História Brigas e Provocações - Apavorado

Assim que chego, entro o mais rápido possível no hospital, pouco me importando com a moça da recepção que me chamava. Corro pelos corredores a procura de um rosto conhecido, mas não o vejo nenhum. Logo sinto braços me envolvendo, paro em meio ao corredor, me viro e vejo TaeHyung.

– Onde está a minha mãe?

– Calma Kook...

–Não me peça calma, me fala aonde está minha mãe.–tento me soltar dele, mas TaeHyung me segura mais firme.

– JungKook, ela já está melhor, agora se acalme um pouco e vem comigo, o Jimin está com ela no quarto.

Ele me segura pelo braço e começa a andar e eu o sigo em silêncio, andamos pelos corredores,  e logo chegamos em frente à porta do quarto 202. Ele abre a porta e entramos logo em seguida. Já vejo minha mãe deitada na cama e Jimin sentado na cadeira ao lado dela.

–JungKook, por que você demorou tanto?–Assim que nota a nossa presença,Jimin levanta e corre em minha direção e já me abraça.

–O que aconteceu Jimin? Como ela está?–Pergunto aflito, o afasto um pouco para que eu possa olhar ele nos olhos.

– Foi tudo tão rápido.–Ele começa a chorar e por instinto abraço ele novamente e mais forte.–Na hora que eu vi a titia ali no chão eu entrei em desespero, eu não sabia o que fazer. Tentei chamar por ela, mas a Titia não me respondia, eu juro que tentei de tudo, até que eu vi a cartela de remédios em cima da mesa.– Agora além da preocupação sinto culpa, pois se eu ficasse mais com ela, isso não aconteceria.– Aí eu liguei os fatos, peguei meu celular e tentei ligar pra você, mas só chamava, foi aí que eu resolvi ligar pro TaeTae e ele ligou pra ambulância. Eu tava tão assustado e perdido.–Jimin se encolhe em meus braços e eu me seguro nele pra não cair no chão.

– Eu deveria estar lá com ela, eu não podia ter deixado ela sozinha, isso é tudo culpa minha.–  Já não contenho mais as lágrimas.–   Se eu fosse um filho melhor,  seu  eu tivesse ficado mais com ela, se eu tivesse deixado os meus problemas de lado e colocado ela em primeiro lugar isso não teria acontecido.

– Não fala assim JungKook,  sua mãe  fez isso por ela mesma, você não tem culpa nenhuma,  ela deve ter feito isso sem pensar e nós não teríamos como evitar, mas o importante é que o Jimin chegou a tempo.– Tae  diz já envolvendo eu e ChimChim.

– Mas eu deveria ter dado mais atenção, mas me esqueci completamente do aniversário de morte do meu pai, sei que essa época é muito delicada pra ela, eu deveria ter prestado mais atenção, mas eu coloquei meus problemas com o Yoongi em primeiro lugar.–  Me solto dele e vou em direção à cama.

Ela está dormindo completamente serena, seu semblante é leve como se ela estivesse tirando uma soneca, mas as máquinas ligadas a ela me lembram que ela não está assim tão bem, que tentou algo perigoso demais.

Me sento na cadeira onde Jimin estava, e ali ficamos em silêncio, eu só tento assimilar tudo que aconteceu comigo hoje, mas o principal fato é tentar compreender o motivo da minha mãe tentar tirar a própria vida. Sei que ela diz que sem meu pai ao seu lado a vida não tem mais tanta graça, que eu sou seu único motivo de continuar viva. Sempre passamos por umas semanas difíceis a cada aniversário fúnebre, mas ela nunca foi tão longe. 

–Kook, já faz uma hora que você esta assim quieto, diga alguma coisa.–Jimin coloca sua mão em meu ombro.– Você está me assustando assim.

–Me desculpa ChimChim, mas é que eu ainda estou pasmo, tentando entender o que realmente aconteceu.– Respiro fundo pra tentar conter todas as emoções que estão misturadas em meu interior.– O médico falou quando ela vai acordar?–Esta é a primeira questão que vem em minha cabeça.

– Eles falaram que ainda não tem uma hora exata, mas que Geum-Hee está bem.– Tae fala me tranquilizando de certo modo.– Eles fizeram uma lavagem estomacal e disseram que conseguiram tirar tudo que ainda estava no estômago.

– Quem é o médico responsável por ela? Ele já passou aqui depois do procedimento?

– O médio responsável sou eu.– Me viro e direção a porta e ali parado esta o Dr. Choi.– E sim, eu já passei aqui depois do procedimento. E te digo Kook,  fique mais tranquilo, sua mãe não está no grupo de  risco e logo ela vai acordar.

– Mas Doutor, faz tanto tempo que ela está assim,  dormindo.

– Pra falar a verdade, no caso da Geum-Hee, ela está basicamente descansando, sua mãe vem trabalhando como uma louca, quase não sai da sala de cirurgia, os remédios que ela ingeriu também acusam sono. Mas você pode ficar mais tranquilo.

– Quando ela acordar vai ficar pior, ainda mais quando ver que ela está aqui como paciente. Já estou até vendo meu avô chegando aqui e gritando com ela.

Meus avós paternos são grande médicos e donos deste hospital, eles nunca gostaram da minha mãe, sempre a acusaram de ter casado com o meu pai pelo dinheiro, mesmo depois de meu pai ter brigado com eles e cortado relações,  eles não aceitavam bem, mas o pior foi quando o meu pai partiu e deixou tudo pra mim e pra ela, eles ainda não falam com ela, e por mais que eles tentem contato comigo, não consigo me aproximar, não dá pra esquecer o que eles fizeram com a minha mãe, toda a humilhação que eles fizeram  ela passar quando  o meu pai faleceu.

– Kook, não se preocupe, quando me falaram o nome da paciente na emergência  eu já registrei ela com  outro nome, pra que não haja problemas pra ela e pra você.

–    Obrigada Doutor,  você esta sempre nos ajudando,  sempre do lado dela desde que o meu pai faleceu.

–  Não tem que agradecer, eu prometi ao seu pai que cuidaria dela e de você.–    Ele sorri levemente.–    Agora descanse um pouco, pois dá pra ver que você também esta abatido, daqui a pouco ela acorda e você vai precisar dar toda a sua atenção pra ela.–   Ele diz já caminhando pra porta,  o Doutor acena para os meninos e sai do quarto.

 Me levanto e vou até Jimin e o TaeTae, me sento com eles ali no sofá e logo Jimin me envolve em um abraço, me aconchego nele, e chego a dormir enquanto ele faz cafuné em meus cabelos.

Não sei quanto tempo eu dormi,  quando acordei TaeTae não estava no quarto, e eu estava praticamente deitado sobre o ChimChim. Me levanto ainda com um pouco de sono. Olho em direção a cama e minha mãe continua a dormir.

–Jimin, onde está o TaeHyung?

–  Foi buscar algo pra gente comer.–   Ele levanta.–    Me espera um minuto, eu preciso ir ao banheiro.

Me levanto e vou olhar minha mãe de perto, analisando cada parte do seu rosto, ela esta tão serena, tão relaxada que nem parece que estamos em um hospital ou que ela fez um atentado a própria vida.

Assim que Jimin sai do banheiro eu entro naquele cômodo, me encaro no espelho, vejo que ali meu reflexo, posso ver as marcas em meu rosto, meus olhos vermelhos e fundos, as olheiras escuras, evidenciando que não durmo direito há vários dias.

Se me disse que eu estaria nesta situação há alguns meses atrás, eu diria que isso era impossível, que nada disso estaria acontecendo, que eu estaria bem com o meu namorado e que minha mãe teria todo o suporte do mundo pra esta data que se aproxima. Mas não, meus dias parecem estar cada vez piores, as pedras em meu caminho estão cada vez maiores, e tem hora que eu não sei se consigo seguir em frente.

Lavo o meu rosto e respiro fundo antes de sai dali, quando volto para o quarto, Tae já está ali abraçado ao Jimin, posso ver que eles estão cansados, e neste momento eu só tenho a agradecer a eles, pois com certeza não encontraria amigos igual a eles.

–   Kook, come um pouco.– Tae aponta pra uma sacola que está em cima de uma mesa no canto.– Sei que você deve estar sem comer a um bom tempo.

–    Eu estou sem fome, depois eu como.–    Digo já caminhando em direção a cama.

–  Pode parar ai JungKook, já basta toda a preocupação que passamos com a Titia.– Jimin me fuzila com o olhar.– Trate de comer logo, não me faça empurrar este lanche pela sua garganta.

–  Mas eu ....

–  Por favor Kook, faça o que eu estou pedindo, só desta vez.–  Jimin me pede demonstrando toda a sua preocupação.

–  Tudo bem.–   Suspiro cansado, e mesmo sem vontade faço o que ele me pede.

Me sento no sofá e começo a comer o lanche, posso ver que ChimChim fica mais aliviado e isso me deixa melhor. Começo a reparar neles e posso ver o cansaço já estampado na cara dos dois, me mostrando que está mais do que na hora de eu assumir as minhas devidas responsabilidades e dar um descanso mais do que merecido para estes dois. Termino de comer e vou até eles, os abraçando e ficamos assim um por um tempo até que me afasto e eles me olham.

– Já está mais do que na hora de vocês irem, eu não tenho como agradecer por tudo que estão fazendo por mim, mas podem ter certeza que eu sou muito grato a vocês dois.– Digo já sentindo os meus olhos marejarem.

–  Kook, não agradeça,  nós somos uma família, sempre fomos e sempre vamos ser, já disse, somos irmãos.–  Chimchim diz enquanto me abraça novamente.–  Vamos sempre estar do seu lado, como você sempre está do nosso.

–  Eu sei, mas é que....

–  Sem mas Kook, nos te amamos e amamos a Geum-Hee.–  TaeHyung diz já se aproximando de nós e nos envolve com seus braços.–  Vamos passar por isso juntos e no final de tudo estaremos todos felizes.

–  Isso mesmo.–  Jimin concorda com um sorriso imenso, que me faz acreditar ainda mais nas palavras  de felicidade do TaeTae.

– É tudo do que eu mais quero, que tudo termine bem. –   Suspiro mais aliviado, me afasto dos dois um pouco para que eu possa vê eles melhor.–  Mas agora está mais do que na hora de vocês irem, sei que estão cansados e que está tarde.

–  Não senhor, vamos ficar aqui com você.–  Jimin exibe o bico nos lábios.

–   Eu sei que vocês  querem ficar aqui, mas está na hora de eu assumir as minhas responsabilidades...

–   Mas eu quero estar aqui  quando a Titia acordar.

–   Eu sei Jimin, mas não adianta ficarmos todos aqui e nos  cansarmos sem necessidade.

–  Mas....–  Jimin faz cara de choro e olha para o namorado em um pedido de ajuda.

–  Amor, eu sei que você quer ficar, mas o Kook tem razão, vamos pra casa  tomar um  banho e dormir um pouco, amanhã  nós voltamos para que o Kook possa fazer o mesmo.

–  Pode ter certeza Jimin  que assim que minha mãe acordar eu te ligo.

–  Você promete?–   Ele me pergunta meio desconfiado.

–  Eu prometo, a primeira coisa que eu vou fazer assim que ela acordar é ligar pra você.–  Após prometer,posso ver que ele ficou mais aliviado.

–  Sendo assim, eu vou.–   Ele caminha até o sofá e pega sua mochila que até então eu não tinha reparado que estava ali.–   Mas amanhã bem cedo eu estou  aqui.

–  Nãosenhor, um de nós dois tem que ir pra escola, e este alguém é você Jimin, depois da aula você vem ok?

–  Mas eu queria...

–  Jimin, o vestibular está chegando nem eu e nem você podemos perder matéria, então é mais fácil você ir pra depois me passar tudo.–  Tento o máximo possível fazer com Jimin não venha, ele precisa descansar e sei muito bem que se ele não vai dormir direito e se ele for vir logo de manhã, não irá pregar os olhos a noite inteira.

–   Amor, escuta do Kook, amanhã depois da escola eu passo pra te pegar e a gente vem pro hospital, pra que o Kook possa ir em casa e descansar um pouco.

–  Ok.–   Sei que ChimChim concordou a contra gosto, mas assim é  melhor.–  Mas assim que eu sair da escola nós vamos vir direto.

–  Tudo bem amor.–   Tae começa a arrastar Jimin em direção a porta.–  Kook, se acontecer qualquer coisa, nos ligue imediatamente.

–  Pode deixar TaeTae.–  Respondo com eles já saindo do quarto.

Assim que eles saem, vou até minha mãe e me sento na cadeira velando o sono dela, esperando que seus olhos se abram. Fico ali  jurando que agora minha atenção é toda dela, meu foco seria seu bem estar, mesmo que pra isso eu tenha que deixar minha vida de lado.  Está é a coisa mais correta a se fazer, ela é a minha prioridade.

Eu disse tudo ao Yoongi,  falei a verdade e agora ficaria a cargo dele acreditar em mim  ou não, eu já não poderia fazer mais nada, só aceitar sua decisão de não acreditar em mim.

E assim as horas foram passando, minutos pareciam demorar uma eternidade, a enfermeira vinha toda hora verificar como minha mãe estava, e eu podia ver a expressão apreensiva em sua face. Por alguns momentos eu pensei que  o Dr. Choi poderia ter me enganado, mas todas as preocupações se vão assim que eu  vejo seus olhos se abrindo.

Neste momento não consigo me  conter e começo a chorar como se não houvesse um amanhã, me alivio por completo.

–  Kook, o que está acontecendo? –  Ela me pergunta com o voz embargada e seu olhar corre pelo quarto.

–  Finalmente você acordou.–  Digo já beijando sua face.–  Você sabe como me deixou preocupado?–  Digo irritado.–   Como você pode fazer isso comigo? Mãe, você não pensou em nada, como eu ficaria, como me sentiria com seus atos impensados?

–  Me desculpe meu filho, sua mãe é um desastre de pessoa.–  Ela diz já aos prantos.–  Me perdoa.

–  Eu não tenho que te perdoar e sim cuidar de você, por favor mãe, não faça mais isso. Não me deixe sozinho neste mundo, eu só tenho você nesta vida.–  Digo a abraçando.

–  Me perdoa meu amor.–  Ela sussurra isso repetidas vezes enquanto me abraça.

Com muito esforço me solto de seu abraço e vou até o telefone, peço pra falar com o Dr.Choi e assim que ele me atende, informo que minha mãe acordou e ele me diz que já vem ver ela.

–  Foi o Choi que me recebeu no hospital? – Ela me olha de modo atento.

–  Sim, mas não precisa se preocupar, ele te registrou com outro nome para que meus avós não saberem que você esta aqui.

Logo escuto a porta se abrindo e o Dr. Choi entra pela mesma, ele vem até a cama e para do outro lado, assim ficamos cada um de um lado olhado pra minha mãe.

–  Dormiu bem Geum-Hee?–   Ele pergunta enquanto verifica os sinais vitais da minha mãe.

–  Dormi feito uma pedra,Seung-Hyun.–  Ela diz olhando pra ele.–  Como estou após ter feito a minha loucura?

–   E que loucura, deixou  todos nós preocupados com você.–   Ele anota algumas coisas em uma ficha e olha pra nós.–  Mas agora você está bem, foi salva a tempo.  Na hora que você  chegou já fiz  uma lavagem estomacal e colhemos algumas amostras de sangue. Os resultados chegaram agora a  pouco e a maioria está normal, mas sua  taxa de leucócitos está um pouco baixa, mas pelo que pude ver é por falta de uma alimentação regular.

–  Muito obrigada por cuidar de mim Seung-Hyun, eu não sei o que faria se não tivesse você, meu amigo.–  Minha mãe segura a mão dele enquanto agradece.

–  Não faço mais que minha obrigação.–   Ele sorri pra ela.–  Prometi que cuidaria de você e do Kook, e é isso que estou fazendo.

–  Mesmo assim, muito obrigada. Mas agora me diga, quando eu vou poder ir embora?

–   Calma pequena Jeon,  creio que você terá que ficar aqui por pelo menos mais uns dois dias, para que o remédio saia complemente do seu organismo e só aí você poderá ir pra a casa.

–  Mas eu tenho cirurgia amanhã cedo. –  Pelo modo que minha mãe fala posso ver que ela não gostou da notícia, mas a mesma me deixou aliviado, pois assim ela vai poder descansar um pouco.

–   Não precisa se preocupar Geum-Hee,  já comuniquei que você me ligou informando que não poderia fazer a operação do paciente  e que está entrando de férias  pelo próximo mês.

–   Como você pode fazer isso comigo? Eu não posso ficar todo este tempo parada.–  Ela diz indignada.

–   Mãe, assim é melhor, você precisa se cuidar e nada melhor que se afastar um pouco do trabalho, sair um pouco deste hospital vai te fazer bem.–  Digo segurando sua mão.

–  Isso mesmo Kook, concordo plenamente com você.–   Dr. Choi diz enquanto se senta na cadeira ao lado da cama.

–  Vocês só podem estar de complô contra mim.–  Minha mãe diz enquanto se senta na cama com meu auxílio.–  Estou tonta.

– Nós só estamos preocupados com a sua saúde e nada mais. E a tontura é por causa da medicação, mas creio que você já saiba disso. –   Vejo o Doutor sorrindo pra minha mãe, e posso notar que cada palavra que ele diz há afeto e carinho, e me arrisco a dizer, tais sentimentos são mais do que amizade.

–  Está bem, mas assim que minhas férias acabarem, eu vou voltar com tudo, vocês me entenderam, não vou para de exercer a minha profissão ainda.–  Ela diz com o semblante sério.

Minha Mãe diz isso, pois no ano passado eu havia pedido para que ela parasse pra que aproveitasse a vida, deixando a preocupação de lado, na época o Dr.Choi  me apoiou e ainda disse que cuidaria de tudo que envolvesse o hospital.  Mas minha mãe recusou e disse que não pararia tão cedo e que ama muito a profissão dela para parar.

–  Tudo bem Geum-Hee, mas você tem que prometer que não fará mais este tipo de besteira novamente, pois se isso acontecer novamente eu não te deixo mais pisar em uma sala de cirurgia.– Ele fala igualmente sério pra ela.

–  Ok Seung-Hyun, isso não vai mais se repetir, pode ter certeza disso.–  Minha mãe diz com a cabeça abaixada e com vergonha.

–  Isso me deixa muito mais aliviado, mãe.–  Digo enquanto a envolvo em um abraço.

O Doutor ficou mais uns minutos  com a gente, contando como estava a sua família e todas as preocupações dos seus pais por ele não ter casado novamente desde que a esposa faleceu há mais ou menos dez anos. Logo uma enfermeira entrou no quarto com uma bandeja repleta de alimentos e a colocou em frente à minha mãe. Ela começou a se alimentar, e Seung-Hyun falou que isso era um bom sinal, mas ele não ficou mais com agente, pois foi chamado para uma emergência.

– Agora me conte como tudo aconteceu, quem me achou em casa?– Ela me pergunta assim que termina de comer.

Me acomodo com ela na cama, e ela me abraça e assim eu começo a contar tudo que Jimin tinha me dito, ela me escuta atentamente e assim que termino lembro que tenho que ligar para o ChimChim, mas assim que pego meu celular e confiro as horas, já se passava da uma da manhã e eu decidi que seria melhor não incomodar o sono dele agora, poderia avisar mais tarde.

Logo minha mãe pega no sono e eu saio da cama pra ela ficar mais confortável e me deito no sofá. Fico algum tempo olhando pro teto e pensando no dia que eu tive, de como estou triste e acabado por dentro, mas ainda tenho a minha mãe do meu lado, não saberia o que fazer se eu a perdesse. E com estes pensamentos o cansaço me vence e eu acabo dormindo.

Acordo um pouco perdido, mas logo me lembro o motivo de estar no hospital, olho pra cama e minha mãe já está acordada e mexe no notebook, me levanto e ela me dá um sorriso e me deseja bom dia, e eu faço o mesmo, mas logo me retiro e vou ao bainheiro. Ali faço minha higiene matinal e logo vou até ela. Posso ver ao canto uma nova bandeja com alimentos. Ela me diz que já tomou café da manhã e que aquela bandeja era a minha, sendo assim me sento e tomo café em busca de me despertar. Ainda não tenho fome então só estou comendo o necessário para não ficar doente, entre uma mordida e outra na torrada, eu aviso a Jimin que minha mãe já acordou e que está bem, e ele me responde falando que assim que sair da escola vem direto pra cá e que precisa abraçar minha mãe com urgência.

Nossa manhã é tranquila e serena na medida do possível, pois minha mãe não parava de reclamar que queria ir embora e voltar pro trabalho. Quando estava na hora do almoço, Jimin chega junto com TaeTae e o quarto virou uma festa, a enfermeira chegou a reclamar umas duas vezes, mas pouco me importava, pois o sorriso no rosto da minha mãe era o que mais me importava no momento. Por volta das duas da tarde eles me expulsaram do quarto falando pra eu ir pra casa tomar um banho e  descansar um pouco e assim eu tomei meu caminho pelos corredores, mas logo o Dr. Choi me para e pede pra falar comigo, e mais uma vez estou na sua sala e sei que não vem coisas muitos boas por ai.

– Kook, eu sei o que o momento é delicado, mas eu preciso conversar com você, pra dizer bem a verdade eu tenho que falar com você sobre os dois pacientes que é você responsável.– Me posiciono melhor pra ouvi-lo.

– Tudo bem Doutor, vamos começar pela minha mãe, acho que assim é melhor.– Digo olhando diretamente pra ele.

–  Sua mãe está com um quatro agravado de depressão, todos estes anos nós estamos tampando o sol com a peneira, fingimos que não vimos, mas agora temos que tomar uma providência, não podemos deixar que ela se acabe deste jeito.

–  Eu sei Ajusshi, mas como vamos convencer ela a aceitar tratamento, pois todo este tempo eu juro que eu tentei, mas ela não me dá ouvido.–  Digo frustrado.

–  Eu sei, mas agora eu vou intervir nisso, sei que o modo que eu encontrei vai fazer ela me odiar, mas eu não achei um jeito melhor.– Ele suspira cansado e desvia o  olhar.

– Me diga logo Dr. Choi, pois pra mim agora pouco importa se ela ficar com raiva de mim ou de você, o que realmente é importante é o bem estar dela.

– Eu vou dizer que ela só vai poder voltar a trabalhar quando começar a fazer o tratamento com  um psicólogo. Eu posso até indicar algumas pessoas que poderão ajudar ela e saberiam manter tudo em sigilo, para que isso não caia no ouvido dos seus avós, mas pra isso eu preciso da sua ajuda.– Ele pausa puxando um pouco de ar e eu faço sinal pra que ele continue a falar.– Eu preciso que você acompanhe ela, que preste atenção em todos os sinais que ela der e que previna uma possível recaída.

– Ajusshi, como eu vou saber quais são estes sinais?– Pergunto meio envergonhado.

–Pra isso eu estava pensando que poderíamos colocar alguém adequado pra te ajudar em casa.

– Como uma enfermeira?

– Isso mesmo, que ficaria com vocês o dia inteiro e ela não ficaria sozinha na hora que você vai pra escola.

– Doutor, eu sinto te dizer, mas eu sei que ela não vai gostar desta ideia e logo vai colocar a moça pra correr.

– Eu sei disso Kook, mas eu estava pensado de falarmos que vamos colocar alguém lá pra ajudar nas tarefas de casa, e assim a enfermeira vai poder ficar de olho na sua mãe e ainda ajuda nas tarefas. Eu até já conversei com uma moça que eu conheço e ela aceitou a minha proposta de ir meio que disfarçada, mas antes eu preciso saber o que você acha.

– Acho que é uma ótima ideia, eu já estava pensando um modo de não deixar ela sozinha por enquanto.– Já me sinto mais aliviado, pois sinceramente eu não sabia o que eu iria fazer.

– Que bom, hoje mesmo já falo com a enfermeira Sun-Hi e amanhã mesmo ela já vai pra casa de vocês, pois amanhã cedo sua mãe já ganha alta médica.

– Que bom, já fico mais aliviado.– Sorrio pra ele.– Mas minha mãe não conhece ela?

– Não, fique tranquilo, ela acabou de ser formar e é minha sobrinha e eu tenho total confiança nela. – Ele se levanta e vai até a mesa e de lá vem com uma nova ficha que eu sei que é a do Yoongi.– Amanhã pode deixar que eu vou levar vocês pra casa.

– Todo bem Doutor, como você achar melhor.– Respondo já apreensivo.

– Agora vamos falar do Yoongi.– Ele abre a ficha, enquanto eu busco me acalmar pro que está por vim.– JungKook, ele parou completamente o tratamento, não veio pra consulta,  eu estou  preocupado com isso.

– Dr. Choi, eu acho que não posso te ajudar, o Yoongi não vai me ouvir, nós não estamos muito bem por assim dizer, e  no momento ele não quer olhar na minha cara.

–Tente pelo menos mais uma vez, converse com ele, Kook, se demorar mais essa anemia pode evoluir pra uma leucemia, e assim o tratamento vai ficar pior, não podemos esquecer que leucemia é um tipo de câncer e que assim as taxas de cura caem drasticamente.

– Tudo bem Doutor, eu vou tentar falar com ele.– Digo preocupado e entristecido, já sabendo o que me espera quando for falar com o Yoongi.

Assim que termino minha conversa com o doutor saio do hospital, meu sinto um pouco melhor com o ar fresco, mas as preocupações não saem da minha cabeça. Pego um taxi e vou pra casa, pensando no que faria a partir de agora com todas as informações que o Seung-Hyun me deu, como eu iria agir. Durante o caminho coloquei meu pensamento em ordem e assim destaquei as minhas prioridades.

Primeiramente eu irei instalar minha mãe, ficar com ela e dar toda a atenção que ela merece, e com isso um certo tempo passaria e eu encontraria uma forma de falar com o Yoongi, fazer ele entender que com a saúde não se brinca, nem que pra isso eu tenha que falar com os pais dele.

Assim que chegou em casa vou direto pra cozinha e vejo como ela está,  vejo as garrafas na pia, uma cartela de comprimidos já começada ao lado, e neste momento choro, vendo o que realmente iria acontecer se Jimin não tivesse chegado a tempo e ele não soubesse da chave reserva, eu teria perdido a minha mãe. Estaria sozinho no mundo.

Começo a recolher tudo a limpar aquela bagunça, apagar tudo pra que possamos passar por esta recordação indesejada. Assim que tudo está limpo, subo pro meu quarto e tomo um  banho, coloco uma roupa mais confortável e me deito na cama, coloco meu celular pra carregar e pra despertar, para que eu possa me arrumar pra voltar para o hospital e passar a noite com a minha mãe.  Não tarda muito e o sono me leva, pois mesmo que eu tenho dormido no sofá do hospital, eu ainda estava exausto.

Acordo meio assustado com o celular, mas agradecendo por ter despertado do pesadelo que eu tive. Nele eu conversava com o Yoongi  em seu apartamento e me dizia coisas horríveis, xingando dos piores nomes possíveis, mas o que mais me chateou neste sonho foi o momento que ele disse que não me amava e que eu não passava de um garoto burro que acredita em tudo que ele dizia.

Balanço a cabeça dispersando este sonho da minha memória e me levanto com o celular em mãos. Confirmo as mensagens e tenho algumas do Jimin e outras de alguns colegas de classe, mas a mensagem que me chama a atenção é de um numero desconhecido, mesmo que receoso, abro e começo a ler.

Desconhecido:

JungKook, você me passou o seu número, mas eu acabei não te passando o meu. Apesar de termos nos conhecido nestas circunstâncias goste muito da sua companhia e espero que futuramente possamos ter uma amizade.

Beijos, Cho-Hee

Sua mensagem me pega de surpresa, pois eu não esperava isso dela, ainda mais depois da nossa última conversa. Eu gostei dela, posso compreender tudo que ela vem passando. Salvei seu número em meus contatos e logo a respondi.

JungKook:

Cho-Hee, seu já salvei seu número. Também gostei muito da sua companhia e quero muito a sua amizade apesar das circunstâncias.

Abraços,Kook.

Cho-Hee:

Amigos então?

JungKook:

Amigos...(◠‿◠)

Não esperava a que a resposta a minha mensagem viesse tão rápido, mas isso me agrada, afinal de contas isso é um grande passo tanto pra mim como pra ela.

Coloco a aparelho em cima da cama e começo a me arrumar pra voltar ao hospital. Coloco um conjunto de moletom mais confortável e vou recolhendo tudo que vou precisar para passar a noite fora, enquanto estou na cozinha peço um taxi, como algumas bolachas e mexo no celular, constatando que não há uma única mensagem  ou ligação do Yoongi, apesar de já saber disso, eu me entristeço mais.

Não demora muito e o taxista chega e logo estou de volta ao hospital, vou direto ao quarto da minha mãe. Quando entro todos estão deitados assistindo um filme, eles me cumprimentaram e me perguntaram se eu descansei, respondo que sim e logo me junto eles para ver o filme. Assim que o filme termina,TaeHyung e Jimin se despedem de nós e dizem que amanhã iriam direto lá pra casa passar a tarde com a gente.

E assim ficamos nós dois no quarto por um tempo, logo Dr.Choi vem e nos dá a confirmação que a minha mãe receberia alto logo pela manhã, minha mãe explode de felicidade, ela diz que como paciente odeia hospitais, mas os ama como médica, pois aqui ela sempre pode ajudar alguém.

O Doutor não fica muito tempo conosco, ele diz que essa noite o hospital está movimentado. Assim logo volto a me deitar com a minha mãe e ficamos assistindo mais filmes até que eu e ela pegamos no sono.

Nossa manhã foi movimentada,  ela fez os últimos exames enquanto eu ia guardando tudo que nós havíamos trazido, quando tudo estava pronto ela voltou e se trocou e assim ficamos um tempo esperando o Doutor pra nos levar. Ele chegou por volta das dez da manhã e assim logo fomos para o carro, passamos pelos corredores menos movimentados, para evitar que alguém indesejado visse a minha mãe, por sorte não encontramos ninguém em nosso caminho.

No carro eles falavam sobre assuntos do trabalho e eu fiquei perdido em meus pensamentos. Assim que chegamos em casa, o Choi desceu conosco, assim que entramos em casa sua sobrinha já estava lá a nossa espera. Ele a apresentou como uma secretaria do lar, pra nos ajudar neste momento mais delicado. No início minha mãe não gostou da ideia, dizia que não iríamos precisar de alguém em casa o dia inteiro, que só a diarista bastava, mas no final das contas e depois de muitos argumentos meus e do Ajusshi ela acabou aceitando.

Logo uma semana se passou, e minha rotina era ir de manhã ia à escola enquanto minha mãe ficava com a enfermeira. Na parte da tarde eu e Jimin íamos direto da escola pra casa e fazíamos companhia pra minha mãe e aproveitávamos pra estudar para o vestibular. À noite o Tae vinha, ficava um tempo conosco e logo ia embora, levando Jimin consigo. Eu e mamãe jantávamos juntos e a enfermeira ia embora logo após o jantar. E depois de tudo eu ia dormir junto com a minha mãe, e a abraçava enquanto ela afagava meus cabelos. Logo a mesma dormia, pois tomava os remédios que o psicólogo passou pra ela pra diminuir a ansiedade,  mesmo a contra gosto ela começou  a fazer o tratamento para depressão. Meu sono não demorava muito pra vir, e como antes volto a sonhar com o Yoongi, mas desta vez tenho mais pesadelos do que sonhos bons.

Mas hoje minha rotina seria diferente, hoje eu não iria à escola, mas sim iria falar com o Yoongi. Na minha cabeça estava preparado para o que iria acontecer, pra ser recebido por ele da pior maneira possível ou até mesmo dele não querer falar comigo.

Mas parece que toda a minha preparação foi em vão, pois agora que estou em frente à sua porta, minhas pernas estão bambas e eu suo frio com a expectativa de ver ele. Por um momento penso em desistir e voltar em  outro dia, que eu esteja mais confiante, mas eu seu que não posso arrastar isso por muito tempo, afinal de contas é a saúde dele que está em risco.

Com todos os meus medos e receios toco a campainha e aguardo o que me pareceu uma eternidade até que a porta é aberta. Yoongi me olha com curiosidade e ao mesmo tempo com mágoa, isso me corta por dentro, ignorar a minha vontade de sair correndo dali e encaro de volta. Ficamos assim por alguns instantes até que eu tomo coragem pra falar.

–Yoongi, nós precisamos conversar. –Digo com a voz mais firme que consigo.

– Veio pra falar do Hoseok de novo?–Ele me pergunta ainda parado no batente da porta.

–    Não, vim falar de uma coisa mais importante.–    E com a pouca coragem que me resta o empurro de modo delicado para que abra passagem e adentro ao apartamento.

Ele não demora a fechar a porta e a me seguir. Me acomodo em um lugar do sofá e ele faz o mesmo. O local está aparentemente em ordem e posso notar que seu ferimento do braço esta cicatrizando bem.

– Pode falar Kook. –  Ele diz tão baixo que quase não o escuto e seu olhar desvia de mim.

– Você poderia primeiro falar melhor comigo. –    Digo em um sussurro, mas ele me escuta e sua resposta vem de imediato.

– JungKook, por favor, vá direto ao assunto. – Ele não me olha diretamente.

– Tudo bem Yoongi. –    Respiro fundo buscando um equilíbrio emocional, para o que eu tenho que enfrentar. –    Por onde devo começar...