História Brown Eyes - Scared

         Por onde começar? Voltando um pouco, no dia que conheci Cameron. Ele e Johnson estavam trancados num quarto, ouvindo Take On Me, da banda A-Ha, é importante ressaltar essa música também. Foi por causa daquela música que acabei virando uma viciada em músicas antigas, anos 60, 70 e 80.

         O cheiro da droga percorria cada entranha daquele quarto completamente fechado. Nem uma fresta de ar entrava naquele lugar. Queria entender como eles não acabavam morrendo com aquele cheiro horrendo.

         Não sei quem influenciou quem, mas os dois acabaram fumando juntos dentro de um quarto, todo dia, às quatro da tarde, com o sol quente batendo na janela trancada. Naquele momento eu nunca tinha visto realmente quem estava lá dentro, só sabia seu nome, mas nunca tinha visto seu rosto. Johnson também tinha cada dia um companheiro diferente, era bem fácil de confundir uns com os outros.

         Os versos daquela música encaixavam-se perfeitamente no momento. Pedia que o aceitasse, dizendo-se insignificante e tudo mais. Sabia que era como aqueles dois garotos presos num quarto se sentiam. Rejeitados. Mas não conseguia entender porque rejeitados, eu daria tudo pra ser um pouco mas velha e participar daquilo.Fumar não, odiava o cheiro daquilo e não suportaria nunca. Era mais me sentir integrada naquele grupo.       

         E então você se pergunta onde eu me encaixo. Primeiro, olhamos para o lado de fora do quarto, do outro lado da porta, onde a fumaça saía por baixo da porta e minha tosse seca ecoava, destruindo meu plano de ouvir a conversa dos dois. Chloe levantou do chão. Preferi continuar sentada, esperando Johnson me xingar. Já sabia o que estava prestes a acontecer.

         — De novo May? — Johnson abriu a porta e só consegui tossir mais — Bisbilhotando a gente? Não tem nada mais de útil pra fazer não? Por que não chama a Chloe pra ler revista de garotinhas? Deixa a gente em paz.

         — Johnson — reclamei — Eu já tenho treze anos! Por que não posso participar disso que você faz?

         — Exatamente, treze anos! Eu tenho quinze. Grande diferença, não? Vê se some daqui.

         Precisava mesmo sair, antes que o cheiro me intoxicasse.

         — Você é o pior irmão do mundo — virei-me e começei a dar passadas largas em direção a meu quarto. Ouvia passos apressandos atrás de mim, passos de Chloe. Entramos rapidamente e bati a porta com força, fazendo com que o barulho atravessasse o corredor inteiro.

         — Se você contar pro pai ou pra mãe, você tá ferrada! — ouvi um último berro de Jack antes que ele voltasse para dentro do quarto e fizesse mais futilidades. Eu achava que aquelas futilidades eram legais, mal eu sabia que eles apenas ficavam fumando e olhando para o nada. Se eu tivesse descoberto mais cedo, não teria feito papel de trouxa por tanto tempo.

         ­Passei um longo tempo tentando me distrair e me acalmar naquele dia. Aquele dia. Vendo do presente, não soa mais tão assustador quanto era, quanto eu me senti. A raiva me consumia por completo, Johnson se achava tão superior e sempre tentava mandar em mim. Estava cansada daquilo. Chloe parecia estranhamente quieta e conformada que me impressionei.

         Depois de longos minutos, Cameron saiu daquele quarto. Foi ai que eu finalmente o vi. Ele mexia no cabelo enquanto conferia algo no celular, parecendo meio atormentado. Estava parada na ponta das escadas quando o garoto Dallas passou por mim.  Seu olhar caiu sobre mim, analisando-me de cima à baixo. Eu estava com o coração na mão e aquele olhar me deixou mais apavorada. Ele tinha um olhar devastador e assustador. Tive a impressão de que aqueles olhos me analisaram por um tempo muito longo, podia ser a fumaça da maconha pairando no ar também, mas duvidava que esse era o caso. Ele tinha me encarado, tinha sim. E aquele olhar tinha quase me destruído.

         Naquele momento jurei a mim mesma nunca mais olhar nos olhos daquele garoto. Enquanto jurava, passei pelos dois e me tranquei em meu quarto, pesquisando a música que tinha ouvido no quarto de Johnson. Coloquei o fone e comecei a ouvir, tentando ter menos medo.

         Um mês depois, ele se mudou para Nova Jersey e nunca mais ouvi falar dele.

         Malibu, três anos depois.

         — Johnson, dá pra abrir a porra da porta? — gritei esmurrando a porta do banheiro. Precisava correr para não me atrasar para a aula do Sr. Prescott. Ou melhor, o professor que me odiava.

         — Dá pra calar a porra da boca? — ele respondeu com um ar irritado. Contei até 10 para não me desconcentrar — Querendo arrumar um namorado? — sua risada soou muito alta — Bem que precisa.

         — Na verdade estou só tentando não me intoxicar com a maconha que você usa — retruquei debochando.

         Então ele abriu a porta. Falar sobre as drogas era sempre uma forma de chamar sua atenção. Seu maior medo era que nossos pais descobrissem e viessem tirar satisfações. Era seu vício e não acho que seria capaz de abandoná-lo. Johnson olhou para mim com um olhar desconfiado e continuou andando até seu quarto sem pronunciar mais nenhuma palavra.

         Então finalmente, o banheiro era meu.

         Quando cheguei à escola, Chloe me esperava ansiosa. Certamente tinha alguma novidade para me contar e meus ouvidos morriam de preguiça àquela hora da manhã. Suspirei e encarei seus olhos verdes me lembrando imediatamente do possível assunto.

         — O que foi? — perguntei.

         — Nada. Só vamos, os garotos estão esperando por nós.

         Éramos nós duas em meio a diversos garotos. Garotos que eu realmente via como irmãos. Era divertido passar o tempo com eles porque eu me sentia diversas vezes mais protegida e garotos têm tendências bem menores a fofoca.

         Abracei Nash enquanto me aproximava do resto do grupo. Com um beijo na bochecha, ele me carregou até a mesa me colocando em cima do banco. Cumprimentei todos e sorri, permanecendo abraçada a Nash.

         — Quando vocês dois vão se beijar? — Matt perguntou e arrancou risadas dos garotos.

         — Caralho, vou beijar minha irmã? — Nash comentou rindo.

         — Gente, vocês ficaram sabendo do amigo do Johnson que está voltando pra cidade? — enquanto as palavras de Shawn eram pronunciadas, meu coração se tornava cada vez mais congelado.

         — Como assim? — perguntei.

         — O Dallas? — Sammy completou.

         — Ele mesmo.

         O Olhos Castanhos estava voltando pra casa. E meu psicológico não estava reagindo bem.