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História Boys don't cry - Aproximação, basquete e a boca de Jeongguk


Escrita por: Park-kouhai

Notas do Autor


Oláaaaa ❤
Esse capítulo é sobre a aproximação do Hoseok com os outros meninos. Talvez esteja meio chatinho, pq até tive que cortar a parte mais legal pra não ficar muito comprido. Então não vou demorar nadinha pra postar o próximo. Uhuuul

Ah, sobre o capítulo anterior: o sonho do Jimin foi inspirado em uma cena do Live action de Seven days (shonen-ai muito fofo), eu tinha esquecido de falar, rs.

Boa leitura~

Capítulo 7 - Aproximação, basquete e a boca de Jeongguk


Fanfic / Fanfiction Boys don't cry - Aproximação, basquete e a boca de Jeongguk

Era uma tarde fria de quinta-feira. As nuvens cobriam o céu.

O pátio estava vazio. Eu e Jeongguk tínhamos finalmente concluído os exercícios da apostila. Estudar estava longe de ser algo motivador, mas História realmente rendia vários exercícios feitos. Jeongguk analisou aqueles que faziam parte da matéria que já havia estudado, afinal o conteúdo do terceiro ano do ensino médio é praticamente uma revisão de tudo o que já foi estudado.

Quando Jeongguk disse que as repostas estavam certas, sorriu satisfeito. E eu também sorri, ainda mais satisfeito.

- Eu já volto, vou comprar uma água.

- Te espero aqui.

Segui Jeongguk com os olhos ao ver ele se afastar em direção à cantina. Estava escondido por baixo de um casaco grosso que cobria o uniforme. Talvez... eu... pudesse admitir que ele, com toda aquela roupa em volta do corpo e o rosto avermelhado pelo frio, era uma visão adorável.

 De repente, a presença de alguém se aproximando cortou imediatamente meu pensamento inoportuno.

Haviam outros bancos vazios, mas Hoseok resolveu se sentar do meu lado.

- O que ainda está fazendo aqui no colégio? As aulas acabaram há um tempão...

- Fui fazer uma visitinha ao diretor. – Respondeu, com um sorriso irônico adornando os lábios.

Estas “visitas” de Hoseok já não eram mais novidade. Ele estava lá, na sala do diretor, praticamente toda semana.

- Foi por causa da redação?

- Não. Eu escrevi a redação.

- Na verdade você estava dormindo, Hoseok.

Jeongguk voltou, com a garrafinha de água em mãos, e inevitavelmente não conseguiu disfarçar a expressão de surpresa ao ver Jung Hoseok sentado ali.

- Esteve me observando, Jiminie? – Hoseok provocou, arrastando a voz no final ao imitar Taehyung pronunciando o apelido. E então ergueu o braço, mostrando a mão direita enfaixada.

- O que você fez? – Jeongguk se pronunciou pela primeira vez, demonstrando curiosidade.

- Eu não fiz nada! – Hoseok uniu as sobrancelhas e cruzou os braços. - O diretor pensa que eu arrebentei a cara de alguém em alguma confusão por aí, e não quer que a reputação do colégio fique manchada. Na cabeça dele eu tenho culpa por estar com a mão nesse estado.

- E você vai ser punido por algo que não fez?

- Sim. Afinal, eu sou apenas Jung Hoseok, o garoto insano que anda fora dos trilhos, que precisa de correção e disciplina. – Exclamou, enquanto gesticulava.  Suas palavras não aparentavam tristeza ou ódio, mas eram ditas com um riso debochado, como se fossem uma piada de mau gosto.

Me levantei e coloquei a mochila nos ombros, pronto para começar a próxima tarefa que havia recebido como punição: lavar os banheiros.

- Precisamos ir... até mais. – Acenei para Hoseok.

Jeongguk andou na frente e eu o segui. Era perceptível o estranhamento dele em relação à aproximação repentina de Hoseok. Mas Hoseok não era perigoso. Às vezes, entre brincadeiras e provocações de Taehyung, ele parecia até mesmo frágil demais.

Ou talvez fosse apenas minha imaginação.

- Esperem! – Ele gritou, e correu em nossa direção.

 

-

 

Jeongguk depositou o balde no chão e eu mergulhei o rodo na água, com a ponta envolvida por um pano.

Nossas mochilas estavam guardadas na sala de aula ao lado do banheiro, e mesmo no frio estávamos com a camisa do uniforme dobrada para facilitar a tarefa.

- Quer dizer que vai ter que limpar os banheiros também? – Perguntei para Hoseok, que estava encostado na porta, com os braços cruzados.

- Sim. Mas não é como se eu já não tivesse feito isso antes...

- Então você já limpou os banheiros do colégio?

- Na verdade... não. É só espalhar a água pelo chão, puxar com um rodo e a tarefa está feita!

- Nós não podemos fazer isso! Se algum funcionário vier verificar se o banheiro está realmente limpo, e ele não estiver, nós vamos receber outra punição! – Jeongguk rebateu.

- Relaxe, menino de ouro, não vamos ser pegos.

E então Hoseok sentou no chão, encostando as costas na parede e esticando as pernas. Tirou o fone de ouvido do bolso e conectou no celular.

Jeongguk o encarou com uma expressão irritada e me lembrei de quando ele revelou que não gostava do apelido.

- Vai ficar aí parado enquanto eu e o Jimin fazemos todo o serviço? – Jeongguk questionou, com os braços cruzados e as sobrancelhas unidas.

- Eu já disse que não precisamos fazer nada. Ninguém vai verificar os detalhes como pensa ou costuma fazer, senhor certinho.

Jeongguk fuzilou Hoseok com o olhar ao ouvir suas palavras. Arrancou o rodo da minha mão e subitamente o apontou na direção de Hoseok. O pano, que já estava enxarcado, respingou a água gelada na roupa e rosto do garoto sentado no chão. Este fechou os olhos, e quando abriu, havia fúria refletida.

Hoseok pôs-se de pé rapidamente e os dois se encararam soltando faíscas pelos olhos.

Me enfiei entre eles, sabendo do perigo que corria estando entre o olhar perfurante que trocavam.

- Quem você pensa que é para me chamar de certinho? Hm? Você é quem não quer fazer o serviço direito.

- E quem você pensa que é para me dar ordens? – Hoseok retrucou.

- Ei, se acalmem! Acho que deveríamos nos ajudar, sabe... Vamos deixar os julgamentos para depois. Já está ficando tarde e precisamos terminar logo essa tarefa...

Esperei eles pararem de se encarar para me afastar e relaxar os músculos, mas ainda sentia a tensão no ar.

Hoseok revirou os olhos, voltando para o mesmo lugar onde estava sentado no chão.

Jeongguk bufou e eu peguei novamente o rodo das mãos dele, começando a esfregar o piso sujo.

Comecei limpando o canto esquerdo, enquanto Jeongguk esfregava a pia com uma esponja.

Passei o pano úmido por todos os cantos até alcançar Hoseok. Empurrei as pernas dele e comecei a passar o pano onde ele estava, como uma provocação para ele sair dali, já que conversar no momento – pela expressão emburrada no rosto dele - parecia não ser uma boa ideia. E funcionou.

Ele bufou de novo e se levantou. Talvez ele já estivesse entediado. Tirou os fones do ouvido e guardou no bolso da calça.

- O que é que eu preciso fazer?

Joguei um pano nas mãos dele. Ele suspirou, e depois de alguns minutos foi até as janelas e começou a passar o pano nos vidros lentamente.

 

-

 

Apenas quinze minutos haviam se passado e eu já estava com o corpo dolorido. Não estava acostumado com serviços domésticos ou algo que envolvesse esforço físico.

Jeongguk havia passado o tempo todo de cara fechada, enquanto esfregava o balcão e a pia. Depositou o pano em um canto qualquer e ergueu os braços, espreguiçando todo o corpo em seguida. Com o movimento, a camisa do uniforme ergueu minimamente e mostrou um pedaço da barriga.

Senti meu rosto corar e voltei a me concentrar no chão úmido. “Reação estranha, Jimin, muito estranha...”.

- Terminei a minha parte. Vou continuar a limpeza no banheiro do primeiro andar. – Ele disse, passando por mim e saindo do local.

- Até que enfim. Aquela cara emburrada dele já estava me  incomodando!

- Você também estava com aquela cara até pouco tempo atrás. E você não quis nos ajudar, em primeiro lugar.

Hoseok parou o que estava fazendo e virou na minha direção, com uma mão na cintura e os olhos estreitos.

- Está defendendo o Jeongguk?

- Não, estou dizendo que os dois estão errados em ficar discutindo... Ah, deixa pra lá. O importante é que juntos nós vamos conseguir terminar essa tarefa ainda hoje.

Ele continuou me encarando e cruzou os braços.

- O que foi?

- Eu já te disse que você é esquisito?

- Já, quando quase se jogou do terraço... e depois o esquisito sou eu...

- Eu só estava brincando! E sim, você é realmente esquisito.

Parei de passar o pano no chão e fitei a expressão enigmática de Hoseok.

- Sabe,ninguém desse colégio nunca falou comigo como você fez agora, me acusando ou apontando o dedo para mim sem hesitar. Quer dizer, ninguém fala comigo. Parece que todos tem medo de mim. Mas você...

- Por que eu teria medo de você, Hoseok? Eu... não acredito que você seja o garoto rebelde que dizem por aí...

- E por que? Por que você acha que eu sou diferente, Jimin? – Ele perguntou, parecendo tão  ansioso pela resposta que acabou derrubando no chão o pano que segurava.

- É apenas... o que eu vi. O modo como você trata bem o Taehyung, quando ri das piadas dele e... parece ficar magoado quando perde a partida de vídeo game – ele uniu as sobrancelhas e fez um bico engraçado ao ouvir minhas palavras - mas provavelmente perde de propósito, porque o Taehyung é péssimo naqueles jogos. – Desta vez ele coçou a nuca com uma das mãos, parecendo sem graça com o comentário.

- Então...

- Eu não vou mentir. Pensava mesmo que você fosse desse jeito que te descrevem, sabe? Mas eu não te conhecia. E foi o mesmo com o Jeongguk. Só quando a gente se aproxima das pessoas descobre quem elas realmente são. E só agora eu consegui entender que julgar as pessoas sem nem mesmo ter trocado uma palavra com elas é um erro. – Confessei, sentindo as bochechas arderem por expor meus pensamentos.

Agora ele me fitava inexpressivamente, provavelmente tentando digerir o que eu havia acabado de dizer. Ou me achando um doido que sai por aí pregando compaixão.

O chão do banheiro já estava limpo. Minhas opiniões já estavam esclarecidas. Eu apenas queria que Hoseok soubesse que julgar não é o melhor caminho.

 

-

 

Iniciei novamente a limpeza do chão e Jeongguk já terminava a da pia.

- Por que demorou? Daqui a pouco vou terminar a minha parte.

- Eu só estava terminando a limpeza.

Jeongguk voltou a limpar a pia e após alguns minutos parou o que estava fazendo. Apoiou o peso do corpo em uma das pernas e suspirou.

- Acho que teríamos terminado toda essa tarefa mais cedo se o Hoseok tivesse nos ajudado desde o início. Aquele garoto preguiçoso... Vocês estão na mesma classe, não é? Mas, ele parece mais velho...

- Hoseok repetiu de ano duas vezes. Mas... talvez isso não tenha nada a ver com preguiça. Talvez ele tenha dificuldade nas matérias, assim como eu.

- Não foi o que eu quis dizer. Estava falando sobre a limpeza, quando ele não quis ajudar e sentou no chão como um preguiçoso.

 De repente, Hoseok apareceu na porta, vestindo apenas a camisa do uniforme sem casaco nenhum por cima. Arregaçou as mangas e sem dizer nada se enfiou em uma das cabines.

Eu e Jeongguk nos entreolhamos.

Estávamos surpresos por Hoseok espontaneamente começar a limpeza das privadas.

- Você acha que ele ouviu a nossa conversa? – Jeongguk perguntou baixinho.

- Acho que não. Mas... acho que ele teria ficado ofendido se tivesse ouvido. E olha só, agora ele está lá dentro daquela cabine fazendo o serviço sujo.Tem certeza que ele é um preguiçoso? – Respondi em um sussurro.

- Então... talvez eu tenha cometido o mesmo erro que cometi com você quando pensei que não se interessava pelos estudos, não é?

- Sim. E eu me sentia ofendido, você sabe.

- O quê? Estão falando comigo? – Hoseok gritou de dentro da cabine.

- Não precisa gritar, Hoseok! Só porque não está nos vendo não significa que somos surdos. – respondi.

- Estamos em um banheiro feminino? Porque eu pensei ter ouvido uma voz fina aí do lado de fora...

Ignorei a provocação de Hoseok e Jeongguk apenas riu.

Ele se aproximou e me disse mais alguma coisa baixinho, mas não consegui entender o que ele estava falando. E então se aproximou um pouco mais, ficando próximo do meu rosto e senti um arrepio no local onde sua respiração alcançou.

- Eu prometo não te julgar mais até te conhecer por completo.

 

-

 

Te conhecer por completo”.

As palavras de Jeongguk ainda me causavam arrepio. Tentei me concentrar no céu, nas nuvens, ou o que quer que fosse para me livrar da sensação recente.

Estávamos na saída do colégio e o céu estaria um azul escuro, caso não estivesse coberto pelas nuvens acinzentadas.

- Eu tinha razão quando disse que a gente precisava se ajudar, não é? Conseguimos acabar tudo mais rápido do que o esperado.

- Hm... – Hoseok murmurou.

Jeongguk olhou para Hoseok e em seguida para mim, incerto. Correspondi o olhar e acenei afirmativamente com a cabeça, incentivando-o a falar com o outro.

- Você... fez um bom trabalho.

- Eu... fiz o que deveria ser feito. Você também fez um bom trabalho.

- Obrigado.

Os dois se entreolharam, sem jeito, e depois desviaram o olhar.

Eu sabia que meu avô logo estaria chegando do trabalho, por isso precisava voltar para casa rapidamente.

Nos despedimos, então, e fomos embora.

 

-

 

Abri a porta da frente, ofegante por ter andado rápido na volta para casa, e retirei os sapatos.

Fechei a porta atrás de mim e quase engasguei pelo susto que levei ao ver meu avô sentado em sua poltrona.

Droga, droga, droga.

Meu avô me conhecia. Sabia que eu não era um bom aluno.

Eu já havia dito que ficava no colégio até mais tarde para estudar, mas ficar estudando até a noite pareceria surreal demais. Eu teria que inventar alguma desculpa muito boa para justificar minha demora.

- Sente-se – ele ordenou.

Sem questionar sentei no sofá, de frente para aquilo que parecia ser seu trono.

- Como vão os estudos? – ele perguntou, prestando atenção no noticiário.

- Eu vou bem, vô. E nos estudos também.

- Tem certeza? – Questionou, desta vez me olhando por cima dos óculos. Apertou o botão do controle e desligou a televisão, em seguida voltando a me encarar. – Que horas você costuma voltar para casa todos os dias?

Minha avó apareceu na sala, com os dedos segurando o avental que envolvia o corpo magro, e sorriu minimamente na minha direção. Seu olhar aparentava preocupação, e os lábios, que não diziam nada, um pedido de desculpas.

Meu coração a essa altura já batia acelerado contra o peito.

- Eu... Eu volto quando termino de estudar. – Tentei soar com a voz firme, mas minha ansiedade era quase palpável.

- Durante toda a semana você ficou até tarde no colégio estudando, Park Jimin?

E se fosse verdade? Eu poderia muito bem ficar estudando a tarde toda no colégio. Afinal, era isso que ele queria, não era? Por que eu não poderia mudar e deixar de ser incapaz até mesmo para me esforçar em alguma coisa?

- Me responda, Jimin!

Me levantei e caminhei até a minha mochila. Retirei de dentro de um dos bolsos o papel que o diretor havia mandado meus pais assinarem. No caso, meus avós.

As reações do meu avô eram cautelosas. Suas palavras eram duras, mas cheias de rodeios. Não haviam discussões com vozes alteradas ou gritos. Ele levantou a mão contra mim poucas vezes na vida, e uma delas foi no dia em que entreguei meu boletim com notas baixas a ele.

Entreguei o papel ao meu avô, receoso pelas consequências. Esperei. Ele se levantou e analisou as palavras escritas pelo diretor do colégio. Em seguida pegou uma caneta e assinou o papel, sem dizer absolutamente nada.

- Advertências e punições são comuns em colégios exigentes e... – Minha avó comentou, ansiosa, olhando para mim e em seguida para o meu avô. - Nossa filha foi uma ótima aluna durante o colegial, no entanto, hoje em dia é comum os estudantes cometerem erros, certo? 

Meu avô depositou o papel e a caneta sobre a mesinha de canto, em seguida voltando a me encarar.

Suspirou uma vez, antes de voltar a se pronunciar.

- De fato, sua mãe foi uma ótima aluna, Jimin. No entanto, me decepcionei com a minha filha duas vezes. E agora pela terceira vez, ao perceber que meu neto nunca será um bom aluno como ela.  

 

-

 

A sexta-feira havia amanhecido chuvosa.

As rodas dos carros deslizavam pelas ruas e eu sentia as gotas de chuva molhando todo o meu pé por dentro do tênis.

Reparei que meu cadarço estava desamarrado e me abaixei, tentando segurar o guarda chuva e amarrar o tênis com uma mão só, e descobrindo ser uma tarefa impossível.

Encarei, desanimado, meu reflexo turvo em uma poça d’água. Meus olhos estavam levemente inchados, por causa do choro do dia anterior.

Eu não conhecia muita coisa sobre o meu passado além de uma única foto do meu pai, várias da minha mãe e algumas histórias furadas.

Eu sabia que meu pai, segundo meus avós, havia feito minha mãe se apaixonar por ele, engravidar e sair de casa, ou seja, sair dos braços do meu avô. 

Minha mãe era apenas uma colegial. E então eu nasci. Minha avó cuidava de mim enquanto minha mãe estudava e meu pai trabalhava. E mais tarde, tudo mudou quando  eles foram envolvidos em um irreversível acidente de carro. 

Eu era o fruto de uma relação que trouxe dor aos meus avós.

Quem eles amavam se foi e eu fiquei para trás, como uma lembrança de todo o sofrimento.

Durante a madrugada, enquanto eu tentava limpar os vestígios das lágrimas que ainda escorriam pelo meu rosto, minha avó se deitou ao meu lado na cama e me abraçou. E então iniciou uma carícia no alto da minha cabeça, passando os dedos entre meus fios de cabelo. 

“ Eu estou aqui, Chim Chim. Sempre vou estar. Não ouça as bobagens que o seu avô diz, tudo bem?”

“Não são bobagens”, respondi, apenas mentalmente.

Há coisas que sabemos mesmo quando não são ditas.

Aos poucos tudo estava sendo revelado, como nós sendo desatados.

Suspirei pesadamente e me levantei, seguindo para o colégio com os cordões brancos do tênis arrastando pelo chão.

 

-

 

Todo o piso do colégio estava molhado pela água que escorria do guarda-chuva dos alunos.

As aulas haviam acabado. Atravessei o pátio e segui até a quadra coberta. Hoseok e Jeongguk já estavam lá, me esperando.

Hoseok digitava alguma coisa no celular e Jeongguk lia um livro qualquer. Os dois estavam tão desanimados para fazer qualquer esforço físico quanto eu. Estávamos cansados pelo dia anterior e a manhã de estudos.

Retirei o molho de chaves do bolso e rodopiei no dedo indicador, chamando a atenção dos dois. Jeongguk e Hoseok se aproximaram, enquanto eu tentava decifrar qual das chaves ali era a correspondente ao quartinho de inutilidades.  

 Girei a chave na maçaneta da única porta do local e a abri. O cheiro de lugar abafado misturado à poeira me invadiu as narinas e os dois atrás de mim também murmuraram alguma reclamação.

- Por onde começamos? – Hoseok indagou.

- Não faço ideia. Acho que temos que tirar tudo daí de dentro e fazer uma limpeza geral. E depois organizar a prateleira com alguns materiais e guardar o resto nas caixas. - Jeongguk disse.

- O senhor certinho parece ser bom em organizações... Por que estão me olhando assim? Ué, só fiz um elogio...

- Hm... obrigado, eu acho. – Jeongguk respondeu.

- De nada.

E então começamos a retirar tudo de dentro daquela sala apertada e bagunçada.

Os materiais de esporte estavam cobertos por poeira e os coletes que os alunos usavam por cima do uniforme de educação física tinham um cheiro horrível. Fiquei imaginando como é que conseguiam usar aquilo sem passar mal.

Durante o processo de arrumação encontramos uma barata e mais um monte de poeira embaixo das prateleiras desgastadas.

Quando a sala já estava vazia, reunimos o material de limpeza para colocar em prática a próxima etapa.

Procurei Jeongguk com os olhos e vi que ele estava na arquibancada, pegando algo na mochila. Quando voltou, tinha uma garrafinha de água em mãos. Desrosqueou a tampa da garrafa e levou a abertura estreita até os lábios. Tomou um, dois, três goles, o pomo de adão se movendo lentamente. Em seguida, fechou a garrafinha e passou as costas das mãos na boca.

- Jimin!

- O-o que foi? – Me voltei para Hoseok, que me encarava com uma das sobrancelhas arqueada.

- Já te chamei três vezes. O que é que tem de tão interessante no Jeongguk bebendo água?

- Nada, é que... eu... também quero beber água. Estou com sede. É isso...

- Hm, tudo bem... – Dessa vez ele mostrava um sorrisinho estranho. – E então, você pode ir até a torneira para colocar a água no balde? Precisamos lavar todo esse chão imundo.

- Tudo bem, eu vou...

 

-

 

- Finalmente! – Gritamos ao mesmo tempo. O quartinho estava limpo e organizado como provavelmente nunca esteve.

Tudo estava em seu devido lugar e apenas uma caixa grande e cheia de bolas ainda estava aberta. Hoseok rodopiava uma bola de basquete na ponta do dedo indicador.

- Eu preciso descansar... – Jeongguk murmurou, se dirigindo para as arquibancadas.

- Vou fechar a porta e devolver a chave na secretaria. 

Esperei Hoseok guardar a bola dentro da caixa, mas ele continuou brincando. Então me aproximei para pegar a bola da mão dele e ele rapidamente desviou. Tentei de novo, e desta vez ele quicou a bola no chão e se afastou um pouco.

Uni as sobrancelhas, irritado.

- O que foi, Jiminie, está tendo dificuldade para pegar a bola? – Ele perguntou, e em seguida riu.

- É sério Hoseok, eu preciso fechar o quartinho. Me devolve a bola.

- Vem pegar. – Respondeu, com uma sombrancelha arqueada, claramente me desafiando.

Eu estava cansado, só queria ir embora logo. Então desisti e tentei me afastar, mas fui impedido. Hoseok começou a andar em volta de mim, em círculos. Quando tentei me afastar novamente, ele se posicionou na minha frente e bloqueou a minha passagem. Bufei e cruzei os braços.

- Vamos, a bola está bem na sua frente. É só pegar. – Ele pronunciou baixo, estendendo a bola na minha direção. Quando tentei pegar ele levantou os braços, gargalhando, me fazendo dar um pulo para tentar alcançar. 

- Para com isso Hoseok! Já chega.

- Mas nós ainda nem começamos o jogo. Se esforce mais um pouco, baixinho. – Ele disse com um sorriso.

- Como é que é? – Baixinho? Eu queria socar a cara dele!

Corri atrás dele e ele fugiu, quicando a bola no chão e rindo.

Nos aproximamos de uma das cestas da quadra e ele jogou a bola, mas não acertou. E então ele tentou de novo, mas somente na terceira tentativa conseguiu acertar.

Seu sorriso debochado me desafiava ainda mais, então corri até a bola e finalmente consegui roubá-la.

Corri até o outro lado da quadra, sendo perseguido por Hoseok e suas pernas longas. Seus movimentos eram desengonçados e ele não conseguia correr tão rápido quanto eu.

De repente, enquanto tentava me alcançar, ele tropeçou nos próprios pés e se espatifou no chão. A cena foi tão engraçada que não consegui conter o riso, gargalhando enquanto ele murmurava xingamentos.

Jeongguk também ria, sentado na arquibancada e assistindo o desenrolar do jogo. O som de seu riso alto reverberou por toda a quadra e ele colocou a mão sobre a barriga quando curvou o corpo para a frente, rindo ainda mais.

Hoseok logo se recuperou, e eu tive que me recompor também para correr rápido e alcançar a cesta sem ser impedido por suas mãos ágeis. 

Jeongguk assistia  o jogo atentamente e ria todas as vezes que eu tentava arremessar a bola na cesta e não alcançava, e apesar de tudo, eu sentia vontade de rir também.

Vários minutos haviam se passado enquanto eu e Hoseok corríamos pela quadra como loucos. Consegui fazer apenas uma cesta e parei de fazer a contagem dos acertos de Hoseok quando ele fez a quinta.

Quando já estávamos encharcados de suor, decidimos parar e descansar um pouco.

Hoseok deitou no chão da quadra e esticou os braços e as pernas.

Fui até a minha mochila procurando por minha garrafinha d’água e em seguida sentei na arquibancada, ao lado de Jeongguk.

 - O jogo foi divertido – ele comentou.

- Só para quem estava assistindo, não é? Só consegui fazer uma cesta, no final das contas.

- Mas acho que o mais importante é poder movimentar o corpo, sabe? Quando eu danço me sinto tão bem, é como se meu corpo agradecesse por estar sendo exercitado.

- Então você dança? – Perguntei surpreso.

- É, sim, eu... Gosto muito de música e às vezes acabo dançando enquanto estou cantando. – Respondeu envergonhado.

Tomei vários goles de água e estiquei minhas pernas, sentindo meu corpo relaxar um pouco.

- Agora que você falou sobre música... acabei de me lembrar de uma coisa. Quarta-feira encontrei o Namjoon e ele me convidou para ir naquele lugar onde te vi naquele dia – comentei. – Mas... acho que não vou.

- E por que não?

- É que... eu não sei chegar até lá sozinho.

- Se for apenas por isso eu posso te levar. Quer dizer, eu estava planejando ir lá hoje, então... você pode ir junto se quiser.

Nossos diálogos eram a prova de que as coisas mudam. O tempo passou e parecíamos cada vez mais próximos. Poderíamos até mesmo nos considerar amigos.

 - Vou confessar que fiquei um pouco surpreso quando você disse que dança.

- Eu gosto de dançar. De alguma forma me sinto mais leve. Você também deveria tentar, apesar de que...

- Apesar de que...?

- Você já parece leve, de qualquer forma, entende?

Fiquei encarando ele, com uma expressão claramente confusa.

- Vou tentar explicar melhor. Apenas através da música eu consigo me sentir livre. Quando eu canto ou danço sinto que posso ser qualquer coisa, dizer qualquer coisa ou fazer qualquer coisa. Normalmente eu sou apenas um estudante colegial, que segue regras e tira notas boas nas provas. E apenas isso.

- E às vezes se sente preso, como se não pudesse ser diferente do que dizem que você é.

- Exatamente. Mas de alguma forma você parece diferente. Parece que você sempre consegue deixar claro o que está pensando, e age como se... fosse livre.  Eu... admiro isso.

Eu, livre? Admiração?

Senti a região do meu estômago se agitar, como se fosse uma sensação trêmula na barriga. A pulsação dos batimentos cardíacos também pareceu aumentar.

“O cérebro também produz mais da norepinefrina, química de quando estamos apaixonados, acelerando o coração quando estamos nervosos.”

“Por que é que as palavras daquele livro de Biologia tem que aperecer justo agora?”, pensei, irritado com a confusão de sensações em que meu corpo se encontrava.

Olhei para o chão da quadra e Hoseok ainda estava lá, esparramado como se estivesse deitado na própria cama e mexendo no celular.

O silêncio foi instaurado novamente e durante os longos minutos que se passaram aproveitei o fato de Jeongguk voltar a olhar para a frente para analisar demoradamente seu rosto.

Ele possuía uma cicatriz não muito visível na bochecha. Havia também uma pinta pequena no pescoço. Trilhei a linha do maxilar definido, passando por seu queixo e chegando até sua boca. E a pintinha quase imperceptível abaixo do lábio inferior.

Meus pensamentos imediatamente retornaram para o meu sonho com Jeongguk próximo demais.

Eu precisava parar de encarar a boca dele com tanta frequência.

De repente ele moveu os lábios ao me dirigir uma pergunta que demorei um tempo para assimilar e conseguir responder.

Ele me encarou sem desviar o olhar, esperando a minha resposta.

-O-o que?

- Perguntei se está pronto para perder mais uma partida de basquete.

- Estou preparado para ganhar, isso sim!

 

 

“Você não percebe que não é tão ruim

E uma chance de amar é tudo que você tem

Conte a ele sobre seu sonho e o que você viu nele”

 


Notas Finais


Jimin consegue deixar claro o que está pensando? É isso mesmo Jeon? Hmmmmm

Gente, vocês vão reparar que dá pra shippar de tudo nessa fanfic. Sério, tem Jihope, Vmin, Taekook, e... E olha que nem foi intencional! É que a amizade no BTS é tão fofa, que fica parecendo tudo bromance <3

Desculpa gente, por fazer vocês esperarem o beijo (calma, tá chegando). E o avô do Jimin... eu mesma ainda vou dar uma na cara dele.

A música é do Family of the year – Carry me

https://ask.fm/Parkkouhai


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