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História Bruma - 3


Escrita por: Ruan_Ferreira

Capítulo 3 - 3


Sufocado pelo ar quente do ônibus lotado, mal conseguia raciocinar sobre o que de fato tinha acontecido, não sabia discernir se era um sonho, mês passado eu jurava que tinha visto o Carlos matando um passarinho com uma baladeira, logo procurei por todo o canto do nosso quarto e não achei nada, nenhuma baladeira ou algo parecido, mas esse caso era diferente, dessa vez eu tinha uma “prova”, aquele papel era tudo o que eu tinha.

― Oh, garoto, você pode me dar licença? ― pediu uma senhora usando um uniforme de supermercado.

― Pois não, senhora. ― respondi.

Sai com dificuldade do meio do corredor, ficando espremido entre duas adolescentes. O resto das pessoas daquele coletivo fazia o mesmo: espremendo um aos outros, pois a cada parada, um número maior de pessoas ia adentrando no ônibus.

Passado alguns minutos, eu consegui uma cadeira vazia, mas infelizmente, só faltava uma parada para chegar no meu destino final, “mas que merda!”. Ao descer, fui rapidamente abordado por um vendedor ambulante.

― Meu jovem, você quer comprar essas lindas meias?

― Me desculpe, estou sem dinheiro. - retruquei.

― Está barato, R$ 5,00! ― ele insistiu.

― Em outro momento, hoje estou sem dinheiro.

Felizmente, o sinal do trânsito ficou vermelho no exato momento que parei de falar com o vendedor. Ao atravessar a rua, pude ver a praça da república, uma das mais lindas de Belém, porém, poucos conservada e só lembrada em época de círio ou perto de eleições políticas, enfim. Tive sorte de conseguir um emprego rente a esse local, fico em contato direto com duas coisas que eu amo, natureza e os livros. No outro lado da praça, logo vi na frente da livraria em que eu trabalho, um senhor de estatura baixa, gordo, com barba e cabelos longos, estava apontando para o seu relógio, dando a entender que eu estava atrasado e realmente ele estava certo.

― Seu Gideon, mil desculpas.

― Tudo bem, Arthur, mas temos muito trabalho hoje. ― disse ele.

A livraria não é grande, comportando três espaços, o depósito, o balcão e o logo na entrada, onde fica algumas prateleiras com livros à mostra. Nela trabalha apenas eu e o Gideon, o dono do estabelecimento. Eu estava organizando uns livros nas prateleiras quando, de repente, apareceu a primeira cliente do dia, Agatha, toda semana, ela compra um livro e tinha vezes que a mesma passava a manhã inteira lendo na loja, quando não, ela atravessava a rua e fica lendo na praça. Realmente, uma menina encantadora seus cabelos cacheados e sua pele morena me chamava atenção, ela mora em um bairro nobre de Belém chamado Nazaré, seus país eram juízes segundo o meu maior informante, o Carlos.

― Oi, Arthur. ― disse ela com um tom tão baixo que mal pude escutar.

― Ah, oi, Agatha. ― respondi.

― Você poderia me indicar alguns...

― Não! O Gideon é a melhor pessoa para isso.

― Desculpa, não quis atrapalhar. ― Sorriu e foi para o balcão.

Minha intenção não era de ser ignorante, só queria evitar sentimentos desnecessários. Ela conversou aproximadamente cinco minutos com o dono da loja e depois saiu para ler na praça, ao atravessar a rua, deixou seu marcador de livro cair na calçada e tentei avisar, mas ela já estava do outro lado, tão logo o Gideon apareceu do meu lado e disse:

― Você foi muito rude com a moça.

― Não foi minha intenção. ― respondi.

― Eu sei que não, mas você vai pegar o marcador do chão e entregar para ela, em seguida vai pedir desculpas.

― Mas...

― Isso está valendo o seu emprego.

Não tive chance de retrucar, pois ele me deu as costas e foi para o balcão, obedeci às ordens do Gideon. Peguei o marcador da moça e fui ao seu encontro. Fiquei preocupado, imaginei que ela estaria sentada em alguns daqueles bancos espalhados pela praça, mas me enganei ao ver que Agatha estava sentada debaixo de uma árvore, pensei "essa menina só pode ser doida”, não notou minha presença então pude observá-la melhor, ela estava usando uma saia preta dando um ótimo contraste com sua camisa branca, vez ou outra ela sorria, um sorriso tão meigo. Quando me percebi, estava tomando por uma sensação estranha, não queria continuar pensando nisso, preferi concluir o que deveria fazer: “entregar e pedir desculpas”. Ao me aproximar, percebi que ela estava muito concentrada com seu livro, decidir fazer contato.

― Oi, Agatha, você deixou isso cair.

O silêncio foi ponderoso, ela continuava lendo e me ignorando. Tentei outra vez, mas não obtive sucesso. Já estava irritado com a situação e simplesmente deixei o marcador na perna da moça, mas quando virei as costas para ir embora, escutei a sua voz dizendo:

― Arthur? Você pode me indicar algum livro?

Quando virei, percebi que ela estava rindo.

― Muito engraçado, né?

― Queria saber por quanto tempo você ficaria com essa cara de idiota. ― ela continuava rindo.

― Não por muito tempo, só queria te entregar isso e pedir desculpas por minha grosseria mais cedo.

― Fico me perguntando, você trata assim todos os clientes ou eu tenho tratamento exclusivo?

― Não! Eu só não tive um bom dia ontem. ― Eu respondi.

― Entendo perfeitamente.

― Bom, espero te encontrar mais vezes.

― Como assim? ― Ela olhou nos meus olhos, parecendo intrigada.

― Na livraria, na livraria. ― Tratei de me corrigir rapidamente. ― Então, até outro dia.

― Até. ― ela respondeu.

Ao chegar na livraria, o Gideon tratou de me perguntar como foi a conversa com a Agatha.

― Não foi uma conversa, eu só fui pedir desculpas.

― Poxa, pensei que vocês tinham marcado um encontro “mera ilusão”. ― levantou as mãos para o alto do jeito mais teatral possível. ― Era ilusão.

― Você já pode parar com o show!

― Esperava mais de você, Arthur, mas vamos falar em trabalho, o relógio marca 10h, sugiro que você comece pelos pacotes que acabaram de chegar, em seguida, ponha o preço nos livros novos e os cadastre no sistema da loja.

― Está bem. ― respondi.

O dia na loja foi fraco em vendas, isso não significa que passei o dia sem trabalho, já tinha concluído todas as tarefas que fui encarregado de fazer e para minha surpresa o relógio o apontava os seus ponteiros para o céu, 12h. Já estava na hora de ir para universidade e o Gideon conseguiu me convencer a almoçar com a sua família, que, por sinal, morava no segundo andar do prédio onde ficava a loja.

― Arthur? Sinta-se à vontade. ― dizia a Sra. Raquel, esposa do Gideon. ― Já deveria estar acostumado.

― Oh, Raquel, deixe o menino em paz, ele é apenas educado. ― disse o Gideon.

― Thu? ― disse uma criança que abraçava minhas pernas: Alice, filha do casal.

Acabado o almoço e como era de praxe, a Sra. Raquel queria conversar, mas tive que deixar essa conversa para outro dia, pois não tinha muito tempo para chegar no horário certo na universidade, por sorte, o Gideon me ofereceu carona em sua vã. No meio do caminho, como se fosse um presságio, a pergunta me foi feita.

― Arthur? Você está bem?

O dia foi tão corrido que mal tive tempo para pensar no que, de fato, tinha acontecido comigo na noite passada, um pesadelo? Henri matou mesmo aquele homem?

― Arthur?

― Oi, desculpe. Fiquei fazendo um trabalho até tarde e dormir pouco.

― Entendi. ― disse o Gideon.

Passado alguns minutos, já estava na frente da Federal e não tinha nenhum plano, queria evitar o Henri para pensar melhor, por sorte, a primeira aula era do professor Gláucio, na verdade, a aula dele era muito chata e metade da turma dormia em sua aula, respirei fundo antes de entrar na sala, mas a porta se abriu antes de eu por minhas mãos na maçaneta.

― Salut Arthur! O professor não pôde vim, então me ofereci para adiantar minhas aulas. ― disse o Henri. 



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