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História Boys don't cry - Resolutivas


Escrita por: Park-kouhai

Notas do Autor


AVISO: Eu PRECISO avisar pra vocês que esse capítulo está tenso. Muito tenso. Fala sobre os problemas do Hoseok com a família e tem angst aqui. Por isso, se sintam livres pra pular o começo e ir para o meio do capítulo, pq não quero deixar ninguém mal, principalmente quem passa por situações parecidas.

MAS, a fanfic vai ter um final feliz, acreditem. Qualquer coisa que precisarem, venham falar comigo. <3

Vocês vão ver nesse capítulo que a forma de lidar com o amor é bem diferente entre Jikook e Vhope.

Eu tinha muito mais coisa pra falar (como sempre), mas esqueci ;-;.

Capítulo 15 - Resolutivas


Fanfic / Fanfiction Boys don't cry - Resolutivas

Eram dias e dias convivendo com a mesma angústia e o mesmo medo.  O pai bebia cada vez mais, gritava cada vez mais e a mãe protestava cada vez mais. Hoseok temia por ela. E, lá no fundo, temia pelo pai também.

Durante muito tempo viveu sem encontrar sentidos em sua vida. Quando entrou na adolescência não conseguiu se encaixar em lugar nenhum. Não possuía amigos próximos e os pais não lhe serviam como base para uma identificação. Hoseok sentia que a mãe era quase invisível e o pai era tão perdido quanto o filho, bebendo para se anestesiar da vida, com a postura de fugir de tudo.

Quando entrou na cozinha e postou-se ao lado dos pais, ainda brigando, desejou nunca mais presenciar aquilo e viver daquela forma. Naquele dia, havia decidido desenfaixar a mão antes machucada. Decidiu que precisaria usá-la.

O punho acertou em cheio o rosto do pai, como uma vingança por todos os anos que este o fez sofrer. Queria defender a mãe e mostrar ao o pai que estava tudo errado, que a vida deles estava toda errada. Mas, como sempre temeu, o ato agressivo foi devolvido como um empurrão forte e uma ameaça com uma garrafa de vidro. Desviou a tempo antes que esta o atingisse e, ao ver a mãe implorar para que se afastasse, correu para o quarto.

No entanto, o próprio quarto ainda não era um local seguro e a mãe ainda estava diante da figura ameaçadora do pai. Sentia-se impotente, não sabia mais o que fazer.

Agarrou o frasco de comprimidos para insônia ao lado da cama. Queria isolar-se, perder-se dentro de si mesmo e dormir por horas seguidas.

Abriu a tampa com impaciência e os milhares de pequenos círculos rolaram pelo chão. Ainda haviam muitos no frasco branco e este foi virado de ponta cabeça. Hoseok sentiu as bolinhas esbranquiçadas preenchendo sua boca, derretendo sobre sua língua e revelando o gosto amargurado. Sentiu-as, então, raspando sua garganta, uma a uma, sem pressa.

Não havia mais motivo para manter os punhos pressionados. Não havia mais o que ansiar.

Em questão de minutos sentiu as pernas fracas e levou, lentamente, os joelhos ao chão. A porta do quarto estava entreaberta. Os gritos dos pais pareciam cada vez mais baixos e tudo a sua volta começava a sumir sob suas pálpebras cansadas.

Estranhamente parecia ouvir Taehyung lhe chamar.

Em poucos segundos não havia mais movimentos, sons, cores, Taehyung, a voz de Taehyung, ar nos pulmões, batimentos cardíacos em ritmo normal.

 

-

 

Seokjin havia dirigido às pressas à casa de Hoseok, enquanto Namjoon chamava uma ambulância e Jimin tentava acalmar Taehyung através do celular. 

Quando já estavam no carro, em direção ao hospital, Jimin acolhia o melhor amigo ainda em estado de choque. Mesmo com um olhar frio encarando a ambulância à frente, as mãos de Taehyung segurando firme as mãos de Jimin denunciavam o anseio.

Permaneceram no hospital durante longos minutos até obterem uma resposta sobre o estado de Hoseok. O tempo passava devagar e o silêncio instalou-se entre todos aqueles na sala de espera. Apenas os murmúrios de lamentação da mãe de Hoseok, mergulhada em lágrimas, preenchiam o ambiente. O pai não estava lá.

Quando o homem vestido de branco apareceu, com uma prancheta em mãos e rosto sério, Taehyung foi o primeiro a colocar-se de pé.

- Não se preocupem. Jung Hoseok está bem.

 

-

 

Hoseok piscou algumas vezes, finalmente voltando para a realidade.

Quando abriu os olhos havia apenas o vazio. Encarou o teto do lugar desconhecido e depois passeou os olhos pelo local. Tudo era branco, até mesmo o sofá no canto daquela pequena sala. E neste sofá estava sua mãe, com olhos fechados e cabeça pendendo para o lado. Parecia muito cansada.

Seu corpo estava rígido, como se tivesse permanecido muitas horas naquela cama.

Tentou não fazer barulho ao erguer o corpo, mas foi uma tentativa falha. A mãe abriu os olhos e imediatamente as lágrimas acumuladas escorreram por seu rosto. Correu até o filho e o abraçou forte. Hoseok sentiu a mãe tremer entre soluços não contidos, mas o aperto continuava firme.

- Nunca mais faça isso comigo, ouviu? Nunca mais!

Hoseok tentou retribuir o abraço, mas foi impedido ao percebeu que o braço estava ligado ao soro.

Aos poucos sua mente clareava e os acontecimentos se faziam presentes diante de seus olhos. Estava em um hospital porque quase morreu. Sentiu um aperto no peito, uma sensação sufocante lhe invadir, e as lágrimas rapidamente transbordaram de seus olhos.

Após longos minutos a mãe sentou à frente do filho e explicou o que o médico havia dito. A quantidade de comprimidos ingeridos poderiam ter levado o filho à morte.

Durante a conversa não tocaram no assunto relacionado ao pai, mas sabiam que precisavam falar sobre aquilo em algum momento. Mas não ali, em um quarto de hospital. 

Hoseok não conseguiu impedir as lágrimas que escorriam por sua face durante aquela tarde, seu choro durou longos minutos. Estava assustado com o acontecimento, com a vida,consigo mesmo. Todos acreditavam que sua intenção havia sido o suicídio. Mas Hoseok negou. Disse que estava exausto, queria dormir, apenas dormir. E então o médico disse que às vezes os desejos inconscientes tomam forma em atos impensados.

 

“Eu preciso dormir um pouco
Você não deve continuar assim
Eu tento contar carneiros
Mas há sempre um que sinto falta

Todo mundo diz, "Você só tem que deixá-lo ir"
Você só tem que deixá-lo ir”

 

-

 

Hoseok teria sido liberado do hospital no mesmo dia em que chegou, mas de alguma forma conseguiu permanecer por mais um dia entre as quatro paredes daquele quarto branco, dizendo não se sentir bem para ir embora. Ainda não queria voltar para casa.

A mãe permaneceu ao seu lado o tempo todo e quando a noite surgiu sussurrou, sem ter a certeza se Hoseok já estava dormindo ou não, que iriam mudar de casa assim que o filho se formasse no colégio. Afastaria-se do marido, como havia prometido há muito tempo, e com uma separação legal procuraria a liberdade.

Hoseok ainda não estava dormindo. Ouviu cada palavra da mãe e, mais uma vez, não sabia se deveria acreditar.

Na manhã seguinte, após o café da manhã, recebeu a enfermeira no quarto. A mulher recolheu a bandeja com os alimentos praticamente intocados e informou que os amigos do paciente estavam do lado de fora. Hoseok havia dispensado todos eles no dia anterior. Sentia-se culpado por deixá-los preocupados e estava envergonhado com tudo o que havia acontecido.

- Converse com eles, meu filho, estão preocupados com você. Principalmente aquele de cabelos castanhos, chamado Taehyung.

- Não. Eu não quero falar com o Taehyung.

- Fale com algum dos outros meninos, pelo menos.

Suspirou e finalmente cedeu. Permitiu que um dos quatro meninos, exceto Taehyung, que haviam ido até o hospital novamente pudesse vê-lo.

Quem adentrou o quarto foi Jimin.

A mãe de Hoseok caminhou até o lado de fora para dar privacidade aos dois.

Jimin encarou Hoseok e em seguida desviou os olhos, um pouco sem graça. Queria perguntar se estava tudo bem, mas era uma pergunta idiota se fosse considerar tudo o que havia acontecido. Ouviu cada palavra de Taehyung desde o momento em que este havia chegado à casa de Hoseok. A vida do recente amigo era muito mais complicada do que poderia imaginar.

Aproximou-se da cama em que Hoseok estava sentado e voltou a fitá-lo.

- Hey... – Hoseok murmurou, mostrando-se um pouco sem graça também.

Ao observar o outro daquela forma, um tanto quanto frágil, Jimin sentiu vontade de abraçá-lo. Ainda não eram próximos o suficiente, mas gostava de verdade de Hoseok, e descobrir que este passava por sofrimentos calado o deixava realmente triste.

- Eu... fiquei preocupado com você. Pode parecer estranho confessar tudo isso agora, mas realmente gosto de você Hoseok, eu te considero um amigo. - Disse, entregando as flores que Seokjin havia levado. – Todos nós estamos ao seu lado, sabe, você não está sozinho.

Hoseok sentiu vontade de chorar novamente, mas conteve as lágrimas.

- Eu sei disso, Jimin... Pode não parecer, mas... eu pude aguentar todo esse tempo, em que meu pai voltou a ser o que era antes, porque tive vocês ao meu lado. – Sorriu fraco.

Jimin sentou-se na beirada da cama, enquanto ouvia as palavras do outro.

- Frequentar os encontros de Hip hop também me dá forças, sabe... A música, a dança, o rap. E ter você ao meu lado todos os dias na sala de aula e nos corredores do colégio, para que eu possa me distrair enquanto te irrito, também me faz aguentar e seguir em frente. Mas, agora, eu estou sem forças.

Jimin desviou os olhos novamente e fitou as próprias mãos.

- Eu sei o que está pensando... O que o médico disse... – Hoseok murmurou, após alguns minutos.

- Para ser sincero, eu nunca imaginei que... Eu não sei, eu sempre te vi com um sorriso estampado no rosto...

- Eu vou ser sincero com você, Jimin. Essa sensação sufocante, que não sei explicar muito bem, está sempre dentro de mim. É por isso que sorrio, rio... de alguma forma eu tento me livrar do que está aqui dentro mostrando coisas boas por fora. Mas não funciona, sabe. Eu tento. Eu tentei. Já não sei o que fazer...

Permaneceram em silêncio por alguns segundos. Jimin levantou-se, um pouco inquieto. Quando trocou as primeiras palavras com Hoseok, este era uma incógnita. Mas, ao aproximarem-se, começava a perceber que possuíam alguns pontos em comum. Os problemas familiares, a dificuldade no colégio... No entanto, apesar de não aparentar, Hoseok era ainda mais frágil para lidar com tudo aquilo.

Ao ligar os pontos, finalmente pôde entender que Hoseok estava sempre dormindo durante as aulas do colégio porque não conseguia dormir durante a noite. Talvez, quando o silêncio se fazia presente em seu quarto, seus pensamentos tornavam-se barulhentos demais. Talvez sua ansiedade tornasse sua mente inquieta, impedindo-o de possuir concentração ou encontrar motivação no que quer que fosse. 

Olhou para o relógio na parede e constatou que o horário de visitas estava acabando.

- E o Taehyung? Por que não o deixa vê-lo? – Perguntou sem hesitar.

- Não quero arrastar o Taehyung comigo para o fundo do poço. Diga algo para ele Jimin, convença-o a não abandonar a sanidade à minha porta.

- O que quer dizer com isso? Ele realmente gosta de você, Hoseok...

- Eu sei. E é exatamente por isso que-

- O tempo de visitas acabou. – A enfermeira pronunciou ao entrar no quarto e interromper a conversa.

Jimin se despediu e em seguida foi recebido no corredor pelo melhor amigo aflito, fazendo-lhe perguntas. Afirmou que estava tudo bem com Hoseok, tranquilizando os amigos.

Hoseok voltaria para casa naquele mesmo dia e Taehyung não hesitaria em procurá-lo.

 

-

 

Jeongguk desbloqueou a tela do celular e verificou as dezenas de mensagens que havia recebido de Jimin. Respondeu que Yoongi não estava em casa e Jimin poderia encontrá-lo no fim da tarde. Queria vê-lo, abraçá-lo, sentar ao seu lado e conversar pessoalmente. Mas... não sabia exatamente como contaria sobre a briga com o irmão mais velho.

Suspirou pesadamente e caminhou até o quarto. Vestiu uma calça jeans, uma camiseta e um casaco. Decidiu que precisava sair um pouco de casa. Desceu as escadas do prédio e encarou a rua pouco movimentada. O céu estava quase limpo, apesar de as notícias na televisão sobre o tempo afirmarem que a chuva viria no dia seguinte.

Andou lentamente, sem rumo, e sentou-se em um banco na mesma rua de seu prédio. Havia mandado uma mensagem para Yoongi, pois não aguentava mais as incertezas que lhe rondavam. Queria, de uma vez por todas, ter uma conversa séria com o irmão. Mas assim que este apareceu e sentou-se ao seu lado, sentiu uma vontade repentina de fugir.

Jeongguk estava receoso e com medo do que poderia ouvir vindo do irmão.

Os dois permaneceram em silêncio por um tempo e não trocaram nem mesmo um olhar.

Yoongi foi o primeiro a se pronunciar.

- Sobre aquele dia... me desculpe.

Jeongguk encarou o outro no mesmo instante, como se precisasse confirmar se suas palavras eram verdadeiras ou não.

Yoongi retribuiu o olhar e abriu a boca para dizer algo, mas não conseguiu pronunciar nenhuma palavra. Observou o lábio inferior e o rosto machucado do irmão mais novo, sentindo a culpa lhe atingir ainda mais em questão de segundos.

- Eu estou arrependido. – Insistiu, mesmo não acreditando que as palavras pudessem ser o suficiente para um pedido de perdão. Não queria ter machucado o irmão mais novo, mas não conseguiu se controlar...

- Eu preciso saber se... você está arrependido pelo que disse naquele dia ou pelos machucados no meu rosto. – Jeongguk finalmente disse, quase como um sussurro.

- Jungkook, eu... eu estava bêbado. E apesar de tudo eu me lembro o que disse. Mas também não queria ter dito aquilo.

Jeongguk sentiu um aperto no peito ao lembrar-se das palavras ásperas do irmão.

- Você realmente tem nojo de mim?

Yoongi engolia a saliva com dificuldade, sentia os ombros pesarem e uma vontade súbita de chorar.

Havia encontrado Ashlee há dias atrás. A namorada lhe atingiu com palavras duras, mas verdadeiras, e disse que Yoongi seria um covarde se não as aceitasse. Disse que ele estava fugindo ao invés de encarar a realidade e o irmão como ele realmente é, e que agir com agressividade é apenas o resultado do medo.

No dia seguinte, mandou uma mensagem para Jin. Desde sua aproximação, este era aquele em quem mais passou a confiar. Jin era maduro, sereno em sua forma de pensar, e conversar com ele o trazia certa tranquilidade. O procurou e Jin afirmou aquilo que Ashlee já havia dito.

“Os seres humanos são feitos de medos, Yoongi. Ao mesmo tempo que somos curiosos e desejamos desvendar o desconhecido, sentimos muito receio. E este medo do desconhecido faz com que algumas pessoas ajam com agressividade.”

No início, Yoongi não queria admitir. Afinal, por que teria medo da relação de Jeongguk com Jimin?

Percebeu que Jeongguk estava se levantando do banco e segurou seu pulso. Ainda precisavam conversar. Jeongguk voltou a sentar no banco e encarou as próprias mãos. Parecia que poderia chorar a qualquer momento.

- Naquele dia, no encontro de Hip hop, eu estava procurando por você. O Hoseok havia terminado o rap dele e eu vi o momento em que você... puxou o Jimin entre aqueles corredores. Eu os segui e... bem...

Jeongguk suspirou, sentindo-se envergonhado por falar sobre aquilo. Mas era necessário.

- Antes disso, eu ouvi o Jin e o Namjoon comentando algo que me incomodou. Eles disseram que havia algo acontecendo entre vocês dois. Eles não pareciam estar brincando. E depois do que vi, eu estava... eu não sei, Jungkook, aquilo...

- Você disse que sentiu nojo. E eu pergunto mais uma vez, realmente foi isso o que sentiu?

Não, não era nojo. Era algo completamente estranho, um sentimento de traição, como se estivesse sendo enganado. Foi como se... não reconhecesse mais o irmão. Por que Jeongguk nunca havia dito que gostava de garotos?

- Eu acho que estou assustado. – Confessou. Ouvir aquelas palavras saindo pela própria boca parecia fazer sentido. – Por que você nunca me contou?

Jeongguk sabia sobre o que o irmão estava falando.

- Eu também não sabia. As coisas apenas aconteceram desta forma. – Suspirou e em seguida reuniu toda a coragem possível para dizer o que estava entalado em sua garganta. – Eu amo o Jimin! Não importa se você vai me bater de novo ou o que for. Eu não posso enganar a mim mesmo e a você, eu realmente gosto dele, Yoongi!

Yoongi o olhou com olhos arregalados, boquiaberto e sem palavras. Jeongguk respirava com dificuldade, ansioso para saber o que Yoongi faria ou diria a seguir.

Yoongi sentiu algo estranho, novamente aquela sensação de algo novo e assustador. Agia o tempo tempo como se quisesse proteger o irmão mais novo do mundo. Mas quando o agrediu, talvez estivesse querendo proteger apenas a si mesmo. A verdade e o desconhecido eram realmente assustadores.

Segurou Jeongguk pelo pulso e este fechou os olhos, imaginando que seria agredido novamente, mas foi surpreendido quando Yoongi o puxou para um abraço.

- O Jin me disse que eu deveria ter a coragem para enfrentar meus medos. Eu acho que ele estava certo.

Jeongguk permaneceu estático, sem entender muito bem as palavras do outro.

Yoongi se afastou minimamente e fungou, piscando algumas vezes para dispersar as lágrimas que começavam a se acumular nos cantos dos olhos.

- Você decide o que quer fazer. Eu prometi aos nossos pais que cuidaria de você e te protegeria. E eu falhei quando fiz isso no seu rosto. – Passou levemente a ponta dos dedos sobre o machucado quase cicatrizado de Jeongguk. – Eu não vou impedir que você seja feliz, mas... vai ser difícil me acostumar com... seu... bem, o que há entre você e o Jimin. 

Jeongguk permitiu-se sorrir minimamente. Mas logo o sorriso se desfez ao lembrar-se dos pais.

- Você vai contar para os nossos pais?

-Não, eu não vou contar. Quem deve fazer isso é você.

- Tem razão...

Olhou para o céu e constatou que, de uma hora para outra, uma frente fria se aproximava e a chuva estava a caminho.

De repente Jeongguk sentiu o celular vibrar no bolso e lembrou-se que havia combinado de encontrar Jimin naquele mesmo dia. Mas Yoongi havia voltado... Como será que o irmão reagiria ao ver os dois lado a lado? De qualquer forma, queria ficar a sós com Jimin para conversarem melhor.

- Ei, você deveria procurar a Ashlee... – Queria que Yoongi ficasse fora por mais algumas horas, e felizmente lembrou-se de falar sobre a namorada do irmão. – Ela esteve em casa e levou as coisas dela embora. Disse que não voltaria mais.

A face de Yoongi tomou uma espressão de preocupação e ele engoliu em seco.

- Então é melhor eu ir...  – Se afastou com alguns passos e novamente virou para encarar Jeongguk uma última vez naquela tarde. – Eu sinto muito. De verdade.

 

-

 

Hoseok encarava os próprios pés, sem coragem de olhar nos olhos de Taehyung. O pai não estava em casa e a mãe arrumava as malas, pois passariam alguns dias na casa de uma tia que morava em um bairro distante.

Taehyung deu um passo à frente. Hoseok recuou em resposta.

- Por que fez isso? Por que tentou me deixar? – As palavras de Taehyung eram proferidas com irritação aparente.

- Eu não tentei te deixar, Taehyung, eu não queria que aquilo acontecesse! Eu só... queria dormir. – Hoseok respondeu baixo, ainda fitando os próprios pés.

- Dormir para sempre? Acha que as coisas se resolveriam desta forma?

Hoseok não respondeu. Estava cansado. Sabia que uma hora ou outra teriam aquela conversa e Taehyung não tardaria em demonstrar sua falta de compreensão. Mesmo que estivesse ao seu lado, ele nunca saberia, de fato, os sentimentos e emoções ruins que haviam dentro de si. 

Mesmo que Taehyung não entendesse exatamente o que acontecia com Jung Hoseok, naquele momento sentia sua  agonia quase palpável. Tudo a sua volta era como uma neblina que se infiltrava por debaixo das portas de todos os cômodos da casa escura em que vivia, esbranquiçando a visão de quem desejava enxergar. Enxergar um caminho para fora daquela realidade medíocre.

- Eu não consigo mais viver sem você. E eu não aguento mais te ver ass-

- É exatamente por isso, Taehyung! Pensa no que você está dizendo. Eu estou arruinando a sua vida...  Você pensa que tudo isso vai mudar, que eu vou conseguir ser alguém diferente? Hm?

- Você vai. Eu estou com você nessa, lembra?

- Isso não basta.

O mundo parecia desabar do lado de fora daquelas paredes. O céu negro, o ar gelado e as gotas espessas tornando-se audíveis.

O mundo de Taehyung estava quebrando-se em pedaços. Transformando-se em cacos de vidro, pontiagudos, cortantes, dolorosos. Sentia sua garganta arder, como se fosse cortada lentamente.

- Taehyung, o amor não dura para sempre. Assim como o resto das coisas. Ele some, é varrido como pó, se mistura no ar poluído dessa cidade. Você não vai me aguentar por muito mais tempo.

Com a respiração diminuta e sôfrega tentou convencer-se de seus próprios argumentos e convencer aquele à sua frente.

- Sim, você tem razão. Tudo muda. Nada é infinito, até mesmo o amor. E é exatamente por isso que você precisa acreditar que a sua vida vai mudar. Você vai mudar. Um dia, esses momentos ruins serão apenas lembranças dolorosas. Isso será passado, ficará para trás. E então, você vai rir, se divertir, ter momentos felizes.

Não eram apenas momentos ruins. Não era apenas tristeza. Hoseok sabia disso. Havia algo a mais, algo que ele não conseguia colocar em palavras e que os médicos poderiam chamar de depressão.

Taehyung precisava encontrar uma luz em meio à escuridão, precisava segurar Hoseok pela gola impedindo-o de desaparecer na penumbra e não retornar nunca mais.

- Outros problemas surgirão e você vai estar triste novamente, porque a vida sempre dá um jeito de colocar uma pedra no nosso caminho. A vida é feita de momentos. Hoje eu estou sentindo meu peito doer e apertar em uma sensação esmagadora, mas amanhã eu estarei sorrindo. Porque você vai estar ao meu lado.

Hoseok queria gritar que o amor não era como uma última peça de um quebra cabeça que encaixada no lugar certo para finalizar tudo o que pudesse haver de errado em sua vida. Não existe mágica. Não existem milagres. O amor não pode ser injetado nas veias como morfina e beijos não calam sussurros silenciosos de desespero.

Taehyung se aproximou, acolhendo Hoseok em seus braços, desejando mantê-lo ali para sempre. Segurou as mãos do outro e em seguida o olhou nos olhos.

Doía como álcool respingado em feridas abertas, porque o amava. Hoseok queria com todas as suas forças acreditar nas palavras de Taehyung. Queria unir o corpo do outro no seu e imaginar que desta forma tudo ficaria bem. Mas sabia que não era verdade.

Havia algo incompreensível, como uma barreira entre ele e o outro. Algo invisível aos olhos da sociedade ignorante, algo que rastejava por sua pele e mente, grudando em seus pés e impedindo-o de dar qualquer passo decisivo em sua vida.

Sentia estar fadado à loucura de seus próprios pensamentos.

 - Aproveite os bons momentos, meu amor, porque eles também acabam. Não desista.

- Não me olhe assim, Taehyung. Você não me merece.

- Está terminando comigo?

Hoseok não respondeu. A resposta já estava evidente e ele não conseguiria dizer aquilo. Sua garganta parecia se fechar e a voz não sairia.

Taehyung insistiria mais se a mãe de Hoseok não tivesse interrompido a conversa, chamando os meninos e dizendo algo que Taehyung sequer escutou. Murmurou algumas palavras initeligíveis e se despediu da mulher, sem olhar para trás. Pois sabia que se fitasse novamente os olhos de Hoseok não conseguiria segurar as lágrimas.

 

“É tarde demais, tarde demais. Eu não consigo viver sem você
 

Me deixe correr mais
Por favor, me deixe correr mais

Mesmo admitindo que meus pés estão cheios de cicatrizes
Eu ainda sorrio sempre que vejo você

 

Vamos correr, correr, correr, mais uma vez!

Está tudo bem se nos machucarmos”

 

 

-

 

 [Primeira pessoa]

 

Esperei Jeongguk na porta de seu apartamento, e assim que vi o rosto machucado e aparência cansada, senti um aperto no peito. 

O puxei pela cintura para um abraço apertado, envolvendo o corpo mais alto. Aproveitei o fato de ser mais baixo para afundar o rosto na curva de seu pescoço, inebriando-me com o cheiro que sentia falta, a temperatura de seu corpo e o som de sua respiração.

Quando nos afastamos segurei seu rosto entre as mãos. Ele sorriu fraco, mas logo percebeu que eu analisava os machucados e  tentou se desvencilhar do contato.

- O que aconteceu? – Perguntei apressadamente. – Quem fez isso com você?

Ele desviou os olhos que começavam a acumular lágrimas. Era doloroso vê-lo sofrer. Mas logo em seguida ele tentou me acalmar com suas palavras.

- Já está tudo bem. – A voz trêmula contrariava o que ele estava dizendo.

Voltou a me abraçar e pude ouvir seus gemidos baixos. Sabia que ele estava chorando e vê-lo assim, tão frágil, fazia com que eu sentisse vontade de chorar também.

Após vários minutos abraçados entramos no apartamento. Jeongguk me ofereceu um copo d’água e pegou um para si mesmo. Em seguida nos sentamos no sofá estreito e ele me contou tudo o que havia acontecido. Senti muita raiva de Yoongi, queria socá-lo com todas as minhas forças e fazê-lo sofrer como ele fez ao irmão. E se pudesse o manteria longe para sempre. Mas Jeongguk me garantiu que já haviam conversado e, aos poucos, tudo se resolveria.

- Como pôde perdoar o Yoongi? O que ele fez foi errado e cruel.

- Nós somos irmãos... Eu não poderia me manter afastado dele para sempre. Além do mais, ele disse que se arrependeu...

- E o que garante que ele não vai beber e... te bater novamente?

- Nada garante. Mas eu quero confiar nele, Jimin. – Suspirou e me fitou. – Vamos mudar de assunto...

- Tudo bem. – Minha mente ainda processava todas aquelas informações. Ainda sentia raiva de Yoongi. E de alguma forma eu queria poder garantir que tudo ficaria bem. - Eu não vou me afastar de você. – Murmurei, me aconchegando ainda mais perto dele.

- Eu sei. Nós não vamos nos afastar. – Ele garantiu.

De repente Jeongguk começou a cantarolar uma melodia baixinho, preenchendo o ambiente com sua voz agradável. A música fazia com que nos sentíssemos mais calmos. Resolvi me juntar a ele alguns minutos depois e nossas vozes se mesclaram na canção.

- Sua voz é bonita – Jeongguk segredou baixo. Talvez estivesse falando apenas para si mesmo. Mas eu ouvi, e vindo dele, com sua voz melodiosa, só tornava o elogio ainda mais forte para mim. Jeongguk viu em mim algo que antes de nossa aproximação eu nem mesmo acreditava possuir.

- Quando é que nos tornamos um “nós”? – Perguntou repentinamente.

Permiti que uma das minhas mãos fosse até seus cabelos e afagasse os fios macios com a ponta dos dedos.

- Às vezes eu me pego pensando na forma como implicávamos um com o outro, nossas brigas e receios.  – Continuou, fechando os olhos e encostando a cabeça em meu ombro direito. – Quando percebeu que estava apaixonado por mim?

- Quando percebi que não poderia ser seu inimigo, que não te desejava mal e só queria estar ao seu lado.

Ele abriu os olhos e fitou os meus. Abriu ainda mais o sorriso de lábios machucados.

- Não vamos nos afastar, certo?

- Não, confie em mim. Nossos dedos entrelaçados são mais poderosos que o mundo inteiro.

 

 

“Por favor
Me segure forte, me abrace
Você pode confiar em mim?”

 


Notas Finais


O nome dessa fanfic é uma grande ironia, né? Pois é, todos choram nessa fic.

E esse Jikook tá uma rapadura bem gostosa, né? <3

Eu sei que essa atitude do Suga, sobre reconhecer o próprio erro, talvez não tenha ficado muito realista. Mas... ainda tenho esperança que as pessoas preconceituosas possam refletir e mudar. E vamos imaginar que ele é maduro e acima de tudo ama o irmão!

3 músicas do capítulo:
I need some sleep – Eels
Run e Hold me tight – BTS

https://ask.fm/Parkkouhai


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