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História Boys don't cry - Palavras, sussurros, rap


Escrita por: Park-kouhai

Notas do Autor


OI! Chegay.

Assim como o final do capítulo anterior, este é em terceira pessoa. MOTIVO: mostrar mais o lado dos outros personagens, já que a fanfic inteira é contada sob a visão do Jimin.

Vai ter mais um pouco (e o principal) sobre a história do Hoseok!

Eu sei que vai dar saudade de Vhope e Jikook pq esse capítulo não tem interação, mas é um capítulo necessário para o rumo da história ;-;
CURIOSIDADE: esse é o único capítulo que eu escrevi inteirinho antes mesmo de começar a postar a fic. Pois é.

Ai ashuahsuahsu não paro de falar! Enfim, boa leitura (e espero que gostem do cap.) <3

Capítulo 11 - Palavras, sussurros, rap


Fanfic / Fanfiction Boys don't cry - Palavras, sussurros, rap

Houveram momentos em que o medo de Jung Hoseok o fez estremecer dos pés à cabeça como se estivesse em uma cápsula de gelo. Enquanto, ao mesmo tempo, sentia o inferno cada vez mais próximo, derretendo cada muro da habitação que havia dentro de si, mostrando-lhe como a crua realidade é dolorosa.

Ele se via preso em um labirinto sem saída.

Embaixo de sua cama, o chão gelado acolhia seu corpo fino e frágil. Os ossos pequeninos de uma criança perdida encolhiam-se e as mãos tampavam os ouvidos.

“Que esta porta não se abra”, ele orava. Contava os passos aproximando-se, traçando um caminho sinuoso em sua direção, trazendo consigo sussurros dolorosos de um pesadelo que não tende a passar.

E então, quando sentia o coração contrair-se em desespero, chorava inaudivelmente em alívio ao notar o desaparecimento dos sons ao lado de fora.

Seu pai, que havia voltado a beber anos mais tarde, não hesitaria em depositar um soco no rosto do próprio filho assim que este se dispusesse a defender a mãe.

E agora o corpo de Hoseok já não cabia mais debaixo da cama.

 

-

 

Sentado em uma banqueta encontrada em móveis usados, Namjoon escrevia em uma folha de papel em branco de um bloquinho. Seus ombros, cobertos por um casaco fino.

Quando chegava do trabalho, não havia nada para fazer além de comer comida instantânea e dormir.

Gostava de dormir. Sua cabeça parava de trabalhar por um momento. Tudo o que fazia desde o momento em que acordava antes da hora por causa do frio, até o momento em que deitava o corpo no sofá estreito, era pensar.

Pensava, pensava e pensava. Uma batida do coração, uma palavra.

E assim, usava todo o seu tempo livre para escrever. Apenas desta forma conseguia  livrar-se de suas preocupações ou sentir-se mais acolhido. Eram poucas as coisas que o faziam sentir-se assim.

Uma delas era o encontro de hip hop aos finais de semana. A música, as pessoas que não desejavam sugar o que lhe restava de bom, o rap.

Pensou que seria demitido quando pediu  - ou melhor, implorou - ao chefe para trabalhar no turno da manhã às sextas-feiras e sábados. Precisava ir aos encontros. Precisava sentir a música recarregar suas energias.

Levantou, olhou em volta e percebeu que a luz do sol transpassava pela janela. Chegou em casa por volta da meia-noite, mas não teve sono o suficiente para dormir. Já era sexta-feira e seu turno começaria cedo.

Abriu a geladeira à procura de algo para forrar seu estômago e não encontrou nada interessante. Uma banana, que havia comprado alguns dias atrás, e leite. Seria o suficiente para enfrentar algumas horas trabalhando. Tomou alguns goles diretamente da caixa e mordiscou a fruta enquanto abria a janela para entrar algum ar ali.

Abriu a porta e lembrou-se que o clima era muito mais agradável no período da manhã. A brisa estava amena e o sol, que finalmente apareceu após vários dias de frio e chuva, deixava tudo mais morno. Diferentemente do ar gelado e cortante que precisava enfrentar ao escurecer.

Sexta-feira havia se tornado seu dia preferido da semana. Poderia rever os amigos, cantar e transformar em rap todos os rabiscos escritos em seu bloquinho.

Desceu o asfalto inclinado já tornando-se quente.

Ao chegar na esquina, observou a fachada do outro lado da rua. A floricultura abria cedo. Alguns vasos de flores coloridas eram colocados do lado de fora da loja e a porta de vidro permanecia aberta.

Apenas nas sextas e sábados podia sentir as pequenas plantas lhe acalentando e entregando um pouco mais de energia para enfrentar horas em pé. Era engraçado como conseguia transformar suas emoções para melhor quando se deparava com a natureza ou um ambiente agradável. Chegou a acreditar que as plantas e animais podiam fazer feitos melhores que muitos seres humanos.

 Riu com os próprios pensamentos um tanto esquisitos e acordou de seus devaneios assim que colocou os olhos na figura lhe acenando, do outro lado da vitrine.

Kim Seokjin era filho dos donos da floricultura. Cuidava da loja, localizada no final da ladeira íngreme, na maior parte do tempo.

A vida de Seokjin não era repleta de reviravoltas, nada de muito interessante costumava acontecer. Começou a trabalhar ainda quando menino, apenas para ocupar-se de algo e não preocupar o pai com a “falta do que fazer”.

De fato, desde o tempo escolar não havia encontrado objetivos em sua vida. A mãe dizia que uma nora seria muito bem vinda, no entanto, sequer clientes novos costumavam aparecer.

Certo dia, assim como de costume, estava sentado no banquinho de madeira atrás do balcão ao fundo da loja. Rabiscava poemas ilegíveis na contracapa de um caderno qualquer e assustou-se brevemente ao ouvir o tilintar do sino da porta.

Pôs-se de pé de imediato. Observou a figura entre as prateleiras, era um cliente jovem.

Geralmente senhoras apareciam para observar as flores sem nenhum motivo em especial, homens à fim de agradar suas esposas com um buquê ou mulheres desejando decorar seus lares. De qualquer forma, o bairro pacato onde a floricultura estava localizada não atraía muitos clientes.  

Raramente um garoto por volta de seus dezenove anos se interessava no ramo comercial de plantas. Imaginou, então, que talvez ele estivesse à procura de flores para presentear a namorada.

- Posso ajudar? – Murmurou para chamar a atenção.

No entanto, o garoto de fios loiros umidecidos com os pingos de chuva não lhe deu ouvidos. Talvez tivesse dito baixo demais. Ou então, o garoto poderia estar apenas procurando um abrigo contra os pingos espessos que caíam do lado de fora.

Curiosamente guardou a imagem do outro em sua mente e imaginou que nunca mais o veria por ali.

Uma semana se passou. Era sábado. Kim Seokjin descançava o rosto sobre o balcão, depois de ter almoçado, e surpreendeu-se com o único som ouvido em mais de uma hora. O sininho se rebateu contra o vidro atrás do primeiro cliente do dia. O garoto de cabelos claros não pareceu hesitar. Dirigiu-se ao balcão, suas palavras tornando-se audíveis.

Seokjin levantou-se e imediatamente sentiu um incomodo nas pernas. Havia passado tempo demais sentado.

- Eu quero comprar alguma coisa. – Disse, de forma simples e direta.

O atendente permaneceu calado, esperando o cliente especificar o que desejava.

- Qualquer coisa – respondeu à pergunta muda, dando de ombros – eu não conheço nada sobre plantas, mas todas aqui parecem agradáveis.

Olhou em volta e em seguida tocou com a ponta dos dedos algumas pétulas dos lírios brancos ao lado do balcão.

- Então... Você quer escolher algum vaso de flores? – O atendente saiu de trás do balcão e guiou o outro até a sessão dos vasinhos, mostrando algumas violetas e tulípas.

Sentiu vontade de rir quando o garoto arregalou os olhos claramente ao ver os preços. Mas se conteve. Decidiu, então, mostrar algo mais em conta. Os vasos das flores mais comuns costumavam ser mais caras.

Andou até a prateleira dos cactos pequenos, ao lado dos bonsais.

- Bem... Eles não parecem tão bonitos. São sem graça.

- Se você quiser flores, também pode comprar um saquinho com sementes. É só plantar e cuidar delas.

- Eu não faço ideia de como fazer isso.

- Você pode levar esse manual sobre os cuidados com as plantas e... – Percebeu que o menino queria algo simples e parecia não ter levado a carteira para comprar algo a mais. Então, explicou que ele deveria colocar as sementes na terra e regar regularmente.

Haviam diversos saquinhos com os mais variados tipos de sementes de flores, desde as conhecidas até as com nomes extremamente extravagantes.

Aquele à frente de Seokjin parecia perdido entre tantos nomes desconhecidos. Virou-se para o atendente e encarou o nome bordado no avental.

- Qual é o nome daquela ao lado do balcão, Kim Seokjin?

- Bem... Elas não podem ser plantadas com sementes, apenas com o bulbo. São as minhas flores preferidas, os Lírios.

- Que pena, eu também gostei delas... Então vou levar essa aqui. – Sequer havia lido o nome da planta no rótulo. Retirou do bolso uma única nota e comprou as sementes de Azaléia.

Namjoon voltou alguns dias depois.

Estava preocupado porque as sementes ainda não haviam transformado-se em planta, e fez Seokjin confirmar que aquilo era normal.

- Além do mais, você fez uma ótima escolha, Namjoon. As azaléias são ótimas para serem plantadas no outono. E não se esqueça de deixar o vaso no sol e regar a terra quando estiver seca.

Todos os dias, ao entardecer, Jin via o mais novo cliente passar pela frente da loja, as mãos nos bolsos evitando o frio da noite e os cabelos cobertos por um boné.

Certo dia, Namjoon entrou na loja e se apoiou no balcão, começando a puxar papo como quem não quer nada.

- Ei, Seokjin, quando é que as flores vão aparecer? Estou curioso para saber qual é a cor delas.

- Você não viu as características no saquinho que comprou? – Jin perguntou e riu – As que você comprou são cor-de-rosa.

- E o que as dessa cor significam?

- Significam amor à natureza.

 

-

 

Girou a maçaneta e logo se deparou com o irmão deitado com os pés para fora do sofá de dois lugares, com uma cara de poucos amigos. Olhou para Ashlee preparando algo na cozinha e ela apenas deu de ombros. 

Colocou a mochila ao lado do sofá e sentou-se ao lado de Yoongi.

- O que aconteceu?

- Nada de diferente. Meu chefe é um pé no saco, só isso.

- Eu acho que você precisa fazer alguma coisa para desestressar um pouco.

- Você sabe, eu não tenho muito dinheiro para gastar. Não recebo mesada como você. – Yoongi disse e colocou os pés no colo do irmão mais novo.

- Eu também não, pois sou obrigado a gastar a mesada com o lanche no colégio e os livros didáticos. Mas eu conheço um lugar onde não é preciso ter dinheiro para se divertir. – Sorriu.

Yoongi o olhou de lado e levantou o corpo, encostando as costas no sofá. Sabia do que Jeongguk estava falando. Mas era protetor e foi designado como responsável pelo irmão mais novo a partir do momento em que os dois se mudaram para a cidade grande, com o intuito de Jeongguk conseguir realizar seu maior sonho e cumprir com o desejo dos pais.

Apesar de seus melhores momentos terem acontecido nos encontros de hip hop, desde que haviam chegado na cidade, ficava um pouco receoso imaginando estar desviando o irmão mais novo dos estudos.

- Não. Vamos ficar aqui. Você tem que estudar, não tem?

- Eu já estudo todos os dias depois das aulas, quero fazer alguma coisa além de enfiar a cara nos livros.

- O Kookie tem razão, meu amor, vamos nos divertir um pouco. – Ashlee se aproximou e entregou um copo de suco para os meninos.

- Lee, eu acho que você gosta mais do Jungkook do que de mim, vive concordando com ele e ficando contra mim, até mesmo no vídeo-game não faz par comigo.

- Eu não tenho culpa se ele joga melhor do que você. – Ela sorriu e sentou-se no colo dele, aconchegando-se ali.  – Eu também quero ir no encontro na sexta-feira, estou com vontade de dançar...

Jeongguk se dirigiu ao quarto para fugir das carícias íntimas demonstradas entre os namorados.

- Eu vou pensar.

Yoongi sempre dizia o mesmo. Tentava se fazer de difícil mas adorava agradar a namorada. Para ele, o sorriso de dentes branquinhos e lábios fartos era o mais bonito do mundo. Nunca acreditou em amor à primeira vista, mas precisou admitir para si mesmo que estava apaixonado quando avistou algumas vezes a modelo estrangeira comprando roupas na loja em que trabalhava. 

A agência da qual Ashlee fazia parte era perto da loja de roupas, as modelos sempre apareciam por ali para comprar algo novo e Yoongi tentava reunir coragem toda vez que colocava os olhos na garota bonita. Ela era linda, e o garoto nunca havia visto ninguém igual a ela.

Certo dia ele se aproximou, segurou o ar nos pulmões e tentou não falhar a voz enquanto pedia o número da garota.

E agora Ashlee estava ali, com sua pele negra contrastando com a láctea de Yoongi. Ele com seus cabelos azuis, e ela com seus cachos rebeldes.

Jeongguk também se encantou com a beleza da americana assim que a viu. Seus traços do rosto eram completamente diferentes do que ele estava acostumado a ver. As curvas do corpo feminino destacavam as coxas à mostra pelo shorts curto e a cintura era fina, apesar do corpo não ser magro como o das garotas coreanas.

A forma sensual como Ashlee movia o quadril ao andar e os seios fartos que ficavam parcialmente visíveis através das camisetas decotadas não excitavam Jeongguk como acontecia com Yoongi.

Jeongguk não sentia atração por Ashlee, apesar de a considerar muito bonita. Ele sentia atração pela cintura pouco marcada, o peito liso e os braços fortes de uma única pessoa: Park Jimin.

Nunca havia refletido sobre o que o atraía. Mas percebeu que o garoto baixo e de beleza descomunal deixava-lhe desconcertado, com uma dificuldade enorme de respirar durante a noite, quando seus sonhos nada castos envolviam o outro e seus gemidos imaginários.

E mesmo que seus fios de cabelo lisos parecessem lhe chamar, e surgisse uma vontade súbita de embrenhar as mãos entre os fios alheios... Mesmo que desejasse que o sorriso, aquele sorriso que fazia com que os olhos de Jimin fossem espremidos pelas cochechas, fosse direcionado apenas a si... E mesmo que sonhasse com ele à noite...

- Nosso Kookie está apaixonado?

Pulou de susto quando percebeu que Ashlee estava ao seu lado. Ela riu e se remexeu na cama para ficar virada de frente para Jeongguk.

- Eu bati na porta, mas acho que você estava com essa cabecinha no mundo da lua.

- Ah, desculpe... Estou distraído.

- E essa distração tem nome? – A garota perguntou.

Jeongguk e Ashlee já haviam conversado sobre Jimin. Jeongguk havia admitido que o outro não saía de sua mente. No entanto, imaginou que era apenas uma fase. Os pensamentos envolvendo Jimin logo iriam passar. Mas o outro foi insistente, deixando rastros com sua presença e... o beijou.

Inicialmente, Jeongguk não queria admitir para si mesmo que havia gostado do beijo. E muito. Mas percebeu que já não havia como fugir. Não era apenas a vontade de beijar o outro que fazia seu coração acelerar. Também queria a presença de Jimin, queria estar sempre perto dele.

Suspirou.

- Eu não sei o que fazer, Lee. Eu estou confuso.

A menina segurou as mãos de Jeongguk entre as suas e depositou carinhosamente uma carícia com o polegar.

- Ele gosta de você? Se a resposta for sim, não há o que temer. Sabe, quando Yoongi se aproximou de mim eu também me senti um pouco receosa. Achei ele tão bonito... – Ashlee revelou, olhando para baixo um pouco envergonhada, os cílios longos cobrindo parcialmente os olhos. – E eu sei que ele se sentiu da mesma forma. É comum ficarmos um pouco temerosos quando estamos apaixonados.

- Você me conhece... sabe que eu não estou acostumado com algo que não foi programado, e não sei o que vai acontecer quando nos aproximarmos mais. Acho que me preocupo demais com o futuro, não é? – Jeongguk sorriu minimamente.

- Sim, você se preocupa demais kook. – Respondeu, utilizando o apelido que o garoto havia recebido do irmão.

- E... como você descobriu que estava apaixonada pelo Suga?

Ashlee pensou por uma momento e em seguida respondeu.

- Acho que não houve um momento em que eu pensei que estivesse apaixonada. Yoongi apenas apareceu em minha vida e de repente tudo parecia mais bonito. Ele sorria com seus dentes pequenos, brincávamos sobre o contraste de nossas peles e eu passei a chamá-lo carinhosamente de Suga. Eu sempre fui mais brincalhona do que ele, e mesmo assim nos damos muito bem.

- Então se sentir bem ao lado da outra pessoa é um sinal?

- Exatamente. Mas acho que sempre há algo a mais, algo que não conseguimos nomear, que nos torna dependentes da pessoa amada... Como se quiséssemos estar o tempo todo com a outra pessoa.

- E o que eu faço se realmente estiver apaixonado? O que eu devo fazer se este sentimento, que parece transbordar em mim e causar sensações estranhas no corpo, for paixão?

- Apenas dance, Kookie. Dance conforme a música. Deixe que a vida te mostre o que vai rolar, não se preocupe tanto com os passos, apenas dance, tudo bem?

Jeongguk sorriu mais uma vez e abraçou a garota à frente.

- O que seria de mim sem você? 

Ashlee depositou uma carícia nos cabelos de Jeongguk, lhe confortando. A garota sempre foi sua confidente, a pessoa em quem Jeongguk mais confiava. Nem mesmo Yoongi sabia sobre os sentimentos de Jeongguk em relação a Jimin.

Ashlee conseguia imaginar o que se passava nos pensamentos de Jeongguk mesmo que o irmão mais novo do namorado não houvesse dito absolutamente nada.

 

_

 

- Você não pode comer macarrão instantâneo todos os dias Suga! – Ashlee bateu os pés no chão e devolveu à prateleira o pacote do alimento.

- Mas eu não tenho tempo para cozinhar, você sabe... e não quero que você fique sobrecarregada cozinhando para mim todos os dias.

Ashlee fez uma careta e cruzou os braços.

Jeongguk sorriu com a pequena discussão entre os namorados. A verdade é que nenhum dos dois irmãos apreciava os pratos diferentes que a estrangeira gostava de cozinhar. Eram sempre cheios de temperos desconhecidos e pouco apimentados como os coreanos.

Mas Yoongi não sabia o que fazer, e não queria de jeito nenhum desagradar a namorada. Portanto, sempre escondia as caretas da primeira garfada por trás de elogios nada sinceros.

- Pode deixar, hoje à noite vou tentar cozinhar um prato típico coreano, você vai ver só minhas habilidades culinárias!

No fundo, Ashlee já desconfiava que os meninos não aprovassem seus pratos, mas mesmo assim insistia em fazê-los provar suas comidas.

Yoongi desistiu de argumentar e Jeongguk também não quis se opor, apenas ocupou-se de jogar no carrinho do supermercado vários doces e salgadinhos. Diferentemente de quando vivia com os pais, abusava da liberdade que podia ter vivendo com o irmão mais velho. No entanto era responsável, e caso não fosse passaria o dia inteiro jogando video game, lendo quadrinhos no sofá da sala e comendo besteiras.

Passaram para a sessão de bebidas e sucos e se depararam com Taehyung.

- Oh, que mundo pequeno. – Taehyung exclamou, correndo para abraçar Jeongguk, deixando este um pouco sem graça com a proximidade, e cumprimentando os outros dois de forma simpática.

- E aí. Conversei ontem com o Rapmonster e ele me contou que encontrou você e os outros meninos no centro da cidade – Yoongi comentou. Era próximo de Namjoon, portanto se sentia à vontade para utilizar o apelido do amigo mesmo longe dos encontros de Hip Hop. – Pretendem ir ao próximo encontro?

- Ah, bem lembrado! Eu quero ir sim. Vou mandar uma mensagem para o Hoseok e o Jimin, assim todos nós vamos na sexta-feira.

- Certo.

Jeongguk sentiu o coração acelerar apenas por ouvir o nome de Park Jimin ser mencionado. Sentiu-se um bobo pelas reações que sentia todas as vezes em que Jimin estava próximo, ou o olhava, ou aparecia em seus pensamentos.

- Pronto, acabei de mandar a mensagem para os dois. Nos vemos na sexta-feira, então!

 

-

 

O celular vibrou sobre o colchão. A mensagem recebida foi ignorada.  

Jung Hoseok imaginou incontáveis vezes um plano de fuga sendo executado. Arrumaria a mochila com todos os pertences durante a madrugada e pela manhã sairia de casa como se estivesse indo para a escola. Mas estaria indo embora, abandonando a realidade detestável impregnada em sua casa, levando consigo todas as suas pequenas economias no bolso.

E quando abrisse a porta da sala, diria um “até logo” para sua mãe, e esta acenaria com seu sorriso esperançoso. Odiava seu sorriso. Eram aqueles pequenos olhos os responsáveis por fazê-lo desistir. Sua mãe permaneceria lá, em pé no fim do corredor, presa entre aquelas paredes que não a deixariam escapar.  

As paredes, o teto, a pele, impregnados pelo cheiro de bebida.

Sua mãe já havia ameaçado desaparecer no mundo carregando o filho consigo. E por que não havia cumprido a promessa? Por que não abandonava de vez o marido alcoólatra?

Todos os dias Hoseok desejava gritar até que seus pulmões ardessem, chorar até que suas lágrimas o afogassem, quebrar todos os objetos inúteis em seu caminho.

Era atingido por uma vertigem quando fitava o próprio reflexo no espelho, vendo a si mesmo e enxergando o pai. Não queria ser como ele no futuro.

Levantou-se da cama e verificou o remetente da mensagem recebida a poucos minutos. O nome de Taehyung brilhava na tela.

Jogou o celular novamente na cama e dirigiu-se para o banheiro.

Não queria pensar no outro, não naquele momento.

Fitou o espelho à sua frente. Tocou o vidro despedaçado, com sua face refletida partida em mil pedaços, e os nódulos dos dedos ardiam. Sua presença estava ali, impregnada em cor escarlate nos pequenas cacos de vidro ainda fixados no espelho que não foi limpo. 

Queria tirar a raiva que não era sua de seus ombros junto com a água quente do banho que escorria pelo ralo do ladrilho envelhecido.  No dia anterior quis que os dedos doloridos parassem de sangrar. Pensava no grito da mãe, ao ouvir o som do vidro estilhaçando à sua frente. E pensava, estranhamente, em Taehyung.

Descobriu que, de alguma forma, caso machucasse a si mesmo poderia acabar machucando o outro. E a constatação o fazia se sentir pior do que imaginava.

Havia um pensamento constante rondando sua mente. Acreditava que há pessoas que surgem na vida de outras para trazer algo de bom. E sabia, definitivamente,  que não era uma destas pessoas.

 

_

 

Seokjin sorria. Não mostrava os dentes, mas os cantos da boca estavam repuxados para cima. Os olhos, fixos nas flores. Com o regador em sua mão direita, distraidamente permitia que as gotículas de água escorressem entre os dedos de sua mão esquerda.

Após muitos dias frios, naquele momento fazia calor, e estar em contato com a água parecia ser a melhor sensação do mundo.

No entanto, de alguma forma não parecia ser este o motivo que lhe fazia sorrir.

Nanjoom atravessou a rua, aproximando-se de Jin. Não sabia nada sobre flores. Como cuidar delas, para que serviam, qual era o cheiro de cada uma. Mas a cada dia parecia aprender mais um pouco, à medida que cuidava das sementes que havia comprado.

Precisou aparecer novamente na floricultura, depois de sua compra. Gastou mais um pouco de seu salário com um vaso apropriado - pois estava usando uma embalagem vazia e descobriu que ela era realmente pequena.

Além disso, levou uma bela bronca de Seokjin por estar regando a planta de forma incorreta, quase matando afogada a pobre coitada.

Kim Seokjin tratava as flores como se possuíssem um coração.  Cuidando delas como Namjoon nunca havia visto uma pessoa fazer por outro alguém.

Seokjin movia vasos grandes de lugar, plantava sementes em novos vasos e constantemente terminava o dia com as mãos e braços completamente cheios de terra.

Ao mesmo passo que possuía uma delicadeza sem igual. Além de sua aparência tão singular quanto as pétalas à sua volta, a suavidade de suas expressões e o sorriso gentil eram quase sobre-humanos. Quase como... uma flor.  

Seokjin encostou o regador no chão e limpou as mãos sujas no avental.

- Já encerrou seu expediente?

- Sim, sextas-feiras são as melhores. – Sorriu.

- Está com fome, Namjoon? – Viu o acenar simples do outro e retirou o avental.

Entrou na loja para guardar os materiais e voltou com a carteira em mãos. Haviam combinado que almoçariam juntos quando tivessem tempo, e Seokjin prometeu que tentaria não fazer um interrogatório sobre o desenvolvimento da plantinha de Namjoon.

Caminharam lentamente em direção à uma lanchonete qualquer, pois descobriram possuir um gosto em comum por lanches. No caminho, Seokjin contou que gostava muito de cozinhar, e da próxima vez convidaria Namjoon para almoçar em sua casa.

Ele exalava um perfume suave de flores silvestres. Namjoon cheirava a gasolina. O odor forte estava impregnado em suas roupas, ou até mesmo em si. No entanto, pareciam se dar ainda melhor por conta de suas diferenças.

Haviam se tornado amigos em tão pouco tempo, em uma circunstância incomum envolvendo plantas e sementes.

Namjoon poderia afirmar que Seokjin era uma pessoa de amizade fácil, que poderia agradar qualquer pessoa com seu jeito simpático.

- Jin, você está livre à noite? Tem um lugar que eu quero te levar. Apesar de achar que não combina muito com você...

- Eu também não imaginava que você combinasse com flores, e aparentemente já está interessado em construir o próprio jardim em casa.

 Os dois riram da afirmação.

- Certo, vou passar mais tarde na loja para te levar.

- Não vai me dizer do que se trata?

- Ainda não, gosto de fazer mistério. – Namjoon sorriu e o outro sorriu de volta.

- Certo, vou estar te esperando.

-  Então... te vejo na frente da floricultura às sete.

- Em ponto.

 

 

 

“Eu sei que você me ama, garoto

 

No dia em que seu olhar se fixou em mim

Era uma coisa que eu não poderia substituir

por nada nesse mundo

 

Um segredo compartilhado entre eu e você”


Notas Finais


Nesse capítulo fica mais clara a forma como o Yoongi, Namjoon e Hoseok "dependem" da música de certa forma, como o rap pode fazer eles se sentirem melhor, etc.

Eu tinha prova no dia seguinte quando escrevi a parte das flores, e estava aqui pesquisando sobre “como plantar Azaléias” ASHUASHUAHUS

Os Lírios do Jin são por causa de I need u, e as Azaléias do Rapmon por causa desse post: http://bangtan.com.br/twitter-07-04-16-rap-monster/

Música: I know – BTS (é referente ao Jikook, e talvez ao Vhope tbm!)

https://ask.fm/Parkkouhai


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