História Broken Heart - Comprometido ou envolvido?

As pessoas ainda estavam agitadas devido a guerra que tinha acabado de acontecer. Alguns estavam abalados, pois mesmo com a vitória, houve perdas.

O rei Ezekiel por exemplo, estava com um semblante pesaroso, olhando para os corpos dos soldados do Reino que haviam morrido em batalha. Entre os corpos também estava o da sua querida tigresa Shiva, que morreu ao salvá-lo de alguns errantes.

Carol, ao ver o rei tão abatido, aproximou-se para lhe dar consolo.

- No fundo talvez eu seja um tolo. - Falou ele quando a mulher o abraçou pelos ombros. - Tantos homens e mulheres morreram, e eu estou aqui chorando por uma tigresa.

- Não era uma tigresa... Era sua tigresa! - Falou ela acariciando os ombros dele.

- Quando eu a tirei do zoológico, ela estava sempre me salvando. Éramos só eu e ela... E tudo o que eu construí foi graças a ela. - Ezekiel comentou olhando para o corpo da tigresa. - Todos me respeitavam por ser o homem que possuía uma tigresa. - Falou soltando um riso sem humor, abanando a cabeça em negação, como se ainda não acreditasse que Shiva estava morta.

- Você sabe muito bem que não é por causa dela que te respeitam. - Carol falou comovida.

- Talvez... Mas eu sei que tudo começou por causa dela... - Ele disse com pesar. - E ela era a única no mundo que estava comigo sem esperar nada em troca, nem mesmo proteção.

Diante disso Carol se afastou um pouco dele para olhá-lo nos olhos.

- E eu? - Perguntou ela, com uma certa mágoa evidente na voz. - Eu por acaso não estou com você?

- Você quem deve me responder essa pergunta! - Disse ele olhando-a também.

- Depois de tudo o que eu fiz até agora você ainda duvida?

- Carol... Você é um mistério pra mim... Eu realmente não sei se você está envolvida comigo, ou está comprometida.

- E qual a diferença? - Perguntou ela de imediato, com uma certa indignação.

- Você já comeu bife a cavalo? - Perguntou Ezekiel e Carol abanou a cabeça com uma expressão incrédula, não entendendo o sentido daquela conversa. - Um filé grelhado, com um ovo estalado por cima dele...

- Eu sei o que é um bife a cavalo, mas o que isso tem a ver? - Carol interrompeu-o com impaciência.

- O bife a cavalo é um dos meus pratos preferidos... - Ezekiel continuou explicando. - Um prato simples e bem-feito... Apenas dois ingredientes principais, um ovo, e um filé. Nesse prato a galinha está envolvida, pois foi ela botou o ovo que está sobre a carne ... Já o boi, esse está comprometido, por que ele deu a vida pra que tenhamos o filé! - Falou e deu uma pequena pausa e respirou profundamente. - E então minha querida Carol, consegue entender a diferença entre estar comprometido, ou estar apenas envolvido?

Carol não sabia como responder. Entendia a diferença entre comprometimento e envolvimento, mas não sabia em qual dos dois ela se encaixava.

- Você lutou ao meu lado, e esteve comigo durante esse período difícil, mas e agora que a guerra acabou, você vai ficar? Você só me fez companhia, ou está realmente ao meu lado?

Carol ficou estática por alguns segundos, sem saber o que dizer.

Ela queria ficar ao lado de Ezekiel, queria estar comprometido, mas não sabia como dizer isso. Era como se tivesse “desaprendido” a falar. Antes ela era muito boa em dizer o que sentia... Mas a vida havia lhe ensinado a ser fria e pragmática... E agora ela sentia que precisava reaprender a ser sensível.

Se permitir estar apaixonada.

Apaixonada!? Então era isso... Ela estava apaixonada por Ezekiel e agora enxergava isso. Carol soltou um riso nervoso ao fazer essa constatação para si mesma.

- Do que está rindo? - Perguntou Ezekiel, um tanto confuso.

- Ezekiel... Eu estou com você! Se ainda me quiser do seu lado, eu quero ficar... Eu quero estar com você! - Disse ela por fim e ele sorriu.

- Então isso é um sim?

- Sim!

- O “sim” que eu ouvi várias vezes em sonho, mas nunca ouvi de você?

- Sim! - Disse ela com um pouco de impaciência, mas sem nenhum arrependimento.

Ezekiel pôs um fim a distância entre eles e a beijou profundamente. Mesmo ainda estando triste com suas perdas, Carol era para ele como uma torre forte em meio a uma ventania. Unindo suas forças com as de Carol, e principalmente unindo seus corações, Ezekiel sentia que poderia lutar em mil guerras, pois com ela ao seu lado, sempre seria um vencedor.

****

Daryl estava ansioso, já havia procurando por Beth entre o pessoal do Negan que havia vindo para a guerra, mas não a localizou. Temia que o pior pudesse ter ocorrido.

- Onde está ela? - Daryl perguntou para Emma, uma garota negra, muito bonita, que antes era do harém de Negan.

- Quem? - Emma perguntou, ficando momentaneamente confusa.

- A Beth... Onde está? - Perguntou ele novamente e a garota mudou do semblante confuso, para um semblante triste.

- O Negan deixou o corpo dela na fábrica... Eu vi de relance quando ele bateu nela com a Lucille... Eu sinto muito! - Respondeu ela e Daryl sentiu como se o seu chão tivesse sido tirado.

Beth estava morta...

Negan havia tirado dele o que havia de melhor em sua vida. Vários flashes se passaram pela memória de Daryl. O primeiro beijo deles, a primeira vez que fizeram amor, as brigas, as músicas que ela cantava... Tudo... Lembranças boas, que agora tinham um gosto amargo.

Beth estava morta!

E a culpa era de quem? Dele. Como ele diria para Maggie que perdeu Beth pela segunda vez? Ele não sabia! Como poderia viver com mais essa culpa? Como poderia continuar sem ela? Talvez não pudesse

Beth estava morta... E ele nem disse a ela que a amava.

Daryl extremamente triste e amargurado, não escondeu sua tristeza dos demais. Chorou. Rick, que ouviu quando Emma deu a notícia sobre Beth, também estava triste pela morte da garota. Ela era como uma irmã caçula para ele. Foi inevitável não sentir-se triste também.

- Eu sinto muito! - Falou ele para seu amigo, mas Daryl pareceu não ter ouvido. - Vamos para casa! - Falou ele, segurando Daryl pelos ombros para conduzi-lo, mas o arqueiro desviou.

- Não. - Falou o caçador com raiva. - Eu vou dar um fim nisso. Eu preciso!

- Daryl, vamos voltar pra casa...

- Rick, eu vou até aquela merda de fábrica agora! Eu vou achar o corpo dela... Eu já decidi... Você pode voltar pra casa se quiser, não precisa ir comigo... mas não vai me impedir de ir.

Rick ponderou por alguns segundos. Por mais que quisesse dizer a Daryl que era uma decisão arriscada ir para a fábrica, que provavelmente ainda estava cercada de errantes, ele também sabia como Daryl estava se sentindo. Quando Lori morreu ele sentiu a mesma coisa. Lembrava-se de que agiu de modo insano, entrando na prisão cheia de errantes, para encontrar o corpo da falecida esposa. Rick entendia que Daryl não pararia até encontrar Beth, ou o que ficou dela.

- Eu vou com você! - Falou ele, e Daryl apenas acenou afirmativamente sem nada a dizer.

Emma, a garota que havia contado sobre a morte de Beth, ouviu quando Daryl disse que voltaria a fábrica. Ela sentiu-se impelida a ajudar também, pois tinha muita simpatia pela garota desde que ela era enfermeira do santuário.

- Senhor Daryl... - Chamou ela. - Tenho uma informação que pode ajudá-los. - Disse ela, chamando a atenção do ex xerife e do arqueiro.

- O que quer? - Perguntou Daryl bruscamente e a garota encolheu-se um pouco assustada.

- O que tem a dizer? - Rick perguntou em um tom conciliador.

- Nós saímos da fábrica sem passar pelos errantes! - Disse ela. - Tem um túnel lá... Se quiserem posso levar vocês, assim não terão de passar pela horda. - Disse ela.

- Como vou saber se não é uma armadilha? - Rick perguntou.

- Eu jamais faria isso! - Falou a garota com indignação. - Ou vocês acham que eu me deitava com o Negan por amor? Eu não sou como ele. Fui tão vítima dessa situação quanto vocês. Mas se não querem minha ajuda...

- Tudo bem! Nos leve até lá!

Emma levou Rick Grimes, Daryl, Michonne, Paul e Rosita até a fábrica, o restante do grupo foi para o Reino, pois muitos precisavam de cuidados médicos.

O pequeno grupo não demorou a chegar nas proximidades da fábrica. Assim como a garota dissera, havia um túnel. Agora podiam entender como Negan e os Salvadores tinham saído da fábrica tão rápido. Eles tinham um plano de evacuação, e apenas os homens em quem Negan confiava mais, sabiam da existência daquele túnel.

Entraram na fábrica, e ela estava praticamente vazia, não fosse por algumas crianças e idosos que haviam ficado.. Podiam ouvir os grunhidos altos dos errantes que estavam do lado de fora.

Daryl tomou a frente, entrando em todas as salas e quartos, procurando pelo corpo de Beth. Não sabia se estava preparado para o que encontraria, porém tinha certeza de que precisava fazer isso. Não demorou muito e ele entrou em um escritório, e logo viu o corpo miúdo de Beth caído ao chão.

O arqueiro correu até ela, sentou-se no chão e segurou o corpo da garota em seu colo. A cabeça e as roupas dela estavam ensanguentadas. O rosto dela pálido, e o corpo gelado. Grossas lágrimas de pesar escorreram pelos olhos de Daryl.

- Porque fez isso comigo? - Murmurou ele. - Você prometeu que não morreria! - Falou entre o choro e abraçou a garota contra seu peito.

- Desculpa por ter falhado com você. - Disse ele. - Você merecia tudo de melhor... E eu não consegui te dar nada... Mas eu te amo... Amar você, era o que eu estava tentando fazer... Mas falhei.

Ele ainda chorava, quando sentiu a garota se mexendo em seus braços. Pensou que ela estava retornando como errante e preparou-se para pegar a faca, para dar um fim aquilo tudo.

- Daryl? - Perguntou ela com a voz rouca e começou a tossir.

- Beth você está...?  - Começou ele mas não conseguiu terminar a frase.

- Você não me abandonou. - Falou ela com um sorriso fraco.

- Beth! - Exclamou ele. - Eu nunca te deixaria!

O arqueiro a levantou no colo, e ela deitou a cabeça no peito dele e desmaiou novamente pois estava muito fraca. Ele correu pelos corredores da fábrica para encontrar o restante do grupo e não demorou muito para isso acontecer. Assim que viram Daryl aparecer com a garota nos braços, sentiram o peito apertar por ver aquela cena, porém conforme ele se aproximava, viram que Daryl sorria.

- Ela está viva! - Daryl falou surpreendendo e alegrando.

Beth estava viva, mas precisava urgentemente de cuidados. O grupo saiu da fábrica pelo mesmo túnel em que entrou.

Daryl estava muito preocupado com o bem-estar da garota em seus braços, porém quando sentia o coração dela batendo, e sentia a leve respiração dela contra o seu peito, ele se tranquilizava. Pela primeira vez na vida, Daryl tinha a convicção de que em breve tudo ficaria bem.