História Breathless - Me Perdoe

Nunca senti tanto choque na vida. Minha imaginação fértil já criava varias cenas fictícias a respeito do que iria rolar ali, que medo. Eu não sei o que sinto no momento, medo daquele estranho que ia fazer algo de ruim comigo ou surpresa total por Kakashi ter aparecido e me salvado na hora. Era uma mistura que eu não conseguia administrar.

– Uau... um Jounin, na verdade, um dos melhores da Aldeia da Folha. Não é mesmo? – o estranho disse. Mas Kakashi não falou nada – O Ninja Copiador, se não me engano...

– O que você quer com ela? – interrompeu falando friamente. Temo que isso vá se tornar uma confusão.

– Por que você me pergunta isso? Não é da sua conta.

   Cara, eu não sei porque mas... eu queria dizer à ele que quando alguém esta com raiva, não se deve ser grosso ou irônico com tal.

– Ela é da minha conta.

 Resolvi ficar calada diante daquilo, mas eu queria perguntar “Como assim?”. Depois de tudo ele ainda fala aquilo? Eu não entendo mais minha vida!

– Quer mesmo saber? Nós só estávamos conversando, sobre a nossa luta – mentiu assim na cara dura? – Emi é um amor de pessoa.

   Esse garoto vai ser meu oponente na ultima fase dos exames? Agora faz sentido quando Shika disse que ele parecia ser psicopata.

– Você é meu adversário? – perguntei sem querer, nem achei que eles tivessem ouvido.

– Adversário? Não quero que pense em mim dessa forma – ele ia se aproximar, mas Kakashi o interrompeu.

– Pare! Não se aproxime dela.

  De repente, o cara começou a rir como maluco. Ele é insano, só pode! Não entendo, porque ele ria como se tivéssemos contado uma piada, e claro eu estava confusa. Já meu ex sensei parecia estar ficando mais irritado a cada segundo.

– É tão estranho você estar protegendo-a, já que a Emi quase se matou por sua culpa – meu mundo caiu. Não é possível... como ele sabe disso?

   Aquelas cenas voltaram para minha mente, eu via tudo novamente. Ino chorando, Chou e Shika tentando me trazer de volta para a realidade. Balancei minha cabeça, em uma tentativa falha de me livrar daquelas lembranças. Era uma tortura psicológica. No entanto, aquele garoto havia passado dos limites. Em uma fração de segundos em que eu desviei minha atenção, o Chidori já brilhava na mão de Kakashi.

  “Não posso deixar isso acontecer!” sequer acredito no que eu fiz.

– Kakashi não! – novamente, eu estava na frente daquele jutsu fatal. Tive uma rápida lembrança de quando quase morri por causa daquilo. Eu devo ser louca mesmo.

– Emi, saia da frente... – o modo como ele estava me deu calafrios. Nunca imaginei isso.

– Não faça isso! Você vai ter problemas se atacar um Genin!

   Eu não quero, de maneira alguma, causar problemas para ele. Ainda mais porque seria tudo minha culpa. Por alguns segundos, Kakashi pareceu refletir e desativou o jutsu, nesse momento agradeci à Kami. Que confusão! Como eu queria estar em casa agora...

– Você é tão gentil senhorita Arai.. – o garoto falou. Voltei minha atenção para aquele doido – Ajudando a pessoa que tanto lhe fez mal!

– Quem é você?

– Você entenderá tudo em nosso próximo encontro. Infelizmente, este foi interrompido pelo Ninja Copiador. – as folhas que estavam no chão começaram a rodar em volta dele, criando um redemoinho de vento – Até mais, querida.

   E então sumiu tão de repente quanto quando apareceu. Isso é muito estranho, minha cabeça doía de tantas duvidas. É muita confusão, eu não sei de mais nada. E o pior é que meu “salvador” ainda esta aqui e eu também não sei como agir.

– Quem é esse cara? – perguntei a mim mesma em um sussurro.

  Para completar, senti frio quando chegou aquela típica brisa assustadora que balançou as folhas, soltando das arvores que estavam próximas a nós. O medo se passou assim que ele sumiu, como se o garoto estranho tivesse trago uma energia ruim, e de fato trouxe. E não foi só ruim, foi péssima. Agora minha cabeça estava cheia de duvidas, não dá para pensar em mais nada.

– Emi... – me virei esperando que Kakashi dissesse alguma coisa, mas não disse. Mas que coisa! Por que isso me destrói tanto? Ainda mais agora, em um momento que eu estou fazendo o possível para deixar meus sentimentos de lado.

  Nesse momento, tive certeza de que se eu ficasse ali por mais alguns minutos com certeza choraria.

– E-Eu... eu tenho que ir pra casa – eu me sentia perdida. Estava em uma maré de emoções confusas.

  Maldito mal estar que sempre chegava nessas horas! Dessa vez foi pior, parecia que eu ia vomitar a qualquer minuto. Meu estomago estava embrulhando. Tentei seguir meu caminho, na verdade, acho que estava na direção errada, mas não me importei. Meu objetivo era apenas sair dali e ficar sozinha novamente, mas a ideia dele não era a mesma. Paralisei quando senti um braço me parando. Respirei fundo tomando coragem para encara-lo.

– Desculpe, mas vou ter que tomar seu tempo. Precisamos conversar – afirmou. Eu sabia que uma hora iria desmoronar, mas não sabia que seria tão rápido.

     Eu sentia muita dificuldade para respirar, mas não queria demonstrar isso. Apenas pensava que isso iria causar consequências no equilíbrio da minha vida depois. Depois disso, lá estaria eu, magoada de novo. Dormiria chorando se não me entupisse de remédios para dormir, ficaria triste e não iria a conseguir seguir com meus planos. Agora me pergunto: “Por que eu não recusei estar aqui?”.

   Como ele sabia desse lugar? Onde eu Shika, Cho e Ino íamos ver as nuvens de vez em quando. Nem me lembro de quando cheguei ali, foi seguindo-o apenas. Eu estou extremamente sem jeito agora, não sei o que falar. Na verdade, eu nem deveria falar nada já que foi Kakashi que disse que precisávamos conversar. Mas não queria continuar naquele silencio sepulcral.

– Então... – comecei – O que você..

– Emi, eu sinto muito.

  Ok, agora eu morri. Por alguns segundos, tudo parou. Eu não sentia mais a brisa do vento, só ouvia as batidas do meu coração. O encarava como quem dizia: Como assim?!

– Espera aí... o que? – respirei fundo fechando os olhos, tentando entender o que se passava ali. 

– Bem, acho que estou me desculpando por tudo. – ele disse virando para contemplar a vista. As mãos estavam enterradas nos bolsos.

   Ele não tem motivos para isso. De repente, me vi em meio a uma crise de revolta, de tudo que guardei em meu interior durante esse tempo. As dores estavam de volta, junto com lagrimas também, mas me segurei.

– P-Por que? Você não tem que se redimir... – juntei minhas forças para dizer aquilo – Nem gosta de mim...

  Por incrível que pareça, Kakashi riu. Senti-me mais irritada ainda, foi como se debochasse de mim, ou da minha fraqueza, não sei. Eu queria muito mesmo chorar, tinha prometido a mim mesma que só choraria novamente para libertar minhas magoas e não para criar novas.

– Desculpe, mas ouvir isso é engraçado pra mim. Sei que tem motivos para me odiar – ai como eu queria gritar! Eu não o odeio, esse é o problema. – Isso não importa, contanto que me perdoe.

  Eu estava perdida. Não sei o que falar, estava a ponto de desmoronar ali.

– Te perdoar pelo o quê? Nunca guardei rancor de ninguém, não é agora que vou fazer isso – até eu me assustei com a facilidade e firmeza na qual falei aquilo. Ele me observou curioso. Aquele era o dia mais surpreendente da minha vida.

– Sabe, essa é uma das características que eu mais admiro em você – será que ele não nota que essas palavras me machucam mais ainda?

  Finalmente eu percebi que não dava. Eu não posso mesmo controlar meus sentimentos, é demais pra mim. Perto dele, toda a minha segurança se esvai para não sei aonde. Eu não quero me iludir, dói muito mesmo. Dei as costas pra ele, tentando esconder a mim mesma.

“Não chora, não chora não!” eu ficava repetindo isso mentalmente como uma espécie de mantra. Imaginava-me em um lugar diferente, totalmente sozinha. Senti uma mão em meu ombro, mas minha mente ainda me torturava e aquilo não iria ajudar.

– Não! – empurrei sua mão bruscamente e me afastei. Aquela altura, nem me importei se estava chorando – Não faz isso... não tá vendo que acaba comigo?

  Visão embaçada pelas lagrimas, voz embargada. Nada me era importante, eram só detalhes. Eu sentia que deveria botar tudo pra fora.

– Não é só com você.

– Se você realmente se importa comigo... então me deixa em paz..

  Pulei de susto quando ele socou a coluna que sustentava a tenda que tinha ali, fez um trinco enorme naquilo. Achei que iria desmoronar tudo, mas graças a Kami isso não aconteceu. Minha respiração acelerou mais ainda, se é que era possível.

– Você não entende. Eu não consigo fazer isso – é eu realmente não entendo.

– Como assim?

– É complicado Emi. Eu sinto muito, queria te proteger, mas exagerei – o que?

– O que? – foi mais um sussurro mesmo, mas ele ouviu.

– Queria que você desistisse de ser uma ninja – aquelas palavras me atingiram como facas. Foi então que eu percebi que tremia.

– Por quê? – aquilo não era uma simples pergunta, eu queria a resposta de tudo. E Kakashi sabia disso, talvez por isso que ele estava tão frustrado.

– Eu... não queria que se machucasse – Quê? Aquilo fazia sentido? – Não vou mentir. Você se tornou importante pra mim.

– Você só esta dizendo isso pra que eu me sinta melhor... não é?

– Bem que eu queria que fosse. Como eu disse antes, é complicado.

   É mesmo muito complicado. Especialmente para mim, que estou a minutos tentando formular explicações para aquilo. Não é possível... eu sempre tive a plena certeza que ele me odiasse e agora... não sei de mais nada.

– D-desculpa, mas eu não entendo aonde você quer chegar com isso – dei de ombros enxugando meus olhos.

– Eu não quis isso. Nunca imaginei que iria me apegar inexplicavelmente a uma menina tímida, de bochechas vermelhas e que sempre andava de cabeça baixa, mas aconteceu.

   Meu coração estava tão acelerado que eu ouvia o bombear do sangue nos ouvidos. Estava suando frio e as palavras dele – por mais que enigmáticas – ficavam se repetindo em minha mente.

– Eu também não... p-pra falar a verdade... até agora eu não consigo imaginar. – fiquei me amaldiçoando por gaguejar.

– Emi, dizer aquilo para você foi uma das coisas mais difíceis que tive que fazer na vida. Mas minha cabeça, eu não tinha outra escolha. Vê-la se machucar me dava vontade de destruir tudo à minha frente.  

– Por que você sentiria isso? – eu tinha certo tom de urgência. Queria mesmo saber.

– Não sei dizer. Mas de todo jeito, fui um idiota. Achei que se dissesse coisas ruins você se arrependeria e desistiria, mas estava enganado.

– Kakashi-sensei... achei que me odiasse – que maravilha, eu ia chorar de novo.

– Não posso te odiar, você fica na minha mente o dia inteiro.

   Senti aquele conhecido choque percorrer por meu corpo e de alguma forma, não foi tão ruim. Eu não sei se posso confiar, meu coração me diz que sim. Mas ainda tenho medo.

– Não sei se acredito nisso.

– É uma pena que não acredite, mas eu preciso mesmo que você me perdoe.

   Que diferença eu poderia fazer? Afinal, já disse que não guardo rancor de ninguém. Esta tudo tão confuso agora, será que Kakashi diz isso só para aliviar sua consciência ou realmente se importa comigo?

– Tá tudo bem..

– Sério Emi, desculpe. Eu não estava pensando direito.

– Por que é tão importante pra você?

– Porque eu não quero que você fique fugindo de mim – ele se aproximou quando eu estava totalmente paralisada por suas palavras. Senti um toque em meu queixo que me deu arrepios, ele levantou delicadamente meu rosto, me forçando a olhar em seu único olho visível. – Ou que desvie o olhar quando me vê.

   Eu tinha certeza de duas coisas. A primeira, Kakashi não me odiava. A segunda, é que eu admito pra mim mesma que gosto demais dele. Mas naquele momento, eu não sei o que deu em mim, fiquei louca, só pode! Não sei se seria capaz de fazer isso em meu estado normal.

    Entretanto, estava emocionalmente frágil, chorando e a pessoa que eu gosto me pediu perdão. Tenho motivos, ou não... Apenas cometi uma ação inesperada para mim mesma: Eu o abracei. Sim, acabei de praticamente me jogar em Kakashi Hatake o abraçando. Depois eu poderia dar a desculpa de que endoidei após passar por tudo isso, mas agora somente queria libertar meus sentimentos de uma vez.

   Claro que ele ficou surpreso, no entanto quase desmaiei ao sentir seus braços ao meu redor. Se eu não tivesse molhado seu colete com lagrimas, poderia até descrever aquele momento como perfeito. Quando percebi isso, me afastei de uma forma meio brusca, mas fazer o que. Sentia meu rosto pegar fogo.

– D-Desculpe s-sensei..

– Finalmente – o olhei confusa – Pensei que não ia ficar corada hoje.

   Isso só aumentou depois dessa.

– Kakashi-sensei! – escondi meu rosto ouvindo sua risada. Só agora me dei conta do quanto eu gosto desse som.

– Por que me chama assim? Que eu saiba, não sou mais dono desse titulo não é mesmo?

   Verdade. Eu sequer notei isso, mas de qualquer jeito também é sinal de respeito.

– Sei lá, eu só..

– Não me chame dessa forma – praticamente ordenou.

– Mas..

– É uma ordem Arai – revirei os olhos, mas acabei rindo.

– B-Bem.. afinal... como estamos agora? – não sei o que me deu para fazer aquela pergunta. Apenas fiz. Mas tentei ser mais objetiva – Quer dizer... somos amigos né?

  Como qualquer pessoa normal – mais ou menos – estendi a mão, acho que devíamos fazer isso quando estamos nos acertando com alguém, não é? Entretanto, ele fechou o olho indicando que estava sorrindo e enrolou uma mecha do meu cabelo no dedo.

– Mais ou menos.. – em seguida passou por mim. Estava em choque total, claro. Olha o que eu acabei de ouvir! Meu Kami, que vida é essa?!

– Kami do céu.. – murmurei sem querer. Só então vi que estava parada que nem uma estatua ali.

– Você vem ou não? – continuo confusa – Venha. Vou te leva-la até sua casa, apenas pra garantir.

  Eu não vou mais andar sozinha tão cedo...

   Eu nunca havia me sentido tão feliz em uma ida para casa. O que, de alguma forma, me fez ficar mais alegre e distraída. Ao todo, escorreguei umas sete vezes. Graças ao Kakashi, eu não caí. A gente conversou até mais do que eu esperava, ele tinha aquele jeito dele. Todo misterioso e tal e isso me fascinava. Afinal, O Ninja Copiador tinha me dito que gostava de mim. Ok, eu não sei em qual sentido, mas já é algo né! Além do mais, eu tenho que crescer e saber diferenciar sentimentos. Mamãe já disse uma vez que existe diferença entre paixão e amor e eu concordo plenamente com ela. Entretanto, perdida no meu mundo da lua, quase bati a cara na porta de casa.

– Tudo bem, agora esta entregue. – Kakashi disse. Senti-me como se ainda estivesse no time 7, sempre que ele ia eu sentia uma vazio.

– É, acho que estou.

– Você deve entrar agora. Esta ficando tarde, sua mãe pode ficar preocupada.

– Ahn... sobre a minha mãe, a gente já se resolveu – expliquei meio sem jeito.

– Sério? Fico feliz por você. Bom, eu já vou indo. Tenho assuntos para resolver de manhã.

– Tá, boa noite e vê se não se perde no caminho da vida – eu disse fazendo-o rir.

– Vou tentar. Boa noite.

  Fiquei parada ali por mais alguns instantes observando-o sumir na esquina ali perto. Eu sabia que era estranho, mas não pude evitar uma crise de euforia feminina assim que o perdi de vista. Mas logo me recompus, no entanto, não conseguia esconder o sorriso. Entrei na casa, tirei os sapatos os deixando no degrau e procurei por mamãe, mas não a achei e resolvi ir beber um copo de água. Mas tomei um susto ao vê-la na cozinha.

– Emi! – ela também se assustou – Sabe que horas são?

– Desculpa mãe. Eu encontrei um estranho do Exame Chunin, meu ex sensei apareceu e as coisas ficaram complicadas! – falei rapidamente. Eu tinha agonia em mentir, e depois de usar essa pratica para invadir um hospital.. não dava mais.

– Espera! Como assim? Explique-me isso direito!

– Mamãe, a senhora não precisa se preocupar. Não aconteceu nenhuma briga, eu estou bem.

   Ela suspirou frustrada.

– Então... se você diz que esta tudo bem mesmo..

– E está! Não se preocupe.

   Demorou um pouco para convencê-la, mas consegui. Estava tão eufórica que nem comi nada, apenas conversei um pouco com minha mãe, depois subi e tomei um banho para então poder me jogar na cama. Fechei os olhos repassando tudo o que ocorreu. Logo o ataque voltou, comecei a pular na cama. Queria gritar, cantar ou sei lá. Qualquer coisa que ajudasse naquela exaltação. Nem sei que horas parei, somente me lembro de ter cansado e dormido em seguida.