História Broken Strings - Confundindo nomes

( Love Never Felt So Good – Michael Jackson ♪ )

Fazia algumas horas que Regina tinha alimentado Charlie, quando a companhia tocou naquela manhã de segunda feira. Regina deu uma olhada rápida em volta da sala, caminhou pelo tapete surrado, e imaginou que fosse sua vizinha idosa precisando de algum favor, vindo trazer mas alguma coisa para Charlie. Granny Lucas já havia trazido uma caixa de leite e um pacote de biscoitos, e a morena tentava adivinhar o que mais a idosa traria agora, afinal nem era a hora do almoço ainda. Regina abriu a porta com seu sorriso mais amistoso no rosto, que desapareceu imediatamente quando seu olhar se encontrou com o par de olhos verdes escuros a sua frente.

— Srta. Mills?

— Pois não. – Regina respondeu inconscientemente levando à mão a garganta.

Regina tinha reconhecido aquela mulher a sua frente, e se deu conta que ela era mais impressionante ao vivo do que na foto do jornal.  Era mais alta que maioria, das mulheres que conhecia os braços certamente definidos e a postura nada menos autoritária. O queixo severo, o rosto bem maquiado insinuava certa intranquilidade em sua personalidade, e os olhos não possuíam qualquer sinal de cordialidade.

— Eu imagino que saiba quem eu sou. – A voz era profunda e soava com certa aspereza.

 – Eu... er... sim. Acho que sei sim.

 O que mais poderia responder naquele momento, Regina não tinha ideia. Afinal o jornal com foto de Emma Swan ainda estava aberto em cima da mesinha de centro. No dia anterior, Regina murmurou para si mesma, inúmeras vezes que deveria jogar aquele jornal fora sempre que passava pela sala, mas por alguma razão sempre o deixava no mesmo lugar. E não sabia exatamente o porquê disso.

 – Acredito que aquela seja a filha do meu irmão. – A loira disse chamando a atenção de Regina.

— Eu... Sim, é isso mesmo. – As imagens das manchas escuras no corpinho de Charlie vieram a mente de Regina, ela entrou em pânico e seu coração acelerou de forma rápida.  Tinha que manter aquela mulher longe de sua sobrinha!

— Eu gostaria de ver a menina.

— Ela está dormindo nesse momento... – Regina soltou a frase no ar, esperando que a loira entendesse a indireta.

Mas não foi isso que aconteceu. Emma a olhou firme por algum tempo e, quando Regina começava a fechar a porta, Emma usou o pé para bloquear sua ação.

 – Talvez não tenha ouvido bem, Srta Mills. – O tom de voz da loira endureceu ainda mais quando os olhos verdes encontraram os castanhos. – Vim ver minha sobrinha. E não irei embora sem fazer isso.

Regina sabia que aquela mulher estava determinada e, afastou-se da porta, a encarou com frieza.

— Eu tive um grande trabalho para fazê-la dormir. E se você acorda-la eu vou ficar extremamente zangada.

Por favor, continue dormindo princesa, Regina pedia silenciosamente em seus pensamentos enquanto deixava Emma Swan entrar. A loira a olhou de cima em baixo. Quando os olhos de ambas se encontraram, os de Emma estavam cheio de desprezo.

— Neal me contou tudo sobre você.

 Regina ficou extremamente confusa. Ela nunca tinha conhecido o amante de sua irmã gêmea. Tudo que ela sabia era que o romance de Rhana e Neal tinha sido breve e explosivo, assim como todos os outros casos de sua irmã. Por um momento Regina entendeu o que estava acontecendo, Emma só podia estar pensando que...

— Ele me disse que você era um grande problema, mas eu não tinha ideia do quanto. – Emma continuou, vendo que a morena não dizia nada.

E Regina a continuou encarando por alguns instantes, imaginando se deveria esclarecer o engano e que Emma a confundira com sua irmã, mas no fim deixou tudo como estavam para saber quais eram as intenções de Emma. Afinal, não havia mal nenhum nisso. Só tinha que fingir ser sua irmã por alguns minutos e dizer a filha mais velha dos Nolan que tinha mudado de ideia. E assim que convencesse a loira que não tinha a menor intenção de entregar a “filha”, talvez àquela mulher fosse embora. Já tinha feito aquele tipo de coisa antes. Muitas foram às vezes que ficara no lugar de sua irmã para receber a punição que a mãe alterada tinha que aplicar. E se conseguia enganar a mãe facilmente, Emma Swan Nolan não moleza.

— As criticas do seu irmão são irônicas, considerando o comportamento dele. – Regina disse incisiva. A raiva coroeu Emma por dentro, seus olhos brilharam em tom ameaçador.

 – Como ousa difamar meu irmão morto? Regina ergueu o queixo.

— Ele não era nenhum santo. Estava envolvido com outra mulher quando concebeu nossa filha.

— Ele amava a noiva, e estava comprometido desde adolescência com Tâmara Davis. – Emma comentou rudemente. – Eles estavam juntos desde 14 anos de meu irmão. E você só estava interessada nele por causa do dinheiro da nossa família. Neal só tinha olhos para Tâmara. Acha mesmo que ele se casaria com uma mulherzinha do seu tipo? Uma oportunista que dormia com quase todo mundo de Boston?

 Regina ficou tensa e com muita raiva. Ela sabia que Rhana era um tanto promiscua, mas Emma Swan afirmava como se ela fosse uma prostituta, não a pessoa insegura emocionalmente instável que realmente era.

— Isso é ridículo de ser afirmar! – Regina retrucou. – Só porque uma mulher tem um apetite sexual maior, não significa que ela seja uma prostituta. Porque homens podem ter esse comportamento e mulheres não? Isso me soa machista da sua parte Srta Swan. Enxerga a realidade que vivemos, as mulheres possuem sexualidade própria e, nos dias de hoje, tem o mesmo direito que homens de expressá-las sem ouvir insultos.

 Os indecifráveis olhos verdes escureceram e, mais uma vez e examinou Regina dos pés a cabeça.

— Já que quer falar de direitos, precisamos conversar sobre a filha de Neal. E por mais que me aborreça o fato da menina ser uma Nolan, ela tem o direito de conhecer suas origens e saber quem era o pai dela.

 – Acho que essa decisão cabe somente a mim e não a você.

— Acredito não, Srta Mills. – A voz de Emma se tornou ameaçadoramente baixa. – Talvez não tenha percebido com quem esta lidando. Minha família jamais ira permitirá que uma mulher da sua laia crie alguém com seu sangue. E se não obedecer minhas ordens, farei de tudo para tirar a menina de você, para que não seja influenciada com sua falta de moralidade.

Nesse instante os olhos de Regina se arregalaram de medo. Ela não tinha duvidas sobre as ameaças de Emma. Poucas pessoas em Boston desconheciam a monumental riqueza da família Nolan. Com um exercito de bons advogados e uma total falta de escrúpulos, Emma Swan não hesitaria em fazer, o que tinha prometido poucos minutos atrás. Regina tentou manter a calma, e não se mostrar intimidada, mas nunca se sentira tão apavorada quanto naquele momento. Se Emma descobrisse que ela não era a mãe de Charlie, ela jamais poderia fazer nada para impedi-la de levar sua sobrinha para longe. Mas ela estava disposta a fazer tudo para que Emma não descobrisse. Reunindo toda a coragem que tinha, Regina ficou ereta diante da loira, os olhos castanhos emitindo um desafio.

 – Posso ser uma mulher de pouca moral como você diz Srta Swan, mas eu amo minha filha e não permitirei que uma riquinha mimada a tire de mim. Ela é um bebê. E bebês precisam das próprias mães.

Emma analisou a morena a sua frente novamente, notou a firme linha da boca, cicatriz sexy no lábio superior e o ângulo do queixo obstinado. E pela primeira vez entendeu porque seu irmão ficara tão tentando com aquela mulher. Ela era um pequeno demônio, era extramente atraente, tanto quanto os cabelos negros que contrastavam perfeitamente com a pele macia. E o corpo tinha voltado ao normal bem rápido, pensou Emma, já que tinha dado a luz há pouco tempo. Mas aquele ar inocente só servia de fachada para aquela mulherzinha ambiciosa que tinha revelado suas intenções ao fazer seu irmão cair na armadilha mais velha do mundo: uma gravidez.

— Sob outras circunstancias, eu concordaria com você Srta Mills. – A loira respondeu no mesmo tom. – Tendo sido criada por uma mulher maravilhosa, eu seria a ultima pessoa a sugerir que uma criança seja criada por outra pessoa, que não seja sua mãe. Só que seu histórico não me inspira confiança alguma. Como posso confiar em uma mulher que mandou uma carta para minha mãe dizendo que iria entregar a menina para adoção?

— Isso foi um erro, e uma atitude impensada, eu não estava pensando direito. – Regina se apressou em dizer.  – Não a menor intenção de abrir mão de minha filha, Charlotte é minha e ninguém... Ninguém mesmo... Ira tirar minha filha de mim.

( Lanterna dos afogados – Cássia Eller ♪ )

Sem dar qualquer aviso, Emma se aproximou invadindo o espaço pessoal da morena, e por ser mais alta uma sombra foi lançada sobre a figura menor de Regina. Ela se conteve para não recuar, mas foi difícil manter-se firme diante daquela mulher tão ameaçadora.

 – Eu devo ter me esquecido. – Emma disse com uma voz arrastada, pegando sua bolsa e pegando seu talão de cheques. – Eu devia saber que você faria seu showzinho para não parecer tão obvia. Diga-me seu preço. Quanto?

 Regina olhou para Emma atônita e sem acreditar no acabara de ouvir. A loira ergueu uma sobrancelha.

— Acredito que tudo se resume a isso, não?

— Eu não sei do que está falando. – Regina respondeu. A garganta repentinamente tinha ficado seca. Emma exibia um sorriso cínico ao mostrar o talão de cheques.

 – Pare com seu teatro Rhana. Sou uma mulher rica. Diga-me o seu preço. Emma estava surpresa por estar adorando aquele joguinho, sabendo que a qualquer momento a bela morena iria ceder à tentação que estava diante de seus olhos.

 – Meu verdadeiro nome é Regina. E eu não quero o seu maldito dinheiro. Desta vez Emma ergueu as duas sobrancelhas. A empresária ficou em silencio por alguns segundos, tentando entender o que a morena estava tramando.

 – Achei que seu nome fosse Rhana. Tenho certeza que meu irmão me disse Rhana. Ou isso era uma mentira também? Regina assumiu uma expressão facial pela qual sua irmã gêmea era bem famosa.

— Regina é meu verdadeiro nome, mas acho que Rhana soa mais sofisticado. – Examinou as mãos, imitando novamente a irmã, antes de erguer os olhos.

— Como conseguiu me encontrar Srta Swan?

— Só havia uma única Srta R. Mills na lista telefônica desse distrito.

 Regina entendeu na hora toda confusão. Como Rhana raramente pagava as próprias contas, e tinha ido morar com ela desde o nascimento de Charlotte, seu nome não constava na lista. Isso explicava o porquê de Emma a confundir com a irmã. Regina deixou escapar um pequeno suspiro de alivio. Tudo estava bem até momento.

 – Então Regina. – Emma pronunciou o nome dela de maneira bem sugestiva. – Se não está atrás do dinheiro de minha família, o que você quer?

 – Nada. E de repente do sorriso cínico estava lá de novo.

— Segundo a minha vasta experiência, mulheres como você sempre estão atrás de dinheiro, mesmo quando dizem ao contrário.

 – Então sua experiência deve ser bem limitada, pois posso lhe garantir que não quero e nem preciso do seu dinheiro.

 – Talvez não do meu, mas meu irmão deixou uma grande herança. Você teve uma filha com ele, o que significa que ela terá direito á essa herança quando tiver idade adequada.

 Regina engoliu em seco as coisas começavam a se complicar cada vez mais.

— Eu não estou interessada na herança de Neal Emma.

— Você acha mesmo que vou acreditar nisso? Eu posso ver claramente cifrões brilhando por trás dos seus olhos. – O olhar de Emma examinou a sala.

— Olhe para esse lugar! Isso aqui cheira a pobreza e negligência. Acha mesmo que deixarei a única filha de meu irmão ser criada nessa espelunca?

 Regina sentiu o orgulho invadi-la. – É o que posso pagar no momento. E minha casa é limpa e não falta o básico a minha filha.

 Emma deu uma risada. – No momento eu não duvido. Tenho certeza que você já deve ter algum pobre coitado na mira para seu próximo golpe. – Emma demonstrou um olhar de puro desgosto. – Você deve estar oferecendo algo muito especial por trás dessa pose inocente para alguém que aceite sustentar o bebê de outro homem.

 Regina sempre se considerou uma pessoa calma, Rhana quem sempre tivera um temperamento explosivo, e era ela quem costumava criar situações desagradáveis. Mas de alguma forma aquela loira estava a deixando com nervos a flor da pele, mesmo sabendo que insultos eram direcionados a sua irmã, ela sentia-se ultrajada.  

— E por acaso está se oferecendo para continuar de onde seu irmão parou Srta. Swan? – Perguntou Regina num tom de provocação. Os olhos de Emma brilhavam com um ódio tão intenso que desencorajou Regina.

— Agora entendi seu joguinho, Srta Mills. – Emma respondeu depois de um silêncio enervante.

— Eu só quero que saia da minha casa imediatamente. Você não está demonstrando nenhum interesse em minha so... filha. – Regina respirou fundo para disfarçar o deslize. – E se não sair agora, irei chamar a policia. Os olhos de ambas se enfrentaram por alguns segundos intermináveis, mas Regina foi primeira a desistir. – Por favor, saia Srta Swan. Eu não tenho nada a conversar com você.

— Não irei embora sem ver minha sobrinha. – O tom de voz determinado de Emma fez Regina erguer a cabeça. – Eu quero ver a filha de meu irmão.

( Ben – Michael Jackson ♪ )

Regina mordeu os lábios ao ver o quanto a loira lutava para manter as emoções sobre controle. E podia notar isso no tom de voz de Emma, na postura rígida, no brilho úmido dos olhos. Perguntava-se se a loira iria chorar ali bem na sua frente. A morena não esperava se deparar com sentimentos tão profundos vindos daquela mulher, e envergonhou-se por julga-la tão mal. Regina se lembrou de como Emma havia perdido o irmão em acidente trágico. E mesmo sabendo que Rhana tinha muitos defeitos, Regina ficaria muito abalada se estivesse na mesma situação.

 – Eu sinto muito. – A voz de Regina saiu desigual. Emma contorceu os lábios.

— Será que sente mesmo?

Regina não respondeu, apenas foi até o carrinho que estava próximo a janela. Sentia a presença de Emma atrás de si ao afastar a manta de Charlie para ela pudesse ver o rostinho da garotinha. Emma se aproximou, o braço acabou roçando em Regina ao se abaixar para ver a filha de seu irmão. A loira olhou a menina e ficou muito tempo sem falar nada. O silencio era tão grande que Regina podia ouvir Emma tentando controlar sua respiração, na tentativa de controlar suas emoções por ver a sobrinha pela primeira vez.

— Eu posso segurá-la por alguns minutos? O pedido de Emma fez o coração de Regina dar uma cambalhota dentro do peito. E se ela segurasse Charlotte de maneira errada e ela chorasse?

— Bem... Ela costuma estranhar... Então creio que não...

 – Por favor, eu terei cuidado. – O tom de entusiasmo na voz chamou a atenção de Regina. – Eu gostaria muito de segurar a filha de meu irmão. Ela é tudo que restou dele.

Regina se comoveu com o pedido da loira, ela ergueu a menina adormecida, embalando-a gentilmente antes de entrega-la a Emma. Ela viu milhares de emoções passando pelo rosto da loira enquanto ela apoiava o pequeno embrulhinho sobre o peito, o olhar pensativo ao admirar a perfeição do rosto de Charlotte.

 — Ela é... linda. – A voz de Emma era rouca e quebrada. Regina teve dificuldade de conter a própria emoção em sua voz.

— É sim. Os olhos de Emma encontraram os de Regina rapidamente.

— Como ela se chama? Regina abaixou um pouco o olhar, e olhou para a sobrinha.

— Charlotte.

— Charlotte. – Emma repetiu como se experimentasse dizer o nome da sobrinha. – Combina com ela.

Regina se surpreendeu ao ver a facilidade com que Emma segurava o bebê, uma das mãos a amparava enquanto a outra lhe explorava as feições, como se ela estivesse completamente maravilhada com a pequena. E Regina pensava se aquela mulher intolerante também era mãe, e que talvez entendesse o seu desespero de não querer se separa de Charlotte