Scorpius Malfoy não lembrava a última vez que acordara com tanto frio. As coisas no dormitório estavam aparentemente normais, mas ele tremia um pouco com a sensação gelada que sentia em sua pele, talvez fosse febre. Sequer isso o impediu de caminhar em direção a mais um banho gelado como os que tomava todos os dias pela manhã. Aos poucos, passou a sentir menos incômodo pela baixa temperatura da água e passou-se a se concentrar tentando lembrar do sonho muito estranho que tivera durante a noite.
Sem sucesso, usou seus esforços para lavar o cabelo cuidadosamente.
Não pensou muito durante o banho como sempre fez durante anos, apenas deu-se ao trabalho de lavar-se corretamente, não queria pensar demais, pois desde que colocara os pés na escola de magia e bruxaria, isso não estava o ajudando.
Só pôde esperar que, com o tempo, as coisas caminhassem para algo menos solitário.
Assim que terminou, enxugou seu corpo trêmulo e vestiu seu uniforme corretamente, penteando seu cabelo sempre de forma alinhada, e garantindo com que o mesmo ficasse de forma arrumada, passou a sua loção preferida logo em seguida, um perfume doce, mas que sua vó sempre insistia em dizer que lembrava alguma bebida alcoólica cara. Escovou os dentes e conferiu o cabelo outra vez, olhando seu reflexo sem expressão no espelho.
Narcisa está sempre dizendo sobre quão parecido Scorpius é com Draco.
Ele só desejava ter metade da beleza de seu pai.
Quando saiu do banheiro e olhou para o pequeno relógio curioso que havia percebido estar presente no quarto, Scorpius pôde ver que a pequena chama - provavelmente conjurada por um feitiço duradouro - apontava para o seis, e a maior indicava entre o cinco e o seis, ou seja, 6:25 da manhã.
Com os cinco minutos que lhe restaram calçou seus sapatos, pegando os livros que iria precisar e colocando dentro de uma mochila extra que havia trago, junto a seu material de escrita e dois livros extras que tinha pego na biblioteca.
Antes de sair do quarto, olhou para cama que estava sempre ao lado da sua e nela, Alvo Potter ainda descansava. Parecia tão entregue ao sono que nem mesmo o barulho do chuveiro o havia acordado como nos outros dias.
Scorpius imaginou que aquilo fosse uma das consequências de se acordar na madrugada para copiar atividades alheias.
Pensou na possibilidade de se aproximar e balançar o ombro do moreno, quem sabe cham-lo coma voz mais alta do que o costume já resolvesse ou fazer Newt pular na cama do outro. Para sua infelicidade, todas as ideias pareciam péssimas e elegíveis para mais uma discussão que poderia surgir entre os dois.
Isso o fez descartar qualquer uma das possibilidades acima. Seriam sete anos de convivência em um dormitório e essa não seria a primeira vez que um dos dois se atrasaria, não queria que no primeiro desses atrasos Alvo começasse alguma discussão dando um jeito de culpa-lo por ter perdido a primeira aula do dia.
Respirou fundo e colocou a comida para Newt no pequeno potinho encostado a parede, passando os dedos pelo pelo do gato em um carinho. Quando abriu a porta para deixar o quaro, sua consciência pesou: hoje seria a primeira aula de voo do ano letivo e ele não era uma mal observador sabia quão entusiasta da ideia de voar e apreciador de Quadribol que o Potter era.
Por isso, ao sair do quarto, ele bateu a porta com força, de uma forma que nunca fazia.
Não foi difícil notar que atingira seu objetivo quando, segundos depois, escutou resmungos do Potter ainda dentro do quarto e - logo em seguida - uma movimentação barulhenta até que outro barulho de porta fechando soasse junto a um "não acredito nisso" frustrado do Potter.
[...]
— Como hoje é a primeira aula de vocês, recomendo que não desobedeçam minhas instruções a menos que não queiram dar adeus as chances de jogar Quadribol pelos próximos sete anos, entendido? — o professor de voo, Fineas Archeon, não poderia ter sido mais claro em sua recomendação. Sua aparência era séria, talvez fossem os cabelos castanhos perfeitamente cortados ou a capa longa e escura que passasse a impressão. Pessoalmente, Rose acreditavam que era o olhar severo, mesmo que as iris tivessem um dócil tom de azul.
O professor citava as instruções em um ritmo metódico e muito didático, explicando com eles poderiam realizar a decolagem e pouso, na teoria. Alvo Potter e Rose Weasley talvez fossem os menos preocupados com as instruções ou em como segurar uma vassoura, pois faziam isso muito bem sem muitas preocupações. Eram de uma família onde a prática da atividade não era uma surpresa, mesmo na infância.
Mas Scorpius, um pouco distante dos dois, estava visivelmente nauseado com a ideia de deixar o chão, mesmo que apenas dois metros acima. Ele não tinha sequer uma boa memória que envolvesse altura e talvez isso fosse mais importante naquele momento do que ele poderia ter imaginado.
A únicas memórias que conseguia reunir sobre não estar no chão definitivamente não ajudavam.
Suas mãos suavam e ele já conseguia sentir a boca seca, o medo começando vagarosamente a tomar conta de sua atitudes e ansiedade trabalhando no lugar de sua razão.
Lembrou de anos atrás, quando ainda era uma criança nova demais para entender que vozes não eram um bom sinal, mesmo no mundo da magia. De como elas sempre pediam baixinho nos seus ouvidos para que ele olhasse as estrelas no céu mais de perto, da sacada de seu quarto, de como diziam que para que ele pudesse ver melhor bastava apenas subir no batente e ele veria sua mãe mais de perto, poderia ir ver sua mãe que havia se juntado às estrelas.
Agora, só conseguia pensar no que poderia acontecer se o seu pai não o tivesse segurado pelo braço quando ele gritou em desespero caindo da sacada do segundo andar da Malfoy Manor.
— Concentre-se na sensação de voar, e repita em alto e bom tom: "suba" — instruiu o professor e, logo em seguida, quase todos os alunos o fizeram, poucos obtendo um real resultado.
Para alunos como Alvo, Rose e Nathan - outro aluno da Grifinória - a satisfação de ter a vassoura em mãos durante um primeiro chamado era muito deleitosa. Para a maioria fora de conquista, quando depois do terceiro ou quarto chamado elas chegaram as suas mãos. Para Scorpius, que mesmo chamando desejava que ela não lhe chegasse a mão, foi uma surpresa quando depois da sétima sentiu o cabo de madeira seguro em sua mão.
O café da manhã pesou como chumbo em seu estômago e mesmo a ideia de deixar chão fazia suas pernas ficarem fracas e sua mente repassar algumas imagens horríveis que ele havia desejado não ver nunca mais.
— Agora subam nas vassouras com calma, esperem com que eu conte a três, subam apenas dois metros do chão e pousem logo em seguida, no mesmo lugar e sem gracinhas! — Scorpius não iria conseguir, não mesmo, e com tantos alunos ali, de repente, pareceu muito mais difícil.
Perguntou-se porque não poderia simplesmente escrever toda a teoria do vôo naquele momento, só para que não precisasse voar realmente, para além de não passar vergonha, reprimir pensamentos e memórias que já estavam afastados a tanto tempo.
Quando percebeu, vários alunos já estavam sem os pés no chão, um minuto a mais e somente ele ainda não havia se posto sobre a madeira da vassoura, matinha-se congelado, não demorou para que o professor caminhasse até ele e, diferente do que podia ter imaginado, o homem não estava com um olhar tão rígido como no começo da aula.
— Está tudo bem aqui Sr...? — o tom era de dúvida, Scorpius não sabia se a curiosidade era sobre o seu sobrenome ou a clara aparência de desespero que deveria estar.
Sua palidez agora parecia corada em comparação a falta de cor.
— Malfoy, senhor. Eu posso, por favor, ir até a enfermaria? eu realmente não estou me sentindo bem. — o menor falou baixo e o professor o perguntou mais algumas coisas, como se ele poderia chegar sozinho a enfermaria.
Acenou positivamente com a cabeça, mesmo que não tivesse tanta certeza sobre a resposta.
Não perdeu tempo quando Fineas Archeon disse que falaria com a enfermeira depois, procurando saber se o menino realmente fora a enfermaria. A outra metade do que o professor de voo falou Scorpius descobriria em outro momento, pois depois de escutar que poderia deixar a aula, não mediu esforços para isso, caminhando o mais alinhado possível para dentro do castelo.
Tentou sair o mais rápido possível do local, sem chamar nenhuma atenção, claro que isso não aconteceu, pois assim que Rose voltou ao chão, viu que o menino havia saído rápido, Alvo também concluíra a tarefa dada pelo professor com perfeição, e aproximando-se da ruiva, segurou a vassoura em pé ao lado de seu corpo.
— Porque ele está indo embora...? — juntou suas sobrancelhas, falando sozinha.
— Quem? O Malfoy? — perguntou fingindo algo como indiferença.
Não era uma pergunta retórica, mas Rose tratou-a como se fosse, pois não houve resposta. Alvo viu que a prima parecia preocupada, mas não entendeu porque estaria, ela nem o conhecia.
— Rose, o professor 'tá falando, não perca tempo com isso.
[...]
Scorpius Malfoy teria ido a enfermaria, caso soubesse se localizar na parte do castelo onde ela provavelmente ficava. Não haviam alunos andando pelos corredores para que ele pudesse pedir ajuda para chegar ao lugar. Ele se sentia estranho, as pernas pareciam não querer se mover e sua visão vez ou outra parecia escurecer. Ele parou de andar quando notou um lugar que nunca havia visto antes.
Não tinha percebido que andara tanto, estava no outro lado da escola, onde a reforma fora ainda mais acentuada, era perceptível o quão novo eram alguns detalhes, lembrou que leu em algum lugar sobre isso, o castelo de Hogwarts fora renovado com base na estrutura original, mas algumas coisas não escaparam da modernização.
Viu um banco ali, próximo a uma grande abertura na janela que levava para um outo pátio da escola. Não pensou muito antes de caminhar até ali e sentar, tentando controlar a respiração entrecortada. Agora, tentando lidar com a situação mais racionalmente, ele reconhecia que dois metro de altura acima do chão não era nada demais e que ele provavelmente sequer seria machucado se chegasse a cair, mas ainda assim, sabia que se por acaso voltasse a aula, o medo redobraria.
Não passou passou muito tempo sentado antes de voltar a vagar pelos corredores. Se não podia achar a enfermaria ao menos se esforçaria para chegar ao seu salão comunal e pedir ajuda a algum aluno que chegasse.
Sua caminhada em direção ao salão comunal da Sonserina pareceu muito mais longo do que realmente fora e a essa altura tudo que desejava era deitar em sua cama e tirar um cochilo com o gatinho de pelugem colorida enrolado a si, em uma promessa muda de que ele não ia mais sentir todas aquelas coisas estranhas e que aqueles flashes parariam de lhe ocupar a mente.
Desejou que Newt pudesse falar, assim ele poderia contar aquelas coisas para alguém sem se sentir tão estranho por isso.
Quando finalmente chegou as masmorras, o menor deixou com que a senha fluísse silenciosamente por seus lábios e, assim que adentrou o salão comunal, acenou para quintanistas que estavam juntos em grupo sobre dois sofás de couro negro, com alguns feijõezinhos de todos os sabores, desistindo de pedir ajuda para qualquer um deles, que pareciam muito divertidos em uma conversa sobre o clube de duelos.
Agradeceu a Merlim quando conseguiu chegar ao seu quarto sem que nenhum veterano estranhasse a sua ausência nas aulas, não esperou nem mesmo chegar a sua cama para que colocasse sua mochila ao chão, começou a sentir sua cabeça dolorida, era comum sentir aquilo quando estava em sua casa, mas não sentira nada depois de chegar a escola, pelo menos não até agora.
Deitou-se sobre sua cama, sentindo seu gato aproximando-se em seguida, aninhando seu pelo em sua pele pálida, como uma tentativa que do gato para passar carinho, de fato era uma boa sensação, mas não amenizava a queimação presente em sua cabeça, isso era realmente incômodo.
Levantou para ir ao banheiro, por mais que seu corpo apenas pedisse para que ele ficasse deitado a cama, pelo menos até o restante do dia, até aquela insuportável dor passar.
Mas depois de três passos, sua visão escureceu, as pernas ficaram fracas subitamente e não demorou para que todo o seu corpo encontrasse com o chão em uma pequena fração de segundos. A última coisa que sentiu foi o impacto do lado esquerdo de sua cabeça contra o chão liso de pedra e a voz de uma mulher sussurrar em sua cabeça.
[...]
Alvo andava até seu quarto com um sorriso estampado no rosto, e depois daquela aula que compartilhara com a Grifinória, o breche da Sonserina não parecia tão incômodo na sua capa como estivera antes. Parte da sua apreensão de estar na casa das cobras - fortemente encorajada pelo seu tio Ronald ao passar dos anos - começava a da sinais de estar diminuindo. Estava feliz por ter sido destaque na aula, principalmente quando o professor usou ele e a prima, Rose, para demonstrar como se faia uma curva no ar eficiente.
Os cochichos e comentários sobre a sua seleção ainda aconteciam, era verdade. Mas com Rose, Louis e as pessoas que conversava na Sonserina faziam esses momentos serem menos significantes do que poderiam ser, por isso, quando passou pelo salão e viu alguns quintanistas que estavam conversando, acenou. Eles acenaram de volta, alguns até estenderam doces de uma loja que ele conhecia muito bem, Gemialidades Weasley.
— Vou passar essa. — disse e os outros acabaram por rir também, voltando para uma conversa que ele não conseguiu entender a distância que estava , então voltou a caminhar em direção ao quarto, esperando poder tomar um banho rápido. Estava fedendo a sol.
Assim que chegou a porta de seu quarto, franziu as sobrancelhas ao perceber que estava entreaberta, o Malfoy tinha alguma espécie de mania incorrigível, e não deixava aquela porta aberta por nada ele lembrava de ter fechado da última vez que saiu do lugar.
Demorou alguns segundos para ele entender o que acontecia ali quando entrou. O corpo de Scorpius estava no chão,imóvel e - talvez porque ficou muito nervoso com a situação - a mancha de sangue ao lado da cabeça do companheiro de quarto parecia muito maior do que realmente era. Ele também estava desacordado.
Ainda assim, Alvo tentou chama-lo, os olhos verde-vivos muito abertos.
— Malfoy? Malfoy! — Alvo queria acreditar que aquilo não passara de uma pequena brincadeira, mas a verdade era que Scorpius não brincava, não com ele.
No mesmo momento, sentiu seus sentidos voltarem e correu para fora do quarto, tinha que achar o monitor, mesmo que não gastasse nem pouco do tal Aiden Lightwood, não podia pensar em coisas como essa no momento.
Quando saiu do dormitório, sabia quem procurar e correu os olhos por todo o espaçoso salão comunal da Sonserina, encontrando a pessoa que procurava terminando de colocar alguns livros sobre uma das mesas de estudo de madeira maciça escura. Andou o mais rápido possível em direção ao ruivo, tentando não correr para não gerar o alarde que a situação talvez merecesse.
— Lightwood, você precisa ajudar o Malfoy. Tem algo de errado. — disse rápido, enrolando algumas palavras devido ao nervosismo, mas não precisou repetir outra vez.
No momento seguinte Aiden o acompanhava em passos igualmente rápidos em direção ao dormitório que os dois dividiam e quando entrou no local, chamou o menino algumas vezes, como Alvo havia feito. Quando não obteve resposta, tomou-o em seus braços com uma rapidez e agilidade que o Potter desejou te tido desde o princípio.
O corpo desacordado do Malfoy balançava levemente de acordo com os passos longos e rápidos que o monitor dava, todos da sala ficaram preocupados ao ver o Lightwood correndo com um sonserino primeiranista nos braços, não era algo comum e, sem dúvidas, aquela história iria circular mais rápido do que o gosto de feijõezinhos de todos os sabores pela boca.
— Podem me explicar como isso aconteceu? — a curandeira parecia mais do que assustada, enquanto limpava o sangue que ainda estava presente na pele do menino mais pálido — ele já estava se sentindo mal antes de chegar ao dormitório? orque ele não veio até a enfermaria se saiu da aula para isso?
Alvo, que tenha seus cabelos grudados a testa apenas engoliu em seco, pois não sabia o que falar, seu coração pulsava tão rápido, que se alguém ficasse um pouco mais próximo a ele, certamente escutaria o barulho de sua massa cardíaca bombeando sangue, porém, ele queria dizer, queria simplesmente interromper as falas exaltadas da curandeira.
Eu só entrei no quarto e ele estava lá, desmaiado e sangrando n chão.
— Senhora Mitsuri, é verdade... quando entrei no dormitório, ele estava caído, e o corte na testa dele estava sangrando... — Alvo falava rápido, enrolando algumas palavras e respirando mais calmo agora. — ele saiu mais cedo da aula, disse ao professor que ia vir aqui e... eu não sei, eu nunca vi o Malfoy andando pelo castelo, talvez não soubesse onde era a enfermaria.
Ele não gostava nem pouco do Malfoy, mas vê-lo daquela forma jogado ao chão, com o sangue escorrendo por seu rosto, mexeu consigo, talvez por pensar que o menino de bonitos cabelos prateados estaria sem vida, mas no curto momento de choque o Potter percebeu a fraca movimentação do corpo graças a respiração, o gato estranho do outro cercava seu corpo dentre miados, como se tentasse falar com o dono, e ao lembrar do gato, Alvo olhou para o pé da cama da área hospitalar a qual o menor estava, lá estava ele, o felino tinha seu corpo deitado ao chão, parecia estar dormindo, por estar tão quieto, ele estava ali pois seu dono havia se machucado.
Admirou a fidelidade, pois ali não havia nenhuma comida para gatos.
— Entendo o que diz, Sr. Potter. Mas algo ocasionou a súbita queda de pressão, infelizmente nenhum dos feitiços detectou nada. — a mulher de cabelos brancos penas guardou novamente sua varinha no suporte do jaleco que usava — onde está o monitor de sua casa, aquele que trouxe o menino?
Alvo torceu os lábios ao ouvir a menção ao monitor da Sonserina, não gostava do menino desde o começo, e gostava menos ainda agora, ao lembrar do diálogo que tiverem no caminho da enfermaria.
"— O que você fez com ele, Potter? — se o mais velho não tivesse perguntado com tanto ódio, talvez o moreno de personalidade forte, pensasse em não usar o tom grosso com ele, mas não foi o caso.
— Eu já disse que não fiz nada, caralho. Eu entrei no quarto e ele estava desmaiado, desculpe se desapontei o seu ego de herói! — respondeu, tentando segurar de todas as formas respotas mais rudes que essa, teve sucesso, parcialmente. Ter vivido com James o ensinou coisas muito piores que isso."
— Ele tem aula de Transfiguração, disse que não podia faltar a aula de hoje. — o Potter falou baixo, sua pele bronzeada coberta pela blusa social branca estava gelada, o clima estava frio o suficiente.
Quando olhou para o Malfoy outra vez, notou mais coisas do que gostaria. Ele tinha lábios finos, mais cheios e seu rosto era fino e marcado, muito simétrico e pálido. As bochechas geralmente rosadas estavam pálidas.
— Eu vou ter que ir conversar com o professor Longbottom, temos que deixar claro as condições do Sr. Malfoy. Não saia daqui por enquanto, vou falar com o seu professor para justificar a falta.— a curandeira falou enquanto se dirigia atá a porta da grande enfermaria, passando pela mesma em seguida.
Quando a medimaga de cabelos loiro-acobreados deixou a enfermaria, retornou a uma postura que dificilmente assumia quando em locais públicos. As costas curvadas e os ombros um pouco caídos era algo que reservava para as noites que lia algum quadrinho trouxa ou assistia filmes com seus irmãos. Cansado de ficar em pé olhando o menino loiro respirar, sentou na ootrona não tão confortável que havia do lado da cama, suspirando desacreditado.
As coisas acontecem mesmo muito rapidamente.
O Potter não pôde evitar o susto quando o platinado mexeu-se bruscamente sobre a cama, como alguém que está no meio de um pesadelo, seus dedos finos e pálidos agarraram o lençol abaixo dele, e o gato que antes estava quieto ao pé da cama, teve seus pelos ouriçados e começou a andar disconforme, miando esganiçado, por alguns segundos o Potter desconfiou que o gato sentisse o cheiro do desconforto do Malfoy.
— Garoto nojento... você é uma doença, surgiu daquela cadela de sangue sujo que foi sua vó! — a voz gritava e, no fundo, escutava os gritos de seu pai, desesperado ao tempo que mãos muito forte pareciam circular o seu pescoço, ainda que não pudesse vê-las.
— SOLTEM ELE, SOLTEM O MEU FILHO... SEUS BASTARDOS! — os gritos do Malfoy maior ecoavam pelo grande salão da mansão Malfoy, enquanto o de olhos prateados, que tinha apenas seus cinco anos de idade, foi jogado ao chão com força.
— Sua magia nunca será pura, pária... criança amaldiçoada, tenho pena de você — a voz cortava os ouvidos do menino que agora sonhava com aquela cena — pena do que você é.
De repente, Scorpius abriu seus olhos, dentre suas pálpebras haviam lágrimas que não desceram, mas fizeram suas íris azuis prateadas brilharem como pérolas.
Sentou-se na cama tão rapidamente a ponto de sentir seu ferimento doer, e respirou fundo para que as lágrimas não escorressem, ao ver que não estava sozinho.
O silêncio instalou-se no local, até que por um motivo desconhecido, o Potter desatou suas palavras.
— Você 'tá bem? — perguntou baixo, não sabia o porque de estar falando, apenas o fez, pois pareceu certo.
Mil e uma coisas passaram pela mente do menor, seus pensamentos agitaram-se, suas mãos que até poucos segundos atrás ainda congelavam pelo frio, aqueceram-se pelo medo da resposta, mas usando todos os músculos possíveis de seu rosto, e seus lábios avermelhados formaram um fino sorriso sem dentes.
— Estou bem eu acho. — olhou o próprio corpo como quem confere se não há nem um membro faltando e Alvo quase riu da tentativa de humor. — inteiro.
O que de fato, não passava de uma mentira mal estruturada.
Não estava bem, muito menos inteiro, pois não havia solução para pessoas quebradas.
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