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História Brotherly Case - Catch Me If You Can


Escrita por: Bloodstained

Notas do Autor


Saudações caros leitores!
É com enorme prazer que trago a atualização dessa fic e não posso deixar de mencionar o quanto sou grata pela minha maravilhosa beta! Atualmente minha escrita é o que é graças as betagens fantásticas dela, i♥A
O capítulo ficou extenso, mas é cheio dos acontecimentos, eu amei escrevê-lo e tudo o que acontece...
Espero que apreciem! Boa leitura!

Capítulo 7 - Catch Me If You Can


Tom, he was a piper's son,

He learnt to play when he was young,

And all the tune that he could play

Was *over the hills and far away

 

Sherlock e Olivier brincavam nos jardins ao fundo da casa, cantarolando a cantiga ensinada por Mycroft na noite anterior. A mãe ordenara que o mais velho contasse uma história aos irmãos mais novos e a escolhida foi sobre o Flautista de Hamelin e depois ensinou-lhes aqueles versos que podiam ser comparados à história.

Particularmente, Olivier nunca gostou daquela fábula e menos ainda da cantiga - achava irritante, mas mesmo assim acompanhou o irmão na cantoria enquanto subiam na árvore.

Havia uma colmeia alguns galhos acima. Sherlock aproximou-se e ficou na ponta dos pés para estudar mais de perto, ele sempre fora fascinado por abelhas. Já ela não via tanta graça assim, se fosse para escolher algo desse gênero para pesquisar preferia observar um formigueiro.

— Cuidado - estando um galho abaixo, Olivier puxou de leve a barra da calça do irmão.

— É só uma colmeia, Marilou. - Sherlock respondeu em tom de deboxe.

Fazendo uma careta, Olivier revirou os olhos enquanto murmurava em silêncio o que o irmão acabara de falar. Mas ela não tinha mais nenhuma lembrança depois daquilo. Ela não conseguia se recordar exatamente como desceu da árvore: apenas lembrava-se da dor de ter sido picada por uma abelha em sua bochecha.

. . . . . . .

Era cedo. Molly abriu os olhos e o quarto estava mergulhado no mais profundo silêncio, o que a permitiu ouvir somente sua  própria respiração. O lugar ao seu lado estava vazio. Contrariando a vontade dela, Sherlock acabou dormindo ao seu lado na cama de casal. Pelo menos ele não roncou ou puxou toda a coberta durante a noite. Uma lista interminável de de palavrões e pensamentos impublicáveis surgiu na mente da patologista ao imaginar que Sherlock saiu para investigar deixando-a sozinha na suíte do hotel.

Num salto, Molly foi ao banheiro: fez sua higiene pessoal e colocou as roupas para o dia. Diferente de seu normal, ela preferiu vestir cores escuras. Após estar devidamente vestida e arrumada, saiu em busca de sua bolsa. Estava com fome e iria tomar café da manhã, com ou sem o detetive, a quem ela procurou pela suíte e na sala adjacente. Amaldiçoando Sherlock pela segunda vez, puxou o celular, decidida a ligar e incomodá-lo.

Enquanto caminhava pela sala digitando o número dele no celular, espiou de relance a varanda. Sherlock estava apoiado no peitoril, as mangas de sua camisa estavam dobradas na altura dos cotovelos, o vento bagunçando seus cachos. Completamente alheio ao seu redor, talvez estivesse em seu palácio mental.

Molly perdeu a noção dos segundos que ficou admirando a figura de Sherlock ao sol nascente. Com cautela, aproximou-se de onde ele estava e parou ao seu lado, também escorando-se no peitoril. Observou a belíssima paisagem, as cores das nuvens e do céu. Tudo estava em tons alaranjados e rosados. Aos poucos, a cor azul foi surgindo junto com o sol.

Ficaram assim por algum tempo, quando um suspiro de Sherlock quebrou o silêncio.

— Quando eu era mais novo, Olivier constantemente me acordava durante a madrugada e me arrastava até o telhado para vermos o sol nascer. Sempre preferi o crepúsculo enquanto ela era fascinada pelo amanhecer... As manhãs frias eram suas favoritas e sempre nos rendiam belos resfriados… Pelo menos mamãe nos levava chá com biscoitos na cama...

Molly sentiu o tom melancólico e nostálgico do detetive. Escutou mais um suspiro vindo dele e desviou os olhos da paisagem para ele. O olhar de Sherlock já estava fixo em seus olhos.

— Bom dia, Molly.

— Bom dia, Sherlock - rapidamente ela girou o corpo e caminhou em direção à saída da suíte, induzindo-o a segui-la. Ela tinha sentido o rosto corar e o fôlego faltar ao observar os olhos claros dele sob a luz matinal.

— Não precisamos sair para o restaurante, Molls. Ganhamos esse café da manhã no apartamento de cortesia por acharem que estamos em lua de mel. Já tomei um pouco de café, fique à vontade para comer o que quiser antes de sairmos. Enquanto isso, vou ligar para meu irmão.

Sherlock viu Molly abrir um sorriso amarelo levemente nervosa, e acompanhou com o olhar ela livrar-se da bolsa no sofá, sentar-se à mesa da sala e puxar uma fatia de pão. Ele também percebeu que ela esperava sua companhia durante o café. Gemeu em pensamento.

Uma das razões para não querer que Molly o acompanhasse era porque tinha medo. Além de obviamente temer pela segurança da patologista, afinal jamais se perdoaria caso ela sofresse qualquer arranhão, também tinha receio de não resistir às emoções.

Por muito tempo Sherlock conseguiu controlar friamente os sentimentos que não conseguia entender. Mas nem sempre estava no domínio de sua mente: em algumas situações era mais complicado, como durante a noite...

Por pura infantilidade, depois de dizer que se Molly quisesse que ele dormisse em outro lugar, ela teria que tirá-lo de lá (por um segundo achou que ela realmente pretendia tentar erguer o corpo dele), mas ela cedeu e se jogou na cama ao lado dele.

Não era a primeira vez que dormiam no mesmo quarto, dividiram o quarto dela logo depois da Queda, então seria fácil, certo? Errado. Em algum momento enquanto dormia, Molly virou-se e se aconchegou as suas costas. O perfume cítrico do shampoo dela finalmente chegou ao seu olfato. Não negaria que a ideia de virar-se e abraçá-la passou por sua mente, mas ele conseguiu se controlar.

Sherlock não queria magoar quem não merecia se não conseguisse lidar depois que cedesse a certos pensamentos e impulsos. Emoções que ele guardou no fundo de seu palácio mental. À sete chaves. Junto com Moriarty.

O detetive notou como o sol deixava os fios dos cabelos de Molly mais claros.

Em um piscar de olhos seu irmão invadiu seu palácio mental.

Ele estava em pé atrás da cadeira de Molly. Caminhava lentamente, agitando o guarda-chuva a cada passo. Fitou as costas da patologista e correu os olhos para Sherlock.

“Não tem nada de mais em um café da manhã” Sherlock alegou, justificando-se.

Mycroft lançou outro olhar inquisidor ao irmão, contornou a cadeira dela. Pegou a cereja de cima de um dos bolos e a colocou na boca. “Convença-me, Sherlock” ordenou enquanto brincava com o talinho que sobrou da cereja com os dedos, ameaçando partí-lo. Sherlock fez uma careta.

O detetive piscou novamente e Molly se servia de panquecas, puxou a cadeira e sentou-se de frente para ela. Seu irmão não estava mais na sala, tampouco a cereja do bolo havia desaparecido.

— Você precisa provar os biscoitos de gengibre, Molly.

. . . . . . .

— Acordem-na.

Observou seus subordinados acatarem a ordem, girando no dedo a chave e o pingente acrescentado mais cedo. O cômodo onde estavam era completamente branco, incluindo os móveis e todo o equipamento. Olivier estava vendada e sentada, os pés e mãos devidamente atados à cadeira da qual havia uma bacia abaixo de seus pés. O sistema similar a um chuveiro rudimentar acima da cabeça dela foi ligado.

Olivier remexeu-se despertando ao sentir a água gelada cair no topo de sua cabeça e escorrer para suas costas. Um arrepio tomou conta de seu corpo.

— Levante-se e brilhe raio de sol - Tom gesticulou para um dos capangas, que imediatamente desligou a água.

— Sério?! - a ruiva debochou, jogando a cabeça para trás acompanhada de uma risada fraca. Uma parcela de seu corpo não estava mais dolorido e sim dormente. Tentou ignorar o incômodo que sentiu ao abrir os olhos e perceber que não via nada por causa da venda. — Faltou um pouquinho de criatividade aqui… Você acha mesmo que essa é a primeira vez que eu estou numa situação dessas?

Olivier escutou passos vagarosos e sentiu o calor das mãos de alguém perto de seus pulsos. Depois sentiu uma respiração em seu pescoço, a qual reagiu com nojo, afastando-se. Tom tinha se apoiado nos braços da cadeira dela e estava com a face bem próxima do rosto dela..

— Não tenha pressa, Olivier. Enquanto seu irmão ainda não se juntou a nós, eu irei brincar um pouquinho com você para passarmos o tempo… Será um presente meu a Sherlock Holmes entregar-lhe a irmã ferida… Pretendo queimar o coração de vocês aos poucos… Bem lentamente... - Tom deu-lhe uma lambida no pescoço, subindo em direção à orelha.

Olivier reagiu, chacoalhando-se na cadeira. Tentava, em vão limpar-se da lambida dele com o ombro. Com ódio, ela reuniu o pouco de saliva que tinha e cuspiu às cegas esperando acertar Tom.

O cuspe não chegou a acertá-lo, mas foi o suficiente para ele dar-lhe um tapa, cortando o lábio inferior. O sabor de ferro tomava sua boca, enquanto ela passava sua língua para tentar aliviar a dor do corte.

— Comece logo, estou ficando entediada aqui. - ela sussurou com a voz rouca.

Tom rapidamente se aproximou de um painel de controle e apertou um botão. Um zumbido tomou conta do quarto o qual fez Olivier involuntariamente se mexer em sua cadeira. Um sorriso perverso tomou conta dos lábios de Moran.

A ruiva soltou um gemido de dor e os dentes de Tom estavam cada vez mais à mostra. Sentia prazer em torturar os outros, mas fazia muito tempo que não se deliciava. Ter um Holmes debaixo de seu nariz tornava a experiência muito mais satisfatória. Vê-la se contorcer ainda mais quando o volume do zunido aumentava era indescritível.

Olivier sabia que tudo aquilo era para desestabilizá-la emocional e fisicamente. Conhecia muitos métodos de tortura e aguentaria firme.Mas no fundo ela estava aterrorizada. Aos poucos, perdeu o resto de sanidade que possuía e sua noção de tempo e espaço acabou distorcendo. Estava ao máximo tentando segurar suas emoções, quaisquer que fossem. O sibilo agudo vibrava em sua cabeça e ela estava falhando em demonstrar-se forte para Moran e seus capangas.

Estava também confusa, pois não conseguia mais ouvi-los. Não sabia se estava sozinha naquele cômodo ou se tinha mais alguém ali assistindo-a. Sentia-se refém de si mesma.

Por um momento tudo silenciou. O zumbido irritante tinha parado e ela arfava com força. Seus batimentos cardíacos estavam acelerados, sua adrenalina estava a todo o vapor, correndo pelo seu corpo. Mas a paz logo foi interrompida quando sentiu o impacto gelado da água em sua cabeça. Deixou escapar um grito de aflição.

Poucos segundos depois, a água tinha sido cortada novamente e ela estava no silêncio, que foi preenchido por uma melodia familiar e irritante. Se antes ela não era fã, agora mesmo ela a detestava.

— Não sabia que você falava enquanto dormia, Marilou.

— É Olivier - corrigiu-o entredentes, com a voz grossa e arrastada. Podia sentir o calor do corpo próximo a si.

— Encontrei algo interessante - Tom aproximou-se da mulher e retirou a venda de seus olhos bruscamente. Ela piscou diversas vezes enquanto se adaptava a claridade. Sua atenção foi desviada do teto quando recebeu mais um tapa em sua face — Gostou do meu novo pingente? Espero que não se importe de ter dado outra finalidade a sua tornozeleira.

Os olhos claros dela finalmente se focaram no pingente do brasão de sua família talhado balançando no pescoço de Moran.

— Nenhum comentário? Ótimo - virou-se e voltou a assobiar a música irritante. Acenou para um capanga e o zumbido novamente foi ligado. Contornou a cadeira de Olivier, abaixou-se até estar na mesma altura dos olhos dela, enrolou os fios ruivos em uma das mãos e puxou sua cabeça para trás, com a outra mão tirou a seringa do bolso e aplicou o líquido no pescoço de Olivier. Teve o deleite de ver temor nos olhos claros e eles se arregalaram quando ela sentiu a picada. Com estranho cuidado, Tom recolocou a venda enquanto continuava a assobiar.

Antes de sair da sala testou o aplicativo que tinha criado somente para Olivier. Digitou algumas opções, o que o permitiu ligar novamente a água. Testou o controle da voltagem dos choques e o aumento do barulho. Tudo friamente calculado para machucá-la sem matar. Tudo feito para que ele a tivesse em suas mãos. Sabia que Sherlock Holmes ficaria furioso, por isso mal podia esperar a hora de ocupar o lugar vago ao lado da senhorita Holmes.

— Tenho certeza de que você está familiarizada com as propriedades e efeitos da escopolamina... Ah, não se preocupe, irei voltar em alguns minutos, fiquei entediado agora e vou tomar chá.

. . . . . . .

Ambos saíram do quarto após o café. Sherlock penteou seus cachos para trás com gel e usava óculos escuros. Molly optou por utilizar óculos de grau falsos e prendeu o cabelo num coque, pois segundo o detetive, não é porque estavam sendo seguidos que deveriam facilitar.

Ficaram em silêncio enquanto o elevador fazia seu trajeto até o térreo, quando as portas se abriram Sherlock passou o braço pelos ombros de Molly. Ela arrepiou-se com o toque dele, mas compreendia que a situação exigia que ambos estivessem empenhados em seus disfarces.

Permaneceram em silêncio quando o elevador abriu as portas e atravessaram o saguão do hotel, sendo recepcionados por um bellboy.

— Bom dia, senhores, tiveram um bom café da manhã em seu quarto?

— Ah… - Molly estava surpresa. O detetive inclinou-se e depositou um beijo em sua testa  — S…

— Sim, foi um excelente café da manhã. - Sherlock rapidamente acrescentou, deslizando a mão para a cintura dela e a puxando para mais perto — Os biscoitos de gengibre estavam ótimos!

Despediram-se do rapaz e foram até o estacionamento onde o manobrista já os aguardava com a chave do carro em mãos. O detetive agradeceu e guiou Molly para seu respectivo assento, fechando a porta do veículo para ela.

Entrou no carro e escutou um suspiro profundo vindo dela.

Molly não entendia como Sherlock podia agir tão naturalmente. O toque dele era acolhedor, carinhoso e seguro. Sentia-se bem na presença dele.

Ela abriu a boca para perguntar mas tornou a fechá-la ao escutar as primeiras palavras do detetive.

— Mycroft me passou os endereços de algumas propriedades dos Moran. Como você sabe, Molls, não existe crime perfeito, então sempre haverá algum rastro.

— Tom… ele… ele é um babaca. - A patologista soou aflita enquanto abaixava o quebra-sol e procurava por um batom em sua bolsa — Mas eu acho que não será difícil encontrar Olivier, Sherlock.

Molly percebeu que apesar de aparentar estar calmo, por dentro Sherlock estava totalmente apreensivo pela irmã. Ele não era nenhum sem coração, essa função pertencia ao Holmes mais velho. Ele amava a irmã.

A viagem de carro até um dos pontos no mapa foi rápida e silenciosa. Ambos estavam aflitos de como iriam lidar ao encontrar ou Olivier ou Tom. Não demorou muito e Sherlock estacionou algumas esquinas antes de seu destino. Ele tinha, na noite anterior, decorado o mapa e as rotas necessárias. Antes de descer tirou do porta luvas duas pistolas, conferiu os pentes e entregou uma delas para Molly.

— Sinceramente, espero não ser necessário você usar isso.

— Está tudo bem, Sherlock? - a patologista soou mais preocupada do que gostaria. Queria mostrar que estava tudo sob controle e que tudo dará certo.

— Apenas uma sensação desagradável, bobagens do corpo humano - soltou o cinto e saltou do carro. Às vezes se esquecia o quanto ela era observadora.

Esperou um pouco ao lado da porta do carro dela e seguiram juntos a pé até a mansão.

Obviamente não iriam entrar do modo convencional, pois ao entrar sem bater as pessoas serão surpreendidas e não haveria tempo de esconder quaisquer itens que pudessem denunciar que Olivier poderia estar por ali.

Nenhum dos cinco primeiros lugares foi complicado de invadir para investigar. Pareciam residências normais sem qualquer investimento em segurança. Na terceira localidade, Sherlock surpreendeu-se quando Molly abriu uma porta usando apenas alguns grampos de cabelo - ele pretendia arrombar, mas ela disse que não seria necessário. Resultado: menos de cinco minutos depois a porta estava aberta e de maneira silenciosa e discreta. “Eu não era apenas uma traça de livros na faculdade, Sherlock” ela respondeu a pergunta não verbalizada por ele.

Estava cada vez mais difícil para Molly ignorar a sensação de estar sendo observada. Sentia um par de olhos em sua nuca desde que começaram o dia. Caminhavam na rua paralela ao sétimo destino quando resolveu apressar o passo para ficar à frente de Sherlock. Girou os calcanhares e ficou de frente para ele, que parou automaticamente. Ela gesticulou para ele se aproximar.

— É irritante demais ser seguida! - murmurou baixinho, ajeitando a gola do sobretudo dele — Só me diga que você sabe uma maneira de despistá-lo.

— Sim, tenho algumas ideias que resolvem isso. Você provavelmente não notou, mas esse capanga é muito inexperiente, além de não tem certeza sobre nossas identidades, se deixou notar rápido demais.

— E... O que faremos?

— Como eu disse, tenho algumas ideias, umas mais práticas que outras e a reação de uma dessas…

— Sherlock! Pelo amor de Deus...

Sem falar nada, ele tomou-lhe a mão e recomeçou a caminhar, mas dessa vez ele acelerou seu passo.

Molly só conseguiu acompanhar a caminhada de Sherlock porque estava sendo puxada. Caminharam por quase dois quarteirões assim, quando Sherlock parou em frente a uma das casas abriu o pequeno portão que levava à entrada da casa, segurou o rosto de Molly nas mãos e a encarou com o olhar determinado.

Silenciosamente, ele murmurou “acompanhe-me”,

Assim que sentiu os dedos de Sherlock em contato com a pele de seu rosto, ela compreendeu o que ele quis dizer com reação à sua ideia.

— Geralmente as pessoas tendem a desviar o olhar de certas demonstrações de afeto em público, só peço que não me estapeie… - explicou rapidamente.

Molly não desviou o olhar daquelas claras e intensas orbes eufóricas nem por um segundo. Sherlock tomou os lábios de Molly como se fossem amantes há muito tempo.

Intimamente. Empolgadamente. Provocantemente.

Quando se separaram, fitaram-se em silêncio por alguns segundos. Molly percebeu, mesmo na escuridão, que ele estava corado. Ela não resistiu. Ficou na ponta dos pés, entrelaçando seus braços no pescoço dele, dando início a um segundo beijo. Sherlock passou o braço por sua cintura, puxando-a para mais perto.

Respiravam de maneira arquejante quando se separaram. Molly escorou-se no pequeno portão para recuperar o fôlego e o equilíbrio, sentia o rosto quente, devia estar vermelha até a raiz dos cabelos. Sherlock estava curvado sobre o próprio corpo, as mãos apoiadas no joelho controlando a respiração.

— Agora, para aquele subordinado idiota, somos apenas um casal apaixonado se beijando no portão de casa - o detetive endireitou-se e encarou a patologista que inspirava e expirava de olhos fechados. — Molly? - por ele não obter resposta, temeu pela reação dela. — Molly?!

Os brilhantes olhos castanhos da legista ainda continham vestígios de excitação quando ela fixou o olhar no detetive.

— Está tudo bem, Molly?

— S-sim - ela por fim se endireitou — Podemos prosseguir?

— Claro.

Molly manteve certa distância de Sherlock enquanto caminhavam até o carro, deixou ele ir andando na frente. Obviamente tinha entendido perfeitamente as intenções dele e mesmo assim não tentou sequer impedir, porque no fundo queria aquilo. Muito. E repetiram.

Não teve tempo de agradecer silenciosamente pelo espaço que ele estava lhe dando quando notou um ponto de laser vermelho nas costas de Sherlock.

Seu cérebro registrou tudo em câmera lenta. “Sherlock!” gritou e deu os passos necessários para alcançá-lo à tempo. O disparo da arma não foi ouvido, possivelmente usaram um silenciador ou quem atirou estava muito longe. Molly conseguiu empurrar o detetive para o lado, mas ela sentiu a pele rasgar e queimar. Podia sentir cada terminação nervosa no local do ferimento arder. Sua visão ficou turva por causa da pressão sanguínea ter caído bruscamente.

Sherlock tinha caído por causa do empurrão e Molly estava ao seu lado. O sangue dela respingou no cimento. O desespero tomou conta do detetive, que correu para ampará-la, arrastando-se pelo chão. Apoiou o corpo dela em si e viu o ferimento na região da cintura.

O detetive, com Molly em seus braços, analisou cada ponto daquela rua onde estavam e não conseguiu encontrar qualquer sinal do atirador. Esperava encontrar também o minúsculo ponto vermelho passeando pela rua, mas também não viu. Decidiu encerrar as investigações das propriedades de Moran, já estava anoitecendo e a última coisa que precisavam era um confronto direto.

Vendo que não tinha mais perigo e que o atirador possivelmente bateu em retirada, Sherlock puxou o rosto de Molly para checar como ela estava. Por sorte, consciente com uma expressão de dor. Por ventura o carro em que vieram não estava muito longe, uma quadra de distância. Ele a pegou no colo e correu para o veículo.

Estavam a poucos metros do carro, mas para Molly pareceram bem mais. Deixou-se ser guiada por Sherlock, a perturbação no olhar dele não passou despercebida a ela. O trajeto de volta foi feito num inquietante silêncio, quebrado apenas pelo ronco do motor do veículo. Dessa vez quando passaram pelo hall do hotel, Sherlock novamente passou os braços pelos ombros de Molly num gesto protetor, o olhar varrendo cada canto à procura de suspeitos.

Desde o ocorrido não trocaram palavra alguma.

Assim que entraram no quarto, Sherlock conduziu Molly direto ao banheiro, que pediu para ficar sozinha por um momento apenas gesticulando. A patologista estava exausta agora que a adrenalina tinha diminuído. Por consequência, sentia seu lado esquerdo doer. Agradeceu mentalmente por ter optado por peças de roupa mais escuras naquele dia, assim não ficou evidente o quanto tinha sido machucada e poupou seus ouvidos da falácia de Sherlock sobre ter sido melhor ela ficar em Londres.

Sentia o local arder a cada movimento que fazia para abrir os botões da camisa, mordeu o lábio para evitar que um palavrão escapasse. Apoiou-se na pia enquanto verificava a situação do ferimento, ao erguer os olhos viu o detetive lhe encarando pelo reflexo do espelho com preocupação. Sentiu o rubor se espalhar por sua face, embaraçada por estar de sutiã na frente dele.

Sherlock se aproximou sem esperar um convite para entrar. Aquilo não era um pedido para ter sua permissão. Ele apoiou um joelho no chão para ficar mais fácil limpar o local onde a bala tinha passado de raspão.

Molly desviou sua atenção para qualquer lugar, até mesmo contar grãos de poeira no ar ela tentou. Tudo para evitar que seus pensamentos focassem na sensação dos dedos de Sherlock em sua pele, seus toques eram precisos e delicados, mordeu o lábio antes que saísse algum som de sua boca.

— Está feito - ela escutou ele murmurar baixinho quando finalizou a limpeza do local ferido.

— Obrigada - Molly agradeceu com um tom de alívio em sua voz e isso não passou despercebido a Sherlock.

— Molly… Sobre mais ced…

— Não diga nada -  ela o interrompeu. Não queria conversar sobre isso naquele momento, talvez nem mais tarde. Concordou consigo mesma que seria mais fácil continuar sua missão de vingar-se de Tom e salvar Olivier ignorando o que acontecera no portão.

Ela saiu do banheiro e foi até o quarto, com passos lentos. Começou a procurar por outra peça de roupa para vestir na mala que estava em cima da cama com a mão livre, enquanto segurava o curativo improvisado com a outra. Sherlock a acompanhou com o olhar e apoiou-se na batente da porta, logo atrás dela.  

— Eu preciso explicar - o detetive fitava a nuca dela, seu cabelo ainda estava preso num coque que agora dispunha de vários fios bagunçados.

— Não é necessário, eu entendo - Molly virou-se e fitou os olhos claros, tentando passar convicção, mas sua voz saiu irritada. Precisava sair daquele ambiente e respirar um ar onde não houvesse o cheiro de Sherlock ao redor para lhe perturbar. Ainda sentia-se atordoada pela intensidade do ocorrido e, principalmente pelas reações vindas dele, aquilo não era nenhuma pegadinha de sua imaginação. Ela sentiu. E podia jurar que naquele momento o coração dele estava mais acelerado que o próprio. Separou uma peça mais solta e passou por ele, dando um tapinha em seu ombro — Obrigada pela ajuda.

— Molly, eu… - Sherlock a segurou pelo braço, com cautela para não machucá-la.

A patologista soltou um pesado suspiro. Não aguentava mais dividir o mesmo oxigênio com ele. Ele a soltou e esperava ansiosamente por qualquer resposta que Molly desse.

— Por que me beijar, Sherlock? - ela rosnou. Arrependeu-se logo em seguida quando percebeu as palavras que tinham saído. Nervosa e irritada, Molly girou nos calcanhares para encará-lo com as mãos na cintura.

— Eu… - o detetive desviou o olhar, fitando o curativo dela.

— Sherlock. Por quê? - aproximou-se até estar diante dele. Notou o olhar dele ir de seu ferimento para seu colo semi nu e então se fixar em seus olhos. Sabia que ele não a responderia. com um suspiro virou-se para sair do banheiro, quando estava próxima a porta, sentiu uma mão segurar seu pulso.

— Porque eu quis - respondeu com a voz grave uma oitava mais baixa. Esperou os olhos castanhos mirarem os seus. — Porque eu quero, Molly Hooper.

Com o olhar preso no de Molly, Sherlock diminuiu a distância entre eles e passou os braços por sua cintura, trazendo seu corpo para mais perto. Beijou sua mandíbula demoradamente para enfim beijar-lhe os lábios indecorosa e desesperadamente. Com cuidado para não apertar o ferimento, Sherlock a conduziu para a cama. Estava preocupado em não machucá-la. Deitou-a e em seguida veio por cima...

Enquanto sentia que ele estava a provocando com os lábios e pequenas mordidas em seu pescoço, Molly o segurava pela gola da camisa, desabotoando-a lentamente até puxá-la para fora da calça de alfaiataria. Passeou com os dedos pelo torso, subindo pelos ombros, pescoço, quando chegou com as mãos na nuca, enrolou os dedos em seus cachos e puxou-os.

Uma descarga de adrenalina tomou conta de ambos quando o celular de Sherlock tocou em alto e bom som, tirando o foco de ambos do momento. Relutante e com um resmungo pela interrupção, Sherlock tirou o aparelho do bolso direito da calça. Agora não. Era o que queria ter dito ao atender o irmão.

— Diga o que quer… Mycroft. - teve de polir a voz. Seu peito subia e descia com a respiração acelerada, .

— Interrompi algo, irmão meu? - Sherlock percebeu pelo tom de voz que Mycroft contera um riso.

O tom cínico e perspicaz do Holmes mais velho aborreceu Sherlock, sem pensar duas vezes colocou a chamada em espera.

— Molls… - seus lábios roçavam nos dela. Tão macio e convidativo... — Esse não é o melhor momento para discutirmos os... Fatos. Além de tudo, você foi ferida e não pense que simplesmente aceitarei isso - tocou delicadamente o curativo. — Mas por hora o melhor é deixar como está, tudo bem adiarmos nossa conversa para depois?

— Sim - com a voz frustrada, Molly virou-se na cama.

— Se precisar de alguma coisa, estarei ali na varanda atendendo a ligação de Mycroft. - depositou um beijo na testa dela antes de levantar-se.

Assim que Sherlock encostou a porta do quarto ao sair, Molly abraçou o travesseiro com força, inspirando e expirando profundamente. Sentia o perfume dele preencher o quarto.

Sherlock ainda estava ao telefone quando ela deixou o quarto. Ela tinha aproveitado para tomar um banho para limpar melhor o ferimento e refazer o curativo que tinha se desfeito durante a troca de beijos com Sherlock. Molly sentiu as bochechas corarem ao lembrar o que aconteceu. Ela estava com fome e pretendia ir até o restaurante do comer algo, para não incomodar, deixou um bilhete escrito em cima da mesa, avisando a ele onde iria.

Sentiu o olhar de Sherlock em suas costas quando ela saiu do apartamento. Molly dirigiu-se decidida até o restaurante e teve uma pequena surpresa ao se deparar com o local lotado, por ser hora do jantar. Resolveu esperar por uma mesa no bar do hotel.

— Posso lhe oferecer algo? - o barman prontamente a atendeu, oferecendo uma carta de vinhos e drinks.

Ela agradeceu com um gesto, dispensando o barman que voltou sua atenção para outro hóspede que sentou-se ao lado de Molly

— Duas tequilas, por favor. - o homem pediu. Pelo canto de olho, Molly o viu desabotoar o paletó para sentar-se.

Ela fez menção que ia se levantar, mas sentiu que o homem a segurou no punho, puxando-a de volta ao seu lugar.Ela estava paralisada de medo. Um arrepio percorreu seu corpo assim que ouviu aquela voz familiar.

— Sentiu minha falta?

— Q-quanta imprudência aparecer aqui, Tom. - ela encarou-o com toda coragem que conseguiu reunir. Estava aflita, estava com medo e isso era evidente. Molly rezava para que Sherlock terminasse logo aquela ligação patética e aparecesse ali agora mesmo.

— Você facilitou as coisas demais para mim, Molls. Por isso, deixarei que escolha: pode vir comigo por vontade própria ou…

— Você sabe qual será a minha resposta.

— Foi o que pensei. - com a mão livre, Tom acariciou o curativo que estava escondido . Ele tinha sido informado por seu subordinado sobre o ocorrido, dessa maneira ela não teria tempo de vê-lo inserir a agulha em seu braço.

. . . . .

Assim que a ligação de Mycroft terminou, Sherlock foi procurar Molly e encontrou o bilhete dela. Desceu até o restaurante para lhe fazer companhia quando o alerta de mensagens de texto do seu celular soou.

 

“Acima das colinas e além *, venha brincar. - Moran”


Notas Finais


* Tradução do verso final que aparece no início desse capítulo.

Por favor, deixem as opiniões sobre o capítulo na minha mesa!
Beijo delícia! :3


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