História BROTHERs - O Acordo

Branco. Toda paisagem em Oymyakon estava coberta pela mais alva neve. A lua refletida em cada floco que cobria o chão, trazia para Nancy a memória distorcida de um lar. Um lar feito de madeira, um quarto todo branco de cortinas azuis, como seus grandes olhos e os grandes olhos na mulher que a ninava. Ela sorria suave. Um sorriso de dentes brancos em meio a lábios rosados. Ainda ali, naquela paisagem gelada Nancy tinha a memória e os pulmões cheios com o perfume daquele lugar.

O barulho de passos pela casa, o garoto no outro lado do quarto atento a tudo. Sentado de pernas cruzadas, parecia estar ali para impedir qualquer tragédia. A gaiola e o pássaro. Ela se sentia como ele, mesmo com a morte de Ian, jamais poderia ser livre outra vez, por que não havia liberdade para a existência de uma Ômega. Ela estava presa dentro da própria mente, sua dor e tristeza puxavam-na para um profundo abismo de melancolia.

Os olhos antes claros e vibrantes, tinha um tom de azul escuro que me lembrava as profundezas do oceano em outras vidas. O vento gelado agredia a pele que não estava coberta pelo fino tecido da camisola clara, mas ela parecia não notar, tão pouco se incomodar com aquilo. Os cabelos ondulavam para a direção que o vento soprasse e seus lábios ressecados e maltratados pelo frio lembravam-me lascas de uma parede cuja a tintura velha começa a desprender-se.

Por um misero segundo o mundo era leve e suave abaixo de seus pés. Nancy subiu no banco redondo, posto por ela mesma ali na varanda, o vento pareceu-me mais forte dali. Balançava furiosamente sua roupa, deixava ainda mais visível em rosto o caminho que suas lágrimas percorreram até sumir, secar. Como se soubesse o que iria acontecer.

Não havia cura no mundo que pudesse amenizar as feridas em seu peito. Havia sangue esfriando em suas veias, mas a dor que lhe atingiu com a notícia do casamento e por constatar que Mary realmente não se importava, nunca a amou, inundava-a por dentro como veneno ácido, queimando e consumindo todos os seus órgãos.

A corda áspera em suas mãos era como um colar de pérolas em seu pescoço. A dor não alcançou sua consciência quando seu corpo pairou no ar. Era a liberdade sufocando sua mente cansada, ela estava em paz.