha cabeça como um fantasma. Se eu não tivesse agido rápido, ela realmente estaria morta. A ideia me afronta de maneira irreversível, e sinto um calafrio por todo o corpo como se o próprio Barão Sangrento tivesse passado através de mim. Como havíamos deixado tal situação chegar tão longe?

Sinto as mãos de Luna em meus ombros, como que me confrontando, e uma leve alegria me invade mesmo com tais pensamentos: é bom saber que nos apoiamos quando ambos temos pensamentos ruins.

- Como foi a janta com a Greengrass?

Olho de forma crítica para Luna, pois o tom é de deboche. Não é que ela não goste de Astória: longe disso, ela a adora. O problema da loira cabeça dura ao meu lado é que ela insiste em acreditar que eu estou extinguindo minhas chances com Hermione ao tentar algo com outra, seja lá quem essa outra for. Ela realmente acha que ainda existia possibilidade de ficarmos juntos, talvez seja a única que realmente acredite nisso. Por isso ela faz qualquer pergunta que envolva Astória em tom de piada: para ela, não é nada mais que um “blackout” de bom senso entre minha chefe e eu. Logo as luzes se acendem e percebemos a burrada.

Gostaria de ter esse ponto de vista otimista que ela tem.

- Nos beijamos. - fui direto ao ponto, porque não adiantava enrolar com ela.

Lovegood assente levemente, mas sem parecer admirada. Suas feições, na verdade, são quase como um “eu imaginava que isso iria acontecer”. Parece levemente decepcionada comigo, enquanto suspira e termina o waffle que eu havia lhe dado, bebericando o último gole de café na xícara e constatando com leve desgosto que já estava frio.

- Acho que deveríamos ir embora.

- Você poderia pelo menos fingir estar feliz por mim.

- Não vou fingir estar feliz pela burrada que está fazendo. - fala como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, dando uma risada sarcástica logo depois e um tapinha em meu ombro, deixando dinheiro na mesma ao mesmo tempo que eu.

- Eu já disse mil vezes que tentei diversas vezes e Hermione é que não queria.

- Óbvio que Hermione queria, mas você não está entendendo o lado dela.

- Ela também não está entendendo o meu! - retruco indignado.

- Deixe de ser egoísta, a garota tem a merda de uma cicatriz entre os seios, Draco. - minha melhor amiga sussurra, mostrando-se igualmente irritada - E você é um bom partido, com todo o respeito do mundo. Você é extremamente bonito, Draco. Tem noção de como o psicológico dela deve estar? Ela não deve ser achar a altura de um homem como você, e deve se achar mais inferior ainda quando vê mulheres decotadas e de salto como Astória.

- O problema dela não é esse! O problema dela é eu não ter contado para ela sobre a traição. - Lovegood bufa irritada, abrindo a porta da cafeteria e me olhando com certa raiva.

- É óbvio que ela vai dizer isso para todos. Vocês só olham o superficial e ela sabe disso.

E aparata sem se despedir.

 

***

 

Não tenho tempo para pensar em minha briga com Luna. Quando chego ao hospital, os pais de Caroline já me esperam na recepção. Parecem indignados, e eu não tiro a razão. Suas feições parecem literalmente as expressões de quem diz “ah, queridinho, você não sabe o processo que vai cair em suas costas e na do hospital”. Respiro fundo.

Percebo que parte do problema está na execução das leis mágicas, que certamente passaria por Hermione em um processo. É terminantemente proibido, por lei, alojar um paciente com uma bactéria/doença transmissível junto de outra pessoa que possa contrair tal problema também. Honestamente, o que o hospital estava pensando?

A cara de Hermione vem à minha mente. O pensamento de desgosto. “Um dia no hospital e já fez merda”. Me nego a deixar que isso aconteça, pois dar o gostinho de vitória na boca de Hermione não é bem minha meta de vida no momento, não depois de tudo isso.

- Sr. Andrews. Sra. Andrews. - cumprimento, apertando suas mãos e fazendo um gesto para que me acompanhem até minha sala.

Quando abro a porta, me admiro. O ambiente está totalmente mudado. Com mais vida, certamente. Imediatamente constato que Gina esteve por aqui, mas não tenho tempo para ficar reparando nos mínimos detalhes, pois dois pais furiosos estão a sentar-se nas poltronas que, apesar de serem confortáveis, são o símbolo perfeito do “eu não deveria estar tendo que fazer isso”.

- Aceitam uma xícara de café? - pergunto com certo receio.

- Acredito que nenhum de nós estejam aqui pelo café, Sr. Malfoy. - diz a mulher com frigidez, e de certa forma me lembra imediatamente minha mãe: cheia de elegância e classe, com uma postura impecável e olhos capazes de matar.

- É. Certamente. - assinto, ajeitando meu jaleco ao sentar-me, pensando com desespero que eu não deveria estar passando por isso às 07h30min da manhã.

Respiro fundo, pegando o relatório posto sobre a minha mesa provavelmente por Luna, olhando atentamente o quadro de Caroline e pensando nas palavras mais delicadas a serem ditas. As palavras de minha melhor amiga ecoam em minha cabeça quando olho para os pais de Caroline de novo: “vocês só olham o superficial”. Eu sei que essa família está olhando somente o superficial do fato de a própria filha ter quase falecido na noite anterior. Eles não estão pensando que “ah, o médico é novo, vamos dar uma chance para ele” ou “ah, mas ele nem estava aqui na noite anterior, não vamos descontar nele”.

- Bem, eu realmente sinto muito por toda essa situação, honestamente. Quando eu saí do meu plantão ontem à noite Caroline, digo, a Srta. Andrews estava muito bem. - começo, pois reconheço que não tem nenhuma desculpa que possa livrar o hospital.

- Veio ao nosso conhecimento que nossa filha estava internada com um paciente que havia contraído uma bactéria e havia o conhecimento de vocês nessa história. Caroline quase morreu e ainda… Ainda tem risco de ter complicações por causa de uma negligência do próprio hospital. - o homem que fala dessa vez e eu concordo com ele, olhando o relatório da garota e tentando achar um jeito de contornar a situação.

- Bem.. Imagino que não tenha palavras para descrever o quão errada toda a situação está, mas se me permitirem tentar explicar…

- Ah, eu adoraria uma explicação. - os lábios da mulher tremem, e eu percebo certa semelhança entre suas feições com as da filha.

- Bem, eu fui contratado essa semana, não era do meu conhecimento que ele tinha uma bactéria. Se eu soubesse, teria feito algo imediatamente. Pelo que minha colega do turno da noite relatou, ela já estava falando sobre essa irresponsabilidade há mais de uma semana, quando o paciente chegou. Não é da política dos médicos fazer isso, até porque juramos a nos comprometer para salvar e melhorar a qualidade de vida dos nossos pacientes. Caroline, se me permitem usar o primeiro nome, é uma garota incrível, eu nunca deixaria algo assim acontecer com ela. Ter contraído uma bactéria foi realmente uma fatalidade, porém negligência do hospital. Por isso sugiro que falem sobre isso, e eu realmente apoio, com os membros da coordenação hospitalar. Mas, por favor, não culpem os médicos que estão tentando de tudo muito antes de eu chegar.

Os dois se olham, como se pensassem sobre minhas palavras. No fundo, eu cruzo os dedos para que dê certo, mas sei que não é o suficiente quando a mulher abre a boca para fazer mais perguntas sobre o fato de Caroline ter ido para a UTI.

- Vocês a medicaram errado. Isso foi erro médico.

- Sra. Andrews… - abro o histórico da garota, o mostrando para os dois - Como podem ver aqui, há uma lista que pedimos para que os responsáveis sempre preencham sobre medicamentos que causam reações alérgicas. Os remédios que demos para sua filha não constam aqui, e eu posso pegá-los na farmácia do hospital agora mesmo se assim desejarem. Acontece que certos medicamentos causam efeitos à longa data, gradativamente, sem sintomas até atingirem realmente o ápice. O fato de Caroline ter reagido à eles justamente ontem à noite foi porque a imunidade já estava baixa e o sistema afetado. Ela havia recebido sangue pouco tempo antes, corpo em fase de adaptação, é comum os sintomas se manifestarem nesse período, por isso evitamos entrar com medicamentos logo após procedimentos assim. Infelizmente ela contraiu a bactéria e nos obrigamos a fazer isso. Nunca daríamos o medicamento errado se soubéssemos que ele era o errado.

- E ela ficará melhor? - o homem pergunta, e com certa graça percebo que ele é mais pateta que a mulher ao seu lado, que permanece dura em relação ao que falo.

- É uma menina forte. Gryffindor, afinal. Tenho certeza que se todas as recomendações forem seguidas direitinho, dentro de um mês ela sai do hospital. - percebo que ainda há certa dúvida no olhar de mãe da menina, por isso tento fazer uma proposta razoável - Que tal assim: vocês têm dois anos para entrarem com um processo contra alguma instituição. Por que não pensam sobre isso mais alguns dias? Eu entendo querer processar o hospital, mas a equipe médica realmente tem feito tudo que pode. Eu acredito que eles merecem consideração.

Os dois se olham novamente, mas é ela que toma a decisão final. Assente com seriedade, murmurando um “pensarei sobre isso”, levantando-se e saindo de minha sala com o marido ao seu encalço. Acredito que vá falar com alguém se existe a possibilidade de visitar a filha, o que eu acho complicado. Expiro o ar que não havia notado que estava segurando, fechando meus olhos e massageando a cabeça.

Realmente, será um dia e muito provavelmente um mês longo.

***

Um mês depois, percebo que estava correto. Dentro das cinco semanas que haviam passado, diversas coisas haviam acontecido. Primeiramente, Gina havia terminado a decoração de minha sala, o que eu achava que já tinha acontecido um mês antes. Vários quadros estavam pendurados, minha mesa tinha mais acessórios, uma estante com diversos livros que davam cor ao local, vasos de plantas, até mesmo um tapete preto. Apesar de alguns artefatos serem levemente femininos demais para mim (e que eu dispensei assim que vi, admito), a decoração havia ficado incrível.

Para minha surpresa, os pais de Caroline não processaram os médicos, mas estão movendo sim uma ação contra o hospital. Essa parte já não é mais problema meu, então não me preocupei tanto. Admito, certa parte do Malfoy antigo ainda residia em algum lugar dentro de mim.

Luna e eu havíamos nos entendido quando ela admitiu estar muito estressada naquele dia. Ela fez questão de dizer que não se importava com quem eu estava, apesar de achar que eu estava sendo burro. Tudo bem, acho que não podemos ter tudo na vida, não é?

Falando sobre Astória, estávamos indo muito bem para o meu gosto. Em um mês ainda não havíamos transado (o que eu admito ter achado meio estranho porque as pegações no sofá do apartamento eram bem quentes), mas ela era incrivelmente uma ótima companhia. Eu ainda sentia/sinto um vazio como se realmente faltasse algo, mas não posso culpá-la: sei que o problema é comigo.

Saímos quase todos os dias. Seja para encontrá-la no ministério, seja para ela me encontrar no hospital, seja em meu apartamento, seja em sua casa (que por sinal, é deslumbrante). Somos amigos, admito. Bons amigos. Conseguimos rir com as piadas, mas ainda é complicado nos comunicar sem palavras (como eu conseguia fazer com Hermione em menos de um mês).

Minha mãe já ficou sabendo de meu envolvimento com ela, mas não pareceu muito satisfeita. Para ser sincero, ela parece compartilhar do mesmo sentimento que Luna tem, fazendo das duas melhores amigas que eu nunca pensei que poderiam ser.

Quem diria que Luna Lovegood e Narcisa Malfoy teriam algo em comum, huh?

Viver em uma nova casa tem sido desafiador em todos os aspectos. Me obriguei a trocar o papel de parede sozinho quando eu nunca sequer havia lavado um prato, porque meu síndico descobriu da grande mancha ao resolver trazer uma torta de limão por puro interesse de saber como era meu apartamento por dentro.

E pensar que eu odeio limões.

A evolução de Caroline tem me deixado feliz. Hoje, exatamente um mês depois de uma recuperação difícil que a deixou inconsciente por pelo menos três das cinco semanas na UTI, ela finalmente vai voltar para o quarto, onde ficará em acompanhamento por mais duas semanas. Pego minha prancheta alegremente, porque até então não havia tido a oportunidade de conversar direito com ela porque ela parecia não estar bem-humorada presa em uma cama da UTI (o que significava que ela virava a cara e ficava emburrada).

- E então, Car0line. Vai ter que se esforçar um pouco para recuperar as notas de Hogwarts, não é? - digo ácido, esperando uma resposta inteligente por parte dela.

A garota de cabelos volumosos revira seus olhos esverdeados enquanto muda a página do Profeta Diário e o encara com concentração, dando um suspiro e respondendo com uma zombaria notória:

- Vou ter que me esforçar bem menos do que você deve se esforçar para conseguir a mulher amada.

- Hey, eu… - mas paro ao me deparar que é realmente verdade: se esforçar mais do que eu me esforcei para conseguir a aprovação de Hermione (que até hoje não existe) é simplesmente impossível de superar - É, acho que você está certa.

- Óbvio que estou. Olhe para a minha cara de quem diria alguma coisa errada. Se for para errar, melhor ficar calado, não é?

Penso sobre os erros de Rony e sobre como eu fiquei calado, errando também junto com todos os outros que decidiram esconder a farsa que era aquele casamento. Respiro fundo.

- Acho que você errou dessa vez. Há momentos em que é melhor tentar a sorte e falar do que ficar calado e perceber os erros tarde demais. - digo com calmaria, anotando que a pele de Caroline está com uma tonalidade boa, o que significa que ela está bem.

- Wow. Malfoy, Draco. 2017. Londres. Inglaterra. Filósofo contemporâneo. - ela retruca sem parecer muito admirada, como se não acreditasse realmente que eu estava falando aquilo com seriedade.

- É, você é muito nova. No futuro você vai entender.

Ela dá uma risada zombeteira.

- Queridinho, não é porque você fez merda na vida que eu vou fazer também. Eu sei muito bem quais decisões eu devo tomar. - diz certa de si, virando novamente a página do jornal e olhando a parte dos anunciados.

- Conheço uma pessoa que diria a mesma coisa na sua idade. Hoje em dia ela percebe que fez muita coisa errada.

Eu estava falando de mim mesmo, é claro. O Draco de treze anos tinha muita convicção do que seria e das decisões que deveria tomar. Eu achava que o destino que meu pai me mostrava era o único que eu deveria tomar, mas olhando de uma nova perspectiva, percebo que se eu tivesse feito coisas diferentes, amigos diferentes, talvez eu pudesse ser alguém melhor e o meu destino com Hermione poderia ser… alterado?

- Que pensamento deprimente, doutor. - ainda há o tom de deboche com falta de interesse em sua voz - Vamos mudar de assunto antes que eu vomite.

Sorrio.

- E então? Como está se sentindo?

- Eu estou sendo obrigada a ficar em repouso em cima de uma cama porque tenho alergia a remédios. Estou me sentindo entediada e presa. Posso ir no pátio, pelo menos? Caminhar no sol, ganhar uma corzinha?

- Posso pensar sobre isso. Talvez seja bom mesmo. Alguma náusea?

- Só quando você entrou no quarto. - retruca, virando a página novamente enquanto eu dou uma risada.

Eu gosto muito do jeito que ela tem de ser. Meio revoltada, muito teimosa. Ela é a Hermione. Ela é a Hermione que eu não tive chance de conhecer a fundo.

- Algumas pesquisas dizem que é normal se sentir enjoado pelo nervosismo ao avistarmos pessoas bonitas demais perto da gente. - faço piada, anotando mais algumas coisas e chegando sua pressão, fazendo-a colocar o jornal um pouco para baixo.

- É característica dos Slytherins serem iludidos ou é só contigo que isso aconteceu? - reviro os olhos, passando os olhos de leve pelo jornal e me deparando com uma notícia que provavelmente não veria se ela não tivesse o colocado para baixo.

VAGAS ABERTAS  PARA ASSISTENTE PESSOAL DA CHEFE DO DEPARTAMENTO DE EXECUÇÃO DAS LEIS MÁGICAS, HERMIONE GRANGER.

O serviço inclui análise de processos simples e médios, escrita de relatórios e outras tarefas discutidas pessoalmente com a Srta. Granger no dia da entrevista, que ocorrerá na quarta-feira, dia 02 de junho. Não é necessário ter experiência profissional, porém a faixa de idade é obrigatoriamente acima dos dezessete anos, com os estudos mágicos completos. Mais informações na secretaria do departamento com Sally Monroe.

 

    Então ela finalmente estava seguindo em frente. Sei que é egoísmo da minha parte pensar que ela ficaria remoendo minha falta para sempre, mas foi isso mesmo que eu pensei que faria. O fato de saber que ela já estava procurando um substituto para mim foi uma facada, admito, mas não posso ser hipócrita de dizer alguma coisa quando eu estava quase indo para a cama com outra. Mas doeu. Doeu saber que ela estava superando do jeito dela. Sem querer jogar na minha cara, somente seguindo em frente.

    - Draco, acho que você já apertou o suficiente… - ouço a voz dolorida de Caroline e percebo que estava apertando o aparelho já fazia muito tempo.

    Me surpreendo com ela me chamando pelo primeiro nome, mas acho que nem ela havia notado. Solto e deixo que fique mais leve, me desculpando com murmúrios e anotando a pressão com certa distração.

    - Você deixa tão na cara que gosta dela. - dessa vez ela parece mais dócil do que geralmente é.

    - É. - concordo - Acho que não sei mais como disfarçar.

    - Já tentou falar pra ela?

    - Já. - dou uma risada seca - Mas eu fiz uma burrada, ela está certa de não querer.

    - Já pensou que nem tudo gira em torno de um homem? Talvez ela esteja vendo um problema em si mesma, não em você.

    Lembro-me das palavras de Luna com isso. E, apesar de saber que foi minha melhor amiga que surgiu com essa ideia, Caroline foi a primeira a me fazer notar, com palavras simples, que talvez as coisas não sejam tão simples para Hermione como eram simples na minha cabeça.

    Eu e minha mania de pensar que sou ou centro do mundo.

 


Notas Finais


E aí? Espero que tenham gostado! Beijos! E desculpe por isso novamente!


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