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História Boys don't cry - Falhas, chances, braços abertos


Escrita por: Park-kouhai

Notas do Autor


Você nem sabem quantas vezes escrevi, apaguei e reescrevi esse capítulo (e quero agradecer duas amigas que já leram o capítulo e me incentivaram a postar, se não fosse por elas... <3). Então, eu realmente espero que gostem da história.

Enfim, boa leitura <3

Capítulo 2 - Falhas, chances, braços abertos


Fanfic / Fanfiction Boys don't cry - Falhas, chances, braços abertos

 

 Falhas, chances, braços abertos

 

Gotículas de suor frio surgiram em minha testa e minhas pernas movimentaram-se inquietas, involuntariamente, fazendo um barulho irritante no estofado emborrachado do sofá estreito.

Tentei formular alguma desculpa que pudesse me safar de uma punição, mesmo que não soubesse se realmente estava ali para ser punido. Mas nenhuma das desculpas era convincente o suficiente.

Na outra extremidade do sofá Jung Hoseok permanecia com os braços cruzados na altura do peito e uma expressão de tédio no rosto.

Uma mulher de saia até os joelhos e camisa social bateu duas vezes seguidas na grande porta dupla e chamou meu nome, dando-me passagem. Respirei fundo, levantando do acento desconfortável, e girei a maçaneta.

- Com licença – entrei na sala ampla, de paredes brancas ocupadas por alguns quadros e uma prateleira repleta de troféus e medalhas.

O senhor bigodudo estava com as sobrancelhas grossas unidas e os cotovelos apoiados sobre mesa com as mãos juntas. Seguiu meus movimentos com os olhos e enfim, com uma ordem muda e um movimento com a cabeça, mandou que eu me sentasse na cadeira à sua frente. Ajeitou uma plaquinha que possuía grafado o seu cargo, de diretor, antes de começar a falar.

- O senhor Park sabe o motivo de estar aqui, certo?

Ele aguardou por um momento, mas eu não tinha certeza se era para responder ou não. Sempre pensei que quando autoridades falam ou fazem perguntas não esperam uma resposta. Gostam de sentir-se superiores e sentem-se abaladas com qualquer coisa que viermos a proferir. Talvez sejam pessoas inseguras que precisam se reafirmar o tempo todo à partir do nosso silêncio.

- Pois bem, por que suas notas estão tão baixas? – Desta vez eu precisava responder, certo? Mas o que diria? Que simplesmente não conseguia me motivar a estudar e o tempo todo desejava não estar ali, no colégio? Pareceria grosseria dizer isto?

Estralei alguns dedos e desviei o olhar dos olhos inquisidores, fixando um ponto qualquer da mesa à frente.

- Eu não sei... – murmurei de forma incerta, afinal meus reais motivos eram mais complexos do que a resposta precisa que o diretor desejava.

- Deveria preocupar-se mais com suas notas, Park Jimin. – Ele prendeu o ar nos pulmões e levantou o tronco, olhando-me de cima. Em seguida, pegou um papel que estava pousado sobre a mesa e o estendeu para mim –  Pois bem, precisarei tomar uma medida.

Observei aquilo que mais parecia um relatório e li o que estava escrito no topo da folha.

“O senhor Park Jimin, que não está de acordo com a média no boletim postulada por nossa instituição de ensino, está solicitado a permanecer no colégio todos os dias após seu horário de aulas para desta forma empenhar-se nos estudos e adequar-se à média requerida pelo colégio.”

Não estou de acordo...

- À partir de hoje, a medida relatada nesta folha estará sendo executada. Um aluno de boas notas o guiará, ele estará te esperando na sala 204. Espero que o senhor leve a sério seus estudos, Park Jimin.

Pensei que seria obrigado a ouvir lições de moral, mas ele apenas me dispensou sem mais objeções.

Levantei, pronto para sair dali, e me curvei em uma despedida formal. 

- Preciso, também, que traga o papel assinado pelos seus pais. – O diretor disse, por último.

Ele sabia meu nome, sabia sobre minhas notas baixas no boletim e presenciou minha pequena audácia ao não demonstrar tanto interesse nos estudos como deveria. Mas não sabia nada sobre quem eu era e muito menos de onde eu vinha.

- Eu não tenho pais, senhor.

Saí da sala fechando a porta atrás de mim cuidadosamente. Hoseok me olhou inexpressivamente e desviei quando ele passou por mim e entrou impacientemente onde eu estava há pouco sem ao menos esperar ser chamado.

Segui meu rumo pelo corredor extenso e silencioso. Em seguida subi os degraus da escada até chegar no segundo andar.

Abri a porta da sala e todos os olhares voltaram-se para mim novamente. Pela primeira vez alguém naquela sala além de Jung Hoseok havia feito algo considerado ruim o suficiente para ter que ir para a diretoria no meio da aula.

Eu estava sem fôlego. Inalei oxigênio para os pulmões e me direcionei à minha carteira. A lousa já estava inundada de frases desconexas demais para alguém que havia acabado de retornar à aula, então apenas guardei meu material na mochila esperando a aula acabar.

Algum tempo depois o sinal finalmente soou, no entanto não me senti completamente aliviado, pois meu castigo começaria exatamente naquele minuto.

Subi a escadaria para o quarto andar, carregando nas costas uma fadiga comum, além da mochila cheia de livros didáticos.

Entrei na última sala do corredor que permaneceria silencioso assim que todos os alunos esvaziassem as salas de aula ao redor.

Ali, naquele momento, foi a primeira vez em que falei com Jeon Jeongguk.

Assim como todos os outros alunos, eu já sabia quem ele era antes mesmo de o conhecer. Havia ouvido várias vezes seu nome sendo cochichado por aí através dos estudantes. No entanto, pouco sabia sobre ele além de seu nome, suas notas, murmurinhos a seu respeito ou seu sobrenome. 

Ele encarava pelas janelas abertas o lado de fora feito de um céu extremamente azul e pouquíssimas nuvens. Seu uniforme estava completo, com o blazer e a gravata, apesar de o dia estar quente e abafado. Eu, o oposto, já que minha gravata naquele momento estava perdida e abarrotada em algum canto da minha mochila. E minha camisa, dobrada até os cotovelos.

Assim que fechei bruscamente a porta atrás de mim, assustei involuntariamente o menino,  tirando-o de sua posição inicial sentado em uma cadeira.

Ele me encarou por alguns segundos, em seguida rolando os olhos dos meus pés à cabeça. Veio até mim, com seus fios de cabelo escuros ondulados pelo vento fraco que entrava pela janela, e depositou sua mochila em uma das carteiras ali presentes.

- Meu nome é Jeon Jeongguk – pronunciou.

- O meu é Park Jimin.

Ele suspirou e remexeu em um dos botões da manga do uniforme avermelhado.

- O diretor me mandou aqui para que te ajudasse com algumas matérias. Me diga, no que você tem mais dificuldade?

- Em exatas, com certeza. Mas... Você é o mais novo aqui, não é?

- Isso não quer dizer que eu não saiba mais que você. – sorriu, audacioso. – Vamos começar por matemática.

Sentei em uma das carteiras, retirando em seguida meu livro da mochila e abrindo na página de exercícios que deveriam ser entregues no dia seguinte. Jeongguk sentou-se em uma carteira próxima e analisou os enunciados. 

Comecei rabiscando alguma coisa aleatória, na esperança de que minha lógica fizesse sentido. Apliquei algumas fórmulas, mas nenhum resultado parecia ser o certo.

Enquanto isso Jeongguk apenas observava. De vez em quando prendia o riso e às vezes juntava as sobrancelhas, provavelmente se perguntando o que é que eu estava fazendo.

- Não vai me ajudar? – indaguei, já irritado com seu olhar observador.

Ele arrumou a postura na carteira e aproximou-se um pouco mais.

- Você está realmente perdido, Park Jimin. Mas não se preocupe, você só precisa aplicar as fórmulas que já aprendeu. – sorriu, com os lábios comprimidos.

Olhei para o livro novamente, espremendo os olhos, mas nenhuma fórmula me vinha a mente.

- Não me diga que você não se lembra de nenhuma. – disse, de uma forma que mais parecia um deboche.

- Nenhuma das que eu lembro parece se aplicar aqui.

Então Jeongguk procurou algo em sua mochila, retirando de dentro um caderno. Abriu em uma página aleatória e o colocou na minha frente.

- Escreva aqui todas as fórmulas que você conhece.

Ele estava falando sério?

Fitou-me, com as sobrancelhas arqueadas, enquanto eu continuei sem me mover. Revirou os olhos.

- Para fazer estes exercícios de probabilidade você precisa se lembrar do que estudou em médias estatísticas. Porcentagem, frequência... – pronunciou devagar.

Suspirei e peguei o livro do primeiro semestre. Folheei até a primeira página da matéria e procurei por fórmulas que eu nem lembrava existir. Anotei, uma à uma, na folha do caderno emprestado.

Aos poucos meu pulso começava a doer, meus olhos a pesarem e meu corpo a reclamar da postura relaxada.

Ergui o peito e pisquei algumas vezes tentando dispersar o sono. Jeongguk estava inclinado para a frente, com fones de ouvido e o rosto escondido pelos braços.

Retornei minha atenção ao livro didático, tentando conciliar algumas das fórmulas revisadas e anotadas no caderno com a resolução dos exercícios. Falhei novamente, pois os numerinhos com traços de divisão ou multiplicação me confundiam completamente.

Depois de um tempo Jeongguk ergueu-se e voltou sua atenção para minhas escassas anotações no livro.   

Suspirou novamente, meneou a cabeça de um lado para o outro, e levantou da carteira colocando a mochila nos ombros.

Procurei o celular no bolso da calça e arregalei os olhos quando percebi que uma hora já havia se passado.

Jeongguk caminhou até a porta e então me olhou por sobre o ombro.

- Você ainda vai me dar muito trabalho, Park Jimin. 

 

_

 

 

A verdade é que nunca fui bom com números.

As matérias de exatas que vieram junto com o ensino médio fizeram com que eu despencasse em notas.

Além do castigo, recebi como punição uma bela bronca do meu avô e vários tapas na orelha. Minha avó apenas segurou minhas mãos depois de me ver encolhido no sofá com as orelhas quentes e avermelhadas, e disse que o marido estava bravo porque se preocupa comigo. Eu sei que os decepcionei.

Podia notar seu desconforto quando meus tios perguntavam sobre o meu futuro, fingindo preocupação, mas a verdade é que estes ficavam satisfeitos por ter algo para fofocar ou jogar na cara de meus avós nas próximas reuniões de família.

“Os responsáveis por não dar à Jimin uma educação adequada”.

Meus parentes não eram próximos, e nunca entendi por que fingiam ser. A minha impressão é que eles gostavam de olhar uns para os outros buscando algum defeito para que pudessem se sentir menos mal com os seus próprios. Apesar de tudo, havia aquela tia que gostava de divulgar aos quatro ventos todo o seu sofrimento, competindo para ver quem teria doenças piores.

Assim que entreguei o boletim do último semestre à minha avó, ela logo balançou a cabeça de um lado para o outro.

- Não mostre isso ao seu avô – pronunciou, complacente. – Ele vai ficar uma fera com isso.

- É, eu sei...

Meu avô sempre desejou que meu futuro estivesse entrelaçado com qualquer profissão de sucesso. Medicina, direito, engenharia, eram algumas das carreiras que eram prometidas aos alunos assim que a matrícula do colégio prestigiado em que eu estudava era paga. 

Ele me criou desde pequeno, então é natural que tenha expectativas em relação ao meu futuro, certo?

Este é o destino que ele desejava para minha mãe. Ela seria uma ótima profissional, se estivesse aqui. Estudou no mesmo colégio em que eu atualmente estudava, quando o colégio ainda era para meninos e meninas. Foi neste mesmo lugar onde conheci aquele que me mandava sempre que possível mensagens de apoio para eu enfrentar mais um dia de estudos chatos.

Taehyung estava um ano à frente, e nunca imaginei que um dia nos tornaríamos melhores amigos.

O garoto falava alto demais nos corredores, fazia gracinhas, adorava contar piadas sem graça e cumprimentava todo o mundo como se já os conhecesse. Eu era o completo oposto. Andava encolhido pelos cantos dos longos corredores, não falava com os outros mais do que o necessário e também não me intrometia em conversas alheias.

Aos poucos isso foi mudando, desde o dia em que o garoto de sorriso quadrado sentou-se ao meu lado na quadra de esportes durante o intervalo, conversando sobre o jogo de basquete que se desenrolava ali. Acabamos descobrindo alguns interesses em comum. À partir daí, os dias e meses foram se passando e continuamos compartilhando ideias parecidas e dividindo o lanche nos intervalos.

Nos acostumamos a contar piadas internas e decifrar pensamentos e gestos à distância nas aulas de educação física que juntavam as duas turmas.

Eventualmente nos reuníamos com outros alunos nos intervalos, a empolgação de Taehyung era contagiante então ele sempre foi popular na escola. Ele me salvou da terrível solidão que gosta de capturar meninos tímidos como eu.

Passei a me sentir mais confortável em um ambiente com tantas pessoas e aprendi a viver a vida com mais liberdade, ou era assim que eu costumava pensar quando matávamos aula para ler mangás eróticos em algum canto escondido do terraço.

O terceiro ano chegou para Taehyung e eu imaginei que as memórias que construímos durante os anos escolares desapareceriam com a chegada da próxima estação.

Taehyung formou-se – e ainda me surpreendo quando lembro de seu boletim de notas impecáveis. Por mais que passasse horas esparramado no tapete da sala jogando video game, matando aulas e papeando o tempo todo, o garoto conseguia tirar notas boas. Éramos cientes de que colar diante dos olhos de águia dos professores estava fora de cogitação, e estudar pouco para as provas não era o suficiente para alguém como eu.

Havia uma coisa na qual nós dois sempre seríamos diferentes: Taehyung era muito inteligente. Já eu...

Os anos se passaram e minha dificuldade em exatas permaneceu colada em mim. Consegui chegar no terceiro ano do ensino médio apenas empurrando tudo para frente, e não é como se eu soubesse de cor todas as matérias. O nível de dificuldade apenas aumentou, os exercícios tornaram-se cada vez mais difíceis e complexos, e eu entendi que deveria ter me concentrado melhor naquelas regras que foram passadas pelos professores a tempos atrás, imaginando que elas atacariam novamente.

Após a formatura de Taehyung, ao contrário do que imaginei, continuamos amigos inseparáveis. Mesmo assim, permanecer no colégio sem Taehyung ao meu lado todos os dias pela manhã tornou-se uma tarefa difícil.

 

_

 

Direcionei meus olhos à porta da minha casa e meu amigo estava ali, encostado com as duas mãos nos bolsos da calça apertada esperando minha aproximação.

- Estou te esperando à horas, Park Jiminie. Por que demorou para chegar? – Me puxou bruscamente para um abraço e em seguida bagunçou meu cabelo. Retribuí passando um dos braços por seu pescoço, o puxando para perto.

- Você devia ter avisado que vinha. Eu tive um compromisso depois da aula.

Não nos encontrávamos desde que o ano letivo havia começado. Apenas trocávamos várias mensagens e eu sentia falta de encontrá-lo pelos corredores do colégio.

Abri a porta da frente e senti um cheiro delicioso de bolo de laranja ao adentrar o ambiente. Minha avó apareceu na sala segurando alguns pratos.

- Taehyung, a quanto tempo! – exclamou. Não fazia tanto tempo assim, mas ela adorava o meu amigo como se fosse o próprio neto. – Chegou na hora certa, venha comer um pedaço de bolo. 

- Eu estava com tanta saudade! – ele correu para abraçar minha avó que era vários centímetros mais baixa que ele.  Eles tinham alguma intimidade que eu não conseguia entender muito bem. Talvez Taehyung tivesse frequentado a minha casa enquanto eu não estive presente. De qualquer forma, o menino conseguia cativar qualquer um. Menos meu avô.

Meu avô era alguém difícil de agradar. Mesmo eu que convivi por anos no mesmo teto não o agradava tanto assim. Na verdade, eu era insuficiente para alcançar suas expectativas.

Seguimos para a cozinha e nos sentamos na mesa, sendo servidos também com uma xícara de chá.

- Você ainda não me contou qual é a novidade. – Encheu a boca com um pedaço que sequer cabia ali.

Esperei minha avó sair do aposento para começar a falar.

- Eu estou em uma suspensão eterna. – ele parou de mastigar para me olhar surpreso  – O diretor acredita que eu preciso de notas. Você sabe que eu não estou em uma situação muito boa nesse sentido. Então ele decidiu que eu preciso estudar mesmo depois do final das aulas.

- Que droga. Se eu pudesse, te passava um pouco da minha genialidade. Mas só uma suspensão como essa para resolver mesmo. – O olhei com uma expressão irritada, fingindo estar aborrecido. Levantei o punho e ele ergueu as duas mãos em defesa – Mas você consegue se concentrar se alguém estiver te ajudando, por outro lado.

- Bem, não é o isso que o senhor nerd pensa. Jeongguk praticamente riu da minha cara quando me viu fazendo os exercícios de matemática.

- Jeon Jeongguk, o menino de ouro?

- Você o conhece?

- Todos o conhecem, Jiminie.

- Pensando bem... Realmente não é como se fosse incomum conhecê-lo. É fácil saber o nome das pessoas com notas altas naquele colégio.

- É verdade. Eu sei bem como funciona, era popular entre as garotas dos colégios vizinhos. – Mostrou o sorriso quadrado – Sorte a sua que o nosso colégio era apenas para meninos, senão as meninas formariam fila para falar comigo e eu não conseguiria te dar atenção. – Soltou uma risada escandalosa com o próprio comentário idiota e eu não consegui segurar a minha. 

- Mas nunca se interessou por nenhuma delas. 

De fato, Taehyung sempre foi popular no colégio e também entre as meninas. Sua inteligência descomunal e boa aparência não eram segredo, mas acima disso Taehyung sempre foi uma pessoa muito divertida e carismática. Mesmo assim, estranhamente ele preferia passar mais tempo comigo, no colégio e fora dele também.

- As notas de Jeongguk são realmente boas. Diziam que ele era um dos melhores da sala. Acho que ele está no segundo ano agora. Além disso, parece que ele fez sucesso entre as meninas quando cantou em uma apresentação do festival anual da escola que é aberto para o público.

- Então... além de tudo ele também canta bem? Realmente existem vários motivos para ele ter se tornado tão popular.

- Bem,eu não diria que ele é popular, é só que as notas dele e o modo como os professores o tratam deixam qualquer um com inveja. De qualquer forma, eu nunca o vi rodeado de amigos ou algo assim. Talvez ele seja um pouco tímido, como você.

Conversamos mais um pouco sobre a escola e era engraçado como Taehyung parecia saber tudo sobre todos. Quando ainda estava na escola ele sempre ficava sabendo de todas as fofocas, já que conversava com várias pessoas pelos corredores entre as trocas de aula.

Continuamos comendo e Taehyung com certeza acabaria com todos os pedaços de bolo sozinho, se pudesse.

 

_

 

Esfreguei meus olhos com as costas das mãos, desejando poder ter permanecido em minha cama aconchegante. Era ruim acordar cedo todas as manhãs.

Às vezes eu comentava algo baixinho com colegas próximos, durante as aulas, na esperança de que conseguisse me distrair o bastante para não cair no sono induzido pelas letrinhas miúdas dos professores. Mas conversar também prejudicava os estudos, então eu teria que me esforçar para conseguir anotar todas as fórmulas de química escritas na lousa.

Duas batidas foram depositadas na porta e outro professor entrou na sala de aula, mandando que todos os alunos se dirigissem à quadra coberta.

Atravessei o corredor, sendo esbarrado por Jung Hoseok com toda sua rebeldia. Os cabelos bagunçados, brincos nas orelhas e botões superiores da camisa abertos eram apenas detalhes perto das histórias que circulavam pelo colégio a seu respeito.

Desci as escadas para o primeiro andar e caminhei pela área externa até a quadra.

Na grande estrutura havia um pequeno palco improvisado e várias cadeiras enfileiradas à frente. Sentei-me em uma delas e assim como os outros alunos estava curioso para saber do que aquilo se tratava.

Meus olhos varreram o local amplo e um pouco à frente avistei Jeon Jeongguk. Estava sentado em uma das cadeiras também, olhando para a frente. Talvez tenha percebido que alguém o observava, pois quando virou o rosto para trás logo guiou seus olhos até mim.

Desvencilhei meu olhar sobre o outro quando o professor deu alguns tapinhas em um microfone para testá-lo.

- Bom dia a todos. Hoje vocês estarão dispensados de suas próximas aulas.

Os alunos se entreolharam e vibraram com a notícia. Porém, o professor pigarreou e continuou sua fala.

- Pois assistirão uma palestra. – Desta vez soltaram muxoxos de frustração. – Não reclamem, ela será muito importante para vocês. Todos tem objetivos e sonhos altos que desejam alcançar, certo? E para isso devem se esforçar nos estudos. É por isso que resolvemos convidar um ex-aluno para vir aqui hoje.

Não era preciso mais palavras para saber que os sonhos dos quais ele se referia estavam totalmente relacionados a empregos em grandes empresas e coisas do tipo, depois da formatura.

Após alguns minutos um garoto usando uma touca, camisa social e calça jeans subiu no palco, e nenhuma das peças de roupa combinavam entre si. Ele passeou os olhos por nossos rostos e em seguida se apresentou.

- Meu nome é Kim Namjoon. Estudei aqui há dois anos atrás e hoje estou aqui para dar uma palavrinha a vocês.

- Entre todos os alunos que já estudaram nesta instituição, Kim Namjoon é um dos mais destacados. Tirou notas altas durante todos os seus anos escolares, seu boletim sempre possuía notas invejáveis do começo ao fim e recebeu prêmios em várias de suas redações.

Enquanto o professor tecia elogios o  garoto permanecia com um sorriso de lado em seu rosto. Quando teve oportunidade, segurou o microfone próximo ao rosto e voltou a falar, dando mais alguns passos à frente.

- Confesso que fiquei surpreso quando recebi a ligação da escola me convidando para vir palestrar, afinal, já faz dois anos que não vejo esta mesma quadra. Ela continua igual. Mas, acho que eu mudei um pouco desde que me formei.

Ele gesticulava e falava de uma maneira que fazia com que meu tédio aos poucos fosse embora e eu prestava cada vez mais atenção em suas palavras.

- Mesmo assim, continuo sendo lembrado por minhas notas altas. Vocês gostariam de ser assim também? Gostariam de serem lembrados por algo grandioso que fizeram?

Automaticamente meus olhos se dirigiram à Jeongguk. Ele parecia ser uma pessoa com tais desejos. Suas notas eram altíssimas eu eu tinha a impressão de que ele fazia de tudo para mantê-las no topo.

- Então, aqui vai a minha primeira dica para vocês: persistam. Se vocês possuem um objetivo ou há algo em que são bons, corram atrás disso. Persistam e se esforcem para merecer aquilo que desejam.

- Você nos contou através de nossa ligação que foi convidado para trabalhar em uma empresa árabe no ramo de negócios. Nos conte sobre isso – o professor disse, cortando a fala de Namjoon. Obviamente queria levar o rumo da conversa para o sucesso empresarial e financeiro. Era como se estivesse apontando que a persistência da qual Kim Namjoon falou estivesse totalmente ligada a isso.

Fiquei distraído navegando em meus pensamentos por um momento e perdi uma parte do que o palestrante dizia. O assunto já havia mudado e desta vez ele falava sobre o colégio.

- Bem, eu fui convidado para ser presidente de classe duas vezes e representante do conselho estudantil também. Mas eu não tenho vocação para ser líder. Se estivesse nessa posição faria um grande estrago no colégio – riu um pouco sem graça, passando a mão pela nuca, e alguns alunos riram junto.

Apesar de não o conhecer, não concordei com sua afirmação. O modo como ele se colocava e falava com todos nós não transparecia insegurança, e a forma como ele se expressava era bem clara. De que forma ele poderia não conseguir guiar os alunos como um líder?

Continuou falando por mais uma hora e às vezes o professor o interrompia para dizer algo que considerava importante. Namjoon falou sobre sua rotina de estudos enquanto ainda era um estudante, deu algumas dicas para memorizar fórmulas – e eu anotei cada uma delas mentalmente – e vale lembrar do momento em que o professor resolveu divulgar o valor de seu QI e recebeu um “não me importo com o número alto de três dígitos” em troca. O professor pareceu desconcertado com o comentário de Namjoon.

- E por último, caso queiram falar comigo, entrem em contato. Eu posso mostrar a vocês algo que nunca viram, algo que pode mudar suas vidas.

Não posso afirmar que ouvi suas palavras corretamente, pois elas soavam estranhamente enigmáticas. Ou talvez até hipnóticas, pois cogitei a hipótese de procurá-lo depois, talvez para perguntar mais sobre formas de melhorar o desempenho escolar.

Park Jimin se interessando por estudos. Soava como uma piada.

Mas... Eu precisava de notas. E talvez ele pudesse me ajudar, já que Jeongguk passou o resto da semana apenas me observando fazer – ou tentando fazer – os exercícios ao invés de me auxiliar de alguma forma. Jeongguk claramente não queria ser meu ajudante ou seja lá o que for.

Por causa da palestra a aula havia terminado mais cedo, então eu teria que ir diretamente para a sala de estudos. Mas... Eu merecia uma folga, certo?

Levantei com a mochila em mãos e, a passos largos, atingi o pé da escada. Subi os degraus até o primeiro, segundo, terceiro andar. Mais um pouco - parando entre o quarto e quinto para tomar fôlego - e logo estava no sétimo. Verifiquei, de longe, que a corrente no final do corredor estava com o cadeado destrancado.

Andei mais um pouco e abri a porta de ferro que oferecia acesso ao terraço do colégio.

Respirei fundo algumas vezes. O ar que entrava por minhas narinas parecia acalmar minha mente.  

De repente, vi pela visão periférica algo se mover. Meu coração acelerou em disparada com o susto, e quando foquei no indivíduo percebi que era Jung Hoseok. Ele me olhava com uma das sobrancelhas arqueada e uma expressão séria no rosto.

Apertei a mochila pela alça e virei-me para sair dali.

- Pode ficar. Eu não mordo.

Hoseok, então, divagou seu olhar para além daquele terraço. Segui curioso a direção em que ele olhava.

Nunca havia visto o lado de fora do colégio de um lugar tão alto. Estando em pé, pude ver o campo descoberto e alguns meninos jogando futebol pelo gramado. Mais à frente algumas árvores e o espaço onde ficava a quadra coberta. E depois os muros que delimitavam a área do colégio. Os alunos pareciam ainda mais pequenininhos lá embaixo e as conversas animadas daqueles que ainda estavam no colégio tornavam-se apenas murmúrios ininteligíveis.

- Não vai se sentar?

Retirei minha mochila dos ombros e lentamente agachei, em seguida esticando receosamente minhas pernas e encostando as costas na parede acinzentada.

- Você não estava assistindo a palestra?

Ele riu.

- Você já me viu assistir uma manhã inteira de aulas?

Seu cabelo envolto por várias camadas de gel fazia um topete na região da frente. Seus braços esticados repousavam em seus joelhos dobrados e os olhos entreabertos pareciam sonolentos.

Permanecemos em silêncio por incontáveis minutos, até que Hoseok levantou-se e deu alguns passos à frente.

No horizonte prédios faziam-se presentes, grandes e pequenos, de cores diferentes fazendo contraste com o céu claro de verão.

Hoseok caminhou até a beirada do terraço, estagnado frente ao abismo. Abriu os braços, sem olhar para baixo. E meu coração acelerou.

O sangue correu depressa sob minha pele e os pulmões pareciam trabalhar freneticamente para puxar o ar para dentro.

Rapidamente me levantei e corri para perto do garoto, sem ao menos pensar se esta atitude o assustaria ou não.

- Você é um candidato à suicida ou o que? – sussurrei estupidamente.

Ele me olhou, ainda sem sair daquele minúsculo espaço que o separava de um perigo fatal, e esboçou um sorriso de canto.

- Alguém precisa ser a testemunha.

Impulsivamente agarrei a camisa de seu uniforme e o puxei para trás com alguma força que nem imaginava possuir. Segurei seus braços, pronto para detê-lo caso ele estivesse certo de que seu desejo era mesmo se espatifar vários andares abaixo. 

E então Hoseok sorriu, riu, gargalhou. Balançava a cabeça para os dois lados e acumulava lágrimas nos cantos dos olhos.

- Qual é a graça? – esbravejei irritado.

- Não se assuste garoto, eu estava apenas brincando.

Soltei os braços dele e me afastei, um pouco constrangido com meu ataque de desespero para salvar alguém.

- Você tem um humor mórbido, Jung Hoseok.

- E você se preocupa demais, Park Jimin.

- Como sabe meu nome?

- Agora você está na lista daqueles que já entraram na sala do diretor. E não faça essa cara de descontentamento.

Revirei os olhos.

- Você é esquisito, Park. Se fosse outra pessoa, talvez cruzasse os braços ao ver os meus abertos.

 

 

“É cedo demais para falhas, você ainda é jovem

Um tiro, uma chance

Não há uma segunda chance, não perca, prepare-se agora

Desafie a si mesmo, espalhe sua personalidade, faça isso!”

 


Notas Finais


O que estão achando?

A música usada no final é One shot - B.A.P


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