História Breath Me - Capítulo 2

– E então, essa ficou legal? – vestiu mais uma de suas milhares de roupas e virou-se para mim –

– Já disse que você fica bonita com qualquer roupa. – suspirei e revirei os olhos – Se ele achar o contrário ele é um completo idiota.

– Claro que você me acha linda, você me ama. – deu uma risadinha divertida e virou-se de frente para o espelho, seria engraçado se não fosse a trágica realidade – Acho que vou com essa.

– Você quem sabe. – respondi indiferente –

– Credo Danielle, você costumava ser mais legal. – reclamou, encarando meu rosto – Agora você só faz se afastar de mim e me tratar desse jeito.

– Deve ser porque você não tem mais tempo pra mim, sempre que está livre sai com suas amigas ou com algum garoto. – senti minha garganta secar e algumas lágrimas começarem a se fazer presente – Não me cobre algo que nem você consegue cumprir.

– Quer saber, Danielle? Não estou com paciência pros seus dramas. – bufou e recolheu seus pertences – Estou indo, não me espere.

– Quem disse que eu iria esperar por você? – respondi irritada – Aproveite a saliva do seu namorado.

– Me poupe. – murmurou antes de deixar o cômodo, batendo a porta com força atrás de si –

Assim que a vi pela janela entrando no carro de Christian tudo o que eu senti foi raiva e tristeza. O que eu estava pensando ao brigar com Lauren por causa de um garoto estúpido? Ela não tem absolutamente nenhuma obrigação de me dar satisfações ou deixar de fazer o que sente vontade por minha causa, por mais que eu desejasse que fosse assim. Meus ciúmes estavam passando dos limites e eu definitivamente precisava pensar em uma forma de controlar isso, foi então que resolvi ligar para Elli.

Corri até meu quarto e peguei meu celular, trancando a porta antes de discar o número de minha melhor amiga, sendo atendida no terceiro toque.

– Ao que devo a honra de sua ligação, Dani Cimorelli? – perguntou divertida –

– Graças a Deus você atendeu, se eu não falar com você vou enlouquecer. – suspirei aliviada – Acabei de brigar com Lauren por causa do Christian da maneira mais idiota possível.

– Christian é aquele garoto que ela está gostando? – confirmei com um som nasal – Danielle, você é louca? Quer que ela descubra?!

– Óbvio que não, mas não consegui me controlar. – me lamentei e me culpei – O que eu faço? Me sinto mal por ter brigado com ela mas há tantas coisas que eu gostaria de dizer e esfregar na cara dela...

– Já experimentou escrever uma música? – perguntou direta – Talvez isso te ajude a tirar o peso das costas e expressar seus sentimentos.

– Não sei, acho que não levo jeito pra isso. – respondi sincera – Mas eu vou tentar, obrigada.

– Pra isso que servem as amigas. – rimos – Tenta relaxar, te amo.

– Obrigada, também amo você.

Desliguei a ligação e me joguei de costas na cama, pensando seriamente no que Elli havia acabado de me sugerir. Talvez escrever uma música fosse uma boa maneira de colocar pra fora tudo o que eu queria dizer pra Lauren, já que infelizmente eu não podia lhe dizer diretamente. Levantei e olhei ao meu redor, achando uma caneta que eu usava no colégio e um dos papéis que eu usava pra trabalhos escolares. Peguei os dois materiais e me acomodei em minha cama, fechando os olhos e respirando fundo antes de realmente conseguir escrever alguma coisa.

You, you love the chase
You love having something just out of your reach
And I know you can't bring yourself to feel anything, if there's no mystery
You're so uncomfortable with anything stable

[Você, você ama a perseguição
Você ama ter algo que está fora de seu alcance
E eu sei que você não pode se obrigar a sentir algo, se não tem mistério
Você está tão desconfortável com qualquer coisa estável]

And you love this waiting game
All this guessing and calculating
Carefully chosen words

[Você ama esse jogo de espera
Toda essa especulação e cálculo
Palavras escolhidas com cuidado]

But you're so predictable
You just want unpredictable

[Mas você é tão previsível
Você só quer o imprevisível]

And I could do all the right things to keep you interested
And you could say, you never felt like this
And there's no one like me
Cause you fall so hard and so easily
But I know, at the end of the day
You just want someone to chase

[E eu poderia fazer todas as coisas certas para mantê-la interessada
E você poderia dizer que nunca se sentiu assim
E que não existe ninguém como eu
Por que você se apaixona tanto e tão facilmente
Mas eu sei que no final do dia
Você só quer alguém para perseguir]

Ao acabar de escrever eu já estava com lágrimas o suficiente para saber que tudo aquilo era real, que eu realmente gostaria de falar todas aquelas palavras pra Lauren mas que provavelmente isso jamais seria possível, pois eu era fraca demais para encarar meus medos e arriscar, ou talvez eu fosse forte o suficiente ao ponto de ter noção das consequências e saber que aquilo seria uma completa loucura.

Limpei meu rosto, respirei fundo e tentei colocar minha expressão facial mais normal possível, pois estava na hora do jantar e eu definitivamente não precisava dos meus pais no meu ouvido fazendo perguntas que eu com certeza não poderia responder. Levantei de minha cama e fui até a sala, encontrando os dois já sentados à mesa. Me juntei a eles e começamos uma conversa descontraída sobre como minhas outras irmãs faziam falta, eu realmente precisava reservar um tempo para visitá-las.

Ao acabarmos de jantar, ajudei meus pais a lavarem a louça e logo em seguida fui deitar, já se passavam das 10:00pm e Lauren ainda não havia chegado. Admito que eu poderia estar exagerando, afinal de contas ela já tinha 18 anos e nem nossos pais estavam se importando com a hora dela voltar. Mas algo dentro de mim queria que ela estivesse por perto o tempo todo, nem que fosse para que eu sentisse sua presença no sofá ao lado enquanto ela ria de um desenho bobo que passava na televisão. Esse era um dos grandes motivos pelo qual eu não queria morar com as outras, sem sua presença diária meus dias estariam pela metade.

Já se passavam da meia noite e eu simplesmente não conseguia dormir, meu passatempo estava sendo fitar o teto e me perguntar se Lauren já havia voltado do tal encontro com Christian. Virei de um lado para o outro e em todas as vezes senti o aperto no coração se fazer presente, tanto por ciúmes como por preocupação. Minha irmã nunca trancava a porta do seu quarto quando estava dormindo, então talvez eu devesse ir até lá e dar uma olhada em como ela estava ou se já estava em casa, mesmo que ela ainda estivesse chateada comigo.

Segui a passos curtos pelo corredor até seu quarto, tomando cuidado para não fazer barulho e acordar a ela ou nossos pais. Respirei fundo e girei a maçaneta devagar, olhando em direção à sua cama e tendo a certeza de que ela já estava em casa. Suspirei aliviada e dei um passo para trás para voltar ao meu quarto, mas algo dentro de mim gritava para que eu desse uma olhada em Lauren. Fechei os olhos por alguns segundos e me culpei mentalmente por isso, mas mesmo assim fui até ela e sentei minuciosamente ao seu lado, fazendo o mínimo de movimentos possíveis para não lhe acordar, eu odiaria que ela me visse que nem uma idiota lhe observando em plena madrugada.

Seus olhos estavam fechados e sua boca levemente aberta, permitindo que suspiros serenos e cansados saíssem pela mesma. Suas mãos agarravam seu travesseiro e seu cobertor cobria metade de seu corpo, não havia sensação mais reconfortante do que admirar a garota que eu amava da forma mais natural possível. Sorri para mim mesma e senti meu coração pulsar fortemente ao começar a acariciar seus cabelos, automaticamente um breve frio na barriga se fez presente. Suspirei e me levantei, seguindo caminho para o lado de fora do quarto de minha irmã, pois voltaria ao meu e tentaria dormir. Mas antes que eu colocasse o primeiro pé pra fora, ouço alguém sussurrar meu nome, fazendo com que um frio subisse pela minha espinha.

– Ei Dani, volta aqui. – olhei para trás e vi minha irmã com os olhos entre abertos e a voz falha – Senta aqui.

Engoli seco e criei coragem para voltar, sentando ao seu lado. Encarei seu rosto por alguns segundos, um sorriso fraco se fazia presente em seus lábios enquanto ela segurava minha mão, acariciando a mesma. Minha respiração estava ofegante e talvez eu nunca tivesse me sentido tão nervosa em toda a minha vida, ter Lauren tão perto dessa forma era uma das piores maneiras que eu poderia ter arrumado para me torturar. Me perguntei por um milésimo de segundo se deveria beijá-la, mas logo em seguida desisti da ideia e tentei pensar em outras coisas, até ela começar a falar.

– Me desculpa pela forma que te tratei mais cedo, você tem razão, eu preciso reservar mais tempo pra você. – disse sincera – Sinto falta de como éramos unidas, não quero estragar isso por nenhum garoto do mundo.

– Lauren... – gaguejei e senti um incômodo em minha barriga mais uma vez – Tudo bem, eu preciso dormir agora.

– Não. – segurou minha mão antes que eu pudesse me levantar – Dorme comigo, por favor. – arregalei os olhos e senti meu coração espancar meu peito – Me faz voltar ao tempo em que éramos crianças e dormiamos na mesma cama porque você tinha medo do monstro do armário.

Sorri timidamente e deitei ao seu lado, virando de costas para ela. Prendi minha respiração, sentindo a garota passar um de seus braços ao redor da minha cintura, abraçando-me da forma mais pura e carinhosa que aquilo poderia ser. Nesse momento eu já não sabia mais descrever meus sentimentos, estava tudo acontecendo de uma só vez e nada mais me importava se não o que estava acontecendo alí. Fechei meus olhos e desejei mentalmente que aquela madrugada não acabasse, porque pela primeira vez eu anos, eu finalmente estava me sentindo viva novamente.