Além de chegar arranhado e esfolado em casa, Katsuki chegou com o rosto inchado e vermelho. Suas roupas estavam sujas e com leves imperfeições devido a queda. Mitsuki o viu chegar e estava prestes a perguntar o que houve quando ouviu os passos na escada e o som da porta batendo. Sequer era meio dia. O que ele estava fazendo em casa se estudava o dia inteiro? Mas ela o deixou em paz, mesmo ouvindo os sons vindos do quarto.
Katsuki Bakugou era uma pessoa explosiva, isso todos sabiam, mas incrivelmente organizada. Porém, o quarto que antes estava arrumado e limpo agora mais parecia que havia sido atingido por um furacão. A cama estava desorganizada, os livros no chão, papéis espalhados, posteres rasgados, objetos explodidos e a parede com rastros negros de explosão. A coberta caída ao pé da cama tinha uma pequena chama que se apagou quando ele jogou mais do tecido grosso por cima.
“Desde quando você é assim?” – perguntou a voz em sua cabeça. – “Desde quando se importa com os outros ou desde quando sente algo pelos outros?” – ele foi até o armário e bateu a testa na porta, como se fazer aquilo fosse ajudar a desaparecer com tudo. – “Esse não é você, Katsuki! Esse não é você!”
- Eu não consigo... – falou para si mesmo, aos poucos se ajoelhando, com as mãos em punho e a testa apoiadas na porta de madeira. – Por que eu não...? – interrompeu sua própria fala, tossindo e tentando engolir o choro. – Esse não sou eu... não sou.
Ele sentia um vazio. Não iria admitir pra ninguém, muito menos para Izuku, mas sentia um vazio. Não queria voltar à escola, não queria olhar no rosto de Midoriya, não queria olhar para Ochako, até porque, se o fizesse, sabia que não iria se controlar, sabia que ia deixar sair. “Tudo bem! Você não precisa mais ir. Não precisa mais ver ninguém. Afinal, ninguém se importa.”
Ouviu o som da batida na porta e olhou na direção dela. Não havia nada em seus olhos. Eram como duas órbitas vazias. Estava tão perdidamente apaixonado ao ponto de... ficar daquele jeito? De se perder?
- Katsuki, é a mamãe! Estou entrando!
Mitsuki entrou com um olhar de preocupação. Carregava o telefone na mão. Assim que o viu o loiro soube que o colégio havia ligado para ela. Soube que ela já sabia do incidente na sala de aula.
- Você quer conver...
- NÃO! – bradou ele, se levantando. – EU NÃO QUERO! EU QUERO FICAR SOZINHO!
- Katsuki...
- EU DISSE PRA ME DEIXAR!!! – ele arfou várias vezes, olhando para os pés da mãe. – Por favor... eu estou te implorando.
Mesmo assim ela se aproximou, colocou a mão no queixo dele e levantou seu rosto. Mitsuki sorria, deixando transparecer que não estava ali para julgá-lo, mas apoiá-lo em suas decisões. Queria o melhor para o filho.
- Está tudo bem, Katsu! Mamãe está aqui. – ela o abraçou e, em troca, recebeu um abraço agoniante. Ver seu filho se agarrar a ela com os olhos inundados e o rosto marcado pelas lágrimas a partiu ao meio. – Shh! Tudo bem, acalme-se. Você não precisa me contar, apenas saiba que pode vir a mim a qualquer momento, ok? – ele concordou com a cabeça, permanecendo ali, agarrado a ela.
Katsuki acabou dormindo o restante da tarde. Havia ficado sem gritar por quase seis horas, seu recorde pessoal. Acordou quando ouviu uma batida na porta. Não quis levantar. Ele colocou o travesseiro sobre o rosto e tentou dormir novamente, mas, sem sua autorização, a porta se abriu. Mitsuki entrou devagar, sentando-se na cama ao lado do filho.
- Está se sentindo melhor? – perguntou. A única resposta que recebeu foi uma negativa com a cabeça por debaixo do travesseiro. – Você quer conversar agora?
Houve uma pausa. O silêncio foi como um buraco negro que sugava emoções. Os olhos de Katsuki doíam, o peito também. Lentamente ele se sentou, colocando o travesseiro sobre as pernas. Seus olhos estavam vermelhos, as bochechas marcadas e o cabelo desgrenhado e baixo. Aquele não era o rapaz que Mitsuki conhecia, com aquele olhar abatido e ferido.
- Quero pedir transferência...
- Transferência? Katsuki, você estudou feito louco pra entrar na U.A. e... – ela parou quando ele sequer retrucou. – Talvez você... não queira ir em um médico ou...
- Eu não consigo voltar... não agora. Sei que parece... infantil, mas... se me deixar ficar em casa. Só por alguns dias.
- Quer faltar aula?
- Só... alguns dias... eu vi algo ruim, mãe. Preciso de uns dias pra colocar tudo em ordem de novo.
- Katsuki Bakugou se abalando por algo?
-Foi pelo Deku, mãe! – ele se levantou, irritado, mas sem aumentar o tom de voz. – Quando eu tomei coragem, quando eu decidi falar... lá estava ele com... ela... sorrindo e se beijando. E quando eu vi aquilo era como se tudo tivesse... era como se gritar não tivesse mais sentido, como se lutar não tivesse mais sentido, como se me tornar um herói não fizesse sentido, porque eu queria ser o número um dele. E agora... eu me sinto vazio. Eu sinto que... – o loiro inspirou fundo e então soltou o ar, se acalmando. – ...não tem mais significado continuar fazendo isso.
- Faça isso... – Mitsuki se levantou e segurou o rosto do filho entre as mãos. – ...por você. Pelas pessoas que quer salvar. Você é mais for...
- NÃO ADIANTA! Acha que eu não passei o dia inteiro repetindo isso? “Você é forte, você pode fazer isso, ele não vai te impedir, você não sente nada”, mas não adianta. Não some! Por favor, eu não peço mais nada. Eu não pedirei mais nada se me der um tempo a mais para pensar.
Novamente houve aquele silêncio entre os dois. Tudo o que se ouvia era a respiração pesada de Katsuki e o som dele fungando.
- Faça o que for melhor para você, meu anjo. Eu não posso forçá-lo a nada. Mas eu quero que me prometa algo.
- O quê?
- Se algo acontecer, se você sentir que realmente não está aguentando mais, por favor, fale pra mim.
Ela lhe deu um beijo na bochecha e se retirou, avisando que o jantar estava pronto.
“Eu posso conseguir a transferência. Eu ainda posso me tornar um herói. Eu já tenho a experiência da U.A. e muitos já viram do que sou capaz. Eu posso conseguir fácil. Mas... falta apenas quatro meses para acabar e as aulas já começaram, então não vale tanto a pena assim. Mas por que eu preciso voltar? Por que eu preciso encarar ele de novo? Por que eu só consigo... sentir esse vazio? Era tudo... apenas para ser o número um dele?”
- O que você vai fazer, Kacchan? – sussurrou para si mesmo.
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