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História Boys don't cry - Olhares


Escrita por: Park-kouhai

Notas do Autor


Olha quem chegou mais cedo!!! Hoje é meu aniversário, então vamos comemorar com Jikook OTP!

Esse capítulo tá menor, mas tem mais detalhes sobre o passado do Jimin.

Boa leitura <3

Capítulo 4 - Olhares


Fanfic / Fanfiction Boys don't cry - Olhares

Odiava ir para a escola. Abri os olhos lentamente para a claridade da luz que transpassava pela cortina branca do meu quarto e senti uma pontada no topo da cabeça ao levantar da cama, quando todo o sangue do corpo não estava presente no local.

Durante a manhã meu cérebro ainda não havia recebido oxigênio o suficiente para funcionar normalmente. Esfreguei meus olhos e pousei os pés no piso gelado, sentindo um arrepio percorrer cada poro do meu corpo.

Vesti lentamente o uniforme composto por calça, camisa, gravata e blazer.  Optei por deixar a última peça para trás, uma vez que no momento fazia calor.

Depois de tomar o café da manhã, segui a pé até o colégio.

Minha rotina se resumia a seguir do colégio para casa, estudar, estudar e estudar o tempo todo. Voltar para uma sala de aula mesmo quando as aulas haviam terminado e enfiar a cara nos livros novamente.

A imagem de Jeongguk me veio à mente, com todos os detalhes da noite de sexta-feira. Por que ele parecia tão diferente naquele momento? Seus cabelos bagunçados, a forma solta como se movia... Não conseguia sair da minha cabeça.

Baguncei os fios de cabelo com a mão direita, irritado por começar o dia pensando naquele que estava tornando meus dias mais difíceis.

Meu celular vibrou no bolso da calça e abri a mensagem que sabia ser de Taehyung.  

“Hey Jiminie, estou aqui!!!”

Estreitei os olhos e segui meu caminho, confuso com a mensagem estranha do meu amigo maluco.

Dobrei a esquina e me aproximei do portão principal do colégio, dando de cara com um Taehyung sorridente, vestindo uma calça de moletom cinza e uma camiseta larga, como quem acabou de acordar, acenando para mim com as duas mãos. Imprevisível como sempre.

- O que está fazendo aqui tão cedo?

- Apenas quis dar uma volta. Acabei encontrando o Hoseok no caminho e vim com ele até aqui - Deu de ombros.

Cruzei os braços.

Ainda estranhava a amizade de Hoseok com Taehyung. Eu entendia que meu melhor amigo conseguia cativar qualquer pessoa com a mesma facilicade com que piscava. Mas... Hoseok não era qualquer pessoa. 

- Vocês estão na mesma classe, não é? Por que ainda não se aproximou do Hoseok? Ele me disse que está sempre sozinho no colégio.

- Acho que é meio impossível fazer amizade com ele...

- Como assim impossível? Eu fiz. E não, não adianta fazer essa cara, eu sei que sou bom nessas coisas de fazer amizade, mas você também pode ser. Não é porque vocês não tem muito em comum que não vão se dar bem. Veja só, nós somos diferentes mas eu sei que você me adora.

Continuei com os braços cruzados. De onde vinha todo esse interesse de Taehyung em Hoseok?

- Você deve saber que as pessoas falam coisas ruins sobre ele, não é?

- E você só precisa ouvir o que ele tem a dizer sobre si mesmo.

E se esforçar para acreditar que as pessoas podem ser muito mais do que você imagina - completei a fala de Taehyung mentalmente.

- Tudo bem, tudo bem. Eu vou falar com ele, Tae.

- Eu vou saber se você não for, Park Jiminie!

 

-

 

Mordi mais uma vez a ponta do lápis ao encarar a folha de papel em branco repousada sobre a mesa.

Inclinei o corpo para trás, mantendo um balanço constante ao impulsionar a cadeira com as pontas dos pés.

Vai, vem, vai, vem. Olhos fechados. E absolutamente nenhum pensamento relevante se fixava em minha mente.

Ao cessar os movimentos, levei meus olhos à janela. A imagem dos estudantes enfileirados nas carteiras era refletida no vidro.

Uma das carteiras estava ocupada por Hoseok, debruçado sobre a mesa como se estivesse no sétimo sono.

Observei, novamente e contra minha vontade, a folha de papel à minha frente. O tema da redação me desafiando mais uma vez.

“O que serei no futuro?”

Não consigo afirmar nem mesmo quem sou no presente. Quem fui no passado muito menos.

Pensei em entregar a folha em branco, mas me lembrando em seguida, ao ouvir a professora chamar a atenção de Hoseok, que agora eu fazia parte dos que já entraram na sala do diretor. E então resolvi começar a escrever qualquer baboseira que surgisse em minha mente.

Deveria escrever aquilo que gostaria de ser no futuro? Ou o que pensava que iria ser?

Gostaria, primeiramente, de possuir a habilidade de atribuir significado àquilo que está escrito nos livros. Gostaria de poder dissecar minha vida e analisá-la da mesma forma que fizeram com aquele peixe da aula de anatomia da semana anterior. Gostaria de tirar notas boas como minha mãe nos tempos de escola, mas aparentemente herdei apenas os traços do meu pai nesse quesito.

Eu poderia, pelo menos, conseguir raciocinar sobre as matérias ensinadas. Isto já seria o suficiente, pois ser inteligente como Jeongguk era algo completamente fora do meu alcance.

O que ele escreveria em uma redação como essa?

Após apenas duas linhas escritas o som do sinal ecoou pelo colégio e tive que entregar minha redação sem concluir algo útil.

_

 

Eu estava livre no momento, e os míseros vinte minutos de intervalo foram recebidos pelos meus braços esticados, alongando os músculos rígidos.

Andei pelo corredor do colégio, sem pressa, e ao chegar no primeiro andar, próximo aos armários, me deparei com Jeongguk.

Ele me fitou, inexpressivamente. Pela primeira vez reparei que ele possuía brincos nas duas orelhas. Era apenas um detalhe, mas que por alguma razão diferenciava-se de sua postura de bom garoto.

- O que foi? – Ele questionou. Parecia inquieto mesmo sem eu ter dito uma palavra sequer.

- Na sexta feira...

- Você não me viu lá. – Ele olhou para os lados, preocupado que alguém estivesse ouvindo nossa conversa.

- E por que não?

Jeongguk prendeu a respiração por alguns segundos e em seguida soltou todo o ar, desviando o olhar para os próprios pés.

- Vamos apenas nos concentrar nos estudos, tudo bem? Ninguém precisa saber sobre minha vida pessoal.

E então ele passou rapidamente por mim, me dando as costas. E eu permaneci lá, abandonado à minha própria curiosidade sobre seus segredos.

 

-

 

O sol atingia meu rosto insensivelmente.

O material do tecido da regata e shorts não ajudavam em nada a superar o calor que queimava o gramado entre as traves do jogo de futebol. A aula de educação física estava no começo e aproveitei que ainda não era minha vez de jogar para esparramar as pernas na arquibancada.

Jung Hoseok estava sentado com as pernas e braços cruzados, de olhos fechados e sobrancelhas unidas para os raios de sol sobre si.

Depois de alguns minutos percebeu minha presença ali e virou o rosto para me encarar.

- O que você quer? – Foi direto.

- Nada. Só quis sentar aqui.

- Do meu lado? – Sorriu com ironia – Foi o Taehyung que te mandou aqui, não foi?

- É claro que não – menti descaradamente.

- Eu sei que ninguém se aproxima de mim voluntariamente, Park Jimin.

Jung Hoseok havia entrado no colégio há pouco tempo. Mesmo sendo mais velho havia sido colocado no terceiro colegial, já que repetiu de ano duas vezes seguidas. Sua fama não era boa. Havia arranjado brigas gratuitas – segundo os professores - logo na primeira semana de aulas. Estava sempre dormindo sobre a carteira e respondia os professores da maneira que queria.

Ninguém se atrevia a lhe dirigir o olhar e muito menos a palavra.

Ele era considerado o garoto que não gostava de estudar,  o garoto que andava sozinho, o garoto rebelde.

Ficamos em silencio por alguns minutos. Nenhum assunto surgia em minha mente e Hoseok se remexeu, parecendo estar desconfortável com a minha presença.

Decidi, então, comentar sobre o primeiro assunto que me viesse à mente.

- Na sexta-feira... Você viu o Jeon Jeongguk naquela festa?

- Eu não vi, – Hoseok riu – e o que é que tem aquele garoto?

- Sei lá, ele parecia diferente.

- Diferente como?

- Apenas diferente. Sem o ar de certinho que ele passa.

- Este ar que você está dizendo é o que você vê. Fora daqui as pessoas podem ser muito mais do que apenas estudantes que seguem regras.

Às vezes eu não conseguia enxergar quem as pessoas realmente eram, Taehyung costumava afirmar. E disse o mesmo quando me pediu para conversar com Hoseok...

Observei uma parte do gramado sendo ocupado pelos estudantes do segundo ano. Jeongguk estava entre eles. Vestia o uniforme de educação física na cor azul escuro, com chuteiras e meias até os joelhos, deixando apenas uma parte das coxas exposta. O sol atingia sua pele clara e ele cobria os olhos com as mãos em forma de concha.

- Hoseok, você acha que há muitas características que não podem ser vistas apenas pela aparência de alguém?

- Eu tenho certeza.

 

-

 

- Eu já te disse mil vezes. É a quinta vez que você parou na mesma parte do exercício. – Suspirou – Você tem que aplicar a fórmula, apenas isso!

Os estudantes que passavam pelo pátio observavam nossa pequena discussão, que já não era uma novidade. Jeon Jeongguk estava se tornando cada vez mais insuportável, me criticando na frente de todos como se fosse melhor do que qualquer um ali. 

Maldito momento em que eu decidi estudar na área externa para fugir do calor insuportável do verão. E além de tudo, Jeon Jeongguk me tirava do sério.

- Qual é o seu problema? Eu já disse que estou tentando.

Eu me esforçava de verdade para conseguir melhorar. Mas... não conseguia me concentrar em exercício nenhum. Apenas estudava porque... bem, meu avô estaria me esperando de braços cruzados e cabeça quente quando meu boletim chegasse em suas mãos.

Ironicamente meus únicos incentivos eram o medo diante do meu avô e a expectativa de Jeongguk sobre mim.

Era a segunda semana de estudos forçados desde que o diretor havia decidido me conceder um “ajudante” para estudar. E Jeongguk já se sentia no direito de pegar no meu pé.

E eram assim que começavam nossas discussões.

A princípio pensei que Jeongguk pudesse ser um garoto legal, mas descobri que ele era exatamente o oposto. Já na segunda semana juntos tive a certeza de que não nos daríamos bem.

Levantei do banco e recolhi todo o material espalhado sobre a mesa.

Jeongguk também se levantou.

- Não basta tentar, você precisa conseguir para tirar notas boas. – Ele era um pouco mais alto que eu e fazia com que eu me sentisse pequeno demais quando se aproximava o suficiente para me olhar de cima.

Joguei o caderno de qualquer jeito dentro da mochila e a coloquei nos ombros, dando as costas a Jeongguk.

- Você realmente não liga para os estudos, não é? Por que frequenta as aulas, então? Por que me faz perder meu tempo?

Apertei as alças da mochila, prendendo a circulação nas pontas dos dedos. Com a mandíbula contraída voltei a encarar seu rosto na mesma intensidade que seu olhar contundente.

- Me faça ligar. Me faça valorizar o seu precioso tempo. - Meu coração ainda palpitava, acelerado, irritado, exaltado. - Já que eu não sou inteligente como você, por que não me ensina, ao invés de ficar apontando meus erros?

Suas sobrancelhas se uniram. Pude notar em sua expressão que ele pareceu perplexo, tentando decifrar se o que eu havia dito era sério ou não.

Eu detestava ser acusado e rebaixado, principalmente quando se tratava de qualidades ou habilidades. Já havia sido reprovado em vários aspectos durante a vida.

Melhorar meu desempenho escolar seria apenas mais uma tentativa que não daria certo?

Não. Eu queria fazer de tudo para superar minhas dificuldades. Mas Jeongguk tornava tudo mais difícil.

Ignorar suas palavras não era a única questão. Ele me olhava desde o momento em que eu colocava os pés na sala de aula do quarto andar, mantendo as orbes escuras em minha direção, observando meus movimentos morrerem em partes difíceis demais dos exercícios.

Ele me perguntava as respostas das questões e às vezes eu sentia que poderia engasgar com a própria saliva. Tinha receio até mesmo de respirar e o som não sair bom o suficiente.

A verdade é que eu tinha o desejo de agradá-lo, de poder mostrar que eu também possuía qualidades. Mas nunca admitiria isso.

Jeongguk era perfeito em todos os aspectos.

E eu era apenas um espectador ansioso, tentando analisá-lo e não encontrando uma falha sequer.

Suas afirmações estavam certas, eu perdia a concentração, ficava sonolento e entediado, não me recordava de nenhuma fórmula e tomando seu tempo sem dar resultado nenhum só estava o prejudicando.

Jeongguk estava certo. Jeongguk era o certo. E exatamente por isso sua presença e olhar me incomodavam tanto.

 

-

 

- Meu menino, como estão indo as coisas na escola? – Minha avó se sentou na beirada da cama, com um paninho de prato em mãos. – Você está fazendo suas lições de casa direitinho?

- Estou vó... Na verdade eu vou começar a ficar na escola depois das aulas para estudar mais, e a senhora precisa assinar pra mim uma autorização. – Menti. Me sentia mal por isso, mas era minha única opção. Se meu avô ficasse sabendo que fui parar na sala do diretor, pelo motivo que fosse, eu estaria perdido.

- Autorizar meu neto a estudar mais? Até parece que eu negaria uma coisa dessas.

Ela balançou a cabeça para os lados e assinou o papel sem ao menos ler o que havia escrito. Sorriu satisfeita, os olhos espremendo-se e tornando-se menores.

- O jantar já está pronto querido, venha comer.

 

Às vezes minha avó ajudava minimamente com o trabalho na loja de meu avô, mas a maior parte do tempo encontrava-se em casa. Lavando e passando a roupa como deveria, segundo ele.

Quando entrei na adolescência comecei a perceber coisas que nunca poderiam ser ditas.

Por exemplo, o modo como minha avó mais ouvia do que falava, ia ao supermercado todos os dias pela manhã e preparava todas as refeições, além de limpar o chão e os móveis empoeirados onde nossos porta retratos familiares estavam postos. E ainda assim, era tratada como se seus feitos não fossem mais do que sua obrigação e não tão importantes quanto os de um homem que apenas passava o dia atrás de um balcão.

E em todos esses anos eu tentei não culpar meu avô por um machismo que estava presente em cada partícula de oxigênio de nossa casa.

Mas algumas coisas foram varridas para debaixo do tapete e outras encobertas por comentários quase convincentes de que minha avó não precisava usar vestidos bonitos, pois o único homem que precisava olhar para suas pernas estava dentro de casa.

Enquanto minha avó colecionava desejos segredados apenas consigo mesma, meu avô expandia os negócios e lucrava cada vez mais, até conseguir sua almejada posição na classe média.

Minha avó era jovial. Queria se arrumar, tingir os fios brancos do cabelo e pintar as unhas de cores bonitas e claras. Mas não poderia, pois descascariam assim que a louça fosse lavada. Enxaguar, ensaboar, empilhar, enxaguar novamente, secar. E de novo, e de novo.

 

Segui para a cozinha e me sentei à mesa com o meu avô. O prato a sua frente estava vazio e ele esperou ser servido pela esposa.

- Como vão indo as vendas?

- Cada vez melhores. Logo poderei expandir a loja e adquirir novos materiais, e assim terei algo para me orgulhar!

“Algo para me orgulhar”...

- Que bom. Sabe, o Jimin também está se esforçando bastante ultimamente. Ele disse que vai ficar no colégio depois do horário de aulas para estudar ainda mais, não é querido? – Minha avó disse, contente.

- É verdade... – Mentir para meu avô poderia ser perigoso, mas contar a verdade era ainda mais.

Pela primeira vez ele ergueu os olhos em minha direção e, como alguém que não tem nada para expressar, balançou a cabeça em concordância.

- Ótimo, é assim que deve ser.

Servi meu próprio prato com o jantar e dei a primeira garfada em silêncio. Permanecemos calados por algum tempo. Resolvi, então, dissipar o silêncio sufocante.

- Quando minha mãe ainda estava no colégio era boa nas matérias de exatas?

Meu avô ouviu minha pergunta com os olhos ainda sobre a comida, enquanto separava os grãos de arroz e a salada em cantos diferentes do prato.

Após longos minutos me respondeu.

- Minha filha era boa em qualquer coisa. Exceto para escolher um bom marido.

Quando criança, eu queria saber a todo custo os motivos para o meu avô odiar o meu pai.

Meu pai foi o responsável por influenciar a boa moça, filha do senhor Park, a fugir de casa. Assim como, três anos mais tarde, dirigiu aquele carro... o responsável por causar um acidente. Pressionou, às pressas, o pedal enquanto atravessava a cidade noturna rumo à fatalidade.

Sozinho, consegui perceber que as pessoas precisam de algo ou alguém para colocar a culpa, mesmo quando não há culpados.

Após o jantar tomei um banho. No espelho meu reflexo tentava me fitar através do vidro embaçado. Os fios de cabelo castanho escuro, as maçãs do rosto, ou até mesmo os lábios cheios poderiam ser parecidos com os de minha mãe. Mas os olhos...

Os olhos dizem aquilo que não pode ser revelado. Os olhos não ocultam segredos. Meus olhos eram os olhos de meu pai.

 

“Eu tenho um longo caminho a percorrer,

mas por que eu estou correndo no mesmo lugar?

 

Eu grito em frustração, mas ecoa no ar vazio

Espero que amanhã seja diferente a partir de hoje

Eu apenas espero”


Notas Finais


Dessa vez a música é do BTS mesmo ahushaus (Tomorrow).

Dá para perceber que o Jimin se sente incapaz e... Bem, ele sofreu durante a infância com as exigências do avô, o bullying na escola e a falta dos pais. Não sou muito boa em descrever os fatos, então fica tudo aí nas entrelinhas...

E aí? Me digam o que estão achando! <3


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