História Briefing - Copydesk

"You will always be a monster; there is no turning back from it."

– Julie Kagawa

Wendy acordou quando os poucos raios de sol que brigavam contra as nuvens naquele dia nublado adentraram seu quarto, fazendo a garota fechar seus olhos com força, se virando para o lado preguiçosamente, sobressaltando ao ouvir o barulho irritante que seu despertador emitiu.

— Droga. – Ela murmurou ao sentir seu ombro doer quando esticou seu braço para alcançar o objeto barulhento que se localizava em cima de seu criado mudo, ao lado da cama.

Sentou-se na cama, passando as mãos pelo cabelo, tentando ajeitar alguns fios rebeldes enquanto se levantava e ia em direção ao banheiro. Quando chegou no pequeno cômodo avistou a calça que usou no dia anterior sobre as demais peças dentro do cesto que guardava as roupas sujas, assim que viu aquela peça manchada de sangue, lembrou-se da noite passada e voltou a pensar sobre o que deveria fazer, ainda descrente na sua ideia insensata de que vampiros poderiam existir.

A xícara que Wendy segurava quase caiu de suas mãos quando ela ligou a televisão e viu a chamada para a notícia que seria transmitida no telejornal local. Se acomodou no sofá, verificando se não chegaria atrasada no trabalho caso esperasse para ver a reportagem; ela precisava saber o que as autoridades encontraram na cena do crime que ela presenciou e indiretamente ocultou.

"Dois corpos foram encontrados hoje pela manhã em uma casa abandonada na rua 130 no distrito de Harlem. Os moradores das proximidades alegaram terem ouvido barulhos suspeitos na casa por volta das nove da noite, mas não viram nenhuma movimentação no lugar."

Os olhos da ruiva estavam vidrados na tela, para que não perdesse detalhe algum. Queria obter o máximo de informações possível, para que tentasse descobrir algo sobre o criminoso "fantasma".

"[...] Ainda não se sabe se esse crime tem alguma relação com o assassinato de Kim JungYeon; a polícia continua procurando por ligações entre os crimes.

— Os corpos encontrados na casa hoje pertenciam a dois assaltantes que roubaram o TD Bank na semana passada. Nós acreditamos que tem alguém querendo fazer justiça com as próprias mãos na nossa cidade. – O policial dava um depoimento para a repórter, querendo deixar claro que aquele modo de fazer justiça não era correto.

Vamos estar esperando uma resolução para este caso."

A garota desligou a televisão já se preparando para sair. Estava pensando em como iria pedir a permissão de seu chefe para que pudesse investigar mais a fundo aqueles crimes; decidida a fazer uma reportagem sobre o até então denominado "Justiceiro de Nova York".

— Desculpe. – Wendy falou após quase derrubar os copos de café que carregava, depois esbarrar em um corpo que acabara de entrar no pequeno espaço reservado para o café dos funcionários.

Estava tendo um péssimo dia. Chegara atrasada no trabalho por não ter conseguido pegar um táxi a tempo, sua roupa havia sido molhada e agora ela se encontrava suja de lama devido a um motorista imprudente que passou em alta velocidade sobre uma poça de água que se formou quando um pouco de neve derreteu, a dor em seu ombro aumentou, causando desconforto em qualquer tarefa que lhe exigisse maior movimentação no braço, como a de agora, que era cumprir seu dever como estagiária e distribuir alguns cafés pelo escritório. Definitivamente aquele não era o seu dia de sorte, até o momento.

— Eu te ajudo. – Um rapaz não tão alto de cabelos negros falou gentilmente, exibindo um sorriso carismático antes de se oferecer para segurar a bandeja que a garota segurava com uma mão.

— O-obrigada. – A ruiva sorriu envergonhada, não reconhecendo aquele homem. Já fazia seu estágio naquele jornal há tempo suficiente para conhecer e ter certo contato com a maioria dos funcionários e tinha certeza de que nunca o viu; não seria capaz de esquecer um rosto tão belo. — Você é o novo estagiário? – Ela perguntou curiosa ao se lembrar que seu chefe havia mencionado sobre a contratação de um novo estagiário. Suas pernas fraquejaram ao receber mais um sorriso do rapaz, que foi interrompido antes que conseguisse pensar em algo para falar.

— Oh, pelo visto já conheceu o Senhor Kim, Wendy. – O chefe de ambos interrompeu a conversa, antes que ela se alongasse.

— Parece que sim. – Ela respondeu um pouco confusa olhando para seu chefe e depois para o rapaz ao seu lado.

— Ele é nosso novo editor. – O mais velho explicou, deixando a ruiva constrangida ao notar que o novo editor do jornal a estava ajudando na distribuição de café.

— Pode me chamar de Jongdae, Wendy. – O moreno se pronunciou, com o mesmo tom gentil de antes.

— Bem, hum, eu tenho que terminar minhas obrigações agora. – Wendy se desculpou ainda acanhada, pegando a bandeja com os cafés das mãos de Jongdae e se afastando apressadamente, sentindo-se envergonhada.

A matéria que a garota estava prestes a escrever passaria pela avaliação de Jongdae antes que fosse publicada e ela o fez entregar cafés para os funcionários de cargo inferior ao seu. A ruiva se martirizava com aquela lembrança embaraçosa.

— Senhor Jones, gostaria de lhe pedir permissão para que pudesse ir à polícia atrás de informações sobre os assassinatos recentes, já sei qual será o tema da minha matéria. – A Son pediu educadamente após receber a permissão de seu chefe para entrar na sala. Wendy gastou o seu horário de almoço terminando de fazer todas as tarefas que lhe foram designadas, para que conseguisse ganhar de seu superior a liberdade que necessitava para ir em busca dos dados que precisaria para começar a escrever sobre o que planejava.

— Volte antes do seu expediente encerrar Wendy e peça a Jongdae para acompanhá-la, ele vai monitorar o seu processo de criação a partir de hoje. – O homem falou após pensar por um tempo, um sorriso brotou nos lábios da ruiva, induzindo o senhor a sua frente sorrir também. Confiando totalmente na capacidade de sua funcionária mais esforçada.

A garota voltou para a sua mesa e pegou a sua bolsa, que era nitidamente velha e antiquada para o seu lugar de trabalho, mas era a única que tinha para usar até que conseguisse comprar outra melhor, para substituir a mochila que perdeu na noite passada. Fez uma nota mental para se lembrar de pedir a segunda via de seus documentos que perdeu juntamente com sua mochila. Assim que pegou o que iria precisar, Wendy se encaminhou a sala do novo editor, recebendo alguns olhares curiosos durante o percurso.

— Entre. – Ela conseguiu ouvir o rapaz falar do lado de dentro da sala, após bater na porta. — Sim? – Jongdae perguntou a garota, após vê-la entrar em sua sala, parando a poucos passos de distância de sua mesa.

— O Senhor Jones pediu para que o senhor me acompanhasse na coleta de informações para que eu escrevesse meu artigo. – A ruiva falou enquanto se concentrava em olhar a decoração da sala ao invés de olhar para seu superior.

— Me chame de Jongdae, por favor e você já sabe aonde irá? – O moreno falava enquanto se levantava da cadeira, deixando tudo em sua mesa da maneira em que estava. Wendy teve a sensação de estar atrapalhando o trabalho alheio.

— Sim senhor... – A garota parou de falar ao receber um olhar de Jongdae que arqueou as sobrancelhas ao ouvir a palavra “senhor”; ele não era tão velho assim. — Jongdae. – Wendy se corrigiu, dando um sorriso fraco em seguida. — Eu já tenho os locais exatos aonde precisamos ir para conseguir o material necessário. – O maior assentiu, enquanto andava ao lado da ruiva, notando o quão focada ela estava em produzir seu conteúdo.

"Mais um corpo foi encontrado hoje nas proximidades do rio Hudson. Segundo as autoridades, o corpo foi identificado como sendo de Thomas Hill, de 39 anos. Ele havia sido apreendido recentemente por suspeita de pedofilia.

Parece que o "Justiceiro de Nova York” resolveu atacar novamente."

— Eu desisto de tentar entender esse caso. – Wendy soltou um longo suspiro após ouvir o término da notícia de mais um caso de assassinato que envolvia o motivo de "justiça", jogando a caneta que usava sobre a mesa e deitando seu rosto sobre as diversas folhas rabiscadas que estavam sobre o móvel.

Teria apenas aquele final de semana antes que o prazo que seu chefe lhe deu acabasse e ela ainda não tinha conseguido escrever uma matéria completa como queria, para que conseguisse sua manchete e fosse admitida. Sempre que acreditava estar indo para o caminho certo, um novo crime era cometido, a fazendo ter que alterar tudo o que já havia sido feito.

— Você ainda tem tempo para alterar o assunto. – Jongdae comentou compreensivo, passado a mão nas costas da garota.

Ele a ajudou em todo o processo de criação da matéria e entendia o quão frustrada a mais jovem estava, afinal, ele também participou ativamente e ajudou a ruiva de todas as formas possíveis, como estava fazendo naquele momento; era uma noite de sexta-feira e ele poderia estar junto com seus colegas de trabalho em um bar qualquer da cidade, mas preferiu encerrar seu expediente e acompanhar a garota até seu apartamento para que conseguissem finalizar aquela matéria.

— Jongdae, você acredita em vampiros? – A pergunta aleatória feita tão de repente fez o rapaz olhar para Wendy com o cenho franzido, não entendendo o motivo daquilo. — É só uma curiosidade. – A ruiva explicou dando de ombros, se levantando da cadeira para ir até seu quarto, voltando de lá rapidamente com uma pasta em mãos.

— Eu não acho que criaturas assim possam existir, Wendy. – O moreno falou após Wendy ter voltado para a cozinha, se sentando no lugar que ocupava antes, olhando curioso para a papelada que estava guardada na pasta enquanto a ruiva tentava encontrar uma folha em específico no meio de tantas outras. — Por que? – Questionou, buscando entender aonde a garota pretendia chegar.

— Eu estive pesquisando. – Ela falou ainda focada na pasta a sua frente. — Achei! – Exclamou após puxar uma folha com anotações dos dois lados, a entregando para Jongdae que não estava entendendo nada. — Essas são algumas informações que não cheguei a compartilhar com você antes, mas acho que não tenho mais motivos para esconde-las agora. – Jongdae acenou com a cabeça, passando os olhos por algumas frases escritas na folha, conseguindo interpretar o conteúdo da folha como alguns tópicos que abordavam algumas "provas" de que o "Justiceiro de Nova York" seria um vampiro.

— Você está enlouquecendo. – Ele concluiu, balançando a cabeça em negação. — Wendy, isso não faz o menor sentido.

— Olhe Jongdae, tudo aponta para a existência desses seres. Leia tudo, você vai ver que faz sentido. – A Son tentou fazer seu amigo acreditar, acabando por soltar um riso ao ver o quão irônica aquela situação era; ela, uma pessoa que não acreditava em nada relacionado ao sobrenatural, defendendo com unhas e dentes a existência de um vampiro. Jongdae a encarou com os olhos semicerrados, tombando a cabeça levemente para o lado. — Eu nunca pensei que iria acreditar em algo assim. – Justificou o motivo de seu riso, após voltar sua atenção para o rapaz que a olhava sem expressão.

— Eu ainda não acredito nisso. – Ele apontou para a folha em suas mãos, se negando a aceitar que alguns fatos que a ruiva havia escrito faziam certo sentido. — Olha, só vista algum casaco e vamos sair um pouco, okay? – Jongdae falou se levantando da cadeira, indo para trás de Wendy, a empurrando pelos ombros até que ela estivesse dentro do quarto. — Você está precisando se distrair um pouco. – O rapaz disse um pouco alto, enquanto ia esperar pela garota na sala.

Ambos já se encontravam levemente alterados após terem bebido algumas garrafas de cerveja em um pub irlandês na Sétima Avenida. Jongdae começava a ficar preocupado com as horas e chamou a ruiva para ir embora, tendo certeza de que seria difícil encontrar um táxi que aceitasse deixá-los em frente ao prédio da garota, já que naquele horário as redondezas do lugar aonde ela morava não poderiam mais serem consideradas seguras.

— Eu não posso ir além daqui. – O taxista avisou ao parar na Frederik Douglass Boulevard, se recusando a entrar nas ruas menos movimentadas do Harlem.

— Obrigado. – Jongdae agradeceu ao motorista, o pagando pela viagem.

— Tenham uma boa noite. – Se despediu o taxista, arrancando o carro assim que Jongdae e Wendy desceram dele.

A garota andava com os braços em torno do corpo, em uma tentativa inútil de se aquecer, agradeceu por não estar nevando naquela noite. O moreno vendo a menor sofrendo com o frio, passou um de seus braços pelos ombros dela, a trazendo para mais perto de seu corpo, começando a caminhar devagar em direção a casa dela. O coração da ruiva se acelerou com a proximidade repentina de Jongdae, mas não se afastou, pelo contrário, ela se aconchegou mais nos braços do rapaz, se deixando ser inebriada pelo perfume único dele.

Parando na entrada do prédio da garota, Jongdae se afastou um pouco, deixando a garota livre de seu aperto para entrar na construção. Wendy se demorou um pouco para se deslocar em direção a entrada, acabando por surpreender o mais velho ao lhe dar um abraço e depositar um beijo em sua bochecha, antes de finalmente subir os poucos degraus da entrada, se virando ao chegar na porta.

— Jongdae, olhe. – A ruiva apontou para um pequeno ponto vermelho escuro no jardim branco, coberto de neve que ficava próximo aonde o rapaz estava parado. — Não pensei que pudessem florescer em meio a tanta neve. – Comentou ao ver Jongdae retirando um pouco da neve que cobria aquela ilustre rosa vermelha.

— Isso é para você. – Jongdae com cuidado colheu a flor, subindo os degraus, ficando a uma distância mínima de Wendy, a oferecendo a rosa com um sorriso galanteador.

— Obrigada. – Wendy sussurrou envergonhada, aceitando a flor.

Um silêncio constrangedor se instalou, deixando ambos sem saber o que fazer naquele momento. Jongdae mantinha as mãos no bolso de seu casaco, olhando para cima enquanto Wendy permanecia olhando para a rosa, admirada com sua beleza. Eles estavam evitando qualquer contato que os deixassem mais envergonhados.

— Ai. – A voz de Wendy quebrou o silêncio, após sentir a dor de seu dedo sendo perfurado por um espinho no caule da rosa, o sangue escorrendo pelo pequeno corte, tingindo o verde da folha de vermelho.

— Você está bem? – O rapaz perguntou, olhando para o machucado da ruiva.

— Estou, foi só um corte pequeno. – Ela o respondeu analisando seu dedo, que já não sangrava muito mais.

— Eu tenho que ir agora. – Jongdae falou olhando para a rua deserta, deixando Wendy confusa com sua fala repentina, ela não se importaria em gastar mais algum tempo na presença dele.

Antes que se despedisse, a garota se surpreendeu ao sentir as mãos de Jongdae em seu rosto, a olhando brevemente antes de colar seus lábios, Wendy sentiu seu coração disparar novamente ao sentir a boca do garoto acariciando a sua em um beijo lento. Dando alguns passos para frente, o rapaz encostou a ruiva na parede atrás de si, acabando com qualquer distância existente entre seus corpos. O moreno escondeu seu rosto na curvatura do pescoço da menor assim que apartaram o beijo, sentindo a fragrância doce de seu perfume, depositando um beijo ali, sentindo o corpo dela estremecer com aquele ato. Se afastando subitamente do corpo da garota, Jongdae desceu as escadas rapidamente, sem olhar para trás. Deixando Wendy estática e confusa com sua atitude extemporânea. A garota permaneceu parada ali por um instante, com uma cena aturdindo seus pensamentos; ela poderia jurar que viu as íris de Jongdae tornarem-se vermelhas instantes antes de ser beijada.