L U K E
Estou a dias vivendo ao lado dessa garota maluca e de toda a sua família desequilibrada. Nunca se passou pela minha cabeça que eu viria a cuidar de alguém, ainda mais tão mimada como ela.
Ela tem a porra de uma língua afiada como o inferno e não importa o quão assustador eu venha a ser, isso apenas a induz a falar ainda mais, me dando uma imensa vontade de cortar sua língua e jogar em um rio com muitas piranhas, para assim, fazer uma boa ação ao mundo.
Ter que me assegurar que ela não vai desviar o seu caminho quando o fim de suas aulas entediantes de artes chega, é algo fácil. O que é realmente difícil para mim, é ter que aguentar aquele bando de universitários com hormônios aflorados. Não serei hipócrita e dizer que não ando aproveitando o fato de ter uma grande massa de garotas caindo sobre mim, apenas esperando um sinal para avançarem um pouco mais e talvez me encontrar no banheiro. Mas há também garotos estúpidos que não medem esforços antes de abrirem suas bocas imundas para se gabar sobre quantas garotas levaram para a cama no final de semana e quantas bocetas conseguiram nos próximos dias.
Essa vida, definitivamente, não é para mim.
Estaciono o meu carro em frente ao armazém abandonado e salto do meu carro, com o capô completamente fodido e cruzo todo o caminho. Passamos pelos homens mal encarados e armados com uma artilharia pesada, tudo para a proteção do bandido mais procurado pelos tiras atualmente.
Passamos pelos corredores e por algumas portas, até ficarmos em frente a maior porta delas. Eu não bato ou espero alguém me anunciar, simplesmente empurro a porta e me deparo com Archie Marroni.
— Hemmings. - ele diz sem me olhar. É claro que ele saberia que sou eu. — A que devo a honra da sua visita? - ele desvia o seu olhar da tela do computador, e me encara.
— Você sabe muito bem o que faço aqui. - digo e vejo o seu sorriso petulante.
— Eu sabia que viria.
— Você sabotou o meu carro, seu desgraçado. - me altero e sinto as veias do meu pescoço pulsarem.
— Eu queria que viesse até mim.
— Não podia ter usado a porra do seu telefone? - ele maneia a sua cabeça.
— Qual é, Luke. Nós sabemos que você não viria de boa vontade.
— Até porque eu não tenho nada a tratar com você. - indago e ele se levanta, passando a mão por seu cabelo escuro.
— Claro que tem, meu caro. - ele abre uma das gavetas de sua mesa e retira um envelope de papel pardo. — Sabe o que é isso?
— Um envelope que possivelmente não tem nada que me interesse? - ergo as sobrancelhas.
Ele estala a língua no céu da boca.
— Aqui dentro há um caminho para você voltar às lutas.
Meu corpo se enrijece.
Certo, isso não deveria ter me afetado em nada, mas porra! Eu sinto falta de lutar e massacrar a cabeça de todos que ousam entrar em meu caminho.
— Eu não vou voltar para o Bruce. - digo exasperado.
Bruce me tratava com um maldito filho. Ele me encontrou e fez de mim o que sou hoje, foi o mais perto de uma família que eu tive. Mas na primeira oportunidade, sem ao menos me ouvir, ele me fez cair fora. Ele não acreditou em mim. Ele não me ouviu. Ele não cumpriu suas fodidas promessas.
— E quem disse que será para ele, garoto? - Archie retira de dentro do envelope algumas folhas e fotos. — Quando me disseram que você estava cuidado dessa garota, eu não acreditei.
Havia várias fotos de Valentina, do seu pai e de sua madrasta. Mesmo de longe, eu os reconheço. Principalmente ela. Os seus cabelos cor de fogo são inconfundíveis, assim como aquele maldito sorriso que ela dá quando está com seus amigos ou quando se senta na cadeira em frente para as telas em branco, sujando-se com tintas de várias cores e se mantendo concentrada enquanto pincela tudo. Como se aquilo fosse a sua libertação.
Para o inferno com isso, Hemmings. Forço-me a ponderar isso em minha cabeça.
— Porque diabos têm essas coisas em sua gaveta?
Ele sorri e pisca os olhos.
— Porque o pai de Valentina é alguém que me interessa.
— O que?
Eu não entendo aonde ele quer chegar com tudo isso. Archie é um manipulador barato e é conhecido por essas merdas que consegue fazer enquanto argumenta com suas asneiras. Mas isso não funciona comigo.
— Eu quero algo ligado a Hunter. - ele sorri para o seu próprio comentário.
Nego com a cabeça e passo o polegar por meu queixo, sabendo enfim, onde isso me levaria.
— E o que isso tem a ver comigo?
— Você está perto dele. - ele umedece os lábios. — Eu soube que matou os caras que sequestraram Valentina, mas o mandante não está preso ou morto. Ele está perto, e eu o quero no meu jogo.
— Como é?
— Eu sei quem sequestrou a garota e sei também que ele não irá desistir até que Hunter caia e pague pelo que fez há anos atrás. - gesticula com as mãos. — O cara não irá deixar Hunter em paz e ele irá atacar em breve.
— Do que você está falando? - Archie ri.
— Você poderá entender isso um dia, mas eu quero que me mantenha informando sobre tudo o que se passa na casa dos Hunter's. Em troca de sua lealdade, farei com seja aceito novamente no circulo Classe A.
Ser aceito novamente dentro do Classe A era algo que eu não cogitava a muito tempo, pelo menos até eu sacar que nunca mais poderia colocar meus pés dentro de um ringue.
Eu deveria ter ido embora, sem olhar mais para esse imbecil presunçoso, mas agora, ele ganhou a minha atenção. Não apenas por me oferecer algo assim, e sim por ter dito que o sequestrador de Valentina ainda está solto por ai.
— Você está blefando.
— Você me conhece, Hemmings. Sabe que eu não perderia tempo com você se não estivesse querendo realmente algo. - ele aponta o dedo indicador para mim. — Eu gosto de você, garoto. Eu quero que volte para a porra daqueles círculos e destrua os infelizes que te fizeram sair.
Solto uma risada sem humor.
— Você quer apenas que eu lhe beneficie, seu infeliz. - sinto meu sangue esquentar.
— Também, garoto esperto. Mas eu quero ajudar a nós dois. - ele bufa. — Não dramatize a situação. Eu quero apenas que me diga os lugares que irão frequentar ou se algo acontecer. Seu dever é proteger a segurança da garota, e eu irei lhe ajudar com isso. Eu quero o cara morto.
— Quem é ele?
— Colabore comigo, e talvez, um dia você descubra. - diz e eu fecho os olhos e passo as mãos por meu cabelo, com força.
Isso é uma droga de proposta, mas Archie realmente não iria me chamar até aqui se não houvesse algo. Ele gosta de trabalhar sozinho e ele sempre elimina seus inimigos.
Eu não quero ajudá-lo, mas posso me aproveitar disso. Irei descobrir quem sequestrou Valentina e poderei esmagar seus miolos com minhas próprias mãos, e de brinde, voltarei ao Classe A e irei me sentir como a porra de um deus ao ver a expressão de desgosto em Bruce.
— Eu preciso pensar sobre essa merda. - digo e ele assente. — E te quero longe da garota.
— Posso dizer que ela é bem bonita e gostosa, mas é somente uma criança, Luke. - ele ri e joga os papeis e fotos sobre a mesa. — Eu quero apenas quem está procurando por ela.
Giro meus calcanhares e ando até a porta. Seguro a maçaneta e antes de sair, olho-o por cima dos ombros ao ouvir o seu assobio.
— Vamos nos ajudar, garoto. Eu sei que sou o único que poderá lhe ajudar com suas merdas.
— Vá para o inferno, Marroni. - digo e saio de seu escritório.
Puxo uma caixa de cigarro de dentro da minha jaqueta e levo um deles até a minha boca. Pego o isqueiro e acendo-o, soltando a fumaça após uma longa tragada.
Quanto mais eu ando, mais intensa fica a minha bagagem de merda.
V A L E N T I N A
Semanas tortuosas se passaram e eu me sentia cada vez pior com a presença indesejada daquele garoto, em minha casa, em minha universidade e em minha vida.
Luke Hemmings é a minha punição de todos os pecados cometidos e os que ainda irei cometer.
Ele simplesmente está me fornecendo o meu próprio inferno particular. Suas idas até a minha universidade e sua presença nas minhas aulas, estão me matando. As garotas estavam ficando eufóricas com os olhares e meios sorrisos que ele trocava com elas, como se flertar fosse como dizer um ''oi''. Já os garotos, não pareciam gosta de vê-lo por lá, ainda mais os amigos de Jude que souberam do breve confronto entre eles.
O meu pai não mudou de ideia em suas decisões, mesmo que eu esteja há dias sem sair de casa e trocando no máximo cinco frases no dia com ele, depois dele dizer que Luke decidia o que faria a respeito da minha proteção. Estou chateada e irritada.
Perdi a minha liberdade do dia para a noite, e agora, estou me sentindo ainda pior com as merdas dos pesadelos que tenho ao me lembrar do que fizeram comigo naquele covil.
É sábado à noite, e eu dormi o dia inteiro, até acordar agora, suada e gritando por ajuda. Esses pesadelos estão me rondando desde que eu deixei o hospital e nunca falei sobre isso com ninguém. E não quero que pensem que estou com algum trauma causado pelo meu sequestro. Eu não quero ter que passar por mais uma psicóloga para ela dizer que isso pode ser a falta que sinto da minha mãe.
Chega de merdas para mim.
Digito uma rápida mensagem para Madison e afasto as cobertas do meu corpo, me colocando de pé.
Madison: Estamos pensando em ir até aquele bar no final da saída da cidade. Irá ter um show de rock e Jake disse que os caras são muito gostosos.
Leio e releio a mensagem algumas vezes e olho para a janela.
Ainda há trepadeiras para que eu desça e fuja pela janela, mas dessa vez não terei a carona do meu segurança. Ele ainda não está em seu turno, e James disse que hoje era o seu dia de folga.
Eu: Irei pegar um táxi e ir até lá. Encontro vocês na porta.
Coloco o celular sobre o criado mudo e dispo-me antes que Madison responda. Ando até o banheiro e entro no box, deixando o primeiro jato de água cair e espero-a esquentar.
Esfrego o meu corpo com minha esponja e sabonete. Lavo os meus cabelos e quando termino, saio do box e enrolo uma toalha em meu cabelo e outra em meu corpo.
Paro em frente ao espelho e pego o secador dentro do armário. Seco-o por completo e faço minha higiene. Volto ao quarto e entro em meu closet, a procura de algo para vestir essa noite.
Visto uma lingerie branca. Pego uma saia de cintura alta preta, uma blusa curta e justa verde e uma jaqueta preta. Visto tudo e procuro pelo meu par de sandálias de salto médio, encontro-os em baixo da cama e calço-os.
Faço uma rápida ligação a um número e peço um táxi.
Volto ao banheiro e prendo algumas mechas do meu cabelo para trás e faço cachos nas pontas com a prancha. Faço uma maquiagem leve, abusando apenas do delineador e do batom escuro.
Pego um colar um par de brincos. Pego também a minha bolsa e olho-me no espelho. Solto um suspiro ao ver a foto da minha mãe, colada no topo do espelho, como se isso me desse forças todos os dias.
Olho para a janela e penso melhor antes de saltar por ela. Opto por passar pela porta dos fundos da casa. O meu pai está em uma conferencia com Margaret e todos os empregados já estão dormindo, exceto pelos seguranças, mas em menos de cinco minutos acontecerá à ronda e eles se espalham para patrulharem os perímetros da minha casa, verificando se não há perigo.
Desço as escadas e passo pela cozinha, evitando fazer barulho. Atravesso o jardim e me escondo atrás de um pequeno arbusto no jardim. Vejo os homens de ternos falarem entre si e começarem a andar depressa e olhando tudo com atenção.
Apresso meus passos e abro o pequeno portão que há um pouco atrás da estufa. Esse é o lugar que o jardineiro usa para entrar e sair daqui, sem muito ser visto. Mas eu, observo tudo desde pequena. Talvez eu já planejasse minhas fugas sem ao menos saber.
Consigo colocar meu corpo para fora e vejo o carro amarelo com algumas listras passando, como se procurasse pelo endereço ou estivesse realmente surpreso com o lugar onde estava. Ergo o braço e corro em sua direção. Abro a porta do banco de trás e entro no carro, dando as coordenadas do meu endereço de destino.
Não levamos muito tempo para chegar, mesmo com o trânsito um pouco caótico. Passa-se das nove da noite, e muitas pessoas estão indo a festas, outras voltando do trabalho, saindo da cidade ou apenas a passeio pelas ruas. Em meu caso, em mais um fuga bem sucedida.
— Obrigada. - digo quando paramos em frente ao bar que estava rodeado por carros e motos, mesmo sendo em um lugar tão afastado.
Pago a corrida e saio do carro.
Olho para os lados e para trás, vendo apenas a movimentação das pessoa se arvores enormes do outro lado, como se aquilo fosse uma floresta ou algo assim.
— Gostosa! - ouço o grito de Jake, sua voz e escândalo eram inconfundíveis. Viro-me para ele e vejo-o sendo seguido por um garoto negro muito bonito e alto, e ao lado, Madison desfilando em seu vestido vinho tubinho.
— Não me diga que fugiu novamente. - ela pergunta e eu dou de ombros. — Você gosta de brincar com o perigo.
— Essa garota... - Jake aponta para mim, estando mais perto agora. — Essa garota tem uma alma rebelde e uma mente maluca.
— Quem é o garotão? - sussurro quando ele me abraça.
— Meu acompanhante da noite. - cantarola baixo e sorri malicioso.
— Olá, eu sou Valentina. - cumprimento-o. Ele me mostra um sorriso imenso, deixando seus dentes brancos brilharem na pouca luz que nos cercava.
— Eu sou Vince. - diz com uma voz grossa e ouço Jake suspirar.
O meu amigo nunca repete seus acompanhantes e esse provavelmente não será uma exceção. Segundo ele, o cara precisa ser muito bom com a boca e com as mãos para fazê-lo ir para cama com o mesmo mais de uma vez.
— Vamos logo. O lugar está lotado. - Madison diz e me abraça rapidamente.
Entramos no lugar. Ela segura a minha mão e Jake agarra-se ao garoto. Tenho que admitir que eles formariam um belo par.
O lugar estava mesmo cheio. Havia pessoas de todos os tipos. Um calafrio atingiu-me quando vi caras vestidos com coletes de motoqueiros, sentados em algumas cadeiras e despreocupados enquanto um rock clássico toca, quase se misturando com os gritos e vozes altas espalhados por todo o bar.
— Vamos beber. - Madison diz em meu ouvido e me arrasta até o bar que era em um cumprido balcão.
Apoiamo-nos no mesmo e esperamos alguém nos atender. Uma garota com o cabelo azul nos olha e se aproxima.
— O que querem?
— Uma vodca. - Madison diz alto.
— Uma tequila. - peço e ela assente, virando-se para nos servir.
Jake e Vince estão se misturando no meio das pessoas que parecem agitadas com o show que continuava. Olho para o palco e me impressiono com os rapazes realmente bonitos. Havia um baixista, um guitarrista, um vocalista e um baterista. Todos eram aparentemente altos e pareciam exalar o ar ''bad boy''.
— Aqui está. - a garota de cabelo azul serve nossas bebidas.
Madison pega a sua dose e eu faço o mesmo. Rimos e viramos ao mesmo tempo, batendo os copos no balcão em seguida.
Afastamos-nos do bar e vamos ver o show mais de perto. Madison me puxa pela mão, e passamos entre algumas pessoas que não se importavam com nada além de beber, fumar ou beijar. Ficamos na ponta do pequeno palco e eu me sinto quase que hipnotizada pelo vocalista loiro que cantava, olhando para um ponto qualquer.
Sua voz era bonita e rouca. Eles estavam tocando clássicos dos Beatles e agora do Guns N' Roses.
O loiro abaixa o seu olhar e ele trabalha-o com precisão em mim. Ele canta os últimos versos da música, sustentando-o sobre os meus olhos e sinto minha pele queimar.
O som da guitarra continua e a música termina, onde aplausos e gritos invadem o lugar. O garoto sorri e me joga uma piscadela, sinto minhas pernas tremerem. O seu sorriso é mesmo muito bonito, assim como ele e a sua voz.
Merda!
O show continua e agora as músicas estavam mais animadas, Madison e Jake gritavam e dançavam, sem se importarem com mais nada. Vince olhava para os garotos no palco como se quisesse devorá-los e minha atenção estendia-se apenas no loiro que mantinha seu olhar sobre o meu enquanto sussurrava e deixava sair cada palavra.
Quando eles saíram do palco, músicas eletrônicas começaram a tocar e as pessoas agora realmente dançavam e pulavam com suas bebidas nas mãos.
Jake e Vince se afastaram, e eu e Madison entendemos o recado quando vimos nosso amigo apertar a bunda do moreno enquanto caminhavam para os fundos do bar.
Ficamos sentada algum tempo nos bancos do bar e Madison começou a paquerar um rapaz de olhos claros e cabelos escuros e cumpridos que se sentou ao seu lado. Eu achava engraçado ver a sua facilidade para esse tipo de coisa.
Sinto um perfume diferente se misturando com o cheiro forte do lugar. Olho para o meu outro lado e vejo a silhueta do mesmo cara que estava no palco. O seu cabelo loiro estava todo jogado para trás e seus olhos escuros brilhavam ainda mais que em cima do palco. Havia gotículas de suor em seu rosto e o seu sorriso continuava lá, alargando-se cada vez mais e me fazendo perder um pouco o fôlego.
— Posso me sentar com a moça mais bonita dessa espelunca? - ele diz um pouco alto, por cima da música.
Olho para os lados, como se procurasse por outra pessoa.
— Estou falando realmente com você, ruiva. - disse com a voz embargada e eu sinto meu rosto esquentar. Dou de ombros e ele se senta no banco vazio ao meu lado. — Posso te pagar uma bebida?
Um calafrio me percorre quando me lembro do acontecido da última vez que bebi algo oferecido por alguém que não conheço.
Mas ele não deve ser como o motoqueiro, certo? Ele veio até aqui e não tentou me abordar de maneira grosseira. Que mal terá se eu aceitar uma bebida e me divertir um pouco?
— Claro. - digo e ele sorri abertamente.
Ele escolhe uma bebida doce para nós dois. Começamos a conversar sobre assuntos aleatórios e ele é uma pessoa divertida. Desconcertante também, já que a cada minuto parava e me olhava, como se quisesse gravar o meu rosto ou como se fosse me atacar quando eu menos esperasse.
Madison se levantou com o garoto e eles foram até a ala dos banheiros. Não quis imaginar a minha amiga transando com um cara em cima da pia de um banheiro, mas sei que enquanto Jax não mostrar a ela que gosta dela, esse será o seu lema de vida. Não se apegar.
— Vamos dar uma volta? - Evan, o loiro e vocalista da banda, pergunta e se levanta.
Porque não?
Ele estende a sua mão para mim e eu a seguro. Ele me guia para fora do bar e ao passarmos, sinto a brisa fria chocar-se contra o meu corpo. Estava vazio, havia apenas os carros e podíamos ouvir os gritos e a música do lado de fora.
Andamos um pouco e Evan me encosta em um dos carros.
— Eu quero beijar você. - ele diz e eu engulo em seco.
Não consigo lhe responder, apenas abaixo a minha cabeça. Ele escova o meu cabelo com seus dedos e segura em meu queixo com sua mão livre. Ele sorri de canto e toma meus lábios, beijando-me ferozmente.
Agarro seus ombros e sinto-o se pressionar ainda mais em mim. Ele desce suas mãos e crava uma delas em minha cintura, apertando-a. Com a outra, ele segura um de meus seios e eu arregalo os olhos.
— Para, Evan. - digo contra seus lábios ele desce os beijos para o meu pescoço, ainda me apertando no metal gélido do carro.
— Porque eu pararia? Não sabe como estou louco para foder você. - ele diz de maneira quase que brutal.
Tento afastar o seu corpo, mas ele me pressiona ainda mais contra o carro, colocando um de seus joelhos no meio das minhas pernas e apertando meus seios e cintura.
— Me solta! Por favor... - os lampejos daquela noite passam em minha cabeça.
Os caras rasgaram a minha roupa e me deixaram imobilizada no chão. Eu gritei me debati e eles me bateram quando eu cuspi no rosto de um deles, me bateram para valer.
Começo a chorar quando vejo Evan levando um de suas mãos para a minha intimidade. Estou gritando e me debatendo, da mesma forma daquela noite infeliz e que nunca se apagará da minha mente.
— Me solta! - grito mais uma vez e ele morde o meu pescoço com força.
Estapeio o seu peito e antes que ele avance um pouco mais, o seu corpo é puxado para trás com tanta força, que eu quase fui junto com ele. Arregalo os olhos ao ver uma cabeça loira que eu conhecia muito bem. Uma cabeça loira que também esteve presente em meus pesadelos, mas não de maneira ruim.
Pelo menos não tão ruim.
Luke empurra o corpo de Evan para trás ao cambalear, o meu segurança arrasta-o pela perna, que eu não vi o momento em que ele a agarrou, e ele cai com tudo no chão.
Ele começa a distribuir socos apressados e realmente dolorosos, já que os rugidos de Evan eram altos e os ossos de seu corpo pareciam estar sendo triturados com os punhos de Luke.
Evan tenta escapar e acertar Luke, mas ele parece estar cego e consumido pela raiva, como se fosse matá-lo. E o meu sangue gela quando vejo-o acertar cinco chutes nas costelas dele, que fazendo-o gritar e cuspir sangue.
Luke saca uma arma de sua cintura e aponta para ele, Evan levanta-se com dificuldade e cai novamente, arrastando-se para trás. Levo minhas mãos para a minha boca e cubro-a pelo pavor que eu sentira no momento em que ele tinha uma arma de fogo apontada para alguém.
— Luke, deixe-o... - minha voz sai baixa e quase cortada pelos soluços que me escapam.
— Deixá-lo ir? - ele não me olha. Seus olhos estão fixos no loiro que tenta a todo custo se colocar de pé. O seu rosto ensanguentado me causa calafrios e uma vontade de vomitar. — Esse desgraçado ia te estuprar, Valentina. Eu vou matá-lo.
Me pergunto como Luke me encontrou e começo a me arrepender de ter saído de casa. Eu não quero que ele mate ninguém.
— Essa vadia se ofereceu para mim. - Evan cospe as palavras e eu me sinto suja e humilhada.
As costas de Luke se enrijecem e ele parece não respirar mais por alguns segundos.
— Agora está mentindo, seu filho da puta? - Luke rosna e eu aperto os olhos com força quando ouço o som do gatilho da arma, e em seguida, um disparo.
Abro os olhos e não consigo encarar a cena em minha frente, então faço o que eu devia ter feito muito antes, apenas corro. Eu corro sem me importar com os cascalhos que me fazem afundar enquanto disparo os meus passos apressados em uma direção que eu não conhecia, eu só queria fugir.
Ouço a voz alta e grossa de Luke me chamar, mas eu não paro e não olho para trás.
Ele matou alguém. Ele matou mais uma pessoa.
Lembro-me do que Jake me disse sobre ele ter sido preso por matar uma pessoa. Ele está ao meu lado para me proteger e eu devia agradecê-lo por ter me salvado agora mesmo, mas estou com medo. Medo de que ele seja tão frio a ponto de matar alguém sem sentir culpa. Medo de que ele seja mesmo um monstro vazio.
Medo.
Eu sinto medo por me lembrar dele matando aqueles homens com tantos tiros que os corpos deles tremeram com os impactos.
Continuo correndo até que entro no meio das árvores espalhadas do outro lado da estrada e do bar. Piso no chão e ouço as folhas secas sendo partidas pelos meus passos pesados e desesperados em uma direção que eu não sabia.
A única iluminação que eu tinha era a do luar, que por sorte, era noite de lua cheia, mas isso não mudava o fato de tudo estar escuro.
Ouço Luke me chamando e seus passos também entrando na floresta e a cada segundo percorrido por mim, ele parecia estar mais perto. Minha visão está turva pelas lágrimas que teimam em cair e eu só quero ir para casa e me afundar em minha cama, para tentar esquecer essa noite. Tentar esquecer o mundo. Tentar esquecer que Luke é um assassino.
Sinto alguns galhos das árvores passando por meu rosto e deixando possíveis marcas. Faço uma curva para o lado esquerdo e sinto meu coração a ponto de sair pela minha boca.
Tropeço em meus próprios pés e me seguro no tronco de uma das árvores, cansada de correr. Sento-me no chão e deixo que os soluços se intensifiquem e provem a mim mesma o quão fraca eu sou.
— Valentina. - ouço a voz de Luke. Ele está bem em minha frente, mas eu não consigo olhá-lo. — Fale comigo!
Nego com a cabeça e arrasto meus joelhos para a altura dos meus peitos e cruzo meus braços, afundando a minha cabeça entre eles.
— Você o matou... - sussurro e não sei se ele me ouviu, mas ouço-o bufar.
— Por mais que eu desejasse isso, eu não o matei. - diz e eu ergo o olhar, confusa.
Luke está sendo iluminado pela luz do luar, conseguindo ficar ainda estupidamente bonito e mais perigoso dessa maneira.
— Eu apenas atirei em sua perna. Ele terá algo ali para se lembrar de nunca mais ousar tocar em uma mulher sem que ela queira isso também. - ele diz com a voz áspera de sempre. — Você não devia estar aqui.
— E nem você. - rebato e desvio o olhar.
— Eu fui até a sua casa me certificar que você estaria dormindo e pelo que vi, você não estava onde deveria. - diz e eu arfo, ficando enraivecida. — Nunca mais ouse fugir dessa maneira.
— Eu tenho a porra de um rastreador para sempre me encontrar? - grito e encaro-o enquanto me coloco de pé.
Luke ri e mordisca o seu piercing escuro e sexy no canto de sua boca.
— Um rastreador seria algo bom, mas eu tenho meus métodos que funcionam melhor. - diz calmamente e franze o cenho quando varre todo o meu rosto.
Paro de respirar quando sinto a palma de sua mão quente tocando um lado do meu rosto. Os meus movimentos corporais simplesmente se foram.
— A partir de amanhã iremos treinar técnicas de autodefesa. - diz e afasta a sua mão, mas não tira os seus olhos de mim.
Puxo um pouco de ar para meus pulmões e olho-o sem entender.
— Como é? - esfrego o meu rosto e sinto um leve ardor sobre ele.
— Eu irei lhe ensinar como se defender sozinha. - ele vira-se de costas para mim. — Se quer ser uma rebelde, precisa aprender a se virar sem parecer um alvo fácil e frágil.
— Eu não sou um alvo fácil e frágil. - digo alterada e louca para fazê-lo de alvo. Alvo de bons tapas e socos.
Ele passa as mãos por seu seus cabelos e mesmo sem vê-lo, sei que está travando seu maxilar.
— É o que iremos ver, Ariel.
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