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História Boss and Slave II - Décima Primeira Ordem


Escrita por: Barthoviche

Capítulo 11 - Décima Primeira Ordem


Fanfic / Fanfiction Boss and Slave II - Décima Primeira Ordem

Magnólia, ano X828

Fiore, Shopping Center de Fiore

 

 

 

Lucy Korzen Heartfilia sentiu um arrepio descer pela espinha.

Não foi por causa do frio abrasivo da noite de dezembro na cidade de Fiore. A temperatura teria causado um arrepio de frio, e não de fogo por suas veias. Essa sensação já a assolara tantas vezes na última semana que era como se estivesse sofrendo com as ondas de calor típicas da meia-idade feminina. O que seria um recorde aos vinte e três anos. Mas Lucy já representava outros recordes indesejados em sua família, como ser a primeira mulher nascida entre eles depois quarenta anos, pela terceira vez, o que a representava como o azar aos que estavam a sua volta.

Sendo assim, por que não acreditar que estava entrando prematuramente na menopausa?

Não que ela achasse anormal ter os harmónios à trabalhar a todo vapor. O anormal era que isso fosse provocado por uma influência externa. Isso já a cercava a algum tempo! Começara na noite em que ofereceu a sua energia a Natsu e prolongara-se por episódios repetitivos, especialmente a noite. Era a mesma sensação que Jackal descrevia quando entrava no cio...

Mas...

Alguém espiava-a!

Normalmente ela voltava para casa com Jason, o seu atual companheiro de quarto - o amigo precisava poupar nas contas que o seu aquecedor aumentava. Mas, nesse meio de dezembro, ele viajara para adquirir um oportunidade única para entrevistar uma das Doze Bestas De Earthland! A famosa Juvia, a Hidra de Humble. O loiro só gritava 'cool' e coisas do género até entrar no avião. E Jackal informou-a para ter cuidado e seguir pelas ruas mais iluminadas, uma vez que soube de uma ameaça à Casa dos Heartfilia's.

Não que isso tivesse alguma coisa a ver com o que estava sentindo.

A loira entrara no estacionamento do shopping com a sensação de estar envolvida pelo campo de força de um olhar. E, enquanto saia, vira-se presa novamente por esse abraço eletrizante. O estranho era que não se sentia ameaçada, apenas louca de curiosidade e… animação? A mesma animação que sentia quando encontrava as suas roupas arrumadas e a louça lavada. Observou os três carros estacionados do outro lado da rua. No que estava mais próximo, um homem acabara de fechar o capô, e logo entrou no veículo e partiu. O outro também estava pronto para arrancar. E aquele que estava mais distante, um Lexus de última geração, com as janelas escuras, parecia vazio.

Antes que pudesse descobrir de onde irradiava essa energia térmica, o segundo carro subitamente acelerou. Nem sequer teve tempo para pensar, o carro parou ao seu lado e as portas foram abertas com violência. De súbito, quatro homens saíram apressados e a cercaram, mesmo antes de processar uma fuga. Corpos grandes e rostos distorcidos pela intenção maligna ocuparam a visão dela. O coração de Lucy acelerou louco dentro do seu peito e o tempo pareceu parar quando mãos se colaram em sua pele, cada uma delas provocando um sobressalto de ultraje e horror. O medo explodiu, a fúria dominou seu cérebro. Enquanto ela lutava com todas as forças que tinha para soltar-se, ouviu fragmentos de um diálogo:

– É só uma, Orga. – uma das vozes rudes disse, parecendo desapontado.

– Bora, ele disse que seriam duas. – crispou o outro, muito maior – É melhor não resolver pagar só a metade agora.

– É essa que queremos. – firmou, observando melhor a loira – Obvio que vamos receber a guita, meu!

– O merda disse também que ela iria roer-se de medo! – acrescentou – Mas ela quase que me esmagava as bolas, essa puta! – resmungava, tentando conter os movimentos violentos e enérgicos de Lucy. Pena que eles não sabiam que ela já domara cavalos selvagens, eles seriam apenas pintainhos.

– E quase tirou-me o olhos!

– Pare de choramingar e enfie-a dentro do carro!

Cada palavra deixava tudo mais claro para ela. Não era um ataque aleatório. Eles sabiam muito bem quem apanhar e esperavam por mais uma... Poderia ser Mavis?! Poderiam estar a mando de alguém que queria dizimar as famílias do norte! E a lista de suspeitos era enorme! Eram eles que a espiavam?

Não. Não podiam ser esses homens os donos da presença que vinha sentindo!

Eles arrastaram-na mais para perto do carro. Se tivessem sucesso em pô-la lá dentro, sabia que não teria mais hipóteses. Respirou mais profundamente e recomeçou a birra, arrancando sangue e gritos de dor e raiva dos homens, até que um murro a atingiu. A dor pareceu explodir no cérebro. Mas, através da névoa que ameaçava arrastá-la para a inconsciência, um de seus atacantes pareceu ser sugado para dentro de um buraco negro. A vista cheia luzes piscando não ajudava... O corpo do homem foi arremessado contra uma das laterais do prédio com um baque surdo.

Um segundo agressor aprontou-se para fugir, mas logo ouviu-se o som de algo sendo esmagado, e o sangue do seu raptor voou a poucos centímetros do seu rosto. O olhar apavorado deste encontrou o dela antes de ter o corpo esmagado com violência no chão, arrastando-a com ele. Lucy lutou para sair de baixo do peso morto, sentindo-se assustada e desorientada.

Quem viera em seu socorro?

Será que agora seria ela a próxima, depois de terem terminado o serviço com os homens que a atacavam?

O corpo que estava sobre ela foi afastado de repente e sentou-se logo na calçada coberta de neve, arfando com pesadas lufadas de ar condensado a sua volta e ela o viu...

Ele…

Um anjo caído. Imenso, sombrio, ameaçador. Assustador em sua beleza, irradiando poder e perigo. As orbes queimando em negro, o fogo circulando o seu corpo... Era quase impossível encará-lo, mas era igualmente impossível afastar o olhar. E ela sabia o quão forte ele poderia ser. Mas não podia ser ele. Estava tão diferente fisicamente que mal era possível reconhecê-lo e, além disso, o que estaria fazendo naquele lugar, àquela hora da noite?

Estivera tão certa de que jamais voltaria a vê-lo…

Natsu Dragneel!

Mas, agora que a adrenalina escapou, Lucy já não tinha mais dúvidas. Era Natsu. Uma presença remota, ainda que constante nas bocas da empresa, nas conversas das primas e no olhar do seu padrinho. O homem cujo rugido ainda latejava nos seus ouvidos. Ele agora encarava os dois assaltantes com uma expressão muito fria no rosto único, o cabelo mais curto, o corpo forte coberto por um casaco que o vento fazia voar ao seu redor, como criaturas furiosas das profundezas.

Os homens, recuperados do choque e partiram para cima do rosado, rosnando, empunhando canivetes. O medo voltou a domina-la. Sem ser incomodado pelo grito que ela deixou escapar ou com o ataque dos homens, Natsu manobrou o corpo como um toureiro, aproveitando a falta de atenção dos seus atacantes. Ele mexia os braços e as pernas em uma coreografia de precisão letal, sem emoção, sem piedade. Parecia um demónio vingador, feliz em caçar uma presa repulsiva. Quando ela finalmente conseguiu erguer-se nas pernas, ele já impregnara os dois homens na parede do prédio. Um deles inconsciente e o outro lutando para respirar.

Acima do gemido do vento, ela ouviu os rugidos que Natsu deixava escapar. Não pareciam humanos. Por um instante, ela pensou que talvez não fossem mesmo. Mas ele não era de todo humano! Mesmo assim parecia possuído por algum tipo de entidade que só se sentiria satisfeito com a vida daqueles homens. Essa ideia puxou-a do torpor.

– Vais mata-los! – choramingou, ficando atrás dele.

Diante do protesto ofegante dela, Natsu virou-se e, pelas estrelas, ele estava assustador!

O que acontecera com ele? Ela mal parecia com o homem quer a fazia gemer só com um toque, que confundia os seus pensamentos só com uma frase e que quase se julgara apaixonada. A expressão vazia e assustadora em seus olhos, os dentes animalescos à mostra, como uma besta pronta para matar.

E aquela cicatriz…

– E depois? – respondeu, queimando numa fúria desconhecida.

A loira estremeceu. A voz de do dragão reforçava a impressão de que ele estava possuído por algum demónio, um ser maligno que metamorfoseava o corpo do homem para que servisse à sua natureza e aos seus desejos, e usava a voz dele para transmitir perigo e escuridão. Aquele homem, que dias atrás era Natsu, o seu boss, fez a pergunta a sério. Ele não tinha o menor escrúpulo em relação a matar aqueles homens que capturara. Não havia como apelar para a piedade daquela criatura. Ele não parecia ter alguma. Disso Lucy estava certa. Também sabia que não poderia apelar às consequências. Tinha certeza de que ele não sentia medo. Aliás, Natsu sempre agiu como se não tivesse medo de nada! Mas, no momento, ele parecia não sentia nada a não ser a ânsia pela violência e o desejo de vingança. Era como se indeferisse na punição dos criminosos, e não para a salvar.

Só restava apelar à lógica.

– E depois... Depois é que não há necessidade disso. – mal conseguiu articular as palavras, sua garganta estava apertada, mas falou com mansidão – Já os castigaste o suficiente e talvez fiquem nos cuidados intensivos por uma semana.

– Um desperdício de recursos médicos. – riu macabro – Eu poderia poupar a sociedade o custo da existência desses dois! – voltou-se para analisar um deles, que se debatia e choramingava – Esse tipo de escória não merece viver.

Lucy arriscou-se a chegar mais perto, sentindo como se estivesse interrompendo a caçada de um leão. De um dragão!

– Uma sentença de morte é um exagero para o crime que cometeram, não acha?

Agora, com o pescoço do homem agredido entre os dedos, Natsu rosnou:

– Provavelmente estarias morta...

– Não, meu… – disse o homem ainda consciente, ofegante, os olhos cheios de horror – Íamos só… sequestrá-la… para pedir o resgate. Um camarada nosso a reconheceu… disse que era uma princesa… De uma dessas famílias cheias de dinheiro… disse que conseguiríamos… uma boa guita… por ela. Não íamos mata-la… nem tocar nela… – apressou-se a explicar quando Natsu apertou com mais força – Eu… juro. Orga ficou nervoso quando ela o acertou… e, provavelmente tu o mataste por isso… mas eu não fiz nada com ela… não me mate… por favor…

Apesar de tudo, Lucy sentiu pena da criatura suplicante. Ela sempre foi assim... Ficava triste quando os lobos caçavam os cervos mas não sentia pena, porque o lobo poderia ter crias para alimentar. Mas neste caso... O equilíbrio de forças deveria estar do lado deles, mas Natsu os dominara como um felino faria com um bando de ratos. Era como se ele nem sequer sentisse a presença dela. Ele parecia estar debatendo com o demónio interior, para escolher sabiamente que atitude deveria ter e só precisava da aprovação dele. Lucy sabia que só tinha mais uma atitude a tomar antes que a situação chegasse a um ponto de onde não haveria mais volta. Precisava dar a Natsu e ao demónio, algo para aplacar essa determinação impiedosa.

Arriscou-se a pousar a palma fria no braço dele e logo encolheu-se. Mesmo através das camadas de roupas, aquele calor que parecia fluir pelos músculos de aço fê-la estremecer da cabeça aos pés. Mas ela dominou, como sempre, a agitação que sentia.

– Não achas que eles devam arcar com a responsabilidade dos seus próprios crimes? – começou calma, acariciando de leve aquele braços tenso de músculos – Provavelmente já os aleijaste para sempre.

Quando o olhar sombrio voltou a encará-la, era como se a visse pela primeira vez. E só agora as palavras dela atravessaram a barreira implacável que o isolava até então.

De repente, Natsu abriu as mãos e os homens – ambos inconscientes – desabaram, como sacos de tijolos. Lucy sentiu uma onda de alívio e respirou fundo, deixando o ar frio encher seus pulmões. Natsu já matara antes. Isso era certo, depois de absorver o fogo livre de piedade nos seus olhos. Afinal, ele era o Dragão de Fiore, uma das Doze Bestas de Earthland! Porém, seria diferente se algo acontecesse com os dois homens à sua frente. E ela não desejava ter a morte de ninguém na consciência, nem daqueles dois bandidos.

Natsu continuava a admirar o estado em que deixara os coitados, agora já no controle do demónio faminto por morte e voltando a ser o moderno cavaleiro do deserto que tinha o mundo a seus pés e todos à disposição. Sim! Ele crescerá num deserto, moldado pelos anciões do tempo de modo a tornar-se um rei de valor!

Sem pressa, digitou o número de urgência no telemóvel e relatou o incidente. Depois, voltou-se a ela, fazendo o braço dela escorregar do dele.

– Estas machucada?

Ao ouvir a pergunta, ela subitamente sentiu as marcas das mãos dos homens sobre seus braços e suas costas. Mas a dor mais forte era em seu maxilar. Instintivamente tocou o local agredido e Natsu puxou-a para si, e mesmo na escuridão, conseguiu ver o vermelho. Lucy cambaleou ao sentir a mão dele em si e, mais uma vez, ele chutou a cabeça de um dos ladrões, que começava a mexer-se. O contraste entre a violência com os bandidos e a gentileza com ela era desconcertante. Quando já estavam próximos o suficiente, ele afastou a mão delicada do seu rosto para que pudesse examiná-la.

– Talvez eu os mate mesmo.

Ela quase encolheu-se ao ouvir aquele veredicto e tentou tornar o ambiente mais leve.

– Por causa de um gancho de esquerda?

– Isso foi o começo de um abuso que a teria deixado marcada para o resto da vida, se não fisicamente, com certeza psicologicamente. – falou como se soubesse do assunto. Claro! Ele tinha uma grossa cicatriz no rosto – Eles realmente merecem morrer.

Num movimento rápido, agarrou o braço grosso, impedindo-o se avançar neles outra vez. Sentiu-o rosnar leve mas logo teve o seu olhar sobre si.

– Relaxe. – riu – Só vou fazer com que desejem que eu os houvesse matado.

– Que tal deixar isso nas mãos da polícia?

Os olhos negros reacenderam.

– Você prefere deixar que se safem desta?

– Com certeza não. – ripostou, apertado mais o braço dele – Apenas acredito que devam ter a punição adequada. – terminou, vendo as chamas dançarem nas íris dele.

– O que seria apropriado para o crime de abusar de uma mulher e raptá-la, deixando-a em pânico, com medo de perder a vida, que talvez acabassem mesmo por tirar? – indagou, soltando-se.

– Desta maneira, uma sentença de morte não parece assim tão radical. – disse, temendo o cenário que ele descreveu, sabendo que isso já acontecerá antes, com ele – Mas nada disso aconteceu!

– Só porque eu os detive. – ele disse, escurecendo o olhar para ela.

– Não podemos puni-los pelo que poderia ter acontecido, apenas pelo que realmente aconteceu.

– Isso de acordo com a lei daqui. De onde venho, seria uma punição adequada para esse crime atroz. – sorriu, vendo a estremecer. Ele sabia que no deserto a antiga punição que era aplicada as pessoas presas por crimes como esses, seria a amputação de um braço e de uma perna de lados opostos.

Então voltou-se na direção dos bandidos e ela viu um brilho húmido sob o casaco dele. Ela agarrou o braço novamente e puxou-o para a luz. Ele soltou-se dela com a sua força absurda, desequilibrando-a e as suas mãos encostaram no calor inegável de sangue.

Ela analisou as palmas e então encarou-o, horrorizada.

– ESTAS FERIDO! – não podia negar que ainda não suporta vê-lo ferido, como naquela noite em que caiu com ela nos braços. Aquela cena desenrolou-se sobre intermináveis pesadelos.

– Não é nada. – disse, observando o sangue nas mãos dela e no seu casado – Já me curo!

– Quê?! – exclamou horrorizada – Pelas estrelas! Deixa-me curar-te!

Os olhos dele cintilaram de… irritação? Impaciência?

– É só um arranhão.

– Um arranhão? – vociferou incrédula – O lado esquerdo do teu corpo está ensanguentado.

– E depois?

Lá vinha ele novamente com aquela pergunta…

Ela sentiu o medo apertar sua garganta, um medo muito maior do que o que sentira por si mesma. A despreocupação que ele demonstrava devia ser um sintoma de que estava em choque, incapaz de se curar. O ferimento devia ser grave para estar sangrando tanto. A adrenalina e o frio deviam estar mantendo-o de pé.

Estanque o sangramento. E cure-o depois!

Lucy puxou o cachecol que usava ao redor do pescoço, surpreendentemente era o dele, e pressionou-o contra a ferida. Natsu enrijeceu o corpo e suas mãos grandes cobriram as dela para afastá-las. Mas ela dobrou-se sobre ele, obrigando-o a apoiar-se no poste de iluminação nas suas costas. Os cabelos loiros antes presos pelo cachecol, dançavam com o vento frio enquanto ela ofegava.

– Temos de parar a hemorragia.

Ele concentrou os olhos, agora verdes, nos dela, aquietando-se e esfregando os polegares sobre os dedos finos. O rosto duro que nem mármore, parecendo estar prestes a desmaiar. Ou não? Foram segundos até afasta-la e pressionar ele mesmo a ferida.

– Eu faço isso.

Talvez ele não quisesse que ela o tocasse. Talvez ainda estivesse hostil. Talvez...

– Podes ir para casa. – ele murmurou, segundos depois.

Como?

Ele não queria apenas que ela afastasse como também que se fosse embora?

Balançou a cabeça, negando-se, as mãos trémulas, manchadas com o sangue dele.

– Tenho de curar-te. – ditou, sentindo-se tão pequena como naquele dia em que quase causou a própria morte.

Cuidadosamente, capturou as pequenas mãos e limpou-as com uma das pontas do cachecol, deixando-a atónica. Ele obviamente ainda não entrara em choque.

– Não posso e não vou deixá-lo. Não como naquele dia... – disse firme, fixando os olhos castanhos nos verdes –. Aquele é o seu carro? – ela apontou para o Lexus imponente. Ele assentiu – Dê-me suas chaves!

Ele franziu o cenho, deixando claro o que achava da exigência dela.

– Vou cura-lo. – reafirmou – O seu corpo quente perdeu muito sangue. Pode ficar hipotérmico ou sucumbir ao choque...

– Não vou sucumbir a nada. – rosnou, com a voz mais dura – Já tive ferimentos muito piores do que esse e os aguentei por dias em condições bem menos agradáveis, em comparação. – continuou. E esses dias estavam impressos na sua memória e no seu corpo, dias e dias em que não deixava de pensar nela. Ingénuo.

Mas ela sabia que ele não exagerava. Não podia imaginar o que ele tivera que suportar no seu treino e mal conseguia pensar em que tipo de ferimento o deixara com aquela terrível cicatriz que serpenteava desde o seu olho esquerdo, passando por sua mandíbula, interrompendo para descer no lado direito do seu pescoço e continuando... Percebeu que ela examinava a cicatriz e cerrou os lábios.

– Como pode ver, já sobrevivi a coisas muito piores. – firmou, parecendo que a voz travava – Não se preocupe com esse arranhão.

Lucy sentiu a irritação sufocá-la.

O que Natsu pensava dela?

Achava que era uma tola egoísta que escolhia o caminho mais fácil e fugia?

E ele tinha o direito de pensar isso, tanto pelos dias que sofrera pelos seus ataques como pelo acontecimento de dois meses atrás, na tarde em que ela quase se matara. Mal ele sabia o quão arrependida ela estava. Tinha a cabeça quente e não pensava como deve ser naquela altura... Ainda por cima, permitiu que ele ganhasse, com certeza, mais cicatrizes.

– E o que fazias aqui?!

Ele ergueu uma sobrancelha.

– Tenho escritórios nesse prédio. – disse calmo, um pouco desdenhoso – E, se não me engano, tu andas fazendo as refeições importantes nos mesmos lugares que eu. Andas a minha procura?

Era ele a presença que ela sentira!

Agora tudo fazia sentido. Assim como fazia sentido o fato de ele não ter-se preocupado em abordá-la a não ser quando fora forçado a isso, para salvar a vida dela. Lucy andava mesmo a procura dele, pensando mais e mais nele e, de certa forma, sentia falta das vezes em que a irritava... Mas sempre soubera que ele não passava de um sonho distante, um detentor do sangue mais fogoso, um dos descendentes diretos dos outrora grande magos. Mas hoje, a magia estava tão fraca e inútil, que ninguém a usava mais. Mas a forma como ele destruiu o arbusto naquele dia, fê-la perceber que não eram somente os Heartfilias os únicos com a força da magia.

– Obviamente nem me vias! – acrescentou ele.

– Seria mais fácil eu não reconhecer a mim própria, Dragão Natsu.

Tudo pareceu congelar naquele instante. O vento, o mundo todo. Bom… A frase acabara sendo muito… Reveladora. Ela era mesmo explosiva! Outro ataque do que Laylah costumava descrever como a 'lamentável rudeza' de Lucy. Mas estava feito. Sabia que jamais poderia retribuir o que Natsu fizera naquela noite, por isso ao menos podia dar-lhe a verdade. Ele faria o que quisesse com o que ouvira. Mas parecia perdido. A confissão de Lucy claramente o pegara desprevenido. Quando enfim respondeu, ele optou por fingir que não ouvira nada e mudou de assunto:

– Vou dar meu depoimento dizendo que foi a mim que atacaram e depois vou para casa. – disse. Ela teve a sensação de que ele a protegia de todo aquele stress, mesmo que fosse hostil e a afastasse, ainda preocupava-se, mas no entanto...

– Não posso deixar que arque sozinho com o peso dessa confusão. – rebateu e ele sorriu com uma pitada de arrogância no olhar.

– Em comparação com as confusões com que lido diariamente, isto não é nada. – e ela sabia disso. Já o vira resolver problemas que podiam destruir qualquer empresa com a facilidade de um simples andar. Natsu era poderoso, e todos sabiam disso. Ele criara um império de distribuição e comércio de um esqueleto que Igneel deixara e, em tempo recorde, ele já havia monopolizado Fiore. Lidava com um sem-número de obstáculos e desafios para se manter no topo de uma área tão concorrida. Ela só o atrapalhava e tentava ficar sob todas as conferências, derrubando as suas ordens como nada... Ela com certeza estava apelando para ser despedida!

– Sei disso. – suspirou e a tensão pareceu diminuir – Mas só eu o curar primeiro.

– Achas que não conseguirei aguentar até a policia venha? – rosnou, franzindo as sobrancelhas, irritado – A minha palavra não vale?

– Acho que manteria a sua palavra mesmo que isso significasse colocar sua vida em risco. – a declaração dela foi recebida com outro olhar longo e vazio, que agora percebeu que significava surpresa.

– Temes que eu morra? – ele gargalhou, mas sem um pingo de graça ou divertimento.

– Não quero correr nenhum risco.

A expressão ficou mais dura; Lucy estava certa de que o rosado iria negar-se a ser curado por um poder inferior. De repente, ele entregou-lhe o cachecol ensanguentado. Ela a segurou como se fosse carvão em brasa, enquanto Natsu procurava uma caneta e um bloco no bolso do casaco. Ele rabiscou algumas linhas, arrancou a folha e prendeu-a sobre o corpo de um dos bandidos.

Um cartão de visita para a polícia?

O homem moribundo mexeu-se enquanto Natsu sussurrava algo no seu ouvido antes de tornar a embatê-lo no chão frio força, voltando a deixá-lo inconsciente. Levantou-se com calma, recuperando o cachecol das mãos dela e andando a passos largos até ao carro. Ainda assustada com o poder dele, deixou-se ficar no mesmo lugar observando-o afastar-se. Ele entrou no carro e ocupou, como nunca havia feito, o lugar do passageiro.

– Vens?

O coração de Lucy saltou em alívio enquanto ela corria pelo asfalto com seus escarpins de salto alto. Em poucos segundos, estava dentro do carro elegante e ouviu as sirenes a distância enquanto fechava a porta. Ela tremia ao sentir aquela energia fogosa do seu lado, armazenada naquele poderoso corpo:

– Obrigada. – ela sorriu e ele ignorou-a.

O carro já estava aquecido, mas trabalhava sem nenhum ruído. Mesmo tremendo por estar outra vez tão perto dele, conseguiu manobrar o veículo sem dificuldade, deixando-o deslizar pela estrada como se fosse água. O motor rosnando que nem um carro de formula um, deixava-a sentindo-se poderosa, com certeza era assim que Natsu sentia-se todos os dias. Não demorou para que chegasse a Fairy Tail... Afinal, ele morava na parte subterrânea do prédio.

– Agora vá com esse carro para casa. – ele ordenou, destrancando a porta – Vou deixá-lo à sua disposição, e também um motorista, a partir de agora. – continuava, sentindo que Lucy não respirava.

Ele já estava quase fora do automóvel quando ela agarrou o seu braço, pela terceira vez naquela noite.

– Eu vou contigo. – o olhar dele, que havia retornado ao ónix, foi cercado pelo verde.

– O acordo era que me curasses e fosses embora.

Ela ainda não o havia curado mas não iria para casa. Apertou os dedos, sentindo os músculos duros que nem aço por baixo. Ela estava desafiando-o como sempre!

– Então temos um novo acordo.

Assim que tivesse a certeza de que ele ficaria bem, ela mostraria exatamente o quanto estava disposta a servi-lo, desta vez mais obediente e não sendo apenas mais um obstáculo às suas decisões. E faria com que ele entendesse que estaria disposta a segui-lo até o fim do mundo.

Infelizmente ele era casado...

Ela não poderia dar-se ao luxo de apaixonar por um homem comprometido! Ou de o seguir como desejava. Mas ela ousou do mesmo jeito, apressando-se a assumir o volante, até estacionar. Quando saíram, agarrou-se a ele, parecendo querer ajuda-lo a andar, mas Natsu a pôs no colo e andou até ao elevador, pousando-a pouco depois.

– Cure-me e vá para casa!

Ela pousou as mãos na ferida e voltou a deixar a energia armazenada correr pelo corpo dele. Um corpo largo e volumoso que a sugaria até ao fim. O sol não se fez muito presente naqueles dias, e a sua energia estava no fim, mas não podia dar-se por fraca no momento. Ele estava ferido por ela.

– Não vou-me embora enquanto não estiver confortável. – ela disse, premindo o botão de partida, vendo as portas de ouro fecharem e ouviu um leve zumbido indicando que a caixa dourada movia-se para baixo – Vou ficar consigo esta noite. – ele a encarou, com os olhos novamente escuros, mas desta vez, cinzentos.

– Eu estive em três guerras, princesa. – riu e ela lembrou-se de como a chamavam no norte – E em outros incontáveis conflitos armados de menor escala, mas muito mais terríveis. Presenciei, fiz e vi as piores coisas que poderias imaginar. Posso assegurar-lhe que consigo ficar em segurança. – ele sussurrou no ouvido dela, imprimindo o pequeno corpo na parede dourada.

Aquela imagem refletida no espelho, a forma como o corpo dele dobrava sobre o seu, fez com que um calor intenso percorresse o corpo de Lucy. Quantas mulheres já haviam lutado por aquele privilégio? Quantas haviam tido aquele prazer?

Ela mordeu o lábio para impedir um gemido.

– Tenho certeza de que consegues carregar o mundo todo nas costas, Atlas! – falou como intima, não importando-se que era com o seu boss com quem falava – Mas isso não significa que precisas fazê-lo. Ou que deves fazer tudo sozinho. Não importa o que digas, não vais ficar sozinho esta noite. – sorriu, vendo-o afastar-se – Estas assim porque me defendeste e vou ficar porque o teu corpo pode negar a energia a qualquer hora. Eu, por meu lado, os considero um excelente motivo para que sejas mimado. Evidentemente não tens nenhuma intimidade com o conceito de ser mimado, mas vais habituar-te. – sorriu. Mas sabia que o corpo dele jamais negaria a sua energia, ele era fogo e ela o sol, impossível de ser negada – Portanto, eu vou mima-lo hoje!

A julgar pela quase imperceptível expressão de espanto que passou rapidamente pelos olhos cinzentos, Lucy conseguira surpreendê-lo. Ela poderia apostar que ninguém jamais ousara falar com ele assim.

Quando ele por fim falou, sua voz estava ainda mais profunda, como se isso fosse possível:

– Realmente não preciso…

– Sei que não precisas de nada, nem de ninguém. – agora que conseguira baixar a guarda dele, ela sabia que precisava aproveitar para tirá-lo do frio, algo que não combinava com ele. E ela estava arrependida por querer que ele se afastasse um dia – É uma dádiva que consigas lidar com tudo sozinho. Mas, a partir de hoje, jamais deixar-te-ei só!

E ele calou-se!

 


Notas Finais


....




Entao pessoal, o que acharam desse Natsu demoniaco?
Isso foi tenso.

Infelismente, o henai vai demorar mais uns dois caps porque tenho que colocar um pouco de calor nos dois!
Muito picante!


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