História Brown Eyes - You have a wonderful voice

          — Como assim passar um tempo aqui? — perguntei com minha voz rouca. Johnson estava quase rindo da minha cara.

         — É, ele veio sem a família. Nossos pais concordaram em deixá-lo ficar aqui para que ele consiga terminar o ano escolar — ele passou as mãos em seus cabelos.

         — Meu Deus — exclamei sem me conter.

         — Tudo bem ai? — Johnson suspirou — Você passou mal feio ontem, ele teve que te carregar até aqui.

         — Ele quem?

         — O Cameron, ora.

         — Como assim? — ainda não conseguia relacionar os fatos.

        — É. Ele acabou se unindo ao grupo lá enquanto você devia estar perfeitamente bêbada e como souberam que ele estaria vindo pra cá, deixaram ele te trazer.

         — Me deixaram com um completo estranho?

         — May, ele não é estranho. Será que você não consegue ser menos criança? — e então começaram as provocações.

        — Cala a boca, Johnson! Eu tô cansada em ser tratada como criança! Eu não sou uma! Aprende isso por favor e me deixa em paz! — gritei.

         — Então você é toda adulta agora?

         — Me deixa — estava furiosa.

         Corri até o banheiro na esperança de desaparecer do mundo. Lavei o rosto, tentando aliviar toda aquela dor que me consumia. Tirei minhas roupas e decidi tomar um banho. Quando terminei tudo parecia mais claro, mas eu ainda estava profundamente irritada com meu irmão.

         Peguei meu celular e liguei para Chloe até ela decidir me atender.

         — Oi, May — ela falou desanimada.

         — Ai, precisamos conversar sobre ontem. E sobre tudo. Tá com tempo? — perguntei esperançosa.

         — Da loucura que você ficou ontem?

         — Ou pode ser do seu beijo com o Sammy — ri.

         — Caramba, vem logo.

         — Dez minutos e eu estou ai — com uma risada, desliguei o telefone, pegando as chaves de casa e me preparando para sair de casa.

         Peguei uma maça sobre a mesa da cozinha e quando estava saindo, ele estava lá. Respirei fundo para não mostrar diferença de comportamento.

         — Nem cumprimenta as visitas — Cameron falou. Era a primeira vez que o ouvia falar.

         — Então você fala... — provoquei com uma risada mental.

         — Cameron — ele cedeu sua mão. Apertei cumprimentando-o e pensando o quão macia era aquela mão.

         — May — respondi.

         — É, eu sei — ele continuou — Nos conhecemos ontem por mais que você não se lembre.

        Finalmente encarei aqueles olhos novamente. Um arrepio percorreu todo meu corpo. Como uma pessoa tão desconhecida poderia parecer tão íntima pra mim. Ao mesmo tempo emque uma vontade surgia de contar todos os meus segredos, era como se ele já soubesse de cada detalhe, mas eu não sabia nada dele e era impossível ele saber de mim.

         — Espero não ter passado muito vexame — sorri e percebi sua expressão mudar.

         — Nada fora do comum.

         — Preciso ir agora. Nos falamos depois.

         — Sim, na verdade vamos ter muito tempo pela frente pra conversar.

        Acenei com a cabeça e saí de casa com o coração acelerado. A caminhada até a casa de Chloe nunca pareceu tão longa. Minhas pernas pareciam curtas demais, os passos, muito pequenos. Mas em dez minutos, estava lá, tocando a campainha dela.

         — Me fala o que eu fiz ontem — já fui logo pedindo e me jogando em sua cama.

         — Você não fez nada de verdade — ela comentou enquanto enrolava uma mecha de cabelo — Só estava muito alterada e muito engraçada, por sinal. Fez todo mundo rir.

         — O garoto novo viu tudo isso? — perguntei sentindo meu rosto queimar.

         — Viu sim, e te levou pra casa.

         — Fiquei sabendo...

         — Quer dizer que você vai ter aquele o Dallas por um bom tempo?

         — Nem imagino quanto tempo seja. A merda do meu irmão não me conta nada — suspirei. Não estava realmente confortável com o assunto e minha cabeça voltava a doer.

         — O seu irmão não é uma merda — ela sempre o defendia.

         — Pra mim ele é. Pro resto do mundo ele é um amor — revirei os olhos.

         — Quando vocês dois vão parar com isso?

        — Acho que nunca — tentei mudar o foco da conversa — Agora me conte como foi ontem com o Sammy. Não me lembro de muita coisa depois daquele beijo.

         — A gente ficou o resto da noite. Meu Deus que beijo, que pegada, que boca, que tudo. Fico meio boba só de lembrar. Tirou literalmente todo o meu fôlego — Chloe ria atoa. Acompanhei-a. Adorava ter aqueles momentos com ela, em que tudo parecia realmente tranquilo, mesmo que por dentro eu estivesse enlouquecendo. Eu precisava desvendar aquele garoto antes que fosse tarde.

         — Só me confirma aqui — continuei — Eu não beijei ninguém, né?

         — Não. Mas teria sido épico. Quanto tempo faz que você não fica com ninguém?

         — Sei lá, tem um tempo.

         Ficamos conversando por um longo tempo. Tentei tomar muita água para que meu corpo não desidratasse. Chloe resolveu mexer um pouco no computador e eu a acompanhei. Acabamos nos deparando com uma publicação de nossa escola sobre uma competição que teria, algo como um show de talentos. Chloe ficou animada no mesmo segundo em que leu.

         — Você precisa participar! — ela exclamou.

         — Nunca — só de pensar meu coração já disparava.

         — Claro que precisa! Sua voz é maravilhosa! — cobri o rosto com as mãos enquanto ela continuou falando — É como os vídeos que você posta.

         — É muito diferente. Não tem ninguém me vendo enquanto estou gravando, então não fico nervosa.

         — May, falando sério. Você não pode deixar isso passar, você é um talento e precisa ganhar algo com o que tem! Me promete que vai pelo menos pensar sobre o assunto — ela estava me encarando, não consegui dizer não.

         — Prometo.

         — Vou torcer pra que você se convença de que é uma boa ideia — ela sorriu e acabei sorrindo de volta com sinceridade.

         Depois de um certo tempo, percebi que não dava mais para adiar o inevitável: voltar pra casa. Ter ficado com Chloe foi de extrema ajuda e eu estava infinitas vezes mais calma. Minha cabeça estava no lugar e quando cheguei, a casa estava sozinha.

         Corri para o quarto para tentar uma noite tranquila de sono, porque o fim de semana já estava acabando e mais cedo ou mais tarde teria que enfrentar conviver com Cameron. Talvez no fundo ele fosse legal e eu parasse de ter medo. Talvez poderíamos nos tornar bons amigos. Quem não gosta de uma nova amizade?