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História BROTHERs - O cheiro de sangue em mim


Escrita por: _Melpomene

Notas do Autor


Hoje é dia de atualização bb...e com ela muitas revelações.
A canção do capitulo é Starboy - The weeknd, tem links nas notas finais.
Tenham uma boa leitura, xx.

Capítulo 29 - O cheiro de sangue em mim


 

O que te motiva a viver? Nós desta nova realidade mundana nunca parávamos para pensar em tais absurdos. Nossa vida não precisava de uma explicação profundamente filosófica e ilusória para ser. Esperança, era a palavra que os humanos buscavam em tempos difíceis. Essa pequena e estranha coisa não palpável, nem visível, era combustível como a fé. Talvez por isso tenham sobrevivido por tanto tempo.

Desvendar os mistérios da existência nunca me importou. Não significava nada para mim. Nós existíamos. Durante algum tempo estaríamos aqui, e depois não mais. Vida e morte, ponto. Não precisava ser mais complicado que isso. O que estava entre esses dois pontos da existência era um mero detalhe. Eu não fazia parte de algo maior, um plano do criador do universo para salvar o que restou da terra e restaurá-la. Não salvaria a vida de alguém. Não faria uma grande descoberta. Eu imaginava que todas elas já tinham sido feitas. Talvez meu maior ato de bondade fosse saciar a fome daqueles alfas.

Não me interessava ser o herói, o cara que tomaria a causa dos rebeldes e os guiariam em suas conquistas. Me interessavam as placas de prata, os diamantes e morrer confortavelmente sem ter que abrir as pernas para mais alguém. Eu queria voltar para velha casa de madeira branca, afastada da “civilização”, e terminar o resto dos meus dias só. Era um plano bom o suficiente para um blear como eu. Não acabar como os outros de minha espécie, mortos ou putrefazendo numa zona qualquer, esquecido pois minha carne já não é tão macia e apetitosa quanto foi em minha juventude. Mas se a vida costumava intrigar os humanos, uma hora também seria estranha demais para mim.

Tom observava novamente a mesma foto que vinha encarando nos últimos dias. Em sua concepção, aquele era um belo rosto em que havia algo de familiar. O prazo para fazer o serviço estava se esgotado. Ele se levantou da velha cadeira de metal e caminhou até os aquários onde seus filhos se desenvolviam. Estavam pouco maiores que um bebê humano de sete meses após o nascimento. O blear já tinha notado a rapidez com que eles se desenvolviam, logo precisaria de um local maior e mais seguro para cria-los. Um local onde poderia descobrir se todos sobreviveriam, se eram mais parecidos com ele ou com Bill, ou talvez uma perfeita mistura dos dois, visto que um dos bebês não mostrava um traço se quer de um ser aquático.

Deixaria o fato do rapaz na foto o intrigar tanto, de lado. Precisava das outras mil placas de prata. De certa forma o compreendia, por que também não reconheci seu alvo de imediato.

 

“Fique comigo...” sussurrou depois de gozar uma última vez naquela noite, envolvendo-me apertado em seus braços. Minha mente turva demais e meu corpo entorpecido num nível que não me permitia negar outra vez seu convite incomodo. Eu deveria levantar e ir embora, no entanto meus olhos se fecharam antes de qualquer outra reação. Estava exausto, apenas adormeci em seus braços. Mas deveria ter ido embora...

Despertei com o pensamento de fazê-lo. No pequeno ato de respirar fundo pude sentir o resultado da noite anterior. Parecia não haver uma parte de meu corpo que não estivesse um pouco dolorida. Afastei os cobertores, sentando-me na beirada da cama olhando diretamente para o espelho em frente a mesma, havia mais marcas do que eu poderia contar. As mais visíveis eram as marcas de dentes em torno dos meus mamilos. O resto parecia uma confusão de hematomas.

Pela janela pude ver que escurecia novamente. Tinha estado ali por quase dois dias e não deveria estar quando Steve voltasse. Levantei procurando pelo quarto algo que pudesse vestir, claro que minhas roupas eram meros retalhos àquela altura dos acontecimentos, mas ele deveria ter algo do qual não sentiria falta ali. Sua reunião demoraria o suficiente para eu estar bem longe quando ele voltasse.

Steve encarava a madeira embalsamada da extensa mesa na sala de reuniões. As perguntas eram lançadas em sua direção sem que ele pudesse de fato raciocinar para responde-las. Não que sua mente estivesse se esforçando de verdade para aquilo. Ele se importava apenas com fato de que eu estava adormecido em sua cama quando ele saiu daquela tarde. O alfa estava convencido de que eu havia estudado sua proposta, optar por aceitar ficar. Aceitar ser dele.

- Não há motivo para se preocuparem – se manifestou, vendo todos se calarem – ela está morta.

- Ela carregava um blear! – esbravejou um dos homens sentando a mesa.

- Quer julgar alguém cujo os miolos não se encontram no próprio cérebro? Fique à vontade para visitar seu tumulo – ironizou, encarando-o por um momento – Não há motivos para todo esse desespero. Os rebeldes serão esmagados como antes e não haverá mais segredos. Nada mudou – mas havia mudado, ele só não tinha notado até ali. No entanto, aquelas duas palavras foram o suficiente para desencarrilhar uma sequência de pensamento absurdamente reais.

Por que afinal Mary mataria seu pai? Por que massacraria tantos da sua espécie na busca pelo poder se casar-se com ele já lhe garantia tudo isso? Ela não tinha matado seu pai e o fator decisivo para essa conclusão era que Mary não sujaria suas mãos novamente, não depois de ter assassinado um blear, independente do motivo.

Ele levantou-se e deu a reunião por encerada. Agora dirigia a 100 por hora, sem se importar. Lembrando-se que o prazo tinha chegado ao fim.

As cortinas farfalharam, tirando minha atenção de meu reflexo no espelho. Uma silhueta era notada em meio as sombras, na parte menos iluminada do quarto. Eu deveria questionar quem era, mas não foi necessário. Ele não se manteve oculto por muito tempo e ao revelar-se parecia em transe, chocado com algo que via em mim.

Tão rápido quanto revelou-se, ele se aproximou de mim segurando meu rosto entre suas mãos, encarando-me tão intensa e profundamente que empurrou suas memorias confusas para dentro de minha cabeça. Sete crianças e uma velha casa de madeira. Então uma jovem morta, enforcada numa bela mansão. Aos poucos, seu rosto era revelado para mim, Nancy.

- Quem é você? – questionou-me. Uma emoção intensa bruxuleava sobre a imensa escuridão de seus olhos. Meu rosto lhe era familiar.

Não consegui responder. Meu corpo estava paralisado, não apenas pela aproximação brusca daquele homem, mas pela realidade que ele me revelava. Suas lembranças invadiam minha mente incessantemente e violentamente arrancavam de meu subconsciente imagens, que até então estavam entregues ao esquecimento. Sete irmãos e uma garota. Ele se apresentou para mim. Tom o irmão mais velho e depois dele um por um Jake, Will, August, Ezra, Alan, Tom e Nancy.

Fechei os olhos concentrando-me no rosto da criança que não consegui discernir. Jake, Will, August, Ezra, Alan, Tom e Nancy. Meu corpo estava tremulo em suas mãos, o suor escorria em minha testa. Havia algo de errado no rosto que, quanto mais eu me concentrava para ver, mais distorcido se tornava. Mas eu o conhecia, eu tinha essa sensação no peito. A sensação de saber quem ele era.

- Quem é você? – sussurrei abrindo os olhos para encarar a face morena. A pele de seu rosto revelava alguém cujo o tempo maltratou. As pequenas cicatrizes eram leitura de que a vida o tinha lapidado. Por que? Por que aquele rosto invadia meus sonhos?

Sua respiração quente tocava minha face e seu ofego era parecido com o meu. A emoção quase palpável de tão densa.

- Seu assassino – respondeu, libertando-me de seu aperto. Nos encaramos, e minha mente gritava para que eu saísse dali, tentasse escapar. Eu sabia quem ele era, o blear que não deixava um serviço incompleto e eu era seu alvo. Era aquilo? Era essa a causa das lembranças? Os sonhos? Era um alerta? – Você precisa fugir.

Suas palavras deixaram-me confuso. Ele caminhou pelo quarto, abrindo portas e gavetas, jogando algumas peças de roupa em minha direção.

- Vista-se e saia daqui! – havia urgência em sua voz. Sua mente traçava um plano. Deixar que eu escapasse exigiria outra morte em meu lugar. Tom não tinha me dado a resposta certa.

Agarrei as roupas com força, tentava parar de tremer, mas era impossível. Eu queria compreender. Por que eu precisava? Cada terminação nervosa estava agitada com a súbita necessidade. Eu deveria apenas ir e me salvar, nada além daquilo, no entanto, não conseguia me mover um centímetro do lugar que estava.

- Quem te contratou? – minha voz ainda era baixa e temerosa.

- Vista-se! – ordenou desta vez, antes da porta do quarto ser escancarada.

- Steve...- a resposta veio de meus próprios lábios. A resposta era tão óbvia que me enfureceu não ter pensado na possibilidade de sua obsessão custar-me tão caro. Todos os seus toques e a forma como me tomava para si deixa clara sua posição. Se não fosse seu, não seria de mais ninguém.

Ele caminhou em direção a cama, enquanto eu me levantava afastando-me de ambos.

- Espero não estar interrompendo a reunião de família – riu com escarnio, trocando o olhar entre nós – parece engraçado...Um alfa nunca é passado para trás não é mesmo? No entanto, quantos de nós foram enganados por vocês?

- Eu fiz o que fui contrato para fazer – a voz de Tom era tão firme quanto sua postura. Não havia vestígios de medo, ou qualquer outro sentimento. Ele não temia diante do alfa, pois seguia em sua direção enquanto falava.

- Faça o seu serviço então! – esbravejou enfurecido. Suas mãos se fecharam em punho, seu tremor era o ódio lhe aquecendo o sangue.

- Não lhe devo lealdade – foi sua resposta. O blear me encarou, enquanto movia-se para cima do alfa – corra!

Ele era bom, realmente bom e forte. Se não fosse não teria tirado a vida de tantos alfas, independente do esforço físico que aquilo exigia. Mas Steve era um alfa jovem, que estava descobrindo o poder da besta que carregava dentro de si. Ele podia sentir todos extintos fluindo por suas veias, cada molécula de seu corpo expandindo-se. Era um prazer estranho, desconhecido que o excitava. Algo que ele nunca sentiu enquanto negava a si mesmo o poder que sua existência e natureza lhe traria.

Desviou-se de Tom com elegância e destreza. Aquele blear não era o seu alvo. Seu olhar felino seguiu em minha direção. Ele sorria, como uma besta faminta. Virei na direção oposta, correndo em direção a janela, mas já era tarde para mim. Suas garras perfuram-me o peito e as senti partindo meu coração. Meu corpo pendeu para trás em seus braços. O estrou que veio em seguida chegou abafado aos meus ouvidos, assim como o grunhido que deixou seus lábios.

- O que você fez? – a voz de Tom parecia oscilar, mas eram apenas meus sentidos. Podia vê-lo se aproximando de nós, era estranho. Era como passear para fora de minha cabeça, enquanto parte dessa consciência se mantinha presa ao meu corpo. Ele encostou a arma na cabeça do alfa. Ele tinha a mão, ferida pelo primeiro disparo, sobre meu peito onde o sangue já tinha se espalhado e escorria.

Com o pouco de lucidez que ainda tinha encarei seu rosto. Era apenas um monstro assustado. Ele tocou meu rosto e meus lábios, sujando-os com o sangue ainda quente. Seu tremor era diferente agora.

O segundo tiro não veio, ainda que Steve não tenha esboçado nenhuma reação ao cano da arma em sua nuca. Tom se afastou, ele sentia o gosto amargo e a dor por ter fracassado, mas matar Steve não era uma opção. A vingança por aquele ato seria longa e cruel além do que a morte seria.

Senti meu corpo ser carregado e logo depois ser deixado sobre uma superfície macia. Steve se aconchegou a mim sem nada dizer. Fechei os olhos como ele e me permiti descansar. O sangue subia por meus canais respiratórios, era como se afogar num mar de alga doce. Quando meus olhos se abriram novamente a cena pareceu estranha. De onde estava podia ver meu corpo sobre o velho e rustico divã. Pude ver Tom se afastar e partir, sabendo que seu destino era outro agora. Pisquei e pude ver o corpo nos braços de Steve. Os olhos já sem vida pareciam perdidos no horizonte e estranhamente brilhavam. Caminhei até eles e todo meu ser estremeceu ao compreender por que éramos tão familiares.

As luzes vermelhas invadiam o cômodo, as sirenes podiam ser ouvidas ao longe, vindas de um beco qualquer. O brilho das escamas chamou minha atenção, pois não notei quando o rapaz, cujo o coração era o único a bater naquele local, tirou-o do bolso. Caminhei até eles. Passei os dedos suavemente sobre suas pálpebras fechando-as. Jake, Will, August, Ezra, Alan, Jonathan, Tom e Nancy. Naquele toque pude ouvir sua risada e ter sua última lembrança feliz. Era uma criança e corria livre por um pasto verdejante, ao longe uma linda casa de madeira branca. Déjà vu.

Estávamos errados o tempo todo. Steve agarrou-se ao corpo sangrando e eu me deitei ao seu lado, onde permaneceria pelo resto de sua vida.

Eu conhecia aquele rosto, pois era o meu.


Notas Finais


Link Spotify: https://open.spotify.com/track/5aAx2yezTd8zXrkmtKl66Z
Link Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=dMMUH_ZpbB0
Link Playlist da fanfic: https://8tracks.com/ribhqah_bliss/brother-s

TEMA: Uma fanfic baseada na música (adapte aqui para uma música que te dê inspiração e escreva sobre ela.); - Starboy – The Weeknd.

Aquele friozinho na rabiga de alegria por saber que falta só mais um tema. Atéeéé xo

p.s: se algumas referências não ficarem claras leiam o primeiro capítulo.


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