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História Broken - Threats.


Escrita por: poetyeeun

Notas do Autor


Hello, hello!
Espero, de coração, que gostem do capítulo. Boa leitura! MWAH!

Capítulo 17 - Threats.


Fanfic / Fanfiction Broken - Threats.

— Como assim vocês não transaram?

Rolo os olhos e endireito o celular sobre meu ombro direito, e busca de apoio para que pudesse ouvir o meu amigo questionar-me.

— Simplesmente não transamos, Jake. Está vendo? É por isso que lhe escondi isso por semanas. – murmuro e ouço-o bufar.

— Você é uma ingrata! Estou apenas me preocupando com o seu bem estar, Tina. – ele me chama pelo detestável apelido que me dera, acostumando-se a isso a dias, irritando-me, e se divertindo com isso. — Pense comigo... Você está dormindo ao lado daquele homem extremamente gostoso, que possui um abdômen que eu adoraria lamber cada gominho, descendo até o seu...

— Jake! Por Deus, não comece com isso. – faço uma careta.

— Tudo bem, Madre Teresa. Continuando... – ele suspira de maneira audível. — Vocês estão dormindo juntos, estão morando sob o mesmo teto e ele está sendo carinhoso e atencioso com você. Algo está acontecendo, eu apenas não entendo o motivo de não ser o acontecimento certo.

— O que quer dizer com isso? – me sentia confusa.

— Sabemos que o segurança gostosão não é um cara que se contenta com cariciais inocentes. O que me surpreende é ele não ter tentado nada mais... Quente, com você. – ele faz uma pausa. — Você é linda. Devo ressaltar que possui um traseiro magro e seios pequenos, mas ainda assim, se eu me interessasse pelo sexo oposto, você estaria no topo da minha lista.

— Sinto-me lisonjeada. – replico. — Não sei se algo está acontecendo entre nós dois... Não posso chamar isso de relacionamento.

— Chame do que quiser. Mas algo está acontecendo, sim.

— Luke é muito complicado. Nesses últimos dias, ele desaparece e retorna a noite, sempre batendo na porta do quarto. – coloco as muletas ao lado do criado mudo e firmo meu pé, já sem tala, no chão. — Ele não fala sobre o pai dele, nem sobre como se sente. Apenas se deita ao meu lado, me abraça e fica em silêncio. Quando amanhece, ele deixa o seu lado vazio na cama.

— Você está depilada? – ele pergunta, fazendo-me franzir o cenho.

— Como?

— Você está depilada? Quero dizer, pernas, braços, axilas e essa coisa nojenta que tem entre suas pernas?

— Porque quer saber disso?

— Porque se não estiver bem cuidada, ele pode não querer se submeter a desmatar uma mata inteira até encontrar o tesouro. – Jake diz, simplesmente. — Posso marcar um horário para você e...

— Porque sou sua amiga? Meu Deus! – digo e começo a andar pelo quarto, sentindo um pouco de dor em meu pé, mas consegui dar alguns passos, com firmeza em ambas as pernas.

— O que? Estou fazendo isso para o seu bem. Não quero que você fique como a minha tia Antonieta. – o imagino fazer uma careta. — Já viu o quão cumprido é o bigode dela? E aquelas pernas? Juro por Deus, ela tem mais pelos que eu já tive em toda a minha vida.

— Não irei ficar como sua tia, Jake. Agora... – antes que eu continue, ouço a porta da frente bater. — Acho que Luke chegou. Preciso desligar.

— Assuma o controle desta relação.

— O que? – a cada palavra que escapava por sua boca, mais confusa me deixava.

— Vocês são quase um casal, apenas não assumiram isso a vocês mesmos. Então, se Luke é tão recluso em seu próprio mundo, coloque-o contra a parede e exija que ele confie em você. – aconselha. — O máximo que pode acontecer é vocês se odiarem por algum tempo, mas tenho certeza que isso não irá acontecer. Vocês estão loucos um pelo outro, só tem medo do amanhã. Então, ruiva, esqueça o amanhã.

— Uau! – é tudo o que consigo dizer. — Porque você não disse tudo isso antes de me constranger?

— Porque sexo também pode ser a solução para muitas coisas. Mas, não posso me esquecer de que vocês são as pessoas mais complicadas que eu já conheci. – ele murmura e suspira. — Ainda posso agendar a depilação...

— Tchau, Jake! – exclamo e encerro a ligação, ainda podendo ouvir sua risada.

Meneio a minha cabeça e coloco o meu celular sobre a cômoda do quarto. Viro-me para a porta quando ouço uma batida soar.

Ao abri-la, deparo-me com o pilar da curiosidade de Jake.

— Oi. – ele sussurra.

Não importava quantas vezes eu o visse, encontrá-lo assim, após algumas horas distante, causavam-me uma imensurável vontade de abraçá-lo e sentir o seu cheiro. O mesmo cheiro que ele deixava sobre os travesseiros. Cigarro e sabonete.

Seu cabelo estava um pouco maior e sua barba não estava mais tão rala quanto a dias atrás. Ele parecia um pouco desleixado, sem saber que isso o deixava ainda mais bonito e sexy. Eu podia odiá-lo, simplesmente por tudo ficar bem nele, como suas roupas sempre padronizadas entre o preto e o cinza escuro. Suas botas gastas nunca mudavam, assim como sua jaqueta de couro que se sustentava em seus ombros largos e cobria suas tatuagens, infelizmente. Mas durante a noite, sentia-me sortuda por ter seus braços descobertos, envolvendo-me e me protegendo do frio noturno. Seu corpo quente era tudo o que eu precisava para me aquecer.

Pisco algumas vezes.

— Oi. – sussurro de volta.

Ele coloca ambas as mãos nos bolsos de seu jeans desbotado com rasgos já gastos em seus joelhos e parte de suas pernas.

— Como está sua perna?

Ele olha para a minha perna e eu faço o mesmo, girando o meu calcanhar.

— Acho que está melhor. – digo e ergo o meu olhar, para encontrar seus olhos.

— Quer dar uma volta comigo?

Engulo em seco.

Quando algum cara me chamava para sair, eu conseguia responder rapidamente a pergunta com um simples sim ou não. Agora, não se trata de um cara, no entanto. Nem em meus mais insanos sonhos eu poderia imaginar que Luke me permitiria aproximar dele sem que estivéssemos a ponto de arrancar a cabeça um do outro. E pensar em sair com ele após um breve mar de calmaria em minha vida, era estranho. Mas de um jeito bom.

— Quero, sim. – respondo-lhe.

Ele mordisca o seu piercing.

Estava nervoso.

— Quer um tempo para se trocar? – ele pergunta e só então me dou conta de que ainda estou vestida em uma de suas camisas.

Havia se tornado algo comum para mim. Todas as noites, sempre que ele chegava em casa, segurando algumas sacolas com vários tipos de comidas e doces, jantávamos, sentávamos no sofá e ficávamos assistindo algo na televisão, ele ia tomar banho e me entregava a sua camisa. Eu não gostava de vestir as camisas que estavam em seu guarda roupas ou cômoda, mas sim a que ele usou durante o dia, pois tinham o seu cheiro. Ele tinha se acostumado a isso, também, pois sempre que voltava do banheiro, ainda secando o seu cabelo, batia na porta do quarto e me entregava a camisa, esperava eu me trocar e tornava a bater na porta, entrando e se deitando ao meu lado.

Nos dias que faltei a faculdade por causa do meu pé e de tudo o que aconteceu, não encontrava motivos para me vestir de outra maneira que não fosse com suas roupas. Sempre que ele chegava e me via vestindo sua camisa e usando apenas um par de meias, enquanto puxava alguns novos traços em meu caderno de desenhos, podia ver um vestígio de um meio sorriso erguer um canto de seus lábios. Era como se ele gostasse de me ver usando algo que lhe pertencia.

Mas eu estava corando no momento.

— Claro, eu... Dê-me alguns minutos. – digo e ele assente, dando dois passos para trás. Aproveito a deixa e fecho a porta.

Fecho meus olhos e meneio minha cabeça, sentindo-me frustrada.

— Bela maneira de assumir o controle, Valentina. – resmungo para mim mesma, e ando até a cômoda, puxo uma das gavetas e retiro um short jeans e uma camiseta azul.

Visto-me depressa e cambaleio para perto do espelho. Olho-me e entorto o nariz ao ver como meu cabelo estava bagunçado e Luke não disse nada sobre isso. Ajeito como posso os fios e a única forma de domá-los é prendendo-o no alto da minha cabeça. Não havia mais contusões avermelhadas ou marcas em meu corpo. Embora minhas verdadeiras dores fossem por fisgadas em meus músculos ou incômodos em minha cabeça, sentia-me melhor que semanas atrás.

Calço um par de sapatilhas que estavam embaixo da cama, e ando até a porta, passo por ela e pelo corredor, avistando Luke olhando pela janela, para o lado de fora. Ele encontra o meu olhar e sorri, sem mostrar os dentes.

— Podemos ir? – pergunta, desencostando-se da janela.

— Podemos. – respondo-lhe e abro um sorriso com os lábios trêmulos.

Eu me sentia tão idiota.

Acompanho-o até o lado de fora do apartamento. Fazemos o caminho que já havia se tornado um habito para mim, desde que me instalei em sua casa. Os moradores do prédio eram quase invisíveis. Vez ou outra eu os via pelos corredores ou os ouvia, mas esbarrei-me apenas uma vez com uma senhora e um senhor que subiam as escadas de mãos dadas, rumo ao segundo andar. Eles pareciam cansados, mas não tanto quanto era de se imaginar pela idade que aparentavam ter, eles apenas sorriam um para o outro e seguiam seus caminhos.

O porteiro quase nunca estava na portaria e quando estava, não parecia estar tendo bons dias, pois acidez pingava de seu olhar nada amistoso. E nesta manhã, ele não estava presente quando atravessamos o hall e paramos do outro lado da rua, de frente para o carro próprio de Luke. Eu gostava de seu carro, pois se parecia com ele, diferente dos carros padrão utilizados pelos seguranças da minha casa.

— Como foi a conversa com o seu pai? – ele pergunta, uma vez que já estávamos dentro do carro.

— Foi um pouco vazia. – digo a verdade.

Todas as noites o meu pai me ligava, perguntava como eu estava e me contava algumas coisas sobre as investigações da invasão naquele hotel. Ele estava omitindo peças importantes, eu percebia isso pela sua forma de falar e sempre estar próximo a algum, que deduzo ser os agentes especializados que assumiram o caso. Nos noticiários há fotos nossas e especulações, e isso é o que mais está atormentando o meu pai. Ele tem uma coletiva de imprensa marcada para alguns dias e não se sente seguro de estar falando publicamente quando um assassino está solto, e não se sabe quem seja. Não há rosto ou pistas. Estamos vagando pelo escuro, correndo perigo de termos armas atrás de nós.

 — E você? – pergunto, olhando-o de canto.

— Falei com ele esta manhã. – ele diz, mas não me olha. Sua atenção está voltada para a estrada e as esquinas que ele dobrou desde que colocou seu carro em movimento. 

— Ele lhe disse algo verdadeiro? – aperto minhas mãos, sabendo que podia estar soando um pouco ácida.

— Apenas o que ele diz a você. Não há rastros sobre quem pode estar por trás disso.

— Eu só quero que este pesadelo acabe.

— Eu também. – ele responde.

O resto da viagem corre silenciosa.

Encosto minha cabeça no acento do banco e viro o meu rosto para a janela, observando a paisagem do dia pouco ensolarado, mas com uma brisa fresca lá fora. Não conheço a rota que Luke faz quando atravessa uma estrada com cascalhos, deixando o asfalto plano para trás. Não pergunto também, pois acho que nós dois estávamos meio que em uma prova de resistência, deixando nossas mentes serem barulhentas pelas duvidas, sozinhas.

Ele para o carro próximo ao que se compara a um despenhadeiro, rodeado por árvores e muito – muito mesmo – verde. Ele abre a porta do carro e sai, eu faço o mesmo, corroendo-me pela curiosidade e pelo espanto por estarmos em um lugar tão afastado, completamente fora dos meus planos sobre um passeio. Ou o que quer que fosse isso.

— Onde estamos? – encorajo-me a perguntar.

Luke anda até a ponta do despenhadeiro, ficando de costas para mim. Não recuo por medo dele querer descer, se jogar ou algo assim, apenas sinto minhas sobrancelhas unirem-se por não compreender ou conseguir desvendar absolutamente nada sobre ele. Por mais que eu o olhasse, que lhe fizesse perguntas ou que me fizesse cem por cento presente em sua vida e cotidiano, ao fim do dia, ele ainda era um completo mistério.

— Na noite em que a salvei, estava neste exato lugar. Estava tendo mais um dia de merda, sentindo-me miserável. Meu corpo precisava esvair-se em algo, precisava estar de pé. Aquele apartamento estava sujo... Na verdade, imundo. Como se fosse a representação da minha alma. – ele faz uma breve pausa. — Precisava de cigarros e de uma bebida forte, mas quando tive isso, não queria voltar para casa. Então, eu vim até aqui. Daqui eu posso ver a cidade e me desligar, por um tempo, do mundo que fica a quilômetros de distância. No entanto, eu ouvi vozes, e algo estranho me empurrou até lá. – ele aponta para o lado esquerdo. Eu não desvio o olhar de seu corpo. Não podia. — Então eu segui a minha intuição que, desde que fui expulso dos ringues, não funcionava direito. Quando a encontrei, completamente ferida... Eu não senti culpa ao matar aqueles homens. Os mataria, novamente.

Era uma revelação que eu não esperava ouvir.

Nunca soube ao certo como Luke havia me encontrado. Quando fui sequestrada, sabia que poderia morrer, pois senti em minha pele o que aqueles homens seriam capazes. Eu senti medo e perdi as esperanças. Todos os dias em que estive em cativeiro, pensava em alguma forma de morrer sem sentir dor e clamava, baixinho, por isso.

Foi, além de uma surpresa, a minha verdadeira salvação, abrir meus olhos e encontrar os de uma pessoa que não quisesse me machucar. Seu toque em meu corpo foi suave, mesmo que suas mãos sejam ásperas. Ele me carregou como se fosse me partir em pedaços e quando fui lançada para longe de seus braços protetores, quis gritar para que ele não me deixasse novamente. Eu não tinha voz para gritar por ele, pelo desconhecido. Tudo aconteceu tão rápido e os lapsos de memória não parecem se encaixar, realmente. Contudo, seu rosto está perfeitamente desenhado e marcado em minha mente, como uma tatuagem.

— Porque se arriscou? Você não me conhecia. – minha voz me escapa como um sussurro prolongado.

Ele me ouve, mas não se vira para mim.

Eu queria ver o seu rosto, iluminado pelos raios solares que atravessavam por entre as folhas das árvores ao redor.

— Esta é uma pergunta que me fiz por muitos dias. – ele finalmente vira-se para mim. Não o suficiente para ficarmos frente a frente, mas eu conseguia vê-lo. — Eu apenas faria tudo novamente.

Tudo.

É uma palavra forte e que pode esconder muitos significados, até mais do que o que é registrado em dicionários ou outros meios de sabermos o significado de alguma palavra. Para mim, tudo, vindo de Luke, significava mais do que eu gostaria.

— Se não fosse você...

— Não pense nisso. – ele se curva para baixo e apanha uma pedra pequena, tomando um breve impulso antes de lançá-la para frente.

Eu queria saber sobre Luke.

Ele precisava abrir-se para mim.

— Luke... – chamo sua atenção. — Você tem visto o seu pai?

Seu maxilar fica tenso, de repente.

— Não. – sua voz é áspera em sua única palavra.

— Estive pensando... – eu não sabia como dizer sem soar invasiva. Ele não pediu minha opinião, e eu não devia estar dando-a. — Porque você não dá a ele uma chance de falar?

— Porque não há nada que precisemos conversar. Não há nada que precisemos ouvir um do outro. – rapidamente, ele pega outra pedra e faz o mesmo, com um pouco mais de força.

— Você não precisa falar com ele, se não quiser. Apenas ouça-o.

Ele solta uma risada desdenhosa, enquanto faz o mesmo de segundos atrás com uma nova pedra.

Eu queria que ele se afastasse do despenhadeiro.

Eu queria me aproximar dele.

— Eu não preciso escutá-lo. – ele diz entre dentes. — Eu não quero escutá-lo.

Então eu me calo.

Fiz o que devia ter feito, antes mesmo de pensar que pudesse estar lhe ajudando, de algum modo.

Droga!

— Ele não tinha o direito de voltar agora. – ele começa a dizer, pegando-me desprevenida logo quando tinha me dado por vencida. — Ele não tem nem mesmo o direito de me chamar de filho. Muita coisa podia ter sido diferente se ele não tivesse sido covarde e ficado ao lado da minha mãe. Por causa do abandono, ela se tornou emocionalmente e fisicamente fraca, quase uma adolescente de novo. Ele a destruiu e, consequentemente, destruiu a mim, também. – uma nova risada, mas esta estava banhada em amargura pelas lembranças. — Não irei fantasiar o ‘’e se’’, porque as coisas não serão diferentes por isso. Para um garoto de apenas quatro anos, receber a noticia que o pai não voltaria mais porque estava morto seria menos doloroso que ouvir em meio a brigas em uma noite de Natal que eu era tolo por ficar olhando para a janela o esperando voltar, porque ele me deixou antes mesmo de me conhecer. – ele puxa um pouco de ar para seus próprios pulmões. — Por causa dele a minha mãe terminou ao lado daquele homem. Não o culpo por querer aliviar-me, de algum modo, e sim porque foi por culpa dele. Ele apenas colaborou para o meu nascimento, nada além disso. Eu não o quero por perto. Eu não preciso dele por perto.

Suas palavras me ferem.

Sinto-me ferida por conseguir compreender o quanto ele está ferido.

Era como se Luke fosse envolvido por um campo de força inatingível. Eu posso tentar, mas sempre irei fracassar. Não há como invadir o seu campo de força. E eu o invejo por ter construído isso em torno de si, talvez por isso ele seja tão forte, até mesmo quando tudo parece desabar. No entanto, sinto-me triste também, porque ele pode não abrir um espaço para que eu entre em seu campo de força e o abrace. Desta forma, ele pode não me ouvir dizer que tudo ficará bem e que estou aqui.

Eu ainda estarei aqui quando as coisas voltarem ao normal.

Quando ele for embora.

— Desculpe-me por me intrometer. – digo e abaixo minha cabeça. — Eu só sinto muito.

— Não sinta. – ele diz e lança outra pedra. — Nada disso é sua culpa.

Ouço seus pés afundarem nas folhas secas espalhadas pelo chão.

— Se posso dizer que tive algo bom em meio ao inferno... – sinto seu corpo se aproximar do meu e, as batidas do meu coração ganham maior intensidade e pressão contra o meu peito. — Afirmo que foi ter encontrado você.

Ele para, talvez, a uma polegada de distância de mim.

Levanto o meu rosto e encaro seus olhos azulados e ao mesmo tempo esverdeados.

Ele era tão bonito, e sabia disso.

Mas sua beleza não era apenas externa. E disso, ele não sabia.

— Estamos fazendo tudo errado. – ele balbucia e percorre os dedos calejados pelo meu rosto, com ambas as mãos.

Minha respiração corta no instante em que sinto o seu contato. Mas não quero que se afaste.

Nunca.

— O que seria certo então?

— Seguir as regras.

— Pensei que não gostasse de seguir regras.

Ele sorri.

Era um sorriso contido. Ainda era um sorriso, no entanto.

— Eu não gosto mesmo. – ele roça o seu nariz no meu rosto. Sua respiração quente sopra meus lábios. — O que faremos então?

— Acho que devemos nos beijar, agora. – sussurro e ele me beija.

Não foi o único beijo dado nos minutos que ficamos ali, tendo a vista da cidade inteira.

E não era o último beijo que eu queria sentir.

(...)

Comemos em uma lanchonete na beira da estrada enquanto voltávamos, e depois Luke me levou para tomar sorvete. Mal percebemos o tempo passar, quando me sentei sobre o capô de seu carro e o esperei trocar o pneu que furou no meio do caminho. O observei trabalhar e senti-me incendiar ao observar as veias de seus braços ainda mais expostas após com seus movimentos bruscos. Não tivemos muita conversa depois que deixamos o lugar que se tornou o nosso ponto de partida. Mas, tudo foi compensado pelos beijos que demos.

Por algum tempo, me esqueci de todos os problemas e das dores que ainda incomodavam-me um pouco. Quando ele estacionou o carro do outro lado da rua, como de costume, eu sai do carro e comecei a atravessar a rua, mas me assustei quando ele parou em minha frente, ficando de costas para mim e agarrou meus braços, erguendo-me sem aviso prévio. Tive tempo apenas de contornar o suas costas com minhas perna e agarrar-me em seu pescoço.

Em meio a risadas altas que escapavam por meus lábios, também podia ouvi-lo rir e sentia a vibração de seu peito pelo ato, o que me fazia rir ainda mais. Ele empurrou a porta do apartamento, resmungando por eu não ficar quieta em suas costas, e quando a madeira envelhecida é empurrada para frente, paramos de rir quando uma cabeleira alvoroçada, completamente familiar, está recostada sobre a poltrona, ao lado do sofá.

— Vocês são lindos juntos... – Michael começa a dizer, apontando para nós o controle da televisão. — Mas será que podem ser lindos assim enquanto pedem uma pizza? Como estão sobrevivendo sem comida?

Salto das costas de Luke e ele endireita sua postura.

Não havia mais risadas.

— O que faz aqui? – ele pergunta ao amigo, enquanto tira sua jaqueta e joga as chaves sobre o balcão da cozinha.

— Liguei o dia inteiro para você. O que fez com o seu celular, cara? – Mike pergunta, ainda relaxado sobre a poltrona.

— Estava sem bateria. – Luke diz, simplesmente. — Me lembrarei de tomar a chave reserva de você.

— Obrigado pela hospitalidade, amigo. Também senti saudades. – sarcasmo pinga da voz do ruivo que estava precisando voltar a colorir o seu cabelo que estava desbotado, tornando o vermelho vivo em laranja gritante.

— O que você quer? – Luke pergunta, já dentro da cozinha.

Eu ainda estava imóvel, no mesmo lugar em que desci das costas de Luke, eu fiquei.

Não sabia se conseguiria me mover.

— Há uma luta hoje à noite. As oito, em um posto abandonado.

— Em um lugar aberto? – Luke pergunta, pousando um copo sobre a bancada da pia. — Que merda eles tem na cabeça?

— É abandonado, e o público é maior. Ou seja, as apostas também serão mais recheadas. – Michael diz e olha para mim.  — Você irá participar?

Por favor, diga não.

— Sabe que sim.

Não era essa a resposta que eu queria ouvir.

— Me dê apenas um minuto. – o loiro diz e sai da cozinha, antes de virar e seguir pelo corredor ele me olha.

Com a cabeça, ele faz um sinal para que o acompanhe.

Não sei como consigo, apenas vou até ele e o sigo, até que estejamos dentro do quarto.

— Você não precisa ir. – digo baixo, mas sei que ele me escuta.

— Eu preciso, sim. – responde e olha para mim.

Ele não tinha mais a expressão leve de hoje mais cedo, enquanto me observava devorar o meu sorvete de chocolate com pedaços de morango, rindo, vez ou outra, por ter que limpar os cantos da minha boca com os polegares, levando-os até seus próprios lábios.

Ele voltou a ser o Luke inalcançável.

— Por quê? – tenho certeza de que minha expressão é lamentável, mas eu me sentia de tal maneira.

Ele se aproxima o suficiente para segurar o meu rosto e percorrer seus dedos por meus lábios, de repente secos.

— Porque tenho coisas para resolver. Eu vou voltar.

Meneio minha cabeça, não querendo olhá-lo.

Ainda não tinha me esquecido de tê-lo visto ferido e embriagado algumas noites atrás. Eu o vi lutando uma vez, e não gostei nada daquilo.

— Eu prometo, Ariel. – ele usa o apelido.

E me desarma.

Seus lábios tocam os meus, em um beijo casto.

Quando ele sai do quarto e segue até a sala, eu não vou me despedir, apenas encosto-me contra a madeira e ouço a porta da frente bater, como já havia me acostumado. Todos os dias era a mesma coisa.

Fico algum tempo me detestando por não tê-lo pedido para ficar. Mas, que direito tenho para fazer isso? Simplesmente não sei como agir ou me portar quando o assunto é Luke. Tudo parece nada, e o nada parece tudo. Sinto-me confusa e incerta sobre tudo o que digo ou penso. Estamos dando um novo passo, só não sabemos para onde estamos indo. E isso me assusta. Muito.

Ouço o meu celular vibrar sobre a cômoda. O deixei em casa e nem ao menos senti falta dele.

Ando até ele e desbloqueio a tela, franzindo o cenho por ser uma mensagem de um número desconhecido.

Ao abrir a mensagem de texto, meu coração parece começar a bater em minha garganta, deixando-me sem ar.

‘’Você fica mais bonita quando sorri. Será uma pena ter que tornar o seu sorriso em lágrimas. Tsc. Agora estou em dúvida sobre quem é mais importante para você. Será que devo matar um a um? Bom, isso nós iremos descobrir. Até logo, Valentina. D.D’’


Notas Finais




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