Louise Rutherford: Três meses depois
Dizem que o tempo repara as coisas. E eu vou dizer a verdade para vocês, não é bem assim que acontece. O tempo não repara, ele ajuda à superar.
Várias coisas aconteceram nesse pouco período de tempo, uma delas foi meu pai e a mãe de Dave se juntarem para abrir um restaurante. Eles usariam a casa de praia, porém iriam fazer os devidos ajustes retirando a maioria das paredes.
Sempre quis que isso acontecesse, mas como não estou trabalhando para ajudar financeiramente dou uma mãozinha na obra.
E além da minha, os dois ganharam a de Cameron junto.
Ele gosta de ajudar meu pai, e meu pai parece gostar de receber a sua ajuda. Talvez ambos sentissem falta de uma relação parecida a de uma como pai e filho. Mas sei que não é isso que você quer saber.
Meu pai com certeza já deve desconfiar que tem algo a mais do que uma simples amizade, porém eu não disse nada porque nosso relacionamento está rotulado como "não sabemos como chamar isso, mas é maravilhoso".
- Lou, diz para o Dave ajudar? Por que estou aqui a meia hora chamando ele e nada - Cecilia diz enquanto arrumava alguns utensílios com meu pai.
- DAVE! Tyler tá aqui - Grito e ele aparece na hora.
- Onde?
- Dave, vem ajudar aqui pelo amor de Deus! - Diz sua mãe fatigada.
Olho para ele rindo do olhar de morte que ele joga sobre mim.
Outra coisa que aconteceu foi o sumiço de Melissa. Que na verdade não foi sumiço. Há cerca de duas semanas atrás ela voltou para Austrália, acho que realmente estava afim do tal de Roman.
- Hey - Ouço Cameron sussurrar no meu ouvido.
Olho para ele e abro um sorriso. Me dá um beijo na testa antes de ir cumprimentar os outros. Nos juntamos todos para terminar tudo ainda no mesmo dia e depois que Tyler chega para ajudar não demoramos muito para isso acontecer.
- Abriremos amanhã de noite - Suspira meu pai abraçando Cecília de lado e piscando para mim.
(...)
- ABERTURA HOJE À NOITE DO RESTAURANTE OCEANO, GASTRONOMIA PRAIANA DE DIFERENTES PAÍSES! NA ORLA DA...
Enquanto Dave gritava com um megafone no banco de trás, Cameron dirigia o carro rindo e eu estava quase desmaiando de calor. A ideia de fazer todo essa publicidade foi do Cameron, mas Davi foi quem mais a abraçou.
-Vou desmaiar - Suspiro e Cameron ri.
-Se for desmaiar a hora é agora porque estamos passando em frente ao hospital – Diz piscando.
Dou uma cotovelada nele pelo comentário.
- Gente, estou ficando sem voz - Diz Dave rouco.
- Claro, você tá gritando sendo que isso é um megafone - Respondo rindo.
- É pra ficar mais marcante, ué!
Reviro os olhos para variar. Por mais que eu diga ele continua gritando até decidirmos ir para casa.
- Te vejo mais tarde - Cameron diz me dando um selinho ao final.
- Vai mesmo?
- Não perderia por nada a oportunidade de ver você de garçonete.
- O que tem de engraçado?
- Não disse que seria engraçado, muito pelo contrário, se você estiver vestida como uma garçonete do Hooters vai ser bem sexy. - Dá uma piscadela.
- Cameron, pelo amor! - Dou risada.
- Mas falando sério, - Molha seus lábios. - sei o quanto está feliz por seu pai. E se você está contente com isso eu também estou, por isso não vou perder por nada esse dia.
Sorrio com o que ele diz, dou um abraço apertado antes de entrar em casa. Dave que já havia entrado estava sentado no sofá me olhando com um sorrisinho extremamente estranho.
- Que cara é essa? - Questiono rindo.
- Cara de quem viu a ceninha casal maravilha, e não faz cara de sonsa ou eu te desço a mão.
- Foi muito blé?
- Quê? Não Louise, meu Deus! Agora é minha vez de revirar os olhos.
Me jogo no sofá do lado dele e suspiro cansada.
- Vem cá, quando ele vai te pedir em namoro?
- Como assim?
- É filha, já tá na hora! Fica fazendo safadeza sem nem namorar ainda.
- Meu Deus, Dave! - Taco uma almofada em seu rosto.
- Se ele pedisse, você aceitaria?
- Não! - Grito rindo.
Ele para se ajeitando no sofá com a postura reta e me encara sério.
- Você está falando sério?
Respiro fundo fingindo tristeza.
- Claro... Que não!
- Ai sua cadela! - Me da uma almofadada, quer dizer, várias. - De qualquer modo, bom saber.
Molha os lábios e abre um sorriso maléfico extremamente exagerado.
- As vezes você me dá medo.
- Eu sei.
(...)
Fui para o restaurante junto com Dave. Nossos pais já estavam lá junto com dois amigos deles que se tornaram sócios do negócio. E cozinheiros igualmente.
- Ansiosa para virar garçonete?
- Agora não é a hora de jogar horas treinando para levar pratos.
Ao chegar lá nos surpreendemos com a quantidade de pessoas ao redor do restaurante na praia. Aquela não costumava ser uma área muito ocupada.
- Ai minha nossa! Esse povo todo veio comer? - Indaga abismado.
- É o que eu espero - Respondo sorrindo.
A fachada do restaurante havia ficado demais. Os escritos 'Sea' em letras típicas de Las Vegas deixaram a casa rústica com um ar de mais moderna.
- Sabe uma coisa que não faz sentido? - Questiona Dave enquanto eu tirava a chave e saímos do carro.
- Sei de várias, sobre qual quer falar?
- As letras são parecidas com as usadas em Las Vegas mas aqui é Santa Mônica. E outra, eles não tem praia em Nevada.
Penso por um momento.
- É faz sentido, mesmo assim ficou legal.
- Só acho o nome muito clichê, deveria ser Dave's.
- Quando fizemos a votação você votou em oceano.
- Ninguém estava votando em Dave's, não estava afim de passar vergonha - Esclarece dando ombros.
Entramos lá vendo tudo já organizado, o pessoal estava na cozinha bebendo vinho e começando a adiantar algumas coisas. Eu e Dave fomos proibidos de tomar, diziam não querer arriscar com jovens bêbados que estavam prestes a carregar pratos.
- Mal sabem que você bebia vodka no meio da aula - Cochicha Dave.
- E você que bebia ouvindo Lana Del Rey.
Solta uma gargalhada.
- Como soube?
- Você me disse semana passada, quando estava quase dormindo.
- Eu deveria estar dormindo, na verdade.
Nossa conversa teve fim quando abriram oficialmente o restaurante. O lugar cheio em um estalo. Começamos a ter que atender feito loucos para dar conta. Mas estava tudo indo muito bem, pelo ao menos até o fim da noite.
Minha irmã entrou pela porta um pouco desnorteada, como se procurasse por alguém e quando me viu tive a certeza de que era por mim. Ela se senta em uma mesa e abaixa o olhar para seus dedos, agora entrelaçados uns nos outros. Olho para Dave na esperança dele e estar livre para atendê-la, mas não estava. Levava um prato para uma das mesas.
Respiro fundo e vou. Não olho em seus olhos, tento focar apenas em um bloquinho azul claro que anotava.
- Boa noite, seja bem...
- Louise, não precisa de formalidades - Sua voz, mesmo ainda aguda, por incrível que pareça era calma.
Pela primeira vez na vida.
- O que vai querer? - Pergunto sem animação.
- Conversar com você.
Ergo o cenho achando estranho a atitude.
- Tenho que trabalhar.
- Prometo que será rápido. - Insiste.
Fito ela por um momento. Penso se depois de tudo que aconteceu ela iria querer reviver aquilo e estragar minha noite. Será mesmo que deveria sentar e escutá-la?
Dave passa e esbarra em meu ombro.
- Pode ir, eu dou conta. - Diz baixinho quando passa.
Solto um suspiro e me sento sentindo meus pés se aliviarem do cansaço. Ela me olha com os olhos caídos, não era pena mas por um momento penso ser tristeza.
- Quando soube que papai abriria o restaurante, eu achei que seria um bom momento para vir aqui.
Dá uma risada sem graça, acredito que ela queria que eu continuasse o assunto mas eu não digo nada.
- Ficou muito bom.
- Sim - Digo com indiferença.
- Não vou enrolar mais, eu queria que soubesse que estou arrependida pelo o que fiz com você.
Me surpreende, talvez não o fato dela ter dito aquilo, e sim, de ter soado tão sincera.
- Não precisa me perdoar, só queria que soubesse disso.
Continuo sem dizer nada, um silêncio pavoroso se instala.
- Morar com a mamãe é torturante - Solta a risada sem graça mais uma vez.
- Sei bem, disso - Dou um sorriso murcho olhando para o prato na mesa.
- Me desculpe... Por tudo - Sua voz vacila. Quanto ergo o olhar vejo uma lágrima escorrer por sua bochecha, ela limpa rápido e tenta sorrir novamente. - Vou deixar você trabalhar.
- Não vai falar com o papai?
Ela olha para cozinha e suspira.
- Não hoje, preciso voltar para L.A.
Acompanho com olhos ela se levantar e pegar sua bolsa. Antes de ir me olha pela última vez e dá um sorriso.
- Sempre te achei maneira.
Pela primeira vez tivemos uma conversa sincera, sem sorrisos cínico, sem ironias e sem arrogância. Mesmo que eu não tenha dito quase nada.
- Obrigada - Digo baixo antes dela ir embora.
Depois que ela vai embora, eu permaneço sentada por alguns instantes antes de cair a ficha de que precisava voltar ao trabalho. Passo no banheiro e jogo uma água no rosto para ver se ajudaria a me concentrar em outra coisa além do pensamentos da conversa.
- Está tudo bem? - Dou de cara com Dave.
- Sim, vou ver se tem alguma coisa para servir.
- Já terminaram os pedidos, só tem duas mesas agora mas acho que já estão de saída.
- Ah, então vou esperar me chamarem - Digo dando um sorriso amarelo.
- O que ela disse? - Pergunta indo direto ao ponto.
- Acho que ela estava doente, me pediu desculpas e disse que sempre me achou "maneira" - Respondo com indiferença.
Ele me olha pensativo.
- Isso não é doença, é arrependimento.
- Meio estranho vindo dela.
- Com certeza, gata. - Diz rindo - Mas acho que talvez uma pontinha de juízo tem crescido dentro dela.
É o que eu espero. Não por mim, mas por ela mesma. Caso continuasse a ser daquele jeito de sempre, talvez cairia nas próprias armadilhas.
Olho para as mesas vazias e me lembro de Cameron. Uma onda de preocupação invade minha mente. Onde ele estava?
- Cameron não apareceu até agora.
- Relaxa, ele está vindo - Afirma com uma tranquilidade que levantava dúvidas.
- Como sabe? - Questiono.
- Ele me mandou uma mensagem. - Pisca. - E você pode tirar já o avental!
- Mas ainda tem gente - Digo como se fosse óbvio.
Ele revira o olhos. Agora entendo porque reclamam quando faço isso.
- Louise colabora com o Cameron.
- O quê?
Ele começa puxar o meu avental e retirá-lo.
- É uma surpresa. - Diz com um sorriso de canto a canto.
- Eu não gosto de surpresas.
- Ah, mas dessa você vai gostar. - Estica o pescoço olhando para a porta e seus olhos brilham. - Ele acabou de chegar, agora vai lá recepcioná-lo.
Me dá um empurrão de fraco enquanto vai para a o outro lado do salão. Minha vontade era sair xingando ele de todos nomes que vieram na minha cabeça.
Me aproximo de Cameron, que estava muito bonito. É difícil ele não estar, na verdade. Sorri para mim e me dá um selinho, por dentro sinto um frio na barriga
Me desculpem mas não dá pra controlar essas coisas clichês de gente apaixonada.
- Por que a demora? - Questiono com curiosidade.
- Acredito que a essa hora tenha uma garçonete disponível para jantar comigo.
- Isso foi um convite?
- Talvez, o que me diz? - Se aproxima sorrindo.
- Só aceito porque estou morrendo de fome - Digo rindo.
- Qual mesa? - Me pergunta.
Olho para todas e aponto para uma que ficava de frente para uma janela que ia quase do teto até o chão. Ele pega minha mão e vamos até lá.
Começamos a conversar sobre o que havia acontecido ao longo do dia. Quando comecei a falar sobre atender os clientes não pude omitir a vinda de Emma até aqui.
- Isso foi... bom - Diz convicto.
- Acho que sim. - Dou de ombros.
- Quero dizer, não tão bom quanto minha visita mas deve ter te aliviado de alguma forma.
Dou risada da primeira parte do comentário.
- Incrivelmente, me aliviou de certa forma.
Olho para Dave que deveria estar acertando a conta com uma das duas mesas que ainda tinham pessoas. Quando viro novamente para Cameron que olhava para janela, percebo de canto meu pai vindo com dois pratos e Cecília com uma taça de vinho.
- Aqui estão os pedidos. - Meu pai diz com um sorriso no rosto.
- Mas não tínhamos pedido, pai.
Encaro Cameron que agora me fitava com um sorriso malicioso.
- Na verdade... eu pedi um jantar especial.
- Pai? - Indago achando ainda muito estranho.
- Vou deixá-los sozinhos - Dá uma piscadela e sai junto com Cecília.
Olho para o prato vendo um risoto de camarão (meu prato preferido desde o dia que montaram o cardápio), nossa taça estavam cheias - Cecília deveria ter as enchido sem eu ter percebido. Encaro Cameron com o cenho erguido.
- Como meu pai sabia?
- Ele me ajudou a ter essa ideia, disse até que faria bem a você.
- A comida? - Pergunto rindo de nervosismo.
- Eu no caso - Responde sério.
- Quanto convencimento - Continuo rindo até ver que não deveria ser nenhuma piada.
Sinto minhas mãos começarem a suar frio. E meu coração ficar a milhão.
- Tem algo que eu queria te dar depois do jantar mas sei que você já deve estar morrendo de ansiedade - Ri fraco e posso perceber que ele também estava nervoso.
Ele procura por algo no seu bolço, tento espiar mas só consigo ver quando ele à coloca aberta em cima da mesa. Não consigo evitar abrir a boca em um perfeito 'o'. Haviam duas alianças de prata, uma maior e a outra menor.
- Nunca amei ninguém além de você, Louise. - Ele pega minha mão. - Sei que tudo isso é clichê demais mas não conseguiria esperar mais para fazer isso.
Rimos ao mesmo tempo, e eu nem sei o porquê. Talvez nervosismo.
- Eu... eu... - Respira e tenta dizer novamente mas não consegue. - É difícil dizer isso sem soar clichê.
- Eu não ligo, - Sorrio. - Eu aceito de qualquer modo.
- Obrigado por facilitar.
Coloca o anel no meu dedo e eu faço o mesmo em seguida. Ouço palmas e me viro vendo mais nenhum cliente, apenas meu pai, Dave, Cecilia e seus outros amigos olhando para nós dois.
- Desculpa, pela falta de privacidade. - Cameron sussurra rindo.
- Tudo bem, valeu a pena.
- E antes de qualquer coisa, aceita ir ao baile comigo?
- Mas é só daqui dois meses, porque o convite tão cedo? - Pergunto sem tirar o sorriso dos lábios.
- Eu te devo um baile decente há um tempo.
- Então vou ter que aceitar.
Ele olha para o lado vendo os outros ainda olhando.
- Acho que vamos ter companhia enquanto comemos - Comento.
- Desde que eu tenha você, - Acaricia as costas da minha mão. - estará perfeito.
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