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História Break The Ice - Sex Metal Barbie.


Escrita por: SweetScandal

Notas do Autor


Olá!
Não, não é uma miragem, realmente é uma atualização de BTI em menos de um mês.
Bem, vamos lá.
Esse capítulo é um pouco pesado, não pelas cenas em si, mas o que ele retrata. Mas por que? Calma, eu explico. Por mais que grande parte de nós goste de ver Andy e Brooke se amando loucamente ou em cima de uma cama, a fanfic não trata apenas disso. Temos a Stormy, temos mais quatro garotas para nos preocupar e não posso deixá-las de lado o tempo todo ou só recorrer a amizade delas quando me convir. Por isso, esse capítulo é centrado nas meninas, mas também é importante! Tudo o que coloco aqui ajuda a construir a história, até mesmo porque nem tenho tempo só para encher linguiça.
Enfim, espero que gostem e fiquem bem ansiosos (as) pela continuação :)

Capítulo 59 - Sex Metal Barbie.


-Alguma alma bondosa pode me passar a pasta de amendoim? – Jake gritou.

-Aja como um ser humano normal, pelo amor de Deus! – ralhei, passando-lhe o pote. – Está cedo demais para que eu comece a matança. – resmunguei.

Minha cabeça estava dolorida, pesada, sentindo a adrenalina da noite anterior ainda baixando; não importava que estivéssemos em outra cidade, conhecendo outras pessoas, aquilo dificilmente mudaria.

O lançamento dos eps e tudo mais o que vinha com eles, preencheu o restante de nosso tempo livre; entre apresentações em cidades vizinhas, fossem em festivais ou casas de shows, entrevistas e sessões de fotos, cinco semanas se passaram como cinco dias. Adentramos setembro sem que eu sequer conseguisse virar a folha do calendário; a turnê estava perto do fim e isso significava voltar a ser uma ninguém.

-Essa turnê vai acabar e eu não terei uma manhã normal. – Amber resmungou, servindo-se um pouco mais de suco de goiaba.

Sempre parecia nosso primeiro dia naquela vida itinerante; parte de nós tentava manter o restante em harmonia, uma segunda parcela queria que o circo pegasse fogo – eu, com certeza, estava com esse pessoal – e, ainda, havia aqueles que só aguardavam voltar para a casa. E aquele era um ponto delicado. A maioria de nós não via a hora de se jogar na própria cama, mas os compromissos pareciam surgir como pragas, sempre adiando o reencontro um pouco. Embora eu soubesse que o assunto era evitado por minha causa, meu subconsciente me lembrava o tempo todo. Felizmente, Stormy Guillotine e Black Veil Brides estavam melhores do que nunca. Das dez músicas mais tocadas nas últimas semanas, pelo menos metade da lista tinha a voz de Penny Stardust e Andy Biersack, e o episódio com os patrocinadores tinha sido – quase – superado.

As discussões não eram raras e aconteciam principalmente por questões profissionais; Michael nos pedira desculpas pelo ocorrido antes de voltar para Ohio e o roadie, na maioria das vezes, estava chapado demais para intervir.

Heroína. Aquela maldita heroína.

A vontade ainda existia, estava sempre lá quando eu não sabia exatamente o que sentir. Estava lá quando ouvi Harley Quinn como a música mais pedida três dias depois do lançamento de Life e também quando ouvi, depois de ter bebido um pouco mais em um after party, que Penny era uma cadela acorrentada que ladrava o tempo todo, mas que se fosse solta, correria atrás do próprio rabo como uma idiota. Apesar de sentir minhas veias arderem constantemente, eu me mantinha longe das doses, ocupando a cabeça com coisas mais úteis – e isso levava diretamente a uma droga ainda mais potente. Andy.

Na maior parte do tempo, eu o observava como a mascarada insana e caótica, mas disposta de tudo o que Penny trazia, nós éramos tudo. Era a ele a quem eu recorria quando não aguentava ficar mergulhada em tanta TPM – especialmente quando Sammi ficava sem chocolate – e quando queria, simplesmente, me apaixonar um pouco mais. Estar perto dele e dos meninos, mas principalmente dele, tornava as crises de abstinência, suportáveis. Era bem mais confortável me dopar com seu cheiro do que com aquela porcaria e, ao mesmo tempo, sentia que aquela droga de olhos azuis era o vício que me levaria, sem escala, para um ponto além do fundo do poço. E a descida seria maravilhosa.

-Já tem alguma ideia do que vão fazer? – Annie sondou, dando uma generosa mordida em um pedaço de torta. Depois de tantos contratempos, Black Veil Brides finalmente ganharia um clipe naquela manhã; nos encontraríamos com Loren dali a quarenta minutos.

-Bem – Christian relaxou o pescoço, preparando-se para o discurso. Sorri, sorvendo um pouco mais do café quente e amargo. -, pensei em colocar fogo ao nosso redor e atrás de mim na bateria. Tipo, argh, eu sou o senhor do inferno! Saudem o rock ‘n’ roll! Argh! Satã! – explicou, gesticulando. Gargalhei imaginando a cara da Loren quando ouvisse aquele absurdo.

-E é claro que ninguém se importaria com as queimaduras de terceiro grau em nome da arte, não é? – Marcos observou. Christian o olhou com a mão no peito, ofendido.

-Não queira limitar o meu talento! – dramatizou. A mesa toda tentava controlar o riso e evitar que migalhas infinitas voassem pelo hotel simples em que Michael nos botara. – Ei pino frouxo, ajuda aí! – provocou, jogando um pedaço de baguete em mim.

Biersack fitou-o por entre a cálida fumaça em sua xícara; era uma visão, sem dúvidas, excitante e exatamente por isso, mortal. Andy saboreou sua bebida como quem o faz com o sangue do inimigo e lentamente repousou a xícara na mesa.

-É o nosso clipe, as ideias têm de ser as nossas, Christian. – rebateu.  O clima leve e descontraído fora sugado por uma nuvem densa e cinza, pairando somente acima de nossas cabeças, mesmo que lá fora o dia tivesse tímidos raios de sol.

-Ah sim. – Christian fingiu interesse. – E desde quando você manda na minha língua? – desafiou. Andy se levantou imediatamente, batendo as mãos na mesa.  Meu estômago se fechou com o stress da situação; Annie e Sammi também deixaram seus desjejuns inacabados.

Não consegui segurar uma sonora gargalhada. Todo o albergue voltou suas atenções para nós enquanto eu ria sem conseguir parar; Biersack e Christian continuavam sua guerra de olhares e Andy segurava-se fortemente na mesa, resistindo a seus impulsos assassinos.

-Se não fossem meus amigos, eu diria que são patéticos. – disse, fazendo certo esforço para me controlar. Era um dia importante para todos eles, não podiam simplesmente deixarem de ser tão imaturos? Penny arranhava a superfície da minha pele, louca para passear fora de hora.

-Não se intrometa, Daniels. – Biersack rosnou.

-Eu não preciso. – retruquei, lançando uma piscadela para Christian. – Você se encarregará de levar tudo para o buraco sozinho.

-Não ouse, Brooke. – advertiu mais uma vez. Dei de ombros.

Marcos pigarreou, sinalizando para que saíssemos. Apanhei alguns brioches, colocando todos na boca de uma vez. Nada mais rock ‘n’ roll.  Seguimos o roadie em uma desajeitada fila. Andy fez questão de obstruir minha passagem na entrada do albergue. Revirei os olhos e dei um longo suspiro.

-É a nossa vez, você me entende? – murmurou. Evelyn acenou, me chamando; fiz sinal para que esperasse. Andy me encarava como se lhe devesse minha alma. – Não quero nenhuma de vocês interferindo e muito menos que você me diminua na frente dos outros. Não vou mais desistir de nada por você. – reforçou, segurando meu braço; alteei uma sobrancelha – Odeio quando faz isso

-Em primeiro lugar – comecei, livrando meu braço. Marcos só aguardava por nós para partir. -, vocês são os únicos responsáveis pelo sucesso ou fracasso desse clipe. Segundo – enumerei, bem próxima a seus olhos. -, tira a roupa, pode ser que consiga nos alcançar assim, e terceiro – ele bufava, irritado. -, desistiu porque quis, porque se importa e isso, meu amor, é problema seu.

Fiz questão de esbarrar em seu ombro quando passei por ele. Se eu sentia que seria alvejada pelas costas com um lança foguetes? Claro! Mas não abriria mão de sair com a última palavra. O roadie aguardava na porta da van, segurando-a.

-Ataques de estrelismo? – sondou, indicando Andy com a cabeça. Olhei rapidamente por cima do ombro; Biersack tinha tanta raiva no andar que quase fazia buracos de lava fervente por onde pisava.

-Nada que uns cascudos na fuça não resolvam. – desdenhei, me jogando nos assentos da frente da van. Assim que puxei a porta, Biersack agarrou-a pelo lado de fora. Encarei-o, indiferente.

-Seu lugar é lá atrás. – disse. Marcos sorria, aguardando pacientemente. – Vamos, desça daí.

-Achei que tinha dito que me queria longe. Bem – puxei a porta com mais força, fechando-a. -, sou tão boa nisso que não vou interferir nem no ar que você respira. – zombei. Ele respirou fundo, cruzando os braços.

-Deixa de ser ridícula. – sussurrou. – Eu fazia isso quando tinha cinco anos, Daniels, francamente. – aproximei-me da janela aberta.

-Com cinco anos eu enterrei um garoto no parquinho, melhor não me contrariar. – rebati, fechando o vidro. A expressão contrariada dele era hilária. Sorri, sabendo que pagaria por aquela zombaria a minha vida toda.

 

11:15 a.m. Loren estava, pelo menos, quinze minutos atrasada. Aguardávamos em um bar e lanchonete, próximo ao local onde os meninos fariam o show naquela noite; um estabelecimento com algumas mesas na calçada e fachada vermelha e dourada. Aproximamos duas mesas, tomando conta de metade da calçada. Na primeira metade dela, os meninos discutiam quais ideias deveriam ser apresentadas a Death e, na segunda, as meninas e eu dividíamos uma porção de batatas fritas.

-Acham que vai sair algo que preste dali? – Doll questionou, indicando a fervorosa reunião mais adiante. Biersack gesticulava furiosamente e Ashley estava prestes a lhe socar os olhos por isso.

-Se eles pararem de achar que a banda pertence a um deles – Amber argumentou, mergulhando uma fatia de batata em ketchup e mostarda. -, pode ser que sim. O problema é que o ego de cada um deles é quase maior do que o talento.

-Ainda bem que nós somos amigas! – Evelyn quebrou a tensão, abraçando a mim e a Annie.

-Não me envergonhe, Clark! – McGregor ralhou, livrando-se. – Temos uma reputação repulsiva a zelar! - explicou. Evelyn fez cara de choro em resposta. Sorri.

Um sedan preto encostou logo atrás de nossa van; parecia-se muito com o carro de um gangster extremamente mal-intencionado. Me levantei, com as sirenes de perigo ligadas no último volume. A porta do automóvel se abriu de repente e pernas esguias e postas em um salto de quinze centímetros se lançaram para fora.

-Loren. – Amber disse, com uma alegria a mais na voz. Death atraiu os olhares de boa parte dos ocupantes do local e dos que passavam, até então, distraídos na rua. A beleza dela me fazia sentir uma ogra coberta de lama do pântano.

-Eu fiz vocês esperarem, não é? Me desculpem. – apressou-se em dizer, vindo em nossa direção. A porta do carona também se abriu, revelando uma versão mais feminina e jovem de Loren.

Era uma garota com cerca de um e sessenta de altura, seus cabelos eram negros, de uma escuridão tão perfeita que pareciam azuis a luz do sol, cortados em um channel moderno, com as pontas desconexas e mais alongadas. Deveria ter a nossa idade e usava um vestido jeans, com uma camisa de flanela verde preta jogada sobre os ombros.

Loren cumprimentou calorosamente cada um de nós, até mesmo Andy, cujas feições emburradas quase arrastavam no chão, mas com Amber foi diferente. As duas sorriram de maneira diferente quando se viram e Death demorou-se no abraço em Winks. Um lugarzinho esquecido em mim se aqueceu com aquilo. Loren faria muito bem a Amber.

-Pessoal – a diretora fez uma pausa, chamando a garota que a acompanhara para junto de nós. -, quero que conheçam minha sobrinha e futura assistente, Opera. – os olhos de Jake, parado logo a minha frente, brilharam como duas supernovas. Boquiaberto, ele olhou a garota da cabeça aos pés com a cara mais apaixonada que eu já o vira usar.

-E-eu sou Jake. – Pitts se apressou, dando um beijo no rosto da recém chegada. Opera, enrubescida, o correspondeu com um tímido sorriso e um aceno de cabeça ao restante de nós.

-Parece que o último soldado da resistência foi abatido. – o roadie zombou em um sussurro. Segurei o riso.

-Muito bem! – Loren disse animada, segurando melhor a grande bolsa que trazia. – Já me atrasei além do aceitável. Meninos, hora de trabalhar! – gesticulou, assumindo um dos lugares vagos em nossa mesa de reuniões improvisada. – Opera, querida, não desgrude de mim. – orientou.

Death aceitou um gole do refrigerante de Amber e rapidamente colocou sua agenda sobre a mesa, tirando dela uma quantidade absurda de papéis enquanto Opera arrumava cuidadosamente o que não seria usado dentro da bolsa.

-Antes de apresentar as minhas ideias, gostaria de ouvir as de vocês – começou, dispondo os braços sobre a mesa, fitando os meninos. -, o que temos até agora?

Houve silêncio. Desde que as gravações do clipe foram confirmadas há dois dias, eles só faziam brigar. Minha vontade foi de dizer a Loren que ela dirigia crianças e não uma banda de rock. Mas, Andy tomou a frente.

-Eu quero um ferro velho, algo que seja bem sujo, metaforicamente falando. – sugeriu. Jinxx considerou, balançando levemente a cabeça. – Alguns carros que possamos destruir, algo que mostre a que viemos. – Loren fez algumas anotações em um dos papéis.

-Alguma outra ideia?

-Eu, eu! – Christian acenou; a diretora sorriu, incitando uma continuação. – Podemos usar fogo? Só um pouquinho? Só no nome da banda, no chão?

-Olha, até que não é ruim. – Death concordou, apontando-o com a caneta. Andy deu um esgar, descontente.

-Ah, qual é! – Biersack continuou. – Você nem deu atenção para a minha ideia e vai levar isso em consideração? – seu tom de voz foi um pouco mais alto do que deveria, o que atraiu as atenções dos fregueses mais assíduos do bar, escondidos atrás de garrafas de uísque nos fundos, próximos ao banheiro. O baterista devolveu com uma careta e Loren, constrangida, sorriu sem graça. Ah, quanta vergonha alheia!

-Colocar fogo em meia dúzia de palavras é infinitamente mais fácil e barato do que gravar em um ferro velho, mas esqueçamos isso. – disse. Andy cerrou os punhos. Opera parecia assustada, vidrada na reação impulsiva do vocalista. – Eis no que pensei: Como a canção escolhida tem uma forte mensagem, acho que poderíamos manter o foco nisso. Um estúdio, um fundo branco e sangue artificial para manter as atenções em vocês.

-Você tá de sacanagem? – Andy se exaltou, levantando-se. O roadie segurou-o pelo braço, pronto para puxá-lo de volta se pulasse na diretora. – Para elas – apontou-nos. -, você conseguiu a porra de um cemitério e tudo mais o que elas te pedissem e para nós quer dar a porra de um estúdio?

-Meu Deus, eu não disse nada disso! – Death defendeu-se, largando a caneta. – Marquei esse encontro justamente para que discutíssemos as ideias, mas você está fazendo parecer uma guerra! Stormy Guillotine e Black Veil Brides não tem nada a ver visualmente, por isso eu pensei em algo diferente para elas! Será que podemos agir como profissionais por cinco minutos?

Quis me desculpar com Loren imediatamente; dizer-lhe que Andy era um idiota com a maioria das pessoas, mas que ela era competente e capaz de fazer daquele clipe algo muito melhor do que ele, mas apenas observei os dois discutindo em silêncio. Por vezes, eu quis defende-lo e argumentar que também mereciam coisas grandiosas como em Black Swan e também, por outro lado, quis chacoalha-lo pelos ombros e ordenar que deixasse de ser tão orgulhoso e competitivo.

-Preciso de um café, e forte. – murmurei a Sammi, deixando a mesa.

Avancei para dentro do bar, tendo a impressão de entrar em uma outra dimensão. O dia sequer tinha chegado a sua primeira metade, mas já parecia entardecer ali. Pelo menos seis mesas de sinuca, impecavelmente lustradas e arrumadas aguardavam seus jogadores, que àquela hora do dia, ocupavam-se com petiscos gordurosos e uísque. Aquele lugar era a decadência e a solidão em sua forma lúdica quando se olhava mais de perto.

Próximo a um quadro do Chuck Berry, logo ao lado da janela que dava para a rua, havia um homem sentado, sozinho e melancólico, bebericando uma bebida alaranjada. Usava uma camisa social, com a gola amassada e seu blazer estava jogado na cadeira ao lado. Logo a sua frente, haviam três sujeitos que retratavam seu mais perfeito oposto. Vestidos com desmazelo e jeans surrados, bebiam diretamente de uma garrafa de vodca e quando passei por eles, um deles mordiscou o lábio de uma maneira que fez minhas entranhas se revirarem.

Cheguei ao balcão com a sensação de que mil olhos observavam meu corpo.

-E-eu quero um café. – pedi. – Bem forte e amargo, por favor. – o rapaz assentiu, apanhando uma xícara.

Observei-o selecionar os grãos para moer; o garoto estava prestes a colocá-los na máquina quando senti uma mão em meu ombro. Não era um toque conhecido. Me virei rapidamente, deparando-me com o homem que bebia solitário próximo da janela. Sua pele tinha um tom bronzeado e os cabelos negros combinavam com os olhos verdes, exaltados por cílios longos e volumosos. O sujeito parecia-se com um modelo de pintura a óleo e cheirava a almíscar.

-Desculpe se te assustei, sou Ângelo. – apresentou-se, estendendo-me a mão.

-Br – Penny. – corrigi, cumprimentando-o. O cheiro do café já enchia o ambiente, o que tornou aquele encontro, de certa maneira, caloroso.

-Eu, hum, te observei desde que chegou – começou. O rapaz colocou minha xícara no balcão, rapidamente a apanhei na ilusão de que funcionasse como uma arma caso Ângelo tentasse algo. – e pude ouvir que tem uma banda, não é?

-Sim, com as minhas amigas. Tocamos ontem no festival. – completei.

-Oh, mas que cabeça a minha! – sorriu, desculpando-se por qualquer coisa. – Eu estava lá. Como eu pude esquecer? Stormy Guillotine, não é? – assenti, prontamente. – Eu fiquei impressionado com o que vi e gostaria de fazer um convite.

Roubada. Era o que todos os meus sentidos gritavam; beberiquei o café quente, procurando raciocinar. Ângelo poderia sim parecer grosseiro à primeira vista, mas que grandes males um sujeito jogado em um bar poderia nos fazer? Pensei em telefonar para Michael ou simplesmente sair correndo, mas que tipo de estrela do rock eu seria se dependesse do meu empresário em cada passo? Além do mais, eu não tinha aceitado nada.

Ângelo retirou um cartão prateado com escritas negras do bolso da camisa e me entregou, com o verso para cima.

-Trabalho para uma família muito rica que está interessada em uma apresentação exclusiva de vocês e estão dispostos a pagar bem, é só fazerem seu preço. – explicou. – Estarei hoje à noite no festival, se estiver interessada, por favor, me telefone.

-Não te garanto nada. – me apressei em dizer, dando um longo gole no café e guardando o cartão no bolso do jeans.

-Vou torcer para que decida a nosso favor. – disse, galante. – Foi um prazer, senhorita. – Ângelo despediu-se com um beijo em minha mão. Observei-o deixar o local tão discreto quanto aparecera ao meu lado e, inexplicavelmente, me senti tentada pelo próprio diabo.

(...)

O que eu estava fazendo não era o correto. Liguei para Ângelo sem sequer consultar as meninas antes. Como vocalista, eu acreditava que tinha essa liberdade e como amiga, a confiança.

-Alô? – a voz grave atendeu, imersa em silêncio.

-Ângelo? Sou eu, Penny. – me apresentei. Por alguns segundos, ouvi apenas a sua respiração do outro lado da linha.

-Como vai, Penny? – fisicamente ou psicologicamente?

-B-bem. – minha voz não conseguia permanecer firme. O medo de ser pega em flagrante e estar me metendo em uma encrenca lendária, me apavorava. – Eu, hum, pensei a respeito da sua oferta. – Ângelo sorriu.

-E o que decidiu?

-Nós aceitamos. – nós? Não era a Stormy que estava dizendo sim, era minha curiosidade que aceitava a oferta. – Onde podemos nos encontrar? Sabe, para combinarmos tudo.

-Posso te esperar no estacionamento do show daqui a trinta minutos.

-C-certo – desliguei, assim, sem me despedir mesmo. Quanto menores as chances de me arrepender de fazer tudo por baixo dos panos, melhor.

Encarei meu reflexo e tentei me convencer de que, no fim, a decisão egoísta seria a mais acertada. Mas, se pudesse me atrever a ser sincera, confessaria que estava gelada e amedrontada.

-Brooke! – Annie chamou, batendo na porta do banheiro. – Deixe para pensar na vida depois, precisamos ir! – gritou.

-Já vou! – gritei de volta, reunindo o que restava da minha dignidade, que realmente, depois daquilo, não era muita coisa. – Pronto, não precisam chamar o resgate! – brinquei.

-A tranquilidade dura pouco nessa banda. – Amber zombou, lançando-me uma piscadela.

-Agora vamos descer antes que Michael tenha um ataque. – Sammi observou, abrindo a porta do quarto.

 Cada minuto parecia durar menos do que deveria. Os cinco minutos que normalmente levávamos para nos acomodar na van, pareciam cinco segundos; quando partimos, tive que respirar fundo. Minha boca não sabia segurar segredos e isso era um saco.

-Por que tenho a sensação de que está aprontando alguma coisa? – Andy especulou. Engoli em seco.

-Estou ansiosa pelo clipe, só isso. – disfarcei. Meu Deus, que mentira de merda! Andy virou meu rosto para si, analisando-me profundamente por entre a sombra negra. Suspirei, cedendo. – Como se sentiu quando recusou aquele contrato? Afinal, os meninos dependiam de você.

-Eu fiz porque eu quis, essa é a verdade. – confessou. – Não passou pela minha cabeça que um deles realmente quisesse ficar com aqueles caras ou que seria substituído na minha própria banda, simplesmente senti que deveria recusar. – explicou.

-Hum. – me aproximei dele, inconscientemente. Podíamos trocar confidências quando ninguém estava vendo, mas aquilo não; era quase um ato criminoso falar em nome das minhas companheiras quando, na verdade, estava agindo por vontade própria. Mesmo que a intenção fosse nobre e estivesse pensando única e exclusivamente na banda, não parecia certo pensar como se minha opinião fosse a de todas.

-Por que a pergunta? O que aconteceu? – Biersack questionou.

-Acho que estou prestes a fazer uma grande merda, mas deixa para lá. – desconversei. – Você tem um show a fazer e um clipe, não posso interferir, não é? – provoquei.

Optei pelo silêncio até nosso destino. A dois quilômetros do local, já era possível ouvir nitidamente a banda que se apresentava; a expectativa naquela hora era sempre extasiante. Marcos adentrou o estacionamento devagar, procurando por uma vaga próxima o bastante do backstage.

Não demorou até que eu reconhecesse a silhueta de Ângelo, ao lado de um SUV bordô. Meu coração acelerou e segurei a barra da camisa de Andy, suando frio. Estava completamente arrependida, mas que palavra eu teria se chorasse como uma bebê ali?

-Vamos ter que ficar por aqui mesmo. – o roadie anunciou, puxando o freio de mão. – Christian, precisamos da plataforma para a bateria!

-Certo! – Coma saltou da van, iniciando a caçada pela plataforma prometida.

-Meninos, precisam ser rápidos para pegarem suas tralhas. – Marcos aconselhou, juntando-se a Christian.

Permaneci imóvel enquanto o frenesi tomava conta da van; desenhei qualquer coisa no vidro, observando os retardatários chegarem. Mas foi Ângelo quem se aproximou. Desci da van rapidamente, torcendo para que ele entendesse que não deveria continuar. Seria um desastre de proporções catastróficas!

Andy foi o último a descer da van; tomou o cuidado de fechá-la e trancar.

-Não sei que merda está fazendo – sussurrou, enquanto os demais caminhavam para o backstage. -, só não faça nada até eu voltar. Me prometa, Broo. – assenti, com os dedos cruzados nas costas. Respirei aliviada quando o vi longe.

-Hora de bancarmos as cheerleaders! – Annie brincou, puxando Evelyn pelo braço. Ângelo vinha de encontro a nós, destacando-se de qualquer outro homem que ainda transitava por ali. – Meu Deus. – McGregor murmurou.

Ângelo era inegavelmente atraente, não restavam dúvidas em relação a isso e, justamente por isso, altamente perigoso.

-Senhoritas. – cumprimentou-nos educadamente. – Boa noite, Penny, podemos ir? – ele avançou em nossa direção, mas Sammi se pôs em seu caminho.

-Você pode ser muito educado e bonitão, cara, mas não vai levar a nossa amiga a lugar nenhum. – me defendeu. – Quem é você e o que quer? – Ângelo estreitou o olhar, fitando-me com estranheza.

-Achei que já soubessem. – disse.

-Se soubéssemos, não tínhamos perguntado, otário. – Amber interveio, dando-lhe um empurrão. – Se disser que o conhece – disse, olhando-me por cima do ombro. -, eu não estouro os miolos dele, caso contrário, abro a cabeça desse desgraçado.

-Esqueci de mencionar – ele empurrou Amber de volta, que teria trombado com a van se Annie não a segurasse. -, encontrei-a no bar hoje pela manhã e lhe fiz uma oferta, ela aceitou e eu vim.

-O que? – Doll gritou, enfurecida, virando-se para mim. – Isso é verdade? Quando fez isso?

-Estou pensando em nós, ok? – explodi, ficando entre Ângelo e as meninas. – É só um show exclusivo, nada que não consigamos fazer. – sorri, sem graça.

-Não se trata de conseguir ou não! – Annie devolveu, apontando-me. – Você decidiu em nome da Stormy sem nos consultar!

-Eu achei que...

-Desde quando você é a Stormy? – Amber completou. Evelyn se agarrou em Annie, já com os olhos cheios de lágrimas. – Desde quando você fala pela banda?

-Desde que eu sou a única que precisa dessa droga para ser alguém! – rebati, empurrando-a. Fitei Ângelo, que em silêncio, parecia satisfeito com a confusão que assistia. – Acham que se eu quisesse fazer essa merda sozinha, marcaria com um cara justamente aqui? Pelo amor de Deus, deixem de ser burras!

A situação estava fora de controle. Problemas de confiança eram justamente aqueles que não precisávamos. Era difícil e doloroso pensar que em menos de um mês, cada um iria para o seu canto e parte de toda aquela cumplicidade se perderia. Havia também o orgulho; o desejo de mostrar que não nos deixamos abalar pelos últimos escândalos e a vontade de esfregar na cara da doutora Bainville todos os dólares que ela deixou naquele hospital por minha causa. A maior parte dos meus cachês estava sob a custódia de Michael, mas era impossível começar uma vida independente com aquela quantia. Custava caro não precisar de ninguém.

-Ei – Sammi chamou Ângelo. -, não trouxemos nossos instrumentos e nossos figurinos, não podemos fazer o seu show.

-Não será problema – disse, desamassando o terno impecavelmente engomado. -, resolvemos isso em dois tempos. Preciso apenas que entrem no carro.

Meu coração batia tão rápido que me faltava ar, era como se fosse irromper para fora do meu peito. Minhas mãos suavam, encharcando minha pele com altas doses de adrenalina.

-Temos uma hora para você – Annie disse. -, precisa nos trazer de volta antes que deem por nossa ausência.

-Deveríamos avisar o Marcos. – Evelyn choramingou.

-Você avisa a um matador que quer morrer? – Amber contrapôs. – Que fique claro, cara – alertou, apontando para Ângelo. -, arrancaria seu coração sem pensar duas vezes. – ele apenas sorriu em resposta.

Seguimos o desconhecido até o SUV bordô.

-Eu quero te matar, Daniels. – Sammi sussurrou entre dentes, sentando-se no banco de trás.

-Não vou hesitar em colocar a culpa toda em você, sua vadia egoísta. – McGregor pontuou. Vê-las me acompanhando naquele carro me fazia sentir um pouco mais segura.

Não custava ter aberto a minha maldita boca para perguntar o que elas achavam; Penny estava, lentamente, absorvendo meu bom senso, me fazendo pensar como uma gananciosa na maior parte do tempo. Ao meu lado, espremida contra a porta, Evelyn digitava fervorosamente, observando as placas da rua. Ângelo dirigia em alta velocidade, como se precisasse chegar a seu destino antes que eu me arrependesse. Quando cruzamos uma ponte velha de madeira e adentramos uma rua escura, cogitei seriamente saltar do carro.

-O que está fazendo? – murmurei a Clark; de esgueio, vi Ângelo de olho em nós.

-Até onde eu sei, estamos sendo sequestradas – sussurrou. -, por isso, mandei uma mensagem a Marcos pedindo para que, se não aparecermos em até uma hora, que ele venha nos buscar.

-Ficou louca? Ele vai nos matar! – choraminguei. Evelyn me olhou, séria.

-A culpa seria sua, para variar. – ouch. – Mandei os nomes das ruas que passamos, espero que ele entenda. – disse, colocando o celular no bolso da jaqueta.

Ângelo parou em frente ao que parecia um clube dos anos vinte; não tinha grandes alardes na cor e passaria despercebido facilmente.

-Senhoritas – disse, abrindo as portas do SUV. -, esse é o clube em que se apresentarão. Há muito dinheiro aí dentro, então, por favor, sejam sigilosas. – instruiu. – Por aqui.

O misterioso homem nos guiou pela entrada dos fundos, onde dois latões de lixo transbordavam de detritos.  A batida dançante de uma música eletrônica nos alcançava ainda do lado de fora e quando entramos, um tapete de pirotecnia nos recepcionou.

Era impressionante. Absolutamente incrível. A discrição do lado de fora contrastava perfeitamente com todo o glamour e brilho da parte interna. Luzes coloridas pulsavam por todos os lados e pessoas animadas jogavam seus corpos ao sabor das músicas, enquanto outras conversam nas mesas ao fundo como em um botequim.

-Virem à sua direita. – Ângelo orientou, adentrando logo atrás de nós um corredor repleto de portas. Camarins. – Podem usar este aqui. – disse, abrindo uma porta onde lia-se o número doze.

-Ah! –Annie gritou, jogando-se no suntuoso sofá de veludo.

Aquele camarim era maior do que nosso quarto atual. Tinha um espelho e uma penteadeira enormes, sofás e puffs gigantes e cheirava a rosas.

-Retiro o que disse, Daniels. – Sammi comemorou, vasculhando a penteadeira. Busquei uma garrafa d’ água no frigobar; virei-a de uma só vez, acalmando meus nervos.

Duas batidas na porta interromperam nosso deslumbre; abri-a e um rapaz de cabelos castanhos, puxando uma arara de roupas, invadiu o camarim.

-O que estavam fazendo que ainda estão com esses trapos? – disse, vasculhando os vestidos longos que trouxera. – Vocês entram em dez minutos! – ele pegou um vestido azul, com uma fenda lateral, trabalhado em pedrarias e jogou para mim. Paralisamos, encarando-o. – O que estão olhando? Andem! Vistam-se! – apressou, batendo palmas.

Joguei o vestido no chão.

-Não sei se te avisaram, mas não podemos usar isso. – disse.

-Você vai usar sim – reforçou, apanhando novamente o vestido e jogando-o novamente para mim. – porque garotas como você não precisam pensar no que vestir, só em tirar. – não pensei duas vezes em disparar um cruzado de direita naquele cara. Seu nariz sangrou quase que imediatamente. Perplexo, ele encarou os dedos sujos de sangue. – Sua vadia imunda!

Com uma velocidade e uma força impressionantes para alguém tão histérico quanto ele, o desgraçado me devolveu com um forte tapa, jogando-me em cima da penteadeira.

-Se alguma de vocês resolver intervir, eu estraçalho o rosto da sua amiguinha aqui. – ameaçou. Eu não conseguia me levantar, estava envergonhada e humilhada. Ergui os olhos apenas para que pudesse ver minhas amigas pegarem os vestidos que o infeliz escolhia. Satisfeito, ele sorriu com o rosto ainda ensanguentado e se apoiou na arara de roupas. – Lembrem-se de sorrir: Uma acompanhante de luxo não é uma vadia de esquina.

Tão de repente quanto aparecera e me dera aquele tapa, ele sumiu. Medo nos envolveu; Evelyn soluçava, colocando o vestido verde à frente do corpo

-A-acompanhantes de luxo? – chorou. Annie respirou fundo, deixando uma lágrima escapar.

-Significa que estamos a venda.


Notas Finais


Não queria falar nada, não, mas acho que agora a porca torceu o rabo de vez!
Esperamos que se elas saírem vivas dessa, que sirva de lição.
~verdade secretas feelings~
Façam suas apostas aí na caixinha de comentários!
Espero voltar tão rápido quanto dessa vez.


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