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História Broken Dreams - Guarda-chuva


Escrita por: PinkNeonFantasy

Notas do Autor


Música: Umbrella - Rihanna.
Tradução: "Oh eu estou uma bagunça agora
Dentro e fora
Em busca de uma doce rendição" - I'm A Mess, Ed Sheeran.
Boa leitura <333

Capítulo 46 - Guarda-chuva


Fanfic / Fanfiction Broken Dreams - Guarda-chuva

Broken Dreams

PinkNeonFantasy

Capítulo 46 - Umbrella

Agora que está chovendo mais do que nunca

Saiba que ainda teremos um ao outro

Você pode ficar sob meu guarda-chuva

 

Da janela da biblioteca, observou os pontos amarelos sobrevoando o campo de Quadribol. Mesmo com o temporal, os alunos da Lufa-Lufa continuavam treinando, e pareciam incrivelmente empenhados. Muito tempo havia se passado desde que viu um jogo, que torceu tanto por um time, ou vibrou com uma vitória. Os jogos continuavam acontecendo em Hogwarts, com frequência até, mas Lily não estava dando muita atenção.

Sentia falta daquilo, assim como sentia falta de muitas outras coisas.

Suspirou, encarando a página amarelada completamente vazia. Deveria fazer um resumo de, no mínimo, oitenta centímetros, sobre uma poção de cura para envenenamento, citando ingredientes, modo de preparo e como a poção agia no organismo do paciente, mas até aquele momento, ela não tinha começado nem sequer a escrever a primeira linha.

Gerard era tão bom em poções, e talvez ele pudesse lhe ajudar, mas então lembrou que Gerard e Ian ainda não haviam voltado. Suspirou pesadamente, passando a mão pelos cabelos de forma irritada.

Não queria estar ali na biblioteca, mas ficar dentro do dormitório estava impossível. Não queria ficar sozinha no quarto escuro, observando a janela embaçada, e lembrando que uma vez quase pulou dali. 

Hayley estava com Brendon, Aline com Jared, Taylor com sua nova ficante, Frank andando de um lado para outro com Mikey, Adam com Tommy, Angeline conversando animadamente com Andy do outro lado da biblioteca, e aparentemente todos tinham algum tipo de companhia. Não estava rancorosa, ou ciumenta, mas a ideia de que era a única completamente sozinha lhe incomodava. 

Você pode ser completamente feliz sozinha, é claro, mas ultimamente sentia-se  sozinha o suficiente para para pensamentos e lembranças ruins começassem a invadir sua mente. Na última semana viu Gerard apenas quinze minutos por dia, mas seus pensamentos estavam com ele o tempo todo, e se perguntava se aquilo era saudável.

Claro que deveria se preocupar com ele, mas sentir tanta abstinência... Mesmo depois de anos juntos?

- Você não parece bem, Potter. - Olhou para cima, apenas para encarar Penny com um olhar irritado. A sonserina ergueu a mão, com um sorriso de canto, e sentou-se na cadeira em frente a sua.

- Hoje não, Lockwoord.

- Hoje não, o quê?

- Eu não vou responder nada, hoje não.

- Então eu terei chance em outro dia? - Penny soltou uma risadinha, e revirou os olhos com a própria piada sem graça. Lilian abaixou o olhar, rolando a pena entre seus dedos, sem ânimo para pesquisar algo para o trabalho. - Mas não vim aqui para fazer perguntas, quero dizer, se eu conseguir arrancar algo de ti, é lucro, mas não é exatamente isso que me trouxe aqui.

- O que quer? Fala logo.

- Você parece a beira de uma crise de abstinência emocional. 

- O quê?

Ergueu o rosto, inclinando-se para trás lentamente. Encarou Penny com um olhar desconfiado, tentando encontrar alguma pena e bloco de notas escondido, ou alguma coisa que poderia gravar aquela conversa, mas não encontrou.

- Crise de abstinência emocional; A abstinência ocorre porque o cérebro funciona como uma mola quando se trata de um vício. Quando você para de usar drogas ou álcool é como tirar o peso, e seu cérebro tem um rebote, produzindo uma onda de adrenalina que faz os sintomas de abstinência. 

- Você ficou doida.

- Meu pai é médico. Sabe, não é porque somos bruxos que somos imunes a coisas do tipo. E meu pai estudou muito sobre isso nos últimos anos. Alguns dos principais sintomas de abstinência emocional são; ansiedade; inquietação; irritabilidade; falta de concentração; e isolamento social, e há também insônia, dores de cabeça e depressão, por isso acredito que você deveria procurar um profissional para te ajudar.

- Penny, sério, o que você realmente quer? - Lilian franziu a testa, vendo a garota a sua frente erguer a sobrancelha. - Oh, okay. Não, Penny, eu não estou em abstinência. Porque nunca usei drogas.

- Você sabe que eu te observo por aí - Penny inclinou-se para frente, encarando Lilian. - E você realmente apresenta todos esses sintomas...

- Eu. Nunca. Usei. Drogas. Penny Lockwoord.

- Mas a ex-noiva do seu irmão vendia drogas, lembro-me do escândalo como se houvesse sido ontem. 

- Então se lembra que quem denunciou ela fui eu, e se eu realmente usasse alguma coisa daquelas que ela vendia, por que a teria colocado na cadeia? Exatamente. - Lilian levantou-se -, sinto decepcioná-la, mas hoje não há nada produtivo que você possa descobrir sobre mim. Volte outro dia.

Balançou a cabeça e saiu da biblioteca enrolando seus pergaminhos não usados e com diversos livros sobre alquimia embaixo do braço. Penny definitivamente havia perdido a noção do ridículo. Ela queria fazer matérias polêmicas sobre Potter a qualquer custo, e em momento nenhum a ruiva pensou que Lockwoord puxaria um assunto como drogas para isso, mas foi inocência de Lilian não pensar algo assim. Penny queria uma grande matéria, um bom furo de reportagem, se Lilian fosse usuária de qualquer tipo de substância química que fosse, seria uma grande coisa para Penny. 

Durante o percurso de saída do andar da biblioteca, Lilian desajeitadamente tentou enrolar pergaminhos e colocar os livros dentro da mochila, mas obviamente não conseguiria fazer os dois ao mesmo tempo, derrubando grande parte de suas coisas na escadaria. Revirou os olhos, com um suspiro alto. 

Puxou a varinha do bolso, mas antes que citasse o feitiço que planejava, suas coisas já estavam flutuando ao seu redor. Levantou o olhar, sorrindo ao ver a amiga.

- Obrigada, Aline.

- Não tem de que. - Lilian puxou os pergaminhos do ar e os colocou na bolsa, fazendo o mesmo com os livros. - Você está bem? Parece meio... Não sei, mas não parece bem.

- Estou bem - suspirou, percebendo que não conseguiria fechar a bolsa sem amassar os pergaminhos. - Você viu se Gerard já chegou?

- Ele acabou de entrar no salão comunal - Jared contou, se aproximando com três livros grandes e grossos nos braços. - Estava destruído. A essa hora ele deve estar dormindo.

- Imagino que seja bem cansativo passar um dia todo no hospital fazendo exames. - Aline murmurou. Lilian concordava, porque Gerard realmente deveria estar muito, muito cansado para não tê-la procurado. Suspirou. Queria falar com ele, perguntar como havia sido, o que ele tinha, como foram os exames, como ele estava se sentindo depois de um dia inteiro no hospital, mas aparentemente isso só seria possível no dia seguinte.

- Ian está na sala dele? Acho que vou perguntar à ele o que Gerard tem. - Engoliu a seco, acenando para o casal antes que eles pudessem lhe responder. Talvez estivesse fazendo muito drama, mas sentia uma saudade absurda dele, e queria poder entrar no salão comunal apenas para vê-lo.

Bateu na porta da sala de aula, e enquanto esperava, notou que o ar começava a se tornar mais gelado com o passar dos minutos. Esfregou seus braços, mesmo que estivesse vestindo uma blusa de lã, um cachecol e a manta, e que tecnicamente aquilo deveria bastar para bloquear o frio.

- Boa noite professor, desculpe estar incomodando mas... Bem, eu queria saber sobre os exames de Gerard. Ele foi diretamente para seu salão comunal e eu não pude falar com ele e perguntar como ele está... - Ian balançou a cabeça, em entendimento, e com um aceno com a mão pediu para que ela se calasse.

Ian não parecia muito bem, pedindo para que ela entrasse através de um simples gesto com a mão. Ao entrar, notou que a sala estava escura e fria, exceto por duas velas que iluminavam apenas a mesa do professor, que estava com alguns papéis.

- Essas são cópias dos exames que ele fez - Ian contou, com a voz rouca. Pigarreou e empilhou as folhas umas sobre as outras perfeitamente. - Os curandeiros mantém as originais no arquivo do St.Mungus, principalmente quando se trata de alguma doença da qual eles não tem uma cura ainda. - Ian estava falando lentamente e de modo arrastado, mas não parecia perceber que a menção de "doença da qual eles não tem cura" assustava Lilian. - Bem, aqui está.

Lilian sentiu as folhas dos pergaminhos contra seus dedos, tentando ler o que estava escrito, mas a escuridão do lugar não estava ajudando muito. 

- Algo está sugando a energia vital de Gerard - Ian esclareceu, enquanto ela passava o olhar entre uma folha e outra. Ela parou, com a sensação de que algo estava esmagando seu coração. - Os curandeiros dizem que pode ser um parasita, uma doença, um demônio, algum feitiço jogado por um bruxo das trevas...

Sua respiração ficou mais curta e ela levantou o olhar para o professor, notando o olhar preocupado no rosto dele.

- Parece que alguém ou alguma coisa estabeleceu uma conexão entre Gerard e isso, seja lá o que for, que está tomando grande parte da energia dele, e os curandeiros ainda não tem uma forma exata de cortar essa conexão. - Ian suspirou, e Lilian sentiu o aperto em sua garganta ficar mais forte. - Gerard necessita dessa força para se manter bem, e se algo está tomando sua energia, ele fica fraco e propenso a ter doenças mais graves como a Varíola Draconiana, por exemplo.

Engolindo a seco, ela abaixou a cabeça, sentindo os olhos ardendo. Bingo, Andy havia acertado novamente.

- Obrigada por me contar, professor... - Sua voz estava baixa, e ela tentava não mostrar que estava prestes a chorar. A culpa começava a pesar imensamente em seus ombros e ela precisava sair daquela sala antes que desabasse em choro na frente de Ian.

- Ele vai melhorar Lilian, os curandeiros vão descobrir uma forma de quebrar essa conexão. - Ele tentou consolá-la, e ela apenas assentiu, caminhando para fora. 

Andou o mais rápido que pode, passando por diversos corredores, até encostar-se em uma parede qualquer, atrás de uma estátua, segurando com força os papéis dos exames contra seu peito e fechou seus olhos, sentindo as lágrimas começarem a escorrer. A culpa era dela, mais uma vez.

 

- O clima tem estado tão louco, né? - Hay comentou, olhando pela janela. - Um dia cai muita, muita neve, no outro o céu fica claro e o ar seco, e então logo depois cai uma tormenta dessas -, o céu estava escuro e alguns raios e trovões iluminavam o céu, enquanto as gotas de água batiam fortemente contra as paredes do castelo.

- Alguém parece gostar de brincar com o tempo - Aline deu de ombros, virando a página de seu livro. - Lilian ainda não levantou? - Perguntou a morena, fechando o livro e colocando-o sobre a cômoda ao lado da cama. Hay virou-se, deixando de observar a janela e caminhou até a cama, puxando as cortinas com delicadeza. A cama estava vazia e bem arrumada e o único a estar deitado ali era Pudim, que ronronava.

- Para onde será que ela foi?

- Ver Gerard, talvez? - Aline ergueu os ombros. - Ela estava bem preocupada com ele. E não é para menos, aparentemente ele corre risco de morte... De novo.

Hay suspirou, massageando as têmporas. - Nunca vi um casal com tanto dom para se ferrar, viu?! Quando não é um quase morrendo é o outro, e sem querer parecer insensível, mas o relacionamento nunca foi saudável.

- Eu sempre falei isso, mas as pessoas me escutam? - Aline balançou a cabeça. - Eu amo o modo como os dois se amam, é muito bonito, e eu sei que ele faz ela feliz, mesmo com todos os problemas, mas... Eles não tem paz, e às vezes acho que nunca vão ter enquanto estiverem juntos.

- Queria poder ajudá-los, porque sei que eles tem problemas realmente graves, mas não sei como poderia.

- Sinto que Lily tem se distanciado de nós - as duas grifinórias se olharam, e o lampejo de um raio iluminou a janela. - Parece que estamos perdendo uma amiga.

 

Ao meio dia Lilian estava parada perto do portal de entrada de Hogwarts, completamente sozinha. Lá fora a chuva era intensa, não havia dado trégua desde que começou, na madrugada anterior, ficando mais leve por alguns minutos, mas voltando com toda força logo depois.

Ela mal conseguia ver as árvores do outro lado do jardim, e podia perceber as poças se abrindo com o impacto forte da água da chuva. O ar era gélido e úmido, e suas roupas pareciam não aquecê-la, nem as tochas acesas nas paredes.

Cruzou os braços quando viu a figura esguia aparecer entre as gotas de água fria, com um guarda-chuva preto lhe protegendo muito mal. Gerard vestia uma manta mais grossa do que a de Hogwarts, o cachecol da sonserina em volta do seu pescoço e suas botas pretas estavam cheias de lama.

Mentalmente proferiu todos os insultos que conhecia, vendo Gerard entrar no corredor limpando a lama com um feitiço. Ele estava apenas a três passos de distância e ela conseguia notar o cabelo dele totalmente molhado, gotas escorriam pelas pontas que estavam sobre seu rosto, seu cachecol estava muito mais escuro que o normal, deixando claro o quanto estava molhado e ela não preferia nem pensar naquela manta, que escorria água do chão.

Porra.

- Qual é o teu problema, Gerard Way? - Esbravejou. - Ontem você foi ao hospital, passou a semana toda doente, e agora você sai nessa chuva? Você enlouqueceu?

- Eu precisava pegar isso - ele ergueu um caldeirão cheio de plantas que só podiam ser colhidas na orla da Floresta Proibida. - Para fazer o meu dever de casa. Juro que eu procurei muito bem antes de sair, mas não havia mais desses no estoque do professor.

- Eu quero socar a sua cara todinha e depois cuidar de você, desgraça - ela grunhiu, ganhando um sorriso irônico do sonserino. - Passa pra dentro, você precisa se secar.

- "Passa pra dentro" está achando que eu sou algum tipo de animal? Um cachorro?

- Não, porque um cachorro eu trato com mais carinho.

- Oh, obrigado, Lilian. - Falou sarcástico, entrando no castelo. - Definitivamente sua consideração comigo é linda.

- De nada, meu amor. - Ela riu, apressando os passos para alcançá-lo. Esticou sua mão e segurou o caldeirão que ele segurava, assustando-se ao perceber o quão gelada estava a mão dele. - Por Merlin, você precisa de um banho quente.

- Preciso levar isso para o salão comunal.

- Leva depois. - Ela o puxou, tendo que fazer realmente muita força para levá-lo com ela. Ele revirou os olhos, cedendo e a acompanhando escada acima. Era clara a preocupação dela, e ele começava a sentir dores de cabeça e em suas costas, então talvez fosse o caso de dar ouvidos a sua namorada pelo menos uma vez. - Parece que você quer ficar doente.

- Talvez eu queira.

Ela preferiu ignorar, fingir que não havia escutado a provocação. Ele estava frio e a voz dele estava muito rouca, e ela sabia que não demoraria para que ele começasse a tossir.

Quando chegaram ao quarto andar ele estava tossindo, exatamente como ela previa, mas tentava abafar com a mão na boca, apenas por orgulho e não querer dar razão à ela. O banheiro dos monitores não era usado há muito tempo e quando entraram ela trancou a porta, puxando o caldeirão de suas mãos deixando-o ao lado, logo começando a despi-lo.

- Isso é assédio.

- Isso é cuidado.

Ele observou-a retirar seu cachecol e em seguida empurrar a manta grossa e pesada de seus ombros. Logo depois sua blusa de lã e concentrada, ela lentamente foi abrindo os botões de seu colete, desfazendo o nó da gravata e então voltando aos botões da camisa branca. Os dedos dela estavam quentes em sua pele extremamente fria e sentiu um leve choque quando sentiu a ponta dos dedos dela no botão da calça.

- Acho que isso você pode fazer sozinho.

- Eu não me importo se você fizer. - Ele sorriu, vendo um leve vermelho aparecer nas bochechas pálidas da ruiva. Mordeu o lábio quando ela desceu o zíper.

- Tire isso - ela sorriu, se afastando. - Eu vou encher a banheira. 

Gerard a observou dar as costas para ligar as torneiras. Queria conversar com ela, sobre Jimmy, sobre a memória inesperada, sobre seus pensamentos confusos sobre sua família e sobrenome, mas sentia falta do corpo dela, e queria aproveitar a oportunidade que tinha naquele momento. Sabia que ela iria querer falar sobre o resultado dos exames, mas sabia que ela se culparia se ele dissesse, então faria de tudo para evitar o assunto. 

- Irônico - ela murmurou, ainda de costas, observando a enorme banheira encher. - Quando nós éramos monitores nunca viemos aqui, agora que ambos renunciamos ao cargo, olha só onde viemos parar.

- Porque quando éramos monitores não tinha graça vir aqui, o acesso era totalmente liberado para nós - Gerard chutou a última peça de roupa que faltava e caminhou até Lily. - O proibido é melhor, você não acha?

Fechou os olhos, sentindo as mãos dele acariciando sua barriga, ao mesmo tempo desfazendo os botões da blusa.

- Você precisa entrar, vai ficar doente. - Sussurrou, abrindo os olhos e observando o trabalho dos dedos dele.

- Entra comigo?

- Depois. - Afirmou, com um sorriso. Gerard se afastou, entrando na banheira e fazendo uma careta. A água borbulhava e faziam uma pressão gostosa em seu corpo, fazendo-o relaxar, mas em compensação estava quente, muito quente.

- Isso tá muito quente Lily - choramingou. Ela retirou seus sapatos e as meias, passando os pés para dentro da banheira e sentando-se na borda, puxando-o pelos cabelos para sentar-se entre suas pernas.

- Você precisa de um banho quente - ela comentou, espirrando uma grande quantia de shampoo em sua mão e em seguida espalhando sobre os cabelos pretos, úmidos e frios do namorado. Escutou ele choramingar por longos minutos, até finalmente parar e fechar os olhos, deixando-a esfregar sua cabeça. 

Se ignorasse a água quente, conseguia aproveitar o carinho. Sem conseguir se conter, soltou um ronronado, ao sentir os dedos da grifinória percorrendo seu couro cabeludo e puxando suavemente os fios. Ela riu, fazendo-o abrir os olhos. 

- Como foi lá no hospital? - Ela perguntou, delicadamente. O corpo de Gerard tencionou, e ela percebeu isso. Também não estava confortável em falar sobre o assunto, mas queria que Gerard lhe contasse com mais detalhes.

- Jimmy estava lá - ele respirou fundo, voltando a se encostar nas coxas dela. - Foi... Foi estranho, desconfortável, inesperado e... Nós discutimos, não que isso não fosse de se esperar, nós dois sempre brigamos quando estamos no mesmo cômodo, mas... Dessa vez foi diferente.

- Diferente como?

- Ele me mostrou uma memória - Gerard abriu os olhos, encarando as torneiras que soltavam água colorida. - Uma memória dele cuidando de mim quando eu era pequeno. - A pupila de Gerard aumentou e diminuiu de tamanho rapidamente enquanto ele se lembrava da memória. - Me deixou confuso.

Lily permaneceu quieta, não sabia exatamente o que poderia dizer naquele momento. Continuou acariciando os cabelos escuros entre seus dedos lentamente, esperando que ele continuasse a falar.

- Ele nunca... Ele nunca cuidou de mim, no quesito carinho, ele nunca me deu. Claro que ele nunca me deixou passar fome ou frio, e me deixou viver na casa dele, mas... Sabe o pai que você pode sentar e conversar? Aquele para quem você se preocupa em dar um presente nas datas comemorativas? Aquele cara que você pode abraçar ou correr quando tem medo de algo? Eu nunca tive. 

Lily puxou o cabelo dele para trás, esmagando os fios fazendo grande quantidade de espuma descer pela nuca e ombros do rapaz. Deixou suas mãos descerem também e massageou os ombros nus e pálidos, e a primeira reação dele foi encolher os ombros e então relaxar.

- Ele não estava lá com carinho ou apoio, mas ele não me deixou na rua também. - Gerard hesitou. - Ele me abandonou quando eu precisei dele, porra. Quando meus avós morreram, eu fiquei perdido, sabe? Porque as únicas pessoas que eu tinha certeza que estariam comigo quando eu me transformasse, haviam ido embora pra sempre. Ele não ficou comigo, Lilian. Na noite da minha transformação, eu fiquei completamente sozinho.

Os olhos esverdeados dele encheram de lágrimas, mesmo que já houvesse dito aquela história tantas vezes, aquilo ainda pesava dentro de si, e ele sabia que nunca aquela sensação iria passar. Rancor, magoa, solidão.

- Foi um dia inteiro doente e uma noite inteira de pura dor, e eu estava completamente sozinho. - Uma lágrima escorreu, despercebida no meio da água que o banhava, mas estava ali. - Meu pai não estava ali comigo, não estava. E quando eu quase morri tantas e tantas vezes, ele também não estava ali. E quando ele me contou que eu não era filho biológico dele... Foi tão frio, foi... Ele não se preocupou comigo, se iria me magoar. Ele não teve o mínimo cuidado.

Ela havia parado com a massagem, e ele começou a movimentar a mão embaixo da água, apenas para observar as pequenas ondas que se formavam pelo movimento.

- Então parece Ian, dizendo ser meu pai biológico e fazendo muita coisa por mim, só que... Ele também não esteve lá. Mesmo que eu tenha formado com ele uma relação muito mais saudável do que jamais vou ter com Jimmy, ele ainda assim nunca esteve lá por mim. É claro que eu compreendo que ele não sabia da minha existência, mas, sabe... - Gerard fez um som como se estivesse engasgando, ou algo parecido. - Ele não estava lá, Lily, ninguém estava, só você.

Virou-se, sem se importar de estar molhando-a, abraçou a cintura dela e deitou sua cabeça sobre as coxas dela.

- Então, Ian começou a falar sobre trocar meu sobrenome. Disse que o mais justo seria que meu sobrenome fosse Matherson, já que ele é meu pai biológico. Jimmy ficou furioso, e eu sei que foi apenas isso que o fez me mostrar aquela memória. Se tem algo que bruxos tradicionais prezam mais do que o sangue puro é o sobrenome, não é? Jimmy odeia o fato de que eu posso mudar meu sobrenome se quiser, porque para ele eu estarei desprezando o sobrenome da família, e isso é uma afronta para "os Way". - Gerard suspirou. - Quando meu avô materno percebeu que, ao casar suas filhas com outros bruxos, o sobrenome Way perderia muita força, ele apresentou Lindsey à um dos primos.

- Casar primos entre si é uma ótima maneira de manter um sobrenome e a pureza do sangue.

- Jimmy ficou transtornado com a possibilidade de um dos membros da família desprezasse o sobrenome. Essa foi a única razão pela qual ele me mostrou um dos raros momentos em que ele cuidou de mim, me acalmou, me fez dormir. E por mais que eu o odeie, eu tenho que admitir que foi um momento muito bonito. - Suspirou. - Eu não sei o que fazer agora. Eu não sei se mudo meu sobrenome ou se permaneço com ele, eu não sei se devo ter mais consideração com Jimmy depois dessa memória ou se tudo vai continuar do mesmo jeito de antes, eu só... Não sei. eu estou uma bagunça agora, dentro e fora.

- Eu não posso te dizer o que fazer - ela sussurrou, acariciando os cabelos molhados do garoto sobre seu colo.  - Você deve pensar muito sobre isso, manter a calma acima de tudo. E lembrar o que eu te prometi. Que estaria aqui para sempre, que sempre seria sua amiga, e o que eu jurei eu vou cumprir até o fim. - Inclinou-se e beijou os cabelos molhados do moreno, que sorriu levemente contra sua perna. - Agora que está chovendo, saiba que ainda teremos um ao outro. 

- Obrigado por ser "meu guarda-chuva" - ele sorriu, levantando a cabeça e lhe beijando. - Gosto quando você fala em metáforas, é bonitinho. - Ela permaneceu sorrindo, ele prendeu a respiração e mergulhou, seu corpo inteiro relaxou embaixo da água quente e sorriu, vendo-a bater lentamente as pernas dentro da água, sem esperar o que estava prestes a vir.

Agarrou-a pelos tornozelos a puxou para dentro da banheira, escutando o grito feminino assustado e logo depois a água caindo para fora da banheira. Voltou a superficie, para respirar e gargalhar do semblante histérico de Lilian. 

- GERARD VOCÊ FICOU LOUCO? - E gargalhou mais, quando num ataque de fúria a menina se jogou contra ele, tentando lhe bater.

- Ei, alguém pode nos ouvir. - Chiou, segurando os pulsos dela sem dificuldades. E ela suspirou, desistindo de tentar brigar. Primeiro porque não tinha força suficiente para se livrar de um aperto dele, e segundo porque... Não tinha a intensão de terminar aquilo tudo com uma briga quando na verdade o que ela realmente queria parecia ser o mesmo que ele.

- Vai mesmo - uma risadinha baixa foi ouvida, e Gerard revirou os olhos, não acreditando naquilo. Lilian ergueu o olhar, para ver Murta Que Geme sentada sobre a janela quebrada no alto do banheiro.

- Olá Murta. - Cumprimentou com um aceno, tentando não deixar transparente a vergonha que começava a sentir. Não estava nua e eles não estava fazendo nada restrito (naquele momento) mas ainda assim, qualquer um poderia notar as intenções do casal. Estavam sozinhos (ou pelo menos acharam que sim) no banheiro, a banheira estava cheia e estavam brincando, não demoraria nada para que algo acontecesse ali, bem, se Murta não tivesse chegado.

- Olá casal - a fantasma riu.

- Será que dá pra você sair daqui de uma vez? - Gerard virou a cabeça para encarar Murta sobre o ombro, com um olhar furioso no rosto. Pelo semblante da fantasminha, ela claramente havia ficado muito magoada, e não demoraria para que ela começasse a chorar.

- Desculpe por ele, Murta - Lily se apressou em dizer, antes que Murta começasse a chorar realmente ou gritar chamando atenção de algum monitor. - Mas sabe, ele não está numa situação muito confortável, se você pudesse dar uma licencinha... - Tentou ser o mais delicada que pode com aquele pedido, e torcia para que funcionasse.

- Certo - a fantasma desceu flutuando do alto, com um biquinho no rosto. - Mas vão embora, não quero ninguém se agarrando no meu banheiro! - Dizendo isso, a fantasma pulou dentro de um dos vasos sanitários, deixando os dois sozinhos.

- Eu odeio essa fantasma como nunca odiei um em toda minha vida - Gerard rosnou. 

- Você precisa se acalmar - ela sorriu apoiando-se na borda, vendo-o sair da banheira. 

- Isso é frustração sexual.

- Desculpa não ter mais ânimo para isso agora. - Ela fez bico, enquanto ele secava suas roupas com um feitiço. Gerard balançou a cabeça, vestindo-se.

- A culpa não é sua, é daquela coisa - lançou seu olhar mais rancoroso para o vaso que Murta usou para sair do banheiro. - De qualquer forma - suspirou, se aproximando da borda da banheira, aproximando seu rosto do dela com um sorriso malicioso. - Agora que estou livre da supervisão daquela enfermeira, eu não vou falhar com você. - Ela fechou os olhos, sentindo-o dar leves beijos em sua bochecha, e a ponta dos dedos dele embaixo de seu queixo. - Você também precisa relaxar, eu percebi isso, e vou fazer o meu melhor.

Ela riu quando ele se afastou e percebeu que estava na hora de sair da água.

 

- Precisamos acordá-la!

- Mas ela foi dormir tarde!

- Mesmo assim, é a família do namorado dela!

Lilian abriu os olhos, sua cabeça estava pesada e seu corpo dolorido. Suas pálpebras insistiam em se fechar, mesmo quando ela lutava para mantê-las abertas, e ela escutava sussurros de Aline e Hayley do outro lado da cortina da cama. Pudim não estava a vista, e a sensação incomoda que se instalou em seu peito a fez sentar, quase como um choque.

- Lilian... - Hay puxou a cortina, hesitante, e Lilian soube que algo estava muito errado naquela manhã. - Nós precisamos que você levante e leia isso. - Apontou para trás, onde Aline estava segurando um exemplar do Profeta Diário. O estômago de Lilian revirou, e ela sabia que não era fome.

- O que aconteceu? - Afastou as cobertas, puxando o jornal das mãos da amiga. E sentiu seu coração disparar quando, na primeira página, estava a foto de Jimmy. - Merlin... 

James Way havia sido assassinado naquela madrugada com indícios de tortura, e no canto da imagem o sinal das gêmeas. Era um sinal? Elas estavam prestes a atacá-los ou elas só queriam causar dor, matando alguém tão "próximo" como o pai adotivo de Gerard? E se elas começassem a atacar pessoas realmente queridas por eles dois?

Balançou a cabeça, abaixando o jornal. E Gerard já sabia daquilo? Ele estava tão diferente em relação ao Jimmy depois da memória, que ela não duvidava que ele se sentisse mal por aquela morte. Ela sentia-se mal por aquela morte.

Precisava vê-lo, logo.


Notas Finais


Obrigada por ler até aqui ^^
Beijooooooos :*


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