História Brother - Piloto

Capítulo um — Piloto.

Lissy Bass

As pessoas costumavam dizer que o despertador eram os nossos piores inimigos.

Eu não desconfiava dessa hipótese.

Relutantemente levantei, desejando ainda estar na minha cama a cada passo que eu dava até o banheiro. Eu tinha apenas alguns minutos antes do meu irmão, Josh, chamar-me para ir à escola. Rapidamente fiz minhas higienes e então vesti uma calça jeans e uma blusa branca, junto do tênis da mesma cor. Eu não era muito fã de coisas coloridas e, principalmente na escola, eu não me importava como estava vestida. Era a escola, não um baile ou um shopping.

— Bom dia, filha. — Papai desejou-me enquanto me via descer as escadas.

— Bom dia. — o respondi com calma.

Peguei uma maçã e então segui Josh até seu carro. Nós não éramos de conversar. Eu e ele tínhamos dezoito anos, mas ele agia como um adulto em sua meia idade. Mesmo assim, ele era um ótimo irmão.

Assim que cheguei à escola, neguei toda aquela agitação de recomeço de aula. O verão tinha acabado e agora estávamos no fim do semestre. Eu não era uma grande fã do ensino médio, mas eu tinha grandes amigos e uma pequena popularidade que me fazia pensar que frequentar esse lugar não era tão ruim assim.

Falando nos meus amigos, eu os via um pouco distante, perto do refeitório. Josh disse algo como "não te conheço", e então foi em direção à sua turma. Redirecionei-me à minha.

— Olha só quem apareceu para alegrar meu dia. — Ryan brincou. Lhe lancei um sorriso cínico.

— Bom dia, galera.

— Bom dia. — todos responderam em uníssono.

Menos Justin.

Minha turma era composta por Chaz, Ryan, Josua, Lauren, Ayleen, Megan e Justin.

Minha relação com Justin era diferente dos demais. Todos aqui se conhecem desde pequenos e moramos no mesmo bairro a anos, e Justin sempre fora o meu vizinho. Ele e eu tínhamos uma ligação mais forte que as outras amizades, e eu sempre entendera seu jeito durão e irrevogável de ser, porém ultimamente ele andava muito mais afastado, fazendo coisas que nem todos aprovavam, agindo estranho. Eu entendia que em sua casa ele passava por diversos problemas, mas ele não precisava se perder no mundo sujo toda vez que procurasse encontrar uma solução para tais.

Por fim, eu percebi que Justin realmente não iria responder ao meu bom dia e, eu era a única que ainda esperava que ele respondesse. Todos já tinham se acostumado com a personalidade de Justin, porém eu me negava acreditar que aquilo era definitivo.

Eu sentia tanto sua falta que nem percebi o quanto o encarava. Era o único momento do dia que eu o via, já que ele andava afastado de todos nós.

— O que foi, Liss? — Justin perguntou aparentemente irritado.

Engoli seco. Ele nunca mais tinha se dirigido a mim.

— Você anda meio exaltado ultimamente em, Justin. — Ryan comentou em um tom brincalhão, mas Justin não aprovou. —, Relaxa, cara. — Disse ao amigo.

— Não se mete, Butler! — Justin retrucou.

— Vem, aula de biologia agora. — Chaz passou seu braço sobre meus ombros e quebrou toda a tensão que se instalava entre mim, Justin e o resto do pessoal que assistia.

Na verdade, eu simplesmente desejava dizer tanta coisa àquele garoto e no fim, socar sua cara, somente para aprender que nós nos importávamos e amávamos ele. Estávamos ali, e ele era um completo ingrato! Todos sabiam que a qualquer momento nós dois poderíamos acabar brigando por que sempre fomos os mais agressivos da turma, e eu já estava me segurando a um bom tempo para que isso não acontecesse.

Mas que ele merecia, sim. Justin merecia.

Concentrei-me na aula, e deixei que o tempo passasse diante da voz do professor e sua explicação sobre a vida marinha. Uma aula completamente desinteressante.

— Ontem eu fui lá na casa do Justin. — Chaz iniciou uma conversa.

— Ele estava lá? — Perguntei incrédula e irônica. Justin não parava em casa, e eu não esperava que a resposta de Chaz fosse positiva. Eu já estava acostumada a ver meus amigos decepcionados com Justin.

— Sim, ele estava. Na verdade, ele estava muito mal, Liss. Ele me disse que foi por que o carro dele quebrou e Pattie não iria pagar o concerto por causa do mal comportamento dele... — Franzi o cenho, desconfiando totalmente do que ouvia. —, Não sei não, Liss, eu não acredito que isso deixaria ele como estava. Tem algo que ele não está nos contando. — Chaz dizia tudo com mágoa em seu tom de voz.

Chaz era um garoto incrível, e o melhor amigo que alguém poderia ter. Justin era um completo filho da puta por estar agindo daquela maneira. Poderíamos ajuda-lo em qualquer coisa e, ao invés de deixar, ele apenas fechava a porta na nossa cara todas as vezes. E nem se quer entendíamos o motivo de sua revolta de uma hora para outra.

Eu não fui capaz de respondê-lo. Eu estava irritada demais com Justin para dizer algo ao seu favor, mas não queria xingá-lo. Eu precisava me controlar.

Para a sorte de todos, as primeiras aulas passaram rapidamente e então fomos para o almoço. Eu, Lauren e Megan, tínhamos acabado de sair da sala e então iríamos juntas para a quadra de basquete, onde sempre almoçamos.

Ryan fazia piadas toscas como sempre, e Josua conversava com sua namorada Aly, que era líder de torcida. Na hora do almoço algumas pessoas se juntavam à nós. Nosso grupo sempre fora adorado pelos outros. Sempre tínhamos uma boa conversa, e o fato dos meninos serem do time de futebol, sempre atraia algumas meninas que nos traziam risadas pelo resto do intervalo. Acredite, elas conseguem ser ridículas dando em cima dos garotos em menos de meia hora.

A única líder que salvava era a namorada de Josua. O resto não se dava nenhum respeito e deixavam isso bem claro.

Percebi que Justin não havia se juntado a nós. Tateei todo o local com os olhos, mas nada. Ele simplesmente não estava ali.

— Acredito que você se sinta pior que nós. — Lauren comentou, dando-me um leve susto por estar entretida procurando por Justin. Tentei me fazer de desentendida franzindo o cenho, mas ela continuou. —, Vocês eram tão mais grudados quanto nós, e eu admito que cheguei a pensar que vocês formariam um casal em breve, mas ele mudou tão rápido que eu mal posso reconhece-lo agora. Eu me sinto mal por ele não nos dá uma explicação, e muito menos a você. Ele deveria, ele não podia fazer isso. — Ela concluiu.

Engoli seco. Eu não sabia que voltar as aulas seria tão ruim assim. Eu não pretendia ficar ouvindo meus amigos se lamentando tanto por Justin agir daquela forma, o tempo todo. Eu não esperava que ele piorasse. Aquilo era horrível, e eu não conseguia mais suportar esse sentimento ruim dentro de mim.

— Sinto muito por todos nós. Justin é um bom garoto, Lauren, e eu acredito nele. Dê um pouco de tempo, ele vai melhorar!

Eu realmente acreditava naquilo? No momento em que disse, não pensei no quanto aquilo parecia uma piada. Mal sabíamos o que ele tinha.

Eu não sabia o que falar a eles exatamente, por que os mesmos sempre esperavam que eu fizesse alguma coisa. Mas eu me sentia incapaz de fazer ou falar. Eu era uma completa inútil.

Cansada de perder todo meu tempo pensando nisso, levantei e fui em direção à minha próxima sala esperar que a aula começasse. Quando entrei no corredor, olhando para meus pés, esbarrei-me com alguém.

— Olha por onde anda! — Gritei levantando a cabeça. Era ele. Era o Justin.

— Olha você, pirralha! — Ele retrucou.

— Pirralha? Voltou a ter dez anos, Justin? Você é um babaca! — O empurrei, tentando descontar minha frustação naquele ato.

— Babaca? Você que anda no mundo da lua e eu sou o culpado?

Ele estava me zoando? Tudo que ele falava era sobre termos nos esbarrado? Eu já podia sentir meus olhos queimarem. Tudo o que andávamos fazendo era nos entranhar, como se nunca tivéssemos sido melhores amigos um dia.

— Você não tem feito coisas boas ultimamente para ser a vítima também. — Ele engoliu seco e ficou me encarando por alguns segundos.

Sai dali antes que as lágrimas caíssem em sua presença. Sei que era idiotice, mas eu não iria chorar na frente dele. Ele não precisava saber o quanto eu estava afetada com sua distância.

O decorrer do último semestre não seria nada fácil. Eu ainda me lembrava claramente de dividir meus sonhos com Justin sobre faculdade e empregos de meio período. Ou até mesmo de vê-lo pular minha janela de noite para me contar sobre algo muito importante ou até mesmo para me fazer companhia. Eu sentia muita falta dele e isso estava acabando comigo e provavelmente com o resto do meu ano. É uma droga você amar tanto alguém e de repente essa pessoa te deixar na mão como se você fosse um zé ninguém, um zero à esquerda que não significa nada na vida dessa pessoa.

Eu o odiava por ama-lo tanto.

Limpei o resíduo de lágrimas que haviam no meu rosto e respirei fundo. Não valia a pena chorar por Justin, pois ele fazia aquilo de propósito sem se quer pensar por um minuto se isso prejudicaria alguém ou não.

— Posso ficar aqui? — Uma voz estranha me faz erguer o pescoço para entrada da sala.

Era um garoto algo, com belos músculos, porém magro. Seu cabelo era loiro, quase platinado. Mesmo de longe eu pude ver seus olhos azuis ressaltados em seu tom de pele claro. Ele era lindo.

— Claro! Não tem problema.

Observei o garoto deixar sua mochila na cadeira ao meu lado e então me fitar novamente.

— Eu me chamo Jaden Lucky. — Ele estendeu sua mão e me lançou um sorriso adoravelmente amigável.

— Lissy Bass. — Apertei sua mão e retribui seu sorriso.

A sala ficou em silencio. Aquele garoto tinha uma fisionomia familiar, mas naquele momento nada me vinha em mente. E ignorando isso, acabei lembrando novamente de Justin. Meu coração apertou-se no lugar.

Desbloqueei meu celular e fitei meu papel de parede. Justin sorria enquanto me abraçava. Um sorriso que eu nunca mais tinha visto desde o começo do verão. Desde que ele voltou de Nova Iorque com sua mãe.

E nesse momento, fungando o choro, sentindo meu peito queimar de raiva, me sentindo inútil; eu percebi que nada que eu estive fazendo, ou tudo que eu poderia fazer, daria jeito. O que me restava é deixa-lo afundar-se cada vez mais e vê-lo até onde ele poderia ir sem pedir socorro.

Eu sei que Justin estava se tornando um caso perdido, mas todos os casos sempre são resolvidos.

Até mesmo Justin.

E eu sei que ele iria precisar de mim em algum momento.