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História Broken Toys - Bloody Town


Escrita por: Captain_B

Notas do Autor


Okaeri Minna San!
(Sim, eu vou-vos cumprimentar de um jeito diferente todos os caps... ou pelo menos até ficar sem criatividade)
Aqui está mais um cap, espero que gostem!

Capítulo 4 - Bloody Town


(Damond On)

Levei mais uma vez a cerveja aos lábios, sem a beber, só para manter as aparências. Há muito que tinha aprendido que ficar bêbado numa coisa destas não dava bom resultado. A rua estava cheia pessoas ao rubro, carros ilegais á espera de serem vendidos, traficantes, prostitutas e prostitutos, e alguns motoqueiros que iam correr. Eu amava este ambiente, o cheiro da gasolina, a musica alta, nem sei como é que consegui ficar longe disto durante dois meses!

-Então lindo estás aqui sozinho?

Uma rapariga loira feita á base de silicone sorria na minha direção. E como eu odeio miúdas feitas á base de silicone mandei-a ir pastar com a seguinte frase:

-Eu sou gay.- Bi mas ela não tinha que saber disso

-Sério? Que fofo…- Ela tentou alcançar o brinco e eu afastei-a e misturei-me no meio da multidão. Uma das coisas que preso é o meu espaço pessoal.

Varias putas estavam a “dançar” em cima dos capôs. Virei as costas desinteressado e parei para apreciar alguns carros que estavam expostos por ali. Rapidamente me fartei daquilo também. Qual não foi o meu espanto quando vi o Stalker do Luca ali no meio.

Ele parecia entediado e não parava de olhar em volta como se estivesse á espera de alguém. As pessoas á sua volta pareciam estar com uma estrema atenção para não chegarem muito perto, não as censuro, o Luca é bem conhecido por estas bandas.

Fiquei a observa-lo, a ver se alguém se aproximava dele. Eu até que achava que estava a correr bem, pelo menos até as suas orbes se fixarem fazendo com que todos os meus pelos se arrepiassem. Ele pode ser inútil em muitas coisas, mas ele sabe intimidar pessoas.

Ele continuou a fitar-me com as sobrancelhas erguidas como se esperasse uma resposta pelo facto de eu o estar a espiar. Ele fez um gesto para eu me aproximar ao que eu revirei os olhos e repeti o mesmo gesto para vir cá ele!

Ele revirou os olhos mas acabou por vir ter comigo.

-Olá Luca! Oque é que fazes aqui nesta bela Sexta? Sábado?

-Sábado, já passa da meia noite. E oque eu venho aqui fazer não te diz respeito.- Respondeu ele de mau humor.

-Vá lá Luca!- Pedi fazendo um pequeno beicinho.- Toda a gente sabe que tu trabalhas para a Máfia.

-E? Oque é que os assuntos da Máfia te interessam?- Perguntou com um bocejo.

-Dá sempre jeito saber como anda o submundo da cidade.

Ele deu uma risada irónica e cruzou os braços.

-E se eu te dissesse algo teria que te matar de seguida.- Ele parecia bem feliz com o pensamento de me matar.

Tch, eu sou associado de um informante, eu sei oque é que está a acontecer! Melhor que tu, seu soldado rasca que se arma em bom!

- Eu vim aqui para ver o R.R. Sabes? O melhor corredor da cidade.- Falei, desistindo de tirar alguma informação dele.

-Ui! Acho que alguém tem um fãn!

-Vai-te foder, Stalker!

Ele voltou a rir-se de forma irónica. Devido á luz, ou á falta dela, esta meio difícil ver a sua expressão, mas dava para ver as olheiras fundas e a cara de quem não dormia há dias.

Mas é o Luca. Vou-me preocupar porquê? Eu também não durmo e ninguém se preocupa comigo!

-A corrida vai começar.- Comentei, vento os participantes a  alinharem-se na partida.

Aproximamo-nos também da linha da partida.

-E até agora nenhum sinal do R.R.- Comentou ele.

Ele vem… eu sei que ele vem. Ele nunca falha. Comecei a procurar por ele, mas nenhum sinal.

Uma rapariga mulata foi para o meio da linha de partida. Ela sorriu para a plateia, na minha opinião ela já devia ter andado a fumar, e tirou a camisola ficando só com os micro shorts e com o sutiã vermelho rendado. Já vi melhores, mas o resto do pessoal foi á loucura com aquilo, menos o Luca! Esse parecia estar prestes a dormir.

-Meu, não acredito já nem consegues apreciar outras gajas que não sejam a Sarah!- Reclamei exasperado devido àquela reação.

-A única coisa que eu quero agora é a minha cama.- Resmungou.

-Pessoal!- Começou a mulata, falando para os concorrentes.- Assim que eu…

O burburinho da multidão cessou, assim como ela. Eu sorri, já sabendo oque era e senti uma adrenalina a subir-me pela espinha a cima. E então, como o mar vermelho fez para Moisés, a multidão afastou-se para dar passagem ao melhor corredor da cidade e arredores há pelo menos dezanove anos, sendo que fez uma pausa de seis anos, voltando depois com força total.

Escuso dizer que a multidão foi á loucura, assobiando e gritando por ele, e eu não me envergonho de dizer que eu fui um dos que gritou mais alto, mas sem nunca lhe tocarem. Ele é como uma lenda viva, toca-lo seria, no mínimo, profano.

Assim que ele passou por mim e pelo Luca, vi-o a por algo no bolço do motoqueiro que continuou como se nada tivesse acontecido, posicionando-se no seu lugar na linha de partida. Alguns concorrentes saíram de fininho. Na parte de trás do seu casaco de cabedal estavam as letras R.R a vermelho.

-E o último e inesperado concorrente é: Red Rider!- Gritou a Mulata seguido pelos gritos da multidão.

O organizador da corrida deu uma ultima volta pelas pessoas a recolher as apostas antes de fazer sinal á rapariga que iriam começar.

-Muito bem! Assim que a minha camisola tocar no chão, a partida irá começar!

Eles ligaram as motos. A única palavra para descrever o momento que veio a seguir é: Suspense. Até a multidão se tinha calado sendo o barulho do motor das motas o único som audível.

-Três! Dois! Um!- Ela largou a camisola.- Vão!

Mal ela tocou no chão os corredores meteram prego a fundo e aceleraram estrada fora.

-Nossa isto foi foda!- Olhei para o lado e vi que o Luca já não estava mais ali.- Tch!

Um pouco mais á frente vi que a mulata estava encostada a um poste com uma garrafa de bebida na mão. Ela olhou na minha direção analisando-me para depois piscar-me o olho.

Sorri de forma predatória e fui ter com ela.

 

(Taylor on)

Já passava das cinco da manhã quando finalmente arrumei a moto na garagem da oficina que eu tinha alugada. Escusado dizer que eu estava bêbado de sono.

Mas também, quem é que quer entregar uma carta na cidade vizinha a estas horas?! Porra meu! Pelo menos eles pagaram bem, muito bem! Só gostava de saber oque é que anda a acontecer para a máfia estar assim tão inquieta.

Arrumei o capacete e o casaco na mochila e saí da oficina/garagem, quase me esquecendo de trancar o portão. E agora eu tinha duas opções: Eu ia a penantes e levava vinte minutos a chegar a casa ou ia de autocarro que levava cinco. E é claro que eu escolhi a primeira, porque ia demorar uma meia hora para um autocarro passar e se sentasse, acabou, adormecia no lugar.

Nem cinco metros tinha andado, a minha mini bombinha vibrou. E já me subiram os calores, porque não estava com disposição de fazer outra entrega mas também não podia deixar a minha reputação descer! Agarrei no telemóvel rezando e, felizmente, era só bateria fraca.

Fui meio a andar, meio a correr até chegar á porra de minha casa. Abri o portão e dei a volta. O meu quarto ficava no primeiro andar, mas antes de ter saído tinha pendido uma corda do lado de fora da janela, para eu poder subir sem fazer barulho.

Quando saltei para dentro do meu quarto a primeira coisa que fiz foi arrumar o casaco, o capacete e o dinheiro nos seus respetivos lugares. A segunda foi mandar-me para cima da cama, vestido e tudo tal era o meu cansaço.

Já estava a cair na terra dos sonhos, oiço o meu outro telemóvel a tocar. Deixo tocar, mas a pessoa é persistente! Agarrei no telemóvel e atendi a chamada, pronto para mandar quem quer que me estivesse a ligar á merda.

-Vai á merda!- Rosnei.

-“Calma, Bee!”- A voz do Damond soou demasiado divertida para mim.- “Estavas a ter um sonho bom era? Um daqueles que faz o teu pau ficar…”

-Diz logo o que queres.- Pedi, demasiado cansado para discutir com ele.

-“Olha lá como é que falas! Não fui eu que cancelei os planos á ultima da hora!”

-Eu disse que tinha trabalho amanhã, por isso não pude ir.

-“Foda-se, abandonaste-me na mesma!”

Ele começou a falar sobre o Luca e sobre uma mulata, só sei que no meio dessa conversa toda devo ter adormecido por que quando voltei a abrir os olhos já era de dia e o Damond já tinha desligado a chamada.

 

            (Valentina On)

-Acorda bicha!- Chocalhei o idiota que quase babava ao meu lado.

-Cala-te King!- Resmungou ele, sem abrir os olhos.

-Quem és tu para me mandares calar?!

Ele bufou e virou-me as costas, encolhendo-se mais no sofá.

-A nossa seção já acabou. Não tenho a culpa que o idiota do director queira falar connosco.

-Se continuares a falar assim és despedido.

-E eu ralado.- Resmungou.

Revirei os olhos. Há pessoas que não sabem dar valor ao que têm!

-Quero todos os modelos encostados á parede agora!- A voz do diretor soou como um chicote e em menos de nada já estávamos todos alinhados na parede.

A tensão entre nós era palpável. Quando o diretor descia do seu escritório para a zona de trabalho era só para dar anúncios importantes ou para esculachar o orgulho de algum de alguém.

-A chefia virá nos visitar no final da primavera e irá escolher cinco dos melhores modelos para ir trabalhar para a cede da agência e terá a oportunidade de aparecer na revista especial de inverno, com direito a uma entrevista!- Ele bateu palmas como se fosse a coisa mais entusiasmante do mundo e alguns outros idiotas seguiram o exemplo dele.- Vão para casa e vemo-nos na segunda!

Como é que eles vão escolher cinco? No total há vinte e cinco modelos, dezasseis raparigas e nove rapazes! Um por um começamos a dirigirmos aos nossos balneários, mas quando eu estava quase a entrar o diretor voltou a chamar-me.

-Não penses que só por teres esses olhos violeta o lugar está garantido.- Ele baixou-se um pouco para poder sussurrar-me na orelha.- És uma das modelos mais baixas e pesadas que nós temos aqui, então faz algo quanto a essa barriga e depois falamos.

-Sim senhor.- Murmurei entrando finalmente nos balneários.

Lá todas elas me olharam de lado. Eu estava ciente que não tinha nenhuma amiga aqui, aliás, aqui ninguém é amigo de ninguém. Isto é a lei da selva, ou tu sobrevives, ou morres. Fácil. E já ando no limbo há um tempo, se eu der parte fraca, alguma destas arrombadas irá ficar com o meu lugar. E isso não posso permitir.

Respirei bem fundo antes de tirar a camisola. Nesse mesmo instante senti que todas as raparigas estavam a comentar o meu corpo. Olhei em volta. Elas estavam mais entretidas a conversar entre si do que na minha pessoa, mas mesmo assim não conseguia parar de me sentir julgada.

-Vocês deviam ter visto o gostoso que foi para a cama comigo! Bem melhor que o Taylor!- Uma mulata fala tão alto que parecia que tinha um megafone na boca.- Mas é claro que nós vamos sair de novo! Ele até me deu o numero dele!

Olhei em volta e vi uma das raparigas a roubar a carteira da outra que estava em cima do banco. Revirei os olhos perante a cena. Ainda bem que eu nunca trago nada para o estúdio.

-O quê? Mas é claro que eu vou ganhar! Ou o meu nome não é…

Ela foi contra mim quase me mandando contra o chão. Encarei-a com raiva enquanto me voltava a equilibrar.

-Ó Deslavada, vê lá por onde é que andas!- Ela deu um sorriso de escárnio na minha direção.

-Eu já estava aqui primeiro.- Falei usando a voz mais calma que tinha.- Tens muito espaço para passar.

-King, não é?- Ela olhou-me de cima a baixo.- Tch, se a concorrência for toda assim vou no festival de certo!

-Há cinco vagas, podes ir tu e mais quatro.

-Hã? Não querida, vou eu e cinco rapazes!- Ela pôs a mão na cintura, incrivelmente magra, e olhou para mim de cima já que era mais alta que eu.

Mas esta miúda é burra que nem uma porta! Vai ela e cinco rapazes? Sendo que só cinco vagas?!

-Isso é oque vamos ver.- Falei terminando de calçar as botas de salto alto e ficando finalmente á altura dela.

-Que os jogos comecem, cabra!- Rosnou ela.

 

            (Hector On)

-Mas volta rápido!

Sim, sim! Agora é todos os dias! Deve de achar que eu tenho ar de Azeiteiro! Faz a comida sem azeite! Não deve ficar assim tão diferente!

Fui até a mercerizaria, sem grandes percalços, só um ou dois ataques cardíacos, mas nada de grave. E quando cheguei á mercearia oque é que vejo? Que a porra da mercearia esta fechada para férias! Mas quem é que tira férias em Janeiro?! Quem?!

-Tá né, vou ter que ir á mercearia que fica lá no cú de Judas!

Mas a mercearia era longe p'ra caraças! Parei ao pé de uma rua secundária. Se eu for por aqui acho que poupo uns cinco minutos… E posso voltar ao jogo que deixei a meio… Entrei na rua secundária e comecei a caminhar em passos rápidos, quase correndo. A iluminação ali era muito má, pelo que tive de ligar a lanterna do telemóvel.

Saltei quando ouvi o som de uma garrafa a partir-se e fiquei estático tentando perceber de onde tinha vindo o som. Vi um vulto negro passar pelo canto do olho e me virei logo nessa direção. Todo eu tremia e só faltava mais um pouco para me borrar.

Ouvi o som dos caixotes do lixo a mexerem atrás de mim. Dei meia pirueta no ar e apontei a lanterna do telemóvel para lá. Estava tudo quieto sem nenhuma anomalia.

-É melhor eu bazar antes que…- E então o caixote do meio mexeu-se.

Suprimi um grito. O caixote abanava com cada vez mais violência até que tomba. Estava muito escuro mas aparentemente não estava lá nada.

-Estranho..- Murmurei.

Mal-acabei de dizer essa palavra a luz da lanterna incidiu em dois grandes olhos amarelos e um gato que antes estava camuflado devido á sua pelagem escura saltou de dentro do caixote a rosnar com uma ratazana na boca.

 O meu coração acelerou de tal forma que não sei como é que não tive um ataque cardíaco ali mesmo. Dei um berro e comecei a correr pelas ruelas sem ter a mínima noção para onde ia. Só sei que me queria afastar daquele demónio com pelo.

Quando dei por mim já estava a sei lá quantas ruas longe do demónio e longe da mercearia! Ainda por cima deixei o telemóvel cair enquanto fugia! Como é que eu vou explicar isso á minha mãe?!

Respirei fundo com a mão no peito, a recuperar do susto. A iluminação ali já era um pouco melhor do que a da outra rua. E agora como é que saio daqui?! Não faço ideia de onde estou!

Andei um pouco ás voltas naquela rua a ver se encontrava alguma indicação de onde estava. Até me passou pela cabeça bater em uma das portas para receber informações, mas as casas e o próprio estado da rua, anunciavam que este local não era muito amistoso.

Antes que eu tomasse alguma decisão ouvi passos se aproximando. Como já referi, o local não me parecia amistoso e as pessoas que ali passavam deviam ser ainda menos. Olhei em volta em pânico á procura de algum lugar para me esconder. O único lugar era umas caixas de cartão perto das lixeiras. Entrei dentro de uma delas, agradecendo aos meus meros um metro e cinquenta de altura.

-Eu nunca me diverti tanto na minha vida!- O meu coração falhou um compasso pois por milésimos de segundos é que eles não me apanharam.

-Viste a cara deles quando começamos a empalá-los!- Empalar?!- Isso sim foi diversão! Eles não paravam de gritar! Pareciam porcos!- Ouvi algumas risadas.

-Acho que eles vão entender que desta vez viemos para ficar!- Falou uma terceira voz

Os passos foram-se afastando. Eu fiquei ainda uns bons minutos paralisado dentro da caixa. Não acredito que acabei de ouvir três assassinos. Nha! Foda-se! Sai de dentro da caixa e desatei a correr por onde tinha vindo. Esta merda já está a ficar demasiado estranha! Entre gatos assassinos e pessoas assassinas eu prefiro o gato!

 

            (Sarah On)

A pontinha da minha cauda não parava de abanar. Já com um nervoso miudinho por ver aquela parte do corpo a mexer-se sem o meu comando, espalmei-a contra o estofo da espreguiçadeira do consultório.

-Mas tu estás a dar uma de cão?- Perguntou o Leo sentado por de trás da secretária.

-É frustrante!- Rosnei quando a senti a tentar se mover.

Ele sorriu e sentou-se ao meu lado. Deu-me um beijo estalado na bochecha e abraçou-me fazendo uma leve massagem nos meus ombros. Eu suspirei e absorvi o seu cheiro natural. Era bem diferente do Luca, não menos agradável, mas diferente.

-Como vai a escola?

-Já foi pior.- Brinquei um pouco com os botões da sua camisa.- Como vai o namoro?

-Uma merda.- Não consegui conter o riso.- Estás-te a rir de quê?

-Vocês humanos são muito complicados.

-Tu és humana!- Retorquiu 

-Nem me tentes comparar a essa espécie asquerosa!- Rosnei.

Ele afastou-nos um pouco para nos olhar-mos nos olhos.

-Já falámos sobre isso.- Os seus olhos vermelhos ardiam em fogo brando transparecendo algo parecido com compaixão.

-Nada vai fazer com que eu perdoe a espécie humana! Espécie que se mata a si própria por prazer, levando consigo outras raças inocentes! Saber que fui criada como arma para uma das guerras inúteis dos humanos não deixa que eu os perdoe.- Rosnei, sendo verdadeira em todas as palavras.

O relógio começou a apitar anunciando o fim da nossa seção. Ele suspirou e escondeu a cara na curva do meu pescoço. Sorri, perante aquele momento de fraqueza. Passei os dedos pelos cabelos azuis turquesa notando que as raízes escuras já estavam a aparecer.

-Tu és tão quentinha.- Fungou ele.- Acho que vou ficar assim até ser a minha hora de saída.

-Não é boa ideia.- Rebati.

-Porque não? Quem é que diz que não posso ficar abraçado á minha enteada?

-Eu tenho que ir para casa Leo.- Falei afastando-o de mim.

-Vais sozinha?- Afirmei com a cabeça.- Tch! O teu pai é um desnaturado! Não queres esperar e eu levo-te a casa?

-Não Leo.- Vesti a capa que me chegava até aos joelhos puxando o capuz para cima.- E deixa o meu pai em paz, ele já perdeu dez anos da sua vida por minha causa!

-Como queiras, mas tem cuidado a noite na cidade é perigosa.

-Ainda estou para encontrar algo mais perigoso que eu.- Sorri de lado mostrando de leve as minhas presas.- Até mais Leo!

Saltei diretamente da janela, já que era um resto chão. Lá fora uma pequena neblina bem comum para uma cidade costeira. Fui andando seguindo sempre as ruas principais e ignorando o frio que se fazia sentir.

A certa altura do percurso já a poucas ruas de casa, ouvi um grito de uma mulher vindo de algum lugar. Fiquei alerta e a olhar para os lados. Suspirei de alivio, era só uma mulher qualquer a brincar com o namorado.

Antes de ter tempo para recuperar um grupo de homens vindos de uma rua lateral chocou contra mim. No momento em que eles chocaram contra mim eu senti um cheiro bem familiar algo que me transportava para o meu lado mais primitivo.

“Sangue fresco!” Ela parecia demasiado animada com a ideia. “Há um brinquedo aqui perto!”

E depois o Leo diz que eu sou maluca por ficar preocupada quando ela chama o Luca de brinquedo. Olhei em volta a ver se encontrava os homens que tinham chocado contra mim, mas nada deles.

“Vamos Sarah! Eu quero brincar!” Ela não tentou tomar o controlo, mas estava bem animada.

Os meus caninos reagiram ao seu instinto predador e começaram a alongar-se assim como as garras. Meio contrariada virei para rua de onde os homens tinham saído e fui seguindo o cheiro de sangue.

“Boa! Vamos brincar!” Se ela tivesse forma física, de certeza que estaria aos saltos.

 “Nem penses! Vamos ver o que aconteceu.” Rosnei para ela.

Ela riu. Até seria normal se o seu riso não fosse infantil e deixasse tudo mais assustador.

“A curiosidade matou o gato.” Brincou ela, mas rapidamente se corrigiu. “Embora seja difícil alguém me conseguir matar.”

Ela permaneceu em silencio, enquanto eu continuava a emaranhar-me no labirinto de ruas e ruelas.

“Estamos perto” Comentou ela. Também já tinha notado e pela intensidade do cheiro não era só um pequeno ferimento.

Fui-me aproximando, sem grandes medos afinal os autores do crime já tinham desaparecido e o que quer que tivesse acontecido, já aconteceu.

Virei a esquina e estaquei no lugar. Não por medo, mas para admirar a capacidade dos humanos expressarem oque têm de pior. Até ela parecia um pouco chocada.

Vários corpos empalados e deixados lá como se de decorações se tratassem. Cada um deles mais ferido que o outro e pareciam que tinham sido torturados. Alguns cães vadios, descarnados e sujos, andavam envolta dos cadáveres ora mordendo, ora lambendo o sangue que ainda escorria. Não os culpo, mas os corpos são provas importantes.

Assobiei por entre os dentes. Todos eles viraram os focinhos para mim e eu rosnei, bem de leve. Todos eles meteram o rabo entre as pernas e fugiram, demonstrando que sabiam da presença de um predador mais forte, ou seja: Eu.

Fui passando pelo meio daquelas “decorações”, tentando não pensar muito sobre isso, pois corria o risco de ser consumida pela raiva e dela tomar o controlo. Mas ouve uma em que eu tive que parar.

Era u ma rapariga, com não mais que dez anos, pele negra, cabelos negros cacheados, um vestido cor de rosa e os olhos verdes mais lindos que eu alguma vez vi.

“Pena que ela esteja morta… Ela daria um belo brinquedo.“ Suspirou ela.

Suspirei desconcertada e virei-me para sair da rua deixando aquele rasto de destruição para trás. Agarrei no telemóvel e digitei o numero do Leo:

-“Sarah?”

-Leo eu posso ou não ter encontrado um monte de cadáveres…

 

(Lily on)

Puxei a gola para que essa me cobrisse a boca e continuei o meu caminho para casa. Os sacos com as compras estavam mais pesados do que deviam e a minha carteira bem mais leve também.

-Tenho mesmo que arranjar um trabalho, senão não conseguimos nem chegar a Dezembro.- Lamentei-me em voz baixa.

As coisas não andam fáceis, o dinheiro não estica. Vivemos de mês a mês e o dinheiro que a minha tia andou a juntar para pagar as aulas de arte já está no fim.

Continuei a andar perdida em meus pensamentos, até que o som de sirenes e de um cheiro bem estranho me acordou e fez-me olhar em volta, constatando que estava perdida.

A minha vontade era de me sentar no chão e abrir o berreiro ali mesmo. PORQUE É QUE EU ESTOU SEMPRE A PERDER-ME?! Deve ser uma indireta da vida para mim! Nem bateria no telemóvel tenho… ‘tou tão lixada!

Ainda por cima estava em uma ruela, sem qualquer tipo de indicação para onde eu poderia ir.

Voltei a notar o cheiro esquisito no ar. Era um cheiro desagradável, mas de certa forma sabia que já o tinha sentido. Tentei forçar a minha memória, mas só consegui me lembrar de alguns vultos e de uma enorme sensação de terror.

Continuei a andar pela rua aproximando-me das sirenes, mas antes de virar a esquina uma pessoa tapou-me a boca e começou a puxar-me dali.

De repente todas as noticias relacionadas a estupro e a assassinatos passaram pela minha memória. O meu coração acelerou feito louco e eu comecei a debater-me com todas as minhas forças para me soltar.

Ele resmungou algo que eu não compreendi tal era o meu nervosismo. Os meus pés a deixaram de tocar no chão. Era impossível, ele era demasiado forte. Fechei os olhos e nem tentei conter as lágrimas.

-Tch! Para quê tanto desespero?!- Resmungou ele.- Se eu te quisesse fazer mal não seriam as tuas lágrimas que me iriam comover.

Olhei para cima e encontrei os olhos azuis quase tão escuros quanto o céu.

-Damond…

-É o meu nome de facto.- Resmungou ele.

Limpei as lágrimas com as costas da mão e quando o voltei a encarar ele estava a acender um cigarro.

-Não sabia que fumavas.- Comentei, torcendo o nariz por causa do cheiro.

-Agora já sabes.- Respondeu mandando o fumo para cima.

-Porque é que me puxaste?

-Porque tu não tinhas de ver oque aconteceu.

-Mas oque é que aconteceu? Deve ter sido grave para a policia estar lá.

-Vais saber amanhã no jornal.

-Damond!- Inconscientemente comecei a fazer beicinho.

Ele suspirou e deu outro trago no cigarro.

-Tu não tens estomago para aguentar aquilo.- Ele soltou o fumo.

-Diz logo, Damond!

-Assassinato colectivo. Pelo menos dez pessoas foram mortas.

O sangue fugiu-me da cara. As minhas mãos começaram a tremer.

-Eu não estava á espera disso… Como é que tu podes estar tão calmo?

-Pessoas morrem a toda a hora. É cruel mas é a verdade.- O olhar dele suavizou um pouco.- Tudo bem? Estás super pálida.

É claro que eu não estou bem! Ele mandou o cigarro para o chão e apagou-o pisando-o. O Damond pôs as mãos nos bolsos do casaco e fitou-me, fazendo com eu corasse e desviasse o olhar.

-Qualquer das maneiras, tenta não sair á noite, ou ir para ruelas como estas.

-Hum? Mas porquê tudo isso? Esta cidade sempre foi violenta.- Comentei.

-Tenho a sensação de que não vai parar por aqui.- Murmurou.- Eram homens da máfia, quem quer que tenha feito aquilo, fez com o intuito de dar um aviso.

Ficamos em silencio durante um pouco. Eu continuava magoada com ele, afinal nem me pediu desculpas por me ter arrastado daquela maneira!

-Anda vamos embora, quando mais rápido estiveres em casa melhor.- Falou passando um braço sobre os meus ombros.

 

(Luca On)

Fazia puta ideia de onde estava. A única luz que havia provinha de umas velas espalhadas pelo quarto. Sim porque eu estava num quarto, um quarto que nunca tinha visto na vida e com uma cama de dossel gigantesca. Todos os outros detalhes estavam desfocados. Era obvio que isto era um sonho, faço parte da pequena percentagem de população que sabe quando está a sonhar.

Continuava bem confuso em relação a tudo isto, isto até ver um movimento na cama. Onde antes não estava ninguém, está agora a Sarah. Ela estava ajoelhada no centro da cama, só com uma camisa de dormir, que quase não cobria nada, preta rendada com um laço dourado na cintura. Os cabelos castanhos-escuros meio ondulados caiam sobre um dos ombros deixando o outro exposto. Os lábios estavam meio abertos, evidenciando a respiração ofegante, e as bochechas estavam coradas. Ela era a sensualidade encarnada!

-Luca…- O meu nome saiu arrastado pelos lábios avermelhados.

“Fudeu!” Pensei sentindo o meu amiguinho lá de baixo a pulsar feito.

Subi em cima da cama e também me ajoelhei em frente a ela. Ela desviou os olhos fazendo-me perder a bela visão dos seus olhos dourados. Ergui-lhe o maxilar fazendo-a encara-me.

-Non farlo, principessa.- Murmurei antes de colar os nossos lábios.

Ela pôs os braços á volta do meu pescoço automaticamente e começou a soltar pequenos suspiros á medida que o beijo se ia intensificando. Ela subiu para o meu colo juntando nossas intimidades e começou a se remexer aumentando a fricção. Gemi baixo e passei a beijar o seu pescoço. Agora sim eu entendia o quanto umas calças podem ser desconfortáveis.

 Mas do nada comecei a ouvir alguém a estalar os dedos ao meus ouvidos. Olhei para trás e não estava lá ninguém, mas a porra do som continuava...

Abri um dos olhos e fitei uma das várias empregadas da mansão. Ela sorriu acenou.

-“O Mestre convocou-o”.- Ela falou em linguagem gestual.

-“Ok, diz-lhe que eu vou em cinco minutos”.- Respondi também usando linguagem gestual.

Ela olhou para baixo e tapou a boca com a mão numa tentativa falha de conter o riso. Também olhei para baixo e percebi o motivo do riso. Durante o sono eu deveria ter afastado os cobertores pelo que agora estava só de boxer que nada fazia para esconder a minha ereção. Tapei-me com os cobertores e lancei um olhar irritado para ela:

-“Não contes sobre isto a ninguém”!

Ela acenou afirmativamente mas não parou de sorrir até sair do quarto.

Suspirei e voltei a destapar-me vendo o enorme problema que tinha entre as pernas.

-Dava-me um jeitão que tu broxasses quando eu quisesse.- Levantei-me com alguma dificuldade e fui até ao chuveiro.- É nestas alturas enque eu gostava de ter nascido rapariga.

Cinco minutos depois já prontamente vestido e com o meu companheiro lá de baixo estar bem mais calmo, bati á porta do escritório do Chefe.

-Entra Lupo!- Entrei devagar no escritório.

Este era um dos espaços mais luxuosos da mansão, afinal é preciso intimidar os inimigos. Tudo ali era ao estilo barroco. Dês do papel de paredes que era um creme bem claro até a todos os mínimos detalhes a folha de ouro, como as estantes, a secretária, os rebordos da lareira e o candelabro.

Atrás da secretária estava o Chefe, um homem quase nos seus sessenta anos, com o cabelo rente e com um bigode de fazer inveja a muitos. Atrás dele estava o Salvador e no lado oposto estava o Cédric, cuja tensão era apalpável.

-Estás atrasado cão!- Rosnou o Salvador que estava de pé ao lado do Chefe.

-Já disse que para ti é senhor lobo mau!- Rosnei de volta

-Então rapazes?!- O Chefe olhou por cima dos óculos.- Não quero lutas internas, ouviram? Já me basta o caos lá fora…. Lupo, anda cá.

Aproximei-me da secretária e fiquei em frente a ele.

-Dá-me o relatório das tuas ultimas missões.- Pediu.

-Nada de diferente no cais os movimentos continuam a correr normalmente. O nosso informante diz que está tudo calmo na policia e todas as nossas bases estão bem protegidas, sem nenhum tipo de anomalia.- Pode parecer pouca coisa mas eu faltei dois dias á escola por causa disso.

-E tu Cédric?- O Dom continuava com os olhos presos nos papeis.

-Nada de anormal, senhor!- Falou ele tenso.- Nenhum dos soldados viu algo suspeito, sem vestígio das nove pessoas que desapareceram. Um deles disse que esse grupo estava a planear trair a Família!

-Lupo, cancela as buscas, já os encontramos.- Pelo ar dele não aconteceu coisa boa.

-Sim onde é que eles estão?- Preguntou o Cédric na sua inocência.

-Mortos.- Respondeu ele com a voz gelada e mandou o documento para perto de mim.- Foram encontrados esta noite por um dos nossos batedores.

-Mas aqui diz que foram encontrados dez corpos.- Comentei ao ler o ficheiro.

-Um deles era de uma rapariguinha, essa não era nossa.- Ele alisou o bigode.- Pode ser uma pista… ou pode ser que não seja ninguém. Mandaste a carta para a Família Sillas?

-Sim, eles ainda não responderam.- Respondi.

-Bom.- Alguém bateu á porta.- Entre!

Um homem nos vinte e poucos anos, gordo e com o cabelo pintado de verde entrou no escritório. Este é o Liam, o hacker da Família.

-Chefe, um dos nossos batedores viu uma rapariga a sair do local do crime e tirou-lhe uma foto.- Ele olhou para mim e piscou-me o olho.

Eu dei um meio sorriso, mas logo voltei ao olhar sério quando o chefe voltou a encararmos. Ele nem sequer olhou para a fotografia distribuindo logo as ordens.

-Bom. Diz a todos os soldados para procurarem por essa rapariga e para ligarem ao Salvador assim que o fizerem.- Ele olhou para o Salvador.- Eu quero-a VIVA! Com todos os pedaços do corpo! Estamos entendidos?! É só para interrogatório! E quero-a aqui o mais rápido possível!

-Sim senhor!- Aquilo não foi muito convincente, ele sempre magoava as pessoas.

 -Estão dispensados!  


Notas Finais


"Penantes" é uma expressão que significa ir a pé, ir pelos próprios pés.
Agora é o inicio do arco, então... yah.
Se tiverem gostado, favoritem, compartilhem e comentem oque acharam, volto a reforçar que é muito importante vcs comentarem.
Depois dessas palavras, que mais se parecem com um fim de video do youtube, desejo-vos um resto de bom dia e vê-mo-nos domingo!


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